confessionÁrio y breve arte de bien morir

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ARTE DE BIEN MORIR Y BREVE CONFESSIONÁRIO Letícia Gonçalves Alfeu de Almeida UNESP/ Franca O ensino da fé cristã na Península Ibérica (sécs. XIV, XV e XVI) OBRAS PASTORAIS E DOUTRINÁRIAS DO MUNDO IBÉRICO

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A R T E D E B I E N M O R I RY B R E V E

C O N F E S S I O N Á R I O

L e t í c i a G o n ç a l v e s A l f e u d eA l m e i d a

U N E S P / F r a n c a

O e n s i n o d a f é c r i s t ã n a P e n í n s u l a I b é r i c a( s é c s . X I V , X V e X V I )

OBRAS PASTORAIS E DOUTRINÁRIASDO MUNDO IBÉRICO

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Obras Pastorais e doutrinárias do mundo

ibérico

Arte de Bien Morir y Breve confessionário

Para citação e referência:

ALMEIDA, Letícia Gonçalves Alfeu de. “Arte de Bien Morir y Breve confessionário”.

In: TEODORO, Leandro Alves (Org.). O ensino da fé cristã na Península Ibérica

(séculos XIV, XV e XVI). Banco de dados (Online). 2019. Disponível em:

Consulta em: XX/XX/ XXXX.

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Arte de Bien Morir y Breve confessionário

Um número expressivo de volumes circulou no século XV com o título Ars

moriendi ou Arte de morrer, em duas versões, claramente inspiradas pela terceira parte

do Opus tripartitum do teólogo parisiense Jean Gerson (1363-1429), sobre a “ciência de

bem morrer”, escrito concebido para uso dos sacerdotes no amparo espiritual aos

morrentes. A versão longa, manuscrita e comumente intitulada Tractatus ou Speculum

artis bene moriendi, foi provavelmente escrita por um dominicano entre 1414 e 1418,

durante o Concilio de Constança; compõe-se de seis partes, que incluem a introdução,

as tentações diabólicas que o agonizante deve superar, uma sequência de questões que

este deve responder, considerações sobre a conduta dos que o acompanham, bem como

orações. A versão curta, por sua vez, propriamente nomeada Ars moriendi, igualmente

anônima, reelabora o segundo capítulo da primeira variante, transformando-o em uma

disputa entre o diabo, que tenta o cristão em seu leito de morte, e o anjo, que o inspira a

resistir com firmeza às provocações do inimigo. Nesta versão, o núcleo composto pelas

cinco tentações combatidas por cinco inspirações acompanha-se de uma breve

introdução e de uma conclusão. Este formato breve é o que se disseminou nas variadas

traduções vernáculas, em formato xilográfico e tipográfico, acrescido de imagens para

cada capítulo e destinado, portanto, a um público mais amplo de fiéis laicos e de

clérigos menos instruídos.

A difusão de ambas as versões da arte de morrer não ignorou a Península

Ibérica. Dos numerosos exemplares conservados por toda a Europa – 234 manuscritos,

77 impressos e 21 xilográficos –, existem da versão longa quatro manuscritos em

castelhano, dois em catalão e uma edição tipográfica em castelhano, ao passo que da

versão curta constam três edições tipográficas, duas em catalão e apenas uma em

castelhano. Este único incunábulo em castelhano da versão reduzida da arte de morrer,

com o título Arte de bien morir y Breve confessionário, é o da edição impressa em

Saragoça por Pablo Hurus entre 1479 e 1484. O exemplar encontra-se atualmente na

biblioteca do Monastério de San Lorenzo de El Escorial, fundado por Filipe II no século

XVI. No pequeno volume de 36 fólios, a tradução de um dos escritos didáticos de maior

difusão entre os primeiros impressos acompanha-se, além do Breve Confessionário, das

Coplas de Mingo Revulgo con las glosas de Hernando del Pulgar, seguida das cartas

desse mesmo autor e do Chatón traducido por Martín García.

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O incunábulo do monastério de El Escorial traduz fielmente o texto latino que

lhe serve de base e, como as outras versões latinas e vernáculas, traz a sequência de

onze figuras que ilustram em detalhe cada uma das tentações e inspirações tratadas nos

capítulos, além da imagem final da boa morte. As ilustrações usadas por Hurus nesta

edição apresentam traços mais grosseiros e singelos do que as de edições francesas e

alemãs conhecidas, como a impressa por Antoine Vérard, em Paris, ou até mesmo a

xilográfica editada por Konrad Kachelofen, em Leipzig, em 1496. Por isso, parece que o

editor ibérico teve como matriz as imagens de algumas versões xilográficas alemãs mais

simples – que também não trazem as faixas com inscrições explicativas próprias de

edições mais difundidas –, o que não era incomum, já que alemães e flamencos foram

os primeiros impressores a se instalarem na Espanha. Com o apoio de tais imagens, o

opúsculo apresenta primeiramente ao leitor as considerações sobre a importância de se

preparar para a morte; em seguida, são esmiuçadas a tentação contra a fé, a tentação da

desesperança, da impaciência, da vanglória e da avareza, contrapostas pelas inspirações

angelicais correspondentes, que ensinam o cristão, respetivamente, a manter firme a sua

crença e esperança na misericórdia divina, a curvar-se resignadamente à vontade do

Criador, a resistir com paciência ao sofrimento corporal, a desapegar-se dos bens

materiais e dos entes queridos. A boa morte realiza-se, por fim, com a superação das

tentações por meio da perseverança em todas as condutas, reflexões e virtudes

inspiradas pelo anjo, tendo a fé, a caridade, a paciência e a humildade como condutoras.

