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  • 7/24/2019 CONFLITOS NBr 7190

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 86

    3 COMPARAO TERICA ENTRE A NBR 7190/97 E OUTROS DOCUMENTOS

    NORMATIVOS

    Os critrios dos cdigos normativos de outros pases so, a seguir, confrontados com os da

    norma brasileira, buscando-se destacar as suas similaridades e/ou discordncias. De incio,

    enfatiza-se que no faz parte do escopo deste trabalho a discusso e aplicabilidade dos

    coeficientes de modificao propostos pelas normas de outros pases e no contemplados

    pela NBR 7190/97. Mas possvel salientar que algumas normas tais como as norte-

    americanas so muito minuciosas neste aspecto do dimensionamento, permitindo assim

    que o projetista tenha um controle preciso das condies influentes nas propriedades

    mecnicas da madeira.

    No captulo anterior foram apresentados os critrios gerais para o clculo das peas

    comprimidas e flexocomprimidas. Todavia, as comparaes que se propem em seguida

    contemplam apenas as expresses que tratam da inspeo das suas condies de estabilidade,

    o que se justifica por ser um critrio polmico da NBR 7190/97. As comparaes deste

    captulo, assim como as simulaes propostas no prximo, se restringem a uma solicitao

    de flexo-compresso reta, como indicado na figura abaixo.

    Figura 3.1 Pea solicitada flexo-compresso.

    y

    Nsd

    z

    h

    b

    ey

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 87

    3.1 Confrontao com a DIN 1052/88

    O ndice de esbeltez, segundo as recomendaes do texto normativo alemo, calculado demaneira tradicional e tem seu valor limitado em 150 para as peas comprimidas. Nesse

    aspecto, tanto em formato quanto na imposio da esbeltez mxima, notvel a semelhana

    com a NBR 7190/97. A norma alem acrescenta, ainda, vrias hipteses de vinculao das

    extremidades das barras, indicando expresses para a determinao dos comprimentos de

    flambagem de pilares que esto associados com trelias, de peas que compem prticos bi

    ou triarticulados, arcos, etc.

    O procedimento proposto pela DIN 1052/88 para a verificao das peas comprimidas contra

    a flambagem compara a tenso atuante na pea com a tenso admissvel do material, sendo

    essa afetada por um coeficiente de flambagem, , que reduz as tenses admissveis

    compresso paralela s fibras medida em o ndice de esbeltez da pea aumenta. A Figura

    3.2 ilustra a influncia do coeficiente de flambagem.

    Figura 3.2 Fator de esbeltez da norma alem.

    Com esta recomendao, a DIN 1052/88 emprega uma funo que contnua ao longo de

    todo o intervalo de esbeltez admitido, facilitando sobremaneira o processo de

    dimensionamento. Comparando-a com a norma brasileira, nota-se um distanciamento

    significativo entre os critrios propostos para tal solicitao. A NBR 7190/97 considera a

    hiptese de compresso centrada apenas em peas curtas, no havendo a influncia da

    esbeltez neste caso. Por outro lado, a norma alem considera a participao da esbeltez

    nessas barras, reduzindo as tenses admissveis compresso paralela s fibras em

    aproximadamente 20% quando 40= .

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 88

    Na avaliao das peas sujeitas flexo-compresso, a DIN 1052/88 prope uma verificao

    padro da resistncia e uma anlise das condies de estabilidade, combinando linearmente

    as tenses resultantes deste tipo de solicitao Equaes [2.54] e [2.55]. Nessa ltima, oscoeficientes de flambagem afetam tanto a tenso admissvel compresso paralela s fibras

    como a tenso admissvel flexo. A parcela relativa ao esforo axial influenciada pelo

    coeficiente e a quota devida ao momento fletor afetada pelo ndice Bk , que provm da

    verificao da estabilidade lateral das peas flexionadas. A variao do fator Bk em funo

    do ndice de esbeltez B est representada na Figura 3.3, sendo vlida para peas de seo

    transversal retangular.

    Figura 3.3 Variao do fator de esbeltez para peas flexionadas.

    Empregando-se os dados dassoftwoodse hardwoodslistadas na norma alem, possvel se

    observar que 75,0B

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 89

    Enquanto so apresentados os critrios para o dimensionamento das peas comprimidas ou

    flexocomprimidas, nenhuma excentricidade obrigatria recomendada pela DIN 1052/88.

