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Ensaio Teorico

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  • UNIVERSIDADE DE BRASLIA UnB FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

    DEPARTAMENTO DE TEAORIA E HISTRIA ENSAIO TERICO

    CONSCIENCIA POPULAR E POLITIZAO DA QUESTO

    URBANA NO BRASIL: das demolies dos cortios no

    Sculo XIX funo social da cidade e da propriedade no

    estatuto da Cidade estudo de casos

    Shinelle Delice Hills

  • SHINELLE DELICE HILLS

    CONSCIENCIA POPULAR E POLITIZAO DA QUESTO URBANA NO BRASIL:

    das demolies dos cortios no Sculo XIX funo social da cidade e da

    propriedade no estatuto da Cidade estudo de casos

    Braslia, 18 de fevereiro de 2013

    Pro. Rodrigo Santos de Faria (UnB) Dr. Histria (UNICAMP)

    Orientador

    BANCA EXAMINADORA Pro. Benny Schvarsberg

    Dr. Sociologia Urbana (UnB)

    Profa. Cristiane Guinancio Mestre, Arquitetura e Urbanismo (UnB)

  • SHINELLE DELICE HILLS

    CONSCIENCIA POPULAR E POLITIZAO DA QUESTO URBANA NO BRASIL:

    das demolies dos cortios no Sculo XIX funo social da cidade e da

    propriedade no estatuto da Cidade estudo de casos

    Braslia, 18 de fevereiro de 2013

    _________________________________________________ Pro. Rodrigo Santos de Faria (UnB)

    Dr. Histria (UNICAMP) Orientador

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________________ Pro. Benny Schvarsberg

    Doutor Sociologia Urbana (UnB) Universidade de Braslia

    _________________________________________________ Profa. Cristiane Guinancio

    Mestre, Arquitetura e Urbanismo (UnB) Universidade de Braslia

  • RESUMO

    O presente trabalho tem como objetivo desenvolver um recorte histrico e

    historiogrfico da atuao dos poderes pblicos no processo de desenvolvimento

    urbano e melhoria das cidades brasileiras desde o sculo XIX com foco nos efeitos

    dessa ao sobre o grupo populacional com dificuldades de acesso , a populao de

    baixa renda ou aquela cuja renda est associada ao trabalho informal. O estudo

    apresenta como recorte temporal o perodo entre o evento cabea de porco no Rio de

    Janeiro no final do sculo XIX e a primeira dcada do sculo XXI, j no contexto

    jurdico-social do Estatuto da Cidade, no que por ele passa a concepo de funo

    social da cidade e da propriedade.

    O estudo de alguns casos emblemticos durante esse perodo pretende tambm

    analisar, no que for possvel pesquisar nas fontes documentais e nas referncias

    bibliogrficas, como essas classes populares se manifestavam frente s presses

    estatais e s aes do poder pblica. Aes que historicamente no Brasil trataram os

    movimentos de reivindicao ao direito moradia, como caso de polcia, em solues

    dos problemas habitacionais que no passaram por polticas habitacionais inclusivas,

    mas com despejos base da fora policiar.

  • ABSTRACT

    The present study aims to elaborate a historical and historiographical timeline of

    interventions by the government in the process of urban development and

    improvements in Brazilian cities since the nineteenth century, with focus on the effects of

    these actions on the group greatly affected by such actions, the lower- income

    population. The study presents as its timeline, the period from the events that surround

    the demolition of the slum tenement Cabea de Porco in Rio de Janeiro at the end of the

    nineteenth century and the first decade of the twenty first century, already in the legal

    context of the City Statute, under which falls the concept of the social function of the

    city and property.

    The study of some emblematic cases during this period also intends to analize,

    within the limits of documental sources and bibliographical references, how this low-

    income population manifested itself under pressures from the state and state supported

    actions. These actions in Brazil historically deemed the social movements struggling for

    the right to adequate housing, as criminal, thus solving the housing problem not through

    housing policies but with evictions by the police.

  • SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................................. 7

    1. URBANISMO NO BRASIL ...................................................................................... 12

    1.1. PRIMEIRO PERODO ......................................................................................... 12

    1.2. O SEGUNDO PERODO ..................................................................................... 15

    1.3. O TERCEIRO PERIODO E CONTEXTO POS-BNH ............................................ 18

    2. TEMPOS RECENTES ............................................................................................. 22

    2.1. O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA ....................................................... 23

    2.2. O CASO DA OCUPAO PRESTES MAIA ........................................................ 25

    3. O CASO DE PINHEIRINHO, SO JOSE DOS CAMPOS, SO PAULO ............... 27

    4. CONSIDERAES FINAIS .................................................................................... 29

    5. REFERNCIAS ....................................................................................................... 31

  • 7

    INTRODUO

    Este trabalho pretende desenvolver um recorte histrico e historiogrfico da

    atuao dos poderes pblicos no processo de desenvolvimento urbano e melhoria das

    cidades brasileiras desde o sculo XIX com foco nos efeitos dessa ao sobre o grupo

    mais afetada por essas aes, a populao de baixa renda. O estudo apresenta como

    recorte temporal o perodo entre o evento Cabea de Porco no Rio de Janeiro no final

    do sculo XIX e a primeira dcada do sculo XXI, j no contexto jurdico do Estatuto da

    Cidade, no que por ele passa a concepo de funo social da cidade e da

    propriedade.

    O estudo de alguns casos emblemticos durante esse perodo pretende tambm

    analisar, no que for possvel pesquisar nas fontes documentais e nas referncias

    bibliogrficas, como essas classes populares se manifestavam frente s presses

    estatais e s aes do poder pblica. Aes que historicamente no Brasil trataram os

    movimentos de reivindicao ao direito moradia, como caso de polcia, em solues

    dos problemas habitacionais que no passaram por polticas habitacionais inclusivas,

    mas com despejos base da fora policiar.

    Para obter maiores informaes, o estudo ser em grande parte baseado em

    publicaes realizadas por pesquisadores que estudam o assunto em questo.

    Procura-se tambm levantar dados de fontes alternativas como os vdeos que foram

    realizados por grupos profissionais de apoio aos movimentos sociais em suas atuais

    reivindicaes, como o caso do Grupo RISCO em So Paulo, que atua juntamente com

    o Movimento dos Moradores dos Cortios na maior cidade brasileira.

    Como j foi informada, a entrada no tema ocorrer pela anlise das grandes

    reformas urbanas no territrio brasileiro que ocorriam no final do sculo XIX, no

    momento em que o Urbanismo se constitui como saber erudito de interveno na

    cidade, no caso brasileiro, a partir das reformas urbanas e dos melhoramentos urbanos

    das principais cidades, particularmente na capital do Imprio, o Rio de Janeiro. A

    anlise de Flvio Villaa no texto Uma contribuio para a histria do planejamento

  • 8

    ___________________

    VILLAA, Flvio. Uma contribuio para a histria do planejamento urbano no Brasil. In: O Processo de Urbanizao no Brasil/Csaba Dek, Sueli Ramos Schiffer (organizadores) 1 ed. 1 reimpr. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 2004

    urbano no Brasil, publicado no livro O Processo de Urbanizao no Brasil est

    apoiada na contextualizao do cenrio geral no somente do processo acadmico,

    mas tambm da esfera de polticas pblicas. Um passo necessrio no entendimento do

    cenrio em que est inserido o recorte temporal deste trabalho.

