conselho de contribuintes do estado de minas … · 21.861/15/3ª 4 disponibilizado no diário...

12
CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS 21.861/15/3ª 1 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB Acórdão: 21.861/15/3ª Rito: Ordinário PTA/AI: 01.000189815-32 Impugnação: 40.010134088-52 Impugnante: White Martins Gases Industriais Ltda IE: 186616449.01-90 Proc. S. Passivo: Sérgio Introcaso Capanema Barbosa/Outro(s) Origem: DF/BH-3 - Belo Horizonte EMENTA MERCADORIA ENTRADA DESACOBERTADA - DOCUMENTO FISCAL NÃO CORRESPONDENTE À OPERAÇÃO. Imputação fiscal de que o contribuinte emitiu, sem previsão na legislação, notas fiscais de entrada para acobertar o recebimento, em devolução, de mercadorias entregues a contribuintes obrigados à emissão de documentos fiscais, acarretando a desclassificação das referidas notas fiscais, bem como as exigências de ICMS, Multa de Revalidação e Multa Isolada, capituladas nos art. 56, inciso II e no art. 55, inciso II, alínea "a", ambos da Lei 6.763.75. Entretanto, a acusação fiscal não se encontra condizente com a ocorrência fática constatada, uma vez que não houve a ocorrência do fato gerador do ICMS, mas sim a emissão de nota fiscal sem previsão na legislação tributária. Lançamento improcedente. Decisão unânime. RELATÓRIO A presente autuação diz respeito à constatação de que o Contribuinte, no período de 03/09/10 a 31/12/12, promoveu a entrada de mercadorias desacobertadas de documentação fiscal, tendo em vista a emissão, sem previsão na legislação, de notas fiscais de entrada para acobertar o recebimento, em devolução, de mercadorias entregues a contribuintes obrigados à emissão de documentos fiscais. Exigências de ICMS, Multa de Revalidação prevista no art. 56, inciso II e Multa Isolada capitulada no art. 55, inciso II, alínea "a", ambos da Lei nº 6.763.75. Inconformada, a Autuada apresenta, tempestivamente e por procurador regularmente constituído, Impugnação às fls. 23/64, juntando documentos às fls. 66/388. Requer, ao final, a procedência da impugnação. A Fiscalização, em manifestação de fls. 392/398, refuta as alegações da Defesa. Requer a procedência do lançamento.

Upload: vuonghanh

Post on 11-Feb-2019

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 1 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

Acórdão: 21.861/15/3ª Rito: Ordinário

PTA/AI: 01.000189815-32

Impugnação: 40.010134088-52

Impugnante: White Martins Gases Industriais Ltda

IE: 186616449.01-90

Proc. S. Passivo: Sérgio Introcaso Capanema Barbosa/Outro(s)

Origem: DF/BH-3 - Belo Horizonte

EMENTA

MERCADORIA – ENTRADA DESACOBERTADA - DOCUMENTO FISCAL

NÃO CORRESPONDENTE À OPERAÇÃO. Imputação fiscal de que o

contribuinte emitiu, sem previsão na legislação, notas fiscais de entrada para

acobertar o recebimento, em devolução, de mercadorias entregues a contribuintes

obrigados à emissão de documentos fiscais, acarretando a desclassificação das

referidas notas fiscais, bem como as exigências de ICMS, Multa de Revalidação e

Multa Isolada, capituladas nos art. 56, inciso II e no art. 55, inciso II, alínea "a",

ambos da Lei 6.763.75. Entretanto, a acusação fiscal não se encontra condizente

com a ocorrência fática constatada, uma vez que não houve a ocorrência do fato

gerador do ICMS, mas sim a emissão de nota fiscal sem previsão na legislação

tributária.

Lançamento improcedente. Decisão unânime.

RELATÓRIO

A presente autuação diz respeito à constatação de que o Contribuinte, no

período de 03/09/10 a 31/12/12, promoveu a entrada de mercadorias desacobertadas de

documentação fiscal, tendo em vista a emissão, sem previsão na legislação, de notas

fiscais de entrada para acobertar o recebimento, em devolução, de mercadorias

entregues a contribuintes obrigados à emissão de documentos fiscais.