    Todavia, quando ela apresenta uma verificao alternativa para a segurana estrutural pelateoria de segunda ordem, afirma que uma excentricidade do carregamento inevitvel e

    recomenda que a mesma seja calculada segundo a Equao [2.60].

    3.2 Confrontao com a AS 1720.1/97

    Ao propor que a esbeltez seja determinada, em cada direo, a partir do menor de dois

    valores, conforme Equaes [2.68] a [2.71], a norma australiana conduz o projetista a

    averiguar tambm a probabilidade de ocorrncia da flambagem segundo o eixo de maior

    inrcia. Esse um ponto positivo deste documento normativo e uma das crticas feitas

    NBR 7190/97.

    O indicador da esbeltez proposto pela AS 1720.1/97 relaciona o comprimento de flambagem

    com a largura ou altura da seo transversal como faz a norma canadense diferenciando-

    se, assim, do modelo empregado pela norma brasileira. Na prescrio do comprimento

    efetivo de flambagem, o cdigo australiano fornece possibilidades de vinculao das

    extremidades das barras no previstas pela norma brasileira. Outra diferena constatada no

    cdigo australiano a no fixao de um limite superior para a esbeltez.

    Quando o clculo do ndice de esbeltez governado pela distncia entre os

    contraventamentos, em uma seo transversal retangular como a mostrada na Figura 3.1,

    possvel se observar que hLaySy = . Para um ndice de esbeltez determinado segundo a

    norma australiana igual a 20, por exemplo, obtm-se a seguinte relao para o modelo

    tradicional de esbeltez:

    70i

    L

    y

    ay

    y = [3.1]

    A constante material, , que multiplica o coeficiente de esbeltez, S , depende da proporo

    das aes que de longa durao, ou seja, expressa como um ndice entre as aes

    variveis (temporrias) e o total das aes, sendo calculada segundo expresses empricas

    para peas comprimidas ou flexionadas. Essa constante inclui os efeitos da curvatura inicial

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 90

    da pea, previamente assumida pelo cdigo australiano, e limitada pela deformao lateral

    mostrada na Equao [2.72]. Nota-se que, para um valor de 25hL = , a curvatura inicial

    relativa calculada por 300L= , igualando-se expresso proposta para a excentricidade

    acidental pela NBR 7190/97.

    Para simplificar o dimensionamento, a AS 1720.1/97 introduziu o fator de estabilidade, 12k ,

    no clculo do esforo resistente de projeto compresso paralelas s fibras, sendo um fator

    de reduo que engloba vrios parmetros relacionados com a estabilidade. Esse parmetro

    determinado de forma distinta para trs intervalos de esbeltez conforme as Equaes [2.65]

    a [2.67] , equivalendo s peas curtas, medianamente esbeltas e esbeltas, respectivamente, e

    esboado na Figura 3.4. No primeiro intervalo, em que 10S , a resistncia da pea

    governada pela capacidade do material compresso paralela s fibras, como na NBR

    7190/97. Para 2010 S< , a resistncia afetada por uma interao adotada como

    linear entre a flambagem e a resistncia. Finalmente, para 20S> a ruptura se d por

    flambagem, aproximando-se da frmula elstica de Euler.

    Figura 3.4Fator de esbeltez da norma australiana.

    Embora o grfico do fator de estabilidade e, conseqentemente, do esforo axial de projeto

    compresso paralela s fibras, no apresente nenhuma descontinuidade tal como o

    equivalente gerado segundo a norma brasileira , os critrios da norma australiana no

    avanam na idia de se ter uma nica equao, ideal para a simplificao do processo.

    1,5 0,05S

    200/(S)2

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 91

    A AS 1720.1/97 impe que duas expresses sejam verificadas, simultaneamente, quando a

    pea est sujeita flexo-compresso reta. A Figura 3.5 ilustra as imposies normativas para

    estas peas, com a flexo ocorrendo somente sobre o eixo z. A dupla verificao faz com queaparea uma regio limitada superiormente pela curva azul em praticamente toda a sua

    extenso na qual todos os pontos ali contidos atendem s condies da norma australiana.

    Dependendo das dimenses da pea, as curvas ilustradas podem assumir configuraes tais

    que a sua disposio seja invertida. Os valores referem-se madeira de classificao tipo

    F11, conforme a AS 1720.1/97, e para seo transversal 75 x 100 mm.

    Figura 3.5 Condies de estabilidade na flexo-compresso

    segundo a norma australiana.

