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A N O V I | N Ú M E R O 5 7 | A b R I l / M A I O 2 0 0 9
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CONfEdER AçãO NACIONAl dOs TR AbAlhAdOREs NA AgRICulTuR A (CONTAg)
contag empossa nova diretoria
Em cerimônia prestigiada por 500 dirigentes do movimento sindical do campo, três ministros de Estado, e quatro organizações internacionais sindicais, a Contag empossou sua nova diretoria, encabeçada por Alberto Broch
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EntrevistaManoel do Santos fala dos 11 anos em que esteve à frente da Contag e dos novos desafios que espera encontrar como secretário de Finanças da instituição Pág. 8
GTB Brasil 2009Dirigentes da Contag entregam a pauta de reinvindica-ções do Grito da Terra Brasil 2009 ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e iniciam negociaçõesPágs. 4 e 5
luiz fernandes
2 J o r n a l d a C o n t a g
e d i to r i a l
O s sindicatos devem ficar atentos para o prazo de recolhimento da con-tribuição sindical. Os
empregadores rurais deveriam ter recolhido o imposto e o repassado aos sindicatos até o dia 30 de abril. A contribuição é descontada anualmen-te, em março, do salário de cada tra-balhador e trabalhadora e equivale à remuneração de um dia de trabalho.
Essa fonte de financiamento da atividade sindical surgiu em 1971, 11 anos após a criação dos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais. A guia de recolhimento da contribuição sindical esta disponível no site da Contag (www.contag.org.br) ou na sede da federação ou do sindicato do município sede das em-presas rurais.
O secretário de formação e Or-ganização sindical da Contag, Juraci souto, afirma que os sindicatos de-vem ficar atentos. “Eles devem procu-rar os contadores das empresas para conferir se o recolhimento foi feito. É
F i n a n ç a s
fortalecimento da agricultura familiar.
É por isso que as bandeiras principais
do grito da Terra 2009 são a política
agrícola, a reforma agrária e a preser-
vação ambiental.
O outro desafio que teremos nos
próximos quatro anos são as elei-
ções de 2010. Precisamos participar
desse processo. Nós não queremos
que o brasil retroceda. Queremos
avançar. Portanto, o movimento
sindical do campo não deixará de
debater candidaturas, comparar
projetos, fazer uma grande mobili-
zação nacional em todo o País para
conquistarmos espaços nas Assem-
bléias legislativas, Câmara dos de-
putados e senado federal.
A hora é de enfrentar, junto com
as fetags e os sTTRs, os grandes de-
safios que se apresentam.
Unidade e luta para enfrentar os desafios
A soma dos esforços dos
dirigentes da Contag e
das fetags resultou na
formação de uma chapa
única para comandar o movimento
sindical dos trabalhadores e trabalha-
doras rurais (MsTTR) nos próximos
quatro anos. O MsTTR mais uma vez
demonstrou que é possível garantir a
unidade dentro da diversidade para
construir um sindicalismo classista,
democrático e solidário.
A Contag é fruto das ligas Cam-
ponesas do Nordeste e do Master
do Rio grande do sul. somos fruto
de uma história de 46 anos de resis-
tência, organização e luta sindical.
O MsTTR sempre esteve presente
nos momentos mais importantes da
história política de nosso país nas úl-
timas décadas. lutamos contra a di-
tadura, pela Anistia e pelas diretas.
Nós também defendemos os direitos
da classe trabalhadora do campo du-
rante o processo de elaboração da
Constituição de 1988, cerramos fi-
leiras pelo impeachment do Collor e
contribuímos para a eleição do com-
panheiro lula.
A luta dos trabalhadores e tra-
balhadoras rurais foi decisiva para
conquistar o reconhecimento social.
desafios pela frente. Ainda nos en-
vergonhamos da fome no brasil, do
trabalho escravo e da má distribui-
ção de renda. Para superar essas
mazelas, precisamos colocar na
agenda do País o tema da reforma
agrária, porque a concentração de
terra cresce a cada dia, e da segu-
Alberto BrochPresidente da Contag
Até bem pouco tempo, as mulheres
eram consideradas domésticas e
não trabalhadoras rurais. Os agricul-
tores familiares eram considerados
meio-homens, pois ganhavam meio
salário-mínimo. hoje, discutimos de
igual para igual com o Estado e a so-
ciedade.
Os avanços são motivos de or-
gulho. Mas ainda temos muitos
rança alimentar. É por isso que de-
vemos continuar trabalhando pela
implementação do Projeto Alterna-
tivo de desenvolvimento Rural sus-
tentável e solidário (PAdRss).
