congado - origens, características e organização
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O congado (ou congada) é uma manifestação cultural e religiosa afro-brasileira. Constitui-se em um bailado dramático com canto e música que recria a coroação de um rei do Congo. Trata basicamente de três temas em seu enredo: a vida de São Benedito; o encontro da imagem de Nossa Senhora do Rosário submergida nas águas; e a representação da luta de Carlos Magno contra as invasões mouras. A congada é muito famosa em Brás Pires, em Minas Gerais, onde os congos se encontram na Igreja do Rosário.TRANSCRIPT
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro – IFTM
Campus Ituiutaba
Curso Técnico em Informática Integrado ao 3° ano do Ensino Médio
Disciplina: Artes
Alexandre de Araújo Barreto Filho
Daruick Fagundes da Silva Cunha
Gabriel Resende Miranda
Pedro Henrique Chagas Alves
Thales Divino Vilela da Silva Lemes
Professora: Ana Paula Oliveira
Ituiutaba (MG)
Agosto – 2014
Congado
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Introdução
O congado (ou congada) é uma manifestação cultural e religiosa afro-brasileira.
Constitui-se em um bailado dramático com canto e música que recria a coroação de um
rei do Congo.
Trata basicamente de três temas em seu enredo: a vida de São Benedito; o encontro
da imagem de Nossa Senhora do Rosário submergida nas águas; e a representação da
luta de Carlos Magno contra as invasões mouras. A congada é muito famosa em Brás
Pires, em Minas Gerais, onde os congos se encontram na Igreja do Rosário.
Em entrevista ao G1, o historiador Jeremias Brasileiro (pesquisador e comandante geral
da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Uberlândia - MG) contou
como se dá toda a tradição do Congado e os significados de cada manifestação feita pelos
grupos de congo durante a festa. “O Congado vem do termo congo, que significa congar,
dançar. É uma memória que vem com os escravizados do antigo Reino do Congo, na África
Central, com a essência de festejar algum momento. Naquela época era comum eles
celebrarem através da dança o nascimento de um príncipe, uma boa colheita e visitas de
pessoas de outras províncias, por exemplo”.
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A identidade do congado, antes de tudo, é brasileira. A partir da África, são 500 anos
de história desde a viagem no Atlântico (calunga), a escravidão, as lutas, os reinados e
tudo, até hoje. É brasileira a identidade do congado. Os irmãos do rosário estão vivos
e sua identidade é dinâmica, mesmo quando pretendem conservar suas tradições,
sabedorias e organização.
Vejamos: antigamente não existia a Federação dos Congados. No mundo de hoje, as
mudanças são grandes. No congado, mudamos algumas coisas para ver se assim fica
melhor. Mas, qualquer adaptação necessária há de ser feita pelos próprios congadeiros a
partir da tradição e das raízes, a partir da espiritualidade recebida na irmandade.
Falamos de uma identidade dinâmica e brasileira. O congado e a "irmandade do
rosário dos Homens Pretos" são fruto de muita criatividade desde o princípio. Esta
criatividade é de beleza e fé, mas principalmente de necessidade e sobrevivência. A
identidade faz parte do tripé: história, identidade e cultura.
As raízes do congado estão na África, principalmente nos povos bantus. Toda
identidade tem uma história. Até mesmo a identidade de uma pessoa tem tudo a ver com
a história dela desde criança; tudo que ela aprendeu dos pais, da escola, da vida. Uma
identidade cultural surge na história de comunidades ou povos. No congado, os
antepassados, as almas dos escravos, o fundador da irmandade, reis, rainhas, capitães
falecidos são lembrados e reverenciados. A cultura congadeira é fiel aos ancestrais.
Nossa Senhora do Rosário
Como Nossa Senhora do Rosário entrou na devoção dos
negros, em Portugal, na África e no Brasil? Uma lenda
contada em todas as irmandades coloca a Senhora do
Rosário como sendo a origem do congado.
