consuelo yatsuda moromizato yoshida...

47
XVIII Simpósio Jurídico da ABCE 1 Código Florestal na visão do Judiciário Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida [email protected]

Upload: trandieu

Post on 24-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

1

Código Florestal na visão do Judiciário

Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida

[email protected]

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

2

Grata pela atenção!

Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida

[email protected]

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

3

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

4

Complexidade e conflituosidade das questões

ambientais: avaliação de impactos e licenciamento

ambiental de empreendimentos hidrelétricos

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

5

O embate no licenciamento ambiental das

grandes hidroelétricas: o confronto entre

critérios e avaliações técnico-jurídicas e meta-

jurídicas. A suspensão da eficácia de liminares,

tutela antecipada e sentença desfavoráveis ao

Poder Público.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

6

“A crise energética e o apagão da Justiça”

Raul SilvaTelles do Valle

Direito do ISA. Disponível em:

<http://www.socioambiental.org/nsa/direto/direto_htm

l?codigo=2007-04-25-165847>

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

7

Ideologização da causa ambiental

Juízes desenvolvimentistas

x

Juízes ambientalistas

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

8

UHE de Belo Monte (PA)

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

9

Suspensão de Liminar nº 125/07 – Min. Ellen Gracie -

validade da autorização de instalação de Belo Monte

“(...) a não viabilização do empreendimento,

presentemente, compromete o planejamento da política

energética do país e, em decorrência da demanda

crescente de energia elétrica, seria necessária a

construção de dezesseis outras usinas na região com

ampliação em quatorze vezes da área inundada, o que

agravaria o impacto ambiental e os vultosos aportes

financeiros a serem despendidos pela União”

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

10

DECISÃO CIVIL PÚBLICA - MINISTÉRIO PÚBLICO –LIMINAR - USINA HIDRELÉTRICA BELO MONTE –ESTUDOS E SATISFAÇÃO DE VALORES – SUSPENSÃO –LIMINAR CONFIRMADA PELO TRIBUNAL REGIONALFEDERAL DA 1ª REGIÃO – EXCEPCIONALIDADE NÃOVERIFICADA – INDEFERIMENTO DO PLEITO DA UNIÃO.

(...) A aferição da tese conducente à suspensão quer deliminar, de tutela antecipada ou de segurança nãoprescinde do exame do fundamento jurídico do pedido.Dissociar a possibilidade de grave lesão à ordem pública eeconômica dos parâmetros fáticos e de direito envolvidosna espécie mostra-se como verdadeiro contra-senso.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

11

(...)

Não há como concluir que restou configurada lesão àordem, à saúde, à segurança ou à economia públicas,fazendo-o à margem do que decidido na origem, ao largodas balizas do ato processual implementado à luz dagarantia constitucional de livre acesso ao Judiciário.

Na prática de todo e qualquer ato judicante, em relação aoqual é exigida fundamentação, considera-se certo quadro ea regência que lhe é própria, sob pena de grassar osubjetivismo, de predominar não o arcabouço normativoque norteia a atuação, mas a simples repercussão do quedecidido (Min. Marco Aurélio Mello (Pet. 2604/ PA,julgamento: 26/10/2002).

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

12

Insuficiência do EIA/RIMA nos tempos atuais

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

13

A dimensão estratégica da variável ambiental, no

contexto das políticas, planos e programas

(PPP), requer a adoção de outros instrumentos

de planejamento ambiental, como a Avaliação

Ambiental Estratégica (AAE).

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

14

• Ato jurídico perfeito – Direito adquirido – Coisa

julgada – Situação consolidada – Fato consumado –

Passivos ambientais

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

15

Lei 12.651/2012 – Redação dada pela MP 571

Art. 5º Na implantação de reservatório d’água artificialdestinado a geração de energia ou abastecimento público, éobrigatória a aquisição, desapropriação ou instituição deservidão administrativa pelo empreendedor das Áreas dePreservação Permanente criadas em seu entorno, conformeestabelecido no licenciamento ambiental, observando-se afaixa mínima de 30 (trinta) metros e máxima de 100 (cem)metros em área rural, e a faixa mínima de 15 (quinze) metros emáxima de 30 (trinta) metros em área urbana. (Redação dadapela Medida Provisória nº 571, de 2012).

