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1 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL VIDA E MINISTÉRIO DO PRESBÍTERO PASTORAL VOCACIONAL Documento aprovado pela 19ª Assembléia da CNBB Itaici, 26 de fevereiro de 1981 INTRODUÇÃO 1. João Paulo II, no Início de seu ministério de Pastor Universal, sentiu profundamente a necessidade de se dirigir, de maneira direta, a seus irmãos no sacerdócio: “Desejo, logo desde o princípio, exprimir minha fé na vocação que vos une com vossos bispos numa particular comunhão de sacramento e de ministério, mediante a qual se edifica a Igreja”. 2. Para justificar este desejo do fundo do seu “coração” e “pensamento” e dar-lhe o sentido, o Santo Padre aduz duas razões simples e luminosas. Primeiro: os sacerdotes são os que, “em virtude de uma graça especial e por uma singular entrega ao nosso Salvador”, carregam “o peso do dia e o calor, no meio de múltiplas ocupações do serviço sacerdotal e pastoral”. Em segundo lugar, escreve o Papa, “porque em virtude do sacramento que também eu recebi das mãos de meu bispo... sois meus irmãos. Adaptando, pois, as conhecidas palavras de Santo Agostinho, desejo dizer-vos hoje: ‘para vós sou bispo, convosco sou sacerdote’”. 3. Esta mensagem do Papa, que nos visitou para confirmar-nos na fé e no trabalho apostólico, dá o sentido e o espírito com que nós, bispos, reunidos nesta 19ª Assembléia Geral, queremos refletir sobre o tema: VIDA E MINISTÉRIO DO PRESBÍTERO – PASTORAL VOCACIONAL. 4. Ao escolher este assunto como tema principal da presente Assembléia, move-nos a convicção da centralidade do mesmo para o presente e o futuro de nossa Igreja. Ao considerar as urgências da evangelização e a escassez e mesmo decréscimo relativo de nosso clero com o agravante de sua má distribuição, aumenta em nós o desejo de dizer uma palavra de alento aos nossos irmãos presbíteros e de colaborar para que, no serviço alegre ao Povo de Deus, o corpo presbiteral se torne sempre mais unido e dedicado às tarefas do anúncio do Reino e da confirmação de nossas comunidades na fé. Um clero assim poderá e saberá oferecer ao povo, com a ajuda de outros ministérios e carismas que o Senhor da messe suscitar, o pão da Palavra e da Eucaristia, que tornará a Igreja capaz de testemunhar mais autenticamente sua fé e de viver uma presença transformadora em nossa realidade brasileira, tão dolorosamente lacerada pela injustiça e falta de misericórdia. De tal testemunho, pela graça do Espírito, não poderão deixar de brotar vocações ao serviço sacerdotal no seio do Povo de Deus. 5. Nossa atenção se voltará, assim, tanto para a vida e o ministério dos presbíteros quanto para a promoção das vocações e formação dos futuros sacerdotes. Essas duas reflexões, como o tem reiteradamente demonstrado a vida eclesial, se interpenetram e se complementam. É com vistas ao presbitério que as vocações sacerdotais são despertadas. Para ele é que devem ser encaminhadas. De sua vitalidade e da força de seu testemunho depende a fecundidade destas vocações. 6. Nossa mensagem se dirige a toda Igreja do Brasil chamada como um todo à santidade de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, que se expressa em uma rica diversidade de dons e carismas, de caminhos e de respostas.

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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

VIDA E MINISTÉRIO DO PRESBÍTERO PASTORAL VOCACIONAL

Documento aprovado pela 19ª Assembléia da CNBB Itaici, 26 de fevereiro de 1981

INTRODUÇÃO 1. João Paulo II, no Início de seu ministério de Pastor Universal, sentiu profundamente a necessidade de se dirigir, de maneira direta, a seus irmãos no sacerdócio: “Desejo, logo desde o princípio, exprimir minha fé na vocação que vos une com vossos bispos numa particular comunhão de sacramento e de ministério, mediante a qual se edifica a Igreja”. 2. Para justificar este desejo do fundo do seu “coração” e “pensamento” e dar-lhe o sentido, o Santo Padre aduz duas razões simples e luminosas. Primeiro: os sacerdotes são os que, “em virtude de uma graça especial e por uma singular entrega ao nosso Salvador”, carregam “o peso do dia e o calor, no meio de múltiplas ocupações do serviço sacerdotal e pastoral”. Em segundo lugar, escreve o Papa, “porque em virtude do sacramento que também eu recebi das mãos de meu bispo... sois meus irmãos. Adaptando, pois, as conhecidas palavras de Santo Agostinho, desejo dizer-vos hoje: ‘para vós sou bispo, convosco sou sacerdote’”. 3. Esta mensagem do Papa, que nos visitou para confirmar-nos na fé e no trabalho apostólico, dá o sentido e o espírito com que nós, bispos, reunidos nesta 19ª Assembléia Geral, queremos refletir sobre o tema: VIDA E MINISTÉRIO DO PRESBÍTERO – PASTORAL VOCACIONAL. 4. Ao escolher este assunto como tema principal da presente Assembléia, move-nos a convicção da centralidade do mesmo para o presente e o futuro de nossa Igreja. Ao considerar as urgências da evangelização e a escassez e mesmo decréscimo relativo de nosso clero com o agravante de sua má distribuição, aumenta em nós o desejo de dizer uma palavra de alento aos nossos irmãos presbíteros e de colaborar para que, no serviço alegre ao Povo de Deus, o corpo presbiteral se torne sempre mais unido e dedicado às tarefas do anúncio do Reino e da confirmação de nossas comunidades na fé. Um clero assim poderá e saberá oferecer ao povo, com a ajuda de outros ministérios e carismas que o Senhor da messe suscitar, o pão da Palavra e da Eucaristia, que tornará a Igreja capaz de testemunhar mais autenticamente sua fé e de viver uma presença transformadora em nossa realidade brasileira, tão dolorosamente lacerada pela injustiça e falta de misericórdia. De tal testemunho, pela graça do Espírito, não poderão deixar de brotar vocações ao serviço sacerdotal no seio do Povo de Deus. 5. Nossa atenção se voltará, assim, tanto para a vida e o ministério dos presbíteros quanto para a promoção das vocações e formação dos futuros sacerdotes. Essas duas reflexões, como o tem reiteradamente demonstrado a vida eclesial, se interpenetram e se complementam. É com vistas ao presbitério que as vocações sacerdotais são despertadas. Para ele é que devem ser encaminhadas. De sua vitalidade e da força de seu testemunho depende a fecundidade destas vocações. 6. Nossa mensagem se dirige a toda Igreja do Brasil chamada como um todo à santidade de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, que se expressa em uma rica diversidade de dons e carismas, de caminhos e de respostas.

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2 7. Aos presbíteros, porém, aos que sentem o chamado de Deus ao serviço sacerdotal, aos agentes de pastoral e aos que se dedicam à promoção das vocações e à formação das mesmas é que nos dirigimos, de maneira muito especial e imediata. 8. Nossa palavra quer ser ajuda à reflexão de todas as comunidades cristãs, a fim de levá-las a uma consciência mais viva de sua própria vocação e a maior união com seus presbíteros e ministros. Ela se expressa também na oração, no interesse e na ação em favor das vocações aos ministérios ordenados. 9. Buscamos ouvir, com muita confiança, a voz do Espírito Santo que nos fala através do magistério de Pedro, das orientações da Santa Sé e dos ensinamentos oficiais em que a Igreja do Brasil e da América Latina aponta os caminhos de Deus em nosso continente e em nosso país. Perscrutando os sinais de Deus na história recente de nossa Igreja buscamos, ao mesmo tempo, escutar com atenção as preocupações, anseios e propostas que nos chegam de nossos padres. 10. Interessou-nos, sobremaneira, ter presente a situação vivida pelos futuros sacerdotes e colher a experiência dos que, com eles, convivem nos seminários e na pastoral vocacional. Sobretudo, tivemos sempre ante os olhos nossas comunidades e as necessidades humanas e religiosas das grandes multidões tornadas hoje, largamente, como ovelhas sem pastor. 11. Responsáveis primeiros pela missão apostólica, é nossa intenção traçar aqui as diretrizes básicas que a Igreja deve seguir no tocante a este setor fundamental de sua vida. Empregaremos o método VER – JULGAR – AGIR. A visão descritiva da nossa realidade presbiteral e vocacional (I PARTE), discernida à luz da Palavra de Deus (II PARTE), indicar-nos-á rumos e linhas para a ação futura (III PARTE). 12. Estamos certos de que a Igreja do Brasil, especialmente os agentes de pastoral, os seminaristas, os ministros, os presbíteros e nós bispos, abriremos, todos, o coração para o que Inácio de Antioquia escrevia às comunidades cristãs, já no século II: “Tende cuidado de fazer tudo com aquela concórdia que é do agrado de Deus, sob a presidência do bispo que representa o mesmo Deus, com os presbíteros que representam o colégio apostólico e com os diáconos, para mim caríssimos, aos quais foi confiado o serviço de Cristo”. I. PARTE: VISÃO DA REALIDADE I. Recordando os últimos quinze anos 13. Há cerca de quinze anos atrás, cresceu entre os sacerdotes diocesanos e religiosos uma onda generalizada de mal-estar e de questionamentos com sérias repercussões ainda hoje sentidas na Igreja do Brasil. Tratava-se, aliás, das conseqüências de uma grave crise de civilização que, pela sua acentuada tendência secularista, afetava a Igreja inteira. O episcopado dirigiu-se, então, aos sacerdotes de todo país num documento público que, logo em seguida, se tornou objeto de ampla reflexão e debate por parte dos sacerdotes do Brasil, constituindo, depois, a principal matéria da 9ª Assembléia Geral, em 1969. 14. Foi um período de árdua provação para o clero e a Igreja. Não sem razão, falava-se sobretudo de uma “crise de identidade”. Centenas de sacerdotes pediram dispensa do exercício do ministério. Os seminários, construídos com tanta esperança e sacrifícios ao longo das décadas anteriores, se esvaziavam, restando imensas construções sem destinação imediata. 15. Em muitos lugares o cultivo de novas vocações, desacreditado e sem motivação, quase que cessara. Tudo isso condicionou negativamente a evolução do clero, abrindo flancos, até hoje irreparados, em suas já reduzidas fileiras, causando sofrimento moral a

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3inúmeros seminaristas e sacerdotes, e privando o Povo de Deus dos Pastores a que tem direito. São questões ainda vivas que se põem à consciência da Igreja do Brasil. 16. A crise dos sacerdotes, a busca de uma nova imagem para o padre, dada a sua carga de conflituosidade pessoal e eclesial, geraram insegurança e interrogações. É oportuno recordar alguns aspectos dessa crise e dessa busca que se deram em formas e proporções diferentes conforme o lugar, as condições e os graus de maior ou menor abertura à renovação: 17. – a procura de profissões seculares que garantissem ao padre tanto a subsistência quanto o “status” social que já não lhe era concedido pela condição de clérigo; 18. – a dúvida quanto a suficiência de uma forma única de presbítero vista como um desacordo com nossa realidade e mera relíquia de processos histórico-culturais do passado; 19. – a questão da função específica do presbítero numa Igreja que passava a valorizar, também na prática, o caráter missionário e ministerial de todos os cristãos; 20. – o papel concreto a ser exercido pelo padre numa sociedade injusta e desigual; 21. – a desestruturação de formas e estilos de vida tradicionais de organização eclesiástica; 22. – o questionamento do celibato e o problema da realização humana e afetiva do sacerdote. 23. A essa crise de identidade somava-se duas outras, uma relacionada com a postura e a vivência da fé e outra nascida da crítica às estruturas e às práticas da autoridade na Igreja. Muitos começaram a sentir-se abalados não só quanto às suas opções pessoais ou às maneiras de encarar e viver o sacerdócio, mas também em relação à espiritualidade e à fé. 24. As mudanças muito rápidas provocaram descompassos, vacilações e dúvidas quanto à vida cristã e sacerdotal. De seu lado, as novas correntes teológicas traziam consigo um certo relativismo, facilitando a crítica às instituições, à pastoral, à vida interna e à função da Igreja na sociedade. O protesto contra o autoritarismo, a rigidez, lentidão e inadequação das estruturas, pessoas e organismos eclesiásticos passou a ser lugar comum, originando crises de autoridade, geradoras de tensões e atritos entre bispos e presbíteros. 25. A Igreja passou a carregar o peso de uma instabilidade a que estava pouco afeita. O receio da marginalização, o fechamento ao diálogo e as soluções individualistas tornaram-se ameaças nada irreais para muitos presbíteros, dilapidando a confiança e o zelo de não poucos. 26. De dentro desta “crise” emergia uma conversão profunda que tinha como critério e ponto de referência o mistério de Jesus Cristo. A pista de solução, como o demonstrou a experiência dos presbíteros brasileiros, estava [e está!] no aprofundamento sincero, lúcido e humilde da própria vida e ministério, dentro de um clima de diálogo e apoio fraterno entre bispos e presbíteros, numa inserção mais generosa nas comunidades vivas que Deus fez brotar em seu povo. Trata-se de importante ponto para o discernimento do chamado de Deus na história. 27. Como conseqüência deste movimento de conversão, começa a surgir na Igreja um novo tipo de padre, com um estilo de vida mais próximo do povo. Sobretudo desde Medellín, a experiência de vida de inúmeros presbíteros demonstrou que a revitalização do sentido específico do seu sacerdócio passava por renovada identificação com o Cristo Pastor, dentro de uma maior abertura sacerdotal aos anseios de libertação integral e de fraternidade dos pequenos e oprimidos. 28. Paralelamente o povo começou a sentir mais fortemente a presença e o sentido do sacerdócio. A fraternidade e co-responsabilidade pastorais passaram a ser conquista e busca no dia-a-dia do presbítero e das comunidades. Palmilhando este caminho aberto às

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4necessidades do mundo e dos pobres e de retorno às fontes da vida e do ministério, foi que os presbíteros, experimentando em suas vidas as maravilhas que Deus faz no seu povo, reencontraram as raízes de sua identidade. O caminho foi, para muitos, pontilhado de decepções e marcado pela cruz. Alguns morreram, outros foram perseguidos e expulsos por causa da justiça. 29. Apenas decorrida uma década após a fase tão dolorosa, inclusive para os que deixaram o ministério, a Igreja começou a sentir o nascimento de um período novo, mais cheio de esperança. As inúmeras dúvidas e discussões de então, e mesmo as que permanecem atuais e vivas, deram origem a oportunos esclarecimentos e à descoberta de perspectivas surpreendentemente novas. 30. O Santo Padre, referindo-se à crise dos Seminários, diz: “Retomando o estudo daqueles problemas – basta pensar no Sínodo de 1971 – e examinados a fundo as objeções e novos elementos dos diversos questionamentos, as coisas retomaram a sua justa colocação, surgindo daí significativas confirmações. Pode-se dizer que, graças a este esforço crítico e autocrítico, começamos já a passar da fase negativa à de uma atuação positiva do Vaticano II” (3 de abril de 1979). Resta, sem dúvida, muito caminho a fazer. Sem falsos otimismos e ilusões, é preciso reconhecer: estamos caminhando. II. Vida e ministério do presbítero hoje 31. É tarefa bastante árdua traçar, de forma abrangente e objetiva, o quadro que define a vida e o ministério dos sacerdotes hoje. São grandes a complexidade e heterogeneidade das situações, dos contextos e atividades exercidas pelos padres espalhados, por vezes isolados, pela imensidão do espaço geográfico e humano de nosso país. 32. É multiforme a diversidade da formação e das raízes culturais dos sacerdotes que servem ao Povo de Deus no Brasil, muitos dos quais vindos de outros países. Há, sem dúvida, ênfase, interesses e posições, por vezes contrastantes, seja no campo teológico-pastoral, seja no que diz respeito às sensibilidades e opções sócio-culturais e políticas. Em especial, constituindo a trama e o dia-a-dia da vida sacerdotal, há um imenso peso de trabalho e de fadiga que nasce de solicitações das comunidades e da própria realidade tão carente das populações atendidas pelos padres. 33. Para conhecer mais de perto a complexa situação de nossos padres, a Comissão Nacional do Clero (CNC), com apoio da Linha I da CNBB e assistência do Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS), procurou ouvir e sistematizar, da forma mais objetiva possível, as opiniões do próprio clero a esse respeito. Para tanto, enviou aos Regionais da CNBB 12 mil questionários, com 22 perguntas relativas a diversos aspectos da vida e do ministério presbiteral. Apesar das dificuldades, 4.104 desses questionários retornaram aos organizadores da pesquisa. 34. Não se pode tomar como definitivo e completo o quadro que emerge do conjunto de dados colhidos. (Ver: “A situação do clero no Brasil”, CNC, 1980). Contudo, dentro dos limites do instrumento usado – um questionário – e de algumas deficiências surgidas na sua elaboração e aplicação, não se pode negar o valor dessas respostas de 1/3 do clero nacional, abrangendo padres de todas as idades e regiões e atingindo tanto os sacerdotes diocesanos quanto os religiosos, quer nascidos no Brasil, quer no Exterior. 35. Nesta parte, dedicada à visão da realidade, utilizam-se indicações nascidas dessa consulta. Para não perder, contudo, o sabor e a validade da experiência e da reflexão mais imediatas, o texto se apóia também em observações colhidas em três Encontros Nacionais de grupos ligados à Pastoral Vocacional, aos Seminários e aos Presbíteros, reunidos em Brasília em setembro e outubro de 1980, a convite da CNBB, com o objetivo de fornecer subsídios para a presente Assembléia. 1. Situação do presbítero

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5 36. O quadro geral vivido hoje pelos presbíteros revela uma caminhada ainda em curso. Parecem estar em fase de superação de alguns problemas agudamente sentidos até alguns anos atrás. Ao menos pode-se dizer que, no clero de hoje, há uma clara consciência de que foram dados alguns passos e abertas novas perspectivas em sua vida e ministério. Outros pontos parecem permanecer no horizonte de preocupações dos presbíteros como incógnitas ou como desafios. 1.1. Passos dados Alguns pontos merecem especial consideração quando se tenta um balanço na caminhada feita: 37. Os dados parecem apontar, inicialmente, para um clero consagrado prioritariamente à atividade de pastoral, especialmente em paróquias. É provável que tais atividades se tenham transformado bastante, e que em várias regiões ou setores de evangelização tenham adquirido feições bem diversas das que caracterizavam antigamente a rotina de vida do presbítero. 38. Como grupo, o clero que respondeu à pesquisa se mostra bem inserido em suas atividades de Igreja, revelando elevado nível de satisfação pessoal pela opção de vida realizada e pelo trabalho pastoral concretamente exercido. 39. De outro lado, não se pode, porém, negligenciar a problemática dos que continuam questionando-se e sentindo-se ainda irrealizados em seu ministério. Cabe a pergunta: estará o problema neles próprios ou, muito mais, a responsabilidade toca nosso modo de relacionamento e nossas estruturas? 40. É preocupante verificar que uma parcela considerável do clero não parece atingida pelos grandes questionamentos de nosso tempo. Na verdade, aceitando-se as dificuldades dos mais idosos, não poucos continuam instalados em certa indiferença e apatia, ou acomodados num regime de vida e ministério aparentemente não sacudido pelo sopro do Espírito. 41. Outra faceta da vida presbiteral indicativa de mudança é a que diz respeito ao diálogo e à participação no interior do presbitério, bem como ao planejamento e orientação da atividade pastoral. Até alguns anos atrás, era este um dos problemas mais agudamente percebidos. Hoje já se faz sentir o efeito benéfico de estruturas de diálogo e de convivência fraterna que foram, paulatinamente, sendo criadas. Deve existir uma certa diversidade de situações, mas de maneira geral bispos e presbíteros parecem ter descoberto um estilo de vida e relacionamento mais próximo e direto. O convívio com os leigos, embora ainda insuficiente, é sentido como elemento positivo. 42. Também no tocante a esse aspecto, não podemos deixar de encarar com seriedade o número significativo de presbíteros que, em relação ao bispo, aos colegas de presbitério e, em menor escala, aos leigos, se ressentem de um penoso distanciamento. 43. Merece especial atenção o problema dos sacerdotes pertencentes a congregações religiosas. Após alguns anos de trabalho pastoral, organicamente planejado pelas Igrejas locais, eles tendem entrosar-se sempre mais na linha da pastoral diocesana. Existem, todavia, grupos que se alheiam à perspectiva de ação pastoral das Igrejas locais. No caso dos religiosos tomados individualmente, como mostra a pesquisa, é ponderável o número dos sacerdotes religiosos que se sentem pouco entrosados com o bispo e seus colegas de presbitério. 44. Também o chamado “problema econômico” do clero parece ter evoluído. Trata-se de um problema complexo. Apesar das desigualdades regionais e das variações, por vezes muito grandes, no interior da mesma diocese ou província de religiosos, é inegável que a maioria dos padres leva uma vida evangelicamente pobre, sofrendo, parte deles,