Composto inicialmente para acorrer ao desamparo espiritual que se impôs nos

séculos XIV e XV com as ondas de peste, as tensões políticas e as lacunas da ação

pastoral no ocidente cristão, palco de contendas dramáticas como o Grande Cisma da

Igreja, o texto da arte de bem morrer também teve um lugar junto a demandas

específicas dos fiéis ibéricos de finais do quatrocentos. As edições hispânicas desse

escrito pertencem a um vasto conjunto de textos que contribuiu para a ampliação da

escrita vernácula nos reinos peninsulares, expansão que se dava não apenas no âmbito

das Cortes régias – com caráter administrativo e jurídico – e da instrução dos reis, mas

também no que diz respeito ao próspero incentivo às traduções que enriqueciam as cada

vez mais numerosas bibliotecas de nobres e burgueses. Não obstante o incremento das

traduções de textos clássicos sob encomenda de laicos ascendentes que viam nos livros

sinais de prestígio e passavam a investir na própria erudição, os escritos religiosos eram

os mais comuns. Selecionados pelas autoridades eclesiásticas, textos desta natureza

apresentavam-se como instrumentos imprescindíveis a uma Igreja temerosa dos

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movimentos reformistas e ansiosa por fortalecer a sua ação, sistematizando o controle

sobre os fiéis por meio dos registros paroquiais de batismos, casamentos e mortes, e

recordando, com a ajuda dos livros, as obrigações de cada um. A tradução castelhana da

arte de morrer indica, também, a introdução, nesse contexto ibérico, de ensinamentos

voltados para práticas de devoção mais introspectivas e privadas, baseadas na leitura

pessoal e no exame de si, e que já vinham sendo difundidos em outras línguas

vernáculas, como nos escritos franceses de Jean Gerson para os laicos, no início do

século, tendo a meditação sobre a morte como um dos temas centrais.

Palavras-chave: Arte de morrer, Morte, Incunábulos, Espanha medieval, Traduções.

Letícia Gonçalves Alfeu de Almeida

Unesp/ Franca

Bibliografia

Edições modernas:

Arte de Bien Morir y Breve confessionário. (Zaragoza, Pablo Hurus: c. 1479-1484).

Según el incunable de la Biblioteca del Monasterio de San Lorenzo de El Escorial.

Edición y estudo de Francisco Gago Jover. Precedido de Las palavras de la muerte, de

Enrique Lázaro. Barcelona: Medio Maravedí – Universitá de les Illes Balears, 1999.

Outras edições modernas da “Arte de bem morrer”:

ARS MORIENDI (1492) ou L'art de bien mourir. Présentation et adaptation de Pierre

Girard Augry. Dervy Livres, 1970.

BAYARD, Florence. L´art de bien mourir au XVe siècle. Étude sur les arts du bien

mourir au bas Moyen Age à la lumière d´un ars moriendi allemand du XVe siècle.

Presses de l´Uninversité de Paris-Sorbonne, 1999.

Referências Bibliográficas:

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ALVAR, Carlos. Promotores y destinatarios de traducciones en Castilla durante el siglo

XV. In: Cahiers de linguistique et de civilisation hispaniques médiévales. N°27,

2004, pp. 127-140.

CASTILLO GOMEZ, Antonio. La fortuna de lo escrito. Funciones y espacios de la

razón gráfica (siglos XV-XVII). In: Bulletin Hispanique, tome 100, n°2, 1998. pp.

343-381;

GEMMA, Avenoza. Traducciones, público y mecenazgo en Castilla (siglo XV). In:

Romania, tome 128 n°511-512, 2010, pp. 452-500.

Trecho traduzido e modernizado

O PROÊMIO

Embora diga o Filósofo, no terceiro das Ethicas, que a mais assustadora das

coisas terríveis seja a morte, de nenhuma maneira se pode compará-la à morte da alma.

Isso confirma Santo Agostinho, que diz que: “Maior dano é a perdição de uma alma do

que a de mil corpos”. Também se prova isso por São Bernardo, dizendo que: “Todo este

mundo corporal não se pode estimar tanto como o preço de uma alma”. Logo, tanto é

mais espantável e repugnante a morte da alma, quanto esta é mais nobre e preciosa que

o corpo.

EL PROHEMIO

Maguer segund el Philósofo en el terceiro de las Ethicas, la más espantable de

las cosas terribles sea la muerte, empero, en ninguna manera se puede comparar a la

muerte de la ánima. Esto confirma Sant Augustín, que dize que: “Mayor dapño es la

perdición de una ánima que de mil cuerpos”. También se prueva esto por Sant Bernardo

diziente que: “Todo este mundo corporal non se puede estimar quanto es el precio de

uma ánima”. Pues, tanto es más espantable e aborrescible la muerte de la ánima, quanto

ella es más noble e preciosa que el cuerpo.

Autor do documento: Pablo Hurus

Nome do documento: Arte de bien morir y Breve confessionário

Data da composição: entre 1479 1484.

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Lugar de composição ou impressão: Zaragosa

Imagem: Manuscrito da Biblioteca Nacional de España de Rodrigo Fernández de

Santaella

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