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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA CONSÓRCIO DE CÁRTAMO E FEIJÃO CAUPI: ALTERNATIVA PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NA AGRICULTURA FAMILIAR A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA ÉMILE ROCHA DE LIMA 2014 Natal RN Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA

CONSÓRCIO DE CÁRTAMO E FEIJÃO CAUPI: ALTERNATIVA

PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NA AGRICULTURA FAMILIAR

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A

COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

ÉMILE ROCHA DE LIMA

2014

Natal – RN

Brasil

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ÉMILE ROCHA DE LIMA

CONSÓRCIO DE CÁRTAMO E FEIJÃO CAUPI: ALTERNATIVA PARA A

PRODUÇÃO DE BIODIESEL NA AGRICULTURA FAMILIAR

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A

COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNA

TIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL

COMO ALTER PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA

Dissertação apresentada ao Programa Regional

de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Juliana Espada Lichston

2014

Natal – RN

Brasil

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ÉMILE ROCHA DE LIMA

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como

requisito à obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovada em: 20/02/2015.

BANCA EXAMINADORA:

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Dedico

À minha mãe, por ser meu maior exemplo

de força, coragem e perseverança.

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AGRADECIMENTOS

A CAPES, pela concessão da bolsa durante todo mestrado.

Ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que viabilizou a realização deste trabalho.

A Profa. Juliana Espada Lichston, por lutar por este trabalho junto comigo apesar de todas as

dificuldades. Agradeço pela paciência, por toda confiança, amizade, dedicação e acima de

tudo pelos ensinamentos de Botânica, da Biologia e da vida.

Ao agrônomo Anderson Patrício da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ – UFRN), por conceder

o espaço para realização dos experimentos em campo e auxiliar com o arranjo dos plantios.

Agradeço aos demais técnicos e servidores da EAJ que ajudaram com os cultivos.

Ao Prof. João Paulo Matos Santos Lima pela participação no início deste trabalho cedendo

material bibliográfico, e por sempre disponibilizar seu laboratório, seus materiais, e seu tempo

para ajudar.

Ao Prof. Ronaldo Angelini e em especial ao seu aluno Danyhelton Dantas pela ajuda com a

estatística.

A Livânia Frizon, representante da Agrovila Canudos, e aos agricultores de Canudos e suas

famílias, pela receptividade e pela contribuição com as entrevistas.

Aos colegas de turma (Prodema 2013), pela convivência, pelos diversos momentos de

descontração e pela ajuda uns aos outros, que nos possibilitou vencer tantas etapas juntos.

Aos que já não estão mais no LIMVE, mas que sempre permanecerão comigo pela amizade

construída, pelo apoio nessa jornada acadêmica e pessoal, por tantos trabalhos realizados

juntos, por momentos alegres, tantas palavras de conforto. Obrigada Victor Hugo e Marília.

A todos os amigos do LIMVE, Carlos, Fernanda, Romão, Izadora, Júlio, Túlio e Henrique,

pelo convívio divertido em laboratório e pelo incentivo e acolhimento. Aos amigos Emanuel e

Gabrielle, com os quais aprendi muito e que sempre incentivaram meu crescimento. Agradeço

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a Emanuel, também amigo de turma, pela ajuda com o desenvolvimento deste trabalho e pelos

desafios enfrentados nestes dois anos.

Às amigas, Adlany, Allyne e Thais, pela amizade e companhia a mim dedicadas. Lany,

obrigada pela ajuda em campo com minhas plantas, pelas nossas aventuras e por sua amizade

tão sincera. Allyne e Thais, muito obrigada por todo esforço em me acompanharem durante as

entrevistas e pelo apoio, amizade e incentivo de sempre. Obrigada meninas.

Agradeço à família de Jean, pelo afeto, carinho, compreensão e pela torcida constante durante

a realização deste trabalho.

À toda a minha família, que sempre contribuíram para a minha formação, por compreenderem

minhas ausências, e por sempre me estimularem a prosseguir.

Agradeço em especial,

Aos meus pais, Margareth e Davi, obrigada por acreditarem em mim, por sempre investirem e

apoiarem o meu futuro, por me guiarem, e por todo o amor, paciência e compreensão.

À minha irmã, Érica Rocha, pelo incentivo, pela confiança, pelas brigas, pelas risadas, e por

estar sempre presente em quaisquer situações.

Ao meu namorado, Jean Jar, por todo carinho, amor, compreensão e paciência. Obrigada por

sempre incentivar e acreditar nos meus sonhos, por ser meu melhor amigo e por dedicar e

abdicar do seu tempo para me acompanhar.

A Deus, por permitir que tudo isso se concretize, e por tudo mais que tem realizado em minha

vida.

A todos que contribuíram para a realização deste trabalho.

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RESUMO

CONSÓRCIO DE CÁRTAMO E FEIJÃO CAUPI: ALTERNATIVA PARA A PRODUÇÃO

DE BIODIESEL NA AGRICULTURA FAMILIAR

As novas estratégias de desenvolvimento devem atuar principalmente nas áreas de eficiência

energética e agricultura sustentável. Desta forma, a substituição de combustíveis fósseis por

biocombustíveis, como o biodiesel, está cada vez mais em pauta. O cultivo de plantas

oleaginosas para a produção de biodiesel deve acontecer em sistemas integrados que

permitam melhores benefícios ambientais e sejam mais significativos socioeconomicamente.

Assim, os objetivos do presente estudo foram: avaliar as características morfoanatômicas e

fisiológicas de plantas de cártamo (Carthamus tinctorius L., oleaginosa promissora para a

produção de biodiesel) cultivadas em monocultivo e em consórcio com o feijão caupi (Vigna

unguiculata L. Walp.); além de caracterizar socioeconomicamente agricultores familiares e

verificar a aceitação deles acerca do cártamo como cultura energética. A metodologia

utilizada para as análises de crescimento do cártamo em monocultivo e consorciado com o

feijão, foram análises morfoanatômicas e histoquímicas, feitas com amostras de plantas

cultivadas em campo, nos dois sistemas de cultivo. Não houve alterações no crescimento e

anatomia das plantas, mesmo em consórcio, o que é satisfatório para indicar o sistema

consorciado para essas culturas e pode ser uma boa alternativa para o produtor familiar, que

pode ter o cártamo como fonte de renda, sem precisar abdicar de plantar sua fonte de

subsistência. Para a verificação da aceitação do cártamo por agricultores, foram feitas

entrevistas a agricultores familiares da agrovila Canudos, em Ceará-Mirim/RN. Percebeu-se

que boa parte deles aceitam a introdução do cártamo como cultura oleaginosa, apesar de

desconhecerem a espécie, além de que, por ser mais resistente à seca, o cártamo auxiliaria na

estabilidade das famílias, que dependem das condições do clima para o sucesso de seus

cultivos atuais. De maneira geral, conclui-se que o cártamo possui características que o

permite ser cultivado em consórcio para a produção de biodiesel aliada à produção de

alimentos, como o feijão caupi, e pode ser utilizado possibilitando melhor desenvolvimento

para a agricultura familiar.

PALAVRAS-CHAVE: Carthamus tinctorius, Policultivos, Cultivo consorciado, Oleaginosa,

Agricultura familiar, Vigna unguiculata.

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ABSTRACT

CONSORTIUM SAFFLOWER AND COWPEA BEAN: ALTERNATIVE FOR BIODIESEL

PRODUCTION IN FAMILY FARM

The new development strategies should operate mainly in the areas of energy efficiency and

sustainable agriculture. Thus, the substitution of fossil fuels with biofuels, such as biodiesel,

is increasingly on the agenda. The cultivation of oilseed plants for biodiesel production must

take place in integrated systems that enable best environmental benefits and are more

economically significant. The objectives of this study were to assess the morphological,

anatomic, and physiological characteristics of safflower (Carthamus tinctorius L., promising

oilseed for biodiesel production) grown in monoculture and intercropping with cowpea bean

(Vigna unguiculata L. Walp.); and identify socioeconomic family farmers and verify their

acceptance about safflower as an energy crop. The methodology used for the analysis of

safflower growth in monoculture and intercropped with beans, were morphoanatomical and

histochemical analyzes, made with samples of plants grown in the field in two cropping

systems throughout the range of the life cycle of these plants. There were no changes in

growth and anatomy of plants, even in the consortium, which is satisfactory to indicate the

intercropping system for those crops and can be a good alternative for the family farmer, who

may have safflower as a source of income without giving up planting their livelihood. To

check the acceptance of safflower by farmers, interviews were made to family farmers by

Canudos agrovila in Ceará-Mirim/RN. It was noticed that many of them accept the

introduction of safflower as oil crop, although unaware of the species, and that, being more

resistant to drought, safflower help in the stability of families who depend on the weather

conditions for success their current crops. In general, it is concluded that safflower has

features that allows it to be grown in consortium for biodiesel production combined with the

production of food, such as cowpea, and can be used enabling better development for family

farmers.

KEYWORDS: Carthamus tinctorius, Policultives, Intercropping, Oilseed, Family farm,

Vigna unguiculata.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Consumo mundial de energia primária.....................................................................14

Figura 2: Reservas mundiais de carvão, gás e petróleo............................................................15

Figura 3: Carthamus tinctorius L..............................................................................................25

Figura 4: A – Planta adulta de Vigna unguiculata (L.) Walp.; B – Grãos de feijão caupi.......27

Figura 5: Localização das áreas de estudo................................................................................29

Figura 6: Arranjo espacial das plantas de cártamo e feijão caupi em campo...........................31

Capítulo 1

Figura 1: Disposição dos cultivos em campo............................................................................54

Figura 2: Taxa de emergência entre os tratamentos das culturas para teste t (P<0,05)............55

Figura 3: Altura da planta (A); Diâmetro caulinar (B)............................................................56

Figura 4: Secções transversais do caule e folha de C. tinctorius L...........................................57

Capítulo 2

Figura 1: (A) Perfil dos agricultores da agrovila Canudos quanto à faixa etária; (B) Perfil dos

agricultores da agrovila Canudos quanto ao estado civil..........................................................61

Figura 2: Principais culturas produzidas pelos agricultores familiares da agrovila Canudos...61

Figura 3: Respostas dos agricultores quanto à rentabilidade das culturas produzidas

atualmente na agrovila..............................................................................................................62

Figura 4: Aceitação do cártamo como cultura para a região da agrovila..................................62

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SUMÁRIO

Introdução Geral e Fundamentação Teórica.......................................................................12

Aspectos Atuais do Desenvolvimento Sustentável...................................................................12

Inconstância da Problemática Energética.................................................................................13

Biodiesel como Estratégia para a Produção de Energia............................................................16

Agroecologia e Cultivo consorciado.........................................................................................18

Agricultura Familiar como Componente na Indústria de Biodiesel.........................................20

Carthamus tinctorius L. – Matéria-prima Promissora para o Biodiesel...................................24

Feijão Caupi: Aprimorando o Rendimento do Produtor no Cultivo Consorciado....................26

Caracterização Geral da Área de Estudo.............................................................................29

Metodologia Geral...................................................................................................................30

1. Cultivo.................................................................................................................................30

2. Análises de Germinação, Crescimento e Morfoanatomia...................................................31

2.1. Taxa de emergência.......................................................................................................31

2.2. Análises de Crescimento...............................................................................................31

2.3. Microscopia Óptica.......................................................................................................32

2.3.1. Anatomia Vegetal..........................................................................................................32

2.3.2. Testes Histoquímicos....................................................................................................32

3. Aceitação do Cártamo e do Cultivo Consorciado...............................................................33

Referências...............................................................................................................................34

Capítulo 1: Carthamus tinctorius L. (Asteraceae) e Vigna unguiculata (L.) Walp.

(Leguminosae) em sistema de cultivo consorciado: efeitos na germinação, crescimento e

anatomia...................................................................................................................................41

Resumo......................................................................................................................................41

Abstract.....................................................................................................................................42

Introdução.................................................................................................................................43

Material e Métodos...................................................................................................................45

Resultados.................................................................................................................................46

Discussão..................................................................................................................................48

Conclusão..................................................................................................................................49

Agradecimentos........................................................................................................................49

Referências................................................................................................................................49

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Capítulo 2: Caracterização dos agricultores familiares da Agrovila Canudos, Ceará-

Mirim/RN, e sua receptividade a uma oleaginosa pouco convencional - Carthamus

tinctorius L...............................................................................................................................58

Resumo......................................................................................................................................58

Abstract.....................................................................................................................................58

Introdução.................................................................................................................................59

Metodologia..............................................................................................................................60

Resultados e Discussão.............................................................................................................60

Conclusão..................................................................................................................................64

Referências................................................................................................................................64

Conclusões Gerais...................................................................................................................67

Apêndice: Roteiro de entrevista...............................................................................................68

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INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

ASPECTOS ATUAIS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

É necessária uma redefinição do padrão de produção e de consumo que caracteriza o

mundo atual (BERMANN, 2008). Dentre as transformações mundiais das últimas décadas,

aquelas vinculadas à degradação ambiental e à crescente desigualdade entre regiões assumem

um lugar de destaque no reforço à adoção de mudanças (JACOBI, 2003).

Sobre isto, Beck (2009) argumenta que o mundo já não pode controlar os perigos

produzidos pela modernidade. A crença de que a sociedade moderna pode controlar os

perigos que ela mesma produz está em colapso – e não por causa da sua omissão e derrotas,

mas por causa de seus triunfos. As mudanças climáticas e poluição ambiental, por exemplo,

são produtos da industrialização bem-sucedida que ignora sistematicamente as suas

consequências para a natureza e a humanidade.

