conhecimento científico proteção da biodiversidade...

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Caderno nº 22 Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica A RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO São 3 as principais funções da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica Proteção da Biodiversidade Desenvolvimento Sustentável Conhecimento Científico realização: CONSELHO NACIONAL DA RESERVA DA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA Rua do Horto 931 - Instituto Florestal São Paulo-SP - CEP: 02377-000 Fax: (011) 62318555 r. 244/338 e-mail: [email protected] - [email protected] http://www.unicamp.br/nipe/rbma apoio: Denise Marçal Rambaldi - Associação Mico-Leão-Dourado Alceo Magnanini - IEF André Ilha - APEDEMA Eduardo Lardosa - IEF Patrícia Figueiredo - SEMADS Ronaldo Fernandes de Oliveira - FEEMA SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA Programa MaB "O Homem e a Biosfera" 2ª. Edição

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

Caderno nº 22

Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

A RESERVA DA BIOSFERADA MATA ATLÂNTICA

NO ESTADODO RIO DE JANEIRO

São 3 as principais funções da Reserva da Biosfera da MataAtlântica

Proteção da BiodiversidadeDesenvolvimento Sustentável

Conhecimento Científico

realização:

CONSELHO NACIONAL DA RESERVADA BIOSFERA DA MATA ATLÂNTICA

Rua do Horto 931 - Instituto FlorestalSão Paulo-SP - CEP: 02377-000Fax: (011) 62318555 r. 244/338

e-mail: [email protected] - [email protected]://www.unicamp.br/nipe/rbma

apoio:

Denise Marçal Rambaldi - Associação Mico-Leão-DouradoAlceo Magnanini - IEFAndré Ilha - APEDEMAEduardo Lardosa - IEF

Patrícia Figueiredo - SEMADSRonaldo Fernandes de Oliveira - FEEMA

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Programa MaB "O Homem e a Biosfera"

2ª. Edição

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

SÉRIE 1 - CONSERVAÇÃO E ÁREAS PROTEGIDASCad. 01 - A Questão FundiáriaCad. 18 - SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SÉRIE 2 - GESTÃO DA RBMACad. 02 - A Reserva da Biosfera da Mata AtlânticaCad. 05 - A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado de São PauloCad. 06 - Avaliação da Reserva da Biosfera da Mata AtlânticaCad. 09 - Comitês Estaduais da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

SÉRIE 3 - RECUPERAÇÃOCad. 03 - Recuperação de Áreas Degradadas da Mata AtlânticaCad. 14 - Recuperação de Áreas Florestais Degradadas Utilizando a Sucessão e as

Interações planta-animalCad. 16 - Barra de Mamanguape

SÉRIE 4 - POLÍTICAS PÚBLICASCad. 04 - Plano de Ação para a Mata AtlânticaCad. 13 - Diretrizes para a Pollítica de Conservação e Desenvolvimento Sustentável

da Mata AtlânticaCad. 15 - MATA ATLÂNTICA - Ciência, conservação e políticas - Workshop científico

sobre a Mata AtlânticaCad. 21 - Estratégias e Instrumentos para a Conservação, Recuperação e Desenvol

vimento Sustentável da Mata AtlânticaCad. 23 - Certificação Florestal

SÉRIE 5 - ESTADOS E REGIÕES DA RBMACad. 08 - A Mata Atlântica do Sul da BahiaCad. 11 - A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Rio Grande do SulCad. 12 - A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica em PernambucoCad. 22 - A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro

SÉRIE 6 - DOCUMENTOS HISTÓRICOSCad. 07 - Carta de São Vicente - 1560Cad. 10 - Viagem à Terra Brasil

SÉRIE 7 - CIÊNCIA E PESQUISACad. 17 - BioprospecçãoCad. 20 - Árvores Gigantescas da Terra e as Maiores Assinaladas no Brasil

SÉRIE 8 - MaB-UNESCOCad. 19 - Reservas da Biosfera na América Latina

Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

Caderno nº. 22

A RESERVA DA BIOSFERADA MATA ATLÂNTICA

NO ESTADODO RIO DE JANEIRO

Denise Marçal Rambaldi - Associação Mico-Leão-DouradoAlceo Magnanini - IEFAndré Ilha - APEDEMAEduardo Lardosa - IEF

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

Cadernos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

Série: ESTADOS E REGIÕES DA RBMA

Editor: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

Conselho Editorial: José Pedro de Oliveira Costa, Clayton Ferreira Lino eJoão L. R. Albuquerque

Editoração e Arte: Elaine Regina dos Santos

Normalização e Organização Técnica: Ivaniza Alcantara Anderson DufflesAndrade

Revisão: Joaquim Britto da Costa Neto

Ficha Catalográfica:

Endereço do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera:Rua do Horto, 931 - Casa das Reservas da Biosfera02377-000 - São Paulo - SP - Brasil - Tel/Fax: 0xx11 62318555 r. 2044/2138

É uma publicação doConselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,com o patrocínio do Ministério do Meio Ambiente através da Secretaria deBiodiversidades e Florestas, UNESCO-MaB, Secretaria de Estado do MeioAmbiente do Estado de São Paulo - SMA

Impressão: CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

Autoriza-se a reprodução total ou parcialdeste documento desde que citada a fonte

São PauloFevereiro 2003

502.7 Rambaldi, Denise MarçalR137r A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estado do Rio de

Janeiro./ Denise Marçal Rambaldi; Alceo Magnani; André Ilha; EduardoLardosa; Patrícia Figueiredo; Ronaldo Fernandes de Oliveira. - Rio deJaneiro: CNRBMA.Série Estados e Regiões da RBMA, Caderno da Reserva daBiosfera da Mata Atlântica.

1. Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. I. Magnani, Alceo.II. Ilha, André. III. Lardosa, Eduardo. IV. Figueiredo, Patrícia.V. Oliveira, Ronaldo Fernandes de. VI. Título. VII. Série.

Caderno nº 22

Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

A RESERVA DA BIOSFERADA MATA ATLÂNTICA

NO ESTADODO RIO DE JANEIRO

Denise Marçal Rambaldi - Associação Mico-Leão-DouradoAlceo Magnanini - IEFAndré Ilha - APEDEMAEduardo Lardosa - IEF

Patrícia Figueiredo - SEMADSRonaldo Fernandes de Oliveira - FEEMA

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

Dedicado a Axel Grael e equi-pe do Instituto Estadual de Flo-restas – RJ, que tornaram pos-sível a criação da Reserva daBiosfera da Mata Atlântica noEstado do Rio de Janeiro

Este caderno é produto da cooperação entre os órgãos go-vernamentais, organizações ambientalistas não-governa-mentais, movimentos sociais, moradores e a comunidadecientífica do Estado do Rio de Janeiro, que compõem o Co-mitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.Tornar públicas essas informações faz parte do processo deimplantação e reconhecimento social da RBMA.

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SUMÁRIO:

Pág.

APRESENTAÇÃO 9

1 A MATA ATLÂNTICA NO ESTADODO RIO DE JANEIRO 13

2 A IMPLANTAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERADA MATA ATLÂNTICA NO RIO DE JANEIRO 16

2.1 Abrangência da RBMA no Rio de Janeiro 162.2 Sistema de Gestão 222.3 Áreas Piloto 232.4 Zoneamento da RBMA - Rio de Janeiro 24

3 ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS 253.1 Áreas Naturais Tombadas 253.2 Unidades de Conservação abrangidas 32

4 PATRIMÔNIO NATURAL ABRANGIDO PELA RBMA354.1 Regiões Fitoecológicas no Estado do

Rio de Janeiro 364.2 Patrimônio Faunístico 464.3 Patrimônio Espeleológico 504.4 Geomorfologia e Paisagens 51

5 PERSPECTIVAS PARA A MATA ATLÂNTICA NORIO DE JANEIRO

5.1 No futuro 565.2 Ameaças 585.3 Oportunidades 59

Axel Schmidt Grael é engº. florestal. Iniciou a militância ambientalista na década de 70 e, em1980, fundou o Movimento de Resistência Ecológica - MORE, entidade ambientalista pionei-ra em Niterói e no Estado do Rio de Janeiro. Além de intensa atuação no movimento social,desenvolveu atividades profissionais em vários biomas do País. No final da década de 80,como presidente do Movimento Cidadania Ecológica, empenhou-se na campanha que culmi-nou na proposição da criação do Parque Estadual da Serra da Tiririca ao executivo estadual eà Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.Em 1991 foi nomeado presidente da Fundação Instituto Estadual de Florestas - IEF/RJ.Durante sua gestão foram criadas novas unidades de conservação no Estado e foram feitosimportantes investimentos na conservação da Mata Atlântica. Integrou o Consórcio da MataAtlântica como representante do Estado do Rio de Janeiro.Em 1995, dedicou-se a nova experiência e fundou e presidiu a Ecoativa - CooperativaMultiprofissional de Consultoria Sócio-ambiental, que associou mais de 30 especialistas emmeio ambiente.No âmbito nacional, foi Conselheiro representante do Estado do Rio de Janeiro no CONAMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente (entre os períodos de 1991-94 e 1999-2002); fezparte da direção da ABEMA - Associação Brasileira das Entidades Governamentais Estadu-ais de Meio Ambiente (1992-94 e 1999-2002) e fez parte do Conselho Gestor do PNMA II(2001 e 2002), no Ministério do Meio Ambiente.Atualmente, é presidente do Instituto Projeto Grael, organização civil criada pelos velejadoresmedalhistas olímpicos Torben e Lars Grael, dedicada a desenvolver projeto de capacitaçãoprofissional e socialização de jovens através de esportes náuticos. É também diretor doInstituto Baía de Guanabara, uma organização de caráter técnico voltada para desenvolverprojetos vinculados à Baía de Guanabara.

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APRESENTAÇÃO

A história da ocupação humana no bioma Mata Atlânticateve como conseqüência uma drástica destruição de seusecossistemas e uma incomensurável perda debiodiversidade, solos férteis, navegabilidade dos rios, emuitas outras riquezas. O alerta contra este processo data,também, dos primórdios de nossa história mas inicialmen-te eram poucos a clamar e poucos a ouvir. A percepção dagravidade da situação, no entanto, acabou por atingirgradativamente um contingente maior da população, e porconseqüência o poder público, e várias iniciativas foram sesomando para buscar frear a destruição. Foram aprovadoscódigos, leis e decretos, criadas unidades de conservação,organizações conservacionistas públicas e privadas, cen-tros de pesquisas, sistemas de monitoramento e controledo desmatamento. Enfim, os esforços se multiplicaram ecomo resultado vemos que, de um modo geral, a taxa dedesmatamento vem finalmente caindo, como bem demons-tram os resultados dos últimos levantamentos.

No entanto, hoje estamos certos de que enfrentamos umdesafio muito maior. Mais do que estancar o desmatamento,precisamos recuperar as áreas degradadas, viabilizar bio-logicamente os fragmentos remanescentes e repor nossosestoques de ecossistemas naturais. Atingir estas metas éum desafio que tem um alcance social muito mais amplo,uma vez que a conservação é uma ação de interesse coletivomas a visão de como procedê-la depende da ótica de cadagrupo social envolvido. É fundamental, no entanto, se esta-belecer os compromissos e responsabilidades de cada um,garantir a equidade no usufruto dos benefícios da conser-vação dos ecossistemas e como equacionar os custos fi-nanceiros (e mesmo sociais, em alguns casos) que estaspolíticas demandam?