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6restrições financeiras. A fonte básica de seu sustento é o próprio trabalho pastoral. Bom número, em especial do clero diocesano, se vê coagido a apelar para a ajuda de terceiros ou a buscar, em algum tipo de trabalho remunerado, uma fonte alternativa para o próprio sustento. 45. Verifica-se, em diversos lugares, a existência de sacerdotes em busca de maneiras novas de partilhar os bens materiais como uma forma de viver a pobreza. De outro lado, não se pode silenciar a existência de casos opostos de contratestemunho individual e coletivo. Quanto à situação do momento, os presbíteros mostram-se relativamente tranqüilos. A insegurança que se faz sentir é em relação à velhice e eventuais enfermidades. 46. Por razões evidentes, o temor ante as incertezas do futuro é mais acentuado no clero secular, cuja subsistência depende mais diretamente da capacidade de trabalho de cada sacerdote tomado individualmente. Embora a nova legislação, estendendo aos padres os benefícios da previdência social pública, tenha trazido mais tranqüilidade à maioria, os presbíteros diocesanos não contam com o sistema de apoio que as congregações religiosas oferecem a seus membros. 47. O problema não é apenas de natureza econômica. Há outras variáveis em jogo. O padre secular preocupa-se com questões que atingem muito menos o religioso, como: Onde morar? Com quem conviver? Onde encontrar assistência? Como dignificar e valorizar a velhice sacerdotal? São, portanto, muitas as facetas do problema. Em algumas dioceses e regionais surgiram iniciativas isoladas bem sucedidas. No conjunto, porém, é bem pouco o que se faz. 48. Acha-se em andamento uma transformação significativa no sistema de sustentação das Igrejas locais. As antigas taxas doadas pelos fiéis, por ocasião da administração dos sacramentos, estão cedendo lugar ao dízimo como forma de responsabilizar a todos pelo sustento financeiro das obras paroquiais e dos ministros. Onde o sistema do dízimo já se firmou, evidenciou-se a necessidade de o presbítero assumir uma comunhão mais plena com sua comunidade, partilhando das condições de vida e limitações dos membros do Povo de Deus. 49. Não possuímos dados suficientes a respeito do problema da profissionalização dos presbíteros, entendida como exercício remunerado de ocupações não diretamente ligadas às tarefas presbiterais ou às obras da Igreja. É inegável que, até pouco tempo atrás, este tema era objeto de atenção por parte de considerável número de sacerdotes. Também os seminaristas maiores demonstravam preocupações em relação ao trabalho profissional, menos como fonte de recursos para seu sustento, do que como experiência julgada necessária para a formação do presbítero hoje. 50. Parece que a pergunta de fundo que os presbíteros e seminaristas se põem hoje é de outra natureza. A questão já não é tanto esta: “Quem sou ou devo ser nesta sociedade?”. É muito mais esta: “Como me situo pessoalmente nesta Igreja que está redefinindo seu papel na sociedade brasileira?”. Vista sob este ângulo, a profissionalização muda de figura. Não se questiona tanto ou somente o aspecto pessoal da realização humana e social, e sim a dimensão eclesial desta realização. 1.2. Caminhada a continuar Ao refletir sobre o caminho já percorrido levantam-se, à nossa frente, algumas pistas e desafios: 51. – a necessidade de um aprimoramento espiritual dos presbíteros, constitui o desafio prioritariamente sentido. O presbítero percebe hoje a necessidade de cultivar, de modo mais específico, sua espiritualidade pessoal e eclesial, a fim de que sua vida e ministério adquiram significado pleno;

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752. – a comunhão no trabalho e na oração com os irmãos presbíteros e com as comunidades de fé, torna-se fonte de sustentação e amadurecimento da vocação. De outro lado, a densidade da vida espiritual do padre passa a cultivar-se como condição de eficácia do seu próprio ministério; 53. – o apoio e intercâmbio afetivo, o cultivo da amizade e da vida em comum, os momentos fortes de reflexão, de estudo, de trabalho e de lazer, o aprimoramento das estruturas e estilos da Igreja no sentido da partilha e da co-responsabilidade, são pontos básicos na caminhada que se abre para os presbíteros do Brasil. 54. Percebe-se melhor a necessidade de superar certos hábitos que favorecem o isolacionismo e o individualismo, ou impedem o diálogo fraterno e honesto. As práticas da vida e do ministério presbiteral devem evoluir em direção à comunhão e participação, conforme a grande diretriz de Puebla. 55. Ao longo desses anos, o clero tem sentido a necessidade de a Igreja, como um todo, converter-se sempre às exigências do Evangelho. A autenticidade de seu testemunho depende, essencialmente, desta mudança profunda. Decorre daí, para o próprio clero, a premência de reconversão constante à Palavra de Deus. 56. Um dos pontos de referência e um dos critérios sentidos hoje, como decisivos para o discernimento no caminho dos presbíteros do Brasil, é o pobre em cujo rosto se espelha a face de Jesus Cristo. A realidade de injustiça e de opressão, à qual a Igreja quer fazer frente com a opção preferencial pelos pobres, abre para o padre uma série de questionamentos novos. Não se trata de perguntas abstratas a respeito da sociedade, da história e da organização política e econômica. 57. Os documentos programáticos e as prioridades, reiteradamente assumidas pela Igreja em seus planos pastorais, colocam o presbítero diante de um desafio para o qual, nem sempre, se sente suficientemente preparado. Falta-lhe uma visão teológica e pastoral que o capacite a atuar, com fundamentação adequada, no anúncio do Evangelho, do qual a dimensão social e política é elemento integrante. 58. O padre de hoje se defronta, de forma irrecusável, com o problema das ideologias. “Elas constituem... fenômenos vitais de dinamismo envolvente, contagioso... Desse modo, muitos vivem e militam praticamente dentro dos limites de determinadas ideologias sem haverem tomado consciência disso... Tudo isso se aplica tanto às ideologias que legitimam a situação atual, como aquelas que pretendem mudá-la” (Puebla 537)1. Este é um aspecto que exige do sacerdote constante revisão e vigilância. 59. A atualização teológico-pastoral e o melhor conhecimento das ciências sociais e humanas são vistos hoje como imprescindíveis. As lacunas de formação eclesiástica, mesmo no caso do sacerdote recentemente ordenado, se fazem notar tão logo a ação pastoral tenta concretizar as respostas da comunidade cristã para a realidade que a interpela. Tanto os presbíteros que trabalham nos grandes centros urbanos ou em ambiente de pastoral especializada, quanto os padres do interior, percebem agudamente que, sem atualização constante de seus conhecimentos com base na prática ministerial, torna-se difícil realizar as grandes metas que se propõe a Igreja na evangelização do nosso povo. 60. Há sacerdotes que, sem colocar em questionamento o valor do celibato, almejariam uma mudança na atual disciplina da Igreja. Além da realização humana e afetiva do sacerdote, freqüentemente sujeito a duras condições de trabalho e ao isolamento, são aduzidos argumentos históricos e teológicos e, principalmente, a necessidade pastoral de inúmeras comunidades privadas da presença do padre. 61. A este respeito e em referência à formação dos futuros presbíteros, o Santo Padre escreve aos bispos do Brasil, em carta de 10/12/80: “Não vos paralisem neste esforço nem uma concepção imperfeita e enganosa da promoção dos leigos, nem a tentação das fórmulas simplistas ou das soluções de emergência, alheias às conclusões da 3ª

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8Assembléia do Sínodo dos bispos em 1971 e às claras diretrizes emanadas da Sé Apostólica para a Igreja Latina. A resposta a dar à urgente necessidade de sacerdotes, resposta realmente coerente com o bem da Igreja, não se encontra na abolição do celibato sacerdotal, na ordenação de homens casados ou no retorno ao ministério de sacerdotes que o abandonaram para contrair matrimônio”. 62. O próprio Papa indica o caminho a seguir: “Dois aspectos me parecem relevantes neste campo: promover as vocações sacerdotais e religiosas e formar bem os candidatos. Não insisto sobre o primeiro, pois bem sabeis que a crescente promoção dos leigos não dispensa, antes exige maior presença de sacerdotes. O segundo aspecto não é menos importante e até diria que, se não houvesse a consciência, a vontade e o cuidado de dar aos futuros sacerdotes e religiosos uma séria e acurada formação intelectual, moral, espiritual e apostólica, a promoção vocacional se tornaria um esforço ineficaz e até arriscado para a Igreja. Compreendeis certamente esse pensamento”. 63. A Igreja do Brasil acata, em profundo espírito de fé e obediência, essa palavra do Papa. 64. A convivência mais próxima ao povo que clama pela presença do sacerdote, o conhecimento de leigos pastoralmente admiráveis e o conhecimento das lutas de seus padres, fazem com que o acolhimento dessas diretrizes traduza, para alguns bispos, uma renúncia consciente e responsável. 65. Para os sacerdotes e para os que almejam o serviço presbiteral, a tarefa que se abre como projeto existencial e de vida é a de cultivar a riqueza espiritual e humana de que o celibato é fonte, conforme a fecunda tradição da Igreja. 2. Completando o quadro 2.1. Observação crítica 66. O quadro descrito apresentou um clero em fase de superação efetiva da crise de identidade que o afligiu até data recente; clero que se mostra fiel às suas tarefas pastorais; marcado pelo desprendimento material; empenhado, pelo próprio testemunho, em tornar a Igreja mais evangélica; solidário com os bispos e colegas presbíteros; unido aos leigos e mais identificado com a causa dos pobres. Talvez esta apresentação se afigure a alguns como demasiado rósea ou mesmo irrealista. Do quadro emana, de fato, uma aura de otimismo. Esta imagem não foi artificialmente inventada. Os dados colhidos pela pesquisa do CERIS são a base da descrição acima. 67. Mesmo que nem todos os presbíteros vivenciem esse clima de maior confiança e otimismo, mesmo que existam divergências, insatisfações e distanciamentos, e que em alguns lugares a realidade possa ser o oposto da que aflorou aqui, não se pode negar que a Igreja está caminhando. bispos, presbíteros e demais ministros crescem na unidade e na certeza de sua vocação própria junto ao Povo de Deus. Trata-se de um dom do Espírito. É preciso rezar para que ele se estenda a todos os presbíteros do Brasil, para a edificação da Igreja. 68. Ao mesmo tempo, talvez certos aspectos da vida e do ministério presbiteral hoje não tenham sido suficientemente explicitados. Tampouco aparecem aqui com a carga de sentimento e de vida com que são vivenciados pelos padres. Alguns deles, porém, são fundamentais e merecem ser ressaltados. 2.2. Outros problemas fundamentais 69. O ministério do presbítero, hoje, para ser esclarecido em sua especificidade e para ser pastoralmente potenciado, há de considerar-se em sua relação com os novos ministérios. Sob essa expressão vêem apontados não só os “serviços” novos que brotam nas comunidades cristãs, especialmente nas comunidades eclesiais de base (CEBs), mas

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9também o processo em ato na Igreja do Brasil, pelo qual essa tende a passar de uma Igreja “clerical” para uma Igreja toda “ministerial”, onde os leigos assumem o seu devido papel. 70. Esses ministérios não podem ser entendidos como solução para o problema da escassez de padres ou como tentativa de minorar-lhes o excesso de trabalho. Eles são a manifestação do crescimento das comunidades cristãs enquanto tais, e de um laicato consciente na Igreja. Especialmente nas comunidades populares, urbanas ou rurais, são uma resposta aos desafios e necessidades de que as mesmas comunidades tomaram consciência. Tornam mais presente a ação da Igreja. 71. O fortalecimento e a afirmação das Comunidades Eclesiais de Base trazem conseqüências que se fazem sentir no dia-a-dia do padre. Exigem dos sacerdotes atuais um novo tipo de presença e de serviço. Mais ainda. Em sua própria vitalidade, parecem revelar certa insuficiência desta única modalidade de formação e atuação da figura do presbítero, como resposta pastoral à sede de Deus presente no povo. 72. A opção preferencial pelos pobres, a maneira nova de a Igreja comprometer-se com os oprimidos numa luta pela libertação plena do homem e pela transformação da sociedade, tem uma vertente social e política, que não se confunde com política partidária, que atinge de perto o sacerdote. Na atuação e vida das comunidades com seus sacerdotes e ministros, concretizam-se diretamente os grandes documentos programáticos da Igreja. Há um clima de tensão em muitas partes. A relação entre pastoral e política precisa ser bem mais trabalhada, para que os sacerdotes, permanecendo sacerdotes, fiéis à sua vocação específica, possam cumprir a missão que lhes cabe neste campo. 73. A devida maturação afetiva dos candidatos ao sacerdócio merece hoje atenção ainda mais acurada. Baseando-se em sua experiência espiritual e pastoral, a Igreja reafirma o celibato como uma das condições básicas para o exercício do ministério presbiteral. Ela quer que seus sacerdotes façam esta opção com inteira liberdade, consciência e alegria. Ora, exatamente nas condições da vida moderna em que deve o sacerdote exercer seu ministério, é de esperar que deva ser preparado para manter uma riqueza afetiva reservada ao serviço dos irmãos. III. Os futuros presbíteros 1. Pastoral vocacional nos últimos decênios 74. As vocações têm sido objetivo prioritário da atenção dos bispos há muitos decênios. São elas uma atividade permanente que não pode ser negligenciada, sob pena de colocar-se em risco toda a ação da Igreja. 75. Nos períodos mais recentes da pastoral vocacional, alternam-se momentos de forte atividade de interesse, de melhoria no preparo de quadros para a direção espiritual e pedagógica, e de expansão de qualificação dos seminários, com fases menos dinâmicas de atuação nos mesmos setores. De modo geral, porém, com forte apoio da Santa Sé, a linha era de preocupação prioritária com o problema vocacional. Havia talvez falhas no recrutamento, seleção e formação dos candidatos e na própria concepção organizacional e educacional dos seminários. Faltavam elementos bem formados para o trabalho. 76. A pressão exercida por modelos pedagógicos importados, sem uma adaptação à nova realidade, prejudicava a adequação da instituição às necessidades de nossa Igreja, chegando em muitos lugares a influenciar negativamente na formação. Malgrado tudo isso, a tônica era de otimismo e mesmo de certa euforia. Havia, em muitos, a esperança de a Igreja do Brasil começar, finalmente, a superar o problema, de novo apontado, da insuficiência numérica e qualitativa do clero. Pela primeira vez em nossa história – era esse o grande sonho – teríamos um clero aqui nascido, numeroso e com melhor preparo espiritual, intelectual e pastoral.

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10 77. As mudanças trazidas no processo de renovação provocaram uma inesperada queda no trabalho vocacional, invertendo mesmo, à primeira vista, as perspectivas. A Igreja não só perdeu boa parte daquela geração de sacerdotes em que depositava tanta esperança, mas passou a viver uma quase paralisia no que tange à Pastoral Vocacional. A crise dos sacerdotes e o esvaziamento dos seminários, mais do que uma indefinição de indivíduos, era a expressão de toda a complexa problemática de nossa Igreja em transição. As rupturas que se seguiram provocaram um verdadeiro choque em muitos dos que se haviam acostumado aos gráficos com curvas em ascensão. Ao mesmo tempo, contudo, abriram perspectiva de renovação que precisa ser devidamente aproveitada. 2. Situação atual 78. Passada a fase mais dura do sofrimento que o Senhor permitiu se abatesse sobre sua Igreja, inclusive para purificá-la de suas falhas, tudo indica que é chegada a hora de, com objetivo amor pastoral, refletir à luz da fé e sobre o que se passou, sobre o momento promissor ora vivido e sobre os rumos a imprimir à Pastoral Vocacional no Brasil, no futuro. 2.1. Aspectos positivos 79. Parece que a Igreja está vivendo um período vocacional promissor em quase todas as regiões do Brasil. Tanto nas dioceses como nas congregações religiosas constata-se ponderável retomada vocacional. Cresce o número dos que se apresentam como candidatos ao sacerdócio. O próprio seminário, entendido não prevalentemente como casa ou lugar e sim como instituição formadora, parece ter evoluído, adaptando-se à realidade desta Igreja que se refaz. 80. As vocações religiosas, masculinas e femininas e, em especial, as vocações aos novos ministérios também revelam notável incremento qualitativo e quantitativo. A Igreja no Brasil vive, portanto, um momento novo de otimismo. No 5° Encontro Nacional de Pastoral Vocacional, os responsáveis por esse trabalho em todo o Brasil, em preparação à 19ª Assembléia Geral da CNBB, procuraram descrever melhor este novo quadro. 81. Uma primeira constatação, nascida da apresentação dos relatórios regionais, veio confirmar o clima propício que se respira. O amadurecimento global da Igreja está propiciando condições novas, em vista de uma solução criativa e mais original para o problema crônico da falta de vocações ao presbiterato, à vida religiosa e aos ministérios no Brasil. Nossa Igreja já elaborou uma prática que, mantendo viva a conexão com as fontes da tradição católica, já não é devedora exclusiva dos modelos pastorais e organizacionais de tradição européia. Ela já se entranhou bem mais em nosso povo e em nossa cultura. 82. Sociologicamente, padres e bispos já começaram a viver em um novo lugar social que permite captar e expressar melhor sua comunhão com as comunidades vivas, com o povo, com os pobres. O surgimento dos oprimidos no campo de percepção dos “homens de Igreja” está provocando, pela ação do Espírito, uma autêntica conversão, com repercussão imediata na vida das comunidades e nas obras e estilo da Igreja. O rosto interpelador do irmão pobre, no qual se manifesta a feição do Senhor, desperta as comunidades e “chama” todo o Povo de Deus para uma atitude e prática de serviço. São de ressaltar os seguintes aspectos positivos no panorama vocacional de hoje: 83. – recuperação da sensibilidade eclesial para a urgência do problema vocacional, e crescimento do interesse por parte da hierarquia e de outros setores responsáveis; 84. – crescente integração e organização dos esforços, regional e nacional, dentro de um trabalho conjunto da CNBB-CRB e com iniciativas de ação conjunta entre as diversas congregações e dioceses, vencendo o isolacionismo, a improvisação e a concorrência.