    Neste amplo cenrio, o ponto de partido ser a demolio do cortio Cabea de

    Porco no Rio de Janeiro em 1893, pelo que este evento histrico representa ainda hoje

    no sentido de certa permanncia das aes dos governos com a questo urbana-

    habitacional. No seu livro, Cidade Febril: Cortios epidemias na Corte Imperial, o

    historiador Sidney Chalhoub relata os acontecimentos do evento, detalhando as aes

    do Estado, da populao atingida diretamente pela demolio e a reao da imprensa

    da poca. Nesse sentido, a anlise de Chaloub instrumental na reinterpretao no

    somente deste conflito, mas de outros como a revolta das vacinas, todos quais fazem

    parte do processo de compreenso da historia social da poca.

    Alm do Rio de Janeiro, outras cidades como So Paulo tambm passavam por

    mudanas semelhantes na sua paisagem. Em 1894 foi estabelecido, o Cdigo Sanitrio

    do Estado de So Paulo que basicamente proibiu a construo de cortios e previu a

    demolio dos existentes. O Relatrio da Comisso de Exame e Inspeo das

    Habitaes Operrias e Cortios no Distrito de Santa Efignia de 1893 (ARQUIVO

    PBLICO DO ESTADO DE SO PAULO) um exemplo de como o Estado atuou na

    esfera pblica para solucionar os problemas enfrentados com a existncia dessas

    bolsas de habitao precria.

    Villaa (1999) levanta alguns fatores determinantes que causou a propagao

    deste tipo de moradia. Desses fatores, ele ressalta o fato do grande fluxo de imigrantes

    chegando ao Brasil que fariam parte da classe operria existente e tambm os avanos

    tecnolgicos que vieram com a Revoluo Industrial, como sendo de grande

    importncia. Os imigrantes, ao chegarem no Brasil, normalmente encontravam

  • 9

    alojamento nas periferias das grandes cidades, bem distante dos centros de trabalho.

    Para garantir acesso a este mo-de-obra e o acesso dele ao trabalho, muitos destes

    empresrios resolveram construir habitao mais perto do centro onde se concentrava

    a maior parte dos empregos.

    necessria ressaltar no estudo que o Brasil no era nico neste modelo de

    soluo, j que veremos outros casos na histria, como da cidade de Essen, na

    Alemanha, e de Saltaire, na Inglaterra. No caso de Saltaire, o empresrio Titus Salt se

    mostrou um homem adiante de seu tempo incialmente construindo alojamentos para os

    operrios e suas famlias empregadas nas suas fbricas. Eventualmente, em 1848, ele

    contrataria dois arquitetos para projetar uma cidade operria no entorno de uma das

    mais novas fbricas. Com a construo desta cidade, observamos que as condies de

    vida dos operrios e suas famlias passavam por grandes melhorias, especialmente em

    relao ao problema da salubridade. O caso de Essen, Alemanha e a empresa Krupp

    tiveram seus altos e baixos com a passagem de tempo. Os alojamentos iniciais foram

    precrios, mas tiveram algumas melhorias nas primeiras dcadas do sculo XX. No

    entanto, durante a Segunda Guerra Mundial houve uma grande queda nesta qualidade

    de vida devido a fatores extraordinrios, como a incluso de prisioneiros de guerra na

    mo-de-obra.

    Foram alguns anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, 1948 para ser

    mais preciso, que as primeiras polticas no palco internacional elaborada sobre o direito

    moradia, direito humano universal (Declarao Universal dos Direitos Humanos, 1948,

    art. 25) so elaboradas e decretadas. Estabelecida pela Organizao das Naes

    Unidas ONU esta declarao no se resume em simplesmente disponibilidade de

    um teto, mas estabelea os seguintes parmetros:

    Artigo 25, pargrafo 1 Todo ser humano tem direito a um padro de vida capaz de assegurar a si e a sua famlia sade e bem estar, inclusive alimentao, vesturio, habitao, cuidados mdicos e os servios sociais indispensveis, e direito segurana em caso de desemprego, doena, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistncia fora de seu controle. (Declarao Universal dos Direitos Humanos, 1948, art. 25)

  • 10

    Enquanto isso, no Brasil, o desenvolvimento industrial trouxe novas intervenes

    do poder pblico como a Lei de Inquilinato de 1942, que embora fosse, segundo

    Bonduki (1998), um grande alvio para os trabalhadores, tambm propiciou a queda na

    construo legal de moradia para locao, eventualmente piorando a situao da

    disponibilidade de moradia nos centros e indiretamente aumentando a expanso das

    favelas. Em resposta a este fracasso e o aumento na migrao interna em direo as

    grandes cidades, foi criada a Fundao da Casa Popular (FCP) em 1946. Bonduki

    (1999) pinta o cenrio da poca no seguinte trecho

    Nessa conjuntura, a questo da habitao se politizou como em raros momentos na histria do pas. Num clima de carncia generalizada de produtos de primeira necessidade, a falta de moradias gerou enorme descontentamento popular, que repercutiu na imprensa, nos discursos polticos e nas propostas governamentais. Atento situao e cada vez mais necessitado de apoio popular, Vargas passou a incluir o tema em seus discursos para os trabalhadores. [...] Embora a deposio de Vargas tenha interrompida a implementao dessas medidas, a gravidade da crise habitacional a transformou em tema importante da campanha eleitoral de 1945, obrigando os candidatos a fazer propostas concretas sobre o assunto. (Bonduki, 1999, p.116).

    Conforme Bonduki, a Fundao da Casa Popular foi o primeiro rgo federal criado

    para tratar exclusivamente de solucionar o problema habitacional. Ele afirma que sua

    criao mostra que houve a compreenso correta pelos poderes estatais sobre a

    gravidade e a complexidade do problema habitacional. No entanto, como as polticas

    anteriores problemas surgiram, resultando no seu fracasso, pois como aponta Bonduki:

    Criada para resolver no plano federal a questo habitacional, a FCP transformou-se num rgo dominado por prticas venais e presses polticas rasteiras: a FCP no foi capaz de alcanar maturidade institucional traduzida em paradigmas universalistas, em firmeza de objetivos e em prestgio organizacional. A imagem que dela ficou era de um rgo deriva, despersonalizado, que vagava ao sabor das injunes e das caractersticas transitrias de seus chefes [Andrade e Azevedo 1982:30]. A FCP sobreviveria por inrcia at 1964, sendo considerado um smbolo da ineficincia governamental e do predomnio da fisiologia em detrimento da racionalidade e do interesse pblico. (Bonduki, 1999, p.125).

    Essas intervenes anteriormente mencionadas faltavam um elemento

    fundamental que era a opinio da populao afetada, ou seja, as classes populares.

    No observamos nenhuma manifestao desta populao ou de algum que no

  • 11

    estava inserida na esfera poltica ou acadmica que carregavam a bandeira delas at

    os anos 60. Faria (2008) marca o Seminrio Nacional de Habitao e Reforma Urbana

    de 1963 como sendo uma dessas instancias onde houve uma srie de debates entre

    algumas entidades sociais e alguns profissionais que atuaram na rea em questo. Ele

    tambm identifica a aprovao do documento Uso do Solo e Ao Pastoral, resultado

    da Conferncia de Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1975, como um momento

    historicamente importante que pleiteava a funo social da propriedade.

    Em conjunto com esses primeiros passos, faremos referncia Constituio

    Brasileira de 1988 que elabora sobre Poltica Urbana com a declarao do seguinte:

    A poltica de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Pblico municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei tm por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funes sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (Constituio Federal - CF 1988, Art. 182)

    Esta declarao trabalha em conjunto com o Estatuto da Cidade, cuja criao em 2001,

    estabelea que a propriedade urbana passe a no ser apenas um direito individual, mas

    tambm coletivo e seu proprietrio pode ser privado da coisa caso haja necessidade,

    por utilidade pblica, ou interesse social (Cdigo Civil, art. 1.228).