A sociedade moderna, com seus elevados níveis de consumo, tem enfrentado questões

que se expressam em escala global. Estas questões, apesar de terem origem antrópica,

representam riscos sistêmicos à própria manutenção e sobrevivência do ser humano. Ademais,

as consequências negativas afetam principalmente a população mais empobrecida, o que

remete a um problema social em torno da questão, e faz relembrar o conceito de

desenvolvimento sustentável (BECK, 1992, 2009; SACHS, 2005).

O desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades reais

que as pessoas desfrutam (SEN, 1999), ele é formado por uma infinidade de fatores

determinantes, mas cujo andamento depende, justamente, da presença de um horizonte

estratégico entre seus protagonistas decisivos. O que está em aberto nesse processo é o

conteúdo da própria cooperação humana e a maneira como, no âmbito dessa cooperação, as

sociedades optam por usar os ecossistemas de que dependem (ABRAMOVAY, 2010).

O informe Nosso Futuro Comum, da Comissão Brundtland, propôs a definição mais

conhecida de desenvolvimento sustentável: “é aquele que atende as necessidades do presente

sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias

necessidades” (CMMAD, 1987).

É necessária uma estratégia de desenvolvimento que seja capaz de proporcionar às

gerações atuais e futuras uma probabilidade razoável de obterem o máximo de suas vidas,

oferecendo-lhes condições materiais decentes e permitindo ao mesmo tempo o exercício e

desfrute das liberdades básicas (SACHS, 2012).

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Frente a isto, documento da UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente) de 2011 cita que a manutenção das tendências atuais (de crescimento populacional,

expansão econômica e inovação tecnológica) conduziria à extração anual de 140 bilhões de

toneladas de recursos em 2050, o que é absolutamente incompatível com os limites

ecossistêmicos (UNEP, 2011). O ritmo de crescimento da riqueza mundial ultrapassa

claramente a velocidade no aumento do uso dos recursos materiais, energéticos e bióticos em

que ela se apoia. O desafio da governança contemporânea consiste em gerir o excesso e,

sobretudo, os excessos decorrentes das gigantescas desigualdades (ABRAMOVAY, 2012).

É importante, ainda segundo Abramovay (2012), a implantação de uma governança

global que transforme a ciência, o conhecimento e a informação em bens comuns da espécie

humana voltados à resolução do mais grave desafio por ela já enfrentado que é a

compatibilização entre o tamanho do sistema econômico e os limites dos ecossistemas.

Sobre isto Georgescu-Roegen (1973), afirma que a pesquisa científica sobre fontes de

energia menos nocivas ao ambiente, ou à escala de gastos para a contenção ou reparação de

danos provocados por mudanças climáticas é um desses exemplos que precisa estar ancorado

nos ideais de união entre sociedade, natureza e economia, que são a base para o entendimento

do desenvolvimento sustentável.

Segundo o documento da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio

e Desenvolvimento), publicado em 2010, há a necessidade de mudanças urgentes no

direcionamento de recursos, para que o crescimento econômico seja mais sustentável. As

mudanças devem vir das seguintes áreas: eficiência energética, agricultura sustentável e

energias renováveis (UNCTAD, 2010).

INCOSTÂNCIA DA PROBLEMÁTICA ENERGÉTICA

A política energética precisa interagir sistematicamente com a política econômica e

ambiental, através da gestão estratégica da matriz energética e da construção de uma

sustentabilidade efetiva. Porém, a construção dessa matriz energética sustentável tem como

pano de fundo os impactos do uso desmensurado dos combustíveis fósseis (RODRIGUES;

COSTA, 2012).

A nossa matriz energética transformou de maneira radical os estilos de vida e de

consumo, imprimindo à nossa civilização feições perversas caracterizadas por um desperdício

monumental de energia (SACHS, 2007).

A produção de energia no século 20 foi dominada por combustíveis fósseis (carvão,

petróleo e gás) que representavam ainda no início do século 21, cerca de 80% de toda a

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energia produzida no mundo (GOLDEMBERG, 2009). De acordo com a estimativa da

Agência Internacional de Energia em 2013, a demanda global de energia deve aumentar em

53% até 2030 (Figura 1). Atualmente, a maior parte desta demanda (88,6%) ainda é cumprida

pelos combustíveis fósseis, em que o petróleo bruto corresponde a 33,7%, o carvão por

30,5%, e o gás natural por 24,4% (Figura 2) (INTERNATIONAL ENERGY AGENCY,

2013).

Figura 1: Consumo mundial de energia primária. Fonte: British Petroleum (2013) apud

Ashraful et al. (2014) – adaptado.

Figura 2: Projeção das reservas mundiais de carvão, gás e petróleo. Fonte: Ashraful et al.

(2014) – adaptado.

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Para Sachs (2005, 2007), as novas reservas de petróleo, aparentemente não

compensam a extração, o que causa a tendência para a alta nos preços e, independentemente

dos custos econômicos, a comunidade internacional deve atentar para a redução do consumo

de energias fósseis para evitar mudanças climáticas deletérias. Além do fato de que essas

incertezas decorrentes da geopolítica do petróleo ameaçam crescentemente a paz mundial.

Esses fatores marcam o início de mais uma revolução energética.

Os picos de preço do petróleo ao longo do tempo foram determinados menos pelo

confronto entre oferta e demanda, e mais pela instabilidade nas regiões produtoras e pela

estrutura oligopolizada do setor, sendo impossível argumentar com segurança sobre o

comportamento de tais preços (FAVARETO et al., 2012).

Essa instabilidade estre oferta e demanda do petróleo pode ser exemplificada com a

atual queda no preço do produto devido a uma grande quantidade de excedente resultante do

aumento da produção em países como Iraque e Líbia, que querem desestabilizar os

investimentos dos EUA no setor (HERSZENHORN, 2014). Essa queda no preço do

combustível está refletindo globalmente e, no Brasil, há prejuízos quanto aos planos de

investimento da estatal Petrobrás no pré-sal, já que os custos para se extrair petróleo dessas

reservas são mais altos do que os de reservas tradicionais, o que não compensa a extração

(BOWLER, 2014).

O setor de energia encontra dificuldades porque o aumento nos níveis de produção e

consumo implicam níveis mais elevados de poluição e, eventualmente, em mudanças

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climáticas com consequências desastrosas. Além disso, é importante garantir a energia a um

custo aceitável de modo a evitar impactos sobre o crescimento econômico (OMER, 2006).

Partindo-se deste princípio, há a necessidade da implementação de uma matriz

energética mais limpa e renovável. É fundamental fazer progredir essas novas fontes de

energia e dobrar sua participação na matriz energética mundial (ABRAMOVAY, 2012).

De acordo com Omer (2006), energia renovável é o termo usado para descrever uma

ampla gama de fontes de energia cuja reposição é de ocorrência natural. O uso de fontes

renováveis de energia e o uso racional dessa energia são os insumos fundamentais para

qualquer política energética responsável.

Hoje, a energia renovável contribui para 13% do total consumo de energia global, em

que a bioenergia é responsável por aproximadamente 10% (HO et al., 2014). Bioenergia

refere-se ao conteúdo de energia em produtos sólidos, líquidos e gasosos derivados de

matérias-primas biológicas (biomassa). Isso inclui os biocombustíveis para transportes (por

exemplo, bioetanol e biodiesel), produtos para a produção de eletricidade e calor (por

exemplo, madeira e pastilhas), bem como o biogás (por exemplo, de biometano e hidrogênio)

produzido de processamento de materiais biológicos de resíduos urbanos e industriais (HO et

al., 2014; INTERNATIONAL ENERGY AGENCY, 2010).

A busca do perfil energético remete também, segundo Sachs (2007), a questões como

estilos de vida, padrões de consumo, organização do espaço e do aparelho produtivo,

reestruturação dos espaços urbanos, seletividade nas relações comerciais, durabilidade dos

produtos e melhor manutenção do patrimônio das infraestruturas, edificações, dos

equipamentos e veículos.

BIODIESEL COMO ESTRATÉGIA PARA A PRODUÇÃO DE ENERGIA

Frente à necessidade de novas fontes de energia, o uso em larga escala da energia

proveniente da biomassa é apontado como uma opção que poderia contribuir para o

desenvolvimento mais sustentável. O biodiesel é um exemplo, já em aplicação, do emprego

da biomassa para produção de energia (FERREIRA; CRUZ, 2009).

O biodiesel tem sido identificado como uma das opções notáveis para complementar

os combustíveis convencionais. Sua produção deriva de fontes biológicas renováveis, tais

como gorduras e óleos vegetais. Suas vantagens sobre o diesel de petróleo não podem ser

subestimadas, pois, é seguro, não tóxico, biodegradável, não contém enxofre, e é um melhor

lubrificante (ARANSIOLA et al., 2014). Além disso, seu uso pode gerar inúmeros benefícios

sociais: revitalização rural, criação de novos empregos e redução do aquecimento global.

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Neste contexto de busca por fontes renováveis de energia, os agrocombustíveis, mais

particularmente o etanol e o biodiesel, se destacam, pois, só eles guardam características

altamente positivas de densidade energética, flexibilidade de uso, facilidade de

armazenamento e transportabilidade, garantindo aceitação no mercado (SOUSA, 2010).

A obtenção do biodiesel se dá por diferentes processos, segundo Silva e Freitas

(2008), como o craqueamento, esterificação ou transesterificação. Pode ser utilizado puro ou

em misturas com óleo diesel derivado do petróleo, em diferentes proporções. Quando o

combustível provém da mistura dos dois óleos, recebe o nome da porcentagem de

participação do biodiesel, sendo B2 quando possui 2% de biodiesel, B20 quando possui 20%,

até chegar ao B100, que é o biodiesel puro.

O custo de produção do biodiesel continua sendo um grande obstáculo para sua

implementação. A produção do biodiesel custa aproximadamente US$0,51, enquanto o óleo

diesel derivado do petróleo apresenta um custo de US$0,361 (ZHANG, 2003). Além do alto

custo algumas outras desvantagens incluem armazenamento e estabilidade à oxidação

inferiores, alto custo de matéria-prima, baixo valor de aquecimento e emissões de NOx

superior ao do combustível diesel (ASHRAFUL et al., 2014). O custo de produção ainda é

muito variável, pois depende da matéria-prima e do processo utilizado, além do local onde o

biodiesel é produzido, de acordo com (SILVA; FREITAS, 2008).

Sachs (2007) ressalta que embora a substituição dos derivados do petróleo por

biocombustíveis contribua em princípio para a redução das emissões dos gases de efeito

estufa, é necessário atentar para as condições de sua produção. O impacto ambiental vai

depender dos cultivos escolhidos, da maneira como são cultivados e processados.

A expansão do cultivo de plantas para a produção de biocombustíveis deve se dar em

áreas disponíveis degradadas ou já desflorestadas (BERMANN, 2007). Essa pressão sobre os

ecossistemas pode ser equacionada com formas de zoneamento que prevejam critérios e

condições para a expansão de culturas destinadas ao suprimento de matérias-primas aos

biocombustíveis (FAVARETO et al., 2006).

Não se dá suficiente atenção à produção de óleos combustíveis nas áreas degradadas.

Assim, por exemplo, o pinhão-manso pode ser cultivado em terras degradadas e

semidesérticas com uma produtividade estimada na Índia em duas toneladas de biodiesel por

hectare/ano (SACHS, 2007). As terras degradadas de várias espécies são estimadas nesse país

em 50 a 130 milhões de hectares. Um dos grandes problemas da oferta de biocombustíveis

são quase inteiramente superados quando se passam a utilizar não as terras mais férteis, e sim

áreas degradadas (TILMAN et al., 2006).

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A produção de biocombustíveis tem aumentado na última década, e atualmente

abastece 3,4% das necessidades globais de combustível do transporte rodoviário, com uma

participação considerável no Brasil (21%), e uma parte nos Estados Unidos (4%) e na União

Européia (3%), de acordo com a Agência Internacional de Energia (2013).

Em relação aos biocombustíveis, Gazzoni (2009), cita que o Brasil se encontra em

posição confortável, principalmente por ser o líder mundial na produção de bioetanol. Por isso

foi editado, em 13 de janeiro de 2005, o projeto de lei 11097/05 que instituiu o Programa

Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), com o intuito de inserir na matriz

energética brasileira um novo produto que venha promover a sua independência energética.

Anterior a isto, o governo brasileiro já havia desenvolvido o Programa Nacional do

Álcool Combustível – Proálcool, utilizando a cana-de-açúcar como matéria-prima para a

produção de álcool combustível, com o objetivo de reduzir a dependência externa por petróleo

e desenvolver o setor sucroalcooleiro do país (SALLET; ALVIM, 2011).

Ao contrário do Proálcool, o PNPB, desde a sua formulação inicial tem a preocupação

central de aliar a renovação da matriz energética à inclusão social e à redução das

disparidades regionais (SALLET; ALVIM, 2011).

AGROECOLOGIA E CULTIVO CONSORCIADO

No padrão produtivo atual, mais de dois terços da bioenergia é baseada em matérias-

primas agrícolas, levando a preocupações sobre a competição por terra e água para a produção

de alimentos e fibras, além de outras questões ambientais relacionadas com o uso da terra

(HO et al., 2014). Em escala mundial, os cálculos estão por ser feitos para saber até onde se

poderá avançar na substituição de energias fósseis por produtos da agroenergia, e em que

ritmo, sem pôr em perigo o objetivo de segurança alimentar e sem provocar o desmatamento

maciço das florestas naturais (SACHS, 2010).