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11Surgimento de um clima de Igreja com base numa concepção teológica da vocação, de teor mais abrangente e bem fundamentada; 85. – maior conscientização e interesse vocacional entre os jovens, como resultado de uma pastoral juvenil que se aprimora, despertando a consciência da responsabilidade cristã, suscitando uma posição mais crítica e abrindo espaço para um projeto de vida que escapa ao círculo fechado da sociedade envolvente; 86. – revitalização das comunidades paroquiais e o surgimento das CEBs, como lugar privilegiado onde se desperta a responsabilidade das próprias comunidades, em relação às necessidades e apelos da realidade vivida pelo povo, no campo religioso como em outros que demandam resposta e serviço generosos; 87. – O testemunho de leigos, religiosos, sacerdotes e bispos realmente comprometidos com os pobres: o sangue dos nossos mártires se torna semente de novas vocações; 88. – maior consciência da ação do Espírito Santo nos caminhos da Igreja. Donde decorrem: maior confiança, humildade, liberdade e, sobretudo, espírito de oração no serviço e na doação concreta; 89. – novas experiências no cultivo das vocações; reabertura de obras especializadas; reorganização de seminários e casas de formação; 90. – valorização da dimensão pastoral e maior cuidado com as pessoas nos lugares de formação; 91. – aprimoramento e maior adequação de alguns Institutos de Teologia à realidade brasileira; o surgimento de cursos teológicos abertos aos leigos; 92. – a visita do Santo Padre ao Brasil e o efeito de sua palavra sobre a juventude e sobre a Igreja. 2.2. Aspectos negativos 93. É importante não se estabelecer uma dicotomia excludente entre o positivo e o negativo. Nenhum dos dois existe em estado puro. As dimensões se mesclam colorindo a realidade. Mas podemos salientar como negativo: 94. – persistência de perplexidade e de apatia em relação à Pastoral Vocacional. A mentalidade consumista dominante na sociedade e o contratestemunho dentro da Igreja dificultam o trabalho. A reabertura de seminários é vista por alguns com desconfiança; 95. – desconhecimento quanto ao que se faz e descomprometimento em relação às responsabilidades que são de toda a Igreja e que, por isso, devem ser assumidas por todos. Em alguns lugares persiste ainda uma atitude de concorrência; 96. – insuficiente integração da Pastoral Vocacional na Pastoral de Conjunto, em especial na Pastoral de Juventude e da Família e na Pastoral que se desenvolve no cotidiano da vida paroquial, nos movimentos e nas associações de Igreja. O desconhecimento mútuo leva a trabalhos e objetivos paralelos, por vezes conflitantes; 97. – desarticulação entre vários níveis e organismos eclesiásticos. Em alguns lugares o isolamento marca a Pastoral Vocacional feita dentro e fora dos seminários; 98. – deficiência da seleção dos candidatos por falta de critérios comuns a toda a Igreja, por incompetência de formadores, muitas vezes improvisados, ou por deficiência de meios e ausência de especialistas; 99. – carência de linhas pedagógicas comuns e definidas para a formação, e descontinuidade no processo de acompanhamento dos candidatos; 100. – formação e modelos pedagógico-pastorais não correspondentes à heterogeneidade humana, cultural e religiosa, seja dos candidatos, seja das comunidades e Igreja locais; 101. – metodologias e concepções teológicas e pedagógicas que não respondem adequadamente ao que a Igreja do Brasil precisa. Em alguns casos, a reabertura de seminários corresponde a uma tentativa de restauração do antigo, mais do que a criação de “um lugar pedagógico” onde a vocação possa encontrar condições adequadas para um crescimento orgânico e integrado. No outro extremo, situam-se atitudes e pseudo-soluções do tipo “deixar correr”. Ambas carecem de embasamento pedagógico e pastoral; 102. – recurso ainda muito acentuado e, às vezes, irrefletido a vocações vindas do exterior, como solução para o doloroso problema da falta de sacerdotes;

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12103. – dificuldade em tornar os seminários um lugar onde as vocações “populares” possam sentir-se acolhidas, e encontrar um tipo de formação que não as torne alheias ao meio de onde procedem. Aqui se situa o problema ainda não enfrentado do tipo de formação intelectual e pastoral a ser dada ao padre brasileiro; 104. – falta de articulação na passagem do seminário menor para o maior, dos movimentos juvenis às casas de formação e, ainda, do período final dos estudos e preparação à inserção definitiva no presbitério. 105. Há, sem dúvida, o perigo de reincidência em erros educacionais e pastorais do passado, se nos deixarmos levar pela euforia de ver os seminários novamente cheios de adolescentes. A têmpera de fé e de maturidade humana, que se pede hoje ao presbítero, exige uma contínua revisão pedagógica em nossas instituições. O despreparo intelectual e espiritual de muitos é grave problema posto à argúcia e dedicação dos formadores. 2.3. Algumas constantes que merecem atenção Para completar esta visão panorâmica, convém levantar ainda as seguintes constantes: 106. – reflexão teológica sobre os ministérios na Igreja, numa visão eclesiológica compatível com a experiência efetivamente vivida pela Igreja do Brasil: as CEBs, os novos ministérios, a visão missionária, o projeto das Igrejas irmãs, o novo modo de ser bispo e ser padre como serviço à comunidade, o repensamento do sacerdócio hierárquico em uma Igreja toda ela ministerial, os compromissos e tarefas novas que decorrem da opção preferencial pelos pobres; 107. – preocupação com o homem, a cultura e a sociedade brasileiras: atenção especial aos próprios valores; cultivo das vocações “nativas” a partir de uma crítica do modo como a Igreja está presente em nossa realidade; análise sincera do significado da dependência das Igrejas de outros países no que toca aos ministérios; atenção aos ambientes humanos e às regiões vocacionalmente marginalizadas; 108. – novas modalidades de formação, vida em pequenos grupos, possivelmente mais próximos à realidade do povo, dos jovens e das famílias; inserção orgânica na vida das comunidades e na atividade pastoral; atendimento e acompanhamento fora dos seminários; 109. – presença feminina nos lugares de formação, aproximação da vida do seminário à vida real, sempre dentro de exigências e compromissos que irão decorrer do grau de adesão e de maturidade vocacional do candidato; 110. – atenção à formação humana e afetiva com vistas a uma opção livre e realizadora do celibato; clima de oração conscientemente cultivada ao longo de todo o processo de formação; ascese e renúncia sadiamente assumidas; 111. – necessidade premente de cursos especializados e de órgãos para assessoria e acompanhamento do trabalho educacional feito nos seminários ou fora deles, seja no campo da espiritualidade e da pastoral, seja no que toca à esfera psico-pedagógica; 112. – necessidade de maior cuidado no aprimoramento dos institutos de formação eclesiástica, de modo a garantir tanto um bom nível nos estudos quanto sua devida adequação às diversas situações do País, e às necessidades pastorais da Igreja; 113. – exigência de sérios esforços, por parte da Igreja, para criar um ou outro centro avançado de estudos teológicos e pastorais, condizente com o progresso observado em quase todos os setores das ciências no Brasil. 114. O percurso até aqui realizado propôs um conjunto de problemas e de perspectivas que se inserem em complexo fenômeno histórico-sociológico. É fácil notar que o texto se detém mais no nível da descrição dos fatos, embora insinuando uma ou outra pista para a análise sociológica e a compreensão psico-social. Do ponto de vista teológico supõe-se e indica-se, de forma mais definida, uma série de elementos que devem agora ser aprofundados. II PARTE: REFLEXÃO TEOLÓGICA Introdução

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13 115. A análise da realidade nos propôs um conjunto de problemas e desafios que apelam para uma ação eficaz. A ação, contudo, para não cair no imediatismo nem em falsas soluções, precisa de uma visão mais ampla, que lhe forneça critérios e objetivos. Esta visão nos é dada pela reflexão à luz da fé, por um esforço de discernimento crítico inspirado na Palavra de Deus. 116. A consciência da Igreja aponta hoje na direção de uma redescoberta do caráter de serviço que se realiza através da multiplicidade de ministérios. Neste contexto, o ministério presbiteral reencontra, mais efetivamente, sua significação específica e novas perspectivas se abrem para a Pastoral Vocacional. 1. Ministério de Cristo, ministério da Igreja 1.1. Continuação da missão de Cristo 117. A missão da Igreja vem de Cristo. Mais que isso, ela continua a própria missão do Cristo. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21)2. “Quem vos recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe aquele que me enviou” (Mt 10,40)3. 118. Jesus descreve sua missão como serviço: “Estou no meio de vós como aquele que serve!” (Lc 22,27)4; “O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida...” (Mt 20,28; Mc 10,45)5. Para tornar mais claro o sentido de sua atuação, ele fez o gesto simbólico do lava-pés (cf. Jo 13,4-16)6. Toda a sua vida aparece aos olhos dos primeiros cristãos e particularmente do apóstolo Paulo como um gesto de serviço, em que o Senhor assume a condição de escravo (cf. Fl 2,6-8)7. 119. A palavra serviço corresponde, em latim, a ministério, e, em grego, diakonia. A reflexão teológica procurará compreender, à luz da missão de Jesus e da convocação dos Doze, entendidas ambas como serviço, qual é o ministério da Igreja no mundo de hoje e como, concretamente, ela pode e deve organizar-se em diversos ministérios confiados aos cristãos. 120. Embora a referência fundamental para compreender a missão da Igreja seja sempre a atuação de Jesus de Nazaré, não pode aquela repetir simplesmente a atuação de Jesus no seu tempo. Precisa de uma fidelidade viva, que torne presente hoje o mesmo Espírito de Cristo. Garantia dessa fidelidade é a própria ação do Espírito Santo. 121. Sacramento de Cristo vivificada pelo seu Espírito (cf. LG 3 e 4)8, a Igreja tem como missão “anunciar o Reino de Cristo e de Deus... estabelecê-lo em todos os povos... constituir na terra o germe e o início deste Reino, enquanto anela pelo Reino plenamente realizado” (LG 5 e 6)9. Este é o “mistério” da vontade de Deus, seu desígnio ou plano salvífico. 1.2. Diversos aspectos da missão da Igreja... 122. A riqueza de conteúdo e as muitas faces da missão da Igreja podem ser descritas de diversas maneiras. O Concílio Vaticano II usou freqüentemente uma descrição que tem raízes no Antigo Testamento e resume a missão em três aspectos: PROFÉTICO, SACERDOTAL E RÉGIO (cf. LG 31,34,35 e 36; AA 10)10. 123. Pode-se também descrever a missão da Igreja na linguagem do Novo Testamento. Hoje em dia, muitos cristãos, católicos ou não, o fazem falando em: • TESTEMUNHO (ou, segundo uma fórmula mais próxima do grego, MARTYRIA) • COMUNHÃO (ou KOINONIA) • SERVIÇO (ou DIAKONIA).

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14124. Trata se não tanto de três tarefas concretas e separadas, quanto de três aspectos ou dimensões da atuação dos cristãos, a qual deve ser inseparavelmente testemunho de fé (pela Palavra e pela vida), edificação da comunhão com Deus e com os irmãos, e serviço à comunidade eclesial e ao mundo. 1.3. ... que convergem na evangelização 125. Recentemente, o desejo de renovação e a busca do essencial valorizaram uma palavra para, sozinha, resumir toda a missão da Igreja: EVANGELIZAÇÃO. 126. O Sínodo dos bispos de 1974 e a Exortação “Evangelii Nuntiandi” (1975) do Papa Paulo VI colocaram esta perspectiva no centro da atenção da Igreja. A “Evangelização” não é mais considerada unicamente como o aspecto inicial da missão, primeiro contato do Evangelho com as culturas, mas como o conjunto da ação que a Igreja realiza para anunciar o Evangelho, viver e celebrar a fé, transformar o mundo e edificar o Reino (cf. EN 17-39; Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil, 1979-1982, n.8-14)11. 127. O Sínodo dos bispos de 1971 contribuiu especialmente para a tomada de consciência de que “a ação pela justiça e a participação na transformação do mundo nos aparecem claramente como uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho, que é o mesmo que dizer: da missão da Igreja”. Este mesmo Sínodo já destaca a conexão entre evangelização e libertação integral do homem, que a “Evangelii Nuntiandi” enfatizará depois (cf. EN 31)12. 128. A Conferência de Puebla explicitou os caminhos e os objetivos da Evangelização em duas expressões-chaves: “Libertação” e “Comunhão e Participação”. Aponta assim o ideal do Reino, para o qual a humanidade caminha (comunhão dos homens com Deus e entre si), indicando ao mesmo tempo que é pelo “serviço” ativo, pela participação consciente e responsável, que o cristão pode e deve edificar a sociedade e a Igreja segundo o plano de Deus. 1.4. Objetivos da pastoral no Brasil 129. A Igreja do Brasil, através de sua Conferência Nacional dos bispos, procurou expressar sua compreensão da missão no objetivo geral do Plano de Pastoral de Conjunto aprovado para 1966/1970 e continuado até 1978, depois de atualizado em 1974: “Levar todos os homens à plena comunhão de vida com o Pai e entre si, em Jesus Cristo, no dom do Espírito Santo, pela mediação visível da Igreja”. 130. Em 1979, após Puebla com a “opção pelos pobres”, a CNBB enunciou assim o objetivo geral de sua ação pastoral: “Evangelizar a sociedade brasileira em transformação, a partir da opção pelos pobres, pela libertação integral do homem, numa crescente participação e comunhão, visando a construção de uma sociedade fraterna, anunciando assim o Reino Definitivo”. 1.5. Ideais inspiradores de vocações 131. Semelhantes formulações não são mero enunciado impessoal da reflexão teológica ou do planejamento pastoral. Elas exprimem um ideal capaz de suscitar nas pessoas, e especialmente nos jovens, a vocação de assumir uma responsabilidade ministerial e até a consagração total ao serviço da Igreja. Palavras como evangelização, testemunho, comunhão, serviço, participação, justiça, libertação, Reino... devem ressoar com tal força e conteúdo que possam impelir o cristão a consagrar sua vida aos ideais que apresentam. 132. Nenhuma dessas fórmulas, porém, esgota a força inteira nem toda a amplitude da missão cristã. Cada qual tem seu valor e atrativo próprio que repercutirão, de modo

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15particular, nesta ou naquela pessoa. Todas representam aspectos complementares da missão da Igreja, de modo que somente juntas podem expressá-la plena e fielmente. 2. Uma Igreja ministerial 2.1. Toda Igreja em estado de missão 133. Para ser autenticamente evangélica e continuar a missão de Cristo, a Igreja deve estar inteiramente voltada para o serviço. Há de ser toda ministerial, o que implica fidelidade total a Cristo e, em Cristo, ao homem e à sua história. Implica, outrossim, que uma atitude de serviço humilde, como a de Cristo, deve permear toda a atuação da Igreja e dos cristãos. Significa que todos na Igreja são chamados a assumir um serviço, um ministério. A distribuição dos serviços ou ministérios na Igreja constitui um teste fundamental e condição essencial de sua fidelidade ao Evangelho. 2.2. Todos responsáveis 134. Um cristão dos tempos antigos, seja da época dos apóstolos e dos primeiros mártires, seja de alguns séculos depois, ter-se-ia admirado de que alguém pudesse duvidar do fato, para ele evidente, de que todos os cristãos são chamados a participar ativamente da missão da Igreja. O Batismo e a Crisma conferem não somente direitos, mas também deveres e responsabilidades, vale dizer: uma missão. Essa verdade foi reafirmada, com muita ênfase, pelo Concílio Vaticano II13. 2.3. O testemunho do Novo Testamento 135. Uma atenção maior aos textos do Novo Testamento ajudar-nos-á a perceber que a missão confiada por Jesus aos Doze e aos seus discípulos imediatos continua, embora de forma diferenciada, como missão de todos os discípulos, de todos os cristãos. 136. Mateus, por exemplo, diz que Jesus confiou sua missão aos “discípulos” (Mt 28,16)14 e que esta missão consiste em tornar discípulos todos os povos (Mt 28,19)15, isto é, ampliar universalmente a comunidade da Igreja em que todos são irmãos, e na qual não há outro Mestre senão Cristo (Mt 23,8)16. Este promete estar conosco até o fim dos tempos (Mt 28,20)17, mesmo onde somente dois ou três estiverem reunidos em seu nome (Mt 18,20)18. 137. O poder espiritual é confiado à Igreja (Mt 18,18)19, especialmente a Pedro (Mt 16,19)20 e aos Doze (Mt 28,16-20)21. O próprio Pedro não é apenas o depositário de uma missão específica, o ministério único de “Fundamento” e de “Pastor Universal” da Igreja (Mt 16,18; cf. Jo 21,15-17)22. Ao mesmo tempo é “protótipo” do discípulo, modelo que o cristão deve ter diante dos olhos, para imitar na fé (Mt 4,18-20; 16,16)23, e para evitar as fraquezas que a todos ameaçam, tanto quanto a Pedro (cf. Mt 14,31; 16,22-23; 26,69-75)24. 2.4. Cada qual segundo o próprio dom... 138. Sob outras formas, esta doutrina está presente em todos os Evangelhos como também nos demais livros do Novo Testamento. Segundo os Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo é doado não somente aos Doze Apóstolos, mas a todos os discípulos (cf. At 2,1)25. Bem consciente de sua autoridade apostólica, Paulo não só não desconhece, mas valoriza a responsabilidade de toda a comunidade, chamada a decidir, julgar, escolher (cf. 1Cor 5,4; 6,3; 11,13; 1Ts 5,21; etc.)26 e participar ativamente da edificação do corpo de Cristo, cada qual segundo o próprio dom (1 Cor 12,7)27. Atesta especialmente a variedade dos carismas e dos ministérios, com que são edificadas as primeiras comunidades. 139. Diversidade que não anula a ação de conjunto, mas, ao contrário, a organiza: “Ele (Cristo) é que concedeu a uns ser apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a

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16outros pastores e mestres, para aperfeiçoar os santos em vista do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus” (Ef 4,11-12)28. 140. Insistência ainda mais forte sobre a fraternidade cristã e a responsabilidade comum encontra-se na tradição Joanina (Evangelho e Cartas de São João, Apocalipse). É a comunidade que examina os carismas (1Jo 4,1)29 e vigia contra os falsos mestres (2Jo 10)30. 141. Doutrina semelhante à de São Paulo se encontra na tradição de Pedro, como por exemplo no belo texto de 1Pd 4,10-11: “Todos vós, conforme o dom que cada um recebeu de Deus, consagrai-vos ao serviço uns dos outros, como bons dispenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, faça-o como se pronunciasse o oráculo de Deus. Alguém presta um serviço? Faça-o com a capacidade que Deus lhe concedeu, a fim de que em tudo seja Deus glorificado por Jesus Cristo, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém”. 2.5. ... sem discriminações 142. Essa atitude que valoriza a responsabilidade de todos é confirmada pelo empenho com que a comunidade cristã luta contra as discriminações. 143. Numa sociedade cheia de conflitos e injustiças, a Igreja não faz distinção de idade, de sexo, de nação, nem de classe social. Empenha no seu ministério tanto os livres como os escravos (1Cor 7,22-23)31, os judeus como os gregos (Gl 3,28; 6,15)32, os anciãos (At 15,2; 20,17)33 como os jovens (At 5,6; 1Tm 5,1; 1Jo 2,13)34, os homens como as mulheres. 144. É bem verdade que a tradição judaica impõe, nas comunidades eclesiais, fortes restrições à mulher, o que levou o próprio Paulo a buscar soluções de compromisso entre os seus princípios (Gl 3,28; 1Cor 11,5)35 e a paz na Igreja (1Cor 11,16; 14,34)36. Paulo, contudo, é testemunha indiscutível da participação ativa das mulheres cristãs na evangelização e edificação da Igreja (cf. Rm 16,1-15; 1Cor 16,19; Cl 4,15)37. Lucas mostra, como fundamento desta conduta das Igrejas paulinas, a própria atitude de Jesus para com as mulheres (cf. Lc 8,1-3; 10,38-42)38. Elas são as primeiras a anunciarem a Ressurreição (Lc 24,1-11)39. 2.6. Sacramentos e missão 145. A missão do cristão, suscitada pela palavra de Deus, é selada pelos sacramentos da Igreja. Pelo batismo, o cristão é incorporado ao corpo de Cristo (cf. LG 7 e 11)40. Participa de sua própria vida, comungando com ele e a ele se conformando. Do mesmo Cristo, pelo Espírito, brotam dons e ministérios, através dos quais os diversos membros de seu corpo (isto é, nós que formamos a Igreja) nos prestamos mutuamente serviço (cf. todo o n.7 da "Lumen Gentium"). 146. A própria vivência dos sacramentos revela e desenvolve aquele caráter que está na base do sacerdócio comum dos fiéis (LG 10-11)41. Por este sacerdócio comum, os fiéis concorrem para a oblação da Eucaristia, exercendo-o na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, pelo testemunho de uma vida santa, pela abnegação e pela caridade ativa (LG 10b)42. 147. Pelo dom do Espírito Santo, recebido em plenitude na Crisma, o povo fiel se torna também capaz de testemunhar e guardar a verdadeira fé. Por este senso de fé, excitado e sustentado pelo Espírito Santo da verdade, o Povo de Deus, sob a direção do Sagrado Magistério, a quem fielmente respeita, não já recebe a palavra dos homens, mas a verdadeira palavra de Deus (cf. 1Ts 2,13)43; apega-se indefectivelmente à fé uma vez por sempre transmitida aos santos (cf. Jd 3)44; e, com reto juízo, a penetra mais