    As expresses gerais sugeridas pela norma australiana referem-se ao caso da flexo-

    compresso oblqua, combinando empiricamente as tenses resultantes deste modo de

    solicitao. Heaney & Kneen (1999) comentam que, assim, a proposta do cdigo australiano

    muito semelhante quela sugerida pelo EUROCODE 5/93 que, para peas longas de seo

    retangular, substitui os termos ao quadrado por coeficientes 7,0km = e aplica uma variao

    adicional para peas curtas, mas que produz resultados de interao similares.

    Na transio para o caso da flexo reta, a Equao [2.77] fornece uma verificao contra a

    flambagem da pea sobre o eixo de menor inrcia combinada com a flambagem lateral-

    torsional. J a Equao [2.78] permite uma verificao contra a flambagem sobre o eixo de

    maior inrcia, aumentada pela presena de um momento de primeira ordem sobre o eixo de

    maior inrcia. Nessas expresses, tanto o momento fletor (de 1 ordem) quanto o esforo

    regio aceitvel

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 92

    axial de compresso devem ser tomados com sinal positivo. Mesmo assim, ao serem

    simplificadas quaisquer dessas equaes, a transio correta para o caso da compresso

    axial e da flexo pura.

    Considerando-se uma pea flexocomprimida, como a indicada na Figura 3.1, o momento

    solicitante de clculo ser gerado pela excentricidade do esforo axial. Substituindo-se o

    valor desse momento fletor nas Equaes [2.77] e [2.78] fcil isolar o termo da compresso

    axial e obter-se, assim, uma expresso para dimensionamento desse caso particular.

    A Figura 3.6 ilustra a superfcie limite da condio de estabilidade de um pilar submetido

    ao da flexo-compresso oblqua, segundo as orientaes da norma australiana, e que

    corresponde superfcie acima do plano horizontal que passa pelo ponto zero (trecho mais

    claro do diagrama). A regio localizada abaixo do plano horizontal, apesar de representada

    no grfico, no admitida pela norma, que exige a adoo de sinais positivos para todas as

    parcelas. No plano dN x yM observa-se que a combinao linear e no plano ortogonal

    parablica.

    M N,

    Figura 3.6 Representao da superfcie estvel sujeita flexo-

    compresso oblqua, segundo a norma australiana.

    00

    Nd

    MyMx

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 93

    3.3 Confrontao com a CSA 086.1/89

    A norma canadense restringe a esbeltez das peas comprimidas ao valor mximo de 50.Assim, o mximo comprimento efetivo ( eL ) das barras com seo transversal retangular

    determinado por b50 ou h50 . O clculo do ndice de esbeltez destas peas, segundo as

    Expresses [2.85] e [2.86], difere ligeiramente da equao proposta pela norma brasileira,

    que define este ndice pela maneira clssica da Resistncia dos Materiais. Por outro lado, a

    CSA 086.1/89 contempla uma variedade significativa de possibilidades de vinculaes das

    extremidades das barras, conforme Tabela A.3 (Anexo A), oferecendo opes ao projetista

    no consideradas pela NBR 7190/97.

    A resistncia de projeto compresso paralela s fibras funo do fator de esbeltez, CK ,

    que reflete a influncia dos fenmenos de instabilidade no projeto das peas comprimidas e

    sua determinao fundamenta-se na teoria cbica de Rankine-Gordon. Na Equao [2.83], a

    constante indicada no denominador (N= 35) o instrumento utilizado para ajustar a curva

    aos valores experimentais. A Figura 3.7 mostra o comportamento do fator CK em funo do

    ndice de esbeltez da barra. O grfico foi obtido considerando-se as propriedades das

    madeiras canadenses.

    Figura 3.7Fator de esbeltez da norma canadense.

    Nota-se uma continuidade em todo o intervalo de esbeltez admitido, comportamento que

    desejvel para os critrios da norma brasileira. Johns (1991) afirma que a facilidade de

    aplicao da expresso de Rankine-Gordon foi um dos fatores determinantes na escolha

    desta equao para o cdigo normativo canadense.

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 94

    J a Equao [2.89], recomendada para a verificao das peas sujeitas flexo-compresso,

    combina linearmente as duas parcelas deste modo de solicitao. Trata-se de uma expresso

    objetiva, com transio correta para o caso de compresso pura. A NBR 7190/97 no permiteesta transio imediata para a compresso axial, por no considerar os efeitos da flambagem

    na parcela devida ao esforo axial na Equao [2.24]. Todavia, a CSA 086.1/89 no

    esclarece suficientemente os critrios para o dimensionamento em casos de flexo-

    compresso oblqua.