Acerca disso, a expansão dos biocombustíveis pode aumentar ainda mais o preço dos

produtos agrícolas de 8 – 34% (cereais), 9 – 27% (outras culturas) e 1 – 6% (gado) em 2020

(FISCHER, 2006).

Está também crescendo o interesse no desenvolvimento de sistemas integrados que

permitiriam a coprodução de matéria-prima energética com outro produto agrícola, como

meio de atingir economias significativas no custo e benefícios ambientais (GOLDEMBERG,

2009). Essa integração na produção de alimentos e energia deve ser adaptada aos diferentes

biomas, e deverão buscar soluções intensivas em conhecimentos e em trabalho, poupadoras de

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recursos naturais (solos e água) e do capital, propondo sistemas integrados acessíveis aos

pequenos agricultores, como é o caso do cultivo consorciado (SACHS, 2007).

A concorrência no uso de fatores de produção pode ser contornada com o uso de

sistemas de produção consorciada de alimentos e energia (FAVARETO, 2012). Para Portes e

Silva (1996) apud Maciel et al. (2004), entende-se por consórcio de culturas o sistema de

cultivo em que a semeadura de duas ou mais espécies é realizada em uma mesma área, de

modo que uma das culturas conviva com a outra, em todo ou em pelo menos parte do seu

ciclo. O consórcio funciona como uma maneira de oferecer ao agricultor produtos destinados

à alimentação e à indústria, cujos excedentes do primeiro e a totalidade do segundo são

destinados à venda (NETO et al., 1991).

O uso do consórcio utiliza pleno uso dos recursos naturais, previne as doenças, pragas

e insetos, diminui a necessidade de fertilizantes químicos e pesticidas, reduz a poluição

ambiental, diminui os custos de produção e melhora o rendimento do produtor, bem como

seus lucros, de acordo com Zhang et al. (2012). Por meio da associação ou consórcio de

plantas companheiras é possível obter efeitos positivos, com aumento da produtividade e

manutenção da qualidade do solo (KAMIYAMA, 2011).

Altieri (2004) explica que através do plantio intercalado ou consorciado, os

agricultores beneficiam-se da capacidade dos sistemas de cultivo de reutilizar seus próprios

estoques de nutriente. A tendência de algumas culturas de exaurir o solo é contrabalanceada

através do cultivo intercalado de outras espécies que enriquecem o solo com matéria orgânica.

O nitrogênio do solo, por exemplo, pode ser incrementado com a incorporação de

leguminosas à mistura de cultivos. No consórcio, um cultivo pode ser utilizado para proteger

de riscos outros cultivos mais suscetíveis ou mais valorizados economicamente.

Um maior número de espécies pode melhorar a produtividade dos ecossistemas. A

coocorrência de espécies ou grupos funcionais com estratégias ecológicas diferentes e

específicas, levará a um aumento da exploração de recursos e, portanto, para uma relação

positiva entre a biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas (TILMAN et al., 2008). A

complementaridade ocorre por causa da facilitação e da diferenciação de nicho entre as

espécies envolvidas. O trabalho de Tilman et al. (2006) mostrou em seus cultivos

experimentais em consórcio que todas as formas de conversão das plantas cultivadas neste

sistema batizado como “low-input high deversity” (LIHD) mostraram-se significativamente

mais eficientes que as das monoculturas atualmente dominantes. Um dos indicadores mais

positivos foi o fato de que a diversidade de plantas amplia a capacidade de estocagem de

carbono, quando comparada com plantios homogêneos.

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Nos sistemas familiares de produção, de acordo com Silva et al. (2011), os agricultores

empregam princípios de utilização sustentável dos recursos naturais a partir dos consórcios. O

uso de leguminosas, por exemplo, busca viabilizar sistemas produtivos de baixo nível de

insumos, como cobertura do solo e adubação verde, em unidade de produção familiar, visto

que confere ao agricultor certa autonomia em relação à disponibilidade de matéria orgânica e

nitrogênio da fixação simbiótica, além de outros benefícios dessa ampliação da biodiversidade

funcional.

Na prática do consórcio, busca-se reduzir a competição entre as culturas fornecendo

água, nutrientes e quantidade de plantas adequada, evitando o adensamento (SOUZA et al,

2013).

O arranjo de duas ou mais espécies é possível devido às diferentes exigências das

culturas consorciadas (TÁVORA et al., 2007). A competição depende das espécies

envolvidas, dos seus sistemas radiculares e da disponibilidade de água e nutrientes.

Desta forma, é necessária uma nova forma de agricultura que concilie processos

biológicos (base do crescimento de plantas e animais) e processos geoquímicos e físicos (base

do funcionamento de solos que sustentam a produção agrícola) com os processos produtivos,

os quais envolvem componentes sociais, políticos, econômicos e culturais (ALTIERI, 2004).

AGRICULTURA FAMILIAR COMO COMPONENTE NA INDÚSTRIA DE

BIODIESEL

A produção de biocombustíveis no Brasil vem sendo colocada em pauta não somente

pela necessidade de matrizes energéticas alternativas, mas também pelo seu potencial como

vetor de possíveis ganhos econômicos e sociais. Uma destas dimensões, o aspecto social,

busca avaliar a possibilidade de que a produção de biodiesel seja capaz de oferecer

oportunidades inovadoras para a agricultura familiar, segundo Diniz e Favareto (2012).

A agricultura familiar é aquela em que a família rural ao mesmo tempo detém a posse

dos meios de produção e realiza o trabalho na unidade produtiva, podendo produzir tanto para

sua subsistência quanto para o mercado (VEIGA, 1996).

A agricultura não familiar, ou patronal, engendra forte concentração de renda e

exclusão social (VEIGA, 1996), enquanto a agricultura familiar, ao contrário, apresenta um

perfil essencialmente distributivo, além de ser incomparavelmente melhor em termos

socioculturais. Sob o prisma da sustentabilidade (estabilidade, resiliência, equidade), são

muitas as vantagens apresentadas pela organização familiar na produção agropecuária, devido

à sua ênfase na diversificação e na maleabilidade do seu processo decisório. A versatilidade

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da agricultura familiar se opõe à especialização cada vez mais fragmentada da agricultura

patronal.

O cultivo de matérias-primas e a produção industrial de biodiesel tem grande potencial

de geração de emprego, que é uma forma de inclusão social, especialmente quando se

considera o amplo potencial produtivo da agricultura familiar (POMPELLI, 2011).

Silva, J. (2013) afirma que, diferentemente dos programas internacionais de estímulo à

produção do biodiesel, no Brasil, o Programa Nacional de Uso e Produção do Biodiesel

(PNPB), se destaca pelo seu aspecto social: inserção da agricultura familiar na produção das

oleaginosas, gerando emprego e renda aos agricultores. O PNPB é coordenado pelo

Ministério de Minas e Energia (MME) e integrado a órgãos como o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural

e Biocombustíveis (ANP), Petrobras e Embrapa, além do Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA).

Ainda para Silva, J. (2013), O PNPB tem como objetivos:

1. Reduzir as importações de diesel e, portanto, gerar divisas para o país;

2. Implantar um programa sustentável, com inclusão social por meio da geração

de emprego e renda para agricultura familiar;

3. Aumentar a competitividade e qualidade do suprimento;

4. Diversificar as matérias-primas, explorando as potencialidades regionais, para

produção do biodiesel.

Nas diretrizes do PNPB estão estabelecidos, como princípios, o enfoque regional, que

deve pautar a organização da produção agrícola, o desenvolvimento de áreas rurais, e o

objetivo de complementação de renda, no âmbito da agricultura familiar (ABRAMOVAY;

MAGALHÃES, 2007).

O PNPB, considerando o potencial da agricultura brasileira tanto em dimensão quanto

em diversidade, almejou incluir diretamente o setor agrícola no processo de produção do

biodiesel. O objetivo era que este procedimento levasse ao desenvolvimento regional e a

ampliação da oferta de empregos, ou seja, a minimização das desigualdades regionais do país

a uma maior equidade social, segundo Brasil (2003) apud Freitas e Lucon (2011).

O PNPB não é restritivo e permite a utilização de várias plantas oleaginosas ou

matéria-prima animal. Essa flexibilidade possibilita a participação do agronegócio e da

agricultura familiar e o melhor aproveitamento do solo disponível para a agricultura.

Independentemente da matéria-prima e da rota tecnológica, o biodiesel é introduzido no

mercado nacional de combustíveis com especificação única (WILKINSON; HERRERA,

2008).

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Para promover a inclusão social, o governo brasileiro instituiu ainda o Selo de

Combustível Social, concedido a empresas que garantam a compra de matéria-prima a

pequenos agricultores em percentual mínimo de 50% para a região Nordeste ou em geral para

climas semiáridos, 10% para a região Norte ou Centro Oeste, e ainda 30% para as regiões

Sudeste e Sul. Com isso, a empresa garante alíquotas de PIS/Pasep e Cofins com coeficientes

de redução diferenciados, e acesso às melhores condições de financiamento junto ao BNDES.

O produtor de biodiesel também poderá usar o selo para fins de promoção comercial de sua

empresa. Os pequenos produtores, por outro lado, também terão acesso a linhas de crédito que

facilitem a produção de oleaginosas (POMPELLI et al., 2011).

Além de haver redução da carga de impostos para as empresas que compram matéria-

prima da agricultura familiar, os custos de produção desses agricultores são menores

(ABRAMOVAY; MAGALHÃES, 2007). Segundo Silva, J. (2013) o pequeno uso de

mecanização e de insumos químicos e, principalmente, os subsídios no crédito fazem com que

o sistema de produção familiar seja mais competitivo do que os de produção em grande

escala. Enquanto as grandes empresas compradoras de soja, na região Centro-Oeste, pré-

financiam seus fornecedores com juros de mercado, os agricultores familiares produzem

matéria-prima para biodiesel com juros subsidiados.

As empresas com Selo Combustível Social entram no mercado com uma marca social

que poderá lhes proporcionar maiores oportunidades de acesso e menores riscos de

contestação, para Abramovay e Magalhães (2007), pois ele é o único sistema de certificação

de biocombustível no mercado internacional.

Segundo o Selo Combustível Social o produtor de biodiesel terá que adquirir da

agricultura familiar pelo menos 50% das matérias-primas necessárias à sua produção de

biodiesel provenientes do Nordeste e semiárido. Nas regiões sudeste e sul, este percentual

mínimo é de 30%, nas regiões norte e centro-oeste, é de 10% (WILKINSON; HERRERA,

2008).

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF) desenvolve um

programa de produção e uso de energias renováveis na agricultura familiar. Para a federação,

a participação da agricultura familiar neste processo deve levar em conta a garantia da

diversidade e da produção de alimentos em consórcio com a produção da oleaginosa, a

produção de óleo vegetal pela agricultura familiar como estratégia de autonomia no uso de

combustíveis, a produção agroecológica, a participação de jovens, mulheres e da terceira

idade nos processos de produção e organização social, a valorização das culturas locais, e a

preservação e recuperação de recursos naturais, afirma Wilkinson e Herrera (2008).

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A inserção da agricultura familiar no mercado de biodiesel liga-se a uma inovação

relevante na esfera dos sistemas de governança local. No âmbito dos arranjos produtivos

formados em torno das indústrias de biodiesel, é prevista a articulação entre os agricultores,

empresários e sindicatos na negociação e execução de contratos socialmente monitorados, que

estimulam comportamentos de cooperação entre atores que tiveram entre si um longo

histórico de conflitos e oposição (FAVARETO et al., 2012).

Apesar do exposto, Favareto (2012) assegura que desde o início da execução do

PNPB, os resultados de inclusão social no Nordeste foram particularmente frustrantes, sendo

as principais causas apontadas: a pouca organização dos produtores; o baixo acesso a

tecnologias, conhecimento e aos insumos de produção; e a dependência de uma única

empresa. Ainda assim, vale ressaltar que, em função da nova oportunidade de comercialização

criada pelo mercado de biodiesel, houve uma forte elevação de preços pagos ao agricultor.

Devem ser estudadas formas alternativas de modo que os agricultores familiares

tenham uma participação mais intensa e eficiente no processo tecnológico, não se limitando

apenas à produção de matérias-primas. Uma sugestão, nesse sentido, é o fomento de

cooperativas que atuem em todos os itens da cadeia produtiva de biodiesel (BERMANN,

2007).

O desempenho da agricultura familiar reflete um conjunto amplo de condicionantes,

desde a disponibilidade de recursos, a inserção socioeconômica, a localização geográfica, as

oportunidades e a conjuntura econômica, as instituições e valores culturais da família, do

grupo social e até mesmo do país. Apesar da importância desses fatores, pode-se considerar,

com certo grau de simplificação, que os quatro principais condicionantes do desenvolvimento

rural são os incentivos que os produtores tem para investir e produzir, a disponibilidade de

recursos, particularmente terras, água, mão-de-obra, capital e tecnologia, que determinam o

potencial de produção, o acesso aos mercados, insumos, informações e serviços que influem

de forma decisiva na capacidade efetiva de produção e, finalmente, as instituições que

influenciam as decisões dos agentes e inclusive sua capacidade, possibilidade e disposição

para produzir (BUANAIN; ROMEIRO; GUANZIROLI, 2003).

