conselho da liga dos estados Árabes de 2003 · necessário que os líderes árabes debatam e...
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Conselho da Liga dos Estados Árabes de 2003
Reunião Emergencial sobre a Crise no Iraque
Ana Luiza Dias Lobo Diretora
Írven Árabe Fonseca Xavier
Diretor Assistente
Paolla Imaculada Garcia Marques Diretora Assistente
Thaís Vieira Kierulff
Diretora Assistente
SUMÁRIO
1 CARTA DE APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 1
2 INTRODUÇÃO AO TEMA ...................................................................................................... 2
3 CONTEXTO HISTÓRICO ....................................................................................................... 3
3.1 A Primeira Guerra do Golfo .................................................................................................. 3
3.2 1990-2002: o desarmamento e o regime de sanções ao Iraque ............................................ 4
3.3 Os Estados Unidos e sua percepção de ameaça após 11 de setembro ................................. 6
4 A LIGA DOS ESTADOS ÁRABES (LEA) .............................................................................. 8
4.1 O Conselho da Liga dos Estados Árabes ............................................................................. 10
5 PACTO DA LEA E OS CONFLITOS ARMADOS .............................................................. 10
6 O CENÁRIO ATUAL .............................................................................................................. 11
7 POSICIONAMENTOS DOS PRINCIPAIS ATORES ......................................................... 12
7.1 Iraque ...................................................................................................................................... 12
7.2 Kuwait .................................................................................................................................... 13
7.3 Egito ........................................................................................................................................ 14
7.4 Jordânia .................................................................................................................................. 14
7.5 Síria ......................................................................................................................................... 15
7.6 Arábia Saudita ....................................................................................................................... 16
7.7 Líbia ........................................................................................................................................ 16
8 QUESTÕES RELEVANTES .................................................................................................. 17
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 18
“O homem tem que estabelecer um final para a
guerra, senão, a guerra estabelecerá um final para a
humanidade.”
(John. F. Kennedy)
1 CARTA DE APRESENTAÇÃO
Senhores delegados,
Meu nome é Ana Luiza Lobo e este ano serei diretora do Conselho da Liga dos Estados
Árabes – 2003. É com enorme satisfação que entrego aos senhores o fruto de um trabalho árduo
que vem sendo idealizado e desenvolvido há quase um ano por mim, minha equipe e pela
coordenação do MINIONU. Espero que com nossos esforços possamos transmitir parte da
paixão que nos incita a trabalhar ano após ano na realização e no crescimento desse evento,
buscando na superação e na excelência de parâmetros para fazer cada experiência com o modelo
inesquecível.
Esse projeto surgiu não só graças a meu grande interesse por questões de segurança e
conflitos internacionais, mas, além disso, pela percepção de que o Oriente ainda não é
completamente explorado durante o Ensino Médio pela grande maioria dos alunos. Dessa forma,
percebi na possibilidade de simular a Liga Árabe, um grande potencial de crescimento
acadêmico, cultural e pessoal para um público que vem estudando a história mundial a partir de
um olhar essencialmente ocidental. Assim, decidi unir em um único projeto as questões de
segurança internacional e a tentativa de explorar perspectivas de um acontecimento histórico
recente.
Tendo o projeto pronto para sua execução, tive o apoio inestimável dos diretores
assistentes Thaís Kierulff, Paolla Marques e Írven Xavier, alunos de Relações Internacionais,
profundamente interessados pela questão tratada no projeto e extremamente competentes. Sem a
ajuda deles, posso afirmar que a realização do comitê não seria possível. Além disso, devo
apontar a atuação da coordenação e da equipe de logística do MINIONU em suas funções de
orientação, organização e planejamento. É o entusiasmo e profissionalismo desses estudantes que
são o motivo pelo qual esse projeto chega a seus 15 anos de existência com um legado de
sucesso.
Desejo que nesta edição comemorativa o Conselho da Liga dos Estados Árabes consiga
fazer justiça ao nome do MINIONU, oferecendo uma experiência engrandecedora aos que dele
participarem. A vocês, delegados, desejo bons estudos e muita dedicação para o desafio que nos
propomos a enfrentar. Que venha o MINIONU 15 anos!
Ana Luiza Lobo
2 INTRODUÇÃO AO TEMA
Desde os atentados de 11 de setembro 2001, “o nível de hostilidade no Oriente Médio e
no mundo muçulmano atingiu níveis sem precedentes” (FUKUYAMA, 2006). As recentes
declarações por parte da administração Bush de que o Estado iraquiano possui arsenais de
armamentos de destruição em massa e que, por conseguinte, há a necessidade de realização de
uma intervenção armada na região podem ser consideradas um dos grandes desafios do pós-
Guerra Fria. Desde o ano passado tem havido uma grande movimentação diplomática por parte
dos Estados Unidos (EUA), em especial no âmbito das Nações Unidas, em função de seu desejo
de realizar uma intervenção armada ao Iraque (FUKUYAMA, 2006).
As alegações americanas, apesar de graves, não são compartilhadas por grande parte da
comunidade internacional. Estados como a Rússia, a China e a França, membros permanentes do
Conselho de Segurança das Nações Unidas1, Estados de grande peso político no contexto
internacional, capazes de vetar os esforços em direção a uma empreitada bélica, vem se opondo
às intenções americanas. Além disso, a opinião pública não tem cedido às habilidades
argumentativas dos EUA (FUKUYAMA, 2006).