Exigências de ICMS, Multa de Revalidação prevista no art. 56, inciso II e

Multa Isolada capitulada no art. 55, inciso II, alínea "a", ambos da Lei nº 6.763.75.

Inconformada, a Autuada apresenta, tempestivamente e por procurador

regularmente constituído, Impugnação às fls. 23/64, juntando documentos às fls.

66/388.

Requer, ao final, a procedência da impugnação.

A Fiscalização, em manifestação de fls. 392/398, refuta as alegações da

Defesa.

Requer a procedência do lançamento.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 2 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

A Assessoria do CC/MG determina a realização da diligência de fls.

403/404, que resulta na manifestação da Fiscalização de fls. 406/412.

Em seguida, a Assessoria exara despacho interlocutório e determina nova

diligência às fls. 414/415.

A Autuada se manifesta às fls. 424/430, juntando documentos às fls.

431/585.

A Fiscalização, em cumprimento à diligência proposta pela Assessoria,

intima a Autuada nos termos do documento de fls. 589/593.

Responde a Fiscalização, às fls. 595/642, aos questionamentos levantados

pela Assessoria, promovendo, também, juntada de documentos.

Intimada da juntada dos documentos, a Autuada manifesta-se às fls.

670/677.

A Fiscalização manifesta-se às fls. 679/680.

Por fim, a Assessoria, em parecer fundamentado e conclusivo sobre o

mérito, opina pela improcedência do lançamento.

DECISÃO

Do Mérito

Os fundamentos expostos no parecer da Assessoria do CC/MG foram os

mesmos utilizados pela Câmara para sustentar sua decisão e por esta razão passam a

compor o presente Acórdão, salvo pequenas alterações.

Conforme relatado, a acusação fiscal trata da constatação de que o

contribuinte, no período de 03/09/10 a 31/12/12, emitiu, sem previsão na legislação,

notas fiscais de entrada para acobertar o recebimento, em devolução, de mercadorias

entregues a contribuintes obrigados à emissão de documentos fiscais.

Nesse sentido, ainda segundo a acusação fiscal, em razão da falta de

documento fiscal hábil para acobertar as mercadorias recebidas em devolução, os

documentos fiscais foram desclassificados, exigindo-se o pagamento de ICMS, Multa

de Revalidação prevista no inciso II do art. 56 da Lei nº 6.763/75 e Multa Isolada

capitulada art. 55, inciso II, alínea "a" do citado diploma legal.

A Fiscalização sustenta que nos procedimentos de vendas para contribuintes

do imposto, realizadas fora do estabelecimento, com emissão das respectivas notas

fiscais de entrega das mercadorias, a devolução deve necessariamente ser acobertada

por documento fiscal emitido pelo contribuinte destinatário.

Por sua vez, a Autuada sustenta que nas operações de venda ambulante, em

que houve erro no valor ou na quantidade de mercadoria discriminada nas notas fiscais

emitidas para entrega das mercadorias, ela emite notas fiscais de entrada simbólicas tão

somente para sanar a irregularidade cometida na emissão dos documentos fiscais, sem

que tenha havido novamente circulação física das mercadorias, concomitantemente

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 3 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

com a emissão de novas notas fiscais, também simbólicas, de saídas das mercadorias

para correção dos erros.

Essa, portanto, em apertada síntese, a controvérsia que permeia o

lançamento.

Primeiramente, é importante estabelecer o marco teórico da matéria tratada

no lançamento.

Em operações de vendas realizadas fora do estabelecimento, o contribuinte

deve emitir nota fiscal para acompanhar a mercadoria em seu transporte, com destaque

do imposto, se devido, devendo, ainda, o transporte ser acompanhado pelos

documentos fiscais que serão emitidos quando da venda e entrega da mercadoria aos

destinatários, documentos esses previamente discriminados na nota fiscal utilizada para

acompanhar o transporte.

Essa previsão encontra-se disciplinada no art. 78 do Anexo IX do

RICMS/02, in verbis:

Art. 78. Na saída de mercadoria para realização

de operações fora do estabelecimento, inclusive

por meio de veículo, o contribuinte emitirá nota

fiscal, em seu próprio nome, para acompanhar a

mercadoria no seu transporte.