A eficiência agrícola na produção de oleaginosas precisa melhorar rapidamente no

Brasil, afirma Dália (2006). Isso passa pelos estudos de aptidão climática, pela

disponibilização de sementes e mudas de qualidade na quantidade necessária, por novas

pesquisas tecnológicas de matérias-primas potenciais, além de uma assistência e capacitação

técnica aos agricultores.

A agricultura familiar, como sujeito do desenvolvimento, é ainda um processo em

consolidação. O seu fortalecimento e valorização dependem de um conjunto de fatores

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econômicos, sociais, políticos e culturais que necessitam ser implementados de uma forma

articulada por uma diversidade de atores e instrumentos. Sem dúvida, o Estado e as políticas

públicas cumprem um papel fundamental. Quanto mais essas políticas conseguirem se

transformar em respostas à estratégia geral de desenvolvimento com sustentabilidade e, ao

mesmo tempo, às demandas concretas e imediatas da realidade, mais adequadamente

cumprirão o seu papel, de acordo com Dália (2006).

Carthamus tinctorius L. – MATÉRIA-PRIMA PROMISSORA PARA O

BIODIESEL

A oferta de matéria-prima parece ser uma das principais dificuldades restritivas para a

implementação de um programa de produção extensiva de biodiesel (BELTRÃO;

OLIVEIRA, 2007). Diante deste cenário, uma espécie vegetal oleaginosa cujo óleo está

ganhando cada vez mais importância para o uso industrial como alternativa ao combustível

diesel é o cártamo (YAU; RYAN, 2010). Atualmente o cártamo tem sido alvo de estudos

devido ao seu potencial para produção de biocombustíveis. A cultura já é cultivada com esta

finalidade em muitos países, no entanto, pesquisas estão sendo realizadas, com o propósito de

aumentar a produção e consequentemente o rendimento de seu óleo (BONAMINGO et al.,

2013).

O cártamo – Carthamus tinctorius L. (Figura 3), é uma cultura multiuso pertencente à

família Asteraceae, originária da Ásia e África (DAJUE; MUNDEL, 1996). É uma cultura

que apresenta elevado valor econômico levando-se em conta que esta apresenta versatilidade

de propriedades (ABUD et al., 2010). Historicamente foi usada como corante de tecelagem e

o óleo na indústria de tintas. Atualmente ela é usada principalmente para extrair óleo

comestível, que é rico em ácidos oleico e linoleico. Outros usos comuns de cártamo incluem

uso medicinal e farmacêutico, bem como na indústria de cosméticos, especiarias, forragem,

flor de corte e alpiste. Após a extração do óleo, a torta de cártamo pode ser utilizada para

alimentação de ruminantes (FARRAN et al., 2009).

É uma planta herbácea, anual, com caule forte, glabro, ramificado, que cresce a uma

altura de 30 – 90 cm. As folhas são alternas, sésseis, ovado-lanceoladas com ou sem espinhos

nas margens. As flores são amarelas ou laranjas, dispostas em capítulos de 8 – 10 mm de

diâmetro (SHARMA; PUREY, 2008).

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Figura 3: Carthamus tinctorius L. Fotos: Émile Rocha de Lima

O cártamo é tolerante ao frio, seca e salinidade, sendo cultivado nas regiões áridas e

semiáridas do mundo (WEISS, 2000), pois sua raiz pode penetrar no solo até uma

profundidade de três metros. Possui uma estrutura de raiz densa que pode melhorar a lavoura

e porosidade do solo. É recomendado o cultivo desta planta em áreas onde a precipitação

média anual esteja abaixo de 430 mm. Altas temperaturas não prejudicam a cultura, mesmo

em condições de seca prolongada, afirmam Sharma e Purey (2008).

A utilização da torta residual após a extração do óleo das sementes do cártamo, por ser

fonte de proteína bruta, pode ser ainda utilizada como coproduto para alimentação animal de

ruminantes e ovinos, por exemplo (BRÁS et al., 2014), o que favorece mais o seu valor

agregado para o pequeno agricultor.

O conteúdo de óleo das sementes de C. tinctorius varia entre 20 – 45% (DAJUE;

MUNDEL, 1996), e o conteúdo de proteína entre 15 – 20% (EKIN, 2005), dependendo da

variedade e do ambiente de crescimento. O óleo contém os ácidos graxos saturados palmítico

(C16: 0) e esteárico (C18: 0) e os ácidos graxos insaturados oleico (C18: 1), linoleico (C18: 2)

e linolênico (C18: 3). Apresenta cerca de 6 – 8% de ácido palmítico, 2 – 3% de ácido

esteárico, 16 – 20% de ácido oleico e 71 – 75% de ácido linoleico (EKIN, 2005). A

quantidade de ácido linoleico das sementes de cártamo é mais elevada do que a do milho,

soja, algodão, amendoim e azeite de oliva (OELKE et al., 1992).

Em relação à qualidade do biodiesel, as variedades recém-criadas produzem óleo com

80% de ácido oleico monoinsaturado (SINGH, 2006; ANONYMOUS, 2007) que é estável a

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temperaturas elevadas, o que torna este óleo superior ao de outras oleaginosas para a produção

de biodiesel (MIHAELA et al., 2013).

Apesar de ser uma das culturas mais antigas da humanidade, o cártamo tem sido

cultivado em pequenas propriedades para uso pessoal do produtor, registrando apenas 0,1%

do total da produção agrícola mundial. A produção mundial estimada é de cerca de 0,6

milhões de toneladas de grãos por ano, de cerca de 0,85 milhões de hectares, de acordo com

FAOSTAT (2001) apud Mihaela et al. (2013). A produção por hectare é atualmente baixa,

cerca de 1.000 – 1.200 Kg/ha, em condições tecnológicas adequadas (OLTEANU, 2009).

Atualmente esta cultura é cultivada em mais de 30 países, com a Índia, México e EUA

contribuindo com cerca de 70% da produção mundial de óleo de cártamo (HARRATHI et al.,

2012).

No presente, os principais esforços de produção para ao cártamo são de aumentar o

rendimento da cultura no campo e otimizar seu perfil de ácidos graxos, para que ele seja cada

vez mais competitivo e utilizado com sucesso na indústria de biocombustíveis.

FEIJÃO CAUPI: APRIMORANDO O RENDIMENTO DO PRODUTOR NO

CULTIVO CONSORCIADO

Dentre as várias culturas utilizadas em sistemas de consórcio no Brasil, o feijão caupi

tem sido utilizado, pois além de incrementar a produtividade de alimentos e o rendimento do

produtor, é uma cultura de ciclo curto e apresenta baixa habilidade competitiva (CARDOSO

et al., 1992).

O feijão caupi, Vigna unguiculata (L.) Walp. (Figura 4), é uma dicotiledônea da

família Fabaceae de origem africana (FREIRE FILHO, 2011). É muito consumido pelos seres

humanos desde os primeiros registros de práticas agrícolas, e isso tem sido atribuído ao seu

papel medicinal, cultural e nutricional. As leguminosas em geral, são importantes

componentes das dietas dos países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina

(PHILIPS; MCWATTERS, 1991).

Figura 4: A – Planta adulta de Vigna unguiculata (L.) Walp.; B – Grãos de feijão caupi.

Fotos: Émile Rocha de Lima

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As sementes de feijão caupi representam uma importante fonte de proteína. Além

disso, suas vagens verdes e as folhas são utilizadas como legumes verdes, e as partes da planta

seca como ração animal (ANTOVA et al., 2014).

Por causa da sua tolerância à seca, o feijão caupi muitas vezes torna-se uma cultura

alternativa para o feijão comum. Seu rendimento é mais estável sob condições de estresses

abióticos (altas temperaturas e pouca chuva) e exige menos intervenção no período vegetativo

(LOBATO et al., 2009; STOILOVA et al., 2003).

No Brasil, a produção, anualmente, situa-se em torno de 482 mil toneladas, sendo

Piauí, Ceará e Bahia os maiores produtores dessa leguminosa (SILVA, K., 2009).

No Brasil, o feijão caupi tem importância tanto como alimento quanto como gerador

de emprego e renda. É rico em proteína, minerais e fibras e constitui um componente

alimentar básico das populações rurais e urbanas das regiões Norte e Nordeste (FROTA et al.,

2008; SINGH, 2007). Possui vários nomes populares, dentre os mais usados incluem: feijão-

macassar e feijão-de-corda na região Nordeste; Feijão-de-praia, feijão-da-colônia e feijão-de-

estrada na região Norte e feijão-miúdo na região Sul (FREIRE FILHO, 2011).

Na região Nordeste, a produção tradicionalmente concentra-se nas áreas semiáridas,

onde outras culturas leguminosas anuais, em razão da irregularidade das chuvas e das altas

temperaturas, não se desenvolvem satisfatoriamente. A produção de feijão caupi nas regiões

Nordeste e Norte é feita por empresários e agricultores familiares que ainda utilizam práticas

tradicionais. Na região Centro-Oeste, onde ele passou a ser cultivado em larga escala a partir

de 2006, a produção provém principalmente de médios e grandes empresários que praticam

uma lavoura altamente tecnificada, de acordo com Freire Filho (2011).

As leguminosas, como o feijão caupi, estão entre as espécies preferidas para o uso em

cultivos consorciados, pois, oferecem diversas vantagens às outras espécies associadas. As

leguminosas têm altas taxas de decomposição de serapilheira, baixa eficiência de utilização de

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nutrientes e, por causa de suas relações simbióticas, tem grandes efeitos na disponibilidade e

fornecimento de nitrogênio em muitos sistemas naturais e agrícolas. Em campos temperados,

o nitrogênio é um dos recursos que mais limitam a produção (KAHMEN et al., 2006).

Diante das considerações e de toda a problemática abordada nesta fundamentação

teórica, a hipótese testada nesta dissertação é: o cultivo consorciado não afeta o

desenvolvimento das plantas de cártamo e de feijão caupi. Outras situações possíveis são a

ocorrência de influência, de forma positiva (melhor desempenho no crescimento das culturas

em consórcio do que no monocultivo), ou negativa (desempenho inferior ao monocultivo). A

ausência de influência (crescimento igual das culturas nos dois sistemas de cultivo), bem

como a influência positiva, são indicativos para recomendar o cultivo consorciado para essas

culturas. Testa-se também a hipótese: o cártamo é aceito por pequenos agricultores da

agrovila Canudos em Ceará-Mirim, como uma alternativa para o desenvolvimento da região.

Desta forma, o objetivo deste trabalho é avaliar as características morfoanatômicas e

fisiológicas de plantas de cártamo cultivadas em monocultivo e em consórcio com o feijão

caupi. Esta pesquisa ainda objetiva investigar socioeconomicamente agricultores familiares e

verificar a aceitação deles acerca do cártamo como cultura energética.

Esta dissertação encontra-se composta por esta Introdução geral, uma Caracterização

geral da área de estudo, Metodologia geral empregada para o conjunto da obra, e por dois

capítulos que correspondem a artigos científicos submetidos à publicação. O capítulo 1,

intitulado ”Carthamus tinctorius L. (Asteraceae) e Vigna unguiculata (L.) Walp.

(Leguminosae) em sistema de cultivo consorciado: efeitos na germinação, crescimento e

anatomia”, já foi submetido à Revista Árvore e, portanto, está formatado conforme este

pediódico. Da mesma forma, o capítulo 2, intitulado “Caracterização dos agricultores

familiares da Agrovila Canudos, Ceará-Mirim/RN, e sua receptividade a uma oleaginosa

pouco convencional - Carthamus tinctorius L.”, foi submetido à Revista Rede do Prodema e,

portanto, está formatado conforme este periódico.

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CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ÁREA DE ESTUDO

A área experimental do trabalho ocorreu na Escola Agrícola de Jundiaí, pertencente ao

Distrito de Jundiaí, Macaíba – RN (Figura 5). O município de Macaíba situa-se na

mesorregião Leste Potiguar e na microrregião Macaíba. A sede do município tem uma altitude

média de 11 m e apresenta coordenadas 05° 51’ 30” de latitude sul e 35° 21’ 14” de longitude

oeste. Macaíba tem clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa adiantando-se

para o outono. Tem uma média de precipitação anual de 1.442,8 mm e cerca de 27,1ºC de

temperatura média, e umidade relativa do ar de 76% (IDEMA, 2013; CPRM ,2005).

Figura 5: Localização das áreas de estudo. Linha 1 – Município de Ceará-Mirim; Linha 2 –

Município de Macaíba. Fonte: CPRM (2005) - adaptado.

O estudo com os agricultores familiares foi conduzido no Assentamento Rosário,

localizado no município de Ceará-Mirim (Figura 5), que dista 28 km em relação à capital do

Rio Grande do Norte. Ceará-Mirim (5º 38’ 04’’ S, 36º 25’ 32’’ O), tem uma área total de 724,

4 km², clima tropical chuvoso com verão seco, temperatura média de 25, 3ºC e uma

população total de 68.141 habitantes, sendo 32.647 deles pertencentes à zona rural (IDEMA,

2013).

O Assentamento Rosário está subdividido em duas agrovilas: Rosário e Canudos

(REBOUÇAS; LIMA, 2013), este estudo foi realizado na agrovila Canudos.

A agrovila Canudos foi criada por um grupo de agricultores representados pelo

Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) um ano após a constituição do Assentamento

Rosário, que tem uma área total de 1.622 hectares (ha). Os assentados da agrovila Canudos

são constituídos por 40 famílias e estão cooperados na Cooperativa dos Produtores de

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Canudos (COPEC), que permite a aquisição de recursos para a compra de equipamentos,

insumos e máquinas, de acordo com Rebouças e Lima (2013).