Há dois dias, 20 de março de 2003, após um ultimato do presidente estadunidense,
George W. Bush, iniciou-se uma campanha militar no Iraque2. A cidade de Bagdá tem sido alvo
de ataques aéreos, e informações divulgadas pela mídia tem apontado para a morte de civis nos
últimos dois dias3. Durante o primeiro dia das operações, o presidente iraquiano, Saddam
Hussein, dirigiu-se a seu povo por meio de um discurso, afirmando que o Iraque resistirá aos
invasores e que triunfará diante do mal que os afronta4.
Havendo a concretização da ameaça de intervenção armada na região do Golfo, é
necessário que os líderes árabes debatam e posicionem-se em relação à crise atual. É imperativo
que se crie, no âmbito da Liga dos Estados Árabes, uma atmosfera que permita que os meios
diplomáticos sejam perseguidos, de modo a aplacar qualquer intenção de ação violenta na região.
A possibilidade de um conflito afeta não somente o Iraque, mas toda a estabilidade política,
1 Funções e atribuições do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU): http://www.brasil-cs-onu.com/o-
conselho/funcoes-e-competencias/; Membros do CSNU: http://www.brasil-cs-onu.com/o-conselho/membros/. 2 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=vr7OKqqTb_o>.
3Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Px8Z8wp7CpM>,
<http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/2866969.stm>. 4 Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/2867235.stm>.
social e econômica regional.
3 CONTEXTO HISTÓRICO
Para melhor compreender a situação que o Iraque vive atualmente, é imprescindível que
se conheça seus antecedentes históricos, uma vez que a situação atual enfrentada no Oriente
Médio muito tem a ver com o curso da política externa estadunidense em direção ao Iraque após
a Primeira Guerra do Golfo (1990-1991) (POLLACK, 2002). Dessa forma, os itens a seguir
tratarão do período compreendido entre 1990 até os dias atuais, expondo a dinâmica do Mundo
Árabe e as relações entre Ocidente e Oriente ao longo dos anos.
3.1 A Primeira Guerra do Golfo
Os fatores que levaram ao cenário vivido hoje no Oriente Médio, em especial no que
tange às atuais ameaças americanas de invasão ao território iraquiano, remontam à Primeira
Guerra do Golfo, em 1991. Nessa ocasião, durante o início da década de 1990, o Iraque utilizou-
se do recurso da força, desatendendo normas e regras do direito internacional, para realizar uma
invasão ao Kuwait. Saddam Hussein executou essa ação sob uma série de acusações, afirmando
que esse país havia reduzido o preço de mercado do petróleo e extraído esse recurso ilegalmente
de poços iraquianos. Além disso, Hussein afirmava que o Kuwait era uma província de seu país e
que vinha agindo como um “agente do mundo capitalista” (ZAHREDDINE; LASMAR;
TEIXEIRA, 2012).
Com o início das hostilidades, tidas como ilegais, as reações da comunidade internacional
tornaram-se intensas. No contexto do Mundo Árabe, o início da Guerra do Golfo foi responsável
pela fuga de cerca de trezentas mil pessoas para a Arábia Saudita (KEEGAN, 2005), sendo este
país um dos principais responsáveis por solicitar a atuação mais contundente dos organismos
internacionais. A atuação iraquiana causava inquietação em todo o Oriente Médio, não somente
pela proliferação do uso da força de forma ilegal, mas pela desestabilização da região do Golfo e
pelos efeitos nocivos que isso causaria ao mercado de petróleo (MARCUS, KUNG; 2003).
Diante dessa situação, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Conselho
de Segurança, aprovou uma série de resoluções contrárias à ação iraquiana5 (MILLER,
MYLROIE, 1991). Dentre as determinações do Conselho, destacam-se a condenação da invasão,
a retirada das tropas invasoras, o estabelecimento de negociações, o bloqueio naval ao Estado
Iraquiano e o embargo ao comércio do agressor. Em novembro, enfim, foi aprovada uma
intervenção militar por meio da Resolução 6786 do Conselho de Segurança da ONU, que visava
à retirada das tropas iraquianas no território vizinho utilizando-se de “todos os meios
necessários” (KEEGAN, 2005).
Com o aval do Conselho de Segurança, os Estados Unidos organizaram uma coalizão de
Estados dispostos a por em prática o que fora estabelecido na Resolução 6787. Em menos de um
ano as tropas iraquianas haviam sido derrotadas e o caos começava a se instalar no Iraque, com
movimentos revoltosos ao sul e ao norte do país. Nesse cenário, o líder iraquiano, Saddam
Hussein, conseguiu calar as movimentações e, mesmo diante do revés enfrentado no Kuwait,
afirmava que a sobrevivência do regime e a manutenção da soberania iraquiana eram provas da
vitória moral do Estado árabe (KEEGAN, 2005).
Pode-se dizer que a Primeira Guerra do Golfo foi um evento particularmente relevante
por dois motivos: representou uma das mais proeminentes intervenções ocidentais no Oriente
Médio e fez com que as relações entre Iraque e os demais países da região, em especial as
grandes lideranças regionais, tornassem-se mais tensas, tendo um grande impacto nas dinâmicas
da política árabe (BLANCHARD, 2009).