§ 1º A nota fiscal conterá os números das notas

fiscais a serem emitidas por ocasião da entrega

das mercadorias e será o documento hábil para a

escrituração no livro Registro de Saídas, com o

respectivo débito do imposto.

§ 2º O bloco utilizado para emissão da nota

fiscal na entrega de mercadoria será distinto

daquele em uso para emissão da nota fiscal com o

fim de acobertar o transporte e para documentar o

retorno da mercadoria, podendo, opcionalmente,

ser adotada seriação específica.

§ 3º O contribuinte que operar por intermédio de

preposto fornecerá, ao mesmo, documento

comprobatório dessa condição.

§ 4º Na hipótese de contribuinte que, para o

acobertamento das operações relativas ao comércio

ambulante, emitir documentos fiscais por Sistema

de Processamento Eletrônico de Dados (PED) nos

termos do �:

I - a nota fiscal de que trata o caput deste

artigo deverá indicar:

a) o número dos formulários a serem utilizados

para emissão das notas fiscais a serem emitidas

por ocasião da entrega das mercadorias;

b) o número das notas fiscais a que se refere a

alínea anterior;

II - o contribuinte deverá utilizar, na entrega

da mercadoria, notas fiscais de série distinta

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 4 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

para cada equipamento utilizado na emissão dos

documentos por PED.

§ 5º Na hipótese prevista no § 1º deste artigo,

para fins de apuração da receita bruta da

microempresa ou empresa de pequeno porte serão

consideradas as notas fiscais relativas às

operações efetivamente realizadas.

Por outro lado, a legislação tributária estadual estabelece normas a serem

observadas pelos contribuintes, em relação a erros cometidos na emissão de

documentos fiscais.

Nesse sentido, foi editada a Instrução Normativa DLT/SRE nº 03/1992 com

o seguinte teor:

INSTRUÇÃO NORMATIVA DLT/SRE Nº 03, DE 22 DE

DEZEMBRO DE 1992

(MG de 29 e rep. em 31)

O DIRETOR DA DIRETORIA DE LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

DA SUPERINTENDÊNCIA DA RECEITA ESTADUAL, no uso

de suas atribuições, e tendo em vista o disposto

no artigo 24 da Consolidação da Legislação

Tributária Administrativa do Estado de Minas

Gerais (CLTA/MG), aprovada pelo Decreto nº

23.780, de 10 de agosto de 1984, e

considerando a impossibilidade de aproveitamento,

pelo remetente, de crédito de imposto estornado

pelo destinatário da mercadoria ou do serviço, em

razão de lançamento a maior no documento fiscal

relativo à operação ou prestação;

considerando o direito do contribuinte de ter

restituída importância indevidamente paga aos

cofres do Estado, nos termos do artigo 171 do

Regulamento do Imposto sobre Operações Relativas

à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de

Serviços de Transporte Interestadual,

Intermunicipal e de Comunicação (RICMS);

considerando a necessidade de uniformização de

procedimentos relativamente a erros ocorridos na

emissão de documentos e na escrituração de livros

fiscais, e da correta aplicação das normas

tributárias, RESOLVE baixar a seguinte Instrução

Normativa:

1 - O contribuinte que emitir documento fiscal

com irregularidade meramente formal, assim

entendida aquela que não resulte em modificação

do débito do ICMS devido, deverá promover as

correções necessárias, dando conhecimento ao

destinatário, por meio de correspondência (carta

de correção), observado o disposto nas alíneas do

inciso XI do artigo 108 do RICMS.

2 - O valor indevidamente pago a título de ICMS,

em razão de evidente erro de fato ocorrido na

escrituração dos livros fiscais ou no

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 5 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

preenchimento da guia de arrecadação (GA), poderá

ser aproveitado como crédito, nos termos do

artigo 171 do RICMS, devendo o contribuinte:

2.1 - proceder ao creditamento mediante

lançamento no campo 007 - Outros Créditos, do

livro Registro de Apuração do ICMS (RAICMS),

anotando a origem do erro na coluna

"Observações", no período de sua constatação;

2.2 - comunicar o fato à repartição fazendária de

sua circunscrição no prazo de 10 (dez) dias,

contado da efetivação do lançamento.