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17profundamente, e mais plenamente a aplica na vida (LG 12a)45. Todos os fiéis, portanto, participam a seu modo da missão do povo cristão na Igreja e no mundo (LG 31)46. 2.7. Conseqüências para as comunidades 148. Uma renovada consciência dessas verdades, que o Concílio – à luz da Palavra de Deus – nos propõe de novo, pode ajudar as nossas Igrejas locais a se tornarem, em seus diversos níveis, verdadeiras comunidades, autênticos lugares de comunhão e participação. 149. É a proposta de Puebla, que convém explicitar numa perspectiva prática e pedagógica, sob a forma de objetivos ou metas: 150. a) cuidar que, em suas manifestações, especialmente na liturgia, e em suas estruturas visíveis, a Igreja se revele verdadeiramente comunidade fraterna, onde as diferentes funções não escondam a igual dignidade de todos os fiéis nem desestimulem a participação ativa de todos (cf. LG 32c; Puebla 125, 925 etc.)47; 151. b) estimular, no interior das estruturas eclesiais mais amplas e complexas, a formação de comunidades menores, de dimensão humana, de participação mais direta e pessoal; empenhar-se para que as comunidades eclesiais de base e os diversos grupos e movimentos particulares se articulem ou se integrem convenientemente na paróquia e na diocese (cf. Puebla 640-643; 648-650)48; 152. c) fazer com que todos os fiéis, diretamente ou através de representantes eleitos, participem quanto possível não só da execução, mas também do planejamento e das decisões relativas à vida eclesial e à ação pastoral; para isso podem promover-se periodicamente assembléias e sínodos do Povo de Deus, devendo-se manter, em todos os níveis, conselhos pastorais, como recomenda o Concílio (CD 27; AA 26)49 e Puebla o reafirma (Puebla 645)50, inclusive através de explícito compromisso dos bispos (Puebla 704)51; 153. d) oferecer aos fiéis oportunidades reais tanto de informação sobre os assuntos da vida eclesial quanto da formação cristã, sem a qual dificilmente poderão participar consciente e responsavelmente na comunidade. É necessário, portanto, um esforço muito amplo e constante de evangelização de jovens e adultos, que lhes proporcione o conhecimento da palavra de Deus a que têm direito pelo Batismo, e que os ajude a obter discernimento crítico de que precisam em face do perigo de ideologias que tentem reduzir ou instrumentalizar a fé (cf. Puebla 98; 1197)52; 154. e) como corpo vivo, a Igreja necessita duma opinião pública para alimentar o diálogo entre os seus membros, condição do progresso no seu pensamento e ação. ‘... com a ausência da opinião pública, faltar-lhe-ia qualquer coisa de vital, e a culpa recairia tanto sobre os Pastores como sobre os leigos’ (Communio et Progressio, 115)53; 155. f) ressaltar o caráter de serviço ao bem comum, que deve caracterizar toda função exercida na Igreja de Cristo, inclusive a da autoridade (cf. Mc 10, 42ss)54; ressaltar igualmente o caráter colegial dos ministérios, evitando as tentações de personalismo e autoritarismo, que dividem a comunidade em lugar de edificá-la; 156. g) fazer com que a comunidade eclesial participe do empenho para despertar e promover a disposição em atender à Vocação de Deus e da Igreja, particularmente ao chamado para a dedicação ao ministério pastoral ou à consagração religiosa (cf. mais adiante). 3. Diversidade de ministérios 3.1. ... em vista do bem comum

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18157. O Espírito Santo santifica e conduz o Povo de Deus, repartindo seus dons a cada um como lhe apraz (1Cor 12,11)55. O Concílio Vaticano II explicita que as graças do Espírito Santo, mesmo as graças especiais, são distribuídas entre os fiéis de qualquer condição (leigos, religiosos ou ministros ordenados), e acrescentando Por elas torna-os aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja, segundo estas palavras: A cada um é dada a manifestação do Espírito para utilidade comum (1Cor 12,7)56. Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja (LG 12b)57. 158. No Brasil, nos últimos anos, assiste-se com alegria à multiplicação desses dons, particularmente dos mais simples e mais amplamente difundidos. Esses dons existiram sempre. Recentemente, contudo, graças ao impulso vindo do Concílio e do particular momento histórico, estão sendo acolhidos com maior consideração e reconhecidos em seu justo valor. Acima de tudo estão sendo postos a serviço da missão da Igreja e aceitos pelo que realmente são: autênticos ministérios.58

3.2. Diversos ministérios Na organização atual dos ministérios na Igreja, pode se distinguir: 159. a) serviços prestados espontânea e temporariamente à comunidade cristã por fiéis movidos pela graça de Deus ou por dons especiais (carismas) do Espírito Santo. São ministérios em sentido amplo; 160. b) ministérios confiados a leigos através de mandato ou simples reconhecimento de fato; 161. c) ministérios instituídos, estabelecidos pela Carta Apostólica Ministeria Quedam (15/8/1972), que reforma a disciplina das até então chamadas ordens menores; para a Igreja Latina, tais ministérios instituídos são agora somente os de Leitor e Acólito. Nada impede, contudo, que as Conferências Episcopais solicitem outros ministérios à Sé Apostólica, quando julgarem necessária ou muito útil sua instituição na própria região; os ministérios instituídos podem ser conferidos tanto a leigos quanto aos candidatos ao sacramento da Ordem; 162. d) ministérios ordenados conferidos pelo sacramento da Ordem, nos seus três graus: diaconato, presbiterato, episcopado. 3.3. Espaço para a criatividade 163. O Papa Paulo VI escreveu: “Vemos uma legião de pastores, religiosos e leigos, apaixonados pela sua missão evangelizadora, a procurarem moldes mais adaptados para anunciar eficazmente o Evangelho; e encorajamos a abertura que, nesta linha e com esta preocupação, a Igreja demonstra ter alcançado nos dias de hoje. Abertura para a reflexão, em primeiro lugar, e, depois, abertura para ministérios eclesiais susceptíveis de rejuvenescer e de reforçar o seu próprio dinamismo evangelizador” (EN 73)59. 164. Nessa perspectiva, há espaço suficiente para muita criatividade e descoberta de novas formas de evangelização e organização dos ministérios. Desde já, contudo, à luz das experiências recentes e das tradições mais constantes da vida da Igreja, pode-se estabelecer alguns critérios ou diretrizes para o bom desempenho dos ministérios confiados aos leigos nas Igrejas locais. 3.4. Critérios para novos ministérios

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19165. O critério fundamental da organização dos ministérios é que se voltem para estimular a vida da comunidade cristã, com a participação de todos. Pode desdobrar-se nas seguintes indicações: 166. 1° – os ministérios devem corresponder a uma necessidade da comunidade eclesial e de sua missão no mundo, especialmente da evangelização; devem, portanto, brotar da vida da comunidade e de sua atenção aos problemas concretos, reais, nos quais se percebe um apelo de Deus para agir; 167. 2º – os ministérios, além de sua função na construção e vitalização interna da Igreja, devem ser pensados como um serviço voltado para o mundo, para o anúncio missionário do Evangelho e a transformação da sociedade; 168. 3º – os ministérios, no seu conjunto, devem expressar as diversas dimensões de uma comunidade eclesial: nem somente ministérios litúrgicos, nem apenas serviços voltados para a ação social; além disso, é necessário que todo ministério tenha uma dimensão consciente de evangelização e não se reduza a mera execução de tarefas; 169. 4º – os ministérios devem constituir, também para a pessoa dos seus portadores (os ministros), estímulo de crescimento na fé e de aprofundamento de sua comunhão fraterna na Igreja; todavia nunca deve o ministério constituir-se em honraria ou promoção pessoal, sendo inconcebível – segundo firme tradição teológica – que um ministério esteja desligado de uma comunidade ou ambiente determinado; 170. 5º – os novos ministérios não devem ser institucionalizados e enquadrados em normas rígidas, antes de conveniente período de experiência; por outro lado, a autoridade competente deve definir claramente os limites e responsabilidades de todo ministério que implique a administração de sacramentos, como por exemplo, os ministros extraordinários da Eucaristia, do Batismo, e as testemunhas qualificadas do Matrimônio; 171. 6º – quando existirem as condições objetivas (definição de tarefas, necessidades etc.) e subjetivas (idoneidade e preparação do candidato) para o exercício constante de um ministério, procure-se dar-lhe reconhecimento público, inclusive através de rito apropriado; cuidando-se, porém, de não clericalizá-lo; 172. 7°– como condição para confiar-lhe algum ministério, exija-se do candidato preparação ou treinamento adequado e a aceitação de submeter-se periodicamente a uma avaliação por parte da comunidade e daqueles que compartilhem o mesmo ministério; 173. 8º – a comunidade participe na escolha ou eleição dos ministros, bem como na avaliação de seu trabalho, dentro de um planejamento orgânico das atividades pastorais; 174. 9º – não se confiem a nenhum ministro individualmente funções que possam ser assumidas coletiva ou rotativamente por uma equipe ou, de preferência, pela comunidade inteira. Evite-se todo monopólio do ministério nas mãos de um só dirigente ou de um pequeno grupo; procure-se, pelo contrário, multiplicar as formas de participação ativa de todos e garantir a justa autonomia de decisão dos grupos menores60; 175. 10° – para evitar o perigo do monopólio e atender melhor às necessidades da comunidade, correspondendo à idoneidade e disponibilidade dos ministros não ordenados (excluídos os ministérios instituídos), seu ministério não seja permanente, mas tenha caráter temporário. 176. Não se trata de indicar, de forma detalhada, qualquer distribuição de tarefas segundo o sexo, idade, condição social ou cultural61. Apenas se reafirma o princípio de que se deve evitar toda discriminação e de que os ministérios devem ser confiados a cristãos que, dotados das qualidades ou carismas adequados, para tanto se revelem idôneos. Tarefas pastorais ou ministérios poderão também ser confiados, coletivamente, a um casal, equipe ou grupo dotado de adequada coordenação ou estrutura. 177. Neste contexto, cabe uma palavra especial sobre os presbíteros que por livre opção e, muitas vezes, não sem sofrimento e vacilação, pediram à Igreja a redução ao estado laical. Estes por sua formação espiritual e teológica, pelos anos dedicados ao ministério e à Igreja, podem e devem pôr seus dons a serviço dos irmãos, dentro de sua nova condição na Igreja.

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20178. Especial atenção deve ser dada, em nossa sociedade, ao exercício do ministério nos meios mais pobres, a fim de que dificuldades materiais não impeçam a atuação pastoral exatamente onde, muitas vezes, é maior a riqueza espiritual (cf. Tg 2,5; 2Cor 8,14; Mt 11,25)62. Em qualquer caso, a comunidade deve prover o justo sustento de quem se dedicar integralmente a um ministério pastoral (cf. 1Cor 9,7-14; Mt 10,10; 1Tm 5,17-18)63. 4. Ministério presbiteral 4.1. O sacramento da Ordem 179. Entre os diversos ministérios da Igreja, sobressai o ministério hierárquico, de instituição divina. Ele é conferido através do sacramento da Ordem. (Ordem indicava, na sua origem, a categoria de pessoas que detinham autoridade). 180. Desde os tempos apostólicos, o ministério hierárquico ou ordenado se diversifica em três graus: diaconato, presbiterato e episcopado. O diaconato, que por muito tempo foi considerado apenas um grau de preparação ao presbiterato, após decisão do Concílio Vaticano II, está renascendo, também entre nós, como um ministério permanente, de origem apostólica, fruto de uma vocação especial. O episcopado representa a plenitude da Ordem. O diaconato e o presbiterato, sem perder sua própria fisionomia, estão relacionados ao episcopado e devem exercer-se em colaboração com ele (cf. LG 28)64. 181. O ministério dos bispos, presbíteros e diáconos é uma participação especial no sacerdócio de Cristo, participação que difere essencialmente do sacerdócio comum dos fiéis (LG 10)65. Com efeito, Cristo – por especial efusão do Espírito no sacramento da Ordem – torna os Apóstolos, os bispos e seus colaboradores mais próximos participantes de sua consagração e missão (LG 28)66, conferindo-lhes aquela autoridade e poder sagrado, com que o próprio Cristo edifica, santifica e governa seu corpo (PO 2)67. Em outras palavras, com o Concílio, pode-se dizer que bispos e presbíteros se configuram com o Cristo Cabeça e estão a serviço do Cristo, na sua função de Chefe da Igreja. 182. O ministério ordenado ou hierárquico, portanto, deve ser compreendido a partir da própria consagração e missão de Cristo. Cristo, cuja vida é servir ao Pai e, por amor a este, servir aos homens, está revestido da autoridade do Pai que não deriva nem dos títulos, nem das instituições do Antigo Testamento. É profeta, sacerdote e rei, não como os antigos o eram. É o Verbo de Deus encarnado. Como Pessoa Divina, que assume a condição histórica humana, une a Deus toda a realidade, a vida e a morte dos homens (Sacerdote). Tem e pronuncia em sua palavra a eterna Palavra irrevogável do Pai, que salva (Profeta). Com dedicação sem igual, conduz a todos pelos caminhos do desígnio do Pai, plenificando sua doação na auto-entrega total (Pastor-Rei). Em sua autoridade divina, inaugura o Reino escatológico, constituindo-se Salvador dos que crêem e Juiz dos que não aceitam e não realizam sua palavra. 4.2. Missão de Cristo nos Doze e em seus sucessores 183. A Instituição dos Doze é elemento constitutivo na fundação da Igreja como sacramento-sinal. Nos Doze e seus sucessores, está presente, em forma de serviço, a própria autoridade de Cristo, recebida do Pai. Como o Pai me enviou, assim eu vos envio (Jo 20,21)68. 184. Após a Páscoa, os Apóstolos irão pelo mundo pregar o Evangelho da reconciliação, da paz e da nova fraternidade. Sendo apóstolos, consideram-se embaixadores em nome de Cristo, sabendo que é Deus mesmo que exorta por seu intermédio (2Cor 5,20; cf. Rm 1,1; 1Cor 1,1; Gl 1,1 etc.)69. 185. Foram chamados para que ficassem com ele, mas também para serem enviados para pregar (Mc 3,14)70. De modo especial e inconfundível, é a estes apóstolos, e àqueles que depois foram por eles assumidos no mesmo ministério, que se aplica a

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21palavra incisiva do Senhor: ‘Quem vos recebe, a mim recebe... Quem vos rejeita a mim rejeita’ (Mt 10, 40-42 e Lc 10,16; cf. Mt 28,18-20)71. 186. Por mais que se saiba revestido de autoridade divina, o apóstolo não pode perder a íntima conexão com a tradição da Igreja (o que recebi, vos transmiti – 1Cor 15,3-8)72, nem sua comunhão com todo o Colégio Apostólico, cuja unidade é critério decisivo da pregação autêntica (At 15,7.; 9,27; Gl 2,1-7 etc.)73. Esta missão divina, confiada por Cristo aos Apóstolos, deverá durar até o fim dos séculos, pois o Evangelho, que devem transmitir, é para a Igreja o princípio de toda a sua vida através dos tempos. Por isso os Apóstolos nesta sociedade hierarquicamente organizada cuidaram de constituir seu sucessores. 187. De fato, não só se rodearam de vários colaboradores no ministério, mas para que a missão a eles confiada tivesse continuidade após sua morte, os Apóstolos, quase por testamento, incumbiram seus cooperadores imediatos de terminar e consolidar a obra por eles começada, recomendando-lhes que atendessem a toda a sociedade, na qual o Espírito Santo os havia colocado para apascentar a Igreja de Deus. Constituíram assim os seus sucessores e dispuseram que, por morte destes, fosse confiado o seu ministério a outros homens experimentados... (LG 20)74. 188. Cristo continua agindo de modo visível através de seus ministros consagrados. É ele que, na sucessão apostólica e pela comunhão hierárquica, guarda e garante a identidade de sua Igreja, edificando-a em situações históricas, cada vez novas, o Povo de Deus, o seu Corpo, o templo do Espírito Santo. Nesta dinâmica missionária para um futuro ainda desconhecido, é pelo ministério dos bispos e presbíteros que o Espírito guarda a Igreja sempre fiel ao Evangelho de Cristo e ao mesmo tempo a conduz pela aventura da História (cf. PO 1)75. 189. durante mesmo a vida dos apóstolos. entre os muitos carismas e serviços, há os que presidem no Senhor (cf. 1Ts 5,12)76, os que dirigem e admoestam. Na medida em que os Apóstolos já não acompanham pessoalmente as Igrejas, deixam sucessores estabelecidos nas comunidades. Neles a semente apostólica, que vem ininterrupta desde o começo (LG 20)77, permanece sempre na Igreja, através do exercício de sua autoridade, que é a própria autoridade do Cristo. 190. A autoridade do ministério hierárquico na Igreja é de outra natureza que o poder humano, social e político. O próprio Cristo, num contexto em que seus discípulos se mostravam fascinados pelo poder humano (cf. Mc 9,33-37; Mt 18,1-5; Lc 9,46-48)78, fez questão de marcar pela dimensão de serviço, tanto o objetivo de sua autoridade quanto o seu modo de exercício. 191. Profundamente significativo também é que, ao introduzir a narrativa da Última Ceia, onde a tradição cristã viu o momento da instituição do ministério ordenado, tenha o Evangelista se preocupado em recordar o preceito incisivo de Jesus: ‘Quanto a vós, o maior torne-se como o mais jovem, e o que governa como aquele que serve... Pois eu estou no meio de vós como aquele que serve’ (Lc 22,26-27)79. 192. Trata-se, portanto, de uma autoridade e de um poder que devem ser concebidos e exercidos de modo bem diferente dos poderes do mundo. Puebla convida as comunidades eclesiais a mostrarem sua originalidade cristã no exercício deste poder sagrado segundo o espírito do Bom Pastor (cf. Puebla 273)80. 193. É o que Pedro recomenda aos pastores em sua Primeira Carta: ‘aos presbíteros que estão entre vós, exorto eu, que sou presbítero como eles e testemunha dos sofrimentos de Cristo... Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, cuidando dele, não como por coação, mas de livre vontade como Deus o quer, nem por torpe ganância, mas por devoção, nem como senhores daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como modelos do rebanho’ (1Pd 5,1-3)81.