3.2 1990-2002: o desarmamento e o regime de sanções ao Iraque
Com o início da Guerra do Golfo, em 1990, a relação entre o Iraque e as Nações Unidas
abalou-se consideravelmente. Assim, já em agosto de 1990, iniciou-se uma série de sanções
contra o Estado iraquiano, em grande medida fomentada pelo interesse estadunidense de conter
suas investidas em direção ao Kuwait e dar início a um processo de desarmamento (LOPEZ;
CORTRIGHT, 2004). Em 1991, enfim, com o encerramento do conflito por meio de um cessar-
5 Entre as resoluções do Conselho de Segurança contrárias à invasão iraquiana pode-se destacar as resoluções: 660,
661, 662, 664, 666, 667, 670, 674 e 678.
7 Disponível em: <http://daccess-dds
ny.un.org/doc/RESOLUTION/GEN/NR0/575/28/IMG/NR057528.pdf?OpenElement>.
fogo previsto na resolução 6878 do Conselho de Segurança, deu-se início a um regime de
inspeções aos arsenais iraquianos, buscando detectar e eliminar artefatos nucleares e biológicos,
utilizando-se, para tanto, dos esforços da Comissão Especial da ONU (UNSCOM) e da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) (BLIX, 2004).
Diante da imposição do Conselho de Segurança, inúmeras inspeções foram realizadas
entre 1991 e 1998, objetivando o desmantelamento do poderio de destruição em massa iraquiano
de forma sistemática (LOPEZ; CORTRIGHT, 2004). Nesse mesmo período, sanções foram
impostas ao Iraque, impedindo-o de exportar petróleo até que houvesse a erradicação de seus
programas considerados ilegais (BLIX, 2004). É importante notar, todavia, que o regime de
sanções fez mais que incentivar a cooperação iraquiana diante das inspeções e permitir
concessões relativas ao desarmamento: na verdade, seu impacto foi catastrófico em termos
econômicos e humanitários, impedindo que o país pudesse realizar obras de reconstrução pós-
guerra (GORDON, 2010).
A relação entre o Iraque e o Conselho de Segurança teve inúmeros atritos ao longo da
década de 1990, em grande medida pela desconfiança por parte do país árabe em relação às
inspeções. Em alguns momentos, o Iraque resistiu aos esforços da UNSCOM, negando acesso a
áreas consideradas “delicadas” em termos de soberania e segurança nacional, e até mesmo
rejeitando o trabalho de inspetores americanos a serviço das Nações Unidas, dando início a uma
crise em 1998, que só fora solucionada a partir de uma revisão das áreas inspecionadas e da
alegação de que o Iraque cooperaria com a Comissão (BLIX, 2004). Posteriormente, graças à
atitude iraquiana, descrita em um relatório da UNSCOM que afirmava a não-cooperação por
parte do país em relação a suas atividades, os Estados Unidos, com o apoio do Reino Unido,
deram início à Operação Raposa do Deserto, atacando alvos iraquianos de 17 a 20 de dezembro
(BLIX, 2004)
Após o bombardeio no Iraque em 1998 e acusações de que os Estados Unidos estariam
utilizando as inspeções como mecanismos para obter informações privilegiadas a respeito do
país, o Estado árabe passou a olhar com maior desconfiança para a UNSCOM. Assim, houve a
necessidade, cada vez mais urgente, de se reestruturar os mecanismos da comissão. Como
resultado, em 1999 criou-se a Comissão das Nações Unidas de Vigilância, Verificação e Inspeção
(UNMOVIC), buscando dar maior credibilidade aos trabalhos da ONU, sem, contudo, obter
8 Disponível em <http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/687(1991)>.
grande êxito em relação ao Iraque (BLIX, 2004).
De 1999 a 2000, a atitude iraquiana passou a ser de buscar o fim das sanções que
afetavam sua economia e condenavam sua população à miséria. Sua estratégia era perseguir
mecanismos que levassem à satisfação dos interesses nas Nações Unidas, mas,
concomitantemente, livrassem o Iraque do estrangulamento econômico (BLIX, 2004).
Contudo, em 2001, com a ascensão do governo Bush, o fim, ou pelo menos a
flexibilização do regime de sanções, foi frustrado graças à desconfiança de que o Iraque
intencionava reconstruir a infraestrutura de armamentos (BLIX, 2004). Assim, o governo
estadunidense, no âmbito do Conselho de Segurança, iniciou o que se chamou de “regime de
sanções „inteligentes‟”, que visava implementar sanções que não agredissem o bem-estar da
população em geral, mas bloqueasse armamentos e fornecimentos militares (LOPEZ;
CORTRIGHT, 2004). A reestruturação do regime de sanções foi particularmente interessante
para os Estados Unidos, uma vez que forçou o Iraque, meses mais tarde, a acatar as decisões
expressas na Resolução 14419 do Conselho de Segurança, de 2002, que previa o desarmamento e
a cooperação iraquiana em temos mais duros que na resolução 687, de 1991, além de reconstruir
o consenso em relação às sanções ao Iraque (LOPEZ; CORTRIGHT, 2004).