    Para assegurar a estabilidade lateral das peas flexocomprimidas, a norma canadense impe

    uma relao mxima entre a altura (h) e a largura (b) da seo transversal, cujos valores so

    tabelados. Se uma pea apoiada em suas extremidades, restringindo-se os deslocamentos e

    rotaes, por exemplo, a relao mxima admitida 4bh = . Nenhuma exigncia de

    excentricidade ou declividade mnima especificada em seu texto.

    A parcela relativa flexo, na Equao [2.89], calculada usando-se os valores de projeto

    do momento fletor de primeira ordem causado pela ao de um carregamento lateral na

    barra aos quais se acrescentam os efeitos de segunda ordem, ou pelo momento fletor

    provocado pela excentricidade do carregamento, devidamente amplificado. Madsen (1992)

    afirma que esta equao muito conservadora para peas curtas.

    Uma barra birotulada sujeita a um carregamento de compresso excntrico, como indicado

    na Figura 3.1, est solicitada por um momento de extremidade ysdsd eNM = , que

    devidamente amplificado pode ser escrito como:

    =

    sdE

    Eysdsd

    NN

    NeNM [3.2]

    Se substitudo na Equao [2.89], a nica incgnita o valor de clculo do esforo

    solicitante de compresso, sdN , que pode ser encontrado sem nenhuma dificuldade, uma vez

    que a expresso resultante do 2 grau.

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 95

    3.4 Confrontao com o EUROCODE 5/93

    Embora o EUROCODE 5/93 e a norma brasileira tenham uma mesma roupagem em queso empregados inclusive os mesmos smbolos , analisando-se detalhadamente esses

    documentos pode-se constatar divergncias significativas nas recomendaes propostas para

    o dimensionamento das peas comprimidas e flexocomprimidas. De incio, destaca-se que o

    EUROCODE 5/93 no limita a esbeltez destas peas, como faz a NBR 7190/97.

    Outrossim, o EUROCODE 5/93 no esclarece suficientemente como so calculados os

    comprimentos de flambagem das peas, sendo necessrio recorrer a textos complementares

    para a sua elucidao, tal como o de Blass (1995a). No caso de estruturas treliadas, a norma

    europia permite uma anlise simplificada na determinao dos esforos em suas barras,

    considerando os ns como rtulas e que o comprimento efetivo das peas comprimidas seja

    igual ao seu comprimento real ou variando de 0,6 a 0,8 vezes o comprimento do vo,

    dependendo do caso. Para o caso de prticos planos, esta norma indica que as tenses

    provocadas por imperfeies geomtricas e deformaes induzidas devem ser calculadas por

    uma anlise linear de segunda ordem, aplicando-se um ngulo de inclinao, , e uma

    curvatura inicial correspondente a uma excentricidade que deve ser no mnimo igual a

    L003,0e = .

    Para facilitar o dimensionamento, o EUROCODE 5/93 introduziu um equacionamento

    emprico para o projeto de peas comprimidas ou flexocomprimidas Equaes [2.98] e

    [2.99], que capaz de verificar os casos de flexo-compresso oblqua. O clculo do esforo

    axial ltimo, no desenvolvimento destas expresses, foi realizado a partir de simulaes

    numricas em computadores e fundamentado numa anlise plstica de segunda ordem.

    Mesmo requerendo um maior tempo de processamento, causado pelos necessrios

    procedimentos iterativos, este mtodo conduziu a esforos axiais ltimos maiores que

    aqueles baseados em uma soluo elstica.

    Miotto & Dias (2002a) e (2002b) observaram que, embora o EUROCODE 5/93 e a NBR

    7190/97 tenham inegveis semelhanas, na verificao da estabilidade das peas elas

    divergem consideravelmente. A norma europia considera apenas momentos de primeira

    ordem nas suas respectivas expresses. Obviamente que os efeitos de segunda ordem foram

    contemplados nas simulaes numricas que conduziram s regras estabelecidas pelo

    documento normativo. Gehri (2000) comenta que, assim, a frmula proposta pela norma

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 96

    europia fcil, compreensvel, de aplicao segura e com transio correta para a

    compresso pura.