    Fazendo essa trajetria, o estudo chegar aos casos de hoje como o mais

    marcante sendo o caso de Pinheirinho, em So Jos dos Campos no Estado de So

    Paulo. Como comparao, podemos estabelecer alguma relao entre os

    acontecimentos no Pinheirinho com as aes da Prefeitura do Rio de Janeiro no caso

    do Cortio Cabea de Porco no dia 26 de janeiro de 1893. O que possvel concluir

    que entre os mais de cem anos que separam as duas aes dos respectivos governos,

    Estadual e Municipal, a opo militar como soluo para o problema no mudou,

    colocando em confronto os moradores e a polcia. O caso do Pinheiro em So Jos dos

    Campos recoloca o debate sobre a criminalizao dos movimentos sociais e suas lutas

    por moradia, movimentos constitudos por populao invariavelmente pobre. possvel

    questionar se houve efetivamente alguma mudana que no seja no espectro da Lei, se

    na prtica as polticas urbanas foram efetivamente implementadas na base do da

    funo social da cidade.

  • 12

    1. URBANISMO NO BRASIL

    1.1. PRIMEIRO PERODO

    Como estabeleci anteriormente, o ponto de partido seria os acontecimentos em

    volta da demolio do cortio Cabea de Porco, no Rio de Janeiro. Sidney Chalhoub

    (1996) discorre sobre os eventos que comearam no dia 26 de janeiro de 1893. O maior

    cortio da poca no Rio de Janeiro estava sendo invadido pelas autoridades da poca,

    o prefeito Barata Ribeiro e a fora policial. Eles entraram depois do decreto para

    desocupa-lo, que foi desobedecido pelos moradores. Os poderes pblicos vinham

    realizando inspees dos cortios e aqueles encontrados em estados de insalubridade

    eram eventualmente fechados para melhoramentos ou at mesmo demolidos.

    A precariedade no era restrita ao Rio de Janeiro, mas tambm ocorria em So

    Paulo. Um caso significante do distrito de Santa Ephignia onde foram abrigados

    grandes nmeros de imigrantes que chegaram ao Brasil em busca de trabalho. A

    populao de So Paulo explodiu e somente no Distrito de Santa Ephignia a

    populao mais do que dobrou de 14.025 habitantes em 1890 para 42.715 em 1983.

    Sem ter para onde colocar tantas pessoas, a resposta para este problema foi

    construo de habitaes rpidas que na maioria dos casos eram precrias, sem

    saneamento bsico.

    Alm da construo dessas moradias, o setor privado at converteu antigas

    sobrados em casas dividas no meio e com a criao de vrios cmodos. Alm deste

    dficit de habitao, Bonduki (1999) discorre que a ineficincia do sistema de transporte

    publica tambm motivou a construo de habitao barata pelo setor privado por sua

    mo-de-obra. Tendo sua fonte de mo-de-obra localizada perto garantia acesso a ela

    pelos comerciantes e tambm o acesso desta mo-de-obra aos empregos sem a

    incerteza que existia quando eles moravam longe.

    Nabil Bonduki (1999) levanta um fato importante que devo citar para o melhor

    entendimento do cenrio histrico. At 1870, os centros das cidades como So Paulo

    era caracterizado pela concentrao no somente por essas classes populares de

    trabalhadores, mas tambm por habitaes dos prprios comerciantes, j que eles

  • 13

    queriam ficar perto dos seus comrcios e oficinas. No entanto, os nmeros crescentes

    destes trabalhadores e as epidemias que eventualmente atingiriam os lugares onde

    eles habitavam, foram grandes determinantes para a classe comerciante iniciar

    deslocamento espacial, pelos riscos que sofriam em funo dos perigos para a sade

    habitar nas reas prximas aos cortios.

    Feitas essa consideraes e nos lembrando da proximidade dessas habitaes

    precrias aos bairros nobres, Bonduki (1999) aponta que essas preocupaes levavam

    a demolio de alguns cortios e habitaes populares. Pressionado pelos interesses

    privados, o estado passou a assumir um papel mais rgido quando lidando com a

    questo de habitao popular. O auge de tal perodo, sendo a demolio do cortio

    Cabea de Porco seria o comeo da poca que a Villaa (1999) nomeou a poca de

    melhoramentos e embelezamentos.

    Essas intervenes eram para atender uma srie de exigncias feita pelo

    Estado, mas com o foco sendo na revitalizao das reas centrais e a melhoria do

    sistema virio. Pelos argumentos de Villaa, ele escreve

    [...] a mudana de funo do centro, atendendo num plano mais imediato aos interesses especulativos que cobiavam essa rea altamente valorizada e num plano mais geral s exigncias de acumulao e circulao do capital comercial e financeiro; razes polticas decorrentes de exigncias especficas do Estado republicano em relao quela cidade que era a sede do poder poltico nacional. (Benchimol apud. Villaa, 1999, p.193).

    Alm disso, ele oferece como exemplo o caso de Pereira Passos, alm de ser

    presidente de uma das grandes companhias de comrcio, foi prefeito do Rio de Janeiro

    em 1903 e liderou uma srie de intervenes que seriam importantes a criao de

    reas de comrcio perto do porto. Seja qual a verdadeira razo, o fato que as

    intervenes estavam sendo realizadas.

    E quem foram os indivduos que estavam por trs da realizao destas

    mudanas? Leme (1999) explica que quem atuava nesta rea eram os engenheiros

    formados nas antigas Escolas Militares, na Escola Central no Rio de Janeiro e em

    outros casos, formado no exterior. Alguns deles foram convocados para atuar na esfera

  • 14

    de administrao pblica como no caso de Saturnino de Brito. Ele, junto com Theodoro

    Sampaio e Loureno Baeta Neves, eram os engenheiros que mais se destacaram nesta

    poca. Entre eles, atuaram nas grandes obras de melhorar o sistema virio como a

    construo de ferrovias e intervenes nas reas centrais como obras de saneamento.

    A demolio de cortios abriu novos espaos para serem modelados. Leme

    identifica que com esses melhoramentos, assim comeou a descentralizao dos

    centros de comrcios. reas antigamente sob a maldio de abandono agora

    ganharam uma nova vida. No entanto, ela discorre sobre uma relao inversa dessas

    melhorias, pelo deslocamento das famlias burguesas, que deixaram suas residncias

    nos antigos bairros. Muitas dessas moradias abandonadas foram ocupadas e

    transformadas nos novos cortios das famlias desapropriadas das reas centrais.

    Conforme Villaa (1999), em defesa dessas demolies, representantes

    governamentais e posicionaram publicamente como no caso do Senador Francisco

    Belisro Soares de Souza que dizia o seguinte

    Um bairro inteiro de casebres feios, insalubres, ruins, foi todo comprado por uma poderosa companhia, arrasado, e no local construdo um bairro elegante, bonito, confortvel em todos os sentidos, realizando a companhia excelente negcio do ponto de vista financeiro. Uma cidade da Europa [...] no suportaria no seu centro uma rua da Vala, do Senhor dos Passos, de So Jorge e [...] que sei eu mais (Benchimol apud. Villaa, 1999, p.198).

