contagem de partículas em areas limpas_elisa krippner, 2008

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47 SBCC setembro / outubro 2008 Introdução O ensaio de contagem de partículas em áreas limpas pode ser realizado com dois propósitos: para classificação de uma nova instalação ou para verificação periódica de conformida- de de uma instalação já classificada Os passos necessários para a execução de um ensaio de contagem de partículas para classificação de uma nova insta- lação serão tratados neste artigo. Planejamento Antes de iniciar o ensaio de contagem de partículas, é necessário definir qual é a norma ou a legislação que se deseja atender, pois existem diferenças nos critérios de aceitação estabelecidos nestes documentos conforme mostram as tabela 1 e 2: Tabela 1: Classificação de áreas limpas conforme RDC 210 / 2003 da ANVISA e Anexo 1 EU GMP /2008 Tabela 2: Classificação da área limpa conforme FDA e ISO 14644-1 Além das normas e legislações citadas nas tabelas 1 e 2, é necessário verificar também, se existe alguma recomendação interna da empresa, a qual a instalação também deve atender. Para as instalações farmacêuticas estabelecidas no terri- tório brasileiro, a RDC 210 / 2003 deve ser atendida. Caso a planta em questão seja expor- tadora, além da RDC 210 / 2003, as legislações do país de destino também devem ser atendidas. Pré-requisitos Os ensaios necessários para a classificação de uma área limpa, os seus pré-requisitos e os cri- térios de aceitação devem estar definidos no protocolo de quali- ficação. A seqüência de execução destes ensaios e o estado de ocupação no qual a área será ensaiada também devem ser estabelecidos neste protocolo. O protocolo de qualificação deve ser apro- vado antes do início de execução dos ensaios. Contagem de Partículas em Áreas Limpas Elisa Krippner Elisa Krippner é engenheira mecânica, colaboradora do GT3 da ABNT e Gerente de Validação da SPL Engenharia Classificação da área limpa (partículas de 0,5 mm/ ft 3 ) ISO Classe > 0,5 mm (partículas / m 3 ) 100 5 3.520 1.000 6 35.200 10.000 7 352.000 100.000 8 3.520.000 Grau da Sala Número máximo de partículas por m 3 de ar RDC 210 / 2003 ANVISA EU GPM / 2008 Em repouso Em operação Em repouso Em operação 0,5 mm 5 mm 0,5 mm 5 mm 0,5 mm 5 mm 0,5 mm 5 mm A 3.500 0 3.500 0 3.520 20 3.520 20 B 3.500 0 350.000 2.000 3.520 29 352.000 2.900 C 350.000 2.000 3.500.000 20.000 352.000 2.900 3.520.000 29.000 D 3.500.000 20.000 Não Definido 3.520.000 29.000 Não definido

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Page 1: Contagem de Partículas Em Areas Limpas_Elisa Krippner, 2008

47SBCCsetembro / outubro 2008

Introdução

O ensaio de contagem de partículas em áreas limpas pode ser realizado com dois propósitos: para classificação de uma nova instalação ou para verificação periódica de conformida-de de uma instalação já classificada

Os passos necessários para a execução de um ensaio de contagem de partículas para classificação de uma nova insta-lação serão tratados neste artigo.

Planejamento

Antes de iniciar o ensaio de contagem de partículas, é necessário definir qual é a norma ou a legislação que se deseja atender, pois existem diferenças nos critérios de aceitação estabelecidos nestes documentos conforme mostram as tabela 1 e 2:

Tabela 1: Classificação de áreas limpas conforme RDC 210 / 2003 da ANVISA e Anexo 1 EU GMP /2008

Tabela 2: Classificação da área limpa conforme FDA e ISO 14644-1

Além das normas e legislações citadas nas tabelas 1 e 2, é necessário verificar também, se existe alguma recomendação interna da empresa, a qual a instalação também deve atender.

Para as instalações farmacêuticas estabelecidas no terri-tório brasileiro, a RDC 210 / 2003 deve ser atendida. Caso

a planta em questão seja expor-tadora, além da RDC 210 / 2003, as legislações do país de destino também devem ser atendidas.

