consciencialização na literatura caboverdiana i não foi, de modo algum, em vão que escolhemos...

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ONÉSIMO SILVEIRA consciencialização na literatura caboverdiana 1963 EDIÇÃO DA CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO LISBOA

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ONÉSIMO SILVEIRA

consciencializaçãona literaturacaboverdiana

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EDIÇÃO DA CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO

LISBOA

TÍTULO: Consciencialização na Literatura CaboverdianaAUTOR: Onésimo Silveira1.a Edição: Casa dos Estudantes do Império.

Série Ensaio. Lisboa 1963Composição e impressão: Editorial Minerva. Lisboa2.a Edição: União das Cidades Capitais de LínguaPortuguesa (UCCLA)A presente edição reproduz integralmente o texto da1.a edição.Artes Finais da Capa: Judite CíliaComposição e Paginação: Fotocompográfica. AlmadaImpressão: Printer Portuguesa. Mem Martins

Esta edição destina-se a ser distribuída gratuitamente peloJornal SOL, não podendo ser vendida separadamente.Tiragem: 45 000Lisboa 2015Depósito Legal: 378 501/14

Apoios Institucionais:

ONÉSIMO SILVEIRA

consciencializaçãona literaturacaboverdiana

1 9 6 3

EDIÇÃO DA CASA DOS ESTUDANTES DO IMPÉRIO

LISBOA

À memória de Pedro Cardoso — cujoexemplo de caboverdianidade se nosimpõe, a nós, os mais novos «Filhos daTerra», seguir quotidianamente.

SUMÁRIO

I

INVIABILIDADE DO PROSSEGUIMENTO EM CABO VERDE,DO MOVIMENTO CLARIDOSO:

a) Caracterização geral do Movimento Claridoso;

b) Inadequação do Movimento às realidades sociaisdo Arquipélago.

II

APARECIMENTO DE UMA LITERATURA DE REIVINDICA-ÇÃO PARA-AFRICANA:

a) Integração dos problemas de Cabo Verde na problemáticageral africana;

b) O surto de uma consciencialização autêntica e suamanifestação literária: Novos Rumos.

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I

Não foi, de modo algum, em vão que escolhemos paratema do nosso ensaio o da consciencialização na literaturacaboverdiana. Justificamo-nos: o surto de actividades cul-turais que parcelam aquilo a que hoje se vai chamando,com insistência, literatura angolana, levar-nos-ia a trazerà tona um complexo de circunstâncias relativas à activida-de cultural em Cabo Verde, por julgarmos conter esta algode útil para a definição de uma literatura angolana, tomadano sentido concreto da palavra, e não no seu sentido abs-tracto e geral, como infelizmente vem sucedendo.

A trajectória da literatura caboverdiana, com ponto departida situado na década de trinta e definido pelo Movi-mento Claridoso, impõe-nos a nós os mais modernos cava-dores da literatura insular, o problema de definir, em pala-vras claras e insofismadas, e através de uma literaturaverdadeiramente funcional, uma consciencialização comraízes no húmus étnico-social caboverdiano. Esta conscien-cialização, e só ela, pode, quanto a nós, situar regionalmen-te a mesma literatura e atribuir-lhe merecimento para com-participar, ainda que muito modestamente, no amploressurgimento que caracteriza o dobrar da primeira metadedeste século, com uma parcela ideológica autêntica e ac-tual.

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Partindo do princípio, tão fundamental quanto axiomá-tico, de que nenhum empreendimento à escala mundial po-de dispensar um elevado sentido de responsabilidade porparte dos seus comparticipantes, é evidente que toda a lite-ratura do nosso tempo terá de ser, em todas as suas dimen-sões, consciente para que corresponda à referida funciona-lidade.

Demonstraremos, ao longo deste trabalho, que a litera-tura caboverdiana, estando profundamente ferida de inau-tenticidade, não traduz nem produziu uma mentalidadeconsciencializada e daí se ter tornado, como não é difícilverificar, em título de prestígio da elite que a vem encabe-çando e não em força ao serviço de Cabo Verde e suas gen-tes.

Ora, hoje que é mais do que nunca imperativo definir--se, numa terra como Angola, uma consciencialização au-têntica, étnica e culturalmente, temos para nós que uma li-teratura de exportação como a criada pelo MovimentoClaridoso, pode, pelos efeitos enganosos que comporta,constituir séria e fecunda advertência a quantos, aqui, sededicam à missão literária pensando unicamente em simesmo e postergando, em consequência de tal pessoalismo,as aspirações irreversíveis dos povos que compõem a pale-ta social desta terra africana.

Uma das raízes do Movimento Claridoso é a que o ligaao processo social geral a que as Ilhas sempre estiveramsubmetidas e ao aspecto particular e lógico da instrução co-mo elementos do referido processo.