A crise internacional não acabou
e já sentimos alguns reflexos dela
no campo. diante desse cenário,
precisamos apostar na produção, na
reativação do mercado interno e no
Os avanços são motivos de orgulho. Mas ainda temos muitos desafios pela frente. Ainda nos envergonhamos
da fome no Brasil, do trabalho escravo e da má distribuição de renda
preciso correr atrás porque é a partir dessa movimentação que se melhora a arrecadação”, aconselha.
segundo Juraci, a preocupação é necessária, uma vez que os sindica-tos ficam com 60% do valor arreca-dado com a contribuição sindical. O dirigente alerta que em determinadas situações o dinheiro não é repassado para as entidades sindicais. “há ca-sos em que a empresa faz a retenção e se apropria desse dinheiro, não re-colhendo para o sistema Contag. Isso é crime!”
O dirigente lembra que, se uma empresa não fizer o repasse, os sin-dicatos devem denunciar o caso ao Ministério Público ou à Contag. Além dos assalariados e assalariadas, os agricultores familiares também de-vem fazer o pagamento da contribui-ção sindical, mas a forma de recolhi-mento é diferenciada. Os produtores e produtoras rurais pagam a taxa logo após as colheitas e cada estado tem datas e valores diferentes para o re-colhimento.
Contribuição é obrigatória para todas as categoriasA contribuição sindical é descontada anualmente dos salários dos(as)
trabalhadores(as) do campo e da cidade, independentemente de serem ou não associados(as) ao sindicato. A cobrança serve para custear as ativi-dades sindicais e para lastrear os recursos do fundo de Amparo ao Traba-lhador (fAT).
MSTTR precisa fiscalizar repasse de contribuição sindical
P o s s e
3J o r n a l d a C o n t a g
Novos diretores da Contag são empossados
Curso capacita sobre as novas regras da Previdência
T rabalhadores e trabalhadoras rurais de várias regiões do País participaram de oficinas de capacitação sobre as no-
vas regras previdenciárias aplicadas aos segurados (as) especiais e assalariados (as) rurais, na sede da Contag, entre os dias 30 de março e 02 de abril.
Os participantes tiraram dúvidas e contribuíram com o texto da Instru-ção Normativa (IN) que regulamenta as mudanças da lei 11.718/08 e do
decreto 6.722/08. Os sindicalistas também debateram o cadastramento do segurado especial e o contrato de trabalho em curto prazo.
O decreto está em vigor desde o dia 31 de dezembro de 2008 e regu-lamenta a lei, que trata sobre as novas regras da Previdência Rural. No entan-to, as mudanças ainda não são claras. “Existem pontos cruciais que parecem confusos, e por isso é preciso debater mais sobre eles. A capacitação nos
ajudou a entender os nossos direitos e como utilizá-los”, afirma o diretor de finanças e Administração da fetaep, Jairo Correa de Almeida.
A secretária de Políticas sociais da Contag, Alessandra lunas, reite-ra que a capacitação é importante para a base sindical conhecer seus direitos. Ela afirma que a abertura de diálogo com o INss é uma conquis-ta permanente dos trabalhadores e trabalhadoras. “Os inúmeros avanços
nos últimos anos são prova do nosso crescimento nessa área”.
A chefe da divisão de Reconheci-mento Inicial do direito do INss, Isabel Cristina sobral, reforça a importância do evento. “A interação com as federa-ções e sindicatos é fundamental porque traz novas situações e nos faz observar a lei sob outro ponto de vista.” Isabel explica que todas as sugestões serão encaminhadas para o órgão analisar a possibilidade de implementação.
P r e v i d ê n c i a r u r a l
A posse da nova diretoria da Contag foi
prestigiada por mais de 500 dirigen-
tes do movimento sindical do campo,
parlamentares e representantes do
governo federal e entidades internacionais, no dia
29 de abril, em brasília. A declaração de posse foi
lida pelo diretor da união Internacional de Traba-
lhadores da Alimentação e da Agricultura (uITA),
gerardo Iglesias. Os novos dirigentes têm mandato
até 2013.
O presidente empossado Alberto broch lembrou
a importância da Contag e os anos de luta dos tra-
balhadores e trabalhadoras rurais. "Nós somos fruto
das ligas Camponesas do Nordeste, do Master (Mo-
vimento dos Agricultores sem Terra) do Rio grande
do sul, dos desbravadores do País", disse.
broch também falou sobre os desafios da
Contag. "fortalecer a agricultura familiar e o de-
senvolvimento sustentável será a grande força
para o enfrentamento de qualquer crise, da fome,
da distribuição de renda, do modelo de desenvol-
vimento. Quando temos agricultura forte, temos
também gente feliz no campo, além de preserva-
mos nossa cultura e gerarmos emprego".
