considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

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Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura entre o setor de telecomunicações e de distribuição de energia elétrica Nota Técnica Consulta Pública Anatel nº 28/2018 e ANEEL nº 16/2018 (Tomada de Subsídios para AIR) Novembro de 2018

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Page 1: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura entre o setor de telecomunicações e de distribuição de energia elétrica

Nota Técnica – Consulta Pública Anatel nº 28/2018 e ANEEL nº 16/2018 (Tomada de Subsídios para AIR)

Novembro de 2018

Page 2: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.1

Sumário Executivo ____________________________________ 2

Introdução ___________________________________________ 5

2. Regularização da ocupação __________________________ 6

3. Preço de compartilhamento dos pontos de fixação dos

postes de energia elétrica ___________________________ 11

3.1 Princípios do compartilhamento de infraestrutura _____________________ 11

3.2 Impactos da Resolução Conjunta nº 04/2014 ________________________ 13

3.3 Metodologia para aferição do preço de compartilhamento ______________ 16

Considerações Finais _________________________________ 21

Anexo I _____________________________________________ 24

Ficha técnica ________________________________________ 26

Page 3: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.2

Sumário Executivo

A presente Nota Técnica foi solicitada pela Claro à LCA com o objetivo de analisar o

material das Consultas Públicas Anatel nº 28/2018 e ANEEL nº 16/2018. Essas

consultas públicas têm por objetivo a tomada de subsídios para a Análise de Impacto

Regulatório (AIR) sobre a revisão da Resolução Conjunta nº 04/2014, que trata do

compartilhamento de infraestrutura das empresas de energia elétrica com as empresas

de telecomunicações.

A presente Nota Técnica apresenta os princípios e diretrizes que devem ser observados

no cálculo dos preços de compartilhamento de postes entre os setores de distribuição

de energia elétrica e serviços de telecomunicações, bem como para a regularização da

ocupação desta infraestrutura sem a pretensão de, neste momento, fazer proposições

metodológicas detalhadas para isso, ficando tais proposições para momento seguinte,

durante Consulta Pública futura que deverá ocorrer no âmbito da presente AIR.

Primeiramente, cumpre destacar que os postes são de propriedade das

distribuidoras de energia elétrica, que os utilizam como infraestrutura para prestação

do serviço de distribuição, cuja as receitas são auferidas por meio da tarifa de energia,

regulada pela ANEEL. Sendo assim, todos os custos das distribuidoras, sejam eles

operacionais ou financeiros, são remunerados por esta tarifa de energia, que deve

garantir a sustentabilidade econômica das distribuidoras por meio de uma taxa de

retorno regulada. É permitido que as distribuidoras utilizem os postes para outros fins

que não a prestação dos serviços de distribuição, nos chamados serviços acessórios,

que não são essenciais para a sustentabilidade financeira da concessão. É neste

contexto que se insere o compartilhamento do espaço ocioso dos postes com o setor

de telecomunicações, que se dá por meio de um contrato que determina um preço de

compartilhamento, que gera uma receita acessória para distribuidora.

As distribuidoras de energia elétrica são concessionárias que detém um

monopólio de exploração do serviço em determinada região, tendo, desta forma, o

monopólio natural dos postes de sua propriedade. Os postes das distribuidoras de

energia elétrica são considerados uma essential facility1 (infraestrutura essencial)

1 Uma infraestrutura é dita essencial (em inglês, essential facility) se, para operar em um determinado mercado, todo e qualquer participante precisa fazer uso dela. A infraestrutura essencial não é facilmente duplicável, seja por razão de escala ou tecnologia. Entre os exemplos

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Nota Técnica LCA – p.3

para o setor de telecomunicações, pois são imprescindíveis para a prestação dos

serviços. Por conta disso, a Lei Geral de Telecomunicações (LGT) garante ao setor o

direito de utilizar os postes de propriedade das distribuidoras, mediante pagamento “de

forma não discriminatória e a preços e condições justos e razoáveis”, evitando

que haja subsídio cruzado entre os setores. Com preços elevados, também não se

garante a otimização de recursos e redução de custos operacionais, princípio presente

no artigo 6º da Resolução Conjunta nº 1/1999.

Não deve afetar a precificação da infraestrutura compartilhada regras específicas

do setor elétrico como, por exemplo, a destinação da receita por meio da

modicidade tarifária. Haveria, neste caso, além do subsídio cruzado entre os serviços,

transferência de risco de um setor para o outro, com grave prejuízo para o ambiente de

negócios e tomada de decisão dos agentes.

A Resolução Conjunta ANEEL e Anatel nº 04/2014 (doravante Resolução Conjunta nº

04/2014), pela primeira vez, determinou o valor de R$ 3,19 como sendo um preço de

referência para a precificação do ponto de fixação no poste. Isso representa um avanço

dado que o monopólio natural de uma essential facilty cria uma assimetria negocial entre

o proprietário (distribuição de energia elétrica) e o demandante da infraestrutura

essencial (telecomunicações), que pode levar a valores elevados de compartilhamento.

Atribuir um preço de referência torna mais simétrica a negociação entre esses agentes.

Mesmo com esse progresso, aprimoramentos são necessários. O valor de R$ 3,19 por

ponto de fixação foi obtido através da média dos preços até então praticados, em

ambiente de negócios que carrega as falhas de mercado explicitadas.

A LCA elaborou um exercício de fluxo de caixa com valor presente líquido (VPL) igual a

zero, que utilizou dados reais coletados em perícia durante um processo judicial da

Claro, que resultou em preço de compartilhamento de R$ 1,11 por ponto de fixação. Isto

demonstra que o preço de R$ 3,19 por ponto de fixação definido na regulação não é

adequado para todos os casos e que é importante se ter um preço de referência que

considera a estrutura de custos de cada distribuidora em cada região. É importante que

os parâmetros utilizados para a definição desse preço de compartilhamento sejam

definidos de forma conjunta entre os setores envolvidos, com transparência, para que,

de infraestrutura essencial, destacam-se aeroportos (toda companhia aérea que deseja operar em uma determinada localidade precisa fazer uso do aeroporto que lá existe), portos e redes de transmissão de energia elétrica (MOTTA, Massimo. Competition Policy: theory and practice, Cambridge Univerity Press, 2004, p. 66-68).

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Nota Técnica LCA – p.4

a despeito da possibilidade de custos regionalizados, haja a segurança de harmonia em

método e critérios.