    Um grupo expressivo de fatores, comenta Blass (1995b), influencia na resistncia de uma

    pea comprimida, envolvendo desde as variaes nas caractersticas do material at as

    provveis imperfeies geomtricas, destacando-se a curvatura inicial, a inclinao do eixo

    da pea e as divergncias nas dimenses nominais da seo transversal. No entanto, pelas

    dificuldades do engenheiro obter tais informaes antecipadamente, o EUROCODE 5/93

    considera a sua influncia implicitamente nas regras de projeto. A norma europia limita o

    desvio no alinhamento inicial do eixo das peas em 300L , para que seja vlido o valor de

    2,0c = para as madeiras serradas. J a NBR 7190/97 prope este valor como uma

    excentricidade acidental mnima.

    Com a considerao de uma resistncia compresso modificada, o EUROCODE 5/93 trata

    as condies de estabilidade das peas comprimidas como um simples caso de verificao de

    resistncia. Observa-se que h uma imposio de critrios de natureza distinta na obteno

    da curva de flambagem, ou seja, quando 3,0rel prevalecem as condies de resistncia

    da pea Expresses [2.94] e [2.95]. Acima desse limite, so vlidas as Equaes [2.98] e

    [2.99]. A parcela relativa ao esforo axial de compresso, nestas expresses, afetada por

    um coeficiente de correo, ck , que considera os efeitos da flambagem.

    A Figura 3.8 ilustra os valores de ck em funo da esbeltez relativa. O trecho horizontal da

    figura ( 3,0rel ) resultado das imposies do EUROCODE 5/93 para as peas curtas, em

    que a resistncia da madeira a condio de ruptura determinante. No fosse a prescrio

    normativa para esse intervalo, a curva esboada seguiria em um ramo ascendente. Para

    3,0rel > , a expresso proposta pelo documento normativo europeu gera uma curva isenta

    das descontinuidades que caracterizam a curva equivalente segundo a NBR 7190/97. Os

    dados utilizados para o traado do diagrama referem-se s madeiras europias.

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 97

    Figura 3.8 Fator de esbeltez da norma europia.

    Tornando-se nulos os termos da flexo nas Equaes [2.98] e [2.99], possvel se constatar

    que o coeficiente ck uma forma parametrizada de relacionar as tenses de compresso

    com a resistncia compresso na direo paralela s fibras, ou seja,

    d,0,c

    d,0,c

    y,cz,cf

    kk

    == [3.3]

    Da equao anterior possvel, ento, concluir que o valor de projeto do esforo axial de

    compresso pode ser obtido pela expresso:

    cd,0,cd kfAN = [3.4]

    Adotando-se o mesmo procedimento anterior, a partir da Equao [2.94] determina-se o

    coeficiente 0,1k z,c = para 3,0z,rel e, assim, nesse intervalo, o mximo esforo axial de

    compresso valor de projeto encontrado segundo a Equao [3.5], que coincide com o

    equacionamento da NBR 7190/97 para peas curtas.

    d,0,cd fAN = [3.5]

    Supondo uma pea de seo transversal retangular, conforme se mostra na Figura 3.1, a

    partir da Equao [2.98] fcil se obter uma equao que conduz ao valor do esforo normalde projeto:

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 98

    2

    d,0,cz,cyd,z,m

    d,z,md,0,cz,c

    d

    bh

    fke6

    A

    f

    ffkN

    +

    =

    [3.6]

    A NBR 7190/97 no admite, no caso das peas esbeltas, a obteno de uma expresso

    objetiva, como a equao acima, devido complexidade de suas recomendaes.

    3.5 Confrontao com a NDS/91

    As condies de estabilidade das peas comprimidas so avaliadas a partir da esbeltez

    modificada, segundo a NDS/91, em que se relaciona para sees transversais retangulares

    o comprimento efetivo e a dimenso da seo transversal na direo considerada. De forma

    similar ao documento canadense, a NDS/91 limita em 50 o ndice de esbeltez das peas de

    madeira serrada. Comparando-se esse ndice com aquele proposto pela NBR 7190/97,

    possvel escrever:

    46,3

    b

    L

    b

    12L

    i

    L e0

    min

    0 =

    == [3.7]

    Substituindo-se o valor da esbeltez mxima assumida pela NDS/91 na equao anterior,

    nota-se que essa norma permite que a esbeltez alcance o valor de 173, ou seja, bem acima do

    permitido pela NBR 7190/97. Como se v na Tabela A.4 (Anexo A), o documento normativo

    norte-americano apresenta alternativas de vinculao das barras no contempladas pela

    norma brasileira.