Despedida – depois de 11 anos à frente da Contag,
Manoel dos santos se despediu da Presidência fa-
zendo um balanço de sua gestão. "O maior orgulho
que tenho é o de ter vivenciado, assistido e ajudado a
construir as mudanças sindicais nos últimos anos. Vi-
venciar o trabalho pelo conjunto dos trabalhadores e
trabalhadoras e construir relações sociais e políticas
na sociedade foi extremamente gratificante".
O ex-presidente também homenageou os ex-
secretários de formação e Organização sindical,
Raimunda de Mascena; e de Política Agrária e
Meio Ambiente, Paulo Caralo. "Quero testemu-
nhar o quanto foi importante o trabalho desen-
volvido por eles e o compromisso desses compa-
nheiros com a Contag".
Para o ministro do desenvolvimento Agrário,
guilherme Cassel, esse momento revela maturi-
dade e respeito entre os parceiros do governo fe-
deral e da Contag. "Todos aprendemos muito com
vocês e essa troca de guarda do Manoel para o
Alberto nos faz encarar o futuro de uma maneira
mais tranqüila".
Além de Cassel, compareceram à posse os
ministros da secretaria-geral da Presidência da
República, luiz dulci; e da Previdência social,
José Pimentel; e os presidentes da Central Única
dos Trabalhadores (CuT), Arthur henrique santos,
e da Central dos Trabalhadores do brasil (CTb),
Wagner gomes.
luiz fernandes
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g r i to d a t e r r a b r a s i l
GTB 2009 prioriza reforma agrária, agricultura familiar e meio ambiente
A pauta de reivindicações do grito da Terra brasil (gTb) 2009 foi entregue pela nova diretoria da Contag
ao presidente luiz Inácio lula da silva no dia 29 de abril. Os dirigentes das 27 fetags participaram da audiência, que também contou com a presença dos ministros luiz dulci, da secreta-ria geral da Presidência da República, e guilherme Cassel, do Ministério do desenvolvimento Agrário (MdA).
durante todo o mês de maio, di-rigentes da Contag se reuniram com ministros e secretários de Estado para negociar os 203 itens que constam na pauta. "O foco neste ano será a refor-ma agrária, a institucionalização das políticas públicas para a agricultura familiar e as mudanças na legislação ambiental", afirmou o presidente da Contag, Alberto broch.
O dirigente cobrou durante a reu-nião com o presidente lula a atuali-zação dos índices de produtividade rural e o aprofundamento do Plano Nacional de Reforma Agrária nos marcos de um novo planejamento socio-ambiental no País. "se não to-marmos essas medidas, a própria le-gislação vigente vai inviabilizar qual-quer tipo de reforma agrária no País", ressaltou broch.
Ele também adiantou ao governo fe-deral a reivindicação de R$ 22 bilhões
para o Plano safra 2009/2010. "Que-remos que os recursos do Pronaf pos-sam contribuir para aumentar a renda da agricultura familiar, pois somente a soja tem, atualmente, preço acima dos custos de produção”, protestou broch.
Neste ano, as negociações da pauta do grito da Terra brasil ocor-rem no período de 18 e 22 de maio.
Reforma agrária- Recompor o orçamento da união/2009 para as ações do
Incra e da sRA.- Arquivar a MP 458/2009, que trata da regularização fundiá-
ria na Amazônia.- Rever a lei Complementar 93, que criou fundo de Terras, e
melhorar as condições de acesso à terra pelo Programa Nacional de Crédito fundiário.
- Revogar a Portaria MEPf 88/99, que impede a realização de ações de reforma agrária em áreas com cobertura florestal primária na Amazônia, Mata Atlântica e Pantanal.
- Assentar, assegurando a qualidade dos assentamentos, 250 mil famílias por ano, até o ano de 2010. Incluir na meta de 2009 as ações comprometidas e não realizadas nos anos anteriores.
Política agrícola
- Regulamentar a lei 11.326/06 e consolidar em um único
marco legal todas as medidas e normativos referentes às políti-
cas públicas para agricultura familiar.
- garantir a renda mínima para a agricultura familiar por meio
da revisão da metodologia de formação dos preços do PgPAf,
garantindo no mínimo 30% de lucratividade.
- garantir a cobertura do PgPAf em 100% da produção da
agricultura familiar.
- Reduzir a carga tributária da produção da agricultura familiar
(insumos e produtos).