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22194. Por outro lado, a comunidade cristã não deve vislumbrar nisso qualquer sinal de desvalorização ou fraqueza do próprio poder de Cristo presente em seus ministros. Ao contrário, a comunidade deve ter para com eles toda a abertura e colaboração e um singular amor em virtude do cargo que exercem (1Ts 5,12)82. 4.3. A missão do presbítero 195.Os presbíteros, por sua ordenação sacramental, se configuram realmente ao Cristo Cabeça e participam de sua missão. Diz o Santo Padre, o Papa João Paulo II, aos ordenandos do Rio de Janeiro (n.4)83: “Com o rito da Sagrada Ordenação sereis introduzidos... em um novo gênero de vida que vos une ao Cristo com um vínculo original, inefável, irreversível. Não é um simples título jurídico, não consiste apenas num serviço prestado à comunidade... Trata-se de uma real e íntima transformação por que passou vosso organismo sobrenatural por obra de um sinete divino, o caráter, que vos habilita a agir in persona Christi..., instrumentos vivos de sua ação”. 196. Mas, agir “in persona Christi”, só poderá realizá-lo autenticamente quando orientado para a amizade pessoal e íntima com o próprio Cristo. Esta amizade é o segredo íntimo do ministério sacerdotal e deveria ser o motivo mais profundo que animará o padre a abraçar seu ministério específico e a permanecer-lhe fiel. O diálogo de Cristo com Pedro no encontro revelador após a ressurreição o demonstra admiravelmente: Simão Pedro, tu me amas mais do que estes?... – Sim, Senhor, tu sabes que te amo... – Apascenta os meus cordeiros. Apascenta minhas ovelhas (cf. Jo 21,15-18)84. 197. O presbítero é o primeiro evangelizador, o primeiro catequista em sua comunidade. Nenhuma outra tarefa pode eximi-lo desta missão sagrada (cf. Puebla 687)85. Na verdade o Povo de Deus reúne-se antes de mais nada pela Palavra do Deus vivo. E é principalmente através do ministério dos presbíteros, que essa Palavra chega à comunidade reunida (PO 4; LG 21 e 25)86. A evangelização é a razão de ser da Igreja e, portanto, do ministério presbiteral. 198. Os carismas e dons, que o Cristo suscita pelo Espírito Santo em sua Igreja, fazem parte do tesouro da santidade do povo de Deus. O presbítero é, em nome de Cristo, servidor da edificação plena desta multiforme santidade. Deus, que é o único Santo e Santificador, quis unir a si, como companheiros e colaboradores, os homens que servem humildemente à obra da santificação. Consagrados por Deus, participantes de modo especial do sacerdócio de Cristo, (os presbíteros em íntima união com os bispos) são ministros d'Aquele que, de modo contínuo, exerce seu ofício sacerdotal a nosso favor (PO 5)87. 199. A ação santificadora, exercida pelo presbítero, atinge sua culminância na celebração dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Nisto o papel do sacerdote permanece insubstituível. Existem tarefas e funções – como o oferecimento do sacrifício eucarístico, o perdão dos pecados, o ofício do magistério que Cristo quis ligar essencialmente ao sacerdócio, e nas quais ninguém, sem ter recebido a ordem sagrada, os pode substituir (João Paulo II, Homilia no Maracanã, n.6)88. 200. O presbítero é também, e em muitas situações, antes de tudo, o pastor. Ele imita a caridade de Cristo no meio de seu povo. Dele também se deve poder dizer: passou fazendo o bem (At 10,38)89. Como o Cristo, procura ajudar o povo – muitas vezes parecido com ovelhas sem pastor (cf. Mt 9,36)90 – a encontrar seu caminho, guiando-o para a Verdade e a Vida (cf. Jo 10,10; 14,6)91. Vive no meio do seu povo, compartilha sua vida, conhece suas necessidades e anseios. Numa palavra, com a graça de Cristo, esforça-se por ser o bom pastor que dá a vida pelo rebanho, se preciso for (Jo 10,15; 13,1)92.

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23201. O ministério de profeta, sacerdote e pastor, por sua natureza essencialmente religiosa, especifica e delimita a dimensão política da atividade dos presbíteros. Essa dimensão política põe-se em evidência, sobretudo, no contexto de uma opção solidária pelos pobres, quando os presbíteros, assumindo como Cristo, a situação concreta do povo a que servem, anunciam o Reino, denunciam o contra-Reino e se empenham na defesa dos direitos humanos. Ministros que são da unidade, os presbíteros devem despojar-se de toda ideologia e atividade político-partidária, para terem a liberdade de, como Cristo, evangelizar o político. 202. O presbítero, vitalmente inserido no Cristo Cabeça, através do exercício de suas funções profética, sacerdotal e pastoral, gera pela Palavra, pelos Sacramentos e pela Caridade a comunidade cristã; contribui para desenvolver nela a tríplice dimensão da missão de Cristo e garante sua unidade. Quando, na união com seu bispo e na comunhão com o presbitério, o presbítero convoca a comunidade, torna-se sinal visível do próprio Cristo que se situa face a face aos irmãos para convidá-los a formar com ele a família de Deus. 203. Esta convocação e esta unidade vital com Cristo Cabeça, pela mediação do presbítero, realiza-se de forma exemplar e plena na celebração eucarística, quando o corpo de Cristo é alimentado pelo Pão da Palavra e pelo Sacrifício do próprio Cristo. Esta importância do sacerdócio ordenado revela a urgência de uma nova e corajosa Pastoral Vocacional, sobretudo tendo em vista aquelas numerosas comunidades, cada vez mais amadurecidas em sua fé, que, por falta de padres, não chegam a celebrar, com a freqüência desejada, a santa Eucaristia, fonte e ponto culminante de toda vida cristã (LG 11a)93, nem contam com a atuação profética e pastoral do presbítero. 4.4. Espiritualidade do presbítero 204. As reflexões teológicas sobre o ministério presbiteral, que acabam de ser apresentadas, devem inspirar as grandes linhas da espiritualidade presbiteral. Com efeito, é no seu ser e na sua missão de ministro ordenado que o presbítero encontra o fundamento de sua espiritualidade. Pela união entre missão e espiritualidade, o presbítero imprime a sua vida uma orientação global que lhe permite interiorizar e vivenciar de maneira própria os valores evangélicos da vida cristã. O Concílio Vaticano II suprimiu a dicotomia entre ação pastoral e vida espiritual do sacerdote, indicando no próprio exercício da caridade pastoral o vínculo da perfeição sacerdotal, que leva à unidade de vida e ação (PO 14)94. A caridade pastoral torna-se assim a síntese da sua espiritualidade. 205. Para exercer esta caridade pastoral, o presbítero é atraído pela figura de Cristo pastor e pelo mistério do Pai, que em Cristo o chama pelo nome e o unge com seu Espírito. Percebe porém, que, embora chamado pessoalmente, não o é isoladamente. É chamado para integrar a comunhão do presbitério um grupo de outros discípulos que devem ficar na companhia do Mestre (Mc 3,14)95, a quem amam mais que os outros (cf. Jo 21,15)96. 206. Tornando-se ministros de Cristo (1Cor 4,1)97 pela unção do Espírito, procuram identificar-se com ele na busca constante da vontade do Pai para realizar a missão que lhes é confiada, como Cristo realizou a missão que o Pai lhe confiou. É a missão de pastores sob o único Pastor (1Pd 2,15)98. Procurando fazer sempre o que é do agrado do Pai e do Filho, os presbíteros nunca ficam sozinhos (Jo 8,29)99; reúnem-se em nome daquele (Mt 18,20)100 que os chamou e se voltam constantemente para aqueles aos quais são enviados. Não são presbíteros para si, mas para os irmãos. O sacerdote é o homem da comunidade, ligado de modo total e irrevogável a seu serviço (João Paulo II, Maracanã, n.5).101

207. Enviados para serem ministros da Palavra, profetas, não podem exercer a função de Mestre ou de servidor da Verdade, se não forem antes os ouvintes fiéis, que escutam e

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24acolhem com fé profunda o Verbo que se revela. Vão proclamar não a sua palavra, mas a palavra daquele que os chamou e enviou. Crêem no que ouvem e lêem, ensinam o que crêem, e imitam o que ensinam (cf. LG 28)102. Não vão anunciar-se a si mesmos, mas a Boa Nova de Jesus (cf. 2Cor 4,5)103 que os Apóstolos comunicaram à Igreja, para assim garantir sua apostolicidade. 208. Enviados como sacerdotes, ministros do culto e dos sacramentos, imitando o que realizam, buscam a glória de Deus e a própria santificação juntamente com a santificação de seus fiéis, particularmente na Eucaristia, fonte e coroa de toda a evangelização (PO 5)104. A celebração do sacrifício de Cristo assume sua plena significação quando não oferecem somente pão e vinho como matéria do sacrifício, mas a fé viva de uma comunidade que pode, juntamente com Cristo e com seus ministros, dizer de verdade: ‘Eis-me aqui! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade’ (Hb 10,5)105. 209. Na Eucaristia, portanto, os sacerdotes encontram a plenitude de seu sacerdócio e a unidade perfeita entre sua doação pessoal e sua missão pastoral. A celebração cotidiana da Eucaristia será o núcleo fundamental de sua vida espiritual. Os presbíteros prolongarão em todo tempo, em união com o povo de Deus e em seu nome, sua ação de graças a Deus Pai, por nosso Senhor Jesus Cristo, recitando salmos, hinos e cânticos espirituais no Ofício das Horas, para cantar e celebrar o Senhor de todo o coração (cf. Ef 5,19-20)106. 210. Enviados para serem pastores, ministros da caridade, procuram, a exemplo do Bom Pastor, passar a vida fazendo o bem aos irmãos, doando-lhes a própria vida. Neste contexto de oblatividade pastoral deve-se entender o sentido do celibato presbiteral. Os sacerdotes, mantendo indiviso o próprio coração, pelo celibato, podem mais facilmente servir a Deus e dedicar-se pelas ovelhas de modo a serem, num sentido mais pleno, promotores da evangelização e da unidade da Igreja (Sínodo 1971, n.78). 211. O bem dos homens é a lei suprema da caridade pastoral. Esta lei os levará a partilharem a mesma condição dos irmãos (cf. Hb 2,14-18)107 e exigirá deles que se engajem criticamente na promoção do bem comum e na luta pela libertação humana como exigências do Reino de Deus a que servem, promovendo o novo tipo de relacionamento entre as pessoas, entre os filhos de Deus, todos irmãos (Mt 23,8-12)108, como Jesus proclamou. Não poderiam ser ministros de Cristo se não fossem testemunhas e dispensadores de uma vida diferente da terrena e nem poderiam servir aos homens, se permanecessem alheios à vida e às situações dos mesmos (PO 3)109. 212. Missão tão exigente não será possível se os presbíteros não trabalharem sempre unidos com os bispos na comunhão fraterna do presbitério. Na abertura a esta comunhão, sua personalidade crescerá para uma maturidade que os tornará capazes de superar as próprias fraquezas, fazendo delas instrumentos da graça e do poder de Deus (cf. 2Cor 12, 9-10)110. 213. Reconhecendo-se servos inúteis (Lc 17,10)111 seguirão a Cristo no seu aniquilamento (Fl 2,7)112 não se envergonhando de dar testemunho do Senhor, sofrendo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus que não lhes deu um espírito de medo, mas um Espírito de força, de amor e de domínio de si, reavivando continuamente o dom que Deus neles depositou pela imposição das mãos (2 Tm 1,6-8)113. 214. Arautos do Evangelho que faz resplandecer a vida e a imortalidade (2 Tm 1,10-11)114, os presbíteros, pela palavra e pela celebração, já tornam presente neste mundo, ainda marcado pela dor e pela morte, a vitória final da ressurreição de Cristo (1Cor 15,24-28)115. Sua fidelidade pastoral e íntima consagração a Cristo pelo celibato o tornam sinal eloqüente desta esperança escatológica da Igreja. 215. Se o celibato é vivido no espírito do Evangelho, na oração e na vigilância, com pobreza, alegria, desapego das honras e amor fraterno, então ele é um sinal que não pode ficar escondido por muito tempo, mas que eficazmente proclama Cristo aos

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25homens. Hoje, efetivamente, as palavras são tomadas em pouco apreço, mas um testemunho de vida, que patenteia o caráter radical do Evangelho, esse tem o condão de arrastar fortemente (Sínodo 1971, n.73). A vida celibatária, vivida na alegria, torna-se para os jovens, vítimas das fáceis seduções do hedonismo, revelação dos valores transcendentes e convite ao ideal do amor oblativo na castidade, e para os casais, no meio das crises e provações que ameaçam a estabilidade matrimonial, um estímulo à fidelidade permanente. A plena realização de uma personalidade não depende tanto do casamento ou celibato, como da vivência dos valores da oblatividade, vividos no contexto da interação familiar e social em que normalmente se realiza a complementação geral das personalidades masculina e feminina. 5. Pastoral das vocações 5.1. Chamado de Deus na Igreja 216. Desde suas origens apostólicas, a Igreja sempre entendeu que os diversos ministérios eclesiais devem ser confiados àqueles que Deus escolheu e chamou (cf. At 1,24; 13,2; 20,28; 1Cor 12,28; 2Tm 1,6 etc.)116. 217. De outro lado, os Apóstolos e seus sucessores se consideraram sempre na obrigação de organizar o ministério na Igreja, com a participação da comunidade conforme as necessidades concretas de que vinham tomando consciência (cf. At 6,1-6; 15,40; 16,3; 1Cor 16,3; 2Cor 8,19.23; 1Tm 4,14; 2Tm 2,2 etc.)117. 218. Em outras palavras, pode e deve-se falar de uma vocação ao ministério, entendida como chamado de Deus que se exprime de dois modos distintos e convergentes: um interior, o da graça, o do Espírito Santo...; e o outro exterior, humano, sensível, social, jurídico, concreto, o do ministro qualificado, o do Apóstolo, o da hierarquia (cf. PO 11,)118. 219. Pode-se dizer que, segundo o Novo Testamento, deve ser escolhido para o ministério somente quem de Deus recebeu a graça ou carisma para desempenhar a função que a Igreja lhe confia. Cabe à comunidade eclesial, presidida pelo bispo, discernir esse carisma ou julgar de sua autenticidade (cf. 1Ts 5,19-21; LG 12b; OT 2c)119

5.2. Dimensão dialogal da vocação 220. Faz parte da convicção da Igreja, desde o Novo Testamento até hoje, que Deus não deixa sua casa sem administradores, seu rebanho sem pastor, sua Igreja sem ministros. Deus não prescinde, contudo, da participação de nossa liberdade, que pode confirmar ou frustrar o plano de Deus. 221. Por sua própria natureza a vocação é dialogal. É um apelo, em que Deus oferece sua graça e procura suscitar uma resposta. Quem é chamado não perde sua liberdade, mas de certo modo com sua participação pessoal configura a própria vocação, pela mediação de sua experiência de fé e de sua capacidade de discernir, junto com a comunidade eclesial, as formas concretas que deve assumir sua missão de serviço à Igreja e à história dos homens. 222. Por isso, a vocação é um dom que não só a pessoa, mas toda a comunidade deve buscar no diálogo com Deus, na oração, como ensinou Jesus (cf. Mt 9,38; Lc 10,2)120. É um dom que não só precisa ser acolhido, mas também desenvolvido (cf. Mt 25,14-30;Jo 10,12-13; 1Tm 3,1-10)121. 223. A acolhida do chamado de Deus e o desenvolvimento das aptidões dos vocacionados exige atenta disponibilidade e generoso empenho de toda a Igreja: bispos, padres, comunidades paroquiais e de base, famílias, jovens... Esse cuidado ou pastoral das

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26vocações deve ser orientado por alguns princípios teológicos, dos quais decorrem as diretrizes práticas. 5.3. A vocação cristã e vocações específicas 224. A palavra vocação é usada, hoje, não só para indicar o chamado a uma função especial na Igreja, a vocação ao ministério sacerdotal ou a um particular estado de vida, vocação religiosa. Emprega-se também para designar a vocação cristã comum de todo batizado. 225. O Novo Testamento indica os cristãos simplesmente como os chamados, isto é, vocacionados (cf. Rm 8,28; 1Cor 1,2; Jd 1)122. O próprio nome da Igreja (ek-klesia) significa ‘con-vocação’. O Concílio Vaticano II revalorizou a vocação cristã comum (cf. especialmente o n° 32 da Lumen Gentium)123. Eis alguns traços: • a vocação cristã é vocação à santidade (LG 32b; LG 40)124; • a perfeição da caridade; • a vocação cristã é vocação à comunhão com Deus (GS 18b; GS 19a)125; • a vocação cristã é vocação à comunhão fraterna dos homens em Cristo (GS 32; LG 3)126; • a vocação cristã é vocação ao apostolado (AA 2)127, participação na missão salvífica da Igreja (LG 33b)128. 226. Esta vocação cristã comum é, por assim dizer, a base de toda vocação especial. Não se pode conceber uma vocação cristã específica que não tenha como fundamento e como primeiro impulso a vocação cristã comum. 227. A vocação religiosa é uma radicalização da vocação cristã e, por isso, constitui também um sinal que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja para o cumprimento dedicado dos deveres impostos pela vocação cristã (LG 44c)129. 228. A vocação sacerdotal ou o ministério hierárquico acrescentam um título especial à vocação universal à santidade (cf. PO 12a)130, que os vocacionados receberam com a graça do Batismo. Mas a vocação ao sacerdócio ministerial não enfraquece, antes reforça a fraternidade que une bispos e padres a todos os fiéis (cf. LG 32d; PO 9)131, a cujo serviço são chamados. A vocação ministerial exalta, santifica e serve à vocação cristã comum. 229. Essa conexão profunda, entre vocação cristã comum e vocações específicas, fundamenta uma primeira diretriz básica da Pastoral Vocacional; para promover as vocações ao ministério e às diversas formas de consagração religiosa, deve-se, antes de tudo, intensificar a vida cristã (cf. OT 2)132. 5.4. Cultivo das vocações 230. Um dos sinais e, ao mesmo tempo, dos meios que alimentam a vida cristã, é a oração. Lembrados de que as vocações são um dom de Deus, um chamado que brota do seu plano de amor e de sua vontade de salvação, todo cristão e toda comunidade inserirá permanentemente em sua oração a súplica pelas vocações de que a comunidade eclesial precisa (OT 2d; cf. Mt 9,38; Lc 10,2)133. Como diz Puebla: A vocação é a resposta de Deus providente à comunidade orante (Puebla 882)134. 231. A oração é também o terreno onde a vocação desabrocha. Esta se revela no diálogo da pessoa com Deus. Também a fidelidade ao chamado supõe uma progressiva experiência de oração. Especialmente os jovens devem ser conduzidos a essa experiência pelos ambientes privilegiados da vida cristã: a família e as diversas comunidades eclesiais.