O Seminário-Liceu de S. Nicolau, estabelecimento es-colar mais preponderante em Cabo Verde até ao primeiroquartel deste século, infundindo nos componentes desse

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grupo uma cultura fortemente europeia e europeízante, se-rá, ao mesmo tempo, a génese do Movimento e a longoprazo a causa da sua falência. A erudição aí ministrada eramais literária que científica. Na parte literária mais atendiaao estudo do formalismo gramatical e da estilística das lín-guas que aos pensamentos de que estas são depositárias.Esta preocupação, junta ao estudo de uma filosofia cristali-zada e incompatível com o aprendizado de critérios de livreexame, conduzia a uma mentalidade retoricista, de compra-zimento em subtilezas verbais, de que não viriam a estarisentos até os elementos mais bem dotados.

Assim imbuídos duma erudição que não tinha em contaas realidades sócio-culturais do Arquipélago, foram-se dis-tanciando das massas de que inicialmente faziam partee impregnando-se de um complexo de sedimentos de sabe-res que, pela sua força de expansividade e correlativas pos-sibilidades de aceitação, muito contribuiriam para esseafastamento do povo, embora se servindo deste para assuas criações literárias de fundo pretensamente telúrico.

Tal distanciamento é, quanto a nós, um dos aspectos«contraditórios» da chamada ascensão do mestiço, à qualse liga uma concepção egotista do saber que deste faz maisum ornamento e um motivo de êxito individual, que instru-mento posto ao serviço da colectividade, na acepção realdo termo.

Por isso é que o enraízamento tentado pelos componen-tes do grupo resultou numa atitude literária inoperante. Is-to, em consequência de não se terem esses homens aperce-bido de que o enraizamento da literatura caboverdiana eraimpossível sem a consciencialização, entendida esta comointervenção no processo social, quer no momento da cria-ção literária quer no momento da acção prática. Ao trataraspectos da vida caboverdiana, tinham uma sensação ilusó-ria de cravar as unhas na realidade circundante, mas jamais

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outra coisa fizeram senão raspar à superfície dos problemasdo ilhéu.

Uma das notas dominantes da literatura criada por esteMovimento, quer na poesia quer na novelística, foi o eva-sionismo. Com esta atitude espiritual propuseram-se oscomponentes do Movimento exprimir uma dada situaçãode existência do povo caboverdiano, decorrente do condi-cionamento geográfico e telúrico do arquipélago, e queconceberam como o drama da evasão do ilhéu. Esta ex-pressão, cunhada pelos claridosos, virá a tornar-se moedacorrente nos meios lisboetas dedicados ao estudo de pro-blemas de Além-Mar. O drama da evasão pretendeu sera tradução intelectual do problema da emigração do ilhéu.Mas, conquanto fosse um dos principais tópicos do seuprograma, em parte não expresso, esses homens não logra-ram tomar e manter, no plano literário e no da acção práti-ca, as posições necessárias à denúncia desse problema emtermos positivos. Focando o drama da evasão, a dualidade«querer partir e ter que ficar» ou «querer ficar e ter quepartir» — conforme a filosofia evasionista de cada um —acabaram por simplificar, arbitràriamente, este complexoproblema e por oferecer uma imagem estereotipada do ho-mem caboverdiano, renunciando conscientemente a buscaras raízes psicológicas e sociais do facto emigratório.

Propondo-se exprimir essa situação, faltou no entantoaos claridosos o verdadeiro sentido do povo, isto é, aquelegrau de comunhão emocional e intelectual que leva espon-taneamente à identificação da consciência individual do es-critor com a consciência colectiva das massas. Isto podeser comprovado, tanto pela análise do conteúdo das suasobras como pelo confronto de suas posições literárias comas que, divergentemente, e até contraditoriamente, adopta-ram no seu dia-a-dia social. Aquela análise revela queo evasionismo é muito menos uma interpretação do drama

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real do povo, acossado pela imposição migratória, queo caso individual e subjectivo do escritor avassalado pelafrustração resultante do desejo irrealizado de conhecer e vi-ver em meios mais fortemente ocidentalizados que o meiocaboverdiano. Esta nossa observação coincide com obser-vação semelhante de Manuel Ferreira quando diz: «Que es-tará reservado ao anónimo escritor caboverdiano, lá longe,só, ele só, nas «grades da sua prisão»... e, na distância lo-brigando os barcos, na rota do mar alto, comunicando-lheum desejo profundo de querer partir, tendo de ficar?!»

Tanto assim que só se reflecte nas obras dos claridososo facto da emigração para as Américas e jamais a emigra-ção degradante para terras como S. Tomé e Príncipe, coe-xistente com aquela, mas que eles escritores nunca deseja-riam para si mesmo. Só recentemente, um deles, BaltazarLopes, se mostrou preocupado com o tema desta últimaemigração, em seu ciclo poético intitulado «Romanceiro deS. Tomé», o qual, não obstante a expressão formal por ve-zes bela, apresenta uma intenção social bastante difusa.

Torna-se-nos necessário focar que, se é Baltazar Lopesquem no Movimento Claridoso faz uma discreta denúnciado problema da emigração, no seu aspecto especial paraS. Tomé, Teixeira de Sousa é, contudo, aquele que procuramanter uma linha coerente de estudo sério sobre aquelaemigração, com realce para as suas incidências técnicas,nosológicas, económicas e sociais principalmente. Aliás,quanto a nós, essa coerência está ìntimamente ligada à dis-sidência que representa a presença de Teixeira de Sousaadentro do grupo, pela matriz ideológica definida de queele se nutre.