- Assegurar assistência técnica e extensão rural através da
aprovação da lei geral da ATER e descontigenciar orçamento de
2009 e efetivar a suplementação orçamentária de R$ 200
milhões dos recursos de ATER.
Em todas as audiências agendadas, a Contag vai apresentar a Carta-denúncia à Opinião Pública exigindo providências urgentes para assegu-rar a proteção integral das crianças e adolescentes do campo. O docu-mento exige urgência na retomada e ampliação do Plano Nacional de Er-radicação do Trabalho Infantil, além
de mudanças de nos mecanismos de proteção do trabalho adolescente.
A mobilização do grito da Terra brasil 2009 está marcada para os dias 26 e 27 de maio. A expectativa de presença de cinco mil pessoas na capital federal. Confira abaixo os principais destaques da pauta de rei-vindicações:
Em reunião com a cúpula do governo federal, Contag entrega a pauta de reinvindicações do Grito da Terra 2009
Ricardo stuckert
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GTB 2009 prioriza reforma agrária, agricultura familiar e meio ambiente
Meio ambiente- Promover mudanças no Código florestal brasileiro.- Aprovar uma política nacional de pagamento por serviços ambien-
tais por meio de um fundo criado pelo governo federal para remunera-ção dos benefícios gerados pela agricultura familiar.
- garantir a permanência das famílias no perímetro delimitado e nas áreas de amortecimento das unidades de Conservação da Natu-reza do grupo de Proteção Integral (uCNgPI).
- Conceder bolsa de apoio para as famílias que já estão nas uCNgPI até que seja concretizada a regularização fundiária dessas áreas e readequar as unidades já criadas para compatibilizar a con-servação da biodiversidade com a valorização da sociodiversidade no contexto regional.
- buscar soluções para conflitos existentes na Reserva biológica da Mata Escura (Mg) e no Parque Nacional da serra da bodoquena (Ms); ampliar o Parque Nacional da serra das Confusões e criar os parques nacionais da serra Vermelha (PI) e boqueirão da Onça (bA).
- Ampliar e fortalecer o debate sobre o Regime Internacional de Acesso e Repartição de benefícios.
- Iniciar o diálogo sobre os direitos dos agricultores com relação à agrobiodiversidade, aos recursos fitogenéticos, variedades agrícolas e a alimentação e nutrição.
Assalariados e assalariadas rurais- Promover políticas públicas para os trabalhadores (as) assa-
lariados (as) rurais, redirecionando as políticas governamentais
de modo que essas categorias profissionais ser público benefici-
ário dos programas já existentes.- Reforçar os programas de promoção da saúde e segurança
do trabalhador e trabalhadora rural.- Assegurar o depósito, registro e arquivo de convenções
e acordos coletivos de trabalho nos órgãos do Ministério do
Trabalho e Emprego.- Manter as metas e recursos previstos para a execução do
Projovem Trabalhador para atender os (as) jovens rurais e
garantir a execução via organizações e movimentos
sociais e sindicais do campo. Terceira idade
- Criar e implementar o fundo nacional da pessoa idosa.
- garantir os mecanismos asseguradores do acesso a mora-
dia digna, programas educacionais, atividades culturais, acesso
a saúde publica, esporte e lazer para a terceira idade no campo.
- Promover um diagnóstico das necessidades das pessoas
idosas na zona rural, considerando o perfil sócio econômico do
segmento e a rede de serviços disponíveis.
- Priorizar ações da secretaria Nacional de Assistência social
(sNAs) sob forma de apoio a projetos e convênios com organi-
zações da sociedade civil que atuam com pessoas idosas que
vivem no meio rural.
Juventude- Criar o Programa Nacional de Empreendedorismo de Jovens
Rurais visando o acesso ao crédito desburocratizado e com
recursos financeiros não reembolsáveis, para o desenvolvimento
de empreendimentos individuais ou coletivos em atividades não-
agrícolas.
- Exigir do governo federal que as prioridades definidas
durante a Conferência Nacional de Juventude sejam imple-
mentadas.
Políticas sociais
- Revisar a proposta de Reforma Tributária em tramitação no
Congresso Nacional no que diz respeito ao financiamento das
políticas sociais no País.
- Estabelecer um pacto entre diversos ministérios, por meio
de um protocolo de intenções, em favor da proteção infanto-
juvenil no campo.
- Criar um grupo interministerial de trabalho para solucionar
problemas relacionados aos direitos trabalhistas, previdenciários
e de saúde dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.