3.3 Os Estados Unidos e sua percepção de ameaça após 11 de setembro
O início do século XXI, em especial os atentados de 11 de setembro, inaugurou uma fase
bastante particular da política externa norte-americana, na qual as percepções de ameaça foram
vigorosamente alteradas, de modo que se reestruturou a Estratégia de Segurança Nacional (NSS)
americana, criando a Doutrina Bush. Esse documento reconhece o critério da iminência,
afirmando que, em caso de uma ameaça constituída e iminente, é possível que haja o emprego da
força preventiva (BYERS, 2007).
A ameaça nuclear representada pela posse de armas de destruição em massa (ADMs) por
parte de países do Oriente Médio tornou-se cada vez mais concreta para o governo
estadunidense. Existe uma crença real de que há relação entre o regime de Saddam Hussein e
grupos tidos como terroristas que podem, eventualmente, utilizar esse poderio bélico contra os
Estados Unidos. A justificativa para a invasão deve-se, em grande medida, à percepção de que há
9 Disponível em: < http://www.un.org/Depts/unmovic/new/documents/resolutions/s-res-1441.pdf.>.
a necessidade de autodefesa, mesmo que não haja, por enquanto, a materialização da ameaça
(FUKUYAMA, 2006).
A administração Bush tem declarado que o governo iraquiano possui artefatos de
destruição em massa que vem sendo desenvolvidos e armazenados ao longo da última década. A
atual estratégia americana é a guerra preventiva na região, que visa desarticular o poder local e
encontrar os armamentos, livrando os Estados Unidos e o mundo da ameaça que Saddam
Hussein poderia representar (FLANAGAN, SCHEAR; 2008). Nesse cenário, a postura defensiva
do Iraque no que concerne às inspeções realizadas pela AIEA e pela própria ONU tornou-se um
fator que levou ao incremento dos esforços dos EUA, em parceria com o Reino Unido, para que
se iniciasse uma intervenção no país (BLIX, 2004).
EUA e Reino Unido têm buscado a aprovação de uma resolução que permita a ação
militar no Iraque. Todavia, as tentativas tem sido infrutíferas graças à grande oposição dos
demais membros permanentes do Conselho de Segurança, como França e Rússia, que não veem
com bons olhos o uso da força e a obstrução da soberania do Estado iraquiano10
(FUKUYAMA,
2006). As investidas americanas em direção ao Iraque, mesmo enquanto mantiveram-se em nível
diplomático, tem sido vistas, de modo geral, com maus olhos pela ONU e pela sociedade
internacional.
Recentemente, o presidente Bush realizou um discurso dando um ultimado de 48h para o
líder iraquiano, Saddam Hussein, retirar-se do Iraque, afirmando que, caso isso não ocorresse,
haveria a intervenção armada no país11
. Em 20 de março, a ameaça foi concretizada diante da
recusa de Hussein em deixar seu território: iniciou-se a operação Iraqi Freedom, realizada por
meio de ataques aéreos, seguidos de uma ofensiva terrestre através do Kuwait (CARNEY, 2011),
como pode ser observado no mapa a seguir:
10
É importante notar, quando falamos de “soberania” em termos de conflito e paz, que “na Idade Moderna, com a
formação de grandes Estados territoriais, fundamentalmente na unificação e na concentração do poder, cabe
exclusivamente ao soberano a tarefa de garantir a paz entre os súditos de seu reino e a de uni-los para a defesa e o
ataque contra o inimigo estrangeiro. O soberano pretende ser exclusivo, onicompetente e onicompreensivo, no
sentido de que somente ele pode intervir em todas as questões e não permitir que outros decidam (...)” (BOBBIO;
MATTEUCCI; PASQUINO, 2007) 11
Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=1Xycyq2j8JI.>.
MAPA I – Operação Iraqi Freedom
Fonte: CARNEY, 2011
4 A LIGA DOS ESTADOS ÁRABES (LEA)
Inúmeras foram as tentativas de integração regional entre os Estados Árabes ao longo do
século XX. De fato, é possível perceber, em meio à complexidade que caracteriza as relações
internacionais do Oriente Médio, um constante debate acerca da integração regional e do
estabelecimento de maior unidade entre os povos árabes (FERABOLLI, 2009). É perceptível a
busca por um projeto político adaptado à realidade árabe, capaz de contrapor a forte influência
ocidental, num processo que almeja a renovação da cultura árabe como meio para o progresso e
para o estabelecimento de maior comunicação entre os Estados (MASSOULIE, 1996).
A Liga dos Estados Árabes, nesse contexto, fundada em 1945 por sete dos atuais vinte e
dois membros, deve ter seu merecido destaque como pioneira no processo de integração regional
do Oriente Médio (FARABOLLI, 2009). A organização formou-se antes mesmo do fim da
Segunda Guerra Mundial e da consolidação da Organização das Nações Unidas, sendo uma das
primeiras instituições internacionais consolidadas no pós-Guerra. Diferentemente da maioria dos
outros arranjos regionais similares, os laços que unem os Estados-membros da Liga são
essencialmente culturais, tendo sua expressão maior no domínio da língua, o árabe (TOFFOLO,
2008). Essa organização formou-se a partir do desenvolvimento dos ideais pan-arabistas, o
chamado nacionalismo árabe (FARABOLLI, 2009). Segundo Farabolli (2009), “esses
movimentos brandavam por um „despertar árabe‟ – a emergência de uma identidade árabe”.