Efectivamente, a sua atitude contrasta com a do «pontí-fice» do evasionismo, que é o «sacrossanto» Jorge Barbo-sa. Este poeta, preocupado com uma descrição típica dasrealidade insulares, jamais fez senão exportar um retrato

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social esbatido do caboverdiano, de quem, aliás, nunca ofe-receu outra coisa que um enganoso e romântico estereoti-po. A evolução deste poeta desnuda sua atitude essencial.Da fase espontânea de livros como «Ambiente» e «Arqui-pélago», passa à fase decadente de «Caderno de um Ilhéu»,em que o leitor exigente é decepcionado pela convenciona-lidade do tema e o artifício da forma poética. Estamos en-tão perante o que se poderia denominar ultra-evasionismo,esvaziado até daquelas qualidades mínimas que pudesse terinicialmente

Outra das notas dominantes da literatura criada por es-se Movimento é o seu realismo paisagístico.

Não se depara com a preocupação de pesquisar, no pla-no literário, as coordenadas sociais e o comportamento realdo homem caboverdiano como ser traumatisado pelas mes-mas coordenadas. Na novelística e na poesia oferecem-nosesses escritores não os dados essenciais da problemáticacaboverdiana com as suas múltiplas imbricações e sim al-guns momentos mais ou menos cristalizados do que é, lò-gicamente, realidade na sequência das intenções que sem-pre animaram o Movimento; aqueles momentos são, porisso, meros dados paisagísticos flutuando num solo ideoló-gico de relevo incaracterístico.

Esta selecção de elementos pinturescos perante umarealidade eivada de problemas básicos e de importância de-cisiva para o destino do homem caboverdiano como tal,traduziu-se, em última análise, numa verdadeira fugaà mesma realidade, em que, programàticamente, se propu-seram enraízar a literatura das Ilhas. Nisto consistiu suainautenticidade. Não poderia ser enraízamento nem a des-crição dos plácidos e «felizes» jogadores de «ouri», nema descrição do caboverdiano que sonha com terras distantesao contemplar o barco de louça que lhe serve de cinzeiro.

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A nova geração não pode, por conseguinte, silenciaro facto altamente comprometedor que resulta da atitude es-téril dos claridosos perante as grandes crises que, na déca-da de quarenta, trouxeram a morte a milhares de cabover-dianos. Agrava esta indiferença o não existir sequer umacobertura literária desse longo enterro, ainda que contem-plativamente, à laia do cortejo descrito por Aurélio Gonçal-ves, levando Nha Candinha Sena à sua última morada.E tal facto é tanto mais surpreendente quanto é certo quea referida década coincide, de algum modo, com o períodode desenvolvimento e consolidação do grupo. Não invali-dam a atitude indiferentista a que nos referimos nem «Chi-quinho» de Baltazar Lopes, nem «Os flagelados do VentoLeste» de Manuel Lopes. Naquele romance encontramosescassas páginas finais que relatam um esboço de motimocorrido em período de crise, mas a análise literária nosmostra que o facto narrado não logra inserir-se na tessiturae concepção do romance. «Os Flagelados do Vento Leste»enquadra-se num realismo puramente descritivo, de que es-tá ausente uma intenção social reformista, o que se tornamanifesto no carácter derrotista dos ingredientes seleccio-nados para a composição da personagem colectiva centraldo romance, que é a família de José da Cruz.

A favor de Manuel Lopes ressalvamos, porém, essa suaobra singular que é «Chuva Braba», romance de intençãosocial clara, tanto pelo criticismo pertinente à sociedadesantantonense, como pela luz que seu epílogo traz à decan-tada questão evasionista. Esta é, pela primeira vez, posta,não como uma fatalidade e sim como uma razão forte, de-parada a certa altura do processo geo-social do ilhéu, tra-duzindo uma situação cuja gravidade outros escritores de-formaram, pela implícita solicitação de fuga às raízes doproblema emigratório.

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O mesmo realismo despreocupado encontramos no en-foque de meios urbanos, como o mindelense. «Pródiga», deAurélio Gonçalves, pretende ser uma réplica realista aoidealismo ético da parábola bíblica. Se o leitor inquieto lo-gra encontrar, através dos dados da narrativa, uma razão deser social do comportamento da personagem central da no-vela, é porque Aurélio Gonçalves se mantém, em seu rea-lismo puramente descritivo ou analítico, fiel aos elementospsicológicos individuais. No fundo, o comportamento da-quela personagem não é mais que o resultado de traumatis-mos decorrentes dos males sociais duma cidade que, sus-tentada em bases económicas precaríssimas, acabou por setornar um viveiro de falhados. Falta à novela, por isso,o enquadramento mais complexo de psicologia social quelhe conferisse uma mais completa validade, pela justifica-ção articulada do gráfico que representa o comportamentode Xandinha.