    No entanto, Villaa (1999) aponta a inabilidade dessas propostas para encontrar

    solues aos maiores problemas urbansticas da cidade cujos efeitos estavam sendo

    sentidos na maior parte pela populao de baixa renda. A desigualdade somente

    piorava com essas novas intervenes que conforme Villaa assinalou o declnio dos

    planos de melhoramentos e embelezamento. Conforme Villaa (1999), esse perodo

    presencia uma mudana no discurso do poder pblico que podemos concluir pelo

    seguinte

    O relatrio do prefeito paulistano Raymundo Duprat, referente ao binio 1912 1913, apontava [...] a impossibilidade de efetivao imediato do Plano Bouvard em sua totalidade [...], mas insiste na necessidade de que se garanta sua realizao futuro. O prefeito, por meio da Comisso de Obras declara que [...] mais importante que a existncia de monumentos e praas, deve-se dar cidade uma disposio harmnica. [...] Anuncia o perodo em que as obras de infra-estrutura comeam a ofuscar a

  • 15

    importncia das obras de embelezamento. Em segundo lugar , trata-se talvez da primeira meno de planejamento de longo prazo feita por uma autoridade municipal brasileira. Finalmente cabe destacar a oposio feita pelo prefeito entre, de um lado, monumentos e praas e, de outro, a disposio harmnica da cidade. A importncia da eficincia comea a superar a da beleza. (Villaa, 1999, p.198).

    Foram dessas concluses e tambm influencias de exemplos estrangeiros como

    de Nova York que a Villaa (1999) explica que a planejamento urbano no territrio

    brasileiro passou a ser interesse de no somente engenheiros e arquitetos, mas de

    professionais de outras reas de atuao como economia, sociologia, geografia, direito

    e administrao. Assim no perodo a seguir comeamos a ver a atuao destes

    indivduos na esfera publica na rea de planejamento urbano no Brasil.

    1.2. O SEGUNDO PERODO

    Passando para o segundo perodo, observamos diferena no meio de pensar

    entre os que estavam encarregados de planejar e projetar as melhorias nas cidades.

    Segundo Leme, os planos agora comeavam abranger o conjunto urbano na sua

    totalidade e no somente reas pontuais. Alguns engenheiros j tinham essa viso

    ampla como o caso de Saturnino de Brito.

    Nesta poca, destacam-se profissionais como Francisco Prestes Maia,

    Domingos Ferreira e Joo Florene de Ulha Cintra. Prestes Maia elaboraria um plano

    para So Paulo conhecido como O Plano das Avenidas que seria uma proposta de

    sistema virio que facilitaria a conexo entre o centro da cidade e os bairros e vice-

    versa. Este plano eventualmente serviria como referencia para outras cidades.

    Leme tambm reconhece que este perodo caracterizou-se por uma maior troca

    de conhecimento e experincias urbansticas entre os profissionais. Esta troca no

    aconteceria somente entre profissionais nacionais, mas tambm inclua professionais

    estrangeiros, particularmente europeus. Como no perodo anterior, as grandes reformas

    francesas serviam como referncia, agora professionais franceses estavam sendo

    contratados para desenvolver planos, como no caso de Donat Alfred Agache no Rio de

    Janeiro no final dos anos 20. Eles no somente atuavam no campo professional, mas

  • 16

    tambm no campo acadmico, como Gaston Bardet que chegou a ministrar um curso

    em Belo Horizonte no final da dcada 40 ou padre Lebret que fundou o Movimento

    Economia e Humanismo e escritrios de pesquisa.

    Os franceses trouxeram tambm o termo urbanismo e o conceito de

    planejamento ao longo prazo, o plano diretor, que estavam sendo disseminados por

    meio de palestras por Agache. Entram na cena tambm outros profissionais, como Le

    Corbusier, que trouxe com ele outros meios de pensar que eram bastante divergentes

    do Agache. Mesmo assim, as propostas que eventualmente seriam utilizadas teriam

    uma coisa em comum, que seria a transformao radical na estrutura urbana das

    cidades, com particular ateno ao sistema virio. Em So Paulo, com a ascenso de

    Prestes Maia ao cargo de prefeito, ele embasaria futuros intervenes no espao

    urbano no seu Plano das Avenidas, enquanto no Rio de Janeiro, algumas partes do

    plano de Agache seriam assumidas pela Comisso do Plano da Cidade.

    Os pensamentos de Villaa (1999), pelo menos uma parte, estavam em

    concordncia com os pensamentos de Leme. Ele tambm reconheceu o surgimento

    dos termos urbanismo e plano diretor nos planos urbanos pelos professionais

    brasileiros. No entanto, ele discute algo no levantado por Leme que, como esperado,

    volta ao aspecto social. Segundo o autor, as mudanas nos pensamentos urbansticos

    para abranger o conjunto urbano na sua totalidade, no chegaram a incluir habitao

    social. Foram elaborados planos para duas das maiores cidades, nomeadamente Rio

    de Janeiro e So Paulo, no entanto, ele afirmou que o aspecto de habitao social

    continuou sendo marginalizado.

    Para ele, isso era o resultado direto dos interesses dos mais poderosos,

    economicamente falando, os em sua proximidade com os poderes pblicos. Ele da

    como prova do descaso no seguinte trecho:

    Mas ser obra social atender-se a esses habitantes das favelas do Distrito Federal, que no so, a rigor, operrios? [...] Todos os indivduos que ocupam essas favelas, essas casas, j denominadas de cachorro, no so trabalhadores que vivem de um trabalho honesto [...] Pergunto Cmara: ser obra social fazer-se uma edificao para esses vadios? (BMTIC, 1937a, apud Villaa, 1999, p. 203)

  • 17

    Em outras palavras, os problemas maiores como da deficincia de habitao popular,

    no estava em jogo, j que no havia algum lucro ligado a investimento em tais

    projetos. No entanto, o no atendimento destes problemas, no significou que eles iam

    embora, pelo contrario eles pioravam. Para ele, os planos sempre eram baseados nos

    interesses da classe dominante e os planos vm sendo mais ousados, sendo amostras

    claras destes interesses particulares. Isso vem sendo discutido na esfera pblica e

    enfrentando estes obstculos, a classe dominante tentou encontrar outra maneira de

    realizar estas mudanas, mas de maneira oculta. Segundo Villaa (1999), isso seria por

    meio desta troca de termos do embelezamento para o de plano geral, como a Leme

    identificou no seu texto. Sobretudo Villaa (1999), levanta o problema que, com

    algumas excees, os planos propostos em geral no tinham como foco o maior

    problema urbano, a deficincia de habitao popular. Isso somente seria um ponto de

    interesse por o Estado na dcada de 40.

    No governo de Getlio Vargas, esse interesse manifestou-se na forma da criao

    da Lei do inquilinato em 1942 que instituiu o congelamento dos valores dos alugueis e

    serviu para regulamentar a relao entre os proprietrios e inquilinos. A instituio

    desta lei, no entanto, tinha uma relao negativa em relao a construes de

    habitaes populares porque o que era uma rea de grande lucro para os interesses

    privados, agora estava sendo regulamento pelo governo, tirando o poder das mos dos

    proprietrios. Conforme Bonduki (1999), o interesse do governo no era somente a

    necessidade habitacional da populao, mas tambm um meio de aumentar sua base

    de apoio do poder.

    Na sua analise dessa nova poltica Bonduki (1999) considera que ela serviu

    como parte do processo de substituio de importaes que estava sendo implantada

    neste perodo. Em funo da falta de recursos internos e de capitais externos, vrias

    medidas foram tomadas para preencher dficit. Uma maneira de realizar isso foi a

    realocao de recursos de outros setores da economia, e a lei do inquilinato fez parte

    dessas medidas. Bonduki (1999) explica que essa lei no impediu que os proprietrios

    contornassem o sistema. Porm, essa ao gerou uma das maiores crises

    habitacionais no Brasil

  • 18

    [...] A Lei do Inquilinato no impediu que os locadores, buscando melhorar a remunerao, utilizassem mecanismos expedientes legais, ilegais, coercitivos, violentos ou amigveis para se esquivar ao espirito da lei [...] O congelamento era to draconiano que seria iluso supor que os proprietrios se conformariam em ver seus rendimentos declinando ms a ms, durante dcadas, sem tomar qualquer iniciativa para dar melhor aproveitamento ao seu patrimnio que, potencialmente, se valoriza excepcionalmente com a especulao imobiliria. [...] (Bonduki, 1999, p. 254).