Além da precificação, outra questão alvo de regulamentação diz respeito à

regularização da ocupação dos postes, chamada de adequação. Atualmente,

muitos postes das distribuidoras de energia elétrica estão ocupados de maneira

desordenada, com mais operadoras de telecomunicações do que a capacidade do poste

permite, com fios em excesso e instalados de maneira incorreta ou em outras situações

que vão contra as normas técnicas, regulatórias ou de segurança. Sobre este ponto,

entende-se que a adequação deve observar obrigações tanto das empresas de energia

elétrica (proprietárias da infraestrutura, que devem manter um cadastro atualizado sobre

a ocupação de seus postes, além da fiscalização); quanto das empresas de

telecomunicações (usuárias), no sentido de que ambos devem prezar pela ocupação

regular dos postes. Sendo assim, não se pode tratar a temática do compartilhamento

como a “Tragédia dos Comuns”, como sugere a Tomada de Subsídios nas referidas

Consultas Públicas. A Tragédia dos Comuns ocorre quando um ativo cuja propriedade

não é bem delimitada é utilizado pelos agentes até sua exaustão, pois, se não há

proprietário bem definido, não há incentivos para investimentos individuais para

preservação do ativo. Nestes casos, o poder público deve atuar para regulamentar o

acesso a tal ativo. Conforme mencionado, a propriedade do poste é bem delimitada,

pertencendo às concessionárias do serviço distribuição de energia elétrica.

A adequação carece de um planejamento acurado, envolvendo as esferas públicas

afetas ao tema de mobiliário urbano. Assim, deve haver compatibilização entre as

políticas de telecomunicações (preservação do ambiente competitivo, para que não

ocorra barreira artificial à entrada de novas empresas) e de energia elétrica

(manutenção e modernização da infraestrutura), com o envolvimento do Ministério das

Cidades e Prefeituras (modernização e enterramento de infraestrutura, por exemplo),

de forma que haja otimização de esforços, sem desperdício de recursos. É necessário

que haja clara indicação da fonte e disponibilização de recursos públicos para

implementação de tais políticas. Esse ponto é de extrema importância visto que há

serviços prestados em regime de concessão, o que confere necessidade de

preservação de equilíbrio econômico-financeiro dos contratos.

Na indisponibilidade de recursos públicos para viabilizar políticas de enterramento e/ou

fonte de receita para estabelecimento de cronograma mínimo de adequação, entende-

se que esta deva ocorrer exclusivamente por demanda (para novos entrantes e/ou

razões de segurança), atentando-se para os efeitos econômicos nos setores de

Page 6: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.5

telecomunicações e de energia elétrica, com indicação de número máximo de pontos

a serem adequados, para o melhor planejamento dos agentes (entrantes, setor de

energia elétrica, telecomunicações).

Introdução

Esta Nota Técnica foi solicitada pela Claro à LCA com o objetivo de analisar o material

apresentado nas Consultas Públicas Anatel nº 28/2018 e ANEEL nº 16/2018. As

Consultas Públicas citadas têm igual conteúdo, divididas em dois temas principais: 1)

Regularização da ocupação dos postes de energia elétrica e; 2) Preço de

compartilhamento dos pontos de fixação dos postes de energia elétrica.

A discussão acerca da regularização da ocupação desordenada dos postes das

distribuidoras deve estar coordenada com a discussão acerca do enterramento dos

mesmos, política pública que começou a ser implementada em alguns municípios.

Realizar investimentos em adequação de um grupo de postes (retirada de fios,

unificação de pontos, identificação das operadoras, dentre outros) para que estes sejam

posteriormente enterrados, faz com que haja desperdício de recursos, uma vez que

caso eles sejam enterrados, novos investimentos terão que ser feitos. Cumpre destacar

a necessidade de indicação de fonte de receitas para a implementação de tal política

pública, buscando-se preservar o equilíbrio econômico-financeiros dos contratos dos

entes privados.

Como otimização de recursos, tanto público quanto privado, recomenda-se que a

adequação se dê sob demanda, com indicação de cronograma anual máximo para o

devido planejamento dos agentes. A demanda pode ser motivada por quesitos de

segurança ou a viabilização da entrada de novos agentes, indicando-se as

responsabilidades financeiras de cada um para a realização da adequação (entrante,

setor de telecomunicações e setor de energia elétrica).

Sobre a precificação, o valor pago pelas operadoras de telecomunicações deve ser a

justa medida para remunerar a infraestrutura, para que não haja subsídio cruzado entre

os serviços. Caso contrário, a tarifa de energia elétrica estaria sendo subsidiada pelo

Page 7: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.6

setor de telecomunicações, em caso de sobreprecificação do ponto de fixação.

Tampouco deve afetar a precificação da infraestrutura compartilhada regras

específicas do setor elétrico como, por exemplo, a destinação da receita por meio

da modicidade tarifária. Caso contrário, haveria aqui uma relevante incerteza

regulatória para o setor de telecomunicações advinda de políticas do setor de energia

elétrica.

Hoje, por exemplo, por determinação exclusiva da ANEEL, 60% das receitas de

compartilhamento da infraestrutura devem ser destinadas, obrigatoriamente, para a

modicidade tarifária do setor elétrico, ou seja, para redução da tarifa de energia. Isso,

em nada, deve afetar a remuneração da infraestrutura compartilhada, que deve ser

definida exclusivamente pelo seu custo, e não pela destinação da receita. Caso

contrário, havendo qualquer mudança nesse percentual de destinação obrigatória,

haveria um efeito imediato no setor de telecomunicações, deixando os agentes e

usuários sujeitos a riscos não gerenciáveis, advindos de outro setor, além de causar

evidente subsídio cruzado entre os serviços.

Esta Nota Técnica está dividida em duas seções. A primeira trata da regularização da

ocupação. A segunda trata do preço de compartilhamento, analisando a metodologia do

preço estabelecido na Resolução Conjunta nº 04/2014 e seus efeitos. Por fim,

apresentam-se as considerações finais.

2. Regularização da ocupação

As Consultas Públicas Anatel nº 28/2018 e ANEEL nº 16/2018 têm como um dos temas

a ser estudado em futura Análise de Impacto Regulatório a regularização da ocupação

de postes. Este tema é dividido em três subtemas: 1) Regularização do Passivo; 2)

Regras Gerais de Regularização e; 3) Disseminação de Informação.

Esta seção dará enfoque para as questões relacionadas ao primeiro subtema,

“Regularização do Passivo” (doravante chamada de adequação), dado que as medidas

a serem adotadas têm potencial de forte impacto financeiro além de envolver discussões

de outras políticas públicas como o enterramento de infraestrutura.

Page 8: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.7

A discussão da adequação envolve, de maneira geral, a redução do número de fios

fixados nos postes. Atualmente, conforme ressaltado pelas Agências na Tomada de

Subsídio, é usual que mais prestadoras do que é permitido ocupem os postes. Isso faz

com que os fios fiquem desorganizados e dificulte tanto a manutenção da infraestrutura

como a fiscalização da ocupação, cujo objetivo é garantir a conformidade com as

normas técnicas de segurança e o cumprimento das normas regulatórias. Outro tema

de atenção é a quantidade de pontos de fixação ocupada por cada empresa, para que

não haja dificuldades à entrada de novas operadoras de telecomunicações.

Frente a estas duas questões (excesso de fios e ocupação de pontos que possa

dificultar a entrada de novas operadoras) a Resolução Conjunta ANEEL e Anatel nº

04/2014 (doravante Resolução Conjunta nº 04/2014) trouxe algumas ações, sendo as

principais:

1) Prestadoras não podem ocupar mais de um ponto de fixação (Artigo 2º). A

adequação para um ponto de fixação deve ocorrer conforme sejam solicitados

novos compartilhamentos por outras prestadoras (Artigo 5º, §1).