Portanto, não chegou a realizar-se o tópico do programaclaridoso que, recentemente, Aurélio Gonçalves assim re-formulou: «Necessidade de protestar e de dar o alarme pe-rante uma crise económica, causada pela estiagem, peloabandono do Porto Grande de S. Vicente, pela sufocaçãoproveniente do encerramento da emigração para a Américado Norte».

Uma literatura assim inautêntica, oferecendo ao povo,em vez dos caminhos duma resolução do seu problema, al-guns dados só propícios à romantização do mesmo, nãopode, lògicamente, conduzir à consciencialização, sema qual todo o povo se sujeita sempre à perda de sua digni-dade, por enfeudalização e consequente omissão dos seusanseios, manifestados em reivindicações justas e adequadasà sua participação no concerto universal dos povos.

Em abono da tese que vimos explanando, anotamosque o Movimento Claridoso nasceu e desenvolveu-se sem

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que dentro de si fosse possível o despontar duma activida-de crítica que propiciasse uma antítese das posições assu-midas, evitando até seu claro ambiente arcádico de elogiomútuo. Faltou ao «grupo» uma síntese de ideias, no sentidohegeliano do termo.

Falando de actividade cultural caboverdiana, alguémhouve já que nos assinalasse, com intenções críticas, a ine-xistência duma arte caboverdiana, traduzida plàsticamenteem pintura e escultura. Se em alguns momentos nos faltoujustificação cabal para vácuo tão eloquente, hoje, porém,a análise que vimos fazendo à literatura claridosa leva-nosa atribuir tal facto não à carência de elementos inspirativospara consumação plástica, mas ao que insistimos em carac-terizar como ausência de consciencialização na culturaintelectual caboverdiana. Assim, se é relativamente fácilimpressionar o leitor estranho às Ilhas pelo descritivo pito-resco, este processo concerteza não traria os mesmos êxi-tos, adaptado à arte plástica, muito mais susceptível comoé de conduzir a uma análise mais próxima das fontes e porisso uma análise mais exigente. Os motivos, humanos oupaisagísticos, tão gratos aos escritores que fundaram a re-vista «Claridade», não seriam de molde a possibilitar aque-le devaneio analítico no fundo do qual se originou a justifi-cação de seus êxitos.

A omissão do homem do grupo de ilhas geogràfica-mente denominado de «Sotavento», que não sendo propo-sitada será de qualquer modo significativa, denuncia só porsi a inexistência de identificação que o Movimento preten-deu realizar com a terra caboverdiana. Atendendo a queas ilhas desse grupo são as menos ocidentalizadas, cremoshaver razão lógica bastante para atribuir aquela falta derepresentação ao que se poderia chamar, com toda pro-priedade, o «barlaventismo» da literatura claridosa, isto é,

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a atenção quase exclusiva aos aspectos da realidade cabo-verdiana que, por haverem sofrido uma maior lusitaniza-ção, permitiam uma imediata coincidência entre a mentali-dade saturadamente europeia dos claridosos e a matéria deobservação e anotação literária. Embora Félix Monteiroe Baltazar Lopes se possam considerar destacados etnólo-gos do grupo, as suas actividades circunscrevem-se, no as-pecto ora visado, a pequenos estudos de folclore das Ilhasde Santiago e Fogo. Estudos esses em que não emerge, co-mo não poderia deixar de acontecer num retrato fiel, o dra-ma social de que aquele folclore mesclado jamais deixoude ser um reflexo nítido. E, por estranho que pareça, per-manecem um compartimento quase estanque adentro da ac-tividade criadora do grupo, e os elementos deles resultantesnão alicerçaram a elaboração consequente de um pensa-mento ideológico, não diremos expresso, mas vivo e ac-tuante. Caso não tivessem abandonado o esforço de acertaro passo com um mundo mais largo, teria esse pensamentoproporcionado ao grupo razoáveis possibilidades de se in-tegrar no movimento das ideias que hoje, directa ou indi-rectamente, influenciam todo e qualquer intelectual africano.

Particularmente, a clave de denúncia e protesto a quesem dúvida obedeceram os trabalhos como os que inte-gram o n.o 8 de «Claridade», editado em 1959, não resulta-ria desgarrada no conjunto da revista como tentativa tardiade coerência programática; antes sua virtual eficácia en-contraria inteira realização pela inserção no desenvolvi-mento de uma constante ideológica.

Fora, aliás, na busca dessa actualidade que o Movimen-to se apercebeu do conteúdo do modernismo brasileiro. Es-te, contudo, não foi de modo algum a génese do Movimen-to, como já se tem aventado, apesar de nele ter deixadoinfluências palpáveis.

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Uma certa similitude entre o mestiço caboverdiano (emespecial o de Barlavento) e o mestiço brasileiro — o nor-destino, principalmente — pela comunhão de flagelos so-ciais idênticos, trouxe sem dúvida aos escritores cabover-dianos uma possibilidade de situação do problema ilhéu,nas mesmas coordenadas em que no Brasil, escritores co-mo Jorge Amado, Lins do Rego, Gilberto Freyre, Gracilia-no Ramos e outros definiam, numa cobertura literária au-têntica, o estádio do homem brasileiro.