Pré-requisitos

Os ensaios necessários para a classificação de uma área limpa, os seus pré-requisitos e os cri-térios de aceitação devem estar definidos no protocolo de quali-ficação. A seqüência de execução

destes ensaios e o estado de ocupação no qual a área será ensaiada também devem ser estabelecidos neste protocolo. O protocolo de qualificação deve ser apro-vado antes do início de execução dos ensaios.

Contagem de Partículas em Áreas Limpas

Elisa Krippner

Elisa Krippner é engenheira mecânica, colaboradora do GT3 da ABNT e Gerente de Validação da SPL Engenharia

Classificação da área limpa

(partículas de 0,5 mm/ ft3)

ISO

Classe

> 0,5 mm

(partículas / m3)

100 5 3.520

1.000 6 35.200

10.000 7 352.000

100.000 8 3.520.000

Grau da Sala

Número máximo de partículas por m3 de arRDC 210 / 2003 ANVISA EU GPM / 2008

Em repouso Em operação Em repouso Em operação

≥ 0,5 mm ≥ 5 mm ≥ 0,5 mm ≥ 5 mm ≥ 0,5 mm ≥ 5 mm ≥ 0,5 mm ≥ 5 mm

A 3.500 0 3.500 0 3.520 20 3.520 20

B 3.500 0 350.000 2.000 3.520 29 352.000 2.900

C 350.000 2.000 3.500.000 20.000 352.000 2.900 3.520.000 29.000

D 3.500.000 20.000 Não Definido 3.520.000 29.000 Não definido

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48 SBCCsetembro / outubro 2008

artigo técnico

Os seguintes ensaios são pré-requisitos para o ensaio de contagem de partículas:

• Vazão e uniformidade (para fluxo de ar não-unidi-recional);

• Velocidade e uniformidade (para fluxo de ar unidi-recional);

• Vazamento na instalação de filtros HEPA/ ULPA;• Pressão diferencial entre salas.Os ensaios acima mencionados verificam o atendi-

mento da instalação a outros parâmetros estabelecidos no projeto como números de trocas de ar nas salas, uniformidade de velocidade nos fluxos unidirecionais, vazamento no sistema de filtragem instalado e o dife-rencial de pressão entre as salas. O atendimento a estes parâmetros de projeto é essencial para a classificação de salas limpas.

Determinação do número mínimo de pontos de medição

Conforme a NBR ISO 14644-1, o número mínimo de pontos de medição em uma sala pode ser calculado atra-vés da fórmula:

NL = √A

Onde:NL = número mínimo de pontos de medição;A = área do ambiente a ser classificados em m2

Numeração e distribuição dos pontos de medição

Cada ponto de medição deve receber um número ou nome para a sua identificação. A utilização de números facilita o trabalho de quem realiza a contagem e se possí-vel, utilizar números seqüenciais. Estes números de identi-ficação devem ser registrados no contador de partículas e impressos nas fitas de contagem.

A numeração dos pontos de medição deve ser de tal for-ma que durante a realização do ensaio, o operador possa seguir a seqüência dos pontos, de uma forma lógica

A numeração e a distribuição dos pontos devem ser os mesmos para todos os estados de ocupação previstos para que os resultados possam ser comparados. A manu-tenção destes pontos nas requalificações futuras é tam-bém recomendável, possibilitando assim, a comparação dos resultados ao longo do tempo.

Os pontos de medição devem ser localizados num desenho de planta (ver Figura 1) da área a ser ensaiada.

Figura 1: localização e numeração dos pontos de medição

Ao definir a localização dos pontos de medição, observar o arranjo de equipamentos e o fluxo de pessoas e materiais durante o processo, evitando assim, possíveis interferências durante o ensaio.

Cálculo do volume e do tempo de amostragem

Conforme NBR ISO 14644-1, o volume de ar amos-trado em cada ponto de medição deve ser suficiente para encontrar, no mínimo, 20 partículas do maior tamanho considerado (neste caso, partículas de 5 μm), admitindo-se que a concentração destas partículas no ar amostrado esteja no limite de classe. Portanto, a seguin-te fórmula pode ser utilizada para o cálculo do volume de amostragem por ponto de medição:

20Vs = x 1000 Cn,mOnde:Vs = volume mínimo de amostragem por ponto de

medição, em litros sendo que Vs ≥ 2 LCn,m = concentração limite de classe para o maior

tamanho de partícula entre as que estão sendo analisadas (partículas/m3).