    Outra poltica implementada pelo governo foi a Fundao Casa Popular em 1946

    como a resposta ao dficit habitacional no Brasil. O objetivo da fundao era oferecer

    aos brasileiros e estrangeiros com mais de dez anos de residncia no pas ou com

    filhos brasileiros o direito a adquirir ou construir sua moradia prpria, em zona rural ou

    urbana. No entanto, com uma inteno to ambiciosa, a realidade era outra j que ela

    pretendia atender nmeros indivduos, porm os recursos no eram suficientes para

    sustenta-la. Alm disso, havia a falta de coordenao com outros rgos que

    resultavam na ausncia de uma frente nica coordenada para enfrentar o problema do

    dficit de habitao popular. Essas ineficincias eventualmente levaram a seu fracasso

    em 1964. Mesmo assim, sua criao era prova da necessidade de um rgo

    especificamente e exclusivamente voltada a combater o problema habitacional.

    1.3. O TERCEIRO PERIODO E CONTEXTO POS-BNH

    Conforme Leme no artigo elabora sobre a dupla atuao dos primeiros

    profissionais, em ambos os campos acadmico e profissional era importante

    implantao dos conceitos de urbanismo e plano geral. Esta insero em dois

    campos ampliava o reconhecimento de outros aspectos ligados ao urbanismo como

    expectativas politicas e sociais.

    Este perodo foi caracterizado por grandes mudanas no campo dos estudos

    urbanos. Ele abriria com a introduo de novos termos, mtodos e a incluso

    profissional de outros campos de estudo. Villaa (1999) tambm reconhece esta

    mudana, afirmando que os profissionais da poca entenderam que compreenso dos

    problemas urbanos no podia prender-se somente arquitetura e a engenheira. O

    aspecto de totalidade no pode ser limitado ao espao urbano, ou seja, a cidade

  • 19

    um organismo econmico e social gerido por um aparato poltico-institucional. (Villaa,

    1999, p. 211). Ele chamou esses planos de superplanos a qual ele falou o seguinte:

    A questo de fundo, entretanto, era que quanto mais complexos e abrangentes tornavam-se os planos, mais crescia a variedade de problemas sociais nos quais se envolviam e com isso mais se afastavam dos interesses reais da classe dominante e, portanto das suas possibilidades de aplicao. (Villaa, 1999, p. 214).

    Vemos tambm a atuao de alguns engenheiros civis e arquitetos na

    construo de leis de zoneamento de So Paulo. As influencias dessa atividade

    reverberava no somente em So Paulo, mas em outros estados e abordava aspectos

    que ainda permanecem at hoje como questes ambientais. Outra novidade que

    sugeria na poca seria o fato que estes equipes, embora vinculados prefeitura, eram

    ainda independentes no aspecto que no momento de mudana do prefeito, eles

    permaneceriam como os planejadores urbansticos.

    Este perodo tambm presencia a formao de uma nova gerao de

    professionais, diferentes daqueles formados no fim do sculo XIX. Formados nos anos

    1930, esses profissionais passavam a atuar em equipes multidisciplinares. Um exemplo

    importante seria a atuao do grupo SAGMACS, Sociedade para Analise Grfica e

    Mecanogrfica Aplicadas aos Complexos Sociais, o escritrio tcnico fundado pelo

    padre Lebret e brao brasileiro do movimento francs Economia e Humanismo,

    mencionado mais cedo. Um dos seus primeiros trabalhos foi realizado para o estado de

    So Paulo em 1956. Envolveu a realizao de um estudo cujos dados foram resumidos

    na seguinte forma no banco documental do site www.urbanismo.br.org:

    1. "Perspectivas histricas, demogrficas e econmicas da aglomerao paulistana - uma anlise crtica do dinamismo de So Paulo com a finalidade de apreender as possibilidades de crescimento. Pela primeira vez um estudo de planejamento urbano de So Paulo inclui estudos da histria de formao da cidade desde a fundao, passando pela fase colonial, imprio, at a transformao, no sculo XX, em metrpole. A equipe com base em dados demogrficos prope limites ao crescimento urbano.

    2. "Estrutura Urbana de So Paulo" - uma pesquisa scio-econmica, em todas a rea urbanizada da aglomerao paulistana , incluindo os municpios de So Paulo, Santo Andr, So Bernardo e Guarulhos.

  • 20

    A pesquisa adotava como hiptese a organizao da vida coletiva em trs escales: elementar, complexa e completa. Aplicando esta classificao foram identificadas trs regies na cidade em funo do centro principal e dos sub-centros: a regio central, a regio externa e a regio de transio entre as duas.

    3. "Aspectos Sociolgicos da aglomerao paulistana". Ela no aparece detalhada em itens como as outras partes do estudo. No foi localizado nenhum exemplar, at o momento, o que leva a supor que no tenha sido entregue como estudo final.

    4. "Anlise Urbanstica" - coleta por amostragem e anlise de informaes quanto ao uso e a ocupao do solo, equipamentos bsicos, anomalias surgidas do processo desordenado de expanso central da periferia; circulao e problemas relativos legislao urbanstica existente.

    A equipe do SAGMACS, considerava que para a realizao do Plano Diretor, os urbanistas do Departamento de Urbanismo da Prefeitura, estavam melhor habilitados para faz-lo, cabendo a ela apenas as indicaes de carter geral.

    5. Concluses e sugestes, destacando de forma resumida os problemas da aglomerao paulistana e propondo uma orientao de desenvolvimento para a aglomerao (municpios de So Paulo, Santo Andr, So Caetano, So Bernardo e Guarulhos), para a great So Paulo (a aglomerao mais os municpios vizinhos) o greater So Paulo (Great So Paulo mais o litoral sul, o vale do Paraba, Campinas e Baur) e a greatest So Paulo (rea total de So Paulo).

    O Anexo aborda os aspectos do Governo e da Administrao da Capital com uma proposta de reorganizao administrativa:

    1. Distrito especial com Prefeito e Cmara municipal;

    2. 19 Distritos com Sub Prefeitos e Juntas Distritais;

    3. 83 Sub Distritos com Intendentes e Conselhos Sub Distritais;

    4. Setores administrativos com encarregados e Comisses Consultivas.

    Propunham tambm uma simplificao administrativa, reduzindo quantitativamente e passando as funes das unidades superiores s unidades elementares. Assm sendo, o nvel de Prefeitura teria:

    - Junta de Planificao Municipal;

    - Secretaria de Servios Internos;

    - Secretaria de Finanas;

    - Secretaria de Servios Externos.

    O grupo tambm realizou pesquisas e estudos em outras capitais como Belo

    Horizonte e tinha a expectativa de efetivar transformaes atravs do seu trabalho.

    Estes estudos formularam uma parte da base de uma economia humana, pregada

  • 21

    pelo Movimento Economia e Humanismo, que foi vista como uma doutrina coerente

    com a f crist e crtica aos sistemas vigentes e em luta na poca: o Capitalismo, o

    Comunismo e o Fascismo (Celso Lamparelli, 2005). No entanto, com o evento do golpe

    que ocorreria anos depois, a SAGMACS eventualmente foi forada a dissolver e

    encerrar todas suas atividades por causa de perseguio at o ponto de alguns dos

    seus membros deixando o Brasil. (http://www.urbanismobr.org, 16 de fevereiro de

    2013).