2) Os custos relativos à regularização serão arcados pelas prestadoras de

telecomunicações, conforme cronograma de regularização acordado entre as

partes – telecomunicações e energia (Artigo 4º, § 5). O cronograma de

regularização não deve ultrapassar 2.100 postes por ano por distribuidoras de

energia elétrica (Artigo 4º, §6).

Adicionalmente, a Resolução Conjunta nº 04/2014 indica que ambos os setores

envolvidos no compartilhamento devem prezar pela regular ocupação dos postes, mas

que para solicitar correções, as distribuidoras de energia elétrica devem notificar as

prestadoras de telecomunicações, indicando todas as modificações necessárias. Isto

ocorre, pois, a propriedade dos postes é das empresas distribuidoras de energia

elétrica, que devem manter um cadastro atualizado da ocupação de seus postes (como

prevê o artigo 9º da Resolução Conjunta 04/2014), permitindo uma efetiva fiscalização

e maior acurácia na identificação de cada prestadoras, seja para fins contratuais ou para

responsabilização no caso de irregularidades. Às prestadoras cabe garantir que suas

instalações estão em conformidade com as normas técnicas e regulatórias.

Esta delimitação da propriedade é importante pois a Tomada de Subsídio trata o tema

do compartilhamento como a “Tragédia dos Comuns”. A tragédia dos comuns apenas

ocorre quando existe um bem sobre o qual não há direito de propriedade bem definido,

o dito “bem comum”, que é, ao mesmo tempo, não excludente e rival. Em outras

Page 9: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.8

palavras, não é possível impedir que pessoas usufruam desse bem (não excludente) e

o uso do bem por um indivíduo impede que os demais o usem (rival). Nesse contexto,

a sociedade faz uso excessivo do bem comum, tendendo a exauri-lo. A solução mais

simples para a tragédia dos comuns é atribuir a propriedade do bem comum a um

indivíduo, que teria interesse em gerir a utilização do bem de modo mais eficiente2. O

conceito de “Tragédia dos Comuns” não se adequa à discussão do compartilhamento,

pois a propriedade já está definida, sendo das distribuidoras de energia elétrica.

Desta forma, a adequação da infraestrutura deve considerar as responsabilidades dos

agentes envolvidos (entrante, setor de energia, setor de telecomunicações e entes

públicos, no caso de implementação de políticas públicas relacionadas ao mobiliário

urbano).

Segundo o estudo que orienta a Tomada de Subsídios em análise, há cerca de 48

milhões de postes no Brasil, dos quais 9 milhões necessitariam de adequação. Apesar

desta estimativa ter por objetivo apenas indicar a magnitude do problema de ocupação,

é mister verificar a metodologia empregada nesta mensuração.

É importante que a nova regulamentação só considere como necessária a

adequação dos postes que estão impedindo a ampliação da concorrência (com

todos os pontos de fixação ocupados por poucas empresas) ou apresentem

riscos à segurança. Ainda assim, a quantidade de adequações deve estar limitada

a um teto anual, para que não haja prejuízo financeiro relevante para os agentes

envolvidos, indicando-se as fontes de receita e os responsáveis por tal adequação

(entrante, setor de energia, setor de telecomunicações, ente público, quando for o caso).

Adicionalmente, a discussão acerca da regularização da ocupação desordenada dos

postes das distribuidoras deve estar coordenada com a discussão acerca do

enterramento dos mesmos, política pública que começou a ser implementada em alguns

municípios. Realizar investimentos em adequação de um grupo de postes (retirada de

fios, unificação de pontos, identificação das operadoras, entre outros) para que estes

sejam posteriormente enterrados, faz com que haja desperdício de recursos, uma vez

que, caso eles sejam enterrados, novos investimentos terão que ser feitos por parte de

ambos os setores.

Desta forma, é essencial que haja planejamento sobre adequação e enterramento,

compatibilizando os diversos aspectos de política pública nas esferas envolvidas

2 VARIAN, Hal R. Microeconomia: princípios básicos, Elsevier, 2006, p. 687-691

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Nota Técnica LCA – p.9

(Anatel, ANEEL, Ministério das Comunicações, Ministério de Minas e Energia, Ministério

das Cidades, Municípios, entre outros), para evitar que haja prejuízo financeiro para às

empresas envolvidas, com clara indicação da fonte e disponibilização de recursos

públicos para implementação de tais políticas. Ainda mais considerando-se que há

concessões no setor de telecomunicações e de distribuição que devem ter seu

equilíbrio econômico financeiro preservado, sob pena de se iniciarem diversos

processos de reequilíbrio dos contratos.

Notadamente no contexto atual, de grave crise econômica (ver Box 1), em que há

especial escassez de recursos para investimento, é necessário atenção das autoridades

para maior racionalidade na imposição de esforços por parte tanto do setor privado

quanto do público.

Box 1 - Cenário Econômico

O Brasil registrou em 2015/2016 a pior recessão de sua história, com queda acumulada no PIB

na ordem de 7,0%, após um quadro de desaceleração ocorrido entre 2011 e 2014, conforme

Figura 1.

Figura 1 - PIB (variação real)

Fonte: Fonte: IBGE. Elaboração: LCA Consultores.

Em 2017, o Brasil iniciou o processo de saída da crise, com um crescimento de 1,0%, que se

deu em função de excepcional resultado da Agropecuária (crescimento de 13,0%) e da balança

comercial, que registrou superávit recorde de 67 bilhões de dólares.

A despeito do crescimento de 2017e da projeção de crescimento de 1,5% em 2018, o quadro

fiscal é grave, com a Dívida Pública no patamar de 75% e 5 anos consecutivos de déficits fiscais

nas contas públicas. Isso restringe a capacidade do governo de impulsionar a economia com

gastos públicos, o que faz do investimento privado variável fundamental para a retomada do

crescimento econômico robusto no curto e médio prazo.

6,1%5,1%

7,5%

4,0%

1,9%3,0%

0,5% 1,0%

-0,1%

-3,5% -3,5%

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Média: 4,6% / ano Média: 3,0% / ano Média: -1,4% / ano

Page 11: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.10

Sendo assim, é fundamental a formulação de políticas públicas que estimulem o setor privado e

prezem pela racionalização de seus investimentos, reduzindo perdas e ampliando o bem-estar

social.

A título de exemplo, para enterrar 13,2 km de fios (de 22.503 km na cidade de São

Paulo), a AES Eletropaulo investirá R$ 50 milhões3. A Claro, por sua vez, prevê

investimentos da ordem de R$ 110 milhões de reais para enterrar 38 km, a um custo

médio por de R$ 2,9 milhões. Levantamento feito pela AES Eletropaulo4 e pela revista

“O Setor Elétrico”5 indica que no âmbito internacional, o financiamento do enterramento

é feito mediante rapasse de custos às tarifas de energia ou com um mix de repasse de

custos ao consumidor com investimento do poder público (usualmente o município).