METODOLOGIA GERAL

1. Cultivo

O cultivo de Carthamus tinctorius L. e Vigna unguiculata (L.) Walp. foi realizado na

Escola Agrícola de Jundiaí - Macaíba/RN.

Os valores da análise química do solo, oriundos de amostras obtidas na área

experimental, encontram-se a seguir: cálcio= 1,32 cmolc dm³, magnésio= 0,59 cmolc,

alumínio= 0,0 cmolc, hidrogênio + alumínio= 1,26 cmolc, fósforo= 7 cmolc, potássio = 56

cmolc, sódio= 11 cmolc, e pH= 6,18.

A adubação de fundação foi procedida conforme as recomendações de fertilidade de

solo, tendo como base a cultura principal que foi a do cártamo. Os fertilizantes empregados

foram superfosfato, FTE BR 12, ureia e cloreto de potássio. Para o cártamo, na adubação de

cobertura, utilizou-se ureia e cloreto de potássio.

Plantas de cártamo e de feijão caupi foram avaliadas em consórcio e em monocultivo,

através dos tratamentos: T1 – 100% cártamo; T2 – 50% cártamo + 50% feijão; e T3 – 100%

feijão, cada um com três repetições. A área experimental foi dividida em nove parcelas de

6,25 m² cada, sendo três parcelas por tratamento. O arranjo foi feito de modo que as parcelas

de um mesmo tratamento não se repetissem na mesma linha ou coluna (Figura 6).

O cultivo consorciado foi realizado de modo a intercalar fileiras de cártamo com

fileiras de feijão (Figura 6). A distância utilizada entre as plantas de cártamo (0,2 m) e de

feijão (0,4 m) foi a mesma tanto no monocultivo quanto no cultivo consorciado. Considerou-

se como borda as duas linhas laterais dentro de cada parcela, sendo estas desconsideradas no

momento das coletas. Foram realizadas irrigações por mini aspersão a cada três dias, durante

toda a condução do experimento. O controle de plantas daninhas foi feito através de capinas

manuais sempre que necessário.

O cártamo e o feijão foram semeados simultaneamente, assim como também foi feita a

adubação de fundação, no dia 23 de janeiro de 2014, foram semeados em covas, sendo 5 – 7

sementes por cova. Foi feito plantio de milho nas bordas das parcelas úteis para servir como

barreira física.

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Figura 6: A – Arranjo das plantas dentro das parcelas. Cártamo (círculos), feijão caupi

(quadrados). B – Disposição dos cultivos em campo. Foto: Émile Rocha de Lima.

2. Análises de Germinação, Crescimento e Morfoanatomia

2.1. Taxa de emergência

Sete dias após a instalação do experimento, foi realizada a contabilização de plântulas

de cártamo que emergiram, sendo consideradas emergidas as plântulas que apresentassem os

dois primeiros folíolos acima da superfície do solo totalmente livres do substrato

(NASCIMENTO et al., 2014). Os resultados foram expressos em porcentagem e os dados

submetidos ao teste t não pareado a 5% de probabilidade de erro.

2.2. Análises de crescimento

A avaliação das características de crescimento para o cártamo e feijão caupi iniciou-se

trinta dias após a emergência das plântulas, e as demais com um intervalo de 15 dias. A última

coleta, 75 dias após a emergência, foi feita no início do período de prefloração. Foram feitas

medições de altura das plantas (cm) e diâmetro dos caules (mm). Essas medidas foram

determinadas a partir de duas plantas de cada parcela útil do monocultivo e quatro plantas de

cada parcela útil do consórcio (duas plantas de cártamo e duas plantas de feijão), todas

escolhidas ao acaso, etiquetadas e depois descartadas das próximas coletas. Os dados foram

submetidos ao teste t não pareado, a 5% de probabilidade de erro, com a utilização do

software GraphPadPrism V5.

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2.3. Microscopia óptica

2.3.1. Anatomia Vegetal

Para a investigação da morfologia interna dos órgãos vegetativos e o acompanhamento

de possíveis alterações anatômicas do cártamo devido aos tratamentos, foram feitas coletas

quinzenais de material vegetal, que foi fixado em etanol 70%. Foram coletadas folhas entre o

quinto e sexto nós, e as amostras de caule foram retiradas dos ramos laterais.

As análises de morfoanatomia foram feitas no Laboratório de Investigação de Matrizes

Vegetais Energéticas (LIMVE) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Para isso, foram feitas secções transversais, longitudinais e paradérmicas da região mediana

dos órgãos à mão livre, utilizando lâminas de aço inoxidável. Os cortes foram colocados em

hipoclorito de sódio 1%, para a clarificação e depois corados com Azul de Alcian 1% e

Safranina 1%. Após isto, passaram por uma série rápida de etanol 70% acidificado e etanol

100% para retirar o excesso de corante e para a fixação destes. As secções foram lavadas em

água destilada e, então, montadas em solução de glicerina 50%, seguindo a metodologia

proposta por Kraus e Arduin (1997).

2.3.2. Testes Histoquímicos

Para a descrição histoquímica, amostras vegetais de caules, folhas e aquênios de C.

tinctorius foram fixadas em etanol 70%. As secções foram então colocadas para reagir em

soluções de acordo com os testes específicos.

Para a detecção de lipídios, os cortes foram lavados em etanol 50% e então colocados

para reagir em solução de Sudan Black 0,07% por 5 – 10 min, lavados em etanol 50% e

depois montados entre lâmina e lamínula. Também foi utilizado o corante Sudan III. Nele,

após os cortes serem lavados em etanol 70%, foram colocados com o corante e lavados

novamente.

A coloração para amido foi feita utilizando algumas gotas de Lugol 5% misturadas

com solução de glicerina 50% e uma lâmina.

Para o teste de substâncias fenólicas, as secções foram transferidas para lâmina

contendo glicerina 50% e gotas de Cloreto Férrico (KRAUS; ARDUIN, 1997).

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3. Aceitação do Cártamo e do Cultivo Consorciado.

O estudo exploratório da agrovila Canudos e de seu entorno imediato foi realizado

através de visitas ao local, para identificação das comunidades a serem entrevistadas.

Foram feitos questionários e conduzidas entrevistas semiestruturadas (em anexo)

aplicadas aos agricultores familiares da agrovila Canudos, sendo a amostra constituída por um

total de 22 pessoas, sendo uma de cada família, o que corresponde a um percentual de 55% do

total de famílias da agrovila. A amostragem utilizada foi a não probabilista por acessibilidade,

entrevistando uma pessoa de cada casa que estivesse aberta no momento da visita. Os dados

foram coletados no mês de dezembro de 2014.

As entrevistas foram realizadas através de diálogos. As pessoas foram abordadas uma

de cada vez e os questionários respondidos individualmente.

Os resultados das entrevistas foram submetidos a análises simples (porcentagens), e o

conteúdo das entrevistas foi utilizado como suporte para a análise dos dados, do mesmo modo

que também foi considerada a percepção dos pesquisadores.

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41

CAPÍTULO 1 1

2

ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO À REVISTA ÁRVORE E, PORTANTO, ESTÁ 3

FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA 4

(VIDE http://revistas.cpd.ufv.br/arvoreweb/index.php) 5

6

Émile Rocha de Lima 7

Raimunda Adlany Dias da Silva 8

Juliana Espada Lichston 9

10

Carthamus tinctorius L. (ASTERACEAE) E Vigna unguiculata (L.) WALP. 11

(LEGUMINOSAE) EM SISTEMA DE CULTIVO CONSORCIADO: EFEITOS NA 12

GERMINAÇÃO, CRESCIMENTO E ANATOMIA 13

14

RESUMO – O cultivo consorciado de plantas oferece benefícios ambientais e sociais, porém 15

os mecanismos morfoanatômicos e fisiológicos das plantas em consórcio têm sido pouco 16

investigados. Objetivando analisar a germinação, o crescimento e morfoanatomia de 17

Carthamus tinctorius (cártamo) consorciado com Vigna unguiculata (feijão caupi), um 18

experimento foi conduzido em campo, sendo utilizadas parcelas subdivididas em três 19

tratamentos e três repetições. Os tratamentos consistiram em sistema de cultivo consorciado 20

cártamo e feijão caupi e cultivos isolados de ambas as espécies. Foi calculada a taxa de 21

germinação das plantas, posteriormente foram feitas medições e coletas de amostras vegetais 22

aos 30, 45, 60 e 75 dias após a emergência. Os resultados mostraram que não houve influência 23

dos sistemas de cultivo na germinação e no crescimento das plantas. O cultivo consorciado 24

também não causou modificações anatômicas e histoquímicas nos espécimes de cártamo. De 25

maneira geral, o plantio consorciado apresentou desempenho semelhante ao monocultivo para 26

ambas as espécies, sendo uma boa opção aos agricultores cultivando uma cultura de 27

subsistência (feijão) com uma extrativista (cártamo). 28

29

Palavras-chave: Consórcio; Crescimento vegetativo; Cártamo; Feijão caupi. 30

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Carthamus tinctorius L. (ASTERACEAE) AND Vigna unguiculata (L.) Walp. 34

(LEGUMINOSAE) IN INTERCROPPING SYSTEM: EFFECTS ON GERMINATION, 35

GROWTH AND ANATOMY 36

37

ABSTRACT – The intercropping provides environmental and social benefits, but the 38

morphological, anatomical and physiological mechanisms of the consortium in plants have 39

been little investigated. Aiming to analyze the germination, growth and morphoanatomy of 40

Carthamus tinctorius (safflower) intercropped with Vigna unguiculata (cowpea bean), an 41

experiment was conducted in the field, split plot being used in three treatments and three 42

replications. The treatments consisted of intercropping system safflower and cowpea and both 43

species of single crops. Was calculated to plant germination rate, they were later made 44

measurements and collection of plant samples at 30, 45, 60 and 75 days after emergence. The 45

results showed no influence of cultivation systems on germination and plant growth. The 46

intercropping also caused no anatomical and histochemical changes in safflower specimens. 47

Overall, the consortium planting a performance similar to monoculture for both species, being 48

a good option for farmers cultivating a subsistence crop (beans) with an extractive 49

(safflower). 50

51

Keywords: Intercrop; Plant growth; Safflower; Cowpea bean. 52

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1. INTRODUÇÃO 69

O consórcio de culturas é a prática de cultivo em que duas ou mais espécies crescem 70

simultaneamente em uma mesma área, de forma que elas interajam entre si (VANDERMEER, 71

1989). Em comparação com a monocultura, o consórcio entre plantas se destaca, pois, utiliza 72

pleno uso dos recursos naturais, previne as doenças, pragas e insetos, diminui a necessidade 73

de fertilizantes químicos e pesticidas, reduz a poluição ambiental, diminui os custos de 74

produção e melhora o rendimento do produtor em agrossistemas, bem como seus lucros 75

(ZHANG et al., 2012). Através do plantio intercalado ou consorciado, as plantas beneficiam-76

se da capacidade dos sistemas de reutilizar seus próprios estoques de nutriente (ALTIERI, 77

2004). 78

A coocorrência de espécies ou grupos funcionais com estratégias ecológicas diferentes 79

e específicas, leva a um aumento da exploração de recursos e, portanto, para uma relação 80

positiva entre biodiversidade e o funcionamento dos ecossistemas. A complementaridade 81

ocorre por causa da facilitação e da diferenciação de nicho entre as espécies envolvidas 82

(TILMAN et al.,2008). 83

A análise de crescimento permite conhecer a eficiência e habilidade de adaptação das 84

plantas às condições ambientais em que crescem. É uma ferramenta que permite avaliar o 85

desenvolvimento vegetal e a contribuição de diferentes processos fisiológicos sobre o seu 86

desempenho nas diferentes condições ecológicas a que são submetidos (CARVALHO et al., 87

2009). O consórcio pode resultar em variações morfológicas, tais como altura de plantas, 88

arranjo de folhas, número de ramos laterais ou variações fisiológicas, tais como modo de 89

crescimento, comprimento da fase de crescimento e assim por diante (DARABAD et al., 90

2011). A complementaridade ocorre por causa da facilitação e da diferenciação de nicho entre 91

as espécies envolvidas (TILMAN et al., 2006). O arranjo de duas ou mais espécies é possível 92

devido às diferentes exigências das culturas consorciadas (TÁVORA et al., 2007). 93

Neste estudo escolhemos Carthamus tinctorius L., uma oleaginosa pertencente à 94

família Asteraceae originária da Ásia e África (DAJUE; MUNDEL, 1999), que, assim como 95

outras oleaginosas, já vem sendo estudada em cultivos consorciados devido à sua crescente 96

importância econômica, bem como pelo seu papel no aumento da diversidade agrícola, 97

prevista na agricultura biológica (SCHRÖDER; KÖPKE, 2012). É uma espécie tolerante ao 98

frio, seca e salinidade, sendo cultivada nas regiões áridas e semiáridas do mundo (WEISS, 99

2000). É uma planta herbácea, anual, com caule forte, glabro, ramificado, que cresce a uma 100

altura de 30 – 90 cm. As folhas são alternas, sésseis, ovado-lanceoladas com ou sem espinhos 101

nas margens. As flores são amarelas ou laranjas, dispostas em capítulos de 8 – 10 mm de 102

diâmetro (SHARMA; PUREY, 2008). 103

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O cártamo tem considerável valor econômico, pois apresenta versatilidade de 104

propriedades (ABUD et al., 2010). A espécie citada está ganhando cada vez mais importância 105

para o uso industrial, pois, seu óleo é proposto como uma das alternativas ao combustível 106

diesel (YAU; RYAN, 2010). O teor de óleo nas sementes do cártamo varia entre 20 – 45% 107