    Este golpe de 1964 que o Brasil sofreria e ditadura militar estabelecida em

    seguida, consolidaria a prtica do planejamento urbano e o processo de

    institucionalizao do urbanismo na administrao pblica, desta vez na esfera federal.

    Este novo perodo traria as experincias do Banco Nacional de Habitao (BNH),

    integrado com o Servio Federal de Habitao e Urbanismo (SERFHAU). Essas duas

    Instituies eram as respostas encontradas pelo governo da poca para a crise de

    habitao criada pela acelerao do crescimento e da urbanizao.

    O BNH nas fases iniciais era voltado para a construo de habitao popular e

    at 1971 estava cumprindo este dever. No entanto, o Bonduki (1999) aponta algumas

    falhas no sistema que passaram a prejudicar essa resposta ao dficit de habitao.

    Uma das primeiras que ele identifica foi o prprio sistema de construo que

    determinou a construo de casas somente por meios formais de construo civil que

    na maioria dos casos era fora do alcance da classe popular, pois no vinculada ao

    mercado formal de emprego, sem acesso, portanto, ao FGTS.

    Outros problemas incluem reclamao sobre a qualidade das construes

    produzida para a populao da renda baixa e tambm a qualidade das intervenes.

    Conforme Bonduki (1999) a maioria dessas construes resultavam em grandes

    conjuntos perifricas onde os habitantes no teriam acesso aos servios bsicos, uma

    situao agravada pela ineficincia do sistema de transporte.

    A situao foi agravada na dcada de 1980, quando o Brasil passou por uma

    crise econmica onde os efeitos do aumento na inflao resultariam em repercusses

    como o aumento de desemprego e a queda dos nveis salarias. Como resultado direito,

  • 22

    investimentos no BNH seriam drasticamente reduzidos alm de ter o problema

    crescente de inadimplncia. No entanto, com a luta contra a ditadura e seu fim eventual

    em 1985, mudanas certamente ocorreria no BNH, que foi extinto em 21 de Novembro

    em 1986. Todas as suas atividades seriam incorporados pela Caixa Econmica

    Federal. Durante est poca tumultuosa, os primeiros movimentos sociais se organizam

    em protesto s polticas do regime militar com reivindicaes por educao, moradia e

    pelo voto direto.

    Depois a extino do BNH, foram desenvolvidos mais planos como o Plano de

    Ao Imediata para Habitao (PAIH) do Governo Collor. No entanto, esta interveno

    tinha seus problemas, como o prazo de entrega das casas, que no foi cumprido e

    quando chegavam a ser entregues, eram entregues em condies inaceitveis. As

    casas eram de baixo valor, facilitando o acesso das classes de baixa renda, no entanto,

    as condies eram deplorveis, como a falta de saneamento e infraestrutura urbana.

    Alm de ser localizadas nas periferias das cidades. Essas falhas eventualmente

    levaram ao abandono do imvel.

    Aps o impeachment de Collor, Itamar Franco assumiu a presidncia e tentou

    diminuir a burocracia do sistema de habitao, passando o financiamento direito para

    os usurios. Seus programas criariam uma base para o seguinte presidente, Fernando

    Henrique Cardoso. No entanto, conforme Bonduki (1999) o governo do Fernando

    Henrique Cardoso reduziu as politicas governamentais em favor da habitao. Alm

    disso, o governo passou a reduzir recursos financeiros destinados urbanizao de

    rea precrias em vrios Estados e Municpios, prejudicando mais ainda a situao da

    classe popular e sua busca de moradia digna. No fim do Governo Fernando Henrique

    Cardoso foi decretado o estatuto da Cidade que previu a valorizao da funo social

    da propriedade.

    2. TEMPOS RECENTES

    Com eleio de Lula para a Presidente e o inicio do governo em 2001, foram

    redefinidas polticas de habitao entre quais foram a criao do Ministrio das

    Cidades, a Poltica Nacional de Habitao, o Sistema Nacional de Habitao e o

  • 23

    programa Minha Casa, Minha Vida. O Ministrio das Cidades era criado para ser o novo

    rgo que serviria para integrar todas as secretrias ligadas ao desenvolvimento

    urbano como de saneamento ambiental e de transporte e mobilidade urbana. A Politica

    Nacional de Habitao uma de vrios que esto includas na Poltica Nacional de

    Desenvolvimento Urbano.

    Esta nova Poltica Nacional de Habitao cita, no somente, a construo de

    habitaes, mas tambm o direito do cidado infraestrutura, saneamento ambiental,

    mobilidade e transporte coletivo, equipamentos e servios urbanos. Ela serve

    primeiramente para integrar as aes dos rgos dos diferentes nveis do governo

    ligadas a rea habitacional em conjunto com o setor privado. Assim garantindo

    populao brasileira acesso moradia digna com urbanizao e integrada a cidade. No

    entanto, Bonduki (1999) aponta como falha do sistema o fato da Caixa Econmica

    Federal, o agente operador e principal agente financeiro de tais empreendimentos, ser

    subordinado ao Ministrio da Fazendo invs do Ministrio das Cidades aumentando a

    burocracia do sistema.

    2.1. O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

    Anunciado em 25 de maro 2009, este programa tm como base dois objetivos

    principais, o primeiro sendo a reduo do dficit habitacional e tambm apoiar a

    indstria da construo civil em uma poca de crise de recesso e desemprego. As

    primeiras casas forma entregues em 2011 e a meta de construir um milho de

    unidades habitacionais, sem nenhum prazo fixo imposto pelo governo, segundo Pereira

    e Caliari (2009).

    Os promotores do programa apontam como ponto principal o fato que ele prioriza

    as famlias de renda de at trs salrios mnimos e chega a beneficiar famlias de at

    10 salrios mnimos. O programa conta com a parceria entre Unio, Estado, Municpios,

    empreendedores e movimentos sociais. Conforme o caderno Minha Casa Minha Vida, o

    programa abrange as Capitais estaduais e sua regies metropolitanas, as regies

    metropolitana de Campinas/SP e da Baixada Santistas/SP, o Distrito Federal e sua

  • 24

    regio integrada e municpios com populao igual ou superior a 50 mil habitantes,

    tendo a seguinte estrutura funcional:

    Unio aloca recursos por rea do territrio nacional com base no dficit

    habitacional

    Estados e municpios realizam, gratuitamente, o cadastramento das famlias,

    enquadram nos critrios de priorizao definidos para o programa e indicam as

    famlias CAIXA para validao utilizando as informaes do Cadastro nico

    CADNICO e outros cadastros.

    Construtoras apresentam projetos s Superintendncias Regionais da CAIXA,

    podendo faz-los em parceria com estados e municpios.

    Aps anlise simplificada, a CAIXA contrata a operao, acompanha a execuo

    da obra pela construtora, libera recursos conforme cronograma e, concludo o

    empreendimento, contrata o parcelamento com as famlias selecionadas.

    Com todas suas boas intenes, existem crticas ao programa como a da revista

    Retrato do Brasil (2009) que afirma o interesse das grandes empresas da construo e

    no iniciativa do governo. Para tentar sair da crise, as grandes empresas comearam a

    mirar o mercado da construo de empreendimentos para baixa renda que era

    predominantemente o mercado das pequenas e mdias empresas, que so na maioria

    no Brasil, ou seja, agravando o processo de monopolizao no setor.