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

16

§ 1o Na implantação de reservatórios d’água artificiais de quetrata o caput, o empreendedor, no âmbito do licenciamentoambiental, elaborará Plano Ambiental de Conservação e Usodo Entorno do Reservatório, em conformidade com termo dereferência expedido pelo órgão competente do SistemaNacional do Meio Ambiente – SISNAMA, não podendo excedera dez por cento do total da Área de Preservação Permanente.(Redação dada pela Medida Provisória nº 571, de 2012).

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

17

§ 2o O Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno deReservatório Artificial, para os empreendimentos licitados apartir da vigência desta Lei, deverá ser apresentado ao órgãoambiental concomitantemente com o Plano Básico Ambientale aprovado até o início da operação do empreendimento, nãoconstituindo a sua ausência impedimento para a expedição dalicença de instalação.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

18

Art. 62. Para os reservatórios artificiais de água destinados ageração de energia ou abastecimento público que foramregistrados ou tiveram seus contratos de concessão ouautorização assinados anteriormente à Medida Provisória no2.166-67, de 24 de agosto de 2001, a faixa da Área dePreservação Permanente será a distância entre o nívelmáximo operativo normal e a cota máxima maximorum.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

19

MP-SP alerta para perdas ambientais com aprovação do novo Código Florestal

Alteração do critério de faixas de proteção em relação aosreservatórios já existentes (artigo 62): a faixa de proteçãoficaria entre a cota máxima normal e a máxima maximorum,áreas normalmente inundáveis ou inundadas, onde haveráprejuízo para o desenvolvimento da vegetação nativa.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

20

• Mapa do reservatório de Porto Primavera. A linha em marrom avermelhado é a linha de desapropriação (cota 259) e o reservatório só foi autorizado a operar na cota 257, portanto a faixa entre-cotas é a faixa entre o reservatório (cor azul) e a linha marrom avermelhada. Considerando o texto aprovado na Comissão de Meio Ambiente do Senado, a maior parte do reservatório ficará sem APP.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

21

Ortofoto de 2007 da EMPLASA com a APP de

100m no entorno do reservatório com a área aproximadamente de

81,90ha. Observa-se em cor mais clara a faixa entre

as cotas máxima operacional de 623 metros

e a cota máxima maximorum de 625,80

metros, contida na APP de 100 metros da represa,

com uma diferença altimétrica de 2,80 metros,

faixa esta em que a vegetação não se

desenvolve.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

22

Ortofoto de 2007 da

EMPLASA com a

APP no entorno do

reservatório com a

área

aproximadamente

7,39ha

correspondente a

faixa entre as cotas

máxima operacional

de 623 metros e a

cota máxima

maximorum de

625,80 metros.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

23

Imagem do satélite

GeoEye de Ortofoto

de 14 de agosto de

2009 com a APP no

entorno do

reservatório com a

área

aproximadamente

de 7,39ha,

correspondente a

faixa entre as cotas

máxima operacional

de 623 metros e a

cota máxima

maximorum de

625,80 metros,

totalmente

submersa.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

24

Compensações

O setor elétrico realiza e paga várias compensaçõesprevistas em leis: as medidas compensatórias nolicenciamento ambiental (art. 12, parágrafo único, da lei6.981/81); compensação ambiental da lei do SNUC (art.36, 47, 48 da Lei 9.985/00); compensação florestal parasupressão de vegetação do Código Florestal;compensação para supressão de vegetação em mataatlântica (art. 17 e 32 da Lei 11.428/06); compensaçãopor supressão de APP (Código Florestal) ecompensações financeiras, sem contar as demaiscompensações impostas por processos judiciais e nascondicionantes das licenças.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