(HAN et al., 2009), alguns autores relatam teores entre 50 a 60% (OPLINGER et al., 1990), 108

sendo 70-75% de ácido linoleico e 20% de ácido oleico (VIVAS, 2002; HOEKMAN et al., 109

2012), perfil graxo adequado para produção de biodiesel (KUMAR; SHARMA, 2008). 110

Historicamente a espécie foi usada como corante de tecelagem e o óleo na indústria de tintas. 111

Atualmente ela é usada principalmente para extrair óleo comestível, que é rico em ácidos 112

oleico e linoleico. Outros usos comuns de cártamo incluem uso medicinal e farmacêutico, 113

bem como na indústria de cosméticos, especiarias, forragem, flor de corte e alpiste (FARRAN 114

et al. 2009). 115

Dentre as várias culturas utilizadas em sistemas de consórcio no Brasil, o feijão caupi, 116

Vigna unguiculata (L.) Walp., tem sido utilizado pois, além de incrementar a produtividade de 117

alimentos e o rendimento do produtor, é uma cultura de ciclo curto e apresenta baixa 118

habilidade competitiva (CARDOSO et al., 1992). Leguminosas, como o fejião caupi, estão 119

entre as espécies preferidas para o uso em cultivos consorciados, já que oferecem vantagens 120

às outras espécies associadas (FREIRE FILHO, 2011), pois têm altas taxas de decomposição 121

de serapilheira, baixa eficiência de utilização de nutrientes e, por causa de suas relações 122

simbióticas, têm grandes efeitos na disponibilidade e fornecimento de nitrogênio do solo em 123

muitos sistemas naturais e agrícolas (KAHMEN et al., 2006). 124

Um dos principais esforços de produção para o cártamo refere-se a melhorar o 125

desenvolvimento desta planta em campo, uma das técnicas de manejo de culturas mais 126

importantes para esta cultura é a adubação nitrogenada, pois, não se tem informações 127

suficientes sobre o efeito da aplicação de diferentes doses de nitrogênio sobre o crescimento 128

dessa espécie (DORDAS; SIOULAS, 2009). 129

Diante disto, o objetivo do experimento consorciado entre cártamo e feijão caupi, foi 130

investigar o desenvolvimento das espécies em campo, através da análise de germinação e 131

crescimento das plantas de cártamo e feijão, e caracterizar anatômica e histoquimicamente 132

caules e folhas da cultura principal, C. tinctorius, submetido ao cultivo isolado e consorciado 133

com V. unguiculata. 134

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138

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2. MATERIAL E MÉTODOS 139

2.1. Área de estudo 140

O experimento em campo, incluindo o cultivo isolado e consorciado de cártamo e 141

feijão caupi foi realizado na Escola Agrícola de Jundiaí – Macaíba/RN (5º 51’ 30” S e 35º 21’ 142

14” W), a 11 m de altitude, e temperatura média de 27,1ºC, em janeiro de 2014. A análise 143

química do solo da área experimental apontou a seguinte composição: cálcio= 1,32 cmolc 144

dm³, magnésio= 0,59 cmolc, alumínio= 0,0 cmolc, hidrogênio + alumínio= 1,26 cmolc, 145

fósforo= 7 cmolc, potássio = 56 cmolc, sódio= 11 cmolc, e pH= 6,18. A adubação foi 146

procedida conforme as recomendações de fertilidade de solo, tendo como base a cultura 147

principal que foi a do cártamo. Os fertilizantes empregados foram superfosfato, FTE BR 12, 148

ureia e cloreto de potássio e para o cártamo, na adubação de cobertura, utilizou-se ureia e 149

cloreto de potássio. 150

Plantas de cártamo e de feijão caupi foram avaliadas em consórcio e em monocultivo, 151

através dos tratamentos: T1 – 100% cártamo; T2 – 50% cártamo + 50% feijão; e T3 – 100% 152

feijão, cada um com três repetições. A área experimental foi dividida em nove parcelas de 153

6,25 m² cada, sendo três parcelas por tratamento. O arranjo foi feito de modo que as parcelas 154

de um mesmo tratamento não se repetissem na mesma linha ou coluna (Figura 1). 155

O cultivo consorciado foi realizado de modo a intercalar fileiras de cártamo com 156

fileiras de feijão (Figura 1). A distância utilizada entre as plantas de cártamo (0,2 m) e de 157

feijão (0,4 m) foi a mesma tanto no monocultivo quanto no cultivo consorciado. Considerou-158

se como borda as duas linhas laterais dentro de cada parcela, sendo estas desconsideradas no 159

momento das coletas. Foram realizadas irrigações por mini aspersão a cada três dias, durante 160

toda a condução do experimento. O controle de plantas daninhas foi feito através de capinas 161

manuais sempre que necessário. 162

163

2.2. Taxa de emergência 164

Foi realizada a contabilização de plântulas de cártamo que emergiram, sendo 165

consideradas emergidas as plântulas que apresentassem os dois primeiros folíolos acima da 166

superfície do solo totalmente livres do substrato (NASCIMENTO et al., 2014). Os resultados 167

foram expressos em porcentagem e os dados submetidos ao teste t não pareado a 5% de 168

probabilidade de erro. 169

170

2.3. Análise de crescimento 171

A avaliação das características de crescimento para o cártamo e feijão caupi iniciou-se 172

trinta dias após a emergência das plântulas, e as demais com um intervalo de 15 dias. A última 173

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coleta, 75 dias após a emergência, foi feita no início do período de prefloração. Foram feitas 174

medições de altura das plantas (cm) e diâmetro dos caules (mm). Essas medidas foram 175

determinadas a partir de duas plantas de cada parcela útil do monocultivo e quatro plantas de 176

cada parcela útil do consórcio (duas plantas de cártamo e duas plantas de feijão), todas 177

escolhidas ao acaso, etiquetadas e depois descartadas das próximas coletas. Os dados foram 178

submetidos ao teste t não pareado, a 5% de probabilidade de erro, com a utilização do 179

software GraphPadPrism V5. 180

181

2.4. Anatomia e histoquímica 182

Para análise morfoanatômica do cártamo, também foram feitas coletas quinzenais um 183

mês após a emergência das plântulas. Amostras de caule (do primeiro ao quinto nós) e de 184

folhas adultas (do quinto e sexto nós, na porção mediana da folha), foram fixadas e 185

conservadas em etanol 70%. Foram confeccionadas lâminas semipermanentes segundo 186

técnicas convencionais de corte à mão livre. Os cortes foram colocados em hipoclorito de 187

sódio 1% para a clarificação, e a coloração foi realizada com Azul de Alcian 1% e 188

Safranina1%. As lâminas foram, em seguida, montadas em glicerina 50% e vedadas com 189

esmalte incolor (KRAUS; ARDUIN, 1997). 190

Os testes histoquímicos em cártamo foram realizados em caules (do primeiro ao quinto 191

nós) e na porção mediana de folhas (do quinto e sexto nós). Utilizaram-se materiais frescos ou 192

fixados e secções à mão livre. Para detecção de lipídios, utilizou-se Sudan Black 0,07%; para 193

amido, Lugol 5%; para substâncias fenólicas, Cloreto férrico (KRAUS; ARDUIN, 1997). 194

As análises microscópicas e registros fotográficos foram feitos em microscópio óptico, 195

com câmera acoplada. 196

197

3. RESULTADOS 198

3.1. Taxa de germinação 199

A comparação entre taxa de emergência das plantas de cártamo isolado (93%) e do 200

cártamo consorciado (70,4%), bem como para o feijão isolado (71,3%) e feijão consorciado 201

(50%), apesar da tendência, não diferiram significativamente entre os tratamentos (Figura 2). 202

203

3.2. Análise de Crescimento 204

A altura e diâmetro do caule das plantas de cártamo cultivadas em consórcio com o 205

feijão não apresentaram diferenças estaticamente significativas (P <0,05) quando comparadas 206

com o controle (cártamo cultivado isoladamente). O mesmo ocorreu com as análises das 207

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plantas do feijão caupi (Figura 3), não sendo diferentes em mesmo nível de probabilidade para 208

nenhum dos tratamentos (monocultivo e consórcio com C. tinctorius). 209

Os maiores valores de diâmetro do caule encontrados foram aos 45 dias após a 210

emergência, observando-se um leve decaimento após esse tempo, tanto para o feijão caupi 211

quanto para o cártamo (Figura 3). 212

213

3.3. Morfoanatomia e histoquímica de C. tinctorius 214

Não foram observadas alterações morfoanatômicas nas folhas e caules submetidos aos 215

dois tipos de tratamento (monocultivo e consórcio), em nenhum dos tempos de crescimento. 216

Na análise anatômica de cártamo, constatou-se no caule, uma epiderme unisseriada 217

recoberta por espessa camada de cutícula com estriações e cera epicuticular (Figura 4A). 218

Próximo à epiderme foram observadas três a quatro camadas de células de colênquima, que se 219

intercalavam com o parênquima, formando o córtex. Notou-se a presença de esclerênquima 220

associado aos feixes vasculares. Cada feixe vascular possuia um ducto próximo, com lume 221

isodiamétricoa, delimitado por uma camada de células epiteliais cujas paredes são finas 222

(Figura 4A, B). 223

As folhas do cártamo eram pequenas e compactas, e a epiderme unisseriada, formada 224

por células que variavam de tabulares a irregulares, e com uma espessa camada cuticular 225

cobrindo toda a superfície foliar. Verificou-se a presença de tricomas multicelulares, 226

glandulares e tectores (Figura 4F, G, H), nas superfícies abaxial e adaxial. Abaixo da 227

epiderme na nervura central, encontraram-se algumas camadas de colênquima, seguidas pelas 228

células do parênquima, onde estavam imersos ductos secretores próximos aos feixes 229

vasculares (Figura 4C). O mesofilo apresentou-se isobilateral, com diversas camadas de 230

parênquima paliçádico (Figura 4D). 231

Os ductos na folha eram delimitados por várias camadas de células e possuíam lume 232

mais extenso do que o observado no caule (Figura 4E). Os ductos e os feixes vasculares 233

encontravam-se separados apenas por uma camada de células da endoderme, dispersos por 234

toda a lâmina foliar, apresentando-se em igual proporção e densidade em espécimes de 235

cártamo dos dois sistemas de cultivo. 236

Na caracterização histoquímica dos órgãos (caule e folha) e ductos de cártamo, 237

verificou-se que a substância presente nas estruturas secretoras (ductos) possuia natureza 238

mista, com maior influência de compostos lipofílicos, pois demonstrou reação negativa para 239

compostos nitrogenados e terpenóides, e reagiu positivamente para substâncias lipofílicas 240

(teste com Sudan Black). 241

242

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4. DISCUSSÃO 243

De acordo com os dados germinação, o consórcio não reduziu as taxas de emergência 244

das plantas em relação aos cultivos isolados, isto sugere que o consórcio não afetou a 245

germinação do cártamo nem do feijão caupi. As taxas de emergência observadas foram 246

semelhantes às de Kaya et al. (2003) estudando a germinação e crescimento de plântulas de 247

cártamo sob estresse salino que, em seu tratamento controle, encontraram taxas de 248

germinação que variaram entre 82,2% a 91,1% em casa de vegetação. Já Smiderle e 249

Schwengber (2008), encontraram taxas de germinação em campo próximas a 90% para o 250

feijão caupi, um pouco acima do que foi observado neste experimento. A ausência de dados 251

na literatura acerca de taxas de germinação em campo para cártamo indica a necessidade de 252

outros estudos com a planta nestas condições. 253

As informações de ausência de diferenciação na altura das plantas, mesmo em 254

consórcio, coincidiram com as de Rodrigues et al. (2014), que também não obtiveram 255

resposta significativa para a altura de plantas de girassol, espécie da mesma família do 256

cártamo (Asteraceae), quando cultivado em sistema de consorciação com o feijão caupi. 257

Segundo esses autores, a competição de girassol com feijão, em todas as proporções de 258

populações de plantas, não afetou as variáveis de crescimento. 259

A redução na taxa de crescimento caulinar no intervalo final de crescimento das 260

culturas (entre 60 – 90 dias) pode estar relacionada com a formação de frutos e, portanto, alta 261

demanda de energia e aumento de fitomassa, que será carreada para as novas estruturas e para 262

manutenção das já existentes, o que reduz a quantidade de assimilados para o crescimento 263

vegetal (ARAÚJO et al., 2014; FERRARI et al., 2008). 264

A ausência de diferença entre os tratamentos indica possível efeito de equivalência 265

entre a competição intra e interespecífica do cultivo isolado e consórcio. Essa ausência de 266

discrepância entre os fatores de crescimento para o cultivo consorciado em relação ao 267

monocultivo é resultado da interação interespecífica de espécies que possuem requisitos 268

nutricionais diferentes, sistemas radiculares, sistemas de fotossíntese, comprimento e altura 269

também diferentes, o que causa ausência de competição durante as fases de crescimento 270