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de Unidade de Conservação - SNUC). A abrangência dacomposição dos Conselhos e seus procedimentos garantema necessária percepção da responsabilidade compartilhadana sua implementação. O poder público deve estimular odesenvolvimento da Reserva da Biosfera mas não é esseseu agente principal. A Reserva da Biosfera deve ser umainiciativa de toda a coletividade e sua efetividade dependede cada um dos seus atores que devem cumprir com suasobrigações e responsabilidades específicas. É neste fórumde participação que de forma orgânica e legítima os diver-sos grupos de interesses, mesmo aqueles conflitantes, de-vem se expressar e expor suas preocupações na busca deconsenso.

No Estado do Rio de Janeiro a Reserva da Biosfera possibi-litará o desenvolvimento de uma estratégia que integre asiniciativas de conservação ao longo do grande corredor flo-restal da Serra do Mar, que se estende de forma quasecontínua, desde Parati até o Parque Estadual do Desenga-no. Proporcionará, desta forma, uma política de conserva-ção que transponha os limites das unidades de conserva-ção e alcance todos os remanescentes de ecossistemas noEstado do Rio de Janeiro. Outra prioridade é viabilizar acriação dos corredores biológicos que tem como objetivo ainter- conexão dos fragmentos menores das serras litorâ-neas e do Vale do Paraíba garantindo-lhes viabilidade bio-lógica.

Axel Schmidt GraelEngenheiro Florestal

Sub-secretário da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desen-volvimento Sustentável - SEMADS

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Para lograr o sucesso nesta tarefa é inevitável se construirum pacto pela Mata Atlântica envolvendo o maior númeropossível de segmentos de nossa sociedade! Não bastammais, apenas (essas também são necessárias), as açõeslocais em defesa de um ou outro fragmento. A estratégiaprecisa se sofisticar no sentido de ser aplicável em toda aregião da Mata Atlântica, se mostrar viável técnica e eco-nomicamente (motivar agricultores e outros proprietáriosde terras; desenvolver mecanismos eficazes de financia-mento e estimular políticas de incentivos a curto, médio elongo prazos), ter lastro social (mecanismos participativosna tomada de decisão que garantam amplo apoio político) eter coerência e interfaces com outras iniciativas (Agenda21, gestão de bacias hidrográficas, zoneamentos, unidadesde conservação, políticas agrícolas, urbanas, etc.).

Neste sentido, a adoção da Reserva da Biosfera, conceitodesenvolvido pela UNESCO para garantir a proteção e oreconhecimento internacional da importância de remanes-centes significativos de ecossistemas, veio a atender a ne-cessidade de se dispor de um instrumento capaz de abri-gar a gestão da Mata Atlântica com toda a sua complexida-de e ao mesmo tempo ter uma metodologia simples o sufi-ciente para garantir sua aplicabilidade em situações tãovariadas que um bioma com a extensão da Mata Atlânticapode apresentar. Combina a visão do conjunto com a ne-cessária flexibilidade para o enfoque local ou regional per-mitindo iniciativas em escalas adequadas à motivação emobilização de cada caso.

A metodologia da Reserva da Biosfera enfatiza a participa-ção social na sua condução e esta é baseada na constitui-ção de Conselhos Deliberativos de âmbito nacional(abrangência de todo o bioma) e estadual, composto porinstituições públicas, de pesquisa, organizações represen-tativas da população (conforme definido pela Lei Nº 9985,de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional

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1. A Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro

O Estado do Rio de Janeiro está integralmente inserido noBioma da Mata Atlântica que é bastante antiga, acreditan-do-se que já estava configurada no início do Período Terciário.Contudo, as flutuações climáticas mais recentes ao longodo Quaternário, ocasionaram processos de expansão e deretração espacial da Mata Atlântica, a partir de regiões maisrestritas que funcionaram como refúgios da fauna e flora.

Esse processo configurou algumas regiões da Mata Atlânti-ca como zonas de alta diversidade, a partir das quais ocor-reu a irradiação de muitas espécies, conforme a mata seexpandia. Estas zonas, que constituem os antigos refúgiospleistocênicos são as seguintes: sul da Bahia; região dostabuleiros do Estado do Espírito Santo e região do litoral doRio de Janeiro e norte de São Paulo. Estas zonas abrigamum considerável número de espécies endêmicas, associa-das à elevada diversidade específica. O Estado do Rio deJaneiro ocupa uma posição bastante peculiar, pois sua lo-calização coincide com uma das áreas de maior diversida-de do Bioma.

Estima-se que o estado possuía por volta do ano de 1.500uma cobertura florestal de 97% de seu território, compostade Mata Atlântica e ecossistemas associados como matasde altitude, restingas e mangues.

No início do Século XVI começou, e posteriormente pros-seguiu em escala crescente, a histórica ocupação huma-na européia colonial e a conseqüente e progressiva alte-ração da vegetação natural. As causas são bem conheci-das: a extração de pau-Brasil; a demanda de grossos le-nhos para as numerosas e imensas caldeiras de derreti-mento da gordura de baleias; a procura de combustívellenhoso em geral para uso da crescente população; o cor-te de madeiras-de-lei para construção naval e civil; a der-

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de mata atlântica espalhados nas propriedades particula-res das áreas rurais e mesmo em grandes glebas urbanas,que se encontram em total estado de abandono e sujeitosa toda a sorte de perturbações.

As maiores extensões de florestas contínuas e conservadasencontram-se nas regiões de Paraty, Angra dos Reis eMangaratiba e, no interior do estado, na região serrana,indo desde a Reserva Biológica de Tinguá, passando peloParque Nacional da Serra dos Órgãos e indo até o ParqueEstadual do Desengano. As áreas mais críticas encontram-se nas regiões norte e noroeste do estado tendo apresenta-do grande perda de cobertura florestal no período de 1995 a2000 com alto grau de degradação e manchas de erosão.

Atualmente, a redução e degradação da cobertura vegetalno Estado do Rio de Janeiro tem como causa diversos fato-res, sendo os principais:

· Unidades de Conservação não implantadas;· expansão de áreas de criação de gado e de cabras emencostas íngremes e topos de morros;· expansão de áreas urbanas e de condomínios eloteamentos rurais e litorâneos;· queimadas causadas por criadores de gado, loteadores,balões e agricultores;· pedreiras e saibreiras;· bananais;· extrativismo de recursos vegetais (palmito e plantasornamentais e medicinais);· linhas de transmissão de energia elétrica e dutos degás e petróleo;· ausência de zoneamento ecológico-econômico.

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rubada, queimada e limpeza de extensas áreas florestaispara fins de pecuária, agricultura e, a ocupação de terre-nos para o estabelecimento e desenvolvimento de povoa-dos, vilas e cidades.

Tendo em vista as extensões territoriais e o processo his-tórico de sua ocupação, o Estado do Rio de Janeiro apre-senta alta taxa de urbanização. Principalmente após a cons-trução da Ponte Rio-Niterói na década de 70, o eixo decrescimento urbano do estado voltou-se para a Região dosLagos e para o Norte Fluminense, onde ainda existiam ex-tensas áreas de florestas de baixadas e restingas na déca-da de 60. Esse processo de ocupação do solo durante asúltimas três décadas fez com que o estado perdesse gran-de parte de sua cobertura florestal original.

Dados recentemente publicados pela Fundação S.O.S MataAtlântica, obtidos a partir da análise de imagens de satéli-te, mostram que em 1995 restavam cerca de 738.402 ha deflorestas, correspondendo a 16,82% da superfície do Esta-do.

Esses estudos também conduzidos para o período de 1995a 2000, revelam ainda que:

· Entre 1995 e 2000, as florestas fluminenses perderam3.773 ha, o que representa uma redução de 0,51% dacobertura existente em 1995.

Embora a taxa de desmatamento tenha caído significativa-mente nos últimos cinco anos, a situação da cobertura ve-getal nativa do Estado do Rio de Janeiro é crítica. As flo-restas raramente alcançam as margens dos rios nos tre-chos planos e suaves ondulados. Os principais remanes-centes encontram-se apenas em locais de maior declividadedas elevações que compõem a Serra do Mar e os maciçoslitorâneos. Há também milhares de pequenos fragmentos

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2. A IMPLANTAÇÃO DA RESERVA DA BIOSFERA DORIO DE JANEIRO.

O reconhecimento da Reserva da Biosfera no Estado doRio de Janeiro se deu em duas fases. Em meados de 1991,três áreas protegidas de relevância nacional foram consi-deradas: os Parques Nacionais da Tijuca e da Serra dosÓrgãos e a Reserva Biológica do Tinguá.

O Estado do Rio abriga porções exuberantes da Mata Atlân-tica, que além de extraordinária biodiversidade, concentramonumentos e sítios naturais únicos na sua paisagem,beleza e relevância cultural. Com objetivo de assegurar aessas parcelas da Mata Atlântica, o mesmo tratamento, oInstituto Estadual de Florestas propôs a ampliação da áreaabrangida pela Reserva da Biosfera para 42% do territóriofluminense, com uma área aproximada de 18.476 km2

(1,847 milhões de hectares).

Em novembro de 1992, na fase II da Reserva da Biosfera, oreconhecimento foi estendido a toda área pleiteada, abran-gendo quase que 2/3 da totalidade dos municípiosfluminenses. Atualmente estão inseridos na Reserva daBiosfera no Estado do Rio de Janeiro, 05 Parques Nacio-nais, 05 Parques Estaduais, 06 Reservas Biológicas, 02Estações Ecológicas, 11 Áreas de Proteção Ambiental, 02Área de Relevante Interesse Ecológico, 04 Reservas Ecoló-gicas, 01 Reserva Extrativista Marinha e 29 Reservas Par-ticulares do Patrimônio Natural.

2.1 Abrangência da RBMA no Rio de Janeiro

A área da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no Estadodo Rio de Janeiro abrange os municípios listados no qua-dro a seguir e as Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiroe de Niterói.

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QUADRO N° 1MUNICIPIOS ABRANGIDOS PELA RBMA NO ESTADODO RIO DE JANEIRO

MUNICÍPIOAngra dos ReisAperibéAraruamaArealArmação de BúziosArraial do CaboBarra do PiraíBarra MansaBom JardimBom Jesus do ItabapoanaCabo FrioCachoeiras de MacacuCambucíCampos dos GoytacazesCantagaloCarapebusCardoso MoreiraCarmoCasimiro de AbreuConceição de MacabúCordeiroDuas BarrasDuque de CaxiasEngº Paulo de FrontinGuapimirimIguaba GrandeItaboraíItaguaíItalvaItaocaraItaperuna

ÁREA(ha)81728.632520.884992.73507.22

1489.223971.924269.982962.85

11397.8911122.7413886.1774725.1620831.50

120060.213423.68

10308.3712623.893134.04

35196.3421667.36

265.005272.39

25544.0713038.5827009.424575.608948.77

13946.733379.055168.86

14240.29

ÁREA(Km²)817.2925.2149.935.07

14.8939.7242.7029.63

113.98111.23138.86747.25208.32

1200.6034.24

103.08126.2431.34

351.96216.67

2.6552.72

255.44130.39270.0945.7689.49

139.4733.7951.69

142.40

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MUNICÍPIOItatiaiaJaperíLaje do MuriaéMacaéMacucoMagéMangaratibaMaricáMendesMiguel PereiraMiracemaNatividadeNilópolisNiteróiNova FriburgoNova IguaçuParacambiParatiPaty do AlferesPetrópolisPiraíPorciúnculaQuatisQueimadosQuissamãResendeRio BonitoRio ClaroRio das FloresRio das OstrasRio de JaneiroSanta Maria MadalenaSanto Antonio de PáduaSão FidélisSão Francisco do ItabapoanaSão GonçaloSão João da Barra

ÁREA(ha)15736.927925.984522.15

70824.92168.03

30465.4835933.7530758.517464.75

26522.096970.689085.68624.24

9069.1090820.0037489.4118616.1393168.68

2117.2662347.8438729.672042.933044.327641.21

52217.9851673.1523386.3581256.38

107.582996.09

49351.1661235.051540.38

18078.9929732.286461.27

44177.23

ÁREA(Km²)157.3779.2645.22

708.251.68

304.65359.34307.5974.65

265.2269.7190.866.24

90.69908.20374.89186.16931.6921.17

623.48387.3020.4330.4476.41

522.18516.73233.86812.56

1.0829.96

493.51612.3515.40

180.79297.3264.61

441.77

MUNICÍPIOSão José do UbáSão Pedro da AldeiaSão Sebastião do AltoSapucaiaSaquaremaSeropédicaSilva JardimSumidouroTanguáTeresópolisTrajano de MoraisValençaVarre-SaiVassourasVolta RedondaTotal

ÁREA(ha)2551.06

16146.38644.47

0.2319727.146498.39

61319.047690.474846.82

47009.1353105.7117638.363177.179223.101527.57

1847618.18

ÁREA(Km²)25.51

161.466.440.00

197.2764.98

613.1976.9048.47

470.09531.06176.3831.7792.2315.28

18476.18

Fonte: Lab. Geoprocessamento do IEF/RJ - 2002Observação: as áreas acima citadas são estimadas

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

2.2 Sistema de Gestão

A gestão da RBMA, no âmbito de cada estado, é feita medi-ante a instalação de comitês de gestão que integram enti-dades governamentais e não governamentais.