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27 232. A família não goza apenas de prioridade cronológica, como lugar onde a vida cristã geralmente se inicia. É o fundamento da vida humana e cristã (cf. GS 52b; AA 11d)135. Por isso, o Concílio atribui extrema importância a seu papel na educação cristã (LG 11b; AA 11b; GE 3a)136 e, especificamente, no incentivo das vocações sacerdotais e religiosas (GS 52a; AG 13b; OT 2; LG 11b)137. O Santo Padre João Paulo II retomou este último texto do Concílio (OT 2: a família como primeiro seminário)138 em seu encontro com os vocacionados (Porto Alegre, 5.7.1980) apresentando outras vezes a família como celeiro de vocações (cf. Pronunciamentos do Papa no Brasil, 4,3; 27,9)139. 233. A família, contudo, é hoje muito condicionada e, às vezes, agredida por influências externas, que lhe dificultam a missão. Precisa, pois, mais do que nunca, receber o apoio de movimentos e instituições que a ajudem. Grupos e movimentos comunitários têm de sua parte um papel próprio e autônomo na educação da juventude. Entre suas tarefas, destaca-se particularmente a orientação vocacional. De fato, muitas vocações sacerdotais e religiosas surgem nos movimentos de jovens. 234. Também a paróquia tem grande responsabilidade na pastoral da juventude e no cultivo das vocações, principalmente se conseguir tornar-se aquela casa de família, fraternal e acolhedora, onde os batizados e os confirmados tomam consciência de ser Povo de Deus (DCG 67; cf. João Paulo II Homilia em Porto Alegre, 4.7.1980, n.4/22)140. 235. Para tanto precisa a paróquia articular-se em pequenas comunidades ou comunidades eclesiais de base (CEBs). Elas possibilitam um relacionamento pessoal muito maior, o anúncio e vivência do Evangelho mais próximos da vida cotidiana, a partilha das alegrias e angústias dos irmãos, o engajamento mais consciente e efetivo no apostolado e no serviço do mundo (cf. Puebla 629)141. Por isso, as comunidades de base tornam-se um lugar especialmente favorável ao florescimento das vocações ministeriais (cf. Puebla 850, 867)142, sob a condição de se manterem abertas às dimensões maiores da comunidade eclesial e de sua missão no mundo. O mesmo se deve dizer dos grupos e movimentos que atuam nas paróquias urbanas. 236. O atual florescimento de novos ministérios manifesta uma renovação eclesial em profundidade, impulsionada pelo Concílio. Constitui-se um sinal dos tempos, que exige acolhida e atenção, numa oportunidade para uma renovação profunda, um salto qualitativo da pastoral vocacional. Na medida em que os fiéis passarem da condição de massa, objeto de cura pastoral, para a condição de sujeitos conscientes e ativos numa comunidade engajada evangelicamente, também as vocações de especial consagração e disponibilidade para o ministério presbiteral se tornarão muito mais numerosas, proporcionalmente ao revigoramento da comunidade cristã. É o que também espera o Santo Padre: As vocações ao sacerdócio hão de ser sinal da maturidade das comunidades; e hão de manifestar-se também como conseqüência da floração dos ministérios confiados aos leigos e de uma oportuna pastoral familiar (João Paulo II, aos bispos do CELAM, Rio de Janeiro, 12,60)143. 5.5. Especial atenção às vocações sacerdotais 237. A comunidade cristã oferece espaço e condições de desenvolvimento para outras vocações, principalmente as vocações de especial consagração na vida religiosa e no mundo (cf. PC 24; LG 47)144. Assim a comunidade cristã acolhe a ação do Espírito Santo (cf. LG 12b)145 e manifesta a liberdade cristã (Gl 5,1; cf. PO 6b)146 e a diversidade de dons com que Deus santifica a sua Igreja (cf. LG 41; GS 92b; etc.)147. 238. As vocações ao ministério presbiteral, porém, exigem atenção especialíssima (João Paulo II, aos bispos do CELAM, Rio de Janeiro, 12,60)148. Muitas comunidades sentem, em sua carne, a grande falta de presbíteros. No entanto, essa necessidade não deve levar a que se facilite a admissão ao presbiterato de candidatos não idôneos nem preparados. Mais uma vez, é preciso repetir que o ministério hierárquico não é honraria

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28nem gosto pessoal, mas um serviço a prestar quando Deus o pedir através da Igreja local e de seu bispo. 239. Em resumo, a pastoral vocacional tem duas perspectivas necessárias e complementares: – de um lado, a pastoral das vocações sacerdotais é um aspecto do esforço mais amplo da pastoral orgânica, que visa a tornar as comunidades cristãs co-responsáveis e dotadas da variedade de ministérios que expressam as multiformes facetas da missão da Igreja e a riqueza dos dons do Espírito; 240. – de outro lado, a Pastoral Vocacional é uma ação específica, devidamente planejada e organizada, para propor o ideal da vocação sacerdotal ou ministério presbiteral, oferecendo aos vocacionados uma ajuda para compreender e acolher este chamado e para desenvolver suas aptidões. 241. Nisso tudo, tem papel indispensável e relevante o testemunho pessoal dos bispos e dos presbíteros. Através da pessoa dos ministros e de sua vida, outros descobrem o que é a vocação e o ministério do padre. O testemunho da alegria e da convicção será, sem dúvida, eficaz, como também o testemunho da perseverança e da coragem com que o padre luta contra dificuldades externas e fraquezas pessoais. O testemunho sempre requer a disposição para a conversão, na busca sincera de fidelidade ao ideal. III. PARTE: PISTAS PARA A AÇÃO Introdução 242. A visão da realidade e a reflexão teológica devem levar à ação pastoral concreta. Todas as comunidades são convocadas a um esforço generoso no sentido de colocarem o melhor de suas forças a serviço de uma pastoral capaz de dar à Igreja os ministros necessários para a obra da evangelização. 243. Esta terceira parte apresenta uma série de propostas concretas referentes aos três principais campos em que se desdobra o tema: – Pastoral vocacional – Formação dos futuros presbíteros – Vida e ministério dos atuais presbíteros. 1. Pastoral vocacional 1.1. Diretrizes gerais 244. A Pastoral Vocacional seja feita a partir da visão da Igreja como um povo de servidores, dentro do pluralismo das vocações, ministérios e carismas. A animação vocacional deve brotar das comunidades, como responsabilidade de todos, e se dirigir a todas as categorias da Igreja: leigos, religiosos, diáconos, presbíteros, bispos. É neste contexto que a vocação específica ao sacerdócio deve ser apresentada, enfatizada em todo seu significado e importância. 245. Assim, esta vocação está situada na comunidade viva da Igreja, possibilitando um serviço de total disponibilidade ao povo de Deus, numa opção livre pela consagração no celibato por causa do Reino de Deus. Tal vocação exige o testemunho de vida sacerdotal e o interesse de todos os presbíteros e até mesmo dos seminaristas para o despertar e para o acompanhamento das vocações. 246. A Pastoral vocacional deve ser encarnada na realidade, e por isso mesmo deve se diversificar, adequando-se à peculiaridade das situações e às necessidades concretas da Igreja local, das comunidades e do povo. Deve se acentuar que tanto o apelo interior de

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29Deus quanto o chamado oficial da Igreja, atendendo às necessidades do povo, são elementos constitutivos da vocação. 247. A Pastoral Vocacional deve ter índole universal. Deve, portanto, não só animar todos os ministérios e serviços da Igreja, mas ainda evitar a exclusão de categorias de pessoas ou de certas regiões do país. 248. A Pastoral Vocacional deve ter caráter pioneiro, buscando superar a omissão e o pecado na comunidade, denunciando corajosamente os contravalores, enquanto anuncia os valores da boa nova e abre aos jovens uma perspectiva pessoal de realização na construção do homem e da humanidade nova, segundo o Evangelho de Jesus Cristo. 249. A Pastoral Vocacional deve levar em conta as características próprias do povo brasileiro para superar a atual dificuldade de se conseguirem vocações autóctones. Isso exige um sério exame de consciência para corajosa criatividade e busca de novos encaminhamentos que superem a atual situação de dependência de outras nações. 1.2. Atividades gerais 250. A Pastoral Vocacional, obediente ao mandato do Senhor, procure incentivar, em todos os níveis e ambientes de Igreja, um crescente clima de oração pelas vocações em geral, e particularmente pelas de especial consagração, pedindo ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe. 251. Cuide-se de formar a consciência dos fiéis a respeito de sua responsabilidade pelas vocações sacerdotais, suscitando neles apoio moral, financeiro e o engajamento apostólico direto na pastoral vocacional. 252. A Pastoral Vocacional deve se integrar na pastoral de conjunto, como elemento essencial, vinculando-se organicamente à Pastoral de Juventude que, segundo a opção de Puebla, deve se constituir em linha prioritária do trabalho evangelizador. Essa orientação deve atingir todas as áreas da Pastoral tais como a Pastoral da Família, grupos e movimentos de adultos, cursos de noivos, catecumenato batismal e crismal, a catequese de crianças e adolescentes, tanto na escola como nas comunidades. 253. Motive-se a Pastoral Vocacional com o exemplo de inumeráveis sacerdotes que, em abnegada e silenciosa dedicação, imolam a sua vida por amor a Cristo na formação e atendimento das comunidades cristãs. Divulgue-se ainda o testemunho de bispos, sacerdotes, religiosos e leigos que sofreram ou sofrem ainda perseguições e martírio pela causa do Reino a serviço do povo, constituindo-se assim, a exemplo de Cristo crucificado, em modelo de vida e em ideais vivos para os nossos jovens. 254. A Pastoral Vocacional valorize a decisão vocacional como um serviço aos irmãos e não como ascensão social ou busca de uma posição privilegiada na sociedade e na Igreja, corrigindo assim, nas famílias e nos jovens, a visão burguesa e individualista da vida humana. 255. O trabalho de formação e promoção dos jovens vocacionados, dentro ou fora dos seminários ou comunidades de formação, seja estruturado e coordenado de maneira mais orgânica, em todos os níveis, favorecendo a integração de forças e recursos, garantindo melhores processos de promoção, seleção e cultivo de vocações, bem como o melhor preparo de formadores e agentes de Pastoral Vocacional. 256. A Pastoral Vocacional seja confiada a equipes especializadas atuando nos diversos níveis e setores de trabalho, constituídas por sacerdotes, religiosos, leigos e jovens de ambos os sexos, espelhando a responsabilidade de uma Igreja que caminha como um povo de servidores. 1.3. Propostas em âmbito nacional

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30 257. Elabore-se um Guia Pedagógico para o trabalho vocacional em âmbito nacional, bem como outros subsídios de apoio às iniciativas de Pastoral Vocacional dos Regionais e Dioceses. 258. O ano de 1983 seja o ANO VOCACIONAL para todo o Brasil, e que todas as campanhas nacionais, diocesanas e paroquiais sirvam de conscientização e formação de vocações. 259. O mês de AGOSTO seja assumido, em todo o território nacional, como o MÊS VOCACIONAL, e a Linha 1 dos Organismos Nacionais de Pastoral da CNBB, através do setor de vocações e seminários, coloque em comum as diversas iniciativas dos Regionais e Dioceses. 260. Aproveitem-se todos os momentos fortes da vida da Igreja, como festas litúrgicas, visitas pastorais, etc., para a mentalização vocacional do povo. 1.4. Propostas em âmbito regional 261. Criem-se, nos Regionais, Centros ou programas de Formação de Agentes de Pastoral Vocacional e Pastoral de Juventude, que através de cursos, encontros e outras modalidades de assessoria, capacitem os agentes a realizarem com eficiência sua missão. 262. Cada Regional tenha um setor coordenado por um bispo, integrado por representantes das Equipes Diocesanas, encarregado de animar, planejar e revisar as atividades vocacionais do Regional. 263. O setor Regional responsável assuma as propostas vindas do Nacional, articulando-as nas suas Dioceses e, ao mesmo tempo, remeta ao Nacional as suas próprias contribuições. Mantenha um intercâmbio com os demais Regionais, objetivando um enriquecimento mútuo. 264. Utilizem-se todos os MCS existentes na região (rádio, TV, jornais, revistas, boletins etc.), para uma exata divulgação das mensagens e atividades vocacionais. 1.5. Propostas em âmbito diocesano 265. Cada Diocese tenha a sua Equipe Vocacional composta por padres diocesanos, representantes de Congregações Religiosas masculinas e femininas, leigos, e jovens que, sob a orientação do bispo, coordene e anime a Pastoral Vocacional. 266. A Equipe Diocesana seja liderada por um Sacerdote suficientemente liberado para assessorar os colegas, os agentes e as equipes existentes na Diocese. Tal liderança seja desempenhada através do testemunho alegre de uma pessoa feliz e realizada na sua vocação. 267. A Diocese, enquanto possível, tenha um CENTRO VOCACIONAL, com os recursos humanos e materiais necessários, mediante os quais os jovens, rapazes e moças recebam informação, orientação e acompanhamento no desabrochar de sua vocação. 268. Incentive-se o acompanhamento vocacional de adolescentes, jovens e adultos, quanto à oração, vida fraterna e ação apostólica, tendo em vista o discernimento para uma vocação específica, utilizando-se diversos meios, tais como encontros, retiros, jornadas etc... 269. Promova-se a criação de Grupos de Opção de Vida, Clubes Vocacionais nas paróquias e comunidades e apoiem-se novas experiências nos campos da Promoção Vocacional e da Formação.

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31 270. A comunidade assuma, como responsabilidade sua, a formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa, sejam eles externos ou internos. Os pais tenham uma participação especial na formação e acompanhamento de seus filhos vocacionados. 271. A promoção vocacional não seja limitada ao horizonte da própria diocese, mas tenha a dimensão da Igreja universal. Portanto, como exercício da colegialidade efetiva, crie-se na Igreja local um ESPÍRITO MISSIONÁRIO capaz de suscitar vocações missionárias. 272. Os Movimentos ou Grupos de Leigos que se dedicam à Pastoral Vocacional sejam orientados no sentido de: – estimular os padres na sua vocação; – apoiar os vocacionados integralmente; – promover a conscientização vocacional inclusive através dos Meios de Comunicação Social. 273. O Seminário Diocesano, dada a sua importância, deve ser assumido por todas as forças vivas da Diocese, a começar pelo Presbitério, os movimentos vocacionais, as Congregações Religiosas, as paróquias e as comunidades. 2. Formação dos futuros presbíteros 2.1. O Seminário 274. Desde o momento em que a vocação ao ministério sacerdotal se manifesta de modo claro e suficientemente amadurecido, é necessário não apenas conservá-la passivamente, mas oferecer-lhe ambiente e meios para se desenvolver adequadamente. Este ambiente próprio para o cultivo da vocação e o desenvolvimento sistemático das capacidades do formando é o seminário. 275. O seminário não deve ser concebido como um ambiente fechado sobre si mesmo, mas como a instituição que sustenta e orienta o processo pedagógico de discernimento e formação enraizado na comunidade eclesial mais ampla. 276. Este processo pedagógico compreende diversos componentes: formação humana, espiritual, pastoral, intelectual. Cuide-se especialmente do equilíbrio e da integração entre os diversos aspectos da formação. 277. O seminário deve ser uma prioridade da Diocese. Ele supõe e exige, imprescindivelmente, a presença e a dedicação de educadores competentes. 278. Devem-se procurar todos os meios para que o presbitério e as comunidades eclesiais se sintam efetivamente co-responsáveis pela formação dos futuros padres. 279. A comunidade eclesial procure dar aos seminaristas o que houver de melhor em matéria de formação. Para conseguir tal resultado, será oportuno: 280. – organizar a vida do seminário em pequenas comunidades dentro ou fora do prédio principal, desde que haja a presença permanente de um sacerdote formador; 281. – concentrar os estudos filosófico-teológicos em Institutos, mantidos em colaboração por diversas dioceses e ou congregações religiosas; 282. – estabelecer diretrizes e normas que, observadas e urgidas em clima de comunhão e participação, propiciem um ambiente global favorável à formação sacerdotal.

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32283. Na seleção para o seminário tome-se como critério importante o conjunto das qualidades humanas e cristãs dos próprios candidatos. 284. Para aceitação no seminário maior recomenda-se um período prévio de preparação e de acompanhamento dos candidatos. Este período poderia transformar-se num Ano Propedêutico, voltado para o aprimoramento da formação humana e espiritual do candidato. A formação intelectual, neste período, poderia incluir temas ou disciplinas como: Português, Latim, Introdução à Bíblia, Introdução ao Mistério de Cristo, História da Igreja, Espiritualidade. 285. O candidato ao seminário maior deve: – encontrar-se num processo normal de amadurecimento humano; – estar vivendo uma profunda experiência de fé, no seguimento de Jesus Cristo; – estar inserido e comprometido com uma comunidade cristã; – ter espírito apostólico; – ter consciência de ter sido escolhido por Deus para um ministério especial. 286. Cada diocese ou congregação, dentro de suas condições particulares e de seu plano de Pastoral Vocacional, deve procurar oferecer possibilidades de formação sistemática aos candidatos antes do ingresso no Seminário Maior, através de comunidades vocacionais ou seminários menores, ou outras modalidades de acompanhamento especialmente no segundo grau. 287. Antes da admissão de um candidato ao seminário, o Reitor procure ouvir sua comunidade de origem. 288. Antes de acolher um seminarista egresso ou transferido de outro seminário, o Reitor procure um diálogo com os educadores da instituição de origem e exija uma carta de apresentação do bispo ou superior. 2.2. Os formadores 289. Constata-se a dificuldade de encontrar um número adequado de formadores para nossos seminários. São dignos de reconhecimento os educadores que já estão empenhados neste trabalho. Faz-se um apelo a todos os que tem dons e capacidade a assumirem esta missão com empenho e generosidade. 290. As congregações religiosas colaborem com pessoal especializado também na formação dos seminaristas diocesanos. As dioceses mais dotadas de pessoal colaborem com aqueles que tem menos recursos humanos, podendo a CNBB atuar como mediadora nessa entreajuda. 291. Os formadores dos seminários sejam escolhidos entre os padres que têm ampla e diversificada experiência pastoral, mas sejam liberados das tarefas que possam dificultar sua missão principal. 292. Os professores, em razão de sua influência na formação, tenham, além de sua competência específica, um profundo espírito eclesial. 293. O bispo pessoalmente deve manter um contato muito estreito e freqüente com o seminário, acompanhando constantemente a formação dos futuros padres de seu presbitério. 294. Os formadores procurem trabalhar em equipe, dando um efetivo testemunho daquela comunhão que todo presbítero deve encontrar no seu presbitério. 295. A CNBB promova cursos ou estágios para formadores em âmbito regional e/ou nacional.

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33 2.3. Formação espiritual 296. A formação espiritual do futuro presbítero tem como meta conformá-lo progressivamente à pessoa de Jesus Cristo em seu mistério pascal, onde se manifesta a plena intimidade com o Pai e o perfeito assumir da humanidade. 297. Sua espiritualidade, à semelhança de Jesus de Nazaré, deve encarnar-se na vida concreta do povo, identificando-se com suas causas à luz do plano de Deus. 298. O seminarista, em sua formação, deve aprofundar cada vez mais as dimensões que caracterizam o presbítero – homem de Deus para os homens e homem dos homens para Deus. 299. A oração ocupará na vida o lugar privilegiado que lhe compete. O seminarista seja iniciado e acompanhado nos diversos métodos de oração que a tradição cristã tem consagrado a fim de que possa encontrar a sua maneira pessoal e original de rezar. Desta forma, poderá tornar-se mestre da oração. 300. O seminarista, sobretudo no curso teológico, procure com a devida freqüência a ajuda de seu diretor espiritual, mantendo com ele um relacionamento sincero e filial. 301. A Liturgia, assumindo a vida concreta do povo, nas celebrações da Igreja local e da própria comunidade do seminário seja o mais importante na vida espiritual do seminarista. A Eucaristia esteja no centro de sua vida que, ao mesmo tempo, dará especial atenção ao sacramento da Penitência. 302. Cultive o seminarista filial amor à Virgem Maria, a quem Cristo, o Sumo Sacerdote ao morrer na cruz entregou o discípulo como filho. Que este amor se traduza em formas concretas de piedade mariana. 303. A dimensão de abertura e de solicitude para com o irmão deve distinguir a formação do seminarista. Sua vida se caracterize pela fraternidade concreta e afetiva através de um estilo de vida comunitária que possibilite a participação na organização da casa, do trabalho, e até da partilha dos bens materiais e espirituais. Desta forma, ele será ajudado a libertar-se do individualismo consumista. 304. Cuidem os formadores, com especial atenção, da preparação para a vida celibatária. Pois deve confessar-se que o celibato, como dom de Deus, não pode ser observado, se o candidato não for para isso convenientemente preparado. Assim, importa que desde o princípio os candidatos atendam às razões positivas que há, para escolherem o celibato, sem se deixarem impressionar por objeções, cuja acumulação e contínua pressão constituem, prevalentemente, indício de que um valor originário foi posto em sério perigo (Sínodo 1971, n° 84). Amizade profunda a Cristo, devoção mariana, zelo apostólico absorvente, junto a uma convivência comunitária positiva e uma abertura confiante aos responsáveis pela formação ajudarão os seminaristas a assumir o estilo celibatário de vida, de uma forma construtiva e plenificante. 305. Como meios de grande eficácia para a formação, sejam cultivados os valores permanentes do silêncio, da disciplina e da renúncia, alegremente assumidos. 2.4. Formação pastoral 306. Todo o estudo e a formação devem ter uma profunda marca pastoral, pois visam à formação de pastores do povo de Deus. 307. Todo seminarista deve estar engajado num trabalho pastoral fora do seminário e não apenas executar tarefas pastorais. Num determinado período, acompanhe a