    A verificao das peas comprimidas procede do atendimento condio estabelecida na

    Equao [2.111]. Nessa expresso, a tenso admissvel de compresso paralela s fibras

    funo do fator de estabilidade, PC , calculado pela equao desenvolvida por Ylinen. Um

    aspecto interessante que a tenso admissvel, assim obtida, resulta de uma curva que

    contnua conforme Figura 3.9 em todo o intervalo de possibilidades de esbeltez da pea.

    Conhecidos os fatores de ajuste pertinentes e a rea da seo transversal, a determinao do

    esforo axial de compresso admissvel torna-se imediata.

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 99

    Figura 3.9 Fator de esbeltez da norma NDS/91.

    Os valores do mdulo de elasticidade, listados pela NDS/91, so valores mdios. A

    expresso para o clculo de cE inclui um ajuste que converte o valor mdio do mdulo de

    elasticidade ao valor referente ao 5 quantil da distribuio estatstica dos valores

    experimentais, embutido no valor de cEK . Em muitas situaes, comentam Breyer et al.

    (1999), alguma excentricidade acidental pode estar presente devida no-uniformidade dos

    apoios. Freqentemente esses efeitos so assumidos como compensados pelas

    recomendaes da NDS/91, no havendo qualquer limitao ou imposio de

    excentricidades nesse documento.

    Ressalta-se a facilidade no dimensionamento proporcionada pela incluso do fator de

    estabilidade. Esse parmetro, alm de considerar a interao entre os efeitos da instabilidade

    e da resistncia do material, pode ser ajustado aos dados experimentais pela manipulao do

    coeficiente c que aparece na Equao [2.120].

    J as peas flexocomprimidas so verificadas por uma expresso de interao desenvolvida

    por Zahn, representando um tratamento unificado entre a flambagem de peas comprimidas,

    flambagem lateral de vigas e a interao viga-coluna. Anulando-se os termos da flexo

    lateral na Equao [2.122], tem-se uma transio correta para a compresso axial.

    A partir da Equao [2.126], se obtm as curvas que simulam a interao entre a compresso

    axial e a flexo, indicadas na Figura 3.10. Uma das possibilidades relacionar a tenso 0c

    com a tenso admissvel compresso paralela s fibras ( ' 0c ). No entanto, relacionando-a

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 100

    com a tenso admissvel compresso paralela s fibras de peas curtas (*

    0c ), torna-se mais

    evidente o efeito da flambagem na determinao do esforo admissvel.

    Figura 3.10 Curvas de interao para peas flexocomprimidas, com

    diferentes ndices de esbeltez, segundo a NDS/91.

    Situaes de dimensionamento envolvendo a excentricidade inicial do carregamento,

    associada com carregamentos laterais, so resolvidas pela Equao [2.127]. Embora a

    quantidade de fatores envolvidos nessa equao torne-a demasiadamente extensa, fcil

    perceber a contribuio de cada parcela na interao. Tornando-se nulas as tenses devidas

    aos carregamentos laterais, bx e by , a expresso resultante vlida para peas sujeitas

    apenas ao esforo axial excntrico. Por outro lado, no havendo a fora axial de compresso,

    essa expresso se transforma na que permite a verificao da flexo biaxial (oblqua).

    3.6 Confrontao com a AF&PA/ASCE 16-95/96

    Embora fundamentada em um outro mtodo de verificao das condies de segurana

    estrutural, a AF&PA/ASCE 16-95/96 evidencia relaes notveis com a NDS/91. Um

    exemplo disto est na recomendao do uso dos fatores de ajuste contidos na NDS/91,

    quando no houver referncia especfica em seu texto.

    Esta norma adota o modelo tradicional de representao do ndice de esbeltez,

    assemelhando-se, assim, s prescries da NBR 7190/97. Ao assumir uma esbeltez mxima

    *0c0c

    'bb

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 101

    de 175, a AF&PA/ASCE 16-95/96 reafirma o limite estabelecido na NDS/91, situando-se

    bem acima daquele estabelecido pela norma brasileira. Sendo vlidos os coeficientes de

    comprimento de flambagem, eK , adotados pela NDS/91, tambm se pode afirmar que esta

    norma flexibiliza as condies de vinculao das barras, quando confrontada com o

    documento normativo brasileiro.