O Governo do Estado do Rio de Janeiro através de DecretoEstadual 26.057, criou em 14/03/2000 o Comitê Estadualda Reserva da Biosfera da Mata Atlântica / RJ, que temcomo função precípua implementar a Reserva, promovendoa conservação da biodiversidade no domínio da Mata Atlân-tica e seus ecossistemas associados no Estado.

O Comitê é paritário, composto por membros de organiza-ções governamentais e da sociedade civil, representativosdos trabalhos desenvolvidos para conservação e desenvol-vimento sustentável da Mata Atlântica no Estado.

As principais atribuições do Comitê Estadual da Reservada Biosfera da Mata Atlântica são:

· orientar o Governo do Estado no estabelecimento dasdiretrizes de conservação da biodiversidade;· difundir os conhecimentos técnico-científicos;· priorizar o desenvolvimento sustentável nos domíniosda Mata Atlântica e seus ecossistemas associados.

Vale dizer ainda que, o Comitê deverá atuar como órgãodeliberativo do Projeto Pró-Mata Atlântica no Estado, resulta-do da parceria entre a Secretária Estadual de Meio Ambientee Desenvolvimento Sustentável e o banco alemão KfW.

O Comitê Estadual da Reserva da Biosfera do Rio de Janeiroé composto por representantes das seguintes instituições:

· Fundação Instituto Estadual de Florestas – IEF – RJ· Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente– FEEMA

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· Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lago-as – SERLA· Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Ja-neiro – IPJB-RJ· Comissão de Meio Ambiente – ALERJ· Secretária Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvi-mento Sustentável· Grupo de Secretários Municipais de Meio Ambiente –G15· Associação Mico – Leão – Dourado· Fundação Brasileira para Conservação da Natureza –FBCN· Assembléia Permanente de Entidades de Defesa doMeio Ambiente do Rio de Janeiro – APEDEMA - RJ· Associação das Reservas Particulares do PatrimônioNatural – APN· Movimento dos Sem Terra – MST· Central Única dos trabalhadores – CUT· Fórum Estadual de Reitores· Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro– FIRJAN· Sociedade Botânica do Brasil· Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosRenováveis – IBAMA· OAB - Comissão de Meio Ambiente

2.3 Áreas Piloto

Áreas Piloto são áreas selecionadas (Estaduais ou Interestadu-ais) para que sejam desenvolvidos projetos-modelo que propici-em o aprendizado e demonstração na prática, dos conceitos efunções da RBMA. Propiciam a implantação da RBMA atravésde ações regionais. As Áreas piloto devem incluir zona(s)núcleo(s), de amortecimento e transição.

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As Áreas Pilotos do Estado do RIO DE JANEIRO são:

· PARQUE ESTADUAL DO DESENGANO· RESERVA ECOLÓGICA DA JOATINGA· ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE RIBEIRÃO DAS LAGES· REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DE ITATIAIA· PARQUE ESTADUAL DA SERRA GRANDE· RESERVA ECOLÓGICA DA PRAIA DO SUL· APA DE MARAMBAIA E JACARAPEIA

2.4 Zoneamento da RBMA – Rio de Janeiro

No Estado do Rio de Janeiro a RBMA apresenta o seguintezoneamento:

Zona Núcleo I – correspondem às áreas das unidades de con-servação federais e estaduais abrangendo os trechos mais pre-servados dos ecossistemas do estado do Rio de Janeiro.Zona Núcleo II – são áreas florestais bem preservadas querevestem trechos contínuos da serra do Mar, mas que, emboraprotegidas pelo Código Florestal, não foram transformadas emunidades de conservação.

Zona Tampão ou de Amortecimento – são áreas que envol-vem as zonas núcleos, nas quais o uso do solo e demais atividadeseconômicas devem garantir a integridade dos ecossistemas cir-cundados.

Zona de Transição – são as zonas mais externas da Reservada Biosfera, onde os princípios básicos de desenvolvimento sus-tentado devem ser incentivados, visando reduzir o impacto dasconcentrações populacionais, estradas ou núcleos industriais,sobre os ecossistemas que se pretendem proteger.

Áreas de Pesquisa Experimental e Recuperação – podeocorrer em todas as outras zonas, tendo por finalidade arealização de experimentos para a obtenção de melhores

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formas de manejo da flora, da fauna e das zonas de produ-ção agropecuária. Nelas devem ser incentivados projetosde recuperação da diversidade biológica, dos monumentoshistóricos, de agrossilvicultura, de turismo ecológico, deagricultura orgânica, bem como de preservação das cultu-ras tradicionais do Estado (caiçaras e pequenos produtoresrurais de zonas interioranas

3 ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS

Rio de Janeiro possui todos os tipos de Unidades de Conser-vação constantes do SNUC, alem de áreas naturais tomba-das. Trata - se do estado com maior número de Parques Naci-onais no país, com cindo destas unidades. Somando - se asReservas Biológicas e Unidades de Conservação Estaduais, oestado totaliza 464.475ha sob proteção e domínio público,totalizando aproximadamente 10,06% de seu território.Em face da nova legislação do Sistema Nacional de Unidadesde Conservação – SNUC, algumas Unidades de ConservaçãoEstaduais deverão ser reenquadradas nas categorias atuais.

3.1 Áreas Naturais Tombadas

A proteção efetivada através do tombamento de áreas na-turais é considerada um importante instrumento para pre-servação de sítios com relevante valor histórico, artístico,paisagístico, arqueológico, cultural ou científico de umadeterminada região.

O tombamento é um instituto jurídico, instituído pela União,através do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937,que visa a proteção do patrimônio cultural e natural, impli-cando restrições de uso que garantam a proteção e manu-tenção de suas características, não necessitando seremexpropriadas, permanecendo sob o domínio de seu titular.

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Representa então, uma forma de intervenção ordenadorado Estado, que restringe o exercício sobre bens de seu do-mínio e sobre direitos de utilização por parte do proprietá-rio, não impedindo o uso do bem, mas impondo algumasrestrições às eventuais alterações que nele possam serfeitas, ficando a execução de qualquer obra na dependên-cia de autorização do órgão responsável. O tombamento podeser federal, estadual ou municipal, desde que o ente dafederação tenha lei própria.

O Decreto-Lei nº 25/37, em seu artigo 2º, parágrafo 1º,equiparou os monumentos naturais aos bens de valor his-tórico e cultural, “equiparam-se aos bens a que se referemo presente artigo, e são também sujeitos a tombamento osmonumentos naturais e os sítios e paisagens que impor-tem conservar e proteger pela feição notável que tenhamsido dotados pela natureza ou agendiados pela industriahumana”.

O Estado do Rio de Janeiro, foi o que criou o primeiro órgãode preservação do patrimônio cultural do de todo o país.Em 31 de dezembro de 1964, o Decreto “N” nº 346/64, crioua Divisão de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado daGuanabara - DPHA, do qual o Instituto Estadual doPatrimônio Cultural - INEPAC, é o sucessor legal.

O primeiro tombamento estadual do Brasil, foi feito em1965, no Rio de Janeiro, preservando, o Parque HenriqueLage, onde ao mesmo tempo que preservava a construçãoeclética do início do século XX, protegia o amplo parque,importante área verde da cidade.

A legislação atual pela qual é regulado o tombamento dopatrimônio fluminense no nível estadual, é composta pelocitado Decreto”N” nº 346/64, a Lei nº 509, de 13 de julho de1981, que criou o Conselho Estadual de Tombamento e o De-creto nº 5808, de 13 de julho de 1982 que a regulamentou.

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Segue-se a listagem das áreas naturais tombadas pela Uniãoe pelo Estado; nem todas estão incluídas em unidades deconservação. Pode-se observar a inclusão nesta lista dosjardins históricos, que comumente foram protegidos pelotombamento, seja por seu valor como jardim ou por consti-tuírem uma área envoltória ou integrada a uma edificaçãohistórica ou sítio arqueológico.

Estes jardins, assim como várias áreas naturais tombadas,embora protegidos pela legislação cultural, não foram con-sideradas unidades de conservação, contudo não os privado reconhecimento público de seu elevado valor, que expri-mem estreitas relações entre o espaço urbano construídoe o ambiente natural.

Áreas Naturais Tombadas Estaduais

Angra dos ReisÁrea Indígena Guarani-Bracuí, localizada no Parque daBocaina.Processo nº E-28/000.486/91 – Tombamento Provisório: 14/03/991Ilha Grande, na Baía de Angra dos Reis.Processo nº E05/000.170/87 – Tombamento Definitivo: 099/11/87

Cabo FrioDunas de Cabo Frio – orla oceânicas desde a Praia de CaboFrio ou do Forte até a praia do Pontal, junto ao Morro doForno em Arraial do Cabo.Processo nº E-07/201.717/84 – Tombamento Definitivo: 08/04/88

NiteróiPedra do Índio, Pedra de Itapuca, na Praia de Icaraí; Ilha dosCardos, na Praia das Flexas;Processo nº E-03/33.538/83 – Tombamento Provisório: 19/06/85

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Canto Sul da Praia de Itaipu e Ilhas da Menina, da Mãe e do Pai.Processo nº E-18/300.459/85 – Tombamento Definitivo: 11/05/87

Paraíba do SulCaminhos de Minas – Trecho compreendido entre a Estradadas Pedras e a Fazenda Fagundes em Araras.Processo nº E-03/31.486/83 – Tombamento Provisório: 20/11/84

ParatiCosta de Trindade; Enseada do Sono e Praia da Ponta do Caju;Enseada do Pouso e Ilha de Itaoca; Saco e Manguezal deMananguá;Enseada de Paraty Mirim e Ilha das Palmas; Praia Grande;Ilha do Araújo; Praia de Tarituba.Processo nº E-18/300.459/85 – Tombamento Definitivo: 11/05/87

PetrópolisCaminhos de Minas – Trecho da Estrada Normal da Estrela;Trechos da Calçada da Pedra ou Caminho de Inhomirim;Trecho da Estrada Taquara;Trecho da Estrada do Imperador;Processo nº E-03/31.486/83 – Tombamento Provisório: 20/11/84.