- Apoiar a realização de um seminário nacional e três macror-
regionais sobre saúde do trabalhador e trabalhadora rural.
aprofundamento das discussões so-bre meio ambiente e reforma agrária em todas as instâncias do MSTTR, a estruturação das secretarias nos es-tados, a busca de mais parcerias e a realização de um diagnóstico sobre a relação entre a agricultura familiar e a preservação ambiental, entre outros.
A saída de Paulo Caralo da di-reção da Contag não significa seu afastamento do MSTTR. Ele explica que retorna ao Espírito Santo para participar do processo eleitoral da nova direção da Fetaes. “Meu nome sempre estará à dispo-sição dos trabalhado-res e trabalhadoras rurais para a cons-trução do nosso projeto”, garante o sindicalista.
6
avaliaçÃo de gestÃo
"Formação sindical política e ideológica é tão importante quanto a técnica"
Caralo faz balanço da sua gestão como secretário da Contag
A companheira Raimunda Celestina de Masce-na – conhecida como Raimundinha – deixa a direção da Contag após 11 anos à frente da se-cretária de formação e Organização sindical e
da Comissão Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais. A dirigente recebeu uma homenagem na posse da nova di-retoria da Contag pela importância dos serviços prestados ao movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais desde a década de 80. Em entrevista ao Jornal da Contag, ela faz um balanço de seu trabalho na área de for-mação e organização sindical nos últimos quatro anos.
O que você destaca na sua gestão à frente da Se-cretaria de Formação e Organização Sindical?
uma das grandes marcas desse mandato é a cons-trução de uma política nacional de formação, onde você bebe na Teologia da libertação, de Paulo freire, em varias frentes: trazendo para o debate, recuperando a educação popular e a educação sindical, como algo fundamental para aprimorar a luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais brasileiros.
E pessoalmente, o que leva dessa experiência?foi uma experiência boa, que desafia, porque a gente
tem que desaprender para aprender de novo, identificar quais são os limites dos outros. Mas primeiro temos que identificar quais são os nossos limites.
Quais foram os principais avanços?desde o 8° Congresso percebemos a necessidade de o
movimento sindical retomar o processo de formação sindi-cal mais política e ideológica para podermos implementar
o projeto alternativo. A formação vinha sendo desenvolvida mais do ponto de vista de temas imediatos. Eram capacita-ções sem viés de formação política e ideológica.
Como surgiu a escola Nacional de Formação Sindi-cal da Contag?
Exatamente dessa necessidade de uma formação política e ideológica. Por exemplo, a gente percebia que nas eleições municipais havia um número enorme de trabalhadores e trabalhadoras votando no projeto neoliberal. dirigentes sem entender o que é a essência de um projeto alternativo. Além disso, as mulheres trabalhadoras rurais foram sempre reivin-dicaram uma escola de formação onde aprendesse a lidar “politicamente com a política”. foi do debate sobre como alterar esse cenário que surgiu a idéia da Enfoc.
Durante o seu mandato também foi criado o Encon-tro Nacional de Formação do MSTTR. Como avalia esses encontros?
É um espaço para refletirmos sobre a organização que temos, a organização que queremos, a formação que tí-nhamos e a formação que também queríamos.
Quais são os desafios para a pasta no futuro?A organização sindical, não só a do campo, mas o sindi-
calismo como um todo precisa conversar sobre a seguinte questão: que sindicalismo teremos daqui para frente se a gente não fizer inovações dentro das nossas organiza-ções? Também é preciso perceber os sujeitos chamados trabalhadores e trabalhadoras rurais: quem são eles e elas, quais são suas especificidades e necessidades para estarem juntos.
A organização interna, a busca de parceiros, o debate com a sociedade e a ocupação de vários espaços. Esses fo-
ram os eixos que nortearam a atuação da secretaria de Política Agrária e Meio Ambiente nos últimos quatro anos. O ex-diretor Paulo Caralo, que recebeu uma homenagem na posse da nova di-retoria da Contag, explica que todas as ações seguiram o planejamento estra-tégico definido para a pasta.
um dos primeiros passos da gestão de Paulo Caralo foi integrar a Contag ao fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, formado por mais de 40 entidades. “Além de manter esse espaço, a Contag ampliou sua partici-pação neste último mandato e, a par-tir daí, começamos a constituir outras parcerias”, enfatizou o ex-secretário de Política Agrária e Meio Ambiente.
Como integrante do fórum, a Con-tag participou ativamente do Acampa-mento Nacional pela Reforma Agrária, em 2008, quando foi relançada a Cam-panha Pelo limite da Propriedade da Terra. Outro avanço importante foi ini-
ciar o processo de discussão e elabo-ração de um Plano de Reforma Agrária do Movimento sindical de Trabalhado-res e Trabalhadoras Rurais (MsTTR).