(DARABAD et al., 2011). 271

O fato do cultivo da leguminosa não interferir no crescimento vegetativo de cártamo 272

também foi relatado por Yau e Ryan (2010) estudando a resposta de cártamo à adubação 273

nitrogenada. Eles relataram que a explicação mais plausível para a ausência de resposta à 274

aplicação de nitrogênio é que esta planta tem raízes profundas, que podem até captar 275

nutrientes que foram lixiviados e acumulados nas camadas mais profundas do solo, onde 276

outras culturas de raízes rasas não têm acesso. 277

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Com relação às características morfoanatômicas nos caules e folhas de cártamo, a 278

ausência de modificações em consórcio difere de alguns autores, que afirmam que o 279

consorciamento de cártamo pode resultar em variações fisiológicas e morfológicas na cultura 280

(DARABAD et al., 2011), principalmente durante os primeiros estágios de crescimento, pois 281

nessa fase o cártamo é um péssimo competidor, competindo pela luz, nutrientes e 282

componentes do solo (DAJUE; MUNDEL, 1996). Gadallah e Ramadan (1997) relataram que 283

plantas de cártamo mostram diferentes graus de distúrbios anatômicos em raízes, caules e 284

folhas, quando crescem na presença de algum agente estressor, como a presença de zinco no 285

solo. Eles observaram maiores diâmetros e maior desorganização nos tecidos vasculares, 286

menor densidade nos tecidos e aumento na formação de células do parênquima. 287

Em Asteraceae, ocorrem dois sistemas secretores, tricomas glandulares na superfície 288

dos órgãos e ductos secretores dentro dos órgãos (BARTOLI et al., 2011), sendo considerados 289

de valor taxonômico (FONSECA et al., 2006). Plantas da família Asteraceae, em geral, são 290

ricas em compostos fenólicos predominantemente lipofílicos (APEZZATO-DA-GLÓRIA; 291

CARMELLO-GUERREIRO 2006; FONSECA et al., 2006). A secreção dos ductos e tricomas 292

em asteráceas é composta por óleos essenciais, lipídios, resinas, lactonas sesquiterpênicas, 293

alcaloides, substâncias pécticas, taninos e flavonoides (BARTOLI et al., 2011). 294

Mesmo que o cultivo consorciado não tenha causado modificações estruturais, deve-se 295

atentar para o semeio de plantas em uma quantidade adequada, pois a alta densidade de 296

plantas de outras culturas em consórcio com o cártamo causa competição intensa, o que 297

diminui as características de crescimento e os componentes de produção. (DARABAD et al., 298

2011). 299

300

5. CONCLUSÃO 301

O cultivo consorciado de cártamo com feijão caupi mostra-se como uma alternativa 302

para culturas extrativistas consorciadas com culturas de subsistência, uma vez que não causou 303

alterações significativas na germinação e crescimento das duas espécies, bem como não 304

modificou a anatomia e histoquímica do cártamo, indicando competição no consórcio de 305

mesma magnitude dos monocultivos. 306

A anatomia e histoquímica do cártamo confirmam a presença de ductos próximos aos 307

feixes vasculares, e o caráter lipofílico de sua secreção. 308

309

6. AGRADECIMENTOS 310

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À CAPES, pela concessão de bolsa de mestrado; à Escola Agrícola de Jundiaí – EAJ, 311

pela viabilização do trabalho em campo; ao professor Dr. Ronaldo Angelini e em especial ao 312

Danyhelton Dantas pelo auxílio com as análises dos dados. 313

314

7. REFERÊNCIAS 315

ABUD, H. F. et al. Morfologia de sementes e plântulas de cártamos. Revista Ciência 316

Agronômica, Fortaleza, v. 41, n. 2, p. 259-265, 2010. 317

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ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: 319

Editora da UFRGS, v. 42, 2004. 320

321

APEZZATO-DA-GLÓRIA, B.; CARMELLO-GUERREIRO, S. M. Anatomia Vegetal. 322

Viçosa: Ed. UFV, 2 ed., 2006, 438 p. 323

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ARAÚJO, A. C. et al. Análise não destrutiva de crescimento do gergelim consorciado com 325

feijão caupi em sistema orgânico de cultivo. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 9, n. 1, 326

p. 259 – 268, 2014. 327

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BARTOLI, A.; GALATI, G.; TORTOSA, R. D. Anatomical studies of the secretory str 329

uctures: glandular trichomes and ducts, in Grindelia pulchella Dunal (Astereae, Asteraceae). 330

Flora, v. 206, p. 1063-1068, 2011. 331

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CARVALHO, C. A. L. et al. Tópicos em Ciências Agrárias. Cruz das Almas, BA: 333

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e 334

Biológicas, v.1, 2009, 269 p. 335

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DAJUE, L.; MUNDEL, H. H. Carthamus tinctorius L. Promoting the conservation and 337

use of underutilized and neglected crops. Rome: Institute of Plant Genetics and Crop Plant 338

Research, Gatersleben/International Plant Genetic, 1996, 83 p. 339

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DARABAD, G. R. et al. Evaluations of yield and yield components in potato-safflower 341

intercropping. Australian Journal of basic and applied sciences, v. 5, n. 11, p. 1423 – 1428, 342

2011. 343

344

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Field Crops Research, n. 110, p. 35-43, 2009. 347

348

FARRAN, M. T. et al. Performance of male broiler chicks fed practical diets containing 349

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Figura 1: Disposição dos cultivos em campo. A – Arranjo das plantas dentro das parcelas. 451

Cártamo (círculos), feijão caupi (quadrados). B – Arranjo espacial das parcelas dos 452

tratamentos de cártamo (C), feijão caupi (F) e do consórcio (C+F). 453

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Figura 2: Taxa de emergência entre os tratamentos das culturas para teste t (P<0,05). C – 467

cártamo isolado; C+F – cártamo consorciado; F – feijão isolado; F+C – feijão consorciado. 468

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492

Figura 3: Altura das plantas (A); Diâmetro caulinar (B). - cártamo consorciado; -cártamo 493

isolado; - feijão consorciado; - feijão isolado. 494

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Figura 4: Secções transversais do caule (A-B) e folha (C-H) de C. tinctorius L.: A – Detalhe 503

dos feixes vasculares evidenciando os ductos (setas) e as células epidérmicas realçando a 504

cutícula; B – Organização dos feixes vasculares do caule; C – Disposição das células na 505

nervura mediana da folha evidenciando ductos (setas) D – Lâmina foliar com presença de 506

ducto próximo ao feixe vascular; E – Detalhe de ductos associados no mesofilo (asterisco); F 507

e G – Tricomas glandulares; H – Tricoma tector. (cut = cutícula; du = ducto;col = 508

colênquima; xi = xilema; flo = floema; esc = esclerênquima; pp = parênquima paliçádico; pl = 509

parênquima lacunoso; fv = feixe vascular). 510

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CAPÍTULO 2

ESTE ARTIGO FOI SUBMETIDO À REVISTA REDE DO PRODEMA E, PORTANTO,

ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS RECOMENDAÇÕES DESTE PERIÓDICO

(VIDE http://www.revistarede.ufc.br/revista/index.php/rede/about)

PERFIL DOS AGRICULTORES FAMILIARES DA AGROVILA CANUDOS,

CEARÁ-MIRIM/RN, E ACEITAÇÃO DO Carthamus tinctorius L. – OLEAGINOSA

PROMISSORA PARA BIODIESEL

PROFILE OF FAMILY FARMERS OF AGROVILA CANUDOS, CEARÁ-

MIRIM/RN, AND YOUR ACCEPTANCE ABOUT Carthamus tinctorius L. - OILSEED

PROMISING FOR BIODIESEL

Émile Rocha de Lima¹; Juliana Espada Lichston² ¹Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, PRODEMA-UFRN, Brasil/ e-mail: [email protected];

²Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Brasil/ Professora do Departamento de Botânica e

Zoologia/ Doutora em Biologia Comparada.

RESUMO: A cadeia produtiva de biocombustíveis no Brasil tem gerado discussões no âmbito

social, acerca de seus impactos para a agricultura familiar no Nordeste. Uma melhor

eficiência agrícola para esta região poderia se dar a partir de matérias-primas mais adaptadas

às condições locais. O cártamo é uma espécie oleaginosa resistente à seca e pouco exigente

em nutrientes, com alto valor agregado, e que poderia se tornar uma alternativa para o

desenvolvimento agrícola da região. Desta maneira, este trabalho objetivou caracterizar

socioeconomicamente uma parcela dos agricultores familiares de um assentamento do

município de Ceará-Mirim/RN e constatar o conhecimento deles acerca dos usos do cártamo e

sua aceitação como cultura viável para a atividade agrícola visando a produção de biodiesel.

A metodologia utilizada constou da aplicação de entrevistas a agricultores da agrovila

Canudos. Percebeu-se que os agricultores aceitariam o desafio da introdução do cártamo

como cultura oleaginosa para a produção de biodiesel, apesar de desconhecerem a cultura.

PALAVRAS-CHAVE: Agrocombustíveis, agricultura familiar, cártamo.

ABSTRACT: The production chain of biofuels in Brazil has generated discussions in the

social sphere, about its impacts for family farms in the Northeast. Improved agricultural

efficiency in this region could be achieved from better adapted to local conditions raw

materials. Safflower is an oilseed resistant to drought and undemanding in nutrients, with high

added value, and that could become an alternative to the agricultural development of the

region. Thus, this study aimed to characterize socioeconomically a portion of the family

farmers of a settlement in the city of Ceará-Mirim/RN and realize their knowledge about the

uses of safflower and its acceptance as a viable crop for agriculture aimed at producing

biodiesel. The methodology consisted of applying interviews with farmers by agrovila

Canudos. It was noticed that farmers would accept the challenge of the introduction of

safflower as oil crop for biodiesel production, although unaware of the culture.

KEYWORDS: Agrifuels, family farm, safflower.

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INTRODUÇÃO

A produção de agrocombustíveis no Brasil vem sendo colocada em pauta não somente

pela necessidade de matrizes energéticas alternativas, mas também pelo seu potencial como

vetor de possíveis ganhos econômicos e sociais. Uma destas dimensões, o aspecto social,

busca avaliar a possibilidade de que a produção de biodiesel seja capaz de oferecer

oportunidades inovadoras para a agricultura familiar (DINIZ; FAVARETO, 2012).

A agricultura familiar é aquela em que a família rural ao mesmo tempo detém a posse

dos meios de produção e realiza o trabalho na unidade produtiva, podendo produzir tanto para

sua subsistência quanto para o mercado, além de ter um perfil essencialmente distributivo e

ser melhor em termos socioculturais (VEIGA, 1996). A chamada agricultura familiar

constituída por pequenos e médios produtores representa a imensa maioria de produtores

rurais no Brasil (PORTUGAL, 2002), são mais de 4 milhões de estabelecimentos, sendo cerca

de metade deles no Nordeste do país (IBGE, 2006).

Diferentemente dos programas internacionais de estímulo à produção do biodiesel, no

Brasil, os programas de incentivo à produção de agrocombustíveis através da agricultura

familiar, como o Programa Nacional de Uso e Produção do Biodiesel (PNPB) e o Selo

Combustível Social, se destacam pelo seu aspecto de inserção da agricultura familiar na

produção das oleaginosas, gerando emprego e renda aos pequenos agricultores (SILVA,

2013). Desde a implementação do PNPB, o mercado de biodiesel no Brasil (produção e

consumo) ampliou significativamente, deixando de ser quase inexistente para estar entre os

maiores do mundo (RENEWABLE ENERGY POLICY NETWORK, 2013).

Apesar do exposto, Favareto (2012) assegura que desde o início da execução do

PNPB, os resultados de inclusão social no Nordeste foram particularmente frustrantes, sendo

as principais causas apontadas: a pouca organização dos produtores; o baixo acesso a

tecnologias, conhecimento e aos insumos de produção; e a dependência de uma única

empresa. Além da adversidade climática, os solos do Nordeste são, em sua maioria, pobres

em nutrientes e com estrutura física pouco apropriada para o suporte de atividades agrícolas

(IPEA, 2012), no entanto, as condições geoambientais diferenciadas, associadas a uma

infraestrutura de transporte razoável, tornam a região atrativa para a produção de vários tipos

de oleaginosas destinadas à produção de biodiesel (SILVA et al., 2014).

A eficiência agrícola na produção de oleaginosas precisa melhorar, isso passa pelos

estudos de aptidão climática, pela disponibilização de sementes e mudas de qualidade na

quantidade necessária, por assistência e capacitação técnica aos agricultores, além de

pesquisas tecnológicas de matérias-primas potenciais (DÁLIA, 2006).

Dentre as matérias-primas oleaginosas, o cártamo, Carthamus tinctorius L., é uma

espécie com alto valor agregado, tem ciclo curto e é resistente à seca e a condições de solos

pobres, característicos do Nordeste brasileiro. É uma cultura utilizada com fins medicinais, na

indústria farmacêutica, bem como na indústria de cosméticos, especiarias, forragem, flor de

corte e alpiste. Após a extração do óleo, a torta de cártamo pode ser utilizada para alimentação

de ruminantes (FARRAN et al.,2009), além de que seu conteúdo de óleo pode servir como

alternativa para a produção de biocombustível (YAU; RYAN, 2010).

É necessária a colaboração dos agricultores para a inserção de uma cultura na cadeia

produtiva, pois a experiência prática desses atores sociais é que permite a aceitação, já que

eles são agentes efetivos neste processo.