3 - Tratando-se de emissão de documento fiscal

que consigne quantidade de mercadoria ou valor

inferior ao da efetiva operação:

3.1 - o remetente deverá emitir documento fiscal

complementar, correspondente à diferença de

quantidade ou de valor, nos termos do inciso III

do artigo 176 do RICMS, fazendo constar o motivo

da emissão e o número da nota fiscal original,

promovendo sua escrituração juntamente com as

demais operações do período.

3.2 - se o documento fiscal complementar não for

emitido no mesmo período de apuração em que tenha

sido emitido o documento original, a diferença do

ICMS deverá ser paga em GA distinta, acrescida da

respectiva atualização monetária, de multa de

mora e de juros moratórios, calculados nos termos

da Resolução nº 2.220, de 20 de fevereiro de

1992, sendo que:

a - a GA deverá conter a informação do motivo de

sua emissão e números dos documentos fiscais

original e complementar;

b - na via do documento fiscal presa ao talonário

deverá constar que o pagamento se deu em guia de

arrecadação distinta, consignando o número e data

da mesma;

3.3 - o destinatário deverá escriturar o

documento fiscal previsto nos subitens

anteriores, podendo creditar-se do imposto

respectivo, nos casos previstos no RICMS;

3.4 - na hipótese de devolução de mercadoria

recebida em excesso, o destinatário emitirá nota

fiscal correspondente à diferença, com débito do

imposto.

4 - Tratando-se de emissão de documento fiscal

que consigne quantidade de mercadoria ou valor

superior ao da efetiva operação:

4.1 - o destinatário deverá:

a - escriturar o documento fiscal e apropriar-se

do respectivo crédito, se for o caso, pelo valor

real da operação, fazendo constar essa

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 6 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

circunstância na coluna "Observações" do livro

Registro de Entrada (RE);

b - comunicar o fato ao remetente, por meio de

correspondência;

4.2 - o ICMS pago a maior poderá ser objeto de

restituição, observado o disposto nos artigos 36

a 41, da Consolidação da Legislação Tributária

Administrativa do Estado de Minas Gerais

(CLTA/MG), aprovada pelo Decreto nº 23.780, de 10

de agosto de 1984, mediante requerimento dirigido

à Administração Fazendária (AF) de circunscrição

do requerente, devendo, ainda, ser instruído com:

a - declaração do destinatário de que não efetuou

a apropriação do crédito relativo a diferença,

devendo citar o valor a maior, o ICMS

correspondente, o número, a série e a data do

documento fiscal originário;

b - cópia reprográfica das páginas do RE e do

RAICMS, onde foram feitos os lançamentos

correspondentes ao documento fiscal previsto no

subitem 4.1 devidamente autenticadas pela

repartição fazendária da circunscrição do

destinatário;

4.3 - é vedado o aproveitamento do excesso de

crédito constante de documento fiscal, superior

ao ICMS devido pelo valor real da operação, bem

como a emissão de nota fiscal simbólica, pelo

destinatário, referente a diferença de valor ou

quantidade de mercadoria.

5 - o disposto nos itens 3 e 4 aplica-se, no que

couber, na regularização em virtude de

irregularidade relacionada à emissão de documento

relativo a prestação de serviço de transporte e

comunicação.

6 - O disposto nesta Instrução Normativa não se

aplica ao contribuinte que estiver sob ação

fiscal iniciada antes de sanada a irregularidade.

7 - Esta Instrução Normativa entra em vigor na

data de sua publicação e revoga as disposições em

contrário, em especial as orientações decorrentes

de processos de consulta. (Grifou-se)

Diretoria de Legislação Tributária, em Belo

Horizonte, aos 22 de dezembro de 1992.

