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Construtora quer extra de R$ 1,2 bi na usina de Jirau 30/03/2011 Os problemas da Camargo Corrêa com a construção da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, não devem acabar com a retomada dos trabalhos após a destruição parcial do canteiro de obras. Uma disputa interna no consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), liderado pela belgo-francesa GDF Suez, demandará muita disposição da construtora para garantir o ressarcimento de custos adicionais causados por alegadas alterações nos contratos de Jirau. No chamado "claim", a Camargo Corrêa reclama R$ 1,2 bilhão de um "pacote" adicional de serviços de escavações, concretagens e desvios feitos no rio Madeira pela empreiteira para, entre outras ações, acomodar duas novas turbinas na hidrelétrica de 3.450 megawatts instalados. Nessa discussão estão ainda reajustes de custos de mão-de- obra, aumentos salariais, encargos tributários e despesas de escritório da construtora. Consultada, a Camargo preferiu não comentar o caso. O presidente do consórcio Energia Sustentável, Victor Paranhos, confirmou ao Valor as negociações com a construtora, dona de 9,9% de Jirau. E explicou os detalhes da proposta de aditivo contratual. "O que se discute é o custo indireto deles. Mão de obra e escritório. Mas eles já receberam parte do pacote. E ainda estão recebendo", afirmou Paranhos. "Eles podem reclamar, mas é custo deles. Vão ter uma negociação dura, mas ninguém está aqui para parar a obra". Ele lembrou que o consórcio de fornecedores, formado por Alstom, Andritz e Voith, tentou um "claim", mas "já saiu correndo". "Você já viu alguma empresa dizer que perdeu? Faz parte do show", resumiu Paranhos. O principal executivo de Jirau admitiu um custo de R$ 600 milhões com serviços adicionais provocados pela mudança de localização da usina (12 quilômetros à jusante do rio) e a demora no licenciamento ambiental do desvio do Madeira.

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Construtora quer extra de R$ 1,2 bi na usina de Jirau

30/03/2011

Os problemas da Camargo Corra com a construo da hidreltrica de Jirau, em Rondnia, no devem acabar com a retomada dos trabalhos aps a destruio parcial do canteiro de obras. Uma disputa interna no consrcio Energia Sustentvel do Brasil (ESBR), liderado pela belgo-francesa GDF Suez, demandar muita disposio da construtora para garantir o ressarcimento de custos adicionais causados por alegadas alteraes nos contratos de Jirau.

No chamado "claim", a Camargo Corra reclama R$ 1,2 bilho de um "pacote" adicional de servios de escavaes, concretagens e desvios feitos no rio Madeira pela empreiteira para, entre outras aes, acomodar duas novas turbinas na hidreltrica de 3.450 megawatts instalados. Nessa discusso esto ainda reajustes de custos de mo-de-obra, aumentos salariais, encargos tributrios e despesas de escritrio da construtora. Consultada, a Camargo preferiu no comentar o caso.

O presidente do consrcio Energia Sustentvel, Victor Paranhos, confirmou ao Valor as negociaes com a construtora, dona de 9,9% de Jirau. E explicou os detalhes da proposta de aditivo contratual. "O que se discute o custo indireto deles. Mo de obra e escritrio. Mas eles j receberam parte do pacote. E ainda esto recebendo", afirmou Paranhos. "Eles podem reclamar, mas custo deles. Vo ter uma negociao dura, mas ningum est aqui para parar a obra". Ele lembrou que o consrcio de fornecedores, formado por Alstom, Andritz e Voith, tentou um "claim", mas "j saiu correndo". "Voc j viu alguma empresa dizer que perdeu? Faz parte do show", resumiu Paranhos.

O principal executivo de Jirau admitiu um custo de R$ 600 milhes com servios adicionais provocados pela mudana de localizao da usina (12 quilmetros jusante do rio) e a demora no licenciamento ambiental do desvio do Madeira. Ele afirmou, porm, que o aumento do custo de obra foi compensado pelos pagamentos via regime de preo unitrio. "Aumentou o custo, mas ela recebeu mais e ganhamos parte disso em mais energia".

As duas turbinas extras devem gerar 49 MW adicionais. E a mudana de local garantiria outros 148 MW. As alteraes elevaram o custo da obra, de R$ 9 bilhes para R$ 11,9 bilhes. "Mas era preo de 2008", ressalvou.

Victor Paranhos admitiu negociar com a Camargo um "aditivo" de R$ 300 milhes a R$ 500 milhes. Mas ressalvou que o adicional por servios questionado pela Camargo j estava "precificado" no fluxo de caixa da construtora ao longo da obra. "O 'claim' deles hoje zero", disse. O executivo afirmou que a empresa receber pelas mquinas adicionais em regime de preo unitrio. "A Camargo est reclamando o pacote, e no s o 'claim' dos adicionais. Ento, escavou, ganhou. Concretou, ganhou".

O executivo afirmou haver "confuso" entre os regimes de preo unitrio e de EPC (Engenharia, Compras e Construo, na sigla em ingls). "Aqui, preo unitrio, e no EPC", afirmou. No regime "EPC", as relaes jurdicas para a construo da obra esto concentradas em apenas uma empresa, desde os estudos de viabilidade, os servios especializados, a construo civil, os equipamentos fornecidos e a coordenao e integrao para a execuo do empreendimento.

Paranhos informou que o consrcio fez 12 contratos com fornecedores de servios e equipamentos. O contrato com a Camargo, segundo ele, significa 31% do custo total da obra.

As discusses do "claim" esto centradas, segundo o dirigente do ESBR, na elevao do "custo Rondnia", que seria superior ao "custo Brasil". O executivo calculou em 25% o aumento dos custos causado pela inflao (IGP-M) desde 2008, quando a obra comeou a ser erguida. "A frmula paramtrica estourou. Houve uma inflao paramtrica", disse. Na verdade, o nmero acumulado entre 2008 e 2010 somou 20,1%. Alm disso, disse ele, o consrcio j gastou R$ 1,229 bilho em compensaes sociais e ambientais, a chamada "conta 10". Os equipamentos da obra j consumiram R$ 5 bilhes dos scios.

O executivo do consrcio Energia Sustentvel do Brasil afirmou, ainda, que as scias desembolsaram R$ 210 milhes para erguer uma nova cidade que abrigou ex-moradores de Mutum-Paran, que ser alagada pelo reservatrio de Jirau. Alm disso, os investimentos sociais na regio de influncia da hidreltrica teriam passado de R$ 89 milhes. Nas compensaes ambientais, as empresas gastaram R$ 80 milhes. "O que estourou o oramento foi a 'conta 10', onde fizemos uma nova cidade que no estava prevista", afirmou Victor Paranhos. Antes disso, porm, o executivo lembrou que a deciso interna do consrcio pela compra de equipamentos nacionais "estourou o oramento no incio" da obra. As turbinas da chinesa Dongfang, por exemplo, so 40% mais baratas do que as mquinas produzidas pelo consrcio CFJ no canteiro de Jirau, segundo ele.

Perguntas para discusso

1. Identifique as principais fontes de aumento de custos do empreendimento e relacione-os ao escopo do projeto.

2. O que a frmula paramtrica e como ela impacta, em conjunto com o regime de contratao, a execuo do oramento do projeto?

3. Qual o papel das reservas de contingenciamento e de gerenciamento numa situao como a descrita acima?