IMAGEM I – Membros da Liga Árabe
Fonte: BBC, 2014
A Liga foi criada com o propósito de estreitar as relações entre Estados árabes
independentes12
e coordenar ações políticas nas mais diversas áreas, como economia, saúde,
cultura e bem-estar social (LEAGUE OF ARAB STATES, 1945). A organização busca ampliar a
capacidade de participação política dos Estados da região em questões regionais e globais a partir
da criação de canais de comunicação. A Liga espera inibir ações de dominação externa na região
e consolidar-se como um ambiente no qual os Estados-membros podem debater e tratar suas
rivalidades (TOFFOLO, 2008). A organização possui uma estrutura complexa, que compreende
inúmeros conselhos, agências e comitês que gerenciam diversas áreas de atuação, desde
preservação da cultura, desenvolvimento industrial e agrícola, até questões de saúde pública e
promoção da segurança regional (TOFFOLO, 2008).
4.1 O Conselho da Liga dos Estados Árabes
O Conselho, órgão máximo da Liga, é composto por representantes de todos os Estados e
tem como função supervisionar a execução das tarefas que a organização se propõe. Ademais,
esse organismo visa determinar meios de cooperação internacional, inclusive com outras
organizações, além de buscar garantir a paz e a segurança internacional e coordenar relações
econômicas e sociais. Além disso, o Conselho também tem como função a mediação de disputas
entre Estados, adotando uma postura conciliadora, evitando o conflito armado (LEAGUE OF
ARAB STATES, 1945).
Nas reuniões desse órgão, geralmente realizadas em março e em setembro, podendo haver
reuniões extraordinárias se requerido por dois ou mais membros, ou em casos previstos no Pacto
da Liga dos Estados Árabes, cada membro tem direito a um voto. Em questões de máxima
importância é desejável que haja unanimidade para que a decisão torne-se vinculante a todos dos
membros, caso contrário somente os que votaram a favor de uma determinada medida devem
comprometer-se com o estabelecido (TOFFOLO, 2008).
5 PACTO DA LEA E OS CONFLITOS ARMADOS
12
A Autoridade Nacional Palestina é reconhecida pela organização como membro pela Liga dos Estados Árabes
desde 1945, uma vez que considera-se sua existência internacional e independência não podem ser questionadas.
O Pacto da Liga dos Estados Árabes13
, assinado em 1945, previa a criação da
organização. Seus artigos definem Estados-membros, objetivos, estrutura organizacional, meios
de tomada de decisão, entre outros (LEAGUE OF ARAB STATES, 1945). O artigo 6 do Pacto
prevê a postura da organização diante de um cenário belicoso14
, afirmando a necessidade de um
encontro imediato, emergencial, do Conselho. Nesse concílio, os representantes devem
determinar meios para repelir a agressão (LEAGUE OF ARAB STATES, 1945).
Todavia, durante a invasão iraquiana ao Kuwait, em 1990, a Liga Árabe expôs suas
graves fissuras internas. Diante da intervenção externa, apoiada por alguns e rechaçada por
outros membros da organização, o Mundo Árabe viu-se dividido. Enquanto alguns países
opunham-se fortemente às ações ocidentais na região, países como a Arábia Saudita e o Egito
apoiaram a intervenção da coalizão liderada pelos Estados Unidos. Nesse cenário, foi inevitável
que acusações eclodissem entre os membros. Com o fim da invasão iraquiana em 1991, a Liga
passou a conviver com seu próprio desmantelamento, que comprometeu sua atuação e sua
capacidade de mediação de conflitos (FERABOLLI, 2009).
Diante da realidade truculenta que permeia os debates em relação a temas de segurança,
em especial no que tange à agressão entre Estados, o contexto atual pode ser considerado um dos
momentos mais marcantes para a Liga e para toda a região nos últimos anos. Os desafios
advindos dessa ação militar, a desestabilização, a grande pressão popular e as expectativas da
comunidade internacional, expõe novamente a fragilidade da organização e da integração árabe
(MARCUS, KUNG; 2003). Sendo assim, é essencial que, durante os debates, a Liga dos Estados
Árabes busque tomar decisões que abracem os interesses de seus membros e que tenham
credibilidade diante da opinião pública e da sociedade internacional.
6 O CENÁRIO ATUAL
As acusações ao Iraque e a ameaça de invasão tornaram-se objetos de debate em âmbito
regional ao longo dos últimos meses. Todavia, com a concretização das ameaças, o comitê tem
em suas mãos o desafio de se posicionar diante da clara afronta à soberania estatal sofrida pelo
Iraque, buscando coordenar uma resposta política que seja capaz de dar visibilidade aos anseios
regionais.
13
<http://avalon.law.yale.edu/20th_century/arableag.asp>. 14
Referente à guerra.
Em face da gravidade da situação, torna-se imperativo que os Estados do Oriente Médio
estabeleçam diálogos multilaterais visando à manutenção da estabilidade e da paz. A Liga dos
Estados Árabes, que tem como uma de suas funções a busca pelo estabelecimento de um
consenso entre os povos árabes, bem como o Ocidente, atuará como um importante mediador do
conflito.