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34caminhada da comunidade, participando ativamente dela. Através deste engajamento, com a ajuda do seminário, ele deve: – aprender a integrar teoria e prática; – crescer no compromisso pessoal e na caridade pastoral; – abrir-se mais à comunhão com a comunidade dos fiéis e o presbitério. 308. Para que a integração teoria-prática seja viável, o seminarista deve ter acesso a uma boa preparação teórica-filosófica, teológica, litúrgica, catequética etc. e crítica. As atividades pastorais devem ser planejadas, acompanhadas e revisadas. 309. A formação pastoral no seminário identifique-se com as opções pastorais da Igreja na América Latina e articule-se com a ação pastoral da Igreja local, co-responsável pela formação dos seminaristas . 310. A formação pastoral esteja integrada com a formação espiritual. O engajamento pastoral seja uma das dimensões fundamentais da espiritualidade do futuro pastor. 311. Os reitores de seminários, com o apoio do INP e da OSIB, devem estudar mais a fundo a formação pastoral e elaborar, para uso dos seminários e dos institutos, subsídios adequados à realidade brasileira. 312. Ninguém seja ordenado presbítero se não tiver feito uma experiência pastoral positiva. 313. Igualmente, ninguém seja ordenado presbítero sem que antes sejam consultados os respectivos formadores sobre a maturidade humano-cristã do candidato e seu autêntico compromisso com o Povo de Deus no espírito de Jesus Cristo. Ouça-se também o parecer da comunidade em que ele vive e atua. 314. A formação intelectual dos futuros presbíteros, que deve primar pelo rigor científico, se faça sempre na mais plena fidelidade à doutrina da Igreja. Neste particular, reveste-se de grande importância o emprego de pedagogia adequada a inteligências ainda não suficientemente formadas. 2.5. Formação intelectual 315. Os Reitores de seminários e Diretores de institutos procurem estudar conjuntamente novos aperfeiçoamentos do currículo filosófico-teológico, visando: – maior organicidade dos programas em função dos temas centrais da teologia e do pensamento filosófico contemporâneo; – metodologia mais ligada à realidade pastoral; – melhoria qualitativa do ensino e da aprendizagem. 316. Apóie-se a realização do cadastro de professores de teologia e filosofia e, a partir dele, apresentem-se ao episcopado sugestões de medidas que favoreçam a preparação de novos professores e a distribuição mais racional dos professores atuais, bem como a atualização e a melhoria de suas condições de trabalho. 317. Estudem-se as necessidades e as experiências no campo da formação teológica dos candidatos adultos, com experiência pastoral e profissional, que mais dificilmente se enquadram nos moldes da formação filosófico-teológica acadêmica. 318. Prepare-se para exame de uma próxima Assembléia Geral da CNBB, a revisão das diretrizes básicas da formação sacerdotal (RATIO). 3. Vida e ministério do presbítero

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353.1. Espiritualidade 319. Empenhe-se o presbitério diocesano na criação de um forte clima de espiritualidade, que transpareça constantemente na prática da oração pessoal e na celebração da vida nos sacramentos. Em todas as suas promoções, procure o presbitério criar espaço para a oração individual e litúrgica. A concelebração eucarística é a expressão suprema da vida espiritual do bispo com seus presbíteros. 320. Os grupos de vida, constituídos livremente pelos presbíteros, constituem grande ajuda fraterna para o sustento de sua vida espiritual, especialmente pela revisão de vida e a oração em comum. 321. O conselho presbiteral dedique-se a organizar para todo o Presbitério promoções tais como retiros, cursos de espiritualidade, manhãs ou dias de oração. O retiro seja realmente tempo de silêncio interior, contemplação e aprofundamento da própria vida e ministério à luz do mistério de Cristo. Em cada diocese haja um local apropriado, aberto a todo presbítero que possa procurá-lo, para uma experiência de silêncio e oração. 322. Promovam-se, quando conveniente, retiros interdiocesanos. Os regionais divulguem as principais promoções das várias dioceses e centros de espiritualidade. 323. A celebração da Eucaristia e a oração do ofício constituem tempos diários fortes da espiritualidade presbiteral. Serão mais ricos quando realizados com toda a comunidade ou com pequenos grupos de leigos. 324. Todo presbítero seja mestre de oração em sua comunidade. Conheça as espiritualidades antigas e novas e se dedique à orientação dos agentes de pastoral e dos grupos. 325. Os carismas de pregador de retiros, de confessor e orientador espiritual dos irmãos padres sejam cultivados como dons importantes no exercício do ministério presbiteral. Os presbíteros aceitem generosamente colocá-los a serviço dos irmãos, do próprio Presbitério e dos Presbitérios de outras Igrejas particulares. 3.2. Vida e comunhão 326. A comunhão de vida e de serviço ministerial seja cuidado fundamental e empenho constante do bispo e de todos os presbíteros. 327. Para realizá-la é preciso, antes de tudo, criar um clima de fraternidade, abertura e diálogo, fruto menos da organização que da disponibilidade e generosidade pessoais. Buscando a vida fraterna, o bispo e os presbíteros se visitem com freqüência para momentos de convivência informal. 328. Seja preocupação de todos que ninguém viva isolado. A convivência deve ser buscada num esforço constante de luta contra o individualismo. Os novos presbíteros sejam acolhidos com carinho e recebam o apoio de que necessitam. Os presbíteros em situações pessoais difíceis encontrem, da parte do presbitério, os meios de que necessitam para superá-las. Especial atenção se dê aos padres idosos e enfermos. 329. A convivência de todos os presbíteros, tanto diocesanos quanto religiosos, crie condições para o exercício da plena co-responsabilidade ministerial dentro da Igreja particular. A diocese organize suas estruturas internas (Vicariatos, zonais, foranias ou setores) e estruture os organismos correspondentes, sobretudo os conselhos presbiteral e pastoral. 330. Promovam-se periodicamente reuniões gerais e setoriais do presbitério, para convivência, reflexão e encaminhamentos pastorais. A criação de uma pastoral orgânica

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36é a expressão maior da co-responsabilidade intra-eclesial. Integrando-se nela, cada presbítero encontrará um excelente meio de valorização e segurança em seu ministério. 331. O exercício da co-responsabilidade seja efetivo, incluindo a participação nas decisões. Em especial, o preenchimento de cargos seja feito sempre com a participação dos presbíteros, tendo em vista suas aptidões pessoais. 332. Por outro lado, cada presbítero se disponha com desapego e generosidade a mudar de cargo ou lugar, lembrando que é co-responsável pelo ministério pastoral de toda a Igreja diocesana. 333. Sendo o trabalho fator fundamental de realização plena da pessoa humana e de construção da sociedade, valorize-se plenamente o trabalho ministerial do presbítero e se torne preocupação de todo presbitério, no sentido de que todos se sintam realizados no que fazem. O trabalho pastoral amplo, organizado, diversificado, na Igreja Particular, será elemento fortemente realizador dos presbíteros e dos seminaristas, desistimulando a profissionalização que priva o Povo de Deus de ministros em tempo integral e, freqüentemente, afasta o presbítero de sua missão específica. 334. Sejam sempre mais incentivadas entre os presbíteros as formas comunitárias de vida, moradia e trabalho. Valorizem-se as equipes sacerdotais, abertas, porém, à convivência fraterna com os leigos. Sobretudo quando forçado a viver distanciado dos colegas, o presbítero encontrará na comunidade cristã seu ambiente de vida e o apoio de que necessita. Os leigos, por sua vez, dispondo-se a essa convivência saibam que prestam grande auxílio a seus irmãos presbíteros . 335. Vivam os sacerdotes diariamente encarnados no sofrimento, nas aspirações, na oração e em toda a caminhada do povo. Evitem, em seu modo de viver e em seus relacionamentos, todo privilégio e todo fechamento que os possam distanciar da comunidade e do povo. Conheçam em profundidade o problema ecumênico e com sua atitude e seus gestos concretos – na celebração, no relacionamento diário e na pastoral, principalmente no serviço aos pobres e oprimidos – sejam para a comunidade um exemplo e um estímulo de ecumenismo sincero. 336. O lazer e as férias são necessidade de todos. Para atender a isso, os presbíteros devem dispor-se à ajuda fraterna e a substituições nas tarefas pastorais. 337. Valorizem-se a CRC (Comissão Regional do Clero) e a CNC (Comissão Nacional do Clero), levando todos os presbíteros a participarem, a seu modo, da eleição de seus representantes, acompanhando e apoiando-lhes o trabalho, em âmbito regional e nacional. 3.3. A sustentação econômica 338. Na vivência da simplicidade e austeridade evangélicas e de acordo com a opção preferencial pelos pobres, cada presbitério deve assumir o problema da sustentação econômica dos seus membros. Por seu lado, cada presbítero, neste mesmo espírito de pobreza, mantenha claramente distintas a administração dos bens da comunidade paroquial e a de seus bens pessoais. 339. Busquem-se formas concretas de uma sustentação mais eqüitativa para todos os presbíteros. Devem ser constantemente incentivadas as iniciativas de caixa comum, associação ou fraternidade sacerdotal, partilha de bens e entreajuda entre paróquias e comunidades. Cuidado especial devem merecer as condições de saúde e velhice. As dioceses procurem criar fundos ou realizar convênios que supram deficiências da Previdência Social. 340. O patrimônio das dioceses seja colocado sobretudo a serviço da pastoral e das paróquias e comunidades mais pobres.

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37 341. Haja, em cada diocese, uma comissão especial que cuide da organização do sistema de sustentação dos presbíteros. 342. Recomenda-se, com renovado vigor, a implantação do sistema do Dízimo, que exige uma atitude fraterna e co-responsável de todos. A responsabilidade principal cabe às paróquias mais ricas e bem dotadas economicamente. 343. As Dioceses façam chegar à CNBB suas experiências positivas referentes à sustentação dos ministros, para que possam ser divulgadas. 3.4. Formação permanente 344. A preocupação com a formação pastoral, espiritual e teológica permanente dos presbíteros seja assumida como um dos principais deveres do presbitério. 345. As dioceses procurem motivar todos os presbíteros para o processo de renovação e atualização. Haja um trabalho de conscientização constante, sobretudo junto àqueles presbíteros mais acomodados e resistentes às exigências de uma pastoral renovada. Promovam-se, nas dioceses, cursos e dias de estudos sistemáticos sobre problemas teológico-pastorais oportunamente abertos para outros agentes de pastoral. Examine-se seriamente a conveniência da criação de uma biblioteca para uso do presbitério. 346. Em âmbito regional, organizem-se cursos mais longos para a atualização presbiteral. Para estes cursos os Regionais contem com o apoio e assessoria da CNBB e CNC. 347. A fim de contar permanentemente com elementos mais capacitados dentro do próprio presbitério, a diocese possibilite a especialização de alguns de seus presbíteros. 348. Seja dada a oportunidade aos presbíteros de freqüentar cursos de atualização, mesmo privando temporariamente a comunidade de seu serviço. 349. Valorizem-se as revistas teológico-pastorais existentes, solicitando que atendam mais diretamente às necessidades do ministério pastoral dos presbíteros. Estude-se a possibilidade da publicação de uma nova revista especializada para isto ou da edição de uma separata especial, em alguma das revistas existentes. _____________________________________ Nota:1 Puebla 537: “Não devemos analisar as ideologias somente do ponto de vista de seus conteúdos conceituais. Ela constituem, transcendendo a eles, fenômenos vitais de dinamismo envolvente, contagioso. São correntes de aspirações com tendência para a absolutização, dotadas também de poderosa força de conquista e fervor redentor. Isso lhes confere uma ‘mística’ especial e a capacidade de penetrar os diversos ambientes de modo muitas vezes irresistível. Seus slogans, suas expressões típicas, seus critérios, chegam a marcar profundamente e com facilidade mesmo aqueles que estão longe de aderir voluntariamente a seus princípios doutrinais. Desse modo, muitos vivem e militam praticamente dentro dos limites de determinadas ideologias sem haverem tomado consciência disso. Este é outro aspecto que exige constante revisão e vigilância. Tudo isso se aplica tanto às ideologias que legitimam a situação atual, como àquelas que pretendem mudá-la”. Nota:2 Jo 20,21: “Jesus disse de novo para eles: ‘A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês’”. Nota:3 Mt 10,40: “Quem recebe a vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”. Nota:4 Lc 22,27: “Afinal, quem é o maior: aquele que está sentado à mesa, ou aquele que está servindo? Não é aquele que está sentado à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como quem está servindo”. Nota:5 Mt 20,28: “Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. Mc 10,45: “Porque, o Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir, e para dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. Nota:6 cf. Jo 13,4-16: “Então Jesus se levantou da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Colocou água na bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando com a toalha que estava na cintura.

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38Chegou a vez de Simão Pedro. Este disse: ‘Senhor, tu não vais lavar os meus pés’. Jesus respondeu: ‘Você agora não sabe o que estou fazendo. Ficará sabendo mais tarde’. Pedro disse: ‘Tu não vais lavar os meus pés nunca!’. Jesus respondeu: ‘Se eu não lavar, você não terá parte comigo’. Simão Pedro disse: ‘Senhor, então podes lavar não só os meus pés, mas até as mãos e a cabeça’. Jesus falou: ‘Quem já tomou banho, só precisa lavar os pés, porque está todo limpo. Vocês também estão limpos, mas nem todos’. Jesus sabia quem o iria trair; por isso, é que ele falou: ‘Nem todos vocês estão limpos’. Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto, sentou-se de novo e perguntou: ‘Vocês compreenderam o que acabei de fazer? Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês têm razão; eu sou mesmo. Pois bem: eu, que sou Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei um exemplo: vocês devem fazer a mesma coisa que eu fiz. Eu garanto a vocês: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o mensageiro é maior do que aquele que o enviou’”. Nota:7 cf. Fl 2,6-8: “Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz!”. Nota:8 cf. LG 3 e 4: “Veio o Filho, enviado pelo Pai que, através dele, nos escolheu desde antes da criação e nos predestinou à adoção filial, pois havia decidido nele ordenar tudo a si (cf. Ef 1, 4-5, 10). Cristo cumpriu a vontade do Pai, inaugurou na terra o reino dos céus, revelou-nos o seu mistério pessoal e realizou a redenção pela obediência. A Igreja, reino de Cristo, desde já misteriosamente presente no mundo, cresce pela força de Deus. Sua origem e desenvolvimento são simbolizados pelo sangue e pela água que jorraram do lado aberto de Jesus crucificado (cf. Jo 19, 34), como foi predito pela palavra do Senhor a respeito de sua morte na cruz: ‘Levantado da terra, atrairei a mim todas as coisas’ (Jo 12, 32). Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, em que se ‘imola Cristo, nossa Páscoa’ (1Cor 5, 7), realiza-se a obra da redenção. Representa-se ao mesmo tempo, e se realiza, pelo sacramento do pão eucarístico, a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cf. 1Cor 10, 17). Todos os homens, aliás, são chamados a esta união com Cristo, que é a luz do mundo, de quem procedemos, por quem vivemos e para quem tendemos. 4. Depois que o Filho terminou a obra que o Pai lhe confiara (cf. Jo 17, 4), o Espírito Santo foi enviado, no dia de Pentecostes, como fonte perene de santificação da Igreja, dando assim, aos que crêem em Cristo, acesso ao Pai (cf. Ef 2, 18). É o Espírito da vida, fonte que jorra para a vida eterna (cf. Jo 4, 14; 7, 38-39), pois por ele o Pai dá vida aos homens mortos pelo pecado e, em Cristo, ressuscitará seus corpos mortais (cf. Rm 8, 10-11). O Espírito habita na Igreja e no coração dos fiéis como num templo (cf. 1Cor 3, 16; 6, 19), em que ora e dá testemunho de que são filhos adotivos (cf. Gl 4, 6; Rm 8, 15-16 e 26). Leva a Igreja à verdade plena (cf. Jo 16, 13) e a unifica na comunhão e no ministério. Com os diversos dons hierárquicos e carismáticos, a instrui, dirige e enriquece com seus frutos (cf. Ef 4, 11-12; 1Cor 12, 4; Gl 5, 22). Rejuvenesce a Igreja com a força do Evangelho, renova-a continuamente e a conduz à união consumada com seu esposo. Por isso o Espírito e a esposa dizem ao Senhor Jesus: ‘Vem’ (cf. Ap 22, 17). A Igreja é, pois, ‘o povo unido pela unidade mesma do Pai, do Filho e do Espírito Santo’”. Nota:9 LG 5 e 6: “O mistério da santa Igreja se manifesta, pois, desde sua própria fundação. O Senhor Jesus deu início a sua Igreja pregando a boa nova, isto é, a vinda do reino de Deus, prometido há séculos pelas Escrituras. ‘Os tempos se cumpriram, o reino de Deus está iminente’ (Mc 1, 15; cf. Mt 4, 17). Esse reino se torna visível aos olhos humanos por intermédio da palavra, dos atos e da presença de Cristo. A palavra do Senhor se compara à semente lançada ao campo (Mc 4, 14). Os que a ouvem com fé e aderem ao pequeno rebanho de Cristo (Lc 12, 32), recebem o reino. Daí por diante a semente germina e cresce, até o momento da colheita (cf. Mc 4, 26-29). Os milagres de Cristo também comprovam que o reino de Deus chegou à terra: ‘Se pela mão de Deus expulso os demônios, é que o reino de Deus chegou até vocês’ (Lc 11, 20; cf. Mt 12, 28). Mas, acima de tudo, o reino se manifesta na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem, que veio ‘para servir e dar sua vida para a redenção de muitos’ (Mc 10, 45). Depois de morrer na cruz, por todos os seres humanos, Jesus ressuscitou, aparecendo como Senhor, Cristo e sacerdote para sempre (cf. At 2, 36; Hb 5, 6; 7, 17-21). Derramou então nos seus discípulos o Espírito prometido pelo Pai (cf. At 2, 33). A Igreja foi assim enriquecida pelos dons do seu fundador. Procurando observar fielmente seus preceitos de caridade, humildade e abnegação, recebe a missão de anunciar e de promover o reino de Cristo e de Deus junto a todos os povos. Constitui pois, a Igreja, o germe e o início do reino na terra. Enquanto vai crescendo, aspira de todo coração pela consumação do reino e deseja, com todas as sua forças, unir-se a seu rei na glória. 6. Da mesma forma que a revelação do reino foi proposta, no Antigo Testamento, por intermédio de diversas figuras, a natureza íntima da Igreja nos é manifestada através de várias imagens, provenientes tanto da vida pastoril ou agrícola, como do trabalho de construção e até da família e do matrimônio, já preparadas nos livros dos profetas. A Igreja é, por exemplo, um redil, cuja única porta indispensável é Cristo (Jo 10,1-10). É também um rebanho, que tem o próprio Deus por pastor (cf. Is 40,11; Ez 34,11ss). As ovelhas, embora sob o cuidado de pastores humanos, são incessantemente conduzidas e alimentadas pelo próprio Cristo, bom Pastor e príncipe dos pastores (cf. Jo 11,10; 1Pd 5,4), que deu a vida por elas (cf. Jo 10, 11-15). A Igreja é ainda lavoura ou campo de Deus (1Cor 3,9). Cresce nesse campo a oliveira antiga, de que os patriarcas foram a raiz santa e na qual se faz a reconciliação entre judeus e cristãos (Rm 11,13-26). Foi plantada pelo agricultor celeste como vinha toda especial (Mt 21,33-43 e par; cf. Is 5,1ss). A verdadeira vide é Cristo, de quem provém a vida e a fecundidade dos ramos, que somos nós, os quais, na Igreja, permanecemos em Cristo, sem o qual nada podemos fazer (Jo 15,1-5).

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39Muitas vezes, a Igreja é também denominada construção de Deus (1Cor 3,9). O próprio Senhor se comparou à pedra rejeitada pelos construtores e que se tornou principal alicerce (Mt 21,42; At 4,11; 1Pd 2,7; Sl 117,22). Sobre ele se constrói a Igreja, a começar pelos apóstolos (cf. 1Cor 3,11), com toda firmeza e coesão. Essa construção recebe várias denominações: casa de Deus (1Tm 3,15), em que mora com sua família, moradia de Deus, no Espírito (Ef 2,19-22), tenda de Deus no meio dos homens (Ap 21,3) e especialmente templo santo, de que são imagem os edifícios de pedra que os santos padres exaltam e a liturgia justamente compara com a Cidade Santa, a Nova Jerusalém.