No estado do Rio Grande do Norte, o município de Ceará-Mirim é o terceiro maior em

dimensão territorial e aparece com um forte potencial para o desenvolvimento da agricultura,

que é o meio de ocupação e renda de quase metade de sua população (REBOUÇAS; LIMA,

2013; MELO; CÂNDIDO, 2013). No entanto, as incertezas de mercado e a dependência das

chuvas ameaçam constantemente o potencial produtivo da fruticultura, que é uma das

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principais atividades vivenciadas pelos agricultores locais. Além do fato de que a realidade

socioeconômica desses agricultores tem sido pouco pesquisada, segundo Rebouças e Lima

(2013).

Diante disto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar socioeconomicamente uma

parcela dos agricultores familiares de um assentamento de Ceará-Mirim/RN, e constatar o

conhecimento deles acerca dos usos do cártamo para produção de biodiesel e demais

coprodutos, além de sua aceitação como cultura viável para a atividade agrícola local.

METODOLOGIA

A agrovila Canudos está situada no município de Ceará-Mirim – RN (5º 38’ 04’’ S,

36º 25’ 32’’ O), com uma área total de 724, 4 km², clima tropical chuvoso com verão seco,

temperatura média de 25, 3ºC e uma população total de 68.141 habitantes, sendo 32.647

pertencentes à zona rural (IDEMA, 2013). O Assentamento Rosário está subdividido em duas

agrovilas: Rosário e Canudos (REBOUÇAS; LIMA, 2013), este estudo foi realizado na

agrovila Canudos, que é constituída por 40 famílias cujos agricultores estão cooperados na

Cooperativa dos Produtores de Canudos (COPEC).

O estudo exploratório da agrovila Canudos e de seu entorno imediato foi realizado

através de visitas ao local, para identificação das comunidades a serem entrevistadas.

Foram feitos questionários e conduzidas entrevistas semiestruturadas aplicadas aos

agricultores familiares da agrovila, sendo a amostra constituída por um total de 22 pessoas,

sendo uma de cada família, o que corresponde a um percentual de 55% do total de famílias da

agrovila. A amostragem utilizada foi a não probabilista por acessibilidade, entrevistando uma

pessoa de cada casa que estivesse aberta no momento da visita. Os dados foram coletados no

mês de dezembro de 2014.

As entrevistas foram realizadas através de diálogos, as pessoas foram abordadas uma

de cada vez e os questionários respondidos individualmente.

Os resultados das entrevistas foram submetidos à análises simples (porcentagens), e o

conteúdo das entrevistas foi utilizado como suporte para a análise dos dados, do mesmo modo

que também foi considerada a percepção dos pesquisadores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quanto à caracterização do perfil dos agricultores da agrovila Canudos, 100% dos

entrevistados são residentes da zona rural do município de Ceará-Mirim, sendo 68,1%

mulheres e 31,81%, homens. Dos 22 representantes de cada família que foram entrevistados, a

maioria da amostra (63,6%) é composta por pessoas de faixa etária entre 22 a 59 anos,

conforme a figura 1A, com maior expressividade (54,5%) de agricultores casados (Figura

1B).

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Figura 1: (A) Perfil dos agricultores da agrovila Canudos quanto à faixa etária. (B)

Perfil dos agricultores da agrovila Canudos quanto ao estado civil.

Dentre as espécies produzidas pelos agricultores da região, a banana foi citada como

cultura principal segundo 77% dos entrevistados, e em segundo lugar macaxeira e feijão,

ambas com 63,6% (Figura 2).

Figura 2: Principais culturas produzidas pelos agricultores familiares da agrovila

Canudos.

A atividade produtiva das famílias assentadas é baseada no cultivo de culturas

diversificadas e a demanda é para atender as feiras regionais ou para distribuidores. Segundo

Rebouças e Lima (2013), avaliando o mesmo assentantamento, constataram que para a

maioria dos produtos produzidos, os rendimentos são baixos, isso aliado ao fato de que as

culturas são irrigadas e as despesas para a produção são altas. As receitas não compensam os

investimentos para o mercado. No entanto, tais produtos são utilizados para o suprimento das

famílias (autoconsumo) e, quando há demanda, são comercializados. Segundo estes autores,

esse fato é alterado apenas para a cultura do mamão, que possui boa saída de mercado o ano

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todo. Porém, segundo o observado na figura 2, a cultura do mamão não foi das mais citadas

pelos agricultores como uma das principais produzidas na região.

Acerca do retorno financeiro a partir da produção destas culturas para o sustento da

família, 64% concordam conseguir estes benfícios a partir da produção das culturas, porém,

apesar de concordarem, 32% citaram que esta rentabilidade depende das condições de

mercado e das condições do clima (Figura 3).

Figura 3: Respostas dos agricultores quanto à rentabilidade das culturas produzidas

atualmente na agrovila.

Quando questionados sobre a experiência em cultivar espécies oleaginosas com a

finalidade de produzir biodiesel, 77% dos entrevistados disseram já ter plantado o girassol

para esta finalidade. No entanto, destacaram que o retorno financeiro com o cultivo desta

espécie era muito pequeno, comparado ao grande investimento para a produção,

principalmente devido à necessidade constante de irrigação que a cultura necessita.

Quando questionados quanto ao conhecimento do cártamo e suas utilidades, 86%

afirmaram não conhecer a planta mencionada. No entanto, o restante deles já ouviu falar

através dos meios de comunicação, principalmente devido às propriedades medicinais do óleo

da semente, que são cada vez mais divulgadas, como a atuação no controle dos níveis de

colesterol, na redução de peso e no tratamento de inflamações diversas.

Como a maioria dos agricultores mostrou desconhecimento do cártamo, estes foram

então informados sobre suas utilidades, como o valor na indústria medicinal e farmacêutica,

alimentação animal, e principalmente a utilização do óleo da semente para produção de

biodiesel (FARRAN et al., 2009). Além disso, os produtores foram informados da resistência

do cártamo à seca (SHARMA; PUREY, 2008), fator importante e muito considerado pelos

entrevistados na escolha de culturas para a região, como relatado por eles e visualizado na

figura 3.

Diante disto, os agricultores foram questionados se, a partir do conhecimento do

cártamo e de seus tratos de cultivo, a produção desta espécie poderia trazer melhorias para a

geração de renda na região. Observou-se que 45,5% acredita que a introdução desta espécie

poderia trazer tais benefícios, porém a maioria deles ficou receosa e não soube responder

devido ao desconhecimento da planta em campo (Figura 4).

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Algumas condições edafoclimáticas limitam o desenvolvimento da agricultura, tais

como altas temperaturas, solos com deficiência nutricional, precipitações reduzidas e

consequente baixa disponibilidade de água no solo (PIMENTEL; HÉBERT, 1999; SNYDER;

TARTOWSKI, 2016). O cártamo, sendo uma espécie vegetal bem adaptada a todas as

condições expostas acima, demonstra ser uma espécie adequada para ser inserida na cadeia

produtiva de biocombustíveis no Nordeste do país, o que seria uma oportunidade inovadora

para melhorar a eficiênca agrícola dos pequenos produtores da região.

Figura 4: Aceitação do cártamo como cultura para a região da agrovila.

O ciclo de vida do cártamo é curto, com aproximadamente 140 dias, porém, este ciclo

pode ser ainda mais reduzido, chegando a 75 dias, quando a espécie é cultivada em

temperaturas e luminosidade mais elevadas (ROCHA, 2005). Uma boa produção para o

cártamo é observada com precipitações entre 300 a 600 mm anuais (VIVAS, 2002; ROCHA,

2005). Considerando que a precipitação pluviométrica média anual em Ceará-Mirim é de

1.535,2 mm (CPRM, 2005), a espécie mostra-se adequada ao plantio na região, sem a

necessidade de despendiar tantos esforços e gastos para a irrigação, quando comparada às

outras plantas cultivadas na agrovila.

Acerca da experiência no cultivo consorciado de culturas, 90% dos agricultores

entrevistados informaram cultivar em consórcio, sendo as espécies mais cultivadas desta

forma o feijão, milho, banana e macaxeira.

O cultivo consorciado permite que os agricultores beneficiem-se da capacidade dos

sistemas de cultivo de reutilizar seus próprios estoques de nutrientes, além da possibilidade de

maior prevenção de pragas, doenças e insetos e diminuição da necessidade de fertilizantes e

pesticidas, podendo ainda aumentar a produtividade e auxiliar na manutenção da qualidade do

solo (ALTIERI, 2004; KAMIYAMA, 2011; ZHANG, 2012). Os agricultores de Canudos

citaram que o cultivo em consórcio poupa espaço e diminui as prováveis perdas totais, algo de

extrema importância para uma população carente de recursos financeiros.

O cártamo é uma boa alternativa para o cultivo consorciado com culturas de

subsistência para o pequeno produtor rural, pois, como mencionado por Abramovay e

Magalhães (2007) permite ao agricultor não desistir de plantar seu alimento, não ficando

inteiramente dependente da produção da cultura principal.

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CONCLUSÃO

As espécies cultivadas atualmente no assentamento de Canudos, principalmente com a

fruticultura, garantem a sobrevivência e asseguram uma qualidade de vida mínima para a

população da agrovila, porém percebe-se que os agricultores dependem das condições de

clima e do mercado para que um retorno financeiro seja garantido.

Foi possível comprovar que a maioria dos agricultores da agrovila em Ceará-Mirim

apresentou uma certa prudência em relação à introdução de uma nova cultura oleaginosa para

a região. Porém, os entrevistados mostraram-se adeptos a conhecer e a testar o cultivo de

Carthamus tinctorius, principalmente para a produção de óleo para biodiesel.

O cártamo, por seu valor agregado, e sua resistência à seca e à condições de solos

pobres, pode contribuir com o desenvolvimento da agricultura familiar do Nordeste brasileiro,

sendo, portanto, uma boa alternativa para o incremento da renda aos agricultores e aumento

na eficiência da cadeia produtiva de biocombustíveis na região.

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CONCLUSÕES GERAIS

Na busca de fontes energéticas renováveis, a energia produzida a partir da biomassa,

como o biodiesel, se destaca, principalmente no Brasil onde são diversas as políticas de

incentivo. Porém, essa produção não deve prejudicar a segurança alimentar das populações

humanas, nem degradar ainda mais os solos já tão saturados pelas atividades agrícolas, além

do que não se deve desmatar ainda mais as áreas até então intocadas, repetindo os mesmos

erros já cometidos com esta finalidade energética no país.

O uso do cultivo consorciado, com menos agressões ao solo, menos necessidade do

uso de fertilizantes às culturas, e o cultivo em áreas já degradadas pelas atividades agrícolas,

funcionariam como soluções mais eficientes e menos agressivas ao meio ambiente. No

entanto, nada disso faria sentido se ainda insistirmos no uso das matérias-primas

convencionais, que possuem baixo rendimento de óleo e não são adequadas às condições

locais, o que só aumentaria os desmatamentos e as necessidades de insumos. Dentre as

matérias-primas vegetais, o cártamo é uma espécie propensa à produção de biodiesel, pois,

apresenta teores elevados de óleo em suas sementes, possui baixa necessidade de irrigação e

de nutrientes, curto ciclo de vida, além de ter alto valor agregado.

De acordo com os experimentos realizados neste trabalho, foi observado que o

cártamo pode ser cultivado consorciado com o feijão caupi sem que isso prejudique o

desenvolvimento das plantas no campo. Ambas as espécies apresentaram bom desempenho, o

que, além dos benefícios anteriormente citados, torna este tipo de cultivo uma boa alternativa

para o pequeno produtor rural, que pode ter uma cultura como fonte de renda sem deixar de

plantar sua fonte de subsistência.

A partir da investigação realizada com os agricultores familiares da agrovila Canudos

em Ceará-Mirim/RN, observou-se que as espécies cultivadas com a atividade da fruticultura

já desenvolvida na região são suficientes para garantir a qualidade de vida dos agricultores e

de suas famílias, e que esse sustento e rentabilidade não são satisfatórios o ano todo, pois

variam com o mercado e com o clima local. A utilização do cártamo poderia ser uma melhor

fonte de geração de renda, segundo uma parcela dos agricultores. Carthamus tinctorius

poderia então ser inserido pelos agricultores familiares na cadeia produtiva do biodiesel e,

ainda, se plantado em consórcio, diminui a necessidade de insumos, poupa espaço e permite

ao pequeno agricultor também plantar sua fonte de subsistência. Por ser bem resistente à seca,

e ter ciclo curto, forneceria retorno rápido ao agricultor e é mais resistente ao clima local, o

que é impraticável pelas outras culturas.

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APÊNDICE

ENTREVISTA

Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino

Faixa Etária: ( ) 18 a 21 anos ( ) 22 a 59 anos ( ) 60 anos em diante

Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) União Consensual

Local de Residência: ( ) Zona rural ( ) Zona urbana

1. Quais as principais plantas produzidas pelos agricultores da região?

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2. Você acha que as espécies cultivadas são de fácil tratamento e oferecem boa rentabilidade?

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3. Você conhece o cártamo e suas utilidades?

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4. Dentre outras utilidades, o cártamo pode ser usado para a alimentação animal, tem valor

medicinal e produção de óleo para biodiesel. Você acha que o cultivo desta espécie poderia

trazer melhorias para a geração de renda na região?

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5. Você tem experiência em cultivar plantas que produzem óleo para biodiesel?

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6. O que você acha necessário para que uma nova cultura se estabeleça bem na região?

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7. Você tem experiência no cultivo consorciado de culturas? Se sim, quais?

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8. Se alguém ensinasse os tratos de cultivo de uma nova planta, você aceitaria introduzi-la como

cultura?

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