A primeira sessão ocorrerá em 22 de março, apenas dois dias após o início das
hostilidades15
. Graças ao caráter emergencial da reunião, os representantes dos Estados membros
devem buscar meios rápidos e eficientes para responder às demandas por posicionamento que lhe
são impostas. Os delegados devem, ao fim das discussões, ser capazes de elaborar uma resolução
que vise responder aos anseios dos povos árabes e a toda comunidade internacional, e,
concomitantemente, estabeleça uma posição em relação às investidas das potências ocidentais de
modo a resguardar os interesses nacionais e a união árabe.
7 POSICIONAMENTOS DOS PRINCIPAIS ATORES
Adiante exporemos os posicionamentos dos principais atores regionais envolvidos no
conflito. A partir dessas informações, é possível compreender as políticas externas adotadas por
esses Estados na atual circunstância, de modo que se analise as dinâmicas entre os países e,
consequentemente, algumas das posturas a serem adotadas no encontro do Conselho da Liga
Árabe.
7.1 Iraque
Desgastado economicamente em virtude do conflito com o Irã (1980-1988) e das sanções
econômicas impostas pela ONU após a Guerra do Golfo (1990-1991), o Iraque tenta manter-se
como um ator de destaque no Oriente Médio. Mais do que isso, este país tenta assegurar sua
soberania e sua independência, diante das investidas da coalisão liderada pelos EUA. Isso fica
expresso em ações políticas e diplomáticas efetivas, cujo fim é refutar qualquer razão para
conflito envolvendo Iraque e legitimar a resistência iraquiana a quaisquer incursões no país
(HUSSEIN, 2003).
15
Cobertura da BBC News:<http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/2866969.stm>,
http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/2873811.stm>.
Dentro da Liga dos Estados Árabes, a posição iraquiana é de defesa das consequências
desastrosas de uma intervenção armada no Oriente Médio, já que isso poderia ferir a soberania, a
cultura e a civilização iraquianas, abrindo precedentes para novas agressões a Estados árabes.
Ademais, o Iraque conclama seus pares na Liga a pressionar as Nações Unidas uma postura
firme, de modo a evitar quaisquer agressões realizadas pela coalizão liderada pelos EUA, em
nome da paz e da segurança internacionais (MARCUS; KUNG, 2003). Além disso, a unidade
árabe é uma tônica do posicionamento iraquiano, que também enfatiza a submissão do Iraque a
princípios e direitos baseados no Direito Internacional e à Carta das Nações Unidas
(HUSSEIN,2003). Isso explica a defesa da coordenação de esforços para repelir qualquer
invasão, com base no Artigo 6 do Pacto da Liga dos Estados Árabes.
7.2 Kuwait
É possível caracterizar as relações entre Iraque e Kuwait pouco amistosas desde a
formação do Estado kuwaitiano, graças às claras pretensões, por parte do governo iraquiano, de
tomar posse da riqueza petrolífera do território vizinho. Pode-se dizer que “a sua riqueza em
fontes petrolíferas, tornava o Kuwait um alvo preferencial para as ambições imperialistas de
Saddam Hussein“ (AJAMI apud EBRAICO,2005). Contudo, durante a guerra Irã-Iraque, o
Kuwait ofereceu ajuda financeira a seu vizinho árabe através de empréstimos. O objetivo desta
política era mantê-lo o mais longe possível de seu território, como uma forma de contenção das
investidas de Saddam Hussein (EBRAICO,2005).
Em 1990, dois anos após o fim da guerra, o Iraque sofria uma crise econômica, e buscava
uma forma de estabilizar-se, para isso buscou apoio na Liga Árabe. Saddam Hussein alegava que
os demais países deveriam perdoar sua dívida e o Kuwait deveria dar-lhe uma indenização de
“2,4 bilhões de dólares, alegando que os mesmos estavam explorando ilegalmente os campos de
petróleo do Iraque” (PHILIPP, 2014). Porém, não obteve resposta positiva e, assim, dia 2 de
agosto de 1990, tropas iraquianas invadiram o Kuwait, episódio que ficou conhecido como
Guerra do Golfo (EBRAICO,2005).
Para a resolução deste incidente foi necessária à intervenção estadunidense, que, apoiada
pela ONU, utilizou-se de forças militares para a desocupação do Kuwait e a destruição de um
possível potencial bélico de Saddam Hussein. Após seis meses de ocupação e tendo sofrido doze
sanções do Conselho de Segurança da ONU, as forças do Iraque se retiraram do Kuwait,
derrotados (EBRAICO,2005).
Após este incidente, as relações entre Kuwait e Iraque jamais se normalizaram.
Atualmente, o Kuwait presta total apoio aos EUA no desenrolar do recente conflito (MARCUS;
KUNG, 2003). As últimas informações apontam que o país tem abrigado tropas estadunidenses,
e permitiu que a batalha, iniciada há dois dias, partisse de seu território (CARNEY, 2011).