Cumpre destacar a insegurança jurídica neste tema. A Prefeitura de São Paulo havia

determinado o enterramento de 250 km de redes aéreas por ano, decisão suspensa por

medida liminar6. Pode-se destacar também a permissão dada às distribuidoras - pela

Resolução Normativa ANEEL nº 797/20177 - para que retirem cabos das operadoras

que não cumpram o cronograma de adequação estabelecido, ou que sejam

consideradas clandestinas (sem contrato de compartilhamento). Esta medida leva a

uma interrupção no serviço de telecomunicação, impactando diretamente os

consumidores e a atividade econômica, ainda mais considerando que por erros

técnicos ou administrativos, cabos em situação regular possam vir a ser

inutilizados de maneira equivocada.

Sem clareza e razoabilidade na política pública, é de se esperar a judicialização do

tema, o que desvia recursos que seriam melhor aproveitados pela sociedade se

convertidos em investimentos.

3 Disponível em: <http://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=site&UserActiveTemplate=mobile&infoid=48453&sid=4>. Acesso em 26/10/2018. 4 Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/arquivos/PDF/Palestra_3_AES%20Eletropaulo.pdf>. Acesso em 05/11/2018. 5 Disponível em: <http://www.osetoreletrico.com.br/wp-content/uploads/2013/09/ed-90_Fasciculo_Cap-VII-Redes-subterraneas.pdf>. Acesso em 05/11/2018. 6 Disponível em: <http://www.telesintese.com.br/prefeitura-amplia-rede-ser-enterrada-em-sao-paulo-e-desagrada-operadoras>/. Acesso em 26/10/2018. 7 Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2017797.pdf>. Acesso em 05/11/2018.

Page 12: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.11

3. Preço de compartilhamento dos pontos de fixação dos postes de energia elétrica

Conforme mencionado, as Consultas Públicas ANEEL nº 16/2018 e Anatel nº 28/2018

são divididas em dois temas principais: 1) Regularização da ocupação dos postes de

energia elétrica e; 2) Preço de compartilhamento dos pontos de fixação dos postes de

energia elétrica. Esta seção analisa o segundo tema, indicando os princípios

regulatórios do compartilhamento e os efeitos da atual Resolução Conjunta nº 04/2014.

3.1 Princípios do compartilhamento de infraestrutura

Desde a promulgação da Lei Geral das Telecomunicações (Lei8 nº 9.472 de 16 de julho

de 1997) as prestadoras de serviços de telecomunicações passaram a ter explicitado o

direito de utilizar a infraestrutura já instalada das distribuidoras de energia elétrica como

suporte para a oferecer os seus próprios serviços. Segundo o artigo nº 73 da LGT:

as prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse

coletivo terão direito à utilização de postes, dutos, condutos e

servidões pertencentes ou controlados por prestadora de

serviços de telecomunicações ou de outros serviços de interesse

público, de forma não discriminatória e a preços e condições

justos e razoáveis. (grifo nosso)

Este dispositivo se alinha com um dos princípios fundamentais da LGT, que no artigo

2º, incisos I e II determina que:

Art. 2º O Poder Público tem o dever de:

I - garantir, a toda a população, o acesso às telecomunicações,

a tarifas e preços razoáveis, em condições adequadas;

II - estimular a expansão do uso de redes e serviços de

telecomunicações pelos serviços de interesse público em

benefício da população brasileira;

8 Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/legislacao/leis/2-lei-9472>. Acesso em 18/04/2018.

Page 13: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.12

Ao estabelecer que as empresas de telecomunicações podem utilizar a infraestrutura

das distribuidoras de energia elétrica, evita-se a sua duplicação, dando maior viabilidade

econômica aos empreendimentos de expansão de cobertura de serviços de

telecomunicações e evitando que haja custos adicionais desnecessários embutidos nos

preços aos consumidores. Outro efeito positivo é a otimização do mobiliário urbano, sem

a necessidade de mais infraestrutura, notadamente em cidades com grande densidade

populacional, em que espaços se tornam cada vez mais escassos.

Em contrapartida ao uso da infraestrutura do setor de distribuição de energia elétrica,

há o pagamento pelo direito de uso, sendo que o preço estabelecido não deve ser

discriminatório e deve ser justo e razoável. Também, é determinado no artigo 73º,

parágrafo único, que cabe aos órgãos reguladores dos setores de telecomunicações

(Anatel), energia elétrica (ANEEL) e petróleo (ANP) determinar as condições de

compartilhamento. Com base neste dispositivo da LGT, foi promulgada em 24 de

novembro de 1999 a Resolução Conjunta9 nº 1 (ANEEL, Anatel e ANP) que aprova o

“Regulamento Conjunto para Compartilhamento de Infra-Estrutura entre os Setores de

Energia Elétrica, Telecomunicações e Petróleo”.

No entanto, destaca-se que a Resolução Conjunta nº 1/1999 não faz nenhum

comentário acerca da metodologia de cálculo do preço “justo e razoável” descrito no

artigo 73º da LGT, uma vez que determina em seu artigo 21º que os preços a serem

cobrados serão negociados livremente, “observando o princípio da isonomia e da

livre competição”, com a ressalva de que eles “devem assegurar a remuneração do

custo alocado à infraestrutura compartilhada e demais custos percebidos pelo Detentor”

e devem visar a “otimização de recursos e redução de custos operacionais“ (artigo 6º).

O artigo 15º determina que nas negociações não são admitidos comportamentos

prejudiciais à ampla, livre e justa competição.

Caso os entes regulados não entrem em acordo acerca das condições de

compartilhamento, eles podem acionar as Agências reguladoras para arbitrar o conflito

(artigo nº 14, § 2º). O processo arbitral é definido no “Regulamento Conjunto de

Resolução de Conflitos das Agências Reguladoras dos Setores de Energia Elétrica,

9 Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/resolucoes-conjuntas/84-resolucao-conjunta-1>. Acesso em 10/04/2018.

Page 14: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.13

Telecomunicações e Petróleo”, aprovado pela Resolução Conjunta10 nº 2 de 27 de

março de 2001.

Visando o aprimoramento dos mecanismos de solução dos processos de arbitragem,

começou a ser estudada a definição de um preço de referência de compartilhamento

dos postes, através da Consulta Pública Anatel 776/2007 e da Audiência Pública

007/2007 da ANEEL. No entanto, a definição do preço de referência em R 3,19 por

ponto de fixação só foi efetivada em 2014, a partir da promulgação da Resolução

Conjunta11 nº 4 de 16 de dezembro de 2014.

3.2 Impactos da Resolução Conjunta nº 04/2014

A definição de um preço de referência para processos arbitrais tinha por objetivo agilizar

os processos de solução de conflitos, mas também trouxe como benefício a redução da

assimetria negocial existente na definição de contratos de compartilhamento. Como as

distribuidoras de energia elétrica detêm o monopólio natural dos postes em suas

determinadas regiões e estes são essential facilities12, é possível que elas cobrem

valores elevados, acima dos justos e razoáveis (princípios da LGT), uma vez que as

prestadoras de serviços de telecomunicações não podem abdicar do contrato de

compartilhamento sem que haja prejuízo direto à continuidade da prestação dos

serviços.