Nota: o volume mínimo de amostragem por ponto de medição deve ser 2 litros e o tempo mínimo de amostra-gem por ponto deve ser de 1 minuto.

O tempo de amostragem por ponto de medição vai depender da vazão do contador de partículas utiliza-do no ensaio. Comercialmente, existem contadores de partículas com vazões variadas como, por exemplo, de 2,83 L/min (0,1 cfm), 28,3 L/min (1 cfm), 50 L/min e 100 L/min. Quanto maior a vazão do contador de partículas, menor será o tempo de amostragem

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SBCCsetembro / outubro 2008 49

Critérios de aceitação para o ensaio de contagem de partículas

Conforme a NBR ISO 14644-1, a sala atende à classifica-ção quando:

• A média aritmética simples das amostragens em cada ponto de medição não ultrapassar o limite máximo de concentração de partículas especificado e,

• O limite superior de confiança a 95% não ultrapas-sar o limite máximo de concentração de partículas especificado para 1 < NL < 10.

Nota: quando NL = 1 ou NL > 9, o cálculo do limite superior de confiança não é exigido. (NL = número míni-mo de pontos de medição). Para maiores detalhes sobre o cálculo do limite superior de confiança a 95%, ver a norma NBR ISO 14644-1.

Preliminares para o ensaio

Antes do início da realização do ensaio de contagem de partículas, é importante verificar que:

• O contador de partículas que será utilizado para o ensaio está calibrado e com certificado de calibra-ção válido;

• O técnico que irá executar o ensaio está qualificado para esta atividade;

• As vestimentas que serão utilizadas no momento do ensaio são apropriadas, conforme a classificação das áreas;

• Para contagem de partículas na condição “como construída” ou “em repouso”, a área está adequa-damente sinalizada, evitando a entrada de pessoas que não estão realizando o ensaio no momento do ensaio;

• A limpeza dos ambientes e equipamentos está adequada;

• Os equipamentos de processo que permanecerão ligados durante o ensaio “em repouso” estão defi-nidos. Garantir que os mesmos fiquem ligados no momento do ensaio;

• A ordem de acesso nos ambientes durante a realiza-ção do ensaio “em repouso” está definida, sempre de um ambiente menos limpo para o mais limpo, evitando que o operador passe pelo ambiente mais limpo antes da contagem nesta sala.

Realização do ensaio

Uma vez definidos os procedimentos para o ensaio e verificados os pré-requisitos, o ensaio de contagem de partículas pode ser realizado.

Alguns fatores devem ser observados, pois os mesmos podem acarretar resultados negativos considerando que todos os outros ensaios foram aprovados:

• Limpeza inadequada da área;

• Geração de partículas por equipamentos de processo;

• Penetração excessiva de partículas em ambientes de pressão negativa em relação ao exterior.

Relatório do ensaio

As fitas originais com os resultados do ensaio, impressas pelo contador de partículas, devem ser anexadas no rela-tório do ensaio de contagem de partículas. Normalmente, estas fitas são termo sensíveis e se apagarão com o passar do tempo. Portanto, é recomendável tirar uma cópia destas fitas logo após a execução do ensaio e anexar esta cópia também no relatório de ensaio.

O relatório de ensaio deve apresentar o resultado em cada sala, inclusive se a sala está aprovada ou reprovada conforme as especificações do projeto.

Outros detalhes em relação ao conteúdo do relatório do ensaio de contagem de partículas podem ser encontrados na norma ISO 14644-3.

Referências

1) ABNT NBR ISO 14644-1 (2005) – Salas limpas e ambientes controlados associados – Classificação da limpeza do ar.

2) ABNT NBR ISO 14644-2 (2006) – Salas limpas e ambientes controlados associados – Especificações para ensaios e monitoramento para comprovar a con-tínua conformidade com a ABNT NBR ISO 14644-1.

3) ISO 14644-3 (2005) – Cleanrooms and associated con-trolled environments – Test methods.

4) RDC 210 / 2003 – ANVISA – Anexo 1 – Regulamento Técnico das Boas Práticas para a Fabricação de Medicamentos.

5) Volume 4 – EU Guidelines to Good Manufacturing Practice – Annex 1 – Manufacture of Sterile Medicinal Products – February/2008.

6) FDA Guidance for Industry – Sterile Drug Products Produced by Aseptic Processing – Current Good Manufacturing Practice – September/2004

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