7.3 Egito
As relações entre Iraque e Egito são muito antigas e nas últimas décadas elas têm sido
bastante trabalhadas. Na década de 1980, o país africano ajudou diversas vezes o companheiro
do Oriente Médio, principalmente na guerra entre Irã e Iraque, que se estendeu por 8 anos, entre
1980 e 1988, fornecendo suprimentos militares (HENDELMEN-BAAVUR, 2009). Porém, em
1990, com iminência da Guerra do Golfo e a possível expansão do conflito por todo Oriente
Médio, o Egito optou por dar apoio a Liga Árabe e, por isso, mandou tropas para a Arábia
Saudita, país até então hostilizado pelo Iraque, acusado de estar tentando, junto com o Kuwait,
estabelecer os preços do petróleo mais baixos para atrair o mercado ocidental (WORLD..., 1990).
O Egito é um grande parceiro dos Estados Unidos no Oriente Médio, sendo um dos
países que mantém maior interação com o ocidente. Com a invasão estadunidense ao Iraque há
dois dias, sob inúmeras acusações ao líder Saddam Hussein, o Egito se vê num dilema, pois dois
de seus maiores parceiros estão iniciando um conflito de grandes proporções. Temendo uma má
reação dos EUA e o rompimento de relações, o Egito tem optado por não interferir no conflito,
deixando o Iraque sozinho em seus esforços de contenção dos avanços estadunidenses
(MARCUS, KUNG; 2003).
7.4 Jordânia
O Reino Hachemita da Jordânia é considerado uma das mais antigas regiões do mundo, é
também o país mais ocidentalizado do Oriente Médio (CERQUEIRA E FRANCISCO, 2014). As
relações com o ocidente começam a aproximar-se em 1953 e desde então a Jordânia tem
desfrutado de uma intensa relação com os EUA. Ambos trabalham em conjunto pela paz e
estabilidade do Oriente Médio, questões de máxima prioridade da política externa da Jordânia
(JORDAN...,2014).
Contudo, durante a década de 1990, a situação se alterou graças ao conflito no Golfo, em
que Hussein, Rei da Jordânia, decidiu apoiar a invasão iraquiana ao Kuwait, indo de encontro ao
posicionamento adotado pela maior parte das nações árabes. Como resultado, o reino sofreu
sanções econômicas do Ocidente, entrando em uma grave crise econômica (JORDANIA...,2014).
Em 1995, o país rompeu suas relações diplomáticas com o Iraque. Nesse momento, a
Jordânia recebeu uma “injeção de recursos econômicos internacionais” (JORDANIA...,2014) e
experimentou um considerável incremento de suas relações comerciais com o Ocidente. Diante
desse cenário, houve o fim das sanções, o que permitiu a volta à normalidade das finanças do
país (JORDANIA...,2014).
No presente conflito, a Jordânia, mesmo com oposição pública, presta apoio aos
estadunidenses. Há informações de que o país abriu seu espaço aéreo para aviões da coalizão
liderada pelos EUA e tem recebido tropas estadunidenses em seu território (REUTERS, 2003).
7.5 Síria
O posicionamento sírio é complexo e paradoxal no sentido de que este é o único país
acusado de financiar grupos e atividades terroristas (“Eixo do Mal”, proposto por George W.
Bush) a manter relações diplomáticas formais com os EUA e, além disso, a apoiar a política de
“guerra contra o terror”, promovida após os atentados de 11 de setembro (SMITH,2008). A
invasão ao Iraque, contudo, contou com forte oposição síria, refletindo uma política externa
marcada tanto pela militância quanto pelo pragmatismo.
Governada por Bashar al-Assad, representante da minoria alauíta (a qual fortaleceu-se
após a independência da Síria), o país é um dos principais alvos da Al-Qaeda, cuja militância
segue orientação islâmica e sunita. Por este motivo, o regime de Damasco coopera com as
práticas antiterroristas dos EUA (SMITH,2008). Isso não garante, no entanto, que a Síria tenha
interesse no sucesso americano no Iraque, tampouco veja benefícios na perpetuação da caótica
situação iraquiana ou em triunfos de grupos insurgentes ligados a Al-Qaeda. Diante dos riscos
existentes, damasco se posiciona de maneira firme e tenta se impor (SMITH,2008).
Historicamente, a incoerência entre os regimes de Bagdá e Damasco gerou tensões entre
Iraque e Síria. A década de 1990, porém, foi marcada pelo estabelecimento de relações sírio-
iraquianas cordiais, motivadas pela atratividade do Iraque para parcerias. Com base nisso, a Síria
não apenas rechaçou veementemente a atuação da coalizão formada pelos EUA no Iraque, mas
também conclamou os demais Estados árabes a negar abrigo e/ou suporte logístico às tropas
americanas. A situação iraquiana, inclusive, é associada ao colonialismo (SMITH,2008).
7.6 Arábia Saudita
A Arábia Saudita pode ser considerada um dos maiores e mais importantes parceiros dos
Estados Unidos no Oriente Médio, sendo um dos pilares da política externa estadunidense da
região. Esse relacionamento é tido, para ambos os Estados, como uma forma de manutenção das
relações de poder e estabilidade (III GAUSE, 2011). Pode-se dizer que a união destes dois países
se fortaleceu com os anos, o que permitiu apoio mútuo em períodos de conflitos, incluindo a
Primeira Guerra do Golfo, além das ações estadunidenses em relação ao conflito árabe-israelense
(FINGER; ZORZE, 2013).