Com a definição do preço em R$ 3,19 por ponto de fixação, foi possível ao setor de

telecomunicações obter melhores condições de negociação, pois as distribuidoras de

energia elétrica passaram a ter incentivos para negociar valores próximos ao justo e

adequado com o objetivo de evitar os custos de procedimentos arbitrais, que resultariam

em um valor de R$ 3,19 por ponto de fixação.

10 Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/resolucoes-conjuntas/85-resolucao-conjunta-2>. Acesso em 11/04/2018. 11 Disponível em: <http://www.anatel.gov.br/legislacao/resolucoes/resolucoes-conjuntas/820-resolucaoconjunta-4>. Acesso em 18/04/2018. 12 Uma infraestrutura é dita essencial (em inglês, essential facility) se, para operar em um determinado mercado, todo e qualquer participante precisa fazer uso dela. A infraestrutura essencial não é facilmente duplicável, seja por razão de escala ou tecnologia. Entre os exemplos de infraestrutura essencial, destacam-se aeroportos (toda companhia aérea que deseja operar em uma determinada localidade precisa fazer uso do aeroporto que lá existe), portos e redes de transmissão de energia elétrica (MOTTA, Massimo. Competition Policy: theory and practice, Cambridge Univerity Press, 2004, p. 66-68).

Page 15: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.14

Apesar deste importante benefício, o valor de R$ 3,19 foi obtido pela média dos preços

até então praticados, que eram formados em ambiente com as falhas de mercado

supracitadas (monopólio natural detentor de essential facility, que possibilita a cobrança

de valores elevados de compartilhamento).

De acordo com a Nota Técnica13 0185/2013-SRD/SCT/ANEEL, para definição do preço

de referência foram analisados14 461 contratos de compartilhamento de postes, onde

identificou-se que o valor médio ponderado de compartilhamento seria de R$ 2,44 por

ponto de fixação. O Quadro 1 apresenta os valores apurados pela ANEEL.

Quadro 1 - Preços de compartilhamento de postes apurados pela ANEEL

Categoria Preço

Máximo R$ 10,57

Mínimo R$ 0,30

Média R$ 4,54

Média Ponderada R$ 2,44

Desvio Padrão R$ 2,30

Fonte: Nota Técnica 0185/2013-SRD/SCT/ANEEL. Elaboração LCA Consultores.

Na Resolução Conjunta 04/2014, determinou-se o preço de R$ 3,19 por ponto de

fixação ao invés de R$ 2,44, indicando que o valor elaborado em 2009, foi atualizado

monetariamente para 2014, apesar de não estar explícito o índice e nem os períodos de

correção utilizados15.

Depreende-se da metodologia adotada que o preço de referência de compartilhamento

de postes nada mais é do que uma média ponderada dos valores praticados no

mercado. Isto posto, é possível afirmar que o valor de R$ 3,19 por ponto de fixação

adotado na Resolução Conjunta 04/2014 não garante que os princípios de “isonomia e

razoabilidade” definidos na LGT e que devem guiar o compartilhamento de

13 Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/audiencias-publicas?p_auth=tRDU97Io&p_p_id=audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet&p_p_lifecycle=1&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-2&p_p_col_count=1&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_documentoId=11084&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_tipoFaseReuniao=fase&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_javax.portlet.action=downloadAnyFile>. Acesso em 11/04/2018. 14 Analise feita na Nota Técnica nº 0051/2010-SRD/ANEEL. Fonte: Nota Técnica 0185/2013-SRD/SCT/ANEEL. 15 Índices de Inflação entre abril de 2009 e dezembro 2014: IPCA – 38,63%; IGP-M – 36,89%; IGP-DI – 37,72%.

Page 16: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.15

infraestruturas entre os setores de telecomunicações e energia elétrica estão sendo

observados. Ou seja, se em 2009 os preços estavam majorados, a média

ponderada apenas os replicou.

A existência de condições abusivas nos contratos de compartilhamento de infraestrutura

é de conhecimento das Agências desde o início dos estudos sobre o preço de referência

que seria utilizado em processos arbitrais. A Nota Técnica16 n° 0027/2006-SRD-

SRE/ANEEL, de 2006, ressalta:

Com base nos referidos dados, verificou-se o princípio contido

no art. 73 da Lei no 9.472, de 1997, e também do art. 4o do

Anexo da Resolução Conjunta ANEEL/ANATEL/ANP no 001, de

1999, não está sendo respeitado, pois houve tratamento

discriminatório no estabelecimento dos preços nos contratos.

Além disso, o valor de referência estipulado tem como base um levantamento de preços

de compartilhamento em contratos que foi realizado em 2009. Sendo assim, o preço

estabelecido não incorpora o estado da infraestrutura em 2014 e possíveis ganhos de

eficiência e reduções de custos entre os anos de 2009 e 2014. Isto pode gerar

prejuízos tanto para as empresas de telecomunicações como para as empresas

de distribuição de energia, pois, há uma precificação equivocada de seus custos

atuais.

Um preço de compartilhamento elevado implica subsídio cruzado entre os serviços de

telecomunicações e o serviço de distribuição de energia, pois, remunera-se mais do que

apenas os custos associados ao compartilhamento da infraestrutura, aumentando o

preço de um serviço (telecomunicações) e reduzindo o de outro (distribuição). Conforme

a Aneel17:

[...] a cobrança de preços muito elevados proporciona a redução

da tarifa dos consumidores de energia elétrica, porém

16 Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/audiencias-publicas?p_auth=nu3nkcBj&p_p_id=audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet&p_p_lifecycle=1&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-2&p_p_col_count=1&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_documentoId=1226&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_tipoFaseReuniao=fase&_audienciaspublicasvisualizacao_WAR_AudienciasConsultasPortletportlet_javax.portlet.action=downloadAnyFile>. Acesso em: 24/04/2018. 17 Nota Técnica n° 0027/2006-SRD-SRE/ANEEL Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/arquivo/2007/007/documento/nota_tecnica_n%C2%B0_0027_2006-srd-sre_aneel.pdf>. Acesso em 18/04/2018.

Page 17: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.16

subsidiados pelos usuários dos serviços de telecomunicações.

(Nota Técnica no 0027/2006-SRD-SRE/ANEEL, p.4)

Com preços elevados, também não se garante a otimização de recursos e redução de

custos operacionais, princípio presente no artigo 6º da Resolução Conjunta nº 1/1999.

A seção 3.3 apresenta com mais detalhes os parâmetros que devem guiar o preço de

compartilhamento e explica de maneira mais completa as questões envolvendo a

modicidade tarifária.

3.3 Metodologia para aferição do preço de compartilhamento

Entende-se que o preço justo por ponto de fixação deve remunerar os custos incorridos

no compartilhamento, sem que haja lucro econômico (acima do WACC regulado). Desta

forma, garante-se que as empresas detentoras da infraestrutura não incorrerão nem em

prejuízo e nem em lucro econômico com as receitas de compartilhamento, preservando-

se os princípios de razoabilidade e não discriminação definidos na LGT.