Cumpre ressaltar que, diante de peculiaridades das operações de venda, no

caso de não se adaptarem às previsões gerais expressas da legislação, pode o

contribuinte postular, junto à SEF/MG, autorização para adoção de regime especial

com previsão de procedimentos que viabilizem suas atividades, nos termos previstos

nos dispositivos que regem a matéria.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 7 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

Em assim sendo, o Regulamento do Processo e dos Procedimentos

Tributários Administrativos – RPTA, aprovado pelo Decreto nº 44.747/08 prevê a

possibilidade de autorização de regimes especiais nos seguintes termos:

Art. 49. Os regimes especiais de tributação e os

que versem sobre emissão, escrituração e dispensa

de documentos fiscais, de caráter individual,

dependem de requerimento do interessado, por meio

do SIARE, sendo denominados Processo Tributário

Administrativo Eletrônico/Regime Especial (e-PTA-

RE).

Art. 50. O regime especial será concedido:

I - para atender às peculiaridades do interessado

no que se refere às operações ou prestações

envolvidas, caso em que o interessado demonstrará

as circunstâncias que justifiquem o procedimento

que se pretende adotar;

II - nas hipóteses previstas no regulamento do

tributo.

Em que pese a acusação fiscal em questão tratar de entrada de mercadorias

desacobertadas, verifica-se, a partir da análise de toda a sistemática de procedimentos

adotados pela Autuada, que se trata, na realidade, de emissão de documentos fiscais de

entrada e de saída, de forma simbólica, para corrigir distorções na emissão de

documentos fiscais.

Nesse sentido, imperioso trazer à análise, os arts. 1º, 12 e 20 do Anexo V do

RICMS, que estabelecem, de forma exaustiva, as hipóteses em que devem ser emitidas

notas fiscais:

Art. 1º Os estabelecimentos, inclusive o de

produtor rural inscrito no Cadastro de

Contribuintes do ICMS, emitirão Nota Fiscal,

modelo 1 ou 1-A, ou Nota Fiscal Eletrônica (NF-

e), modelo 55:

I - sempre que promoverem a saída de mercadorias;

II - na transmissão da propriedade das

mercadorias, quando estas não devam transitar

pelo estabelecimento transmitente;

III - sempre que, no estabelecimento, entrarem

bens ou mercadorias, real ou simbolicamente, nas

hipóteses do � desta Parte.

(...)

Art. 12. A nota fiscal será emitida:

I - antes de iniciada a saída da mercadoria;

II - no momento do fornecimento de alimentação,

bebida ou outra mercadoria, em restaurante, bar,

café e estabelecimento similar;

III - antes da tradição real ou simbólica da

mercadoria, no caso de transmissão de propriedade

de mercadoria ou de título que a represente,

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 8 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

quando esta não transitar pelo estabelecimento

transmitente;

IV - antes da tradição real ou simbólica da

mercadoria, no caso de ulterior transmissão de

propriedade de mercadoria que, tendo transitado

pelo estabelecimento transmitente, deste tenha

saído sem o pagamento do IPI e ICMS, em

decorrência de locação ou de remessa para

armazém-geral ou depósito fechado, hipótese em

que serão mencionados o número, série e data da

nota fiscal emitida anteriormente, por ocasião da

saída da mercadoria;

V - pela entrada de bens ou mercadorias, na forma

prevista nos � desta Parte.

(...)

Art. 20. O contribuinte emitirá nota fiscal

sempre que em seu estabelecimento entrarem, real

ou simbolicamente, bens ou mercadorias:

I - novos ou usados, remetidos a qualquer título

por pessoas físicas ou jurídicas não obrigadas à

emissão de documentos fiscais;

II - em retorno, quando remetidos por

profissionais autônomos ou avulsos, aos quais

tenham sido enviados para industrialização,

observado o disposto no § 1º deste artigo;

III - em retorno de exposições ou feiras, para as

quais tenham sido remetidos exclusivamente para

fins de exposição ao público, observado o

disposto no § 1º deste artigo;

IV - em retorno de remessas feitas para venda

fora do estabelecimento, inclusive por meio de

veículo, observado o disposto no § 3º deste

artigo;

V - em retorno quando não forem entregues ao

destinatário, hipótese em que conterá as

indicações do número, da série, da data da

emissão e do valor do documento original;

VI - importados diretamente do exterior ou

adquiridos em licitação promovida pelo Poder

Público, observado o disposto no §1° deste artigo

e no �;

VII - em decorrência de operações com trânsito

livre previstas neste Regulamento;

VIII - nas hipóteses dos incisos I a IV, VI e VII

deste caput, no momento da aquisição da

propriedade, quando os bens e mercadorias não

devam transitar pelo estabelecimento do

adquirente;

IX -

X - para regularização do recolhimento do

imposto, relativamente à despesa, inclusive

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 9 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

aduaneira, conhecida após o desembaraço aduaneiro

e aos impostos federais suspensos, quando houver

a cobrança desses pela União;

XI - em decorrência de operação acobertada por

Nota Fiscal Avulsa a Consumidor Final;

XII - em outras hipóteses previstas na

legislação.