Meio Ambiente – Nos últimos qua-tro anos, o tema da produção com preservação ambiental passou a ser aprofundado. Caralo lembra que a Contag liderou os debates com o go-verno federal e as organizações sindi-cais e ambientalistas sobre a criação de parques ou reservas ecológicas e a educação e licenciamento ambiental nos assentamentos.
A secretária de Política Agrária e Meio Ambiente também debateu e apresentou propostas para temas im-portantes, como a regulamentação da lei da Mata Atlântica e mudanças no Código florestal brasileiro. “A Contag hoje é uma das poucas entidades do brasil que tem proposta quando vai falar de mudanças da legislação am-biental”, ressalta Caralo.
Porém, o ex-secretário explica que vários outros desafios ainda es-tão colocados para a Contag como o
Paulo Caralo foi secretário de
Política Agrária e Meio Ambeinte por
quatro anos
Raimundinha Menezes avalia gestão a frente da Secretaria de Organização e Formação Sindical
César Ramos
César Ramos
J o r n a l d a C o n t a g 7
Mandiocultores do Rio Grande do Norte apostam em inovações para aumentar a produção
Ampliação dos Territórios da Cidadania beneficia agricultores
desenvolvimento tecnológico
desenvolvimento territorial
Q uase metade da popu-lação rural do país será beneficiada com a am-pliação do Programa
Territórios da Cidadania em 2009. O governo vai atender neste ano 60 no-vas áreas e atingir a meta inicial de 120 territórios. serão investidos R$ 23,5 milhões, distribuídos em 180 ações voltadas para apoio das ati-vidades produtivas, infra-estrutura e aceso a direitos fundamentais como saúde, educação, saneamento e cul-tura. Em 2008, o governo destinou R$ 12,9 milhões ao programa, que foram investidos em 177 ações.
O novo mapa do programa abran-ge 1,83 mil municípios brasileiros, 45% dos agricultores (as) familiares, 65% das famílias de assentados (as) da reforma agrária e mais da metade dos pescadores do País. A estimativa é que as ações cheguem a 39 milhões de brasileiros (as), sendo 13, 5 milhões moradores (as) de áreas rurais.
uma das novidades deste ano é a inclusão de duas áreas com maioria de população indígena – Raposa serra do sol e Rio Negro.
Produtores de mandioca do Rio grande do Norte estão recebendo apoio técnico para aumentar a produtivi-
dade. O projeto foi uma iniciativa do serviço de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (sebrae) para orientar produtores de farinha no processa-mento e comercialização do produto. A ideia ganhou reforço com parcerias com a Empresa brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Ru-ral (Emater) e Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio grande do Norte (Emaparne). Os técnicos orientam os produtores no plantio e colheita da mandioca, além de pesquisarem a viabilidade econômica de cada pro-cesso de produção, e as melhores técnicas para as regiões do agreste e seridó do estado.
As ações dentro destes territórios serão coordenadas pela funai. Com as novas áreas o programa chega à metade da população in-dígena brasileira. O Territórios da Cidadania cobre também 65% das áreas quilombolas.
Seleção dos territórios – O pro-grama mapeou 164 áreas do País com características econômicas e ambientais similares e que tenham identidade e coesão social, cultural e
geográfica. Com este levantamento o governo pode definir ações conjuntas para cada localidade. de acordo com o secretário de desenvolvimento Terri-torial, humberto de Oliveira, as ações são focadas em municípios onde há maior dificuldade de acesso aos ser-viços públicos.
Por enquanto a secretaria de desen-volvimento Territorial (sdT) não preten-de estender o programa aos 44 territó-rios restantes. A idéia, segundo Oliveira, é investir na qualidade das ações nos
próximos quatro ou cinco anos. “Temos um projeto de longo prazo”, destaca.
O presidente eleito da Contag, Alberto broch, acredita que o Terri-tórios da Cidadania é um programa importante, por ser uma estratégia política voltada para o desenvolvi-mento sustentável de cada território, mas ressalta que “é preciso uma inte-ração maior dos sindicatos e federa-ção de trabalhadores e trabalhadoras rurais nos processos de decisão das ações”. “Isso já acontece em alguns territórios, mas não todos. deveria haver um esforço maior do Ministé-rio do desenvolvimento Agrário neste sentido, pois acreditamos que essa interação contribui para o sucesso do programa”, diz.