Todavia, ainda que os problemas do ilhéu tivessem desituar-se nas mesmas coordenadas das do homem brasilei-ro, nada nos leva a crer que os claridosos pudessem alcan-çar êxito nessa caminhada, já que o clima de expressão noBrasil não conhecia as restrições com que se deparava emCabo Verde. Mais ainda: a mestiçagem que no Brasil reve-laria, pela novidade de tema sociológico que implicitava,um destacado número de estudiosos, não poderia, de modoalgum, determinar, em Cabo Verde, um paralelismo de di-rectrizes, já que no Arquipélago o mestiço, sem dúvida empercentagem expressiva, jamais gozou do complexo decondições como as que derivavam do facto de o mestiçobrasileiro há muito estar entregue ao seu próprio destino.

Isto explica por que da lição dos mestres brasileirosapenas apartaram o realismo pinturesco ou paisagístico,e não o realismo profundo ou de estrutura. É que havia umdesfazamento acentuado entre a elite brasileira e a elite ca-boverdiana: enquanto já havia aquela superado ou, pelomenos, vinha superando a fase de artificiosa aristocratiza-ção, condicionada pelo complexo de inferioridade, a elitecrioula ainda se achava em plena busca dessa aristocratiza-ção; quando no Brasil floresciam movimentos culturais quelimitavam o impacto do europeísmo literário a seus aspec-tos legítimos, em Cabo Verde ainda se estava em plenoprocesso de europeização literária.

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II

Os jovens que viriam a fundar a revista «Claridade» ti-veram, como já dissemos, uma formação exclusivamenteeuropeízante. Em suas preocupações literárias extra--escolares seriam levados a contactar com escritores e estu-diosos integrados numa cultura mesclada como a brasileira,que sendo europeia nos métodos de investigação científicae filosófica e descrição estética da realidade, não o era jána matéria interpretada e na experiência humana.

Eram, porém, demasiado espessos os estratos de euro-peísmo na mentalidade dessa geração, para que, repetindoa façanha dos modernistas e regionalistas brasileiros, rom-pessem as cadeias do inibitivo complexo de inferioridadee atentassem substancialmente nos componentes negróidesda cultura caboverdiana. Tal complexo nutria, pois, comoterra gorda a referida formação intelectual. Uma mentalida-de assim estruturada determinaria que esses homens cen-trassem seus interesses — no sentido psicológico da pala-vra — sobre a Europa, inconscientemente deslumbradoscom as luzes brilhantes da civilização tecnológica do Oci-dente, enquanto África era um eco distante de valores hu-manos e de cultura. Aurélio Gonçalves reconheceu expres-samente o facto que acabamos de apontar, quando disseque em Cabo Verde «existe efectivamente uma tentativa decivilização, muitas vezes gorada pela intervenção de ele-mentos da elite intelectual caboverdiana, nas suas tentati-vas de europeização, de magnificação».

Focando este fenómeno, apresentou Manuel Lopes umesquema interpretativo segundo o qual seria a literatura ca-boverdiana uma compensação — na acepção psicanalítica

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do termo — das frustrações materiais do povo ilhéu. Susci-ta-nos este esquema alguns comentários que reputamosfundamentais:

1 — Além de acusarem, como já dissemos, uma nítidafuga aos componentes negróides da cultura caboverdiana,há outro aspecto importante e correlacionado do problema,que se pode e deve pôr, das relações entre o povo e os cria-dores da moderna literatura caboverdiana;

2 — Posto o problema e analisando-o, quer do ponto devista das obras literárias criadas pelos escritores, quer doponto de vista das atitudes que eles como meros cidadãosadoptaram no terreno das questões práticas, constatamosque se porventura ocorre algo semelhante ao fenómeno decompensação, foi o mesmo condicionado muito mais (se-não exclusivamente) pelas frustrações pessoais dos indiví-duos suportes dos escritores, que por qualquer vivênciasincera e profunda das frustrações colectivas. A pretensaidentificação mesmo em termos compensatórios seria in-conciliável com a referida fuga aos elementos negróides danossa cultura. Tanto uma coisa como outra mostram quea literatura criada pelos claridosos muito aquém ficou derealizar a identificação entre escritor e povo;

3 — Por conseguinte, o esquema aventado por Manueldeve ser tão sòmente referido à literatura claridosa que nãoà literatura caboverdiana em geral, porquanto a modernageração, como adiante melhor esclareceremos, vem cons-truindo uma posição à qual é inteiramente inadequado esseesquema, tomado de per si ou com acrescentos correctivos,pela razão de que o problema crucial que a nova geração sepôs, foi a denúncia das causas económicas e raízes psicoló-gicas das frustrações colectivas e não a mera contemplaçãodestas. O esquema psicanalítico de Manuel Lopes só con-duz, projectada a literatura claridosa no plano colectivo em

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que deve ser situada como movimento de ideias, à sofisti-cação do problema de sua compreensão sociológica. Nãosó o realismo paisagístico era a atitude intelectual que deacordo estava com a aludida fase de aristocratização, mastambém escolhendo o ofício de escritor sentiam-se e julga-vam-se dispensados de intervir no processo de mudançasocial, o que se ajustava à mentalidade conservadora, pseu-do-reformista, aquela que tinha terreno para germinar naconjuntura em que surgiu o Movimento. Não é outra coisaque justifica o favorável acolhimento que este teve nos cír-culos dirigentes.