Segundo entendimento da LCA, a metodologia de cálculo do preço de referência deve

considerar a projeção de custos que a distribuidora de energia elétrica terá com o

compartilhamento ao longo da vida útil do poste, mensurados através de um

investimento inicial (CAPEX) e custos operacionais (OPEX), incluindo impostos sobre

receita (PIS/COFINS,ICMS e ISS, por exemplo) e impostos sobre renda (IR/CSLL),

conforme Fórmula 1.

Esta fórmula sintetiza os cálculos que são feitos por meio de um fluxo de caixa de

investimento, ou seja, da projeção de investimentos, custos e receitas ao longo da vida

útil do poste. Como os contratos são menores do que a vida útil dos postes, os custos

podem ser estimados para o prazo do contrato, se garantido que os investimentos e

depreciação18 sejam amortizados pela vida útil do poste.

Assim, a conta expressa na Fórmula 1 garante que não haverá lucro com as receitas de

compartilhamento, pois o VPL do fluxo de caixa será zero. Cumpre destacar que esta

18 A amortização do investimento entra no fluxo de caixa como uma despesa, enquanto que a depreciação é utilizada somente para fins de cálculo do Imposto de Renda. A amortização do investimento é estimada pela função FRC (ver fórmula 1) que retorna um valor mensal.

Page 18: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.17

fórmula já está simplificada para deixar a receita líquida em função dos demais

parâmetros.

Fórmula 1- Metodologia Sugerida

(1) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 =𝑉𝑃𝐿 (𝐶𝐴𝑃𝐸𝑋) − 𝑉𝑃𝐿(𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜)

1 − 𝑇+ 𝑉𝑃𝐿(𝑂𝑃𝐸𝑋) + 𝑉𝑃𝐿(𝐷𝑒𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑎çã𝑜)

(2) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 =𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎

1 − 𝑡

(3) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 𝑀𝑒𝑛𝑠𝑎𝑙 𝑇𝑒𝑙𝑒𝑐𝑜𝑚 = 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 ∗ 𝐹𝑅𝐶 ∗ 𝐹𝑈; onde 𝐹𝑅𝐶 =𝑖(1+𝑖)𝑛

(1+𝑖)𝑛 −1

(4) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 𝑀𝑒𝑛𝑠𝑎𝑙 𝑝𝑜𝑟 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑜 =𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 𝑀𝑒𝑛𝑠𝑎𝑙 𝑇𝑒𝑙𝑒𝑐𝑜𝑚

𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑃𝑜𝑛𝑡𝑜𝑠

Onde: -

CAPEX = Investimento em implantação da infraestrutura

OPEX = outros custos com manutenção da infraestrutura e compartilhamento

FU = fator de ponderação dos custos e investimentos em função da área ocupada pelo ponto de fixação

n = tempo de vida útil da infraestrutura, em meses

FRC = remuneração do investimento

i = WACC regulado do setor elétrico

t = Impostos indiretos (sobre receita) T = Impostos diretos (sobre lucro)

Com o objetivo de avaliar o impacto de um cálculo de VPL = 0 com dados reais, e

compará-lo com o preço de referência de R$ 3,19/ponto de fixação a LCA utilizou dados

da perícia realizada por Urubatan N. Simões de Barros (CREA 1792/D-DF). Para

elaborar os cálculos, a LCA adotou alguns parâmetros com base na regulação do setor

de distribuição de energia elétrica, conforme explicado abaixo.

A vida útil do poste, identificada como “n” na Fórmula 1, é aquela definida pela

regulamentação da ANEEL, que conforme a Tabela XVI do Anexo19 à Resolução

Normativa20 nº 674 de 11 de agosto de 2015, é de 28 anos, dado que a taxa anual de

depreciação é de 3,57% ao ano.

19 Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/aren2015674_2.pdf>. Acesso em 18/06/2018. 20 Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015674.pdf>. Acesso em 18/06/2018.

Page 19: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.18

No que se refere ao WACC regulado do setor elétrico (parâmetro “i”), o PRORET

determina no submódulo21 2.4, revisão 2.0, o valor de 8,09% ao ano para as

distribuidoras de energia elétrica. Assim, foi o valor utilizado para integrar o parâmetro

FRC e que garante que não haverá lucro econômico por parte das distribuidoras de

energia elétrica. Conforme divulgado pela ANEEL22, esta taxa será válida até dezembro

de 2019.

O parâmetro Fator de Utilização (FU) é relativo à área ocupada pelas empresas de

telecomunicações no poste e serve como um ponderador do CAPEX e OPEX incorrido

pelas distribuidoras. A LCA avalia que a área relativa às empresas de telecomunicações

em um poste padrão (especificado na Nota Técnica23 no 51/2010-SRD/ANEEL 24) é de

19,23% (ver Erro! Fonte de referência não encontrada.). Para estimar o valor de cada

ponto dividiu-se 19,23% pelo número de pontos que podem ser ocupados em um poste.

Cumpre destacar que a fórmula adotada pela LCA não precifica fatores de mercado

como a concorrência pela infraestrutura, ou seja, um poste em um local de alta demanda

deverá ter seu valor calculado da mesma forma (CAPEX e OPEX) que um poste em um

local afastado, de baixa demanda. A fórmula preserva aquilo que se entende como

necessário ser remunerado pelo setor de telecomunicações na infraestrutura

compartilhada, sem lucro econômico.

O valor pago pelas operadoras de telecomunicações deve ser a justa medida para

remunerar a infraestrutura, para que não haja subsídio cruzado entre serviços. Caso

contrário, a tarifa de energia elétrica estaria sendo subsidiada pelo setor de

telecomunicações, em caso de sobreprecificação do poste. Tampouco deve afetar a

precificação da infraestrutura compartilhada regras específicas do setor elétrico

como, por exemplo, a modicidade tarifária. Caso contrário, haveria relevante

incerteza regulatória para o setor de telecomunicações advinda de políticas do setor de

energia elétrica.

21 Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/aren2015648_Proret_Submod_2_4_V2.pdf>. Acesso em 18/06/2018. 22 Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/sala-de-imprensa/-/asset_publisher/zXQREz8EVlZ6/content/id/16314125>. Acesso em 19/06/2018. 23 Última Nota Técnica conhecida sobre o tema. 24 Disponível em: < http://www.consultaesic.cgu.gov.br/busca/dados/Lists/Pedido/Attachments/455510/RESPOSTA_PEDIDO_NT_0051-2010_SRD.pdf >. Acesso em 18/06/2018.

Page 20: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.19

Hoje, por exemplo, por determinação exclusiva da ANEEL25, 60% das receitas de

compartilhamento da infraestrutura devem ser destinadas, obrigatoriamente, para a

modicidade tarifária do setor elétrico, ou seja, para redução da tarifa de energia.