    Percebe-se que esta norma no conduz, obrigatoriamente, o projetista a verificar a

    possibilidade de flambagem segundo diferentes planos. Neste aspecto, a NBR 7190/97 e a

    AF&PA/ASCE 16-95/96 se equiparam, contando com a experincia do projetista na

    inspeo da situao crtica.

    A utilizao do mdulo de elasticidade longitudinal ajustado ao 5 quantil da distribuio de

    freqncias permite a apresentao das frmulas de estabilidade em um formato familiar,

    como o indicado pela Equao [2.136]. No entanto, esta norma se difere da NDS/91, que

    apesar de tambm adotar o mdulo de elasticidade ajustado, o faz incorporando constantes

    numricas nas expresses.

    A equao proposta pela AF&PA/ASCE 16-95/96 para a determinao do valor de projeto

    da resistncia compresso paralela s fibras Equao [2.132] depende diretamente do

    fator de estabilidade de peas comprimidas, PC . Esse fator funo da razo entre o esforo

    crtico de Euler e da resistncia de clculo de peas curtas compresso paralela s fibras,

    denotada pelo parmetro c . A influncia de c no fator de estabilidade est esboada na

    Figura 3.11 para diferentes valores da constante c.

    Figura 3.11 Variao do fator de estabilidade em funo de c .

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 102

    Em peas muito curtas, o valor de c cresce rapidamente, fazendo com que o mdulo de

    PC se aproxime da unidade para os diferentes valores de c, e assim, no influenciando na

    resistncia de projeto dessas peas.

    Como a equao para a obteno do fator de estabilidade de peas comprimidas, PC , tem a

    mesma base terica adotada pela NDS/91, a curva resultante tem o mesmo aspecto daquela

    esboada na Figura 3.9, exceto que agora ela funo da esbeltez tradicional, conforme a

    Figura 3.12. Estes critrios conduzem a uma notvel objetividade na obteno da resistncia

    de clculo e a uma continuidade da curva resultante.

    Nos critrios estabelecidos por esta norma, tambm no constam excentricidades mnimas

    obrigatrias, como faz o documento normativo brasileiro. Impondo-se uma excentricidade

    inicial no carregamento, a pea simplesmente dimensionada para resistir flexo-

    compresso.

    Figura 3.12 Fator de esbeltez da norma AF&PA/ASCE 16-95/96.

    A expresso proposta pela AF&PA/ASCE 16-95/96 para a verificao das peas

    flexocomprimidas conduz a uma correta transio para a compresso axial, sendo vlida para

    os casos de flexo oblqua e flexo-compresso oblqua. O quadrado do termo da compresso

    axial caracteriza um dimensionamento menos conservador confirmado pelas pesquisas de

    Zahn que aquele obtido pela combinao linear entre as parcelas da flexo e do esforo

    axial, como se verifica na Figura 3.13.

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 103

    Figura 3.13 Interao entre a flexo e o esforo axial de compresso.

    Na verificao da flexo-compresso, a AF&PA/ASCE 16-95/96 no faz nenhuma distino

    entre os momentos fletores provenientes de diferentes fontes, tais como os gerados pela

    excentricidade dos esforos axiais e por solicitaes transversais. Estes momentos so

    agrupados em uma nica parcela, diferenciando-se assim do procedimento adotado pela

    NDS/91. Como os momentos solicitantes que aparecem na Equao [2.137] incluem os

    efeitos de segunda ordem, eles receberam uma designao especial para se evitar confuses.

    Uma grande parte das estruturas de madeira so contraventadas, ao invs de se equipararem

    a prticos rgidos. Assim, os momentos de primeira ordem ( bxM ou byM ) so a nica

    categoria, comumente, que precisa ser considerada.

    Todos os amplificadores dos momentos de primeira ordem, determinados pelas Equaes

    [2.144] a [2.147], possuem um denominador cujo valor mximo unitrio e que diminui na

    medida em que o esforo axial aplicado se aproxima da carga crtica de Euler multiplicada

    pelo fator de resistncia para a compresso paralela fibras, c . Logo, nesta condio, os

    amplificadores assumem os seus mximos mdulos, podendo assumir imensos valores para

    altos ndices de esbeltez.

    A NBR 7190/97 no menciona as formas alternativas de aplicao do carregamento axial de

    compresso, por exemplo, utilizando-se braadeiras ou cantoneiras que so fixadas

    lateralmente ao pilar e previstas pela AF&PA/ASCE 16-95/96, que podem provocar grandes

    excentricidades no esforo axial e conduzir a esforos de flexo significativos.