    Outra crtica ao programa vem de Maricato (2001) que fala de um velho

    problema de todos os programas anteriormente falados, que o problema da localizao

    das unidades habitacionais construdas. Ela fala que a dimenso espacial do programa

    Minha Casa Minha Vida remete as construes da poca do BNH onde os conjuntos

    habitacionais so localizados distante dos centros urbanos, longe dos servios bsicos

    e assim obrigando os moradores a longos deslocamentos e incorrendo custos altos, ou

    seja, atendendo somente os interesses privados.

  • 25

    2.2. O CASO DA OCUPAO PRESTES MAIA

    No incio dos anos 90, os movimentos sociais de reinvindicaes para moradia

    vinham fazendo ocupao de prdios ociosos nos centros urbanos de algumas das

    grandes cidades. O enfoco deste caso seria uma ocupao de nmero 911 Avenida

    Prestes Maia, um prdio no centro de So Paulo abandonado por aproximadamente

    quinze anos antes a entrada no Movimento Sem Teto do Centro (MSTC). Segundo

    autores como Bonduki (1999) e Maricato (2001), o centro de So Paulo foi sendo

    gradualmente abandonado pelas grandes empresas que antigamente o ocupava. Esta

    ocupao do prdio Prestes Maia aconteceu no dia 3 de novembro de 2002 e foi feita

    por cerca de mil pessoas, organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto do

    Centro (MSTC). A edificao originalmente abrigava uma fbrica de tecidos, e segundo

    os integrantes do movimento social, foi escolhida justamente por ser abandonada e ter

    uma dvida de IPTU (Imposto Predial Territorial Urbano) no valor de R$5,7 milhes.

    Localizado no centro do bairro da Luz, prxima regio conhecida como

    Cracolndia, o prdio por ser abandonado serviu com boca de fumo para usurios de

    drogas e ponto de venda pelos traficantes. O edifcio tambm foi cenrio de

    assassinatos, alm de mortes acidentais como a morte de uma menina num incndio no

    prdio.

    Depois a sada dos traficantes e a limpeza geral do prdio, cerca de 400 famlias

    passavam a ocupar o prdio. A ocupao no foi tranquila, com mais de 20 disputas

    judiciais e ameaas de reintegrao de posse que assombrariam as vidas dos

    moradores do prdio. Os donos atuais so os scios Jorge Hamuche (ex-candidato a

    vereador pelo PHS) e Eduardo Amorim, que receberam o edifcio em um leilo sem a

    documentao regularizada, alm de ter a dvida imensa par ser paga Prefeitura.

    Com o novo Programa de Parcelamento Incentivado (PPI), eles conseguiram reduzir

    sua dvida para R$1,3 milho. Tudo isso, em uma poca quando a Prefeitura est

    propondo a requalificao urbana de uma rea localizada na regio central de So

    Paulo.

  • 26

    Sendo assim, no dia 25 de fevereiro de 2006, era para comear a retirada das

    famlias do prdio. Quando foi feito esse decreto, os membros dos MSTC pediram

    audincia com a Secretaria Municipal de Habitao para defender as aes dos

    moradores em ocupar o prdio. Em relao esta reunio realizada no dia 1 de fevereiro

    de 2006 a assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal de Habitao disponibilizou

    o seguinte:

    Resultado da reunio, de 01/02/06 com os representantes dos moradores do prdio invadido na av. Prestes Maia, 911

    No dia 01/02/06 uma comisso de moradores do edifcio invadido localizado na Av. Prestes Maia, 911, foi recebida por diretores da Secretaria de Habitao e COHAB, representantes da Secretaria de Assistncia Social e da Sub Prefeitura S.

    Nessa reunio, foi explicado aos lderes do movimento que invivel a proposta de transformar o referido prdio em moradia popular devido ao alto custo representado tanto pela desapropriao do mesmo quanto pelas reformas para adaptao do edifcio, o que inviabiliza sua utilizao para habitao popular.

    A Secretaria de Habitao ofereceu, para atendimento imediato, apartamentos prontos para moradia em conjuntos do programa PAR, Programa de Arrendamento Residencial, para famlias que ganham a partir de trs salrios mnimos. Essa proposta foi recusada pelos lderes do movimento, que alegaram que o local distante do centro.

    Quem ganha menos de trs salrios mnimos precisa de outro tipo de atendimento habitacional, pois alm de pagar qualquer tipo de financiamento (mesmo que subsidiado) tambm ter de arcar com os custos da moradia tais como: condomnio, gua, luz, IPTU etc e isso se torna invivel para famlias nessa faixa de renda.

    No caso de reintegrao de posse, as famlias que no tiverem renda, ou ganharem menos que trs salrios mnimos, a Secretaria de Assistncia Social ofereceu abrigos e albergues.

    No entanto, essas famlias, que invadiram o referido edifcio em 2004, no podem ter prioridade de atendimento habitacional por estarem em situao de reintegrao de posse de um edifcio particular, tendo em vista o grande nmero de famlias que tambm aguardam atendimento habitacional e esto em situao to ou mais precria que eles, h anos.

    Quanto ao atendimento habitacional, todos ficaro no cadastro de demanda aguardando solues habitacionais empreendidas tanto pelo municpio quanto em parcerias com os governos estadual e federal.

    Hoje a Secretaria de Habitao tem obras de urbanizao em 21 favelas da capital, incluindo as duas maiores Helipolis e Paraispolis, alm de remoes de famlias de reas de risco, regularizao de loteamentos irregulares, recuperao de empreendimentos inadimplentes e degradados, e programas de recuperao e desadensamento de cortios.

    Assessoria de Imprensa Secretaria Municipal de Habitao

  • 27

    Considerando o texto acima, podemos observar que os membros do MSTC,

    tiveram as mesmas preocupaes que foram levantadas por Bonduki e Maricato,

    especialmente sobre a m localizao das unidades habitacionais oferecidas aos

    moradores, o que dificulta o acesso desses moradores aos servios melhor oferecidos

    nos centros das grandes cidades. Alm disso, os integrantes do movimento alegam que

    tais programas habitacionais como Minha Casa Minha Vida resultam na

    supervalorizao de terrenos nas reas destinados a habitao de interesse social,

    assim dificultando mais ainda a situao da populao de baixa renda.

    3. O CASO DE PINHEIRINHO, SO JOSE DOS CAMPOS, SO PAULO

    Localizado em So Jose dos Campos, So Paulo, Pinheirinho era um local de

    aproximadamente 1,3 milho metros quadrados de terreno ocupado por cerca de 1500

    famlias em 2004. O movimento Pela Moradia relata o seguinte

    A ocupao do Pinheirinho comeou em 2004, com 150 famlias vindas de outras ocupaes da cidade, criadas pelos sem-teto diante da falta de poltica de habitao na cidade. No final de 2003, essas famlias se cansaram de esperar as promessas da prefeitura e ocuparam 150 casas da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), no Campo dos Alemes. Eles foram expulsos do local e como no tinham para onde ir ocuparam um campo de futebol conhecido como "Campo do Campo dos Alemes". Nesse momento, que podemos considerar o momento de surgimento do Pinheirinho, os sem-teto j somavam 240 famlias. A prefeitura prometeu cadastrar os sem-teto nos programas habitacionais em troca da desocupao do Campo.

    O terreno em questo pertence ao empresrio libans, Naji Nahas, quem,

    segundo o movimento social, no paga IPTU h 40 anos e deve cerca de R$15 milhes

    Prefeitura de So Jose dos Campos. Ele dono da massa falida da Selecta Indstria

    e Comrcio que foi suspeita de falncia fraudulenta por ter decretado concordata para

    fugir de um rombo de US$ 40 milhes. O Pela Moradia continua

    Segundo o princpio da funo social da propriedade urbana, definido nos artigos 5, 170 e 182 da Constituio brasileira, o terreno ocupado seria passvel de desapropriao com vistas implantao de programa habitacional, que beneficiaria no s as famlias ocupantes como outras. Entretanto, nem o governo municipal nem o federal, principais credores da Selecta, tomaram aes definitivas neste sentido, apesar das inmeras

  • 28

    promessas. Por seu lado, a massa falida entrava com ao de reintegrao de posse contra as famlias.