Entende-se que isso em nada deve afetar a remuneração da infraestrutura

compartilhada, que deve ser definida exclusivamente pelo seu custo, e não pela

destinação da receita. Caso contrário, havendo qualquer mudança nesse percentual

de destinação obrigatória, haveria um efeito imediato no setor de telecomunicações,

deixando os agentes e usuários sujeitos a riscos não gerenciáveis, advindos de outro

setor.

Portanto, a fórmula supracitada não deve contemplar o fator de compartilhamento

da modicidade tarifária. Caso contrário, o valor do ponto estimado pela metodologia

expressa na Fórmula 1 seria dividido por 40%, fazendo com que o compartilhamento

fique mais caro. Vale lembrar que preços de compartilhamento que remuneram mais do

que os custos das distribuidoras geram subsídio cruzado entre os setores.

Isto posto, foram selecionados os seguintes itens de custo calculados pelo perito

mencionado acima:

1. CAPEX:

a) Custo Global do Poste Típico = R$ 812,78

b) Mão de obra de Instalação = R$ 1.329,22

2. OPEX

a) Manutenção Regular = R$ 3,57/mês

b) Manutenção Adicional = R$ 0,36/mês

c) Custos indiretos = R$ 0,31/mês

O Fator de Utilização aplicado pela LCA foi o de 19,23%, conforme

25 Procedimento de Regulação Tarifárias – PRORET, submódulo 2.7. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/aren2016754_Proret_Submod_2_7_V4.pdf>. Acesso em 11/04/2018.

Page 21: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.20

Anexo I. O WACC regulado, é de 8,09% ao ano (0,65% a.m.) e a vida útil do poste é de

28 anos (336 meses) conforme já explicado.

A formula elaborada pela LCA contempla o cálculo do VPL do OPEX, assim, assumiu-

se como premissa que o OPEX é constante ao longo do tempo em termos reais. Na

prática, aplica-se o valor de R$ 4,24 ao mês ao longo de 336 meses. Com estas

premissas e dados construiu-se o seguinte exercício:

Fórmula 2 - Exercício com dados periciais

1) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑎 =(𝑅$ 2.142) − (𝑅$ 869)

1 − 0,34+ (𝑅$ 578) + (𝑅$ 869) = 𝑅$ 3.376

(2) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 =𝑅$ 3.376

1 − 0,0925 − 0,05= 𝑅$ 3.937

(3) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 𝑀𝑒𝑛𝑠𝑎𝑙 𝑇𝑒𝑙𝑒𝑐𝑜𝑚 = 𝑅$ 3.937 ∗ 0,73% ∗ 19,23% = 𝑅$ 5,55

(3.1) 𝐹𝑅𝐶 =0,0065 ∗ (1 + 0,0065)336

(1 + 0,0065)336 − 1= 0,73%

(4) 𝑅𝑒𝑐𝑒𝑖𝑡𝑎 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑎 𝑀𝑒𝑛𝑠𝑎𝑙 𝑝𝑜𝑟 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑜 =𝑅$ 5,55

5= 𝑅$ 1,11

O resultado estimado pela LCA com base nos dados laudo pericial indica que o setor de

telecomunicações deve remunerar as distribuidoras em R$ 5,55/mês. Este valor foi

rateado pelo número de pontos que o poste comporta (não apenas o que está

efetivamente ocupado). Assumimos 5 pontos em um poste, de forma que o preço de

aluguel de cada ponto é de R$ 1,11/mês, no ano de 2014.

Isso demonstra que o valor de R$ 3,19 pode, em alguns casos, representar prejuízos

importantes para as prestadoras de serviços de telecomunicações. É de se esperar que

qualquer valor que seja fixo a nível nacional irá gerar estas distorções. Quanto mais

regionalizado for o cálculo, menor as chances de gerar prejuízos para ambos os setores.

Ao se estimar o preço de compartilhamento por meio de uma metodologia que analisa

o custo das distribuidoras, permite-se que aquelas que operem em regiões cuja a

prestação do serviço é mais cara possa cobrar um valor mais elevado do que outra que

opera em uma região com menor nível de custos. Isso garante que não haverá prejuízo

para nenhum agente, seja do setor de telecomunicações, seja do setor de distribuição

de energia elétrica.

É importante que os parâmetros utilizados para a definição desse preço de

compartilhamento sejam definidos de forma conjunta entre os setores envolvidos, com

Page 22: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.21

transparência, para que, a despeito da possibilidade de custos regionalizados, haja a

segurança de harmonia em método e critérios.

Considerações Finais

A Resolução Conjunta nº 04/2014 é resultado de um processo de regulamentação do

compartilhamento de infraestruturas entre os setores de distribuição de energia elétrica

e serviços de telecomunicações, iniciado a partir de determinação da Lei Geral de

Telecomunicações, artigo 73º. Este artigo define que as empresas de telecomunicações

têm o direito de utilizar a infraestrutura já instalada pertencente às distribuidoras de

energia elétrica, “de forma não discriminatória e a preços e condições justos e

razoáveis”.

A negociação entre as partes dos dois setores é livre, podendo ser arbitrada pela Anatel,

ANEEL e ANP caso não haja acordo. Com vistas a facilitar este procedimento, a

Resolução Conjunta nº 04/2014 determina um preço de referência que pode ser utilizado

pelas Agências, fixado em R$ 3,19 por ponto de fixação. Este preço de referência

reduz as falhas de mercado decorrentes da situação em que o setor de energia

elétrica detém monopólio natural de uma essential facility (poste), tendo

condições para cobrar valores elevados de compartilhamento, em desalinho com

os princípios regulatórios que devem nortear tal precificação.

Apesar dos benefícios do preço de referência, que reduz a assimetria negocial entre os

setores, há aprimoramentos possíveis. Na análise dos procedimentos que levaram ao

valor de R$ 3,19, no caso, dos documentos anexos na Audiência Pública ANEEL nº

007/2007 e nas Consultas Públicas nº 776/2007 e 30/2013 da Anatel, conclui-se que a

metodologia utilizada não garante as condições justas, não discriminatórias e os preços

razoáveis determinados na LGT, assim como não garante a otimização de recursos e

redução de custos operacionais, conforme determinado no artigo 6º da Resolução

Conjunta nº 1/1999.

Page 23: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.22

Para o cálculo do preço de referência foi utilizado uma média ponderada dos valores

praticados em contratos entre as distribuidoras de energia elétrica e as empresas de

telecomunicações em 2009. O valor encontrado foi de R$ 2,44 por ponto de fixação, que

foi atualizado monetariamente para o valor de R$ 3,19 em 2014. Ao adotar esta

metodologia, a ANEEL definiu um preço de compartilhamento que incorporou os valores

praticados pelas distribuidoras de energia, que já era de conhecimento da Agência

serem excessivos, conforme explicitado na Nota Técnica n° 0027/2006-SRD-

SRE/ANEEL. No que se refere à atualização monetária entre 2009 e 2014, a Aneel

acaba por onerar as empresas de telecomunicações e remunerar as distribuidoras com

base em parâmetros desatualizados, podendo impor prejuízos para ambos os setores.