As ações a serem executadas em cada território são definidas pelos Colegiados Territoriais, formados por representantes da sociedade civil, prefeituras municipais, e governos estaduais e federal. O conselho é responsável por identificar deman-das locais, definir prioridades, fazer o controle social do programa e por divulgar as ações.
Humberto Oliveira defende investimento em municípios que tenham pouco acesso a serviços públicos
uma das maiores inovações é a mu-dança na forma de manejo. A maneira mais comum é plantar fileiras de man-dioca com distancia de um metro entre elas. A nova proposta é plantar fileiras duplas com espaço de 60 centímetros entre cada uma e de dois metros entre uma fileira dupla e outra. “desta for-ma mantém-se a mesma produção de mandioca e ganha na produção de ou-tras culturas, nos espaços entre elas”, explica o técnico da Embrapa, Jaeveson silva. geralmente é cultivado feijão ou milho entre as fileiras de mandioca.
Aproveitamento de espaço – A mandiocultura exige rotação de culturas, já que absorve muitos nutrientes do solo. Jaeveson destaca que com a nova forma de manejo “pode-se revezar o espaço entre as mandiocas para algum tipo de leguminosa que aja como adubo verde”.
Outra inovação é o uso da ma-nipueira (resíduo liquido que sai da mandioca quando prensada para produção da farinha) como adubo ou para o controle de pragas. “A mani-pueira é tóxica, então é bastante útil como repelente ou no extermínio de formigas”, explica Jaeveson. Os técni-cos da Embrapa também estão orien-tando os produtores sobre as melho-
res épocas de plantio e colheita da mandioca, dependendo da região de cultura e formas de adubo do solo.
Além de orientações para o pro-cessamento da farinha de forma ade-quada, os produtores aprendem como agregar valor ao produto. Como, por exemplo, vender a farinha já tempera-da. O projeto é financiado pelo banco do Nordeste brasileiro.
ubirajara Machado
fernando Melo
J o r n a l d a C o n t a g
Jo rna l da Con tag
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Jornal da Contag - Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretária de Relações Internacionais Alessandra da Costa Lunas | Secretário Geral David Wylkerson Rodrigues de Souza | Secretários: Finanças e Administração Manoel José dos Santos | Assalariados e Assalariadas Rurais Antonio Lucas Filho | Política Agrária Willian Clementino da Silva Matias | Política Agrícola Antoninho Rovaris | Organização e Formação Sindical Juraci Moreira Souto | Políticas Sociais José Wilson Gonçalves | Mulheres Trabalhadoras Rurais Carmen Helena Ferreira Foro | Jovens Trabalhadores Rurais Maria Elenice Anastácio | Meio Ambiente Rosicléia dos Santos | Terceira Idade Natalino Cassaro | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 70.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Assessoria de Comunicação Jacumã - Soluções Criativas em Comunicação Ltda. | Edição Ana Luiza Aguiar| Reportagem Ciléia Pontes, Danielle Santos, Iara Balduíno | Projeto Gráfico Wagner Ulisses | Diagramação Fabrício Martins | | Revisão Bárbara de Castro e Joira Coelho | Impressão Dupligráfica
diretor responsável: Ronaldo de Moura
e x P e d i e n t e
Como o senhor chegou à presi-
dência da Contag?
Eu saí diretamente da presidência
da fetape para presidir a Contag. A
primeira eleição se deu durante o 7º
congresso, em 1998, quando disputei
com o companheiro Airton faleiros e
recebi 66% dos votos. foi um momen-
to difícil, ter de administrar um racha
no primeiro mandato, mas ao longo da
gestão conseguimos superar essa di-
visão. Apesar de os cutistas terem se
reunificado três anos depois, não con-
seguimos formar uma chapa única em
2001, pois os companheiros ligados à
Corrente sindical Classista lançaram
uma chapa, que obteve cerca de 30%
da votação. Já no 9º congresso, em
2005, foi possível construir uma chapa
única que eu também encabecei.
Quais foram as mudanças na Con-
tag durante suas gestões como
presidente?
Consolidamos a democratização,
a ampliação das frentes de luta da
Contag e avançamos na implemen-
tação das políticas do Projeto Al-
ternativo de desenvolvimento Rural
sustentável (PAdRss), que começou
no início da década de 90. A Contag
também avançou no processo de ga-
rantir o espaço para a representação
das mulheres e jovens nos vários ní-
veis de direção do movimento sindical
do campo. Nós também mudamos o
estatuto, para estabelecer o limite de
uma única reeleição dos dirigentes
"Nosso desafio é manter a unidade dentro da diversidade"
c o n v e r s a d e P é d e o u v i d o
Após presidir a Contag por 11 anos, Manoel dos Santos passou o comando do movimento sindical do campo para o gaúcho Alberto Broch. Nesta entrevista, o atual secretário de Finanças e Administração da entidade, faz um balanço de seus três mandatos como presidente, fala das conquistas dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais, da relação com o governo Lula e com as centrais sindicais e apresenta os desafios para a nova diretoria da Contag.