XIII - para regularização, em virtude de

quantidade de mercadoria ou preço superior ao

indicado no documento fiscal emitido pelo

remetente produtor rural pessoa física na

hipótese prevista no �.

(...)

§ 3º - Na hipótese do inciso IV do caput deste

artigo, a nota fiscal conterá, ainda, no campo

"Informações Complementares", as seguintes

indicações:

I - o valor das operações realizadas fora do

estabelecimento, no Estado;

II - o valor das operações realizadas fora do

estabelecimento, em outra unidade da Federação;

III - os números e as séries, se for o caso, das

notas fiscais emitidas por ocasião das entregas

das mercadorias.

Considerando-se os pressupostos legais e os procedimentos fiscais

realizados pela Autuada, verificam-se algumas constatações.

O procedimento do Sujeito Passivo de emitir notas fiscais simbólicas, de

entrada e saída, para corrigir distorções na emissão das notas fiscais de entrega das

mercadorias na venda ambulante, não encontra respaldo na legislação.

Pelo contrário, verifica-se que existe vedação expressa, conforme subitem

4.3 da Instrução Normativa DLT/SRE nº 03/1992, ainda que seja para o destinatário da

mercadoria.

Porém, se existe vedação para o destinatário, observa-se que não existe

autorização expressa para o remetente, no caso, a Autuada.

A referida Instrução Normativa nº 03/1992, traz muito bem definidos os

procedimentos que devem ser observados nas situações que motivaram a emissão das

notas fiscais simbólicas pelo Sujeito Passivo e que geraram o lançamento em questão.

Reiterando, se os procedimentos definidos pela legislação não atendem às

especificidades das operações realizadas pela Autuada, deve ser requerida autorização,

por intermédio de regime especial, para adoção de procedimentos que contemplem as

operações por ela realizadas.

Por outro lado, a acusação fiscal levada a efeito no lançamento – emissão de

documentos fiscais, em desacordo com a legislação, para acobertar entrada de

mercadorias devolvidas por contribuintes do imposto – não guarda correspondência

com os fatos constatados, considerando-se que não houve circulação de mercadorias.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 10 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

Nesse sentido, na simples emissão de notas fiscais de entrada e saída

simbólicas, para corrigir erros de documentos fiscais, não ocorre o fato gerador do

imposto, que enseje a exigência de ICMS em relação à emissão da nota fiscal de

entrada, nem tampouco exigência de imposto decorrente de responsabilidade solidária

prevista no inciso VII do art. 21 da Lei nº 6.763/75 (responsabilidade pelo imposto

decorrente da saída de mercadoria do contribuinte destinatário), conforme capitulado

pela Fiscalização no lançamento.

As hipóteses em que ocorre o fato gerador do imposto encontram-se

relacionadas no art. 6º da Lei nº 6.763/75, sendo que o procedimento adotado pela

Autuada não se encontra contemplado dentre elas.

Observa-se que a matéria que permeia a discussão e acarreta os

procedimentos realizados pelo Contribuinte, além do lançamento promovido pela

Fiscalização, é o princípio ou regra constitucional da não cumulatividade do imposto.

Esse princípio cuida de uma operação contábil, na qual, do valor a ser

recolhido a título de tributo, são deduzidos os montantes pagos em relação ao mesmo

produto nas fases pretéritas do processo produtivo ou da cadeia de circulação da

mercadoria.

O conceito de não cumulatividade pressupõe a existência de fatos geradores

que componham uma cadeia econômica, formada por várias operações. Isso porque a

não cumulatividade visa a evitar o efeito “cascata” da tributação, compensando-se o

valor referente ao tributo recolhido nas operações anteriores com o valor a ser

recolhido na operação ora considerada.