25

Segurança jurídica

O alcance do art. 5.º, XXXVI, da CF/1988 e do art. 6.º da Lei deIntrodução às Normas do Direito Brasileiro: o direitointertemporal:

Ato jurídico perfeito, direito adquirido, expectativa e faculdadede direito: distinções. Inexiste direito adquirido a regimejurídico de instituto ou instituição de direito:

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

26

Orientação reiterada do STF:

não há direito adquirido a regime jurídico de

instituto ou instituição de direito

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

27

Direito adquirido em face de normas constitucionais

O direito adquirido nas esferas privada e pública. Interessepúblico e segurança jurídica compartilhada.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

28

Uso legítimo e uso ilegítimo dos institutos do ato jurídicoperfeito e do direito adquirido. Jurisprudência atual dasCortes Superiores: as situações ilegais consolidadas notempo

As alterações do Código Florestal e a observância doprincípio tempus regit actum. Direito adquirido e ato jurídicoperfeito em relação ao aumento dos percentuais das reservaslegais.

APP em área urbana consolidada. Licença de construir elicença ambiental: situações diferenciadas. Direito adquirido eato jurídico perfeito;

Situação consolidada e fato consumado: casuística emmatéria ambiental. Visão crítica

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

29

Direito adquirido e pagamento de indenização:

Inindenizabilidade das limitações administrativas, como regra;

A flexibilização da legislação ambiental: a caracterização e alegitimação das situações consolidadas no tempo

A coisa julgada nas ações individuais e nas ações coletivas:peculiaridades. Relativização da coisa julgada material.Possibilidade. Precedentes do STF

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

30

É cabível a alegação de direito adquirido?

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

31

RESP RECURSO ESPECIAL 948921

Relator(a)HERMAN BENJAMIN

STJ - SEGUNDA TURMA

DJE DATA:11/11/2009

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

32

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL

PÚBLICA. (...) FUNÇÃO SOCIAL E FUNÇÃO

ECOLÓGICA DA PROPRIEDADE E DA POSSE.

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.

RESERVA LEGAL. RESPONSABILIDADE

OBJETIVA PELO DANO AMBIENTAL. OBRIGAÇÃO

PROPTER REM. DIREITO ADQUIRIDO DE POLUIR

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

33

(...)

2. Inexiste direito adquirido a poluir ou

degradar o meio ambiente. O tempo é incapaz

de curar ilegalidades ambientais de natureza

permanente, pois parte dos sujeitos tutelados

as gerações futuras carece de voz e de

representantes que falem ou se omitam em

seu nome.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

34

3. Décadas de uso ilícito da propriedade rural

não dão salvo conduto ao proprietário ou

posseiro para a continuidade de atos

proibidos ou tornam legais práticas vedadas

pelo legislador, sobretudo no âmbito de

direitos indisponíveis, que a todos aproveita,

inclusive às gerações futuras, como é o caso

da proteção do meio ambiente.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

35

4. As APPs e a Reserva Legal justificam-se ondehá vegetação nativa remanescente, mas commaior razão onde, em conseqüência dedesmatamento ilegal, a flora local já não existe,embora devesse existir. 5. Os deveres associadosàs APPs e à Reserva Legal têm natureza deobrigação propter rem, isto é, aderem ao título dedomínio ou posse. Precedentes do STJ.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

36

AC APELAÇÃO CIVEL 200339000040219

Relator(a) JUIZ FEDERAL EVALDO DE OLIVEIRA

FERNANDES, filho (CONV.)