A íntegra da entrevista pode ser lida no site www.contag.org.br
Cés
ar R
amos
para o mesmo cargo e para assegurar
uma renovação de 30% dos membros
da diretoria.
O senhor defendeu o apoio da
Contag à candidatura do Lula?
sim. O meu primeiro mandato se
deu durante o governo fhC. Naquela
época, as nossas reivindicações não
eram compreendidas e aceitas pelo
governo federal, que tinha uma orienta-
ção neoliberal. ficou claro para todo o
movimento sindical do campo que pre-
cisávamos eleger um candidato com-
prometido com o PAdRss. Por isso,
apresentamos em 2002 um conjunto
de reivindicações ao candidato lula,
que chegou a subscrever essas propos-
tas como compromisso de campanha.
Todas as 27 fetags apoiaram sua can-
didatura no segundo turno das eleições.
Mas, após sua eleição, a Contag teve
de fazer, em 2003, um acampamento
em frente ao Ministério da fazenda
porque o governo não apresentou um
plano para a reforma agrária. Em 2005,
nós também apoiamos a reeleição do
presidente lula, para conter a reação
das forças conservadoras e consolidar
as conquistas que tivemos durante o
primeiro mandato.
Como o senhor avalia a relação da
Contag com o governo Lula?
Temos clareza da diferença de pa-
péis do movimento sindical e dos go-
vernos. Ajudamos a eleger e demos
sustentação política ao presidente lula,
mas nunca perdemos a nossa autono-
mia. A Contag sempre fez as críticas e
as cobranças que julgou necessárias.
As conquistas que os trabalhadores e as
trabalhadoras rurais tiveram nos últimos
anos são resultado direto de nossa mo-
bilização e capacidade de negociação.
Os avanços foram grandes. Na questão
do crédito, saímos de R$2 bilhões para
R$13 bilhões e no campo da assistência
técnica, saltamos de R$16 milhões para
R$397 milhões. No entanto, o governo
lula não teve a vontade política e a com-
petência necessárias para implementar
o programa nacional de reforma agrária.
É por isso que vamos continuar cobran-
do a atualização dos índices de produti-
vidade rural e a liberação de mais recur-
sos para a desapropriação de terras e
para o crédito fundiário.
A relação com as centrais sindicais
ameaça a unidade da Contag?
Não. A Contag sempre defendeu
a importância das centrais sindicais
para garantir a unidade da classe tra-
balhadora do campo e da cidade. No
entanto, quando assumi a presidência
havia dois blocos: uns defendiam a
CuT e outros achavam que a entidade
não devia se filiar a nenhuma central
sindical. hoje temos uma realidade
diferente, pois quem era anticentral
aderiu ao projeto da CTb. Eu defendi,
de forma intensa, a continuidade da
nossa filiação à CuT. Mas diante do
resultado da votação no 10º congres-
so, temos de conviver democratica-
mente com as duas centrais sindicais
e aprofundar esse debate na base. A
grandeza e a importância da Contag
estão na nossa capacidade de cons-
truir a unidade dentro da diversidade.
Qual é a avaliação do senhor so-
bre o 10º congresso?
A participação das bases na pre-
paração do congresso foi extraordiná-
ria e eu tive a felicidade de coordenar
o processo de construção da chapa
única. Essa proposta foi apoiada por
todas as fetags e referendada pelos
delegados e delegadas do congresso.
Eu também avalio como fato positivo
a eleição de um companheiro da re-
gião sul para presidir a Contag. Não
podemos assumir uma postura bair-
rista. O importante é termos um rumo
para ser trabalhado e toda a direção
da Contag tem de seguir uma política
para as cinco regiões do País.
Quais são os desafios da nova
gestão da Contag?
O nosso principal desafio é man-
ter a unidade dentro da diversidade.
Eu não acredito que a Contag conti-
nuará sendo forte se ela for uma orga-
nização de uma única força política.
Nós também precisamos nos guiar
pela capacidade de fazer uma auto-
avaliação permanente, para melhor
servirmos aos trabalhadores e às tra-
balhadoras rurais que representamos,
procurando sempre avançar com for-
ça e unidade nas ações.