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    Cap. 3 Comparao terica entre a NBR 7190/97 e outros documentos normativos 104

    3.7 Consideraes complementares

    O dimensionamento das peas comprimidas de madeira influenciado pela sua esbeltez,compreendendo uma interao entre os dois modos bsicos de ruptura (resistncia e

    instabilidade), que geralmente no linear. Vrios autores propuseram relaes adotadas

    pelos cdigos normativos, que indicam uma interao no-linear.

    Comparando-se os critrios de verificao da instabilidade das peas comprimidas, propostos

    pelos documentos normativos aqui analisados, nota-se a sutileza de suas similaridades. Alm

    do emprego dos fatores de correo, para considerar as particularidades devidas ao uso da

    estrutura, cada qual acrescenta fatores para expressar as condies de estabilidade, que so

    baseados em diferentes teorias: frmula de Ylinen, no caso das normas norte-americanas,

    Rankine-Gordon na norma canadense, ajustes simplificadores na norma australiana e o

    procedimento numrico no caso da norma europia.

    As peas flexocomprimidas, por sua vez, so tratadas no processo de dimensionamento

    como um caso de interao entre compresso axial e flexo. Nesse caso, surge o efeito de

    segunda ordem causado pela excentricidade do carregamento e as frmulas de interao

    pretendem manipular as combinaes de tenses resultantes desse tipo de solicitao. Para

    tal solicitao no h uniformidade no tratamento sugerido pelas normas. A norma alem

    prope uma expresso de interao linear, em que a tenso admissvel de flexo afetada

    por um coeficiente de flexo e a tenso admissvel de compresso modificada segundo a

    esbeltez da pea. O texto da norma australiana afirma que as expresses propostas para a

    verificao das peas flexocomprimidas so baseadas em um critrio conservador, que j

    contm uma compensao para os efeitos de amplificao do momento fletor devido ao

    carregamento axial. O documento normativo canadense adota uma condio de interao

    linear entre a compresso e a flexo, considerando que o momento fletor solicitante na

    expresso seja resultado da soma dos momentos de primeira e segunda ordem. A expresso

    proposta pela norma norte-americana baseada nos estados limites (LRFD) inclui fatores

    amplificadores nos momentos ( mM ), deixando clara a considerao dos efeitos de segunda

    ordem.

    Nem sempre ilustrada com muita clareza nas expresses normativas estudadas, a fluncia

    outro fator que interfere diretamente no comportamento das peas comprimidas e

    flexocomprimidas. Para a compensao desse efeito, algumas normas indicam a utilizao

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    do mdulo de elasticidade referente ao quinto quantil da distribuio de freqncias,

    modificado por fatores especficos de condies de uso e tipo de solicitao, como o caso

    do EUROCODE 5/93.

    A fluncia considerada, pela CSA 086.1/89, no lado das solicitaes da expresso geral de

    verificao do mtodo dos estados limites ( dd RS ). Ou seja, os esforos gerados pelas

    redues e aumentos nas dimenses das peas causados por mudanas de temperatura,

    retrao, trocas de umidade, fluncia, recalques de apoio ou suas combinaes, so

    determinados, geralmente, por mtodos baseados na hiptese de comportamento elstico do

    material.

    A norma australiana, por sua vez, leva em conta os efeitos da fluncia atravs do fator de

    estabilidade. Sob efeito das aes de longa durao, h um efeito de fluncia adicional que

    considerado indiretamente na constante material, .

    Na NDS/91 afirma-se que o efeito da fluncia considerado, em peas sujeitas flexo,

    limitando-se as deformaes causadas pelas aes de longa durao. Na AF&PA/ASCE 16-

    95/96, os efeitos da fluncia, da variao na rigidez do material e de pequenas

    excentricidades acidentais so contemplados pelo fator de estabilidade, s .

    A norma alem considera o efeito da fluncia no clculo das deformaes devidas flexo.

    Assume-se que as deformaes de fluncia so proporcionais s deformaes elsticas da

    pea flexionada. Sua anlise exigida se o peso prprio excede em 50% ao carregamento

    global incidente. A DIN 1052/88 apresenta equaes que permitem o clculo do ndice de

    fluncia de peas estruturais em funo do peso prprio e do carregamento global.