TRF1 - QUINTA TURMA

Data da Decisão

07/07/2010

e DJF1 DATA:30/07/2010 PAGINA:129

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

37

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO,AMBIENTAL, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.AUTORIZAÇÃO PARA DESMATAMENTO.EXIGÊNCIA DE AVERBAÇÃO DE 80% DA ÁREARURAL A TÍTULO DE RESERVA LEGAL.INOVAÇÃO LEGAL. DIREITO ADQUIRIDO.INEXISTÊNCIA. PRECEDENTE. DIREITO DEPROPRIEDADE. LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

38

1. (...) indeferida segurança visando seja

reconhecido "direito adquirido dos impetrantes" a

manter averbação de 50% (cinquenta por cento)

da área de imóvel rural a título de reserva legal,

afastando exigência do IBAMA de que seja

averbada ampliação da área para o percentual de

80% (oitenta por cento), determinando lhe, ainda,

que autorize o desmatamento.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

39

2. É subjacente ao julgado no RE nº. 85.002/SP o

princípio de que, enquanto não protocolizado o

pedido de autorização para desmatamento, está

se diante apenas de "faculdade jurídica (...), que

integra o conteúdo do direito de propriedade",

inexistindo direito adquirido de desmatar, cujos

requisitos para autorização pelo Poder Público

são os vigentes à época do requerimento.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

40

3. Em se tratando de limitação administrativainstituída por lei, eventual direito dos impetrantesseria apenas a indenização, se consideradadesmedida (desproporcional) a intervenção em suapropriedade. Na espécie, o mandado de segurançae não poderia ser diferente visa, exclusivamente,afastar a exigência de averbação de 80% da área doimóvel a título de reserva legal.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

41

Pesquisa Imazon (Paulo Barreto)

Até 1986, a faixa mínima de APP para cursos d*águacom até 10 metros de largura era 5 metros. A partirdesse ano, foi elevada para 30 metros.Para fins de pesquisa, como é a jurisprudência oupotencial interpretação acerca da incorporação denovas exigências à função social das propriedades,especialmente quando o uso alternativo do uso jáestivesse consolidado na faixa que deveria seradicionada à APP?

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

42

• Quando o proprietário já havia desmatadolegalmente a faixa que foi incorporada à nova APP,há/deveria haver reconhecimento do direito adquiridode ocupar o solo?

• O que qualifica o ato jurídico perfeito? A meraocupação do solo assegura a legalidade do cultivoconsolidado em área incorporada posteriormente àAPP ou são necessários outros elementos?

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

43

• Caso o proprietário seja obrigado a recuperar aárea de APP cujo uso estava consolidado, há direito aindenização?

Na mesma linha, como o aumento do percentual deReserva legal na Amazônia tem retroagido sobresituações de uso consolidado do solo?

O Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia têmdecidido pelo direito de manter Reserva Legal empercentuais estabelecidos por lei anterior apenasquando a Reserva Legal tiver sido averbada e odesmatamento do restante da propriedade autorizado eefetuado sob égide da lei anterior.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

44

• Há consenso quanto a esse posicionamento equanto aos elementos que caracterizam ato jurídicoperfeito (averbação, autorização de desmate e desmateefetuado)?

• Outros elementos além da caracterização do atojurídico perfeito devem ser considerados para decidirsobre a manutenção de reserva legal de acordo compercentuais antigos?

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

45

LICENÇA DE CONSTRUÇÃO E LICENÇA AMBIENTAL

a) a licença para construção foi emitida sem aobservância de regras ambientais;b) a licença de construção e a licença ambiental foramdevidamente emitidas e, antes da construção houveuma alteração das normas ambientais, ampliando aproteção às áreas ambientalmente protegidas;c) a licença de construção e a licença ambiental foramdevidamente concedidas, tendo o proprietário erigido asua construção.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

46

Conclusões

O respeito ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e àcoisa julgada no âmbito das relações de direito privado, dedireito público e de direito difuso

inexiste, todavia, direito adquirido de poluir

a caracterização e legitimação indiscriminada de situaçõesconsolidadas e de fato consumado são práticas deletérias quecontribuem para o surgimento de novos passivos ambientais.

o uso ilegítimo e fraudador desses institutos de segurançajurídica merecem especial atenção dos legisladores, daAdministração Ambiental, do Ministério Público e do PoderJudiciário.

XVIII Simpósio Jurídico da ABCE

47

Muito Obrigada!

Consuelo Yatsuda Moromizato Yoshida

[email protected]