A LCA estimou, com base em dados periciais, que o valor de compartilhamento por

ponto de fixação em um caso específico é de R$ 1,11/mês (valores de 2014),

significativamente menor do o valor determinado pela Resolução Conjunta nº 04/2014,

de R$ 3,19/mês. Isso demonstra que preço de referência atual não é adequado para

todos os casos e que os preços de compartilhamento deve levar em conta questões

regionais e serem orientados pelos custos das distribuidoras, sem lucro econômico

(acima do Wacc). Não se deve incluir no preço de compartilhamento o parâmetro da

modicidade tarifária, sob risco de transferir os riscos da alteração de políticas do setor

de distribuição de energia para o setor de telecomunicações. A definição do preço de

compartilhamento deve ser guiada pelo critério de custos, sem sofrer efeito sobre regras

a respeito da destinação da receita.

Desta forma, garante-se que as distribuidoras serão remuneradas na justa medida

do custo da infraestrutura compartilhada, evitando que haja subsídio cruzado entre

os dois setores em função de um lucro excessivo. Assim, a metodologia sugerida

preserva os princípios legais e regulatórios estabelecidos pela LGT e pela Resolução

Conjunta nº 01/1999.

É importante que os parâmetros utilizados para a definição desse preço de

compartilhamento sejam definidos de forma conjunta entre os setores envolvidos, com

transparência, para que, a despeito da possibilidade de custos regionalizados, haja a

segurança de harmonia em método e critérios.

No que diz respeito ao tema da regularização do passivo de ocupação desordenada,

entende-se que tanto o setor de energia elétrica (proprietário dos postes) como o setor

de telecomunicações (usuário) devem prezar pela ocupação regular dos postes. Sendo

assim, não se pode tratar a temática do compartilhamento como a “Tragédia dos

Page 24: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.23

Comuns”, como sugere a Tomada de Subsídios. A Tragédia dos Comuns apenas

ocorre quando um ativo cuja propriedade não é bem delimitada é utilizado pelos agentes

até sua exaustão, pois, se não há proprietário, não há incentivos para investimentos

individuais para preservação do ativo. Nestes casos, o poder público deve atuar para

regulamentar o acesso a tal ativo. Conforme mencionado, a propriedade do poste é

bem delimitada, pertencendo às concessionárias do serviço distribuição de

energia elétrica, que tem incentivos para preservar os seus ativos.

Soma-se a esse debate a questão do enterramento de infraestrutura, o montante de

investimentos necessários para sua execução e a insegurança jurídica a ele

relacionado. Exigir a adequação de postes que serão posteriormente enterrados gera

um custo perdido para a sociedade. Desta forma, é de suma importância que o

regulamento de adequação de postes seja coordenado com as políticas de

enterramento de redes aéreas, com a devida indicação de recursos públicos para

este fim.

A título de exemplo, para enterrar 13,2 km de fios (de 22.503 km na cidade de São

Paulo), a AES Eletropaulo investirá R$ 50 milhões. A Claro, por sua vez, prevê

investimentos da ordem de R$ 110 milhões de reais para enterrar 38 km. O custo médio

por km estimado pela Claro é de R$ 2,9 milhões. É notável, portanto, os impactos

econômicos de uma política de adequação-enterramento descoordenada terão sobre

ambos os setores, que se torna ainda mais prejudicial em um ambiente econômico

deteriorado.

Recomenda-se, neste cenário, que a adequação ocorra sempre por demanda (de novo

entrante ou por questões de segurança), identificando-se as fontes de recurso para este

fim, entre os agentes envolvidos (entrante, telecomunicações, energia elétrica e

recursos públicos, quando for o caso), com a indicação de cronograma de adequação

máximo, para o melhor planejamento dos agentes, conferindo mais segurança ao

ambiente de negócios.

Page 25: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.24

Anexo I

A ANEEL, por meio da Nota Técnica26 no 51/2010-SRD/ANEEL, propõe com base na

NBR 15.688/2009 e na NBR 15.214/2005 as diretrizes para a ocupação dos postes

pelas distribuidoras de energia elétrica e empresas de telecomunicações. Segundo a

nota técnica, o poste pode ser dividido em sete partes, conforme Erro! Fonte de

referência não encontrada..

Figura 2 - Delimitação da área dos postes, segundo a ANEEL

Fonte: ANEEL. Nota Técnica no 51/2010-SRD/ANEEL. Elaboração LCA Consultores.

Com base nestes dados, a ANEEL sugere a seguinte fórmula para calcular o Fator de

Utilização de telecomunicações.

Fórmula 3 - Cálculo ANEEL para o Fator de Utilização

𝐹𝑈 =𝐻𝑡𝑒𝑙 + [(

𝐻𝑡𝑒𝑙𝐻𝑡𝑒𝑙 + 𝐻𝑒𝑙 + 𝐻𝑐

) × (𝐻𝑠𝑒𝑔 + 𝐻𝑠 + 𝐻𝑒𝑛𝑔)]

𝐻𝑇

26 Última Nota Técnica conhecida sobre o tema.

Hc: é a faixa destinada à instalação de cruzetas, sem considerar a derivação de ramal Hel: é a faixa destinada aos cabos elétricos Hseg: é a distância de segurança entre cabos de energia e de telecomunicações Htel: é a faixa de ocupação dos cabos de telecomunicações Hs: é a distância mínima de fixação do cabo de telecomunicações do solo Heng: é a faixa de engastamento do poste Ht: é a altura total do poste

Page 26: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.25

Fonte: Nota Técnica 51/2010-SRD/ANEEL. Elaboração LCA Consultores.

O Fator de Utilização segundo a Erro! Fonte de referência não encontrada. é de

19,23%. Na prática, este resultado é o mesmo que considerar o cálculo do Fator de

Utilização apenas como uma divisão simples entre a área de telecomunicações (Htel)

pela área útil do poste (Htel + Hel + Hc). Importante destacar que esta fórmula de cálculo

incorpora contribuições realizadas nas audiências ANEEL 007/2007 e Consultas

Públicas 776/2007 e 30/2013 da Anatel. Conforme mencionado, as Agências não

prosseguiram com esta metodologia de cálculo, fixando o preço de compartilhamento

em R$ 3,14 por ponto de fixação.

Cláudia Viegas

Diretora de Regulação Econômica

Doutora em Economia

João Vitor Marchi

Analista de Projetos

Fernando Malateaux Sakon

Gerente de Projetos

Page 27: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.26

Ficha técnica

Considerações sobre compartilhamento de postes entre o setor de

telecomunicações e de distribuição de energia elétrica: Nota

Técnica – Consulta Pública Anatel nº 28/2018 e ANEEL nº 16/2018

(Tomada de Subsídios para AIR)

Equipe técnica

Cláudia Viegas – Diretora de Regulação Econômica. Doutora em Economia.

Fernando Sakon – Gerente de Projetos. Economista.

João Marchi – Analista Pleno. Economista.

Page 28: Considerações sobre compartilhamento de infraestrutura

Nota Técnica LCA – p.27

LCA Consultores

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