Nós a constituímos na terra como pedras vivas (cf. 1Pd 2,5). João a contempla desde o céu, no momento em que Deus estará operando a renovação do universo, como cidade santa, “vestida como uma noiva para o seu esposo” (Ap 21,1s). Finalmente a Igreja que é a “Jerusalém do alto” e “nossa mãe” (Gl 4,26; cf. Ap 12,17) é apresentada como a esposa sem mancha do cordeiro imaculado (cf. Ap 19,7; 21,2 e 9; 22,17), que “Cristo amou... e pela qual se entregou, para santificá-la” (Ef 5,25-26), unindo-a a si de maneira indissolúvel, “alimentando-a e protegendo-a” (Ef 5,29) incessantemente e desejando tê-la unida a si, purificada e obediente, no amor e na fidelidade (cf. Ef 5,24), que, finalmente, cumula dos bens celestiais para sempre, para compreendermos o amor de Deus e de Cristo por nós, que tudo ultrapassa (Ef 3,19). Enquanto caminha na terra, longe do Senhor (cf. 2Cor 5,6), a Igreja está como que exilada. Busca e experimenta as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus, onde a vida da Igreja está escondida com Cristo em Deus, até que seu esposo apareça revestido de glória (cf. Cl 3,1-4)”. Nota:10 cf. LG 31, 34, 35 e 36: “31. Denominam-se leigos todos os fiéis que não pertencem às ordens sagradas, nem são religiosos reconhecidos pela Igreja. São, pois, os fiéis batizados, incorporados a Cristo, membros do povo de Deus, participantes da função sacerdotal, profética e régia de Cristo, que tomam parte no cumprimento da missão de todo o povo cristão, na Igreja e no mundo. O caráter secular caracteriza os leigos. Os membros das sagradas ordens, apesar de exercerem, às vezes, funções seculares ou de se ocuparem de coisas seculares, estão orientados para o ministério sagrado, em virtude de uma vocação especial. Os religiosos, por sua vida, testemunham de maneira clara e magnífica a transfiguração do mundo oferecido a Deus numa vida inspirada nas bem-aventuranças. A vocação própria dos leigos é administrar e ordenar as coisas temporais, em busca do reino de Deus. Vivem, pois, no mundo, isto é, em todas as profissões e trabalhos, nas condições comuns da vida familiar e social, que constituem a trama da existência. São aí chamados por Deus, como leigos, a viver segundo o espírito do Evangelho, como fermento de santificação no seio do mundo, brilhando em sua própria vida pelo testemunho da fé, da esperança e do amor, de maneira a manifestar Cristo a todos os homens. Compete-lhes, pois, de modo especial, iluminar e organizar as coisas temporais a que estão vinculados, para que elas se orientem por Cristo e se desenvolvam em louvor do Criador e do Redentor. 34. Jesus Cristo, sacerdote supremo e eterno, quer continuar seu testemunho e seu serviço através dos leigos. Por isso os anima constantemente com seu Espírito e os induz a tudo que é bom e perfeito. Quis então que todos aqueles que tão intimamente associou à sua vida e missão participassem também de sua função sacerdotal, num culto espiritual, para a glória de Deus e a salvação do gênero humano. Por isso, os leigos, como consagrados a Cristo e ungidos pelo Espírito Santo, são chamados e dotados de tudo que é preciso para que o mesmo Espírito produza neles frutos cada vez mais abundantes. Realizando no Espírito Santo todas as suas obras, orações, iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano, descanso espiritual e corporal, ou mesmo suportando os aborrecimentos da vida com paciência, tornam-se os leigos hóstias espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cf. 1Pd 2, 5), apresentadas piedosamente ao Pai, na eucaristia, com o oferecimento do corpo do Senhor. Agindo em toda parte como adoradores de Deus, os leigos consagram o mundo a Deus. 35. Cristo, como grande profeta, proclamou o reino do Pai pelo testemunho de sua vida e pela força de sua palavra. Continua a cumprir sua função profética até a plena manifestação da glória, não só pela hierarquia, que ensina em seu nome e poder, mas também pelos leigos, que estabeleceu como testemunhas e instrui com o senso da fé e a graça da palavra (cf. At 2, 17s; Ap 19, 10), para que a força do Evangelho brilhe na vida social e familiar de todo dia. Os leigos comportam-se como filhos da promessa quando, fortes na fé e na esperança, resgatam o momento presente (cf. Ef 5, 16; Cl 4, 5) e aspiram com paciência pela glória futura (cf. Rm 8, 25). Não escondem essa esperança no interior do coração, mas a tornam manifesta até mesmo nas estruturas sociais, pela vida que levam e pela luta “contra os dominadores deste mundo de trevas e contra os espíritos do mal” (Ef 6, 12). Os sacramentos da nova lei, que alimentam a vida e o apostolado dos fiéis, prefiguram o novo céu e a nova terra (cf. Ap 21, 1). Da mesma forma, os leigos anunciam a fé nos bens que se esperam (cf. Hb 11, 1), quando unem, de maneira inseparável, a vida e a profissão de fé. Esta evangelização, o anúncio de Cristo pelo testemunho de vida que acompanha a manifestação da palavra, adquire uma eficácia especial e específica, pelo fato de se fazer nas condições comuns da vida no mundo. A vida matrimonial e familiar, santificada pelo sacramento, tem um valor particular: é exercício e principal escola do apostolado leigo, enquanto a religião cristã nela praticada penetra toda a vida e a vai progressivamente transformando. Na família, os cônjuges são especialmente chamados a serem testemunhas da fé e do amor entre si e em relação aos filhos. A família cristã é chamada a proclamar, ao mesmo tempo, a força atual do reino de Deus e a esperança da vida eterna. Por seu testemunho e exemplo, denuncia o pecado do mundo e ilumina os que buscam a verdade. Por conseguinte, os leigos podem e devem exercer uma ação valiosa para a evangelização do mundo, ocupando-se das coisas temporais. Na falta, porém, de ministros ou em regime de perseguição, podem ser chamados a suprir certas funções. Somente alguns se dedicam exclusivamente ao apostolado, mas todos devem contribuir para o aumento e o crescimento do reino de Cristo. Que todos, pois, se empenhem em aprofundar o conhecimento da verdade revelada e peçam com insistência a Deus o dom da sabedoria. 36. Cristo entrou na glória do reino fazendo-se obediente até a morte e sendo, por isso, exaltado pelo Pai (cf. Fl 2, 8s). Tudo lhe foi submetido, até que ele mesmo submeta ao Pai todas as coisas criadas, para que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15, 27s). Comunicou aos discípulos este seu poder para que tenham uma

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40liberdade de reis e vençam em si mesmos o domínio do pecado, pela abnegação de si mesmos e por uma vida de santidade (cf. Rm 6, 12). Mas além disso, para que, servindo a Cristo nos outros, os discípulos encaminhem seus irmãos, pela humildade e pela paciência, ao rei, a quem servir é reinar. O Senhor deseja que também os leigos contribuam para o aumento de seu ‘reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz’, em que a criatura é libertada da escravidão da morte, para a liberdade dos filhos de Deus (cf. Rm 8, 21). A promessa é grande, como é grande o mandamento dado aos discípulos: ‘Tudo é de vocês, mas vocês são de Cristo e Cristo é de Deus’ (1Cor 3, 22ss). Os fiéis devem, pois, reconhecer a natureza, o valor e a destinação ao louvor de Deus de todas as criaturas, devem também ajudar-se uns aos outros em vista de uma vida mais santa, inclusive nos trabalhos desse mundo, para imbuí-lo do espírito de Cristo e fazer com que alcance de maneira mais profunda sua finalidade, na justiça, na caridade e na paz. No cumprimento desta tarefa, os leigos desempenham o papel principal. Sua competência nas disciplinas e atividades profanas, interiormente elevada pela graça de Cristo, confere especial validade a seu trabalho. Desenvolvem-se assim os bens criados, de acordo com a disposição do criador e sob a iluminação do Verbo, através do trabalho humano, da técnica e da cultura. Estes mesmos bens criados se tornam úteis a todos, são melhor distribuídos e contribuem para o progresso universal, na liberdade humana e cristã. Cristo iluminará assim cada vez mais a sociedade, com sua luz salutar, por intermédio dos membros da Igreja. Unidos, os leigos devem procurar corrigir as condições de vida e as instituições do mundo que induzem ao pecado, para que se conformem com as normas da justiça e contribuam para a prática do bem, em lugar de dificultá-la. Agindo assim conferem à cultura e às atividades humanas um valor moral. Preparam o campo do mundo para melhor receber a semente da palavra divina e abrem as portas à Igreja, para que atue como anunciadora da paz. Em benefício da própria salvação, os fiéis devem cuidadosamente aprender a distinguir entre seus direitos e deveres, como membros da Igreja e o que lhes compete como membros da sociedade humana. Procurem harmonizar esses dois aspectos de sua vida, lembrando-se de que em todas as circunstâncias temporais precisam se deixar inspirar pela consciência cristã, pois nada foge ao domínio de Deus. Nos dias de hoje, é muito importante que se evidenciem no modo de agir dos fiéis tanto essa distinção quanto a harmonia, para que a Igreja, no cumprimento de sua missão, corresponda às necessidades do mundo atual. Assim como se reconhece que a sociedade terrena, voltada para o cuidado das coisas temporais, é regida por princípios próprios, deve-se rejeitar a doutrina infausta, que pretende construir a sociedade sem levar em conta a religião e que combate e destrói a liberdade religiosa dos cidadãos”. AA 10: “Participantes das funções sacerdotal, profética e régia de Cristo, os leigos devem atuar na vida e no apostolado da Igreja. Nas comunidades cristãs sua atuação é indispensável, para que a atividade pastoral dos responsáveis possa ter resultados efetivos. Os leigos devem cultivar o espírito dos homens e mulheres que auxiliavam S. Paulo na evangelização (cf. At 18, 18.26; Rm 16, 3), socorrendo os irmãos em suas necessidades e colaborando para manter o espírito tanto dos pastores como dos demais fiéis (cf. 1Cor 16, 17-18). Participando ativamente da vida litúrgica de suas respectivas comunidades, participem também de sua ação apostólica. Facilitem o acesso de pessoas afastadas da Igreja. Tomem parte ativa no serviço da palavra de Deus, especialmente na catequese. Tornem mais eficaz a ação da Igreja, colocando suas competências a serviço da cura das almas e até da administração dos bens da Igreja. A paróquia deve se tornar um exemplo claro de apostolado comunitário. Todas as diversidades humanas estão nela representadas e inseridas na universalidade da Igreja. Habituem-se os leigos a colaborar com os padres, na paróquia. Os problemas próprios e do mundo, assim como as questões referentes à salvação, devem ser analisados, discutidos e resolvidos em comum. Apóiem e se esforcem por secundar todas as iniciativas apostólicas e missionárias de sua família eclesial. Alimentem igualmente o sentimento de pertencer à diocese, de que a paróquia é a célula. Mostrem-se sempre dispostos a aderir, na medida de suas forças, às iniciativas diocesanas, a convite do pastor. Melhor ainda, visando atender às necessidades das populações urbanas e rurais, não restrinjam sua cooperação aos limites da paróquia ou da diocese. Tenham em mente as realidades interparoquiais e interdiocesanas, nacionais e internacionais, tanto mais que crescem cada dia as migrações de populações inteiras, estendem-se a todo o globo as necessidades recíprocas entre os povos e aumentam as facilidades de comunicação. Não há mais setor ou parte da sociedade fechado sobre si mesmo. Preocupem-se, pois, com as necessidades do povo de Deus espalhado por toda a terra. Assumam a seu modo o trabalho missionário, com auxílios materiais e ajuda pessoal. Para o cristão é um dever e uma honra restituir a Deus parte dos bens dele recebidos”. Nota:11 cf. EN 17-39: “17. Na ação evangelizadora da Igreja há certamente elementos e aspectos que se devem lembrar. Alguns deles são de tal maneira importantes que se verifica a tendência para os identificar simplesmente com a evangelização. Pode-se assim definir a evangelização em termos de anúncio de Cristo àqueles que o desconhecem, de pregação, de catequese, de batismo e de outros sacramentos que hão de ser conferidos. Nenhuma definição parcial e fragmentária, porém, chegará a dar a razão da realidade rica, complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com o risco de a empobrecer e até mesmo de a mutilar. É impossível captá-la se não se procurar abranger com uma visão de conjunto todos os seus elementos essenciais. Tais elementos, acentuados com insistência no decorrer do mencionado Sínodo, são ainda agora aprofundados muitas vezes, sob a influência do trabalho sinodal. E nós regozijamo-nos pelo fato de eles se situarem, no fundo, na linha daqueles que o Concílio Vaticano II nos proporcionou, sobretudo nas Constituições ‘Lumen Gentium’ e ‘Gaudium et Spes’ e no Decreto ‘Ad Gentes’. 18. Evangelizar, para a Igreja, é levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, e pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade: ‘Eis que faço novas todas as coisas’. No entanto não haverá humanidade nova, se não houver em primeiro lugar homens novos, pela novidade do batismo e da vida segundo o Evangelho. A finalidade da evangelização, portanto, é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando, unicamente firmada na potência divina da mensagem que proclama, ela

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41procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e coletiva dos homens, a atividade em que eles se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios. 19. Estratos da humanidade que se transformam: para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos ou populações maiores em dimensões de massa, mas de chegar a atingir e como que a modificar pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que se apresentam em contraste com a Palavra de Deus e com o desígnio da salvação. 20. Poder-se-ia exprimir tudo isto dizendo: importa evangelizar – não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade e isto até às suas raízes – a cultura e as culturas do homem, no sentido pleno e amplo que estes termos têm na Constituição ‘Gaudium et Spes’, a partir sempre da pessoa e fazendo continuamente apelo para as relações das pessoas entre si e com Deus. O Evangelho, e conseqüentemente a evangelização, não se identificam por certo com a cultura, e são independentes em relação a todas as culturas. E no entanto, o reino que o Evangelho anuncia é vivido por homens profundamente ligados a uma determinada cultura, e a edificação do reino não pode deixar de servir-se de elementos da cultura e das culturas humanas. O Evangelho e a evangelização independentes em relação às culturas, não são necessariamente incompatíveis com elas, mas suscetíveis de as impregnar a todas sem se escravizar a nenhuma delas. A ruptura entre o Evangelho e a cultura é, sem dúvida, o drama da nossa época, como o foi também de outras épocas. Assim, importa envidar todos os esforços no sentido de uma generosa evangelização da cultura, ou mais exatamente das culturas. Estas devem ser regeneradas mediante o impacto da Boa Nova. Mas um tal encontro não virá a dar-se se a Boa Nova não for proclamada. 21. E esta Boa Nova há de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho. Suponhamos um cristão ou grupo de cristãos que, no seio da comunidade humana em que vivem, manifestam a sua capacidade de compreensão e de acolhimento, a sua comunhão de vida e de destino com os demais, a sua solidariedade nos esforços de todos para tudo aquilo que é nobre e bom. Assim, eles irradiam, de modo absolutamente simples e espontâneo, a sua fé em valores que estão para além dos valores correntes, e a sua esperança em qualquer coisa que não se vê e que não se seria capaz sequer de imaginar. Por força deste testemunho sem palavras, estes cristãos fazem aflorar no coração daqueles que os vêem viver, perguntas indeclináveis: Por que é que eles são assim? Por que é que eles vivem daquela maneira? O que é – ou quem é – que os inspira? Por que é que eles estão conosco? Pois bem: um semelhante testemunho constitui já proclamação silenciosa, mas muito valorosa e eficaz da Boa Nova. Nisso há um gesto inicial de evangelização. Daí as perguntas que talvez sejam as primeiras que se põem a muitos não-cristãos, quer se trate de pessoas às quais Cristo nunca tinha sido anunciado, ou de batizados não praticantes, ou de pessoas que vivem em cristandades, mas segundo princípios que não são nada cristãos. Quer se trate, enfim, de pessoas em atitudes de procurar, não sem sofrimento, alguma coisa ou Alguém que elas adivinham, sem conseguir dar-lhe o verdadeiro nome. E outras perguntas surgirão, depois, mais profundas e mais de molde a ditar um compromisso, provocadas pelo testemunho aludido, que comporta presença, participação e solidariedade e que é um elemento essencial, geralmente o primeiro de todos, na evangelização. Todos os cristãos são chamados a dar este testemunho e podem ser, sob este aspecto, verdadeiros evangelizadores. E aqui pensamos, de modo especial, na responsabilidade que se origina para os migrantes nos países que os recebem. 22. Entretanto, isto permanecerá sempre insuficiente, pois ainda o mais belo testemunho virá a demonstrar-se, com o andar do tempo, impotente, se ele não vier a ser esclarecido, justificado - aquilo que São Pedro chamava dar ‘a razão da própria esperança’ - explicitado por um anúncio claro e inelutável do Senhor Jesus. Por conseguinte, a Boa Nova proclamada pelo testemunho da vida deverá, mais tarde ou mais cedo, ser proclamada pela palavra da vida. Não haverá nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados. A história da Igreja, a partir da pregação de Pedro, na manhã do Pentecostes identifica-se e confunde-se com a história de tal anúncio. Em cada nova fase da história humana, a Igreja, constantemente estimulada pelo desejo de evangelizar, não tem senão uma preocupação instigadora: Quem enviar a anunciar o mistério de Jesus? Com que linguagem anunciar um mistério? Como fazer para que ele ressoe e chegue a todos aqueles que hão de ouvir? Este anúncio - kerigma, pregação ou catequese - ocupa um tal lugar na evangelização que, com freqüência, se tornou sinônimo dela. No entanto, ele não é senão um aspecto da evangelização. 23. O anúncio, de fato, não adquire toda a sua dimensão, senão quando ele for ouvido, acolhido, assimilado e quando ele tiver feito brotar naquele que assim o tiver recebido uma adesão do coração. Sim, adesão às verdades que o Senhor, por misericórdia, revelou. Mais ainda, adesão ao programa de vida - vida doravante transformada - que ele propõe; adesão, numa palavra, ao reino, que o mesmo é dizer, ao ‘mundo novo’, ao novo estado de coisas, à nova maneira de ser, de viver, de estar junto com os outros, que o Evangelho inaugura. Uma tal adesão, que não pode permanecer abstrata e desencarnada, manifesta-se concretamente por uma entrada visível numa comunidade de fiéis. Assim, aqueles cuja vida se transformou ingressam, portanto, numa comunidade que também ela própria é sinal da transformação e sinal da novidade de vida: é a Igreja, sacramento visível da salvação. Mas, a entrada na comunidade eclesial, por sua vez, há de exprimir-se através de muitos outros sinais, que prolongam e desenvolvem o sinal da Igreja. No dinamismo da evangelização, aquele que acolhe o Evangelho como Palavra que salva, normalmente, o traduz depois nestas atitudes sacramentais: adesão à Igreja, aceitação dos sacramentos que manifestam e sustentam essa adesão, pela graça que eles conferem. 24. Finalmente, aquele que foi evangelizado, por sua vez, evangeliza. Está nisso o teste de verdade, a pedra-de-toque da evangelização: não se pode conceber uma pessoa que tenha acolhido a Palavra e se tenha entregado ao reino sem se tornar alguém que testemunha e, por seu turno, anuncia essa Palavra. Ao terminar estas considerações sobre o sentido da evangelização, importa formular uma última observação, que consideramos esclarecedora para as reflexões que se seguem. A evangelização, por tudo o que dissemos é uma diligência complexa, em que há variados elementos: renovação da humanidade, testemunho, anúncio explícito, adesão do coração, entrada na comunidade, aceitação