A enorme desorganização com que se depara ao pri-meiro golpe, numa anatomia do Movimento, poderá, atécerto ponto, encontrar suas raízes no terreno económico deque o mesmo emergiu. Todavia, não podemos (nem sequerdevemos) admitir a inabilidade dos homens do «grupo»,a quem sobretudo se impunha, como primeiro passo parauma consciencialização radical, injectar um húmus ideoló-gico autêntico em tal terreno, opondo deste modo uma ne-gação dialéctica, única via conducente ao advento do con-dicionamento favorável a uma colheita condigna no porvir.

Para os homens da geração claridosa, «a convicção deuma originalidade regional caboverdiana» significava, nofundo, que é Cabo Verde um caso de regionalismo euro-peu. Este modo de conceber a realidade cultural e socialdas Ilhas comporta, no entanto, duas básicas restrições:

1 — Não existiam e hoje, decorridos mais de vintee cinco anos sobre o advento do Movimento, não existemainda estudos exaustivos de etnografia, geografia humana,antropologia social e economia, que em seu conjunto cons-tituam uma análise espectral do Arquipélago;

2 — O esfacelamento dos contributos negróides danossa cultura, de que não restariam, segundo assevera Bal-tazar Lopes, em «Cabo Verde visto por Gilberto Freyre»,

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mais que meros vestígios insignificantes, não tinha por cer-to o carácter duma imposição pura e simples da natureza,de efeito de cataclismo ocorrido no mundo físico, e sim é oresultado dum processo social bem definido através da his-tória das Ilhas.

Entendemos que o problema decisivo não é o de saberquais as contribuições humanas que predominam nas Ilhas,mas, diversamente, o de tornar o homem comum cabover-diano consciente de seu destino africano e possibilitar-lheos meios que conduzam à realização autónoma do mesmodestino.

Os jovens da nossa geração pensam que Cabo Verdeé um caso de regionalismo africano. Esta inversão dos ter-mos do problema decorre do influxo do renascimento afri-cano, que revitaliza todos os campos de actividade e todosos momentos de espiritualidade do homem negro ou negri-ficado. Este vem passando da velha atitude de negação desi mesmo para a nova atitude de auto-aceitação integral;esforçando-se por renunciar à mentalidade dolorosamenteforjada em cadinho de limitações e imposições que ignora-vam sua condição de pessoa humana, procura hoje encon-trar as vias do modo de ser autêntico que Sartre definiu noensaio «Orfeu Negro». A nova geração vem participandodeste movimento de ideias, que no fundo envolve um con-flito de humanismos. Têm os seus comparticipantes a cons-ciência de que só passando antitèticamente pela revalo-rização do homem negro ou negrificado e sua dimensãocultural, é possível construir-se uma imagem do homemuniversalmente válida e elaborar-se um humanismo conse-quente e autêntico. Porque a essa revalorização se achadinâmicamente ligada a emancipação económica e socialdas massas para si mesmas inoperantes, é o igualitarismopostulado da nova ética social e da convivência humanaa qualquer escala.

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A moderna geração vem-se alimentando nesta matrizideológica, e por isso sabe bem distinguir entre as elites fe-ridas de inautenticidade — floração efémera duma socieda-de decrépita — e as massas depositárias das verdadeirasaspirações da colectividade.

Estruturada uma nova mentalidade em cadinho de mar-tírios silenciosos e de não pequenas frustrações, teriam deser novas suas manifestações. Uma nova filosofia da vidadetermina novos tipos de preocupação intelectual e novosmodos de concepção estética da realidade e de integraçãodo homem na literatura como forma particular de lingua-gem.

A fidelidade ao homem caboverdiano, em suas circuns-tâncias naturais e dimensões espirituais, levada às últimasconsequências, resulta na atitude de reconstrução do enrai-zamento da cultura intelectual em bases profundas e coe-rentes. Propõem-se os «novos» fazer da arte literária umaprojecção intencionalmente combativa da problemática doilhéu, em relação a quem se sentem investidos de uma mis-são que transcende seu destino individual. Porque partemda convicção de que o artista é apenas o homem-cidadãoem determinado momento de sua existência total, procu-ram manter uma coerência monolítica entre as atitudes dealcance prático e as posições assumidas ao nível da criaçãoliterária. Esta, de ofício gratuito e sem consequências éti-cas, torna-se em processo de auto-vinculação em face devalores corporizados cujo respeito se impõe quotidiana-mente. Esclarecemos, porém, que para nós, é meramenterelativa a ilegitimidade da arte desinteressada; entendemosque no presente estádio de evolução do homem cabover-diano (dominado por pesados lastros materiais) não podeo intelectual representante entregar-se à actividade lúdicaem que consiste essa arte. Infelizmente não chegou aindaa hora do jogo diversivo.