A própria Constituição da República estabelece de forma literal que o ICMS

será não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa à

circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas

anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal.

Voltando-se, pois, aos procedimentos que acarretaram o lançamento, ao

Contribuinte é vedado emitir documento fiscal que não corresponda a uma operação,

destacar o imposto e se creditar do mesmo em sua escrita fiscal sem que tenha havido

uma operação anterior onde esse mesmo imposto tenha sido “cobrado”, para legitimar

o crédito subsequente.

Percebe-se que a Autuada se apropriou de créditos do imposto que não

possuíam lastro (“cobrança” em operação antecedente) para legitimar o procedimento.

Por outro lado, a exigência de ICMS pela Fiscalização, em relação às notas

fiscais de entrada “desclassificadas”, não tem o condão de legitimar a apropriação dos

respectivos créditos pela Autuada, tendo em vista que nessa emissão simbólica de nota

fiscal não há ocorrência de fato gerador do imposto.

A “cobrança” do imposto prevista no texto constitucional, para efeito de

atender à regra da não cumulatividade do imposto, somente se aperfeiçoa nas situações

em que ocorre o fato gerador do imposto.

Dessa forma, percebe-se que os equívocos cometidos pelo Sujeito Passivo

acarretaram a infração de apropriação indevida de créditos do imposto e não a

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 11 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

ocorrência de fato gerador a ensejar a exigência de imposto na emissão de nota fiscal

de entrada simbólica.

Outro aspecto que merece abordagem é o relativo à penalidade por

descumprimento de obrigação acessória.

Considerando-se que não houve ocorrência de entrada de mercadorias

desacobertadas e sim emissão equivocada de nota fiscal de entrada simbólica, com

apropriação do crédito de ICMS correspondente, a infração cometida encontra respaldo

em uma das duas penalidades previstas nos incisos III e IV do art. 55 da Lei nº

6.763/75, in verbis:

Art. 55. As multas para as quais se adotarão os

critérios a que se referem os incisos II a IV do

art. 53 desta Lei são as seguintes:

(...)

III- por emitir documento fiscal que não

corresponda efetivamente a uma saída de

mercadoria, a uma transmissão de propriedade

desta ou ainda a uma entrada de mercadoria no

estabelecimento - 40% (quarenta por cento) do

valor da operação indicado no documento fiscal;

IV - por utilizar crédito do imposto decorrente

de registro de documento fiscal que não

corresponda à utilização de prestação de serviço

ou ao recebimento de bem ou mercadoria - 40%

(quarenta por cento) do valor da operação

indicado no documento fiscal;

De todo o exposto anteriormente, ainda que o Sujeito Passivo não tenha

procedido nos termos da legislação tributária mineira, podendo ter causado distorções

na apropriação de créditos do imposto pelos destinatários das mercadorias, tendo em

vista a emissão de mais de uma nota fiscal com destaque do imposto para uma mesma

operação, ainda assim, o lançamento não se sustenta, por exigir ICMS de operação que

não é fato gerador, ao invés de combater a apropriação indevida dos respectivos

créditos do imposto, além de exigir penalidade por descumprimento de obrigação

acessória inaplicável à espécie.

Diante do exposto, ACORDA a 3ª Câmara de Julgamento do CC/MG, à

unanimidade, em julgar improcedente o lançamento, nos termos do parecer da

Assessoria do CC/MG. Pela Impugnante, sustentou oralmente o Dr. Thiago Carlos de

Carvalho e, pela Fazenda Pública Estadual, o Dr. Gabriel Arbex Valle. Participaram do

julgamento, além dos signatários, os Conselheiros Bernardo Motta Moreira (Revisor) e

Luciana Mundim de Mattos Paixão.

CONSELHO DE CONTRIBUINTES DO ESTADO DE MINAS GERAIS

21.861/15/3ª 12 Disponibilizado no Diário Eletrônico em 27/11/2015 - Cópia WEB

Sala das Sessões, 14 de outubro de 2015.

Eduardo de Souza Assis

Presidente

Cindy Andrade Morais

Relatora

T