Durante a primeira Guerra do Golfo, em 1991, a Arábia Saudita vivenciava e temor de ser
invadida pelas tropas iraquianas e buscava, de todas as formas, a contenção das intenções
expansionistas de Saddam Hussein (KECHICHIAN, 2001). Diante desse cenário, a Arábia
Saudita foi peça chave da coalizão que expulsou as forças militares iraquianas do Kuwait com o
respaldo da ONU (BLANCHARD; PRADOS, 2007). Após a vitória da coalizão contra o Iraque
em 1991, as relações entre Arábia Saudita e EUA se estreitaram, o que é, em grande medida, um
fator que explica a continuação das relações harmônicas entre EUA e Arábia Saudita atualmente
(POLLAK, 2001).
Após os atentados de 11 de setembro, o governo saudita tem agido de forma a auxiliar a
atuação estadunidense de combate ao terrorismo internacional através de compartilhamento de
informações e implementação de leis. Contudo, nos últimos anos, tem havido um processo de
anti-americanismo entre a população saudita, apesar da proximidade entre os dois países
(BLANCHARD; PRADOS, 2007).
Atualmente, o país árabe tem expressado oposição publicamente à campanha militar,
Iraqi Freedom, iniciada por seu aliado ocidental há dois dias. Contudo, há informações de que a
Arábia Saudita tem oferecido suporte às operações das forças militares estadunidenses e
britânicas (BLANCHARD; PRADOS, 2007).
7.7 Líbia
Durante o regime de Moammar Kadafi, as relações entre a Líbia e o Iraque nem sempre
foram estreitas. Durante a guerra entre Irã e Iraque, na década de 1980, essas relações foram
testadas, já que a Líbia apoiou o Irã, e, assim, os iraquianos decidiram por fim às relações com os
líbios. O governo iraquiano, na época, determinou o encerramento das missões diplomáticas na
capital Trípoli, com o retorno do embaixador ao Iraque (LOS ANGELES TIMES, 1985).
Porém, com a chegada da Guerra do Golfo, em 1990, a Líbia decidiu apoiar Saddam
Hussein contra a intervenção dos EUA na luta entre Iraque e Kuwait, já que o governo líbio se
mostra bastante resistente a manter relações próximas com países do ocidente, muitas vezes
condenando seus atos (WORLD..., 1990). Nessa ocasião, a Líbia ainda se opôs ao envio de
tropas para Arábia Saudita para oferecer proteção ao território saudita no caso de uma invasão
iraquiana, sendo um dos poucos países da Liga Árabe a se oporem a tal decisão (WORLD...,
1990).
A Líbia, sendo um país que se opõe às investidas imperialistas ocidentais, tem se
pronunciado contrariamente à invasão do Iraque pelos EUA, e desta vez critica a Liga Árabe, por
sua passividade diante da investida dos EUA a um país membro (MARCUS, KUNG; 2003).
Kadafi, líder líbio, em discurso, questionou o porquê de o Iraque ser invadido por conta da
suspeita de haverem armas de destruição em massa, sendo que existem outras nações que
possuiriam também arsenais com um grande poder de fogo, citando o exemplo da Índia e do
Paquistão. Ele ainda afirma que o Iraque não possui relações com a Al-Qaeda e nem participação
nos atentados de 2001 contra as torres gêmeas em Nova York (KADAFI, 2003).
8 QUESTÕES RELEVANTES
São algumas questões que devem guiar o andamento da reunião:
Quais as implicações de uma intervenção armada no Oriente Médio e que tipo de
precedentes essa ação pode abrir, em termos regionais?
É possível e desejável coordenar esforços para repelir a invasão, como previsto no artigo
6 da Pacto da Liga dos Estados Árabes?
Como responder aos anseios dos povos árabes e de inúmeros setores da sociedade civil
que pedem pelo fim da invasão e por um posicionamento por parte dos países?
Que tipo de postura os Estados árabes devem cobrar das Nações Unidas, tendo em vista
seu objetivo de manutenção da paz e da segurança internacionais?
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Tabela de demanda das representações
Na tabela a seguir cada representação do comitê é classificada quanto ao nível de
demanda que será exigido do delegado, numa escala de 1 a 3. Notem que não se trata de uma
classificação de importância ou nível de dificuldade, mas do quanto cada representação
será demandada a participar dos debates neste comitê. Esperamos que essa relação sirva para
auxiliar as delegações na alocação de seus membros, priorizando a participação de delegados
mais experientes nos comitês em que a representação do colégio for mais demandada.
Legenda
Representações pontualmente demandadas a tomar parte
nas discussões
Representações medianamente demandadas a tomar parte
nas discussões
Representações frequentemente demandadas a tomar
parte nas discussões
REPRESENTAÇÃO DEMANDA
1. Arábia Saudita
2. Argélia
3. Bahrein
4. Catar
5. Comores
6. Djibuti
7. Egito
8. Emirados Árabes
9. Iêmen
10. Iraque
11. Jordânia
12. Kuwait
13. Líbano
14. Líbia
15. Marrocos
16. Mauritânia
17. Omã
18. Síria
19. Somália