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A integração do homem caboverdiano numa literaturacaboverdiana segundo critérios de fidelidade estreme, im-plicou o problema da utilização literária do principal idio-ma falado nas Ilhas, ou seja a transposição integral docrioulo que não apenas de seu estilo ou «sabor». A falta ouinsuficiência do aproveitamento literário do crioulo vemgorando a expressão artística dos caracteres irredutíveis dohomem caboverdiano como realidade singular, sabido co-mo a língua não é só instrumento da vida de relação, decomunicação do pensamento mas também um quadro lógi-co e emocional de organização da experiência específicadecorrente de determinada ambiência física e cultural.

Recentemente, Baltazar Lopes publicou essa obra mo-numental de linguística científica, que é «O dialecto crioulode Cabo Verde». E na «Mesa redonda sobre o homem ca-boverdiano», que, em Julho de 1956, Almerindo Lessa or-ganizou em S. Vicente, demonstrou as possibilidades ex-pressionais do crioulo, fazendo comentários decisivos, dosquais destacamos os seguintes: «O crioulo é uma língua su-ficiente». «Todos nós que ensinamos português no liceuverificamos que o crioulo já oferece hoje aos alunos possi-bilidades expressionais. Eu já ouvi à saída de exercícios dematemática e até de filosofia os alunos a discutirem sobreo exercício em crioulo».

Embora tendo dado fundamentação científica ao prestí-gio de que o crioulo, para desagrado de alguns, goza emCabo Verde, no entanto mantém-se Baltazar Lopes numaposição puramente teórica, que não se enriquece e dinami-za com realizações práticas, as únicas que, na ordem dosfactos, modificam as perspectivas do futuro literário docrioulo.

Só hoje compreendemos a grandeza dos propósitos des-se esclarecido patriota que foi Pedro Cardoso, pertencente

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à geração anterior à dos escritores claridosos. Seu esforçode dar dignidade literária ao crioulo e libertar seus conter-râneos do complexo de inferioridade ligado ao mesmoe aos componentes negróides da cultura caboverdiana, tra-duz já, ainda que embrionàriamente, a mesma inquietaçãode autenticidade que domina os da nossa geração. Por issodevemos considerá-lo um verdadeiro precursor, na medidaem que, não obstante a incompreensão consciente das elitese o condicionalismo social adverso, teve coragem para de-fender e praticar seu pensamento e manter com ele a coe-rência que então era possível.

Pensamos que de tudo quanto explanámos, resulta que,para a moderna geração, a consciencialização é, em todasas suas manifestações, incluída a literária, a tomada, porparte do caboverdiano, da consciência activa do processohistórico geral que nesta conjuntura o envolve em largoamplexo. Tal consciência apresenta dois momentos essen-ciais e correlacionados: a) O impulso inicial para se buscara si mesmo como realidade étnica e cultural perdida noabismo da alienação; b) A reivindicação do condiciona-mento absolutamente necessário para que comece a reali-zar-se o encontro autónomo consigo mesmo.

Só a autenticidade é a lei lógica e ética que rege a gé-nese e desenvolvimento dessa tomada de consciência. Re-cordamos aqui esta reflexão de J.-P. Sartre: «Se convirmosque o homem é uma liberdade em situação, conceberemosfàcilmente que esta liberdade possa definir-se como autên-tica ou inautêntica, segundo a escolha que ela faça de siprópria na situação em que surge. A autenticidade, é evi-dente por si, consiste em tomar uma consciência lúcidae verídica da situação, em assumir as responsabilidadese os riscos que tal situação comporta, em reivindicá-la noorgulho ou na humilhação, às vezes no horror e no ódio».

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Estudando as manifestações literárias dos «novos», seencontramos alguns que ainda se situam dentro do campogravitacional do Movimento Claridoso, mercê do enormeprestígio que este grangeou, vai-se, porém, formandoe consolidando um grupo verdadeiramente representativodo que, neste trabalho, chamamos «Moderna Geração».Aqueles, embora não apresentem uma perfeita filiação aoMovimento Claridoso, enquanto afloram em suas criaçõesinstantes reivindicativos e procuram no terreno das ques-tões práticas atitudes menos contemplativas que as dos cla-ridosos, no entanto ainda estão afastados do grau de coe-rência pensante e actuante que caracteriza os elementos doúltimo grupo.

Partindo da legitimidade dum critério de amostragem,passamos a considerar e a apreciar algumas das composi-ções poéticas publicadas pelos novos.

O poema «Regresso», de Terêncio Anahory, ilustraa mentalidade dos novos que ainda não conseguiram de to-do libertar-se da enorme influência da órbita claridosa:

Deixem-no passar, por favor;Ele vem cansado,O seu caminho foi longo...

Desde manhã cedoAs aves que cantamO sol e o pradoE a brisa do marTrouxeram com elesO teu cartão de visita.

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Mas eu não queria visita anunciada...

Podias entrar sem baterBeber da minha águaE comer da minha comida.

Descansa!

...E enquanto adejaEm volta de nósEste sossego tranquiloDe um retorno desejadoVou contar-te históriasPara embalar o teu sonoAfugentar do teu pensamento

Roças, secas, sol ardente,Fuba,Terra-longe!

