cons deuses-resumo (1)

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Ficha Informativa CONSÍLIO DOS DEUSES A navegação dos portugueses obriga os deuses a reunirem-se em consílio, envolvendo-se uns com os outros em luta acesa, uns como oponentes, outros como adjuvantes da acção marítima dos portugueses. A intervenção dos deuses do paganismo (o maravilhoso pagão), constitui não apenas um adorno externo do poema de Camões, tornando-o semelhante às grandes epopeias antigas. Mas esta bela alegoria dos deuses reveste-se de um alto valor simbólico, relacionado com a própria intenção do poema. exaltar o empreendimento marítimo dos portugueses. A descoberta da Índia era tão importante que interessou às próprias divindades. Júpiter convoca o Consílio para que os deuses se pronunciem sobre o futuro dos homens que levam a cabo um novo empreendimento: Chegar à Índia por mar. Segundo Júpiter, deve-se não só permitir a viagem dos portugueses, mas até ajudá-Ios a alcançar o seu objectivo, pelas seguintes razões: o seu grande valor e forte coragem já revelados em tão grandes vitórias contra os mouros, castelhanos e romanos; os Fados (o destino) já tinham determinado que o povo luso ultrapassasse a glória dos assírios, gregos e romanos (note-se que os povos greco-romanos acreditavam que o Fado (Destino) era mais poderoso do que os próprios deuses). os portugueses já tinham feito grande parte da viagem em luta vitoriosa contra os elementos marítimos e o Fado já determinara que eles tivessem, por largo tempo, o domínio do Oriente. Por todas estas razões, e como prémio de tantos perigos já vencidos e de "tanto furor de ventos inimigos", Júpiter determinava que os nautas fossem agasalhados na costa africana, para depois seguirem a sua rota até à índia. Razões de Baco , adversário dos portugueses:

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Page 1: Cons deuses-resumo (1)

Ficha Informativa CONSÍLIO DOS DEUSES

A navegação dos portugueses obriga os deuses

a reunirem-se em consílio, envolvendo-se uns com os

outros em luta acesa, uns como oponentes, outros como

adjuvantes da acção marítima dos portugueses. A intervenção dos deuses do paganismo (o

maravilhoso pagão), constitui não apenas um adorno externo do poema de Camões,

tornando-o semelhante às grandes epopeias antigas. Mas esta bela alegoria dos deuses

reveste-se de um alto valor simbólico, relacionado com a própria intenção do poema. exaltar

o empreendimento marítimo dos portugueses. A descoberta da Índia era tão importante que interessou às próprias divindades.

Júpiter convoca o Consílio para que os deuses se pronunciem sobre o futuro dos

homens que levam a cabo um novo empreendimento: Chegar à Índia por mar.Segundo Júpiter, deve-se não só permitir a viagem dos portugueses, mas até ajudá-

Ios a alcançar o seu objectivo, pelas seguintes razões:

o seu grande valor e forte coragem já revelados em tão grandes vitórias contra os

mouros, castelhanos e romanos;

os Fados (o destino) já tinham determinado que o povo luso ultrapassasse a glória dos

assírios, gregos e romanos (note-se que os povos greco-romanos acreditavam que o

Fado (Destino) era mais poderoso do que os próprios deuses).

os portugueses já tinham feito grande parte da viagem em luta vitoriosa contra os

elementos marítimos e o Fado já determinara que eles tivessem, por largo tempo, o

domínio do Oriente.

Por todas estas razões, e como prémio de tantos perigos já vencidos e de "tanto furor de

ventos inimigos", Júpiter determinava que os nautas fossem agasalhados na costa africana,

para depois seguirem a sua rota até à índia.

Razões de Baco, adversário dos portugueses:

Baco sabia pelos fados que os portugueses dominariam todo o oriente, que era o

seu domínio e que não queria perder;

ele tinha dominado toda a índia e ainda nenhum poeta tinha cantado a sua

vitória, temendo agora que o seu nome caia no esquecimento, se os fortes

portugueses lá chegarem.

Razões de Vénus, favorável aos portugueses:

Page 2: Cons deuses-resumo (1)

Ela gostava da gente lusitana pelas qualidades, que via neste povo, semelhantes às

do povo romano, que ela tanto amava;

gostava também dos portugueses pela língua que ela achava ser , com pouca

diferença, a língua latina.

Ela sabia que seria celebrada em todos os lugares onde os portugueses chegassem

.

A gravidade, a força, a majestade de Marte são bem visíveis, no seu aspecto, nas suas

atitudes e no efeito que estas atitudes tiveram na natureza e nos próprios deuses: "Marte se

levantava de entre os deuses, merencórico no gesto, o forte escudo, ao colo pendurado, ...

medonho eirado... pôs-se diante de Júpiter, armado, forte e duro; e dando uma pancada

penetrante com o bastão. ..o céu tremeu, e Apoio, de torvado, um pouco a luz perdeu, como

enfiado".

O poeta faz surgir, diante de Júpiter, o deus Marte com uma força e autoridade, quase

igual à do pai dos deuses. Não era apenas por se tratar do deus da guerra; a intenção do

poeta era mostrar o deus Marte como o símbolo da força, da coragem, da vitória. Marte

aparece aqui como que para personificar a força dos portugueses (povo que a Marte tanto

ajuda), o seu amor à luta, as suas vitórias passadas e futuras. Note-se que, após o discurso

de Marte, favorável aos portugueses, nenhum deus se atreveu a contrariá-lo, e o próprio

Júpiter, o Padre poderoso, a cabeça inclinando, consentiu no que disse Marte forte e

valeroso.

Razões psicológicas de Marte para favorecer os portugueses :

o grande amor que antigamente tivera a Vénus, também favorável aos portugueses;

a bravura dos portugueses, reconhecida até pelo próprio Júpiter;

a falsidade das razões apresentadas por Baco (que é suspeito).

Texto Adaptado in Análise d’ OS LUSIADAS, António Afonso

Borregana