    No entanto, depois vrias disputas na justia, os moradores perderam o caso

    contra a reintegrao de posse e no dia 22 de janeiro de 2012 por volta das seis horas,

    chegaram s foras policiais para cumprir a deciso judicial. Foram utilizados dois

    helicpteros, um carro blindado, cerca de dois mil soldados da tropa de choque, alm

    de vrias viaturas policias, ambulncias e um caminho de bombeiros para a realizao

    da operao.

    Alm dos moradores, haviam no local ativistas de movimentos sociais que

    tinham chegado na cidade uma semana antes do confronto em apoio dos moradores.

    Segundo o movimento Pela Moradia, algumas imagens registradas no dia, mostram

    guardas municipais empunhando armas com munio letal. O confronto entre os dois

    lados no foi passivo e ao enfrentar a resistncia dos moradores, as foras policias

    passaram a retira-los por fora. Durante a operao foi utilizada munio no letal de

    borracha, bombas de gs lacrimognia e spray de pimenta para dispersar as pessoas.

    O caso de Pinheirinho um que envolveu conflitos srios entre as esferas

    federal e estadual, ao nvel do judicirio e do executivo. O jornal O Estado relata um

    exemplo disso publicando um artigo sobre o Ministrio Publico que moveu uma ao

    contra a Prefeitura de So Jos dos Campos, no Vale do Paraba, interior de So

    Paulo, devido omisso do municpio em promover a regularizao fundiria e

    urbanstica do assentamento Pinheirinho. A ao em questo tambm tem quatro

    pedidos liminares feitas pelo procurador ngelo Augusto Costa para assegurar o direito

    moradia dos ocupantes do terreno.

    Refletindo sobre este caso, ele trs uma sensao de deja vu porque ela

    bastante semelhante ao caso do cortio Cabea de Porco. Antes de qualquer soluo

    concreta foi realizada, o poder publico reverteu ao uso de fora policial. No caso de

    Pinheirinho, havia no papel o posicionamento do Ministro das Cidades que assinou um

    protocolo de intenes para solucionar o problema, no entanto, a soluo no foi alm

    do papel devido aos vrios conflitos entre os poderes pblicos supramencionados. No

    caso de Cabea de Porco no chegou a ser documentadas no papel, mas havia

  • 29

    intenes de demolio do cortio e a reconstruo de novas moradias que nunca foi

    realizada. Um ano depois a reintegrao de posse no Pinheirinho, os moradores ainda

    esto esperando assistncia dos mesmos poderes pblicos.

    Mesmo tendo mais de um sculo de diferencia entre os dois eventos, o

    posicionamento dos poderes pblicos ainda muito semelhante. A falta da

    concretizao de polticas publicas voltadas ao problema habitacional, faz com que

    essas pessoas marginalizadas se organizem e encontrem seus prprios meus de

    abrigar suas famlias no somente em busca de moradia digna mas tambm em buscar

    do seu lugar na sociedade.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    O presente trabalho pretendeu mostrar que a passagem de tempo e a

    elaborao de vrias polticas pblicas destinados solucionar o problema de dficit

    habitacional no mudou muito na prtica de como tratado o problema.

    Comeando com os eventos do cortio Cabea de Porco, destacam-se

    claramente os dois lados opostos, o do governo que podemos tambm incluir

    interesses privados e no outro lado, a populao carente. Essa carncia do segundo

    grupo o fez refm aos interesses dos grupos com mais poder poltico e econmico.

    Devido a essa carncia este segundo grupo contiunaria vivendo numa situao cada

    vez mais arriscada vista pela aumenta na crise habitacional dos anos que seguem o

    ponto de partido. As vrias polticas estabelecidas da Lei do Inquilinato FCP ao BNH

    somente eram boas propostas no papel e nunca chegaram as suas potencias reais

    devido a vrios fatores como falta de interesse, falta de organizao, burocracia e at

    desvio de recursos no mbito do governo e pelo setor privado.

    Foi no perodo dos anos 70 e 80 do sculo XX que constatamos as primeiras

    reais manifestaes da classe popular em relao falta de resposta ao problema do

    dficit habitacional. Essas manifestaes trouxeram ao cenrio nacional, um problema

    historicamente mal entendido e mal resolvido: a formao de movimentos sociais para

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    reinvindicao pela moradia foi significante na vida da classe popular, j que ela

    fortaleceria sua posio frente as presses pblicas e tambm presses privadas.

    Os anos 90 e at os anos 2000 trouxeram novas polticas que prometeram

    solucionar o dficit habitacional. No entanto, esses anos tambm foram aqueles em que

    os movimentos sociais comearam a ocupao de prdios ociosos e terrenos vazios

    nas grandes cidades como alternativa de solues concretas populao. Essas aes

    levaram ao confronto com os poderes pblicos que em vrios casos optou para tratar

    essas situaes como aes criminais, e como tais seriam rebatidas com a fora

    policial. Foi a mesma soluo encontrada pelos poderes pblicos em 1893 para os

    moradores no somente do cortio Cabea de Porco e outros cortios da poca.

    Passaram mais de cem anos, mas presenciamos cenas semelhantes forando a

    questionar: O que realmente mudou?

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    5. REFERNCIAS

    Referncias Bibliogrficas

    BONDUKI, Nabil. Origens da habitao social no Brasil: Arquitetura Moderna, Lei do Inquilinato e Difuso da Casa Prpria 2. ed. So Paulo: Estao Liberdade: FAPESP, 1999

    CHALHOUB, Sidney. Cidade Febril: cortios e epidemias na Corte imperial. 1. ed. 2 reimpr. So Paulo: Companhia Das Letras, 1996 CORDEIRO, Simone Lucena (organizadora). Os cortios de Santa Ifignia: sanitarismo e urbanizao (1893). So Paulo: Arquivo Pblico do Estado de So Paulo/Imprensa Oficial do Estado de So Paulo,2010 LEME, Maria Cristina da Silva. Urbanismo no Brasil: 1895 1965. So Paulo: Stdio Nobel, 1999 MARICATO, Erminia. Brasil, cidades: Alternativas para a crise urbana. Petrpolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001 ROCHA, Oswaldo Porto. A era das demolies: cidade do Rio de Janeiro 1870 1920. 2 ed. Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Cultura, Dep. Geral de Documentao e Informao Cultural, Diviso de Editorao, 1995. SANTOS DE FARIA, Rodrigo. A cidade entre planos de remodelao e resistncia popular: poltica e politizao das questes urbanas no Brasil. In: Dimenses do Urbano: mltiplas facetas da cidade/Dorval do Nascimento, Joo Batista Bitencourt (organizadores) Chapec: Argos, 2008. VILLAA, Flvio. Uma contribuio para a histria do planejamento urbano no Brasil. In: O Processo de Urbanizao no Brasil/Csaba Dek, Sueli Ramos Schiffer (organizadores) 1 ed. 1 reimpr. So Paulo: Editora da Universidade de So Paulo, 1999

    Stios eletrnicos

    Frente de Luta por Moradia www.portalflm.com.br GRUPO RISCO - http://gruporisco.org O Estado www.estadao.com.br Pelo Moradia - http://pelamoradia.files.wordpress.com