Rio de JaneiroSistema Orográfico Serra do Mar/Mata Atlântica, englobando noEstado do Rio de Janeiro trechos do território de 38 municípios:Angra dos Reis, Barra do Piraí, Bom Jardim, Cachoeiras deMacacu, Campos, Casimiro de Abreu, Conceição de Macabu,Duas Barras, Duque de Caxias, Engenheiro Paulo de Frontin,Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Macaé, Magé, Mangaratiba,Maricá, Mendes, Miguel Pereira, Niteroi, Nova Friburgo, NovaIguaçu, Paracambi, Paraty, Petrópolis, Piraí, Rio Bonito, Rio Claro,Rio de Janeiro, Santa Maria Madalena, São Fidelis, Saquarema,

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São Gonçalo, Silva Jardim, Sumidouro, Teresópolis e Trajano deMorais.Processo nº E-18/000.172/91 – Tombamento Provisório: 06/03/91Pontas de Copacabana e Arpoador – V-R.A.Processo nº E-18/000.399/89 – Tombamento Definitivo: 06/09/90Parque Henrique Lage, na rua Jardim Bontânico, 414, VI-R.A.Processo nº E-03/300.290/65 – Antiga GB.Parque da Gávea ou Parque da Cidade, na Est. Santa Marina,s/nº - GáveaProcesso nº E-03/300.543/65 – Antiga GB.Morro Dois Irmãos – RecreioProcesso nº E-18/000.835/94 – Tombamento Provisório: 22/09/94Recanto do Trovador antigo Jardim Zoológico, na rua Viscondede Santa Isabel Processo nº E-03/300.247/70 – Antiga BG.Parque Ary Barroso, na Estrada Braz de Pina, entre as ruasFlora Lobo e Lobo Junior Processo nº E-03/300.419/65 –Antiga GB.Pedra da Panela, na Estrada da Pedra da Panela –Processo nº E-03/300.021/69 – Antiga GB.Ilha de Brocoió, na Baía de GuanabaraProcesso nº E-03/300.486/65 – Antiga GB.Pedra da Moreninha , Pedra dos Namorados – PaquetáProcesso nº E-18/300..030/84 – Tombamento Provisório: 19/06/85Reserva Biológica de JacarepaguáProcesso E-03/300.449/65 – Antiga GB.Pedra de Itapuã, na Estrada do Pontal nº 855Processo nº E-03/300.235/68 – Antiga GB.Morro do Rangel na Estrada do Pontal no Recreio dos Ban-deirantesProcesso nº E-03/300.256/72 – Antiga GB.Morro do Urubu na Estrada do Pontal no Recreio dos Ban-deirantes

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

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Processo nº E-03/300.257/72 – Antiga GB.Pedra de Itaúna, na BR – 101Processo nº E-03/300.258/72 – Antiga GB.Morro Dois Irmãos, Pontal de Sernambetiba . Morro do Cantagalo,Pedra da Baleia, Morro do Amorim , Morro do Portela na bai-xada de JacarepaguáProcesso E-03/01.924/80 – Tombamento Definitivo: 28/01/83.Praia de Grumari –Processo nº E-18/300.117/84 – Tomba-mento Definitivo: 11/04/85.Extensão do Tombamento da Praia de Grumari.Processo nº E-18/300.008/85 – Tombamento Definitivo: 11/05/87São João da BarraLitoral Fluminense – Foz do Rio Paraíba do Sul, incluindo-se omanguezal, bem como a Ilha da Convivência e as outras vizinhas.Processo nº E-18/300.459/85 – Tombamento Definitivo: 11/05/87

Áreas Naturais Tombadas Federais

Cabo FrioConjunto Paisagístico de Cabo Frio, monumentos e paisagem-Morro do Telegrafo/ Morro de Guia / Praia do ForteProcesso nº 57-T-65 – 27/04/67NiteróiIlha da Boa Viagem – Conjunto Arquitetônico ePaisagísticoProcesso nº 101-T-38 e 164-T-38 – 30/05/38Nova FriburgoCasa e Parque da Cidade – Jardim e Parque São ClementeProcesso nº 444-T-51 – 28/11/57

ParatiMunicípio de ParatiProcesso nº 563-T-57 – 01/03/74

Rio de JaneiroHorto Florestal – Rua Pacheco Leão, 2040 - Jardim Botâni-coProcesso nº 633-T-73 – 17/12/73Jardim BotânicoProcesso nº 101-T-38 – 30/05/38Morro da Babilônia , Morro da Urca, Morro Dois IrmãosProcesso nº 869-T-73 – 08/08/73Jardim e Palácio das LaranjeirasProcesso nº 1.075-T-82 – 24/05/83Jardim e Palácio do CateteProcessos nº 101-T-38 e 153-T-38 – 06/04/38Jardim e Palácio GuanabaraProcesso nº 101-T-38 – 06/04/38Jardim e Palácio ItamaratiProcessos nº 101-T-38 e 158-T-38 – 20/07/38Pão de AçúcarProcesso nº 8699-T-73 – 08/08/73Parque do FlamengoProcesso nº 748-T-64 – 28/07/65Jardim e Parque Henrique Lage – Conjunto PaisagísticoProcesso nº 537-T-57 – 14/06/57Parque Nacional da Tijuca e FlorestasProcesso nº 762-T-65 – 27/04/67Passeio PúblicoProcesso nº 099-T-38 – 30/06/38Pedra da Gávea – Penhasco da Pedra da GáveaProcesso nº 869-T-73 – 08/08/73Praias de PaquetáProcesso nº 099-T-38 – 30/06/1938Quinta da Boa VistaProcesso nº 099-T-38 e 101-T-38 – 30/06/38Jardim e Museu da Chácara do Céu- Rua Murtinho Nobre,93Proc. - 23 de setembro de 1974

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CADERNO Nº. 22 - SÉRIE ESTADOS E REGIÕES DA RBMA A RESERVA DA BIOSFERA NO ESTADO DORIO DE JANEIRO

QUADRO N° 2UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ABRANGIDAS PELARBMA

AREA(Km²)276.21

59.58

298.18138.09349.86226.18

9.6988.80

584.36206.4779.56

68.7932.89

0.35

2.7149.47

88.98127.45151.33

687.64

104.97

34.57

UNIDADE DE CONSERVA-ÇÃOAPA DA SERRA DAMANTIQUEIRAAPA DA SERRA DESAPIATIBAAPA DE CAIRUCUAPA DE GUAPIMIRIMAPA DE MACAE DE CIMAAPA DE MANGARATIBAAPA DE MARICAAPA DE MASSAMBABAAPA DE PETROPOLISAPA DE TAMOIOSAPA DO GERICINO-MENDANHAAPA DOS FRADESAPA E APP FLORESTA DOJACARANDAARIE ARQUIPÉLAGO DASCAGARRASARIE FLORESTA DA CICUTAESEC ESTADUAL DOPARAISOESEC TAMOIOSPARNA ITATIAIAPARNA RESTINGA DEJURUBATIBAPARNA SERRA DABOCAINAPARNA SERRA DOSORGAOSPARNA TIJUCA

AREA(ha)

27620.58

5957.76

29818.3513809.4034985.6122617.57

968.988879.93

58435.8120646.797955.97

6878.613288.95

35.34

270.994947.46

8898.1912744.9515133.12

68763.56

10496.75

3456.96

ÓRGÃORESP.IBAMA

FEEMA

IBAMAIBAMA

FEEMAFEEMAFEEMAFEEMAIBAMA

FEEMAFEEMA

FEEMAFEEMA

IBAMA

IBAMAFEEMA

IBAMAIBAMAIBAMA

IBAMA

IBAMA

IBAMA

33

3.2 Unidades de Conservação abrangidas;

O Rio de Janeiro possui dezenas de Unidades de Conser-vação, tratando-se do Estado que tem maior número deParques Nacionais no país, com 05 desta unidades. So-mando-se às demais Unidades de Conservação Federais eEstaduais, o Estado totaliza uma área de 464.475ha (apro-ximadamente 10,06% de seu território) sob proteção e do-mínio público, e mais 3.026 ha sob proteção de RPPN´s,essas de caráter privado, sendo que aproximadamemnte95% estão inseridas na RBMAFace à nova legislação do Sistema Nacional de Unidades deConservação - SNUC, algumas Unidades de ConservaçãoEstaduais deverão ser reenquadradas nas categorias atuais.

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Fonte: Lab. Geoprocessamento do IEF/RJ - 2002Observação: as áreas acima citadas são estimadas

QUADRO N° 3ÁREAS PROTEGIDAS POR LEGISLAÇÃO ESPECÍFICAA NÍVEL PARTICULAR

PE DA ILHA GRANDEPE DA PEDRA BRANCAPE DA SERRA DA TIRIRICAPE DO DESENGANOPE MARINHO DO AVENTU-REIROREBIO ARARASREBIO ARQUEOLOGICA DEGUARATIBAREBIO POCO DAS ANTASREBIO PRAIA DO SULREBIO TINGUAREBIO UNIAOREFLO GRAJAURESEC ALCOBACARESEC JACAREPIARESEC JUATINGARESEC MASSAMBABARESEX MARINHA DO ARRAI-AL DO CABOTOTAL

4301.7911556.652024.62

21392.841786.09

2130.212260.92

5038.733438.58

25089.852921.65

56.00281.00

1572.199988.611391.802632.42

464475.61

43.02115.5720.25

213.9317.86

21.3022.61

50.3934.39

250.9029.220.562.81

15.7299.8913.9226.32

4644.76

IEFIEFIEFIEF

FEEMA

IEFIEF

IBAMAFEEMAIBAMAIBAMA

IEFIBAMA

FEEMAIEF

FEEMAIBAMA

PORTA-RIA

481/91041/92-N041/92-N06/93-N16/93-N

102/94-N

ÁREA (ha)63.7034.0029.0039.6420.003.40

45.86

MUNICÍPIORio Claro

ltaguaíItaguaí

PetrópolisCas.de AbreuRio de JaneiroSilva Jardim

DENOMINAÇÃOFazenda Roça GrandeSítio PorangaSítio AngabaPedra dos AmarilisFazenda Córrego da luzCEFLUSMMEFazenda Arco íris

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Fontes: IBAMA/RJ, Associação Mico-Leão Dourado e Associação Patrimônio Natural

4 PATRIMÔNIO NATURAL ABRANGIDO PELA RBMA

As regiões fitoecológicas compreendem formações flores-tais e não florestais (savana e estepe). As florestas sãoformadas por espécies arbóreas dispostas, segundo a altu-ra, em até quatro estratos definidos. As savanas e estepescaracterizam-se por apresentarem dois estratos de vegeta-ção, um arbustivo e outro herbáceo.

Fazenda Santa IsabelGranja RedençãoSítio Santa FéSítio Fim da PicadaFazenda LimeiraSitio Cachoeira GrandeSaquinho do ItapirapuãFazenda Bom RetiroSítio ShangrilahMaria Francisca Gui-marãesFazenda SuspiroReserva QuerênciaFazenda CachoeirinhaReserva JornalistaAntenor NovaesFazenda São GeraldoCentro EcológicoMetodista Ana GonzalaFazenda Barra do SanaFazenda UniãoEl NagualSito Granja São JorgeSítio Santa CruzReserva Mato GrossoTotal

MangaratibaSilva JardimSilva Jardim

Rio ClaroPetrópolis

Silva JardimAngra dos Reis

Casimiro de AbreuMacaé

Teresópolis

TeresópolisMagé

MangaratibaEng. P. de Frontin

ValençaRio de Janeiro

MacaéSilva Jardim

MagéRio de Janeiro

MendesSaquarema

525.0033.8014.3121.1018.7314.003.97

472.0043.001.02

18.216.30

650.00125.00

173.0073.12

162.40343.1017.202.60

46.8026.11

3026.37

103/94-N05/96-N72/96-N

110/96-N12/97-N61/97-N

171/97-N03/98-N04/98-N

156/98-N160/98-N

03/99-N05/99-N22/99-N29/99-N

39/99-N44/99-N

65/99-N68/00-N88/99-N91/99-N

110/99-N25-00-N

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RADAMBRASIL, de 1982. Pode-se, com base nelas, identi-ficar os tipos florestais do Estado, pertencentes a quatroregiões fitoecológicas.

Região Fitoecológica Estepe

Corresponde a uma caatinga, devido às condições predomi-nantes de clima e precipitações semelhantes às do Nor-deste brasileiro. Esta caatinga fluminense ocorre, comouma Formação Aberta, apenas nos Municípios de Arraialdo Cabo e de Cabo Frio, sempre sobre os maciços adjacen-tes ao mar.

A vegetação é especial nessas localidades, ostentando ra-ridades da flora estadual, como as Bromeliaceae Tillandsiagardneri var. rupicola, Tillandsia neglecta, Nidulariumatalaiensis, Cryptanthus sinuosus e Cryptanthus maritimus, quesão endêmicas da região, além de outras espécies da mes-ma família, menos raras, como Billbergia amoena, Quesneliaquesneliana, Neoregelia cruenta e Alcantarea gigantea. Outroendemismo regional é o Pilosocereus ulei, que aparece acom-panhado de outras Cactaceae, como Pilosocereus arrabidae,Cereus fernanbucensis e Austrocephalocereus fluminensis, emmeio a várias espécies de Euphorbiaceae.

De grande fragilidade e de caráter exclusivo no Estado,esse tipo de cobertura florestal está sob a intensa pressãoantrópica representada pela especulação imobiliária e ocu-pação desordenada do solo.

Região Fitoecológica Floresta Ombrófila Densa

Os ambientes fluminenses onde se instala a FlorestaOmbrófila Densa possuem precipitações bem distribuídasao longo do ano, em torno de 1.500mm, sem período seco.

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REGIÃOFITOECOLÓGICA

Floresta Ombrófila

Floresta Estacional

SavanaSavana Estépica

Áreas de FormaçãoPioneira

Refúgio Ecológico

FORMAÇÃO

Floresta OmbrófilaDensa

Floresta OmbrófilaMista

Floresta EstacionalSemidecidual

Gramíneo LenhosaSavana EstépicaArbórea Aberta

Influência MarinhaInfluência Fluvio-ma-

rinhaAltomontano

SUBFORMAÇÃO

AluvialTerras BaixasSubmontana

MontanaAlta Montana

Montana

AluvialTerras BaixasSubmontana

Montana

RestingaMangue

Herbáceo

O mapa de vegetação na escala de 1:1.000.000 do ProjetoRADAMBRASIL indica que o Estado do Rio de Janeiro abran-gia parcelas das regiões fitoecológicas originais do Biomada Mata Atlântica constantes no quadro a seguir.

QUADRO 4:REGIÕES FITOECOLÓGICAS ORIGINAIS DA MATAATLÂNTICA

Fonte: RADAMBRASIL, 1983

4.1 Regiões Fitoecológicas no Estado do Rio de Janeiro

A tipificação das coberturas florestais que compõem a MataAtlântica no Estado do Rio de Janeiro foi detalhada nasFolhas SF23/24 - Rio de Janeiro/Vitória, do Projeto

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da Bocaina, a APA de Cairuçu, a APA de Tamoios, o ParqueEstadual da Ilha Grande, a Reserva Biológica Estadual daPraia do Sul, a APA de Mangaratiba, a Reserva Biológica doTinguá, a APA de Petrópolis, o Parque Nacional da Serrados Órgãos, a Estação Ecológica do Paraíso e o Parque Es-tadual do Desengano.

A composição florística é rica e variada, sendo alguns ele-mentos bastante comuns, como o tapiá (Alchornea iricurana- Euphorbiaceae); as freqüentíssimas embaúbas (Cecropiaspp. - Moraceae) e quaresmeiras (Tibouchina granulosa -Melastomataceae); as grossas figueiras (Ficus spp. -Moraceae), que, muitas vezes, são árvores estranguladorasde outras árvores, crescendo sobre elas como parasitas; acarrapeta (Guarea guidonia - Meliaceae), sempre presenteàs margens dos riachos; o açoita-cavalo (Luehea grandiflora- Tiliaceae) e a gregária pindaíba (Xylopia brasiliensis -Annonaceae). Essas espécies, juntamente com dezenas deoutras, formam um dossel contínuo, sombreando o interiordas matas. Sob esse dossel que pode estar a 25-30m dosolo e do qual sobressaem as copas do jacatirão (Miconiafairchildiana - Melastomataceae) e da canela-santa (Vochysialaurifolia - Vochysiaceae), um sem número de plantas for-ma um sub-bosque adaptado à luminosidade diminuída pe-las árvores mais altas. As folhas, para otimização dafotossíntese possuem maiores concentrações de clorofilae, por isso, têm coloração verde-escura, como as Piperaceaedos gêneros Piper, Potomorphe e Ottonia e os sonhos-d’ouro(Psychotria nuda - Rubiaceae) ou expandem as lâminasfoliares, exibindo macrofilia acentuada, como a Rudgeamacrophylla (Rubiaceae) e as inúmeras Marantaceae(Maranta, Ctenanthe, Stromanthe) e Musaceae (Heliconia). Essesub-bosque é o habitat do palmito (Euterpe edulis - Palmae),cujos estoques naturais sofrem contínua depleção porcortadores clandestinos.

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Esta região apresenta 5 formações em todo o Brasil, mas,no Rio de Janeiro, estão representadas apenas 4.

Floresta das Terras Baixas

Está estabelecida nas baixas altitudes, até 50m, com rema-nescentes ao longo do Estado, nas áreas alagadas ou muitoúmidas. A vegetação apresenta composição florística varia-da, com a presença constante do pau-de-tamanco (Tabebuiacassinoides - Bignoniaceae) e do coco-de-tucum (Bactris setosa- Palmae). Um sub-bosque pode estar presente com váriasPiperaceae e Costus spiralis (Zingiberaceae). Outras espéciesarbóreas freqüentes são as figueiras (Ficus organensis, Ficusinsipida - Moraceae) e os ingás (Inga laurina - Leguminosae).No litoral Sul, pode ocorrer a palmeira Raphia ruffia e nasbacias dos rios São João e Macaé aparecem o guanandi(Symphonia globulifera Guttiferae) e o uanani (Callophyllumbrasiliense - Guttiferae). A umidade desses ambientes favore-ce a alta incidência de epífitas representadas porBromeliaceae, Araceae, Cactaceae e Orchidaceae.

A abertura da BR-101 representou um drástico aumentodas pressões antrópicas sobre os remanescentes desse tipode mata.

Floresta Submontana

Essa formação florestal compreende as matas que ocorremna faixa de altitude entre os 50 e os 500 metros, no relevomontanhoso da Serra do Mar, nos contrafortes litorâneos enas ilhas. Seus principais remanescentes constituem, quasesempre, áreas de preservação permanente, pois estão si-tuados na escarpa frontal da Serra do Mar, com declividadesgeralmente muito acentuadas, ou fazem parte de algumtipo de unidade de conservação, como o Parque Nacional

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Leguminosae) e o guaperê (Lamanonia ternata - Cunoniaceae).No sub-bosque, aparecem a guaricanga (Geonoma sp. - Palmae)e os fetos arborescentes ou samambaias-gigantes: Trichopterissp. (Cyatheacae) e Dicksonia sellowiana (Dicksoniaceae).O interior dessas matas, sempre sombrio, é ocupado porplantas herbáceas de pequeno porte, como Besleria spp(Gesneriaceae), Coccocypselum spp. (Rubiaceae),Dichorisandra spp. (Commelinaceae), Dorstenia spp.(Moraceae), Pilea spp. (Urticaceae) e uma infinidade de gê-neros de Pteridophyta (Blechnum, Didymochlaena, Dryopteris,Lygodium, Marattia, Polybotria, Sellaginella). Cipós e escandentessão, também, numerosos: Bauhinia spp (Leguminosae), Cissusspp. (Vitaceae), Davilla rugosa (Dilleniaceae), Pithecocteniumspp. (Bignoniaceae), Serjania spp. (Sapindaceae) e Smilax spp.(Smilacaceae), entre outros.

Troncos e galhos das árvores são literalmente cobertos deepífitos, que vão desde líquens, hepáticas e musgos, pas-sando por várias Pteridophyta (Hymenophyllum, Microgramma,Trichomanes); Dicotyledoneae, como Begoniaceae (Begonia),Cactaceae (Hariota, Ripsalis, Schlumbergera), Gesneriaceae(Codonanthe, Nematanthus), Marcgraviaceae (Marcgravia),Piperaceae (Peperomia) e Monocotyledoneae, comoBromeliaceae (Vriesia, Tillandsia), Cyclanthaceae(Carludovica) e Orchidaceae (Bifrenaria, Catasetum, Cattleya,Miltonia, Oncidium, Pleurothalis).

Floresta Alto-Montana

Ocupa os ambientes situados acima dos 1500m. É nela queexiste o maior ocorrência de endemismos, sendo o Itatiaiaum dos locais notáveis nesse sentido. Tais matas são cha-madas nebulares por estarem freqüentemente encobertaspor nuvens que saturam o ar de umidade. As árvores sãode altura apenas mediana, retorcidas e exibem um certograu de xeromorfismo, devido às baixas temperaturas. En-

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Floresta Montana

Os remanescentes desse tipo de mata localizam-se no re-bordo dissecado da Serra do Mar e na Serra de Itatiaia, emaltitudes compreendidas entre os 500 e os 1500m. As par-tes altas de algumas das unidades de conservação do Es-tado contêm trechos da Formação Montana da FlorestaOmbrófila Densa, como o Parque Nacional da Bocaina, oParque Nacional de Itatiaia, a Reserva Biológica do Tinguá,o Parque Nacional da Serra dos Órgãos, a APA de Petrópolis,a APA do Jacarandá e o Parque Estadual do Desengano.Também algumas iniciativas municipais preservam essetipo de formação florestal, como a APA da Serrinha, emResende, as APAs de São José do Vale do Rio Preto e aReserva de Macaé de Cima, em Friburgo.

A flora dessa formação apresenta muitas das espécies daFormação Submontana. Surgem, entretanto, o gigante daMata Atlântica, o jequitibá-rosa (Cariniana estrellensis -Lecythidaceae), que, sobressaindo do dossel contínuo dascopas, pode superar os 30m de altura. Bastante alto é,também, o ouriceiro (Sloanea sp. - Eleocarpaceae).

A dominância em espécies fica por conta das Lauraceae,que estão representadas por inúmeros gêneros (Aiouea,Aniba, Cryptocarya, Endlicheria, Licaria, Nectandra, Ocotea,Persea, Phyllostemodaphne, Urbanodendron) e espécies, des-tacando-se, entre elas, o raríssimo tapinhoã (Mezilaurusnavalium), de especial importância histórica: considerado ocarvalho brasileiro, foi intensamente utilizado na constru-ção de caravelas, urcas, fragatas, escunas e sumacas, bemcomo nos reparos das frotas que aportavam avariadas ao Riode Janeiro. Sua intensa utilização no período colonial foiregulamentada por Carta Régia de 1799. Outras espéciesque fazem parte da Floresta Montana são o cedro (Cedrelaangustifolia - Meliaceae), o louro-pardo (Cordia trichotoma -Boraginaceae), o vinhático (Plathymenia foliolosa -

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Região Fitoecológica Floresta Estacional Semidecidual

O grau de caducifoliedade do conjunto florestal a que se refe-re a sua denominação está entre 20 e 50% e é dependentedo clima, que tem uma estação chuvosa e outra seca. Sãoquatro as formações dessa região fitoecológica, mas apenastrês estão parcamente representadas no Estado do Rio deJaneiro.Floresta das Terras Baixas

Os pequenos remanescentes dessa formação localizam-seno Município de Quissamã, entre Macabuzinho e Dores deMacabu, fora de qualquer unidade de conservação, citan-do-se Sterculia chicha (Sterculiaceae) e Talisia sp.(Sapindaceae) como espécies típicas.

A pecuária e o cultivo da cana-de-açúcar reduziram drasti-camente essa formação.

Floresta Submontana

Situa-se entre os 50 e os 500m de altitude, no Municípiode Macaé, reduzida a pequeníssimas manchas, sem qual-quer tipo de proteção específica. O araribá (Centrolobiumsp. - Leguminosae) é citado como espécie típica.

Floresta Montana

É a formação que melhor representa a Floresta EstacionalSemidecidual no Estado do Rio de Janeiro. Manchas maissignificativas ocorrem entre 500 e 1500m nos Municípiosde Cordeiro, Trajano de Moraes e Bom Jardim. Em Itatiaiae Resende, há manchas menores. A sapucaia (Lecythispisonis - Lecythidaceae) é uma das espécies típicas.

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tre elas, encontram-se espécies que pertencem a famíliaspouco representadas no Brasil ou a gêneros escassos noEstado do Rio de Janeiro: Aquifoliaceae, com o único gêne-ro, Ilex, mais comum e melhor representado no Sul do Bra-sil, incluindo Ilex paraguariensis, a erva-mate; Celastraceae,com o único gênero, Maytenus, um dos poucos brasileiros eo único da família que ocorre no Estado; Clethraceae, como único gênero Clethra, que possui, apenas, duas espéciesbrasileiras; Cunoniaceae, com o gênero Weinmannia, umdos três que ocorrem no país; Winteraceae, com Drymisbrasiliensis, única espécie brasileira; Myrsinaceae, com ogênero Rapanea, um dos quatro brasileiros; Proteaceae, como gênero Roupala, um dos três representados no Brasil, eSaxifragaceae, com o gênero Escallonia, o único brasileiro.

Dos arbustos, cita-se Berberis laurina (Berberidaceae), tam-bém a única espécie brasileira. Algumas aves nativas daMata Atlântica vivem nessas florestas ou próximas a elas,sempre em áreas de altitude. Entre elas estão os endêmicosassobiador (Tijuca atra), beija-flor-de-topete (Stephanoxislalandi) e entufado (Merulaxis ater), além da borralhara(Mackenziaena leachii), da garrincha-chorona (Schizoeacamoreirae), do bacurau-da-telha (Caprimulgus longirostris) edo tapaculo (Scytalopus speluncae).

Por essas singularidades, a Floresta Alto-Montana é desuma importância científica. Nessas matas praticamentenão existe sub-bosque, mas há adensados de Bromeliaceaerepresentadas por Vriesia, Aechmea e Nidularium. O epifitismoé desmpenhado por Orchidaceae, dentre as quais abelíssima Sophronites grandiflora.

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freqüente nesses locais, e só neles. Outra exclusiva éCortaderia modesta. Inúmeras outras famílias estão repre-sentadas por plantas pequenas, como as Eriocaulaceae eas Scrophulariaceae. No chão, às vezes, aparecem grandesmanchas de líquens, dos quais Cladonia confusa é freqüente.Lugares úmidos são marcados por Sphagnum purpuratum,musgo higroscópico, acidificador das águas e propiciadorde habitat para a planta carnívora Drosera vilosa.

Formações PioneirasCompreendem os ecossistemas associados à Mata Atlânti-ca e foram caracterizados em três áreas:

Áreas com Influência MarinhaSão as restingas, das quais há uma significativa variedadeno território fluminense. Embora grandes extensões delasjá tenham sido eliminadas, há, ainda, bons remanescen-tes. Estão associadas às areias quartzosas litorâneas de-positadas durante o Quaternário. Por isso mesmo, são bemrepresentadas do Município do Rio de Janeiro em direçãoao Litoral Norte, onde a Serra do Mar se afasta da costa e aplanície litorânea alcança maior amplitude, especialmen-te nos Municípios de Macaé, Quissamã, Campos e São Joãoda Barra. No Rio de Janeiro e nos dois últimos municípios,entretanto, já foram profundamente descaracterizadas,delas restando apenas manchas pequenas, residuais e for-temente secundarizadas.

As restingas possuem composições florísticas complexas ecaracterísticas vegetacionais variadas, que vão desde a vege-tação rastejante das praias aos espaços desnudos com moi-tas esparsas e às matas de restinga. Trabalhos recentes têmprocurado tipificar categorias de vegetação nessas áreas, jáque existem profundas diferenças estruturais entre elas.

Um grande número de espécies endêmicas, raras eameaçadas de extinção fazem parte do sistema biológicodas restingas.

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Região Fitoecológica Floresta Ombrófila MistaComo as regiões fitoecológicas anteriores subdivide-se emquatro formações, mas, no Estado do Rio de Janeiro, sóocorre a formação Floresta Montana. Localiza-se entre os800 e os 1200m no Parque Nacional da Bocaina. As espéci-es típicas são o pinheiro-do-paraná (Araucaria angustifolia -Araucariaceae) e pinheirinho-bravo (Podocarpus lambertii -Podocarpaceae).

Refúgio EcológicoÉ um agrupamento vegetal que apresenta fitofisionomia eflorística dissonantes daquelas verificadas nos entornosimediatos. Ocorre, geralmente, sobre solos litólicos rasos.Das três modalidades existentes, apenas o Refúgio Ecoló-gico Alto-Montano está presente em território fluminense.

Está localizado acima dos 1.500m, na Serra do Mar e naMantiqueira. Em seus lugares de ocorrência, como Morro doCuca, Pico do Frade, Antas, Desengano, Bocaina e Itatiaia,ele aparece logo após a Floresta Ombrófila Densa Alto-Montana, à qual se relaciona e é, como ela, local de altasconcentrações de endemismos. Em Antas, entre Petrópolis eTeresópolis, 66 das 347 espécies coletadas são endêmicas;na Bocaina, no Sul do Estado, são endêmicas 30 das 215espécies registradas; no Desengano, em Santa MariaMadalena, são 62 endemismos entre 275 espécies registradas;em Itatiaia, local dos mais pesquisados botanicamente, com415 espécies coletadas, há 88 que são endêmicas; no Morrodo Cuca, em Petrópolis, há 27 endemismos entre 227 espéci-es coletadas e, no Pico do Frade, em Macaé, das 124 espéciescoletadas, 22 são endêmicas.

A fitofisionomia é herbáceo-arbustiva, aberta. As Compositaeestão significativamente representadas por vários gêneros(Achyrocline, Baccharis, Chinolaena, Erigeron, Eupatorium,Mikania, Senecio, Vernonia, Wedelia). As Gramineae possu-em uma espécie de bambu – Chusquea pinifolia – muito

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Entre os mamíferos, merecem destaque os primatas repre-sentados pelos macacos guariba (Alouatta sp), muriqui(Brachyteles arachnoides), macaco-prego (Cebus apella) e ossaguis, sendo o mais conhecido o mico-leão-dourado(Leontopithecus rosalia), mas tendo ainda o também ameaçadoCallithrix aurita. Já o Callithrix jaccus, espécie típica do Nordes-te, foi introduzido no Estado e atualmente pode ser visto des-de a Floresta da Tijuca até nas regiões de ocorrência do mico-leão-dourado, na região das baixadas litorâneas.

São encontrados vários marsupiais (Didelfídeos), entre eleso gambá (Didelphis marsupialis), várias cuícas e a rara cuícad’água (Chironectes minimus) nos riachos que descem daserra do Mar. Pertencentes a outros grupos, destacam-se otamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla)), a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), tatús (Dasypus, Euphractus), otapiti (Silvilagus), numerosos roedores como o caxinguelê(Sciurus), ouriço-caixeiro (Coendou), preá (Cavia), capivara(Hydrochaeris hydrochaeris), paca (Agouti), cotia (Dasyprocta),ratos-do-mato (Cricetidae), rato-do-bambu (Cannabaetomysamblionyx), etc. Dentre os vários predadores podem ser vis-tos o cachorro-do-mato (Cerdocyon), o guaxinim ou mão-pelada (Procyon), o coati (Nasua nasua), a lontra (Lutra), irara(Eira barbara), furão (Galictis, Grison), os gatos pintados (Felis),etc.. O mais importante réptil da região é o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). Em algumas áreas protegidasainda sobrevivem os caitetus (Tayassu tajacu).

Apesar de muito desfalcada em suas populações, a avifaunaé rica em certas espécies silvestres, com formas importan-tes de pelo menos três tinamídeos: o inhambú-guaçu(Crypturellus obsoletus), inhambú-xororó (C. parvirostris) einhambú-xintã (C. tataupa), além de, possivelmente, o raromacuco (Tinamus solitarius); dos ardeídos é comum nas fa-zendas, partes baixas e brejos, a garça-boiadeira (Bubulcusibis), o socó-mirim (Ixobrycus exilis erytromelas) e garças bran-cas (Egretta, Casmerodius); representantes dos anatídeos,

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Áreas com Influência FluviomarinhaSão os manguezais que se instalam em águas calmas dointerior das baías, ocupando, preferencialmente, fozes derios. Sua flora é bastante simplificada e compõe-se, basi-camente, de três espécies arbóreas: Rhizophora mangle(Rhizophoraceae), Avicennia schaueriana (Verbenaceae) eLaguncularia racemosa (Combretaceae).

Na foz do Rio Paraíba do Sul, ocorre conspicuamenteAvicennia germinans. As maiores áreas ocupadas pormanguezais estão na foz do Rio Paraíba do Sul e na doMacaé, no fundo da Baía de Guanabara, na Baía de Sepetibae no Litoral Sul, em especial em Parati.

Como as restingas, os manguezais, apesar de protegidospor legislação específica, têm sido seriamente prejudica-dos por atividades humanas predatórias.

Áreas com Influência FluvialSão os brejos e lezírias, que se formam nos baixos cursosdos rios. A vegetação predominante é constituída por her-báceas helóbias, das quais a mais característica é a cos-mopolita taboa (Typha domingensis - Typhaceae).

Os manguezais, os brejos e as lagunas litorâneas barradaspor cordões de restingas constituem áreas úmidas de es-pecial importância para a avifauna migratória.

4.2 Patrimônio Faunístico

Muitas da áreas incluídas na Reserva da Biosfera da MataAtlântica, especialmente aquelas de domínio privado, dis-põem de pouca ou nenhuma informação sobre sua fauna.As áreas públicas protegidas foram mais estudadas, espe-cificamente a fauna de vertebrados.

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Há vários outros grupos de aves como araponga (Procniasnudicollis), polícia-inglesa (Leistes), joão-de-barro (Furnariusrufus badius), anambé-branco (Tityra cayana), o comumtangará (Chiroxiphia caudata), tesourinha (Muscivoratyrannus), bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), cambaxirra(Troglodytes aedon), sabiá-do-campo (Mimus saturninus),japacamim (Donacobius atricapillus), sabiá-una (Platycichlaflavipes), sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), sabiá-poca (T.amaurochalinus), guaxe (Cacicus haemorrhous) que tem seusninhos pendurados nas árvores perto dos rios; saíra-sete-cores (Tangara seledon), sanhaço (Thraupis), tiê-sangue(Ramphocelus bresilius), trinca-ferro (Saltator similis), pixoxó(Sporophila frontalis), coleirinho (S. caerulescens), gaturamo(Euphonia spp.) e os alienígenas bico-de-lacre (Estrilda) epardal (Passer domesticus).

Diversas cobras como a jibóia (Boa constrictor), jararacas ejararacuçu (Bothrops spp.), cobras-coral (Micrurus), cobra-cipó (Chironius), caninana (Spilothes), além de algunslacertídeos. O lagarto teju (Tupinambis teguixin) é muito co-mum, mas também ocorrem formas menores como Ameivaameiva e Tropidurus torquatus, Anolis sp., etc. Nos córregosocorre o raro cágado Hydromedusa maximiliani, forma especi-alizada em viver em frias águas torrenciais das serras.

É farta a fauna de batráquios, com muitas formas repre-sentadas na área. Também notável é a representação dosinvertebrados, sendo extrordinário o número de insetos,dos quais podem ser destacados as borboletas azuis do gê-nero Morpho, a grande mariposa (Agripina) e o marimbondo-caçador (Pepsis) que preda aranhas, gafanhotos, esperan-ças, etc.

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podem ser vistos nas baixadas, irerês (Dendrocygna viduata)e a marreca-ananai (Amazonetta brasiliensis). Também naspartes baixas é comum observar-se o urubu comum(Coragypis atratus) e, junto à mata e encosta das serras ourubu-caçador (Cathartes aura). Vários gaviões sendo fre-quente o gavião-cabloco (Heterospizias meridionalis), o ga-vião-peneira (Elanus leucurus), o gavião pega-pinto ou carijó(Buteo magnirostris), o gaviãozinho (Gampsonix swainsonii), ogavião-carrapateiro (Milvago chimachima), além do já escas-so gavião pega-macaco (Spizaetus tyrannus).

Vários outros grupos de aves estão representados como ossaracura-três potes (Aramides cajanea), frango-d’água-azul(Porphyrula martinica); columbídeos: várias pombas,notadamente a bela e rara pomba-espelho (Claravisgodefrida), a pomba-amargosa (Columba plumbea), rolinhas(Columbina talpacoti), juriti (Leptotila); psitacídeos vários, comoo periquito-verde (Brotogeris versicolorus), maitaca (Pionusmaximiliani); sabiá-cica (Triclaria malachitacea); cuculídeosalma-de-gato (Piaya cayana), o comum anú-preto (Crotophagaani), como também anú-branco (Guira guira) predador dosninhos de pardais, rolinhas, etc.

Várias espécies de corujas habitam a região, sendo maiscomum a coruja-das-igrejas (Tyto alba suindara) jacurutu(Pulsatrix koeniswaldiana) a coruja-buraqueira (Speotytocunicularia) e corujão-de-orelha (Rhinoptynx clamator). Tam-bém comuns são os beija-flores (Ramphodon, Eupetomena,Melanotrochilus, Phaetornis, Amazilia, etc.). Relativamente co-muns nas áreas de mata são ainda o trogonídeo Trogon viridis,o surucuá-de-barriga-amarela, Baryphthengus ruficapillus, ajuruva; Nystalus chacuru, joão-bobo e Melacoptila striata, o joão-barbudo; os ranfastídeos, tucano-de-bico-preto (Ramphastusvitellinus atiel), maguari-poca (Selenidera maculirostris) comunsdentro da mata; os picídeos xanxão ou pica-pau do campo(Colaptes campestris), pica-pau amarelo (Celeus flavescens),Melanertes flavifrons que aprecia frutos da carrapeteira; opica-pau branco (Leuconerpes candidus).

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4.3 Patrimônio Espeleológico

O Rio de Janeiro é um estado relativamente pobre em ocor-rências de cavidades naturais subterrâneas. Isto deve-seao fato de que, em todo o território fluminense, existe ape-nas um pequeno bolsão de calcário, a rocha mais propícia àformação de cavernas devido à dissolução da mesma poráguas fluviais ou pela percolação das águas das chuvas,situado nos municípios de Cantagalo e Itaocara, na RegiãoSerrana.

Este bolsão de calcário, no entanto, a despeito de suasreduzidas dimensões (se comparado aos fenomenais carstesde Minas Gerais, Bahia, Goiás e São Paulo, por exemplo) éexplorado há muitos anos por fábricas de cimento, que re-presentam uma ameaça concreta às poucas cavernas aliexistentes. Por esta razão, e por serem as cavidades natu-rais subterrâneas feições geológicas expressamente prote-gidas pela legislação vigente, encontra-se tramitando naAssembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, proje-to de lei de autoria do deputado Carlos Minc (PT/RJ) crian-do o “Parque Estadual das Cavernas Fluminenses”, queobjetiva preservar estas cavernas, das quais a mais impor-tante é a Gruta Novo Tempo, reservando porém significa-tiva porção do calcário para a continuidade da indústriacimenteira, de forma a não prejudicar a economia daquelaregião. A criação deste parque, na verdade, representariaum novo vetor de desenvolvimento local, baseado na explo-ração racional do turismo ecológico, não apenas através davisitação às grutas mas, também, da prática de outros es-portes e atividades ao ar livre, tais como caminhadas, vôolivre e, talvez, passeios a cavalo.

As demais cavidades naturais subterrâneas do Rio de Ja-neiro resumem-se a pequenas grutas criadas por falhasnos granitos e gnaisses que constituem a litologia predo-minante no estado, bem como pelo encontro, ou

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superposição, de grandes blocos destas mesmas rochas.Apesar de sua modesta expressividade, em termosespeleológicos, algumas dessas grutas chegaram a adqui-rir grande fama local e, em conseqüência, certa importân-cia turística. A título de exemplo, podemos citar a Gruta doAcaiá, na Ilha Grande; a Gruta do Mero, no Morro da Urca;os “Olhos” e a “Orelha”, na Pedra da Gávea; a Gruta doPresidente, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos; e aGruta Paulo e Virgínia e a Gruta do Morcego, no ParqueNacional da Tijuca, dentre outras.

4.4 Geomorfologia e Paisagens

O estado do Rio de Janeiro é um dos mais ricos de todo oBrasil em termos de monumentos geológicos notáveis. Defato, algumas montanhas fluminenses, pelas suas silhue-tas formosas e situação privilegiada, tais como o Pão deAçúcar e o Corcovado, ambas na capital, adquiriram reno-me internacional. Inúmeras outras, contudo, merecem igualdestaque; tantas, na realidade, que apresentaremos aquiapenas as mais expressivas de cada um dos principais ma-ciços fluminenses.

Na Serra da Mantiqueira o maciço do Itatiaia, em boa parteprotegido pelo parque nacional homônimo, tem no Pico dasAgulhas Negras, com 2.797 m, o seu ponto culminante,sendo também o ponto mais elevado de todo o estado. Ou-tras montanhas significativas do Itatiaia são as Pratelei-ras, a Pedra do Altar, e a Pedra Assentada, valendo aindaa menção às pequenas, porém curiosas, Pedra da Maçã,Pedra da Tartaruga e Asa de Hermes. Fora do parque,mas na mesma região, merecem destaque os dois cumesda Pedra Selada, no município de Resende.

Na Região Sul do estado elevam-se os íngremes contrafor-tes da Serra da Bocaina, que atingem grande altitude e

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Como pano de fundo da Baixada Fluminense ergue-se aSerra do Tinguá, imensa escarpa que abriga uma das mai-ores extensões contínuas de floresta ombrófila densa detodo o estado, e cujo ponto culminante é a Pedra daCongonha, em Xerém. Já Petrópolis ostenta uma impres-sionante coleção de gigantescos morros arredondados, dosquais se destacam a Maria Comprida, em Araras; oAlcobaça e o Mãe D’Água, em Correas; e o grupo de mon-tanhas em torno dos morros do Taquaril e da Jacuba, naPosse.

É também em Petrópolis que começa a Serra dos Órgãos,que muitos consideram o mais belo maciço de montanhasdo Brasil. Ela ganhou este nome por que os portuguesesquando aqui chegaram, ao ver à distância os colossais pon-tões graníticos que a compõe, acharam que eles se asse-melhavam aos tubos de um gigantesco órgão divino, o quetalvez explique por que tantas de suas montanhas possu-am nomes de santos ou de temas litúrgicos. Em sua maiorparte protegida por um parque nacional, que tem uma lon-ga tradição de bom relacionamento com os muitomontanhistas que o freqüentam, a Serra dos Órgãos emgeral, e o Dedo de Deus em particular, são ótimos exem-plos de como uma paisagem natural bem preservada podeser um trunfo econômico para uma cidade – no caso,Teresópolis, embora suas principais montanhas estejam emterras do município de Guapimirim.

São inúmeros os picos de grande beleza e elegância na Ser-ra dos Órgãos. A vista clássica, na saída da cidade, inclui oEscalavrado, que conta com uma longa aresta livre de vege-tação que parece o dorso de um gigantesco animal pré-his-tórico voltado para a estrada; o Dedo de Nossa Senhora,grande pontão que se situa um pouco mais longe; e o jácitado Dedo de Deus, um pontão ainda maior e mais afilado,que tem ao seu redor os Dedinhos, elevações secundáriasque ajudam no entanto a compor a grande mão divina da

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formam diversos picos de inegável beleza, dos quais a Pe-dra do Frade reina absoluta em Angra dos Reis, enquantoque o Pico das Três Orelhas é uma das atrações do muni-cípio de Mangaratiba.

Na Reserva Ecológica Estadual da Juatinga, em Parati, asescarpas saem diretamente do mar para atingir altitudesum pouco superiores aos mil metros no Pico do Cairuçu,em cujas cercanias encontram-se, provavelmente, algunsremanescentes de mata primária e muitas espéciesameaçadas de extinção, entre elas um pequeno grupo demuriquis (Brachyteles arachnoides), o maior primata dasAméricas. Não muito distante dali, na Ilha Grande, temosoutra serra com montanhas de grande beleza, dentre asquais reina o Pico do Papagaio, com seu curioso formato.

A cidade do Rio de Janeiro é uma das áreas mais pródigasem montanhas do estado. Além dos já mencionados Pão deAçúcar e Corcovado, que dispensam maiores comentários,temos, no Parque Estadual da Pedra Branca os Dois Irmãosde Jacarepaguá, a Pedra Grande e a própria Pedra Branca,ponto culminante do município do Rio de Janeiro com seus1.024 m. No Parque Nacional da Tijuca, que compreende asquotas mais elevadas da Serra da Carioca, o Bico do Papa-gaio, a Pedra da Gávea e o Pico da Tijuca (1.021 m) são osdestaques; finalmente, na Reserva Florestal do Grajaú, sobadministração estadual, a pirâmide quase perfeita do Perdi-do do Andaraí é verdadeiramente admirável.

Nas vizinhas Niterói e Maricá, a Serra da Tiririca se elevaem relativo isolamento, sendo que o conjunto formado peloAlto Mourão, pelo Morro do Telégrafo e pela AgulhaGuarischi formam um cenário de cartão postal.

É na apropriadamente chamada Região Serrana do estado,contudo, que se encontra a maior concentração de forma-ções rochosas de tirar o fôlego do estado do Rio de Janeiro.

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Seguindo em direção ao norte uma ou outra montanha sedestaca na paisagem, como por exemplo a Pedra Manoelde Moraes, em Trajano de Moraes, mas chegando em San-ta Maria Madalena é que tem início o último grande maci-ço do estado, a Serra do Desengano, cujo ponto culminanteé o Pico do Desengano. Incluída no primeiro e maior par-que estadual do Rio de Janeiro, ela no entanto encontra-se inacessível à população, pois a quase totalidade de suasterras ainda são de domínio privado.

Outras montanhas notáveis, que não poderiam deixar deser mencionadas devido à sua imponência, são a PedraLisa, em Morro do Côco, Campos, espetacular agulha ro-chosa isolada; o Morro de São João, em Casimiro de Abreuquase que totalmente transformado em Reserva Particulardo Patrimônio Natural; a Pedra do Frade, em Macaé; e aAgulha de Itacolomi, em Santo Aleixo, Magé.

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Região Serrana. Acima destes erguem-se picos cada vezmaiores, como Cabeça de Peixe, Santo Antônio, São João,São Pedro... Mas a montanha mais impressionante da Ser-ra dos Órgãos é, sem dúvida, a Agulha do Diabo, imensopunhal de granito apontado para o ar e apoiado em um pe-destal cuja base fica a quase 1 km do topo da montanha. Elase encontra rodeada de paredes igualmente altas nos vizi-nhos Garrafão, Coroa do Frade e na Pedra do Sino, pontoculminante do parque com 2.263 m.

A vizinha Friburgo também é repleta de monumentos geo-lógicos únicos. Na localidade conhecida como Furnas, oCão Sentado é uma pedra que guarda extraordinária se-melhança com o objeto do seu nome, e a Pedra do Cônegoé um grande morro arredondado no perímetro urbano dacidade. Mas é na fronteira entre Friburgo e Teresópolisque se encontram as montanhas mais espetaculares daregião, em lugares como Salinas, Vale dos Frades eBonsucesso. Em Salinas temos os Três Picos de Friburgo,sendo o Pico Maior o ponto culminante de toda a Serra doMar, e o Capacete, impressionante conjunto de picosgraníticos muito procurado pelos escaladores de todo o Brasile mesmo do exterior. Além deles, a Caixa de Fósforos éum bloco solto de formato mais ou menos cúbico, com cer-ca de 20 metros de altura, precariamente equilibrado emum pedestal bem menor do que ele.

Abaixo da Caixa de Fósforos estende-se o Vale dos Frades,onde se destacam a gigantesca parede nua do Morro dosCabritos e, do outro lado do rio, uma seqüência de monta-nhas apenas um pouco menores. Mais adiante, a PedraD’Anta e os Dois Bicos do Vale das Sebastianas comple-tam um cenário que é um dos mais belos, e também umdos menos conhecidos, de todo o estado. Outras elevaçõesnotáveis nos arredores, ambas no perímetro de Teresópolis,são os morros que formam a Mulher de Pedra e as Torresde Bonsucesso, na localidade homônima.

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5. PERSPECTIVAS PARA A MATA ATLÂNTICA NORIO DE JANEIRO

O ritmo de devastação descontrolada,acabamos entrando noano de 2.000 com uma delimitação legal para a atual Reservada Biosfera da Mata Atlântica que se limitou a abranger 40%da área total do Estado. E isto, porque essa Reserva não seprendeu ao percentual remanescente de florestas e incluiutambém entornos de ilhas, restingas, margens de rios e lago-as, nascentes de cursos d´água, áreas outrora florestais eoutros sítios, previstos na definição de uma Reserva daBiosfera. De qualquer maneira, ficamos afinal mais pobresem 60%, no que concerne à áreas para conservação do antigodomínio das matas atlânticas fluminenses.

Mas, o mais grave é que grande parte da riqueza de nossabiodiversidade natural se perdeu para sempre. Essa afirma-ção é admissível, pois mesmo sem termos idéia real da pri-mitiva quantidade e qualidade da biodiversidade fluminense,a constatação da alteração radical dos ambientes em imen-sas áreas e a conseqüente destruição dos habitats, tornalógica a ilação: nosso saldo em biodiversidade desceu a ní-vel muito baixo e está hoje ameaçado criticamente de bai-xar ainda mais, na medida que não tomemos medidas ur-gentes e efetivas para conservar o que nos restou de fauna,flora e ambientes naturais.

5.1 No futuro

Na primeira hipótese, não tendo havido modificação radicaldo padrão comportamental humano, que continuará orien-tado e dirigido para um sempre crescente consumismo, sobo paradigma do imediatismo de interesses, verificar-se-áuma inexorável e incessante diminuição e rarefação em to-das as reservas naturais, inclusive naquelas protegidas porlei. A biodiversidade será reduzida a um mínimo de espéci-es vegetais e animais domesticadas ou amansadas, ocor-

rendo comumente surtos de doenças bio-sanitárias ou pra-gas biológicas contra as quais se exercerá crescentementepesado e oneroso controle químico, com consequênciasimprevisíveis. As áreas rurais estarão substituídas por áre-as semi-rurais totalmente aculturadas ou por áreas urba-nas imensas e extensas, resultando na formação demegalópolis conurbanizadas. A antiga Reserva da Biosferada Mata Atlântica foi um episódio histórico, sepultado pelaadoção do lema do desenvolvimento a todo custo, por partede governantes e governados, sendo um dos pilares dos com-portamentos o alastramento do ecoturismo descontrolado.Não será, realmente, um mundo admirável.

Na segunda alternativa, vencendo afinal o bom senso sobreo imediatismo: as zonas urbanas, através de numerosos ebem distribuídos parques, jardins e arborização e de densaarborização dos logradouros, tudo adequadamente planejadoe bem executado, funcionarão como complementos das zo-nas rurais, onde se implantarão, finalmente, os planos deuso da terra que faltavam. Como maior resultante, serãoefetivadas as faixas ou zonas de corredores biológicos, in-terligando todas as Unidades de Conservação. Estas, ple-namente implantadas e mantidas, formarão núcleos preci-osos para a garantia da manutenção da biodiversidade.Haverá satisfatória conscientização ecológica e efetiva von-tade dos líderes e dos liderados, e a Reserva da Biosferada Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro será umarealização modelar, funcionando eficazmente num quadrogeral da melhoria da qualidade de vida. Verdadeiramente,será um admirável mundo novo.

Pode-se afiançar, à luz dos atuais conhecimentos, que nãohá outras alternativas; a acomodação a meios termos ou atentativa de conciliação entre as duas hipóteses certamenteserão procedimentos paliativos que acabarão por nos levara cair, cedo ou tarde, na primeira hipótese acima descrita.

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5.2 Ameaças

Literariamente é conhecida a expressão “homo hominislupus”, significando que o maior inimigo da espécie huma-na é o próprio homem. Com efeito, somos nós mesmos onosso maior predador e o maior obstáculo para que alcan-cemos melhor qualidade de vida para cada indivíduo e paratodos. Consideramo-nos os únicos animais racionais, mascom o nosso tão propalado intelecto, tão festejado raciocí-nio, tão divulgado livre arbítrio, estamos agindo de modoirracional com resultados desastrosos, que trazem desper-dícios e perdas de recursos, poluição, miséria e desigual-dades sócio-econômicas, inconcebíveis à luz da razão im-parcial.

Entra-se no chamado Terceiro Milênio, vive-se em plenoséculo XXI, mas continua-se a manter a equação absurdade que a biodiversidade está na razão inversa do quadradodo desenvolvimento. Infelizmente, a maioria de nós empre-ga, ainda que inconscientemente, essa formuladepredatória.

Também parece totalmente ignorado o fato de que ecologiae economia, não são antagônicas; aliás as próprias pala-vras possuem a mesma raiz (que exprime casa ou ambien-te onde se vive). Esses dois ramos do conhecimento huma-no têm estreito parentesco, e são interdependentes: arigor, têm o mesmo senso lato. Tanto que podemos nosreferir à ecologia de um inseto, de um carnívoro ou dohomem, como à economia das formigas, de leões ou denações.

Como o que vale tudo, no inter-relacionamento homem-natureza, é o comportamento de cada indivíduo (em atitu-de e ação), já não bastam a educação, a intenção, a legis-lação, a norma e a ética ministradas coletivamente, nemintenções ou planejamento. Tudo isso é necessário, e mais

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a efetivação prática da execução. Porém, o que mais vale éa atitude de fiscalização constante, como corolário defini-tivo. Sem permanente fiscalização não pode haver controlee sem controle nada se gerencia e tudo se finda em preju-ízos e perdas. O preço da conservação dos recursos natu-rais, vale dizer da obtenção de melhor qualidade de vidapara nós, está na eterna vigilância.

Desenvolvemos cada vez mais tecnologia, porém a tecnologianada mais é que um instrumento amoral e imparcial, quepode ser usado tanto para construir como para destruir. Odirecionamento do seu uso vai depender do homem que oemprega. É importante levar em conta que os meios dosquais dispomos para desperdiçar e destruir hoje em dia,são infinitamente maiores ou mais eficientes do que aque-les que se usavam nas décadas passadas.

Se a ninguém é dado mais ignorar que a biodiversidaderepresenta fator fundamental para a sobrevivência da es-pécie humana neste planeta, entretanto parece que os nos-sos paradigmas de progresso e de desenvolvimento se ba-seiam em procedimentos e condutas no sentido de que abiodiversidade seja transformada em biouniversidade. Ou,em outras palavras, que a única espécie que efetivamenteimporta e que merece sobreviver na Terra é a do Homosapiens, vivendo em habitats construídos e consumindo pro-dutos laboratoriais.

5.3 Oportunidades

Seria um lastimável desperdício e uma perda incalculávelpara a nossa nacionalidade e para a humanidade em ge-ral, se teimássemos em manter as mesmas tradições quepautaram grande parte ou, melhor, quase toda a totalidadedos nossos relacionamentos com a Natureza. Todavia, hásinais, embora ainda inseguros e tímidos, que acenam paramudanças radicais nesta questão.

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Pode-se afirmar enfaticamente que a cada um de nós, in-dividualmente, cabe uma parcela de responsabilidade pelofuturo da guarda da biodiversidade. Formulemos todos ovoto de que a pequena luz que está começando a se perce-ber no fundo do túnel, não seja o farol de uma locomotiva(como na anedota), mas sim a sinalização da almejada sa-ída da escuridão do consumismo para a luz plena daracionalidade.

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Ainda temos alternativas para aquele “delenda natura” euma delas que se destaca é a implantação das Reservas daBiosfera (nelas incluídas as Unidades de Conservação daNatureza, governamentais ou não), onde parte dabiodiversidade ainda pode seguir sua evolução natural eonde o homem posteriormente poderá encontrar agentes efatores que não mais existem em outras áreas.

É sabido que a aquisição cultural geralmente demanda tra-balho intenso e extenso, ao longo de três ou mais geraçõessucessivas, para que se consiga consolidação de novosparâmetros comportamentais. E o que mais aflige os estu-diosos do assunto é que tal evolução é lenta demais seconfrontada com o ritmo que sofremos hoje com a perda deáreas naturais e de diminuição da biodiversidade

Não parece extremado o pensamento de que, assim comohouve uma Revolução Industrial, que levou a humanidadepara um determinado rumo, hoje carecemos de uma Revo-lução Conservacionista que oriente a civilização para ou-tros horizontes, menos poluídos e mais harmônicos,objetivando a melhoria da qualidade vida de todos.

Não podemos mais nos dar ao luxo de desperdiçar quais-quer oportunidades que apareçam, motivo pelo qual deve-mos envidar todos os nossos esforços no sentido de obtermelhores relacionamentos do homem com a natureza.À medida que vai aumentando a conscientização ambientaldo cidadão comum, graças à atividade da mídia e das cam-panhas de esclarecimento e à influência das OrganizaçõesNão-governamentais (ONGs), as ações responsáveis dosgovernantes mais esclarecidos se tornam mais viáveis emais efetivas, alcançando-se mais rapidamente o objetivocomum: desenvolvimento e melhoria geral da qualidade devida para todos.