O final do poema mostra, sem grande esforço de análi-se, um convite dirigido ao contratado caboverdiano para serefugiar no esquecimento de amarguras ligadas ao factoemigratório, cujas consequências o poeta reflecte na descri-ção do seu poema. Encerra este uma contradição que outracoisa não é senão a erupção literária espontânea duma posi-ção ideológica que não leva a observação e análise dos fac-tos às últimas consequências.

Para ilustrar um pensamento consequente e uma posi-ção sem suspensões em seu desenvolvimento corajosamente

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dinâmico, escolhemos o poema de Ovídio Martins, intitula-do «Anti-Evasão»:

PedireiSuplicareiChorarei

Não vou para Pasárgada

Atirar-me-ei ao chãoE prenderei nas mãos convulsasErvas e pedras de sangueNão vou para Pasárgada

GritareiBerrareiMatarei

Não vou para Pasárgada

Este poema não só traduz uma atitude de activo incon-formismo e de repúdio de situações decorrentes de umaordem injusta, mas também é a denúncia da atitude con-templativa e idealista que constitui a essência da poesiaevasionista e se sublima no «Itinerário de Pasárgada» deOsvaldo Alcântara (Baltazar Lopes). O final de «Anti--Evasão» é a vinculação à acção consciente e reivindicativacom a aceitação total das consequências que ela implica,mesmo as havidas convencionalmente por ilegítimas.

Este cotejo permite-nos ver o problema da emigração deângulos claramente distintos, que revelam, quando mais nãoseja, diferentes graus de intencionalidade agente num e noutro.

Mas não é só o evasionismo que oferece campo para seestabelecer um contraste extremado de posições. A vivên-cia da problemática caboverdiana, entendida como conjunto

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dos problemas da organização da sociedade insular, em todosos seus sectores e níveis de vida, e que vêm afligindo pelosofrimento na própria carne as sucessivas gerações, é vastocampo onde a posição consequente e desmistificadora dogrupo liberto das influências claridosas não se confundecom a daquelas que, embora de boa fé, ainda se deixam se-duzir pelo canto da sereia. A estes últimos advertimos deque ainda é tempo de repensarem com coragem a tão fala-da actualidade do ideário claridoso. Espanta-nos que aindase não tenham apercebido do que há de autêntica actualida-de e consciência perfeita da necessidade da nossa participa-ção no processo histórico envolvente, em criações do qui-late de «Quando a vida nascer» de Mário Fonseca, «Hora»e «Cantá nha Povo» de Ovídio Martins, ou na poesia deFelisberto Vieira Lopes.

A síntese de consciencialização e a totalidade de forçaexpressiva que Ovídio Martins encerrou em «Hora», poe-ma formalmente tão curto, quase pirular, mostram definiti-va tomada de posição e o grau de maturidade espiritual al-cançado pelo grupo que caracterizamos com a expressão«Nova Geração».

Esta geração, a cujas fileiras esperamos se venham jun-tar valores como Gabriel Mariano, Aguinaldo Fonsecae Terêncio Anahory, pela razão da evolução crescente queacompanha a temática de sua poesia no sentido de umaconsciencialização mais perfeita, dispõe já dum escol onderessaltam nomes-promessas como os de: Abílio Duarte,Corsino Fortes, Rolando Martins, Amiro Faria, Dulce Al-mada, Dante Mariano e outros.

E S TA É A G E R A Ç Ã O Q U E N Ã O VA I PA R APASÁRGADA.

Angola, 1963

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BIBLIOGRAFIA

Antologia da ficção caboverdiana contemporânea: Introdução de ManuelFerreira; Comentário de Aurélio Gonçalves

Ambiente — Jorge BarbosaArquipélago — Jorge BarbosaBoletim «Cabo Verde» — Imprensa Nacional de Cabo VerdeCabo Verde visto por Gilberto Freyre — Baltazar LopesCaderno de um ilhéu — Jorge BarbosaCaminhada — Ovídio MartinsChiquinho — Baltazar LopesChuva Braba — Manuel LopesClaridade — N.os 1 a 9 (S. Vicente — Cabo Verde)Consciência literária caboverdiana — Manuel Ferreira, in Revista

de Estudos Ultramarinos n.o 3Enterro de nha Candinha Sena — António Aurélio GonçalvesItinerário de Pasárgada — Osvaldo Alcântara, in Revista Atlântico

(edição SPN)Os flagelados do vento leste — Manuel LopesOrfeu Negro — Jean-Paul SartrePródiga — António Aurélio GonçalvesQuando a vida nascer — Mário Fonseca, in «Cabo Verde» n.o 126Reflexões sobre a questão judaica — Jean-Paul SartreSeroantropologia das Ilhas de Cabo Verde — Mesa Redonda sobre

o homem caboverdiano — Almerindo Lessa e Jacques RuffiéSuplemento Cultural N.o 1 do Boletim «Cabo Verde»Temas caboverdianos — Manuel Lopes, in Revista de Estudos Ultrama-

rinos n.o 3.