A irmandade do rosário (dos brancos) fundada na
Alemanha em 1409, chegou a Lisboa em 1478. A mais
antiga menção a uma “Confraria de Nossa Senhora do
Rosário dos Homens Pretos” encontramos em 14 de julho
de 1496, portanto quatro anos antes da chegada dos
portugueses ao Brasil. Esta informação consta num alvará
dado à dita confraria, sita no mosteiro de S. Domingos de
Lisboa, "para poderem dar círios e recolher as esmolas nas
caravelas que vão à Mina e aos rios da Guiné". Encontramos o importante documento
no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa.
Em 1526, já havia na ilha de São Tomé a irmandade dos "Homens Pretos". Outras
irmandades do Rosário existem no Congo, na Angola e em Moçambique, desde o Séc.
XVII.
Antes de 1552, já existia no Brasil uma irmandade para os escravos da Guiné,
segundo Frei Odulfo van der Vat.ofm e outros historiadores. Em 1610, o rei do Congo
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entrou na irmandade do rosário fundada por Fr. Lourenço O.P., em Mbanza, capital do
Reino do Congo. Entendemos que as irmandades do rosário surgidas no Brasil, não
vieram só da Europa, mas também da África. Provavelmente, houve escravos
africanos que já vieram para cá irmãos do rosário.
Origem
Povos Bantus e o Cristianismo na África
Na África, os bantus (mais de 500 povos) formam um grupo linguístico. O termo
"bantu" não se remete à apenas uma cultura.
Muito tempo antes dos portugueses chegarem à África, já haviam os povos bantus.
Atravessaram as densas florestas do centro da África, e isso demorou séculos. Nessa
façanha, misturaram-se
com outros povos e
venceram outros.
Forjaram-se reinados, e
uma civilização
hierarquizada; não
uma única cultura e
sim muitas.
Explicamos a
diversidade cultural
dos bantus, pela
importância dada aos
antepassados. Cada grupo étnico bantu tem seus antepassados como ponto de união. É
deles que apreenderam a sabedoria dos provérbios; dos antigos receberam as leis para
fazer justiça no caso de uma briga de terras ou entre famílias; é deles que aprenderam a
religião, a cura das doenças e os instrumentos musicais e todas as outras coisas da vida.
Assim, cada grupo, cada clã, cada povo de bantu tem sua cultura própria. Portanto,
existe a civilização bantu na África, o grupo linguístico bantu e muitas culturas bantu;
grande parte das tradições afro-brasileiras designam desses povos, como pode-se
observar na migração descrita na imagem anterior.
Desde que os portugueses chegaram ao Golfo da Guiné, o cristianismo entrou lá e se
instalou. Em 1533, foi criada a diocese de Cabo Verde e Guiné; e é fato que muitos
escravos bantus do Brasil já eram cristãos na África.
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No Golfo da Guiné, a recepção do cristianismo não foi passiva. No reino do Congo,
surgiram algumas manifestações afro-católicas. A jovem Beatrice Kimpa Vita, por
exemplo, liderava um movimento de Sto. Antônio, que africanizava o cristianismo.
Ela “encarnava Santo Antônio” e dizia que Jesus e muitos santos nasceram no Congo.
Beatrice foi condenada pela inquisição e morreu na fogueira, em 1706. Curiosamente,
no Brasil, encontramos Luiza Pinta, escrava da Angola e devota de Santo Antônio em
Sabará (MG), que foi torturada pela inquisição, em Lisboa no ano de 1742. Quem sabe,
a Luiza tenha pertencido ao movimento da Beatriz?
A lenda do Chico-Rei
A origem do congado refere-se diretamente à lenda do “Chico-Rei”:
Chico Rei é um personagem lendário da tradição oral de Minas Gerais, Brasil.
Segundo esta tradição, Chico era o rei de uma tribo no reino do Congo, trazido como
escravo para o Brasil. Conseguiu comprar sua alforria e de outros conterrâneos com seu
trabalho e tornou-se "rei" em Ouro Preto.
Nascido no Reino do Congo, chamava-se originalmente Galanga. Era monarca
guerreiro e sumo sacerdote do deus Zambi-Apungo e foi capturado com toda a sua corte
por comerciantes portugueses traficantes de escravos. Chegou ao Brasil em 1740, no
navio negreiro "Madalena", mas, entre os membros da família, somente ele e seu filho
sobreviveram à viagem. A rainha Djalô e a filha, a princesa Itulo, foram jogadas no
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Oceano pelos marujos do navio negreiro "Madalena" para aplacar a ira dos deuses da
tempestade, que quase o afundou.
Todo o lote de escravos foi comprado
pelo major Augusto, proprietário da Mina
da Encardideira, e foi levado para Vila
Rica como escravo. Trabalhando como
escravo, conseguiu comprar sua liberdade
e a de seu filho, adquirindo, também,
a mina na qual trabalhava. Aos poucos, foi
comprando a alforria de seus compatriotas.
Os escravos libertos, então, consideravam-
no "rei".
Este grupo associou-se em
uma irmandade em honra de Santa
Ifigênia, que teria sido a
primeira irmandade de negros livres de
Vila Rica. Ergueram a Igreja de Santa
Ifigênia/Nossa Senhora do Rosário.
Chico Rei virou monarca em Ouro
Preto, antiga Vila Rica, em Minas Gerais,
no século XVIII, com a anuência do governador-geral Gomes Freire de Andrada, o
conde de Bobadela.
No dia de Nossa Senhora do Rosário, ocorriam as solenidades da irmandade,
denominadas Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Durante estas solenidades, Chico,
coroado como rei, aparece com a rainha e acorte, em ricas indumentárias, seguido por
músicos e dançarinos, ao som de caxambus, pandeiros, marimbase ganzás. Este cortejo
antecedia a missa (tradição que permanece até hoje).
Tal conto popular expressa claramente o surgimento do Congado como uma forma
de manifestação escravocrata que desejava recuperar suas origens africanas,
completamente devastada pelo colonialismo europeu. Pode-se identificar, portanto, o
ato de celebração ao rei (Chico) tanto como uma forma de solenidade à Cora Portuguesa
quanto à ambição de se recuperar seu território e identidade cultural/histórica.
Características
Ternos de Congo
Geralmente, os grupos em que se dividem os congadeiros de uma região são
denominados como Ternos de Congo. Cada um deles representa um momento da
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história de Nossa Senhora do Rosário ou da cultura afro e, as pessoas que os compõem,
se identificam com um tipo de canto, percussões, vestuários e linhagens de famílias.
“Os Moçambiques, por exemplo, são um dos mais tradicionais grupos de congo da
nossa região (Triângulo Mineiro) e eles representam o povo que ficou à beira do mar
chamando a Senhora do Rosário, entoando cantos, sem dar as costas. Por isso, quando
os Ternos de Moçambiques chegam a algum lugar eles saem de costas, justamente para
prevalecer esse conto”, explica Jeremias Brasileiro.
Os Moçambiques são os congadeiros mais tradicionais e podem entoar apenas
cantos de manifestação e fé. São caracterizados por latinhas amarradas em cordas nos
pés.
Os ternos de Catupés surgiram
da influência indígena e utilizam de
cantorias irônicas e com críticas
sociais.
Os Marujos ou Marinheiros
têm origem moura e fazem uso de
caixas e chocalhos simbolizando,
através da cantoria, a submissão
final dos mouros ao poder dos
cristãos.
Já os Penachos fazem cantorias
de lamentações e as coreografias
são de passos marcados e credenciados, representando os índios africanos inseridos nas
congadas.
O terno de Vilão representa, na oralidade, os jovens escravos que assaltavam
fazendas e engenhos, por isso suas danças fazem referência a esses conflitos.
Estas denominações são apenas singularidades que os ternos representam, pois é
possível haver mais de um grupo da mesma estrutura, porém cada um com sua
própria identidade. No município de Uberlândia, por exemplo, há oito ternos de
moçambiques e três catupés.
Para comandar a todos, os ternos têm seus capitães e estes podem ser
identificados por meio de um bastão, que é utilizado apenas por capitães ou
comandantes de irmandades.
Cores, Elementos e Significados
O desfile da Festa do Congado é marcado por costumes e atividades próprias, a
principal delas é o levantamento de mastro. Essa tradição faz referência à época em
que os escravos se seguravam aos mastros de navios para se salvarem, tal qual o mastro
quando é colocado no chão, ato que também mitifica estes tempos.
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Outra afiguração do congo é a dança de trança de fitas como lembrança de
construção de cabanas em algumas regiões de Minas; para outros, representa a travessia
marítima de escravos e, para outras pessoas, pode representar também a unidade
familiar, antes e após a escravidão.
As bandeiras, outro elemento bastante importante do Congado, representam cada
um dos Ternos de Congo e firmam a identidade do grupo específico.
Em relação ao vestuário, os ternos de congado têm determinados tipos de cores,
sejam elas por ligações por santos devocionais, por empatia e beleza ou por estarem
associadas à religiosidade afro-brasileira. Algumas dessas cores são:
Rosa: representa o sensível e a humildade.
Roxo: uma homenagem a São Benedito, resultante de coragem contra adversidades.
Azul-piscina: simboliza a alegria dos marinheiros ao resgatarem Santa Ifigênia no
fundo do mar.
Verde-piscina: traduz a felicidade dos marinheiros ao buscar Santa Ifigênia no mar
de águas límpidas.
Amarelo: espanta o mau olhado, traz riqueza e bem-estar.
Verde: reflete a esperança de que as crianças, os adolescentes e os jovens adultos
possam continuar com os rituais do congado.
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Composição
Capitão: figura de grande importância para o Terno. É o responsável por organizar o
grupo, confeccionar os instrumentos, agendar e organizar os ensaios, além de ser
responsável por buscar patrocínios para as necessidades do Terno.
Bandeirinhas: meninas que abrem e apresentam o Terno de Congo, cantando,
dançando e segurando as bandeiras dos santos homenageados pelo Terno. Até pouco
tempo, era a única forma das mulheres participarem diretamente da dança que
envolve os Ternos.
Caixeiros ou Guias: são os dançarinos mais antigos e marcam o ritmo do Terno;
ensinam aos jovens, também, o ritmo. Carregam as caixas que fazem o som
característico da congada. Curiosidade: estas caixas chegam a pesar 50Kg.
Instrumentistas: são os que tocam o violão, a viola, a sanfona e pandeiros.
Soldados: São os dançarinos mais jovens e compõem as filas do Terno. Dependendo
do Terno, podem: carregar grandes caixas, pequenos pandeiros ou bastões
coreografando com estes instrumentos.
Conguinhos: são crianças, geralmente filhos dos dançarinos de congo, com idades
inferiores a 5 anos que acompanham, junto com suas mães, as últimas fileiras dos
ternos.
Instrumentos
Os instrumentos musicais utilizados são:
A cuíca;
A caixa;
O pandeiro;
O reco-reco;
O cavaquinho;
O tarol;
E a sanfona ou acordeom.
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Referências
Revista Museu, Ecologia e Patrimônio.
Disponível em:
http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/138/1
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Acesso: 08 de Agosto, 2014.
Blog: 3° Ano – CAIC.
Disponível em: http://3anocaic.blogspot.com.br/2013/08/as-congadas-sao-do-congo-
cultura-e.html
Acesso: 08 de Agosto, 2014.
Folclore.
Disponível em: http://www.folclore.net.br/congado.php
Acesso: 08 de Agosto, 2014.
Festejo.
Disponível em: http://www.festejo.art.br/arquivos/Frei Chico - Congado, origens e
identidade.pdf
Acesso: 09 de Agosto, 2014.
Wikipédia: Congado.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Congado
Acesso: 09 de Agosto, 2014.
Wikipédia: Santa Ifigênia.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Ifigênia
Acesso: 09 de Agosto, 2014.
G1.
Disponível em: http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-
mineiro/noticia/2012/10/pesquisador-explica-tradicao-e-os-costumes-do-congado-de-
uberlandia-mg.html
Acesso: 10 de Agosto, 2014.
Wikipédia: Chico.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Rei
Acesso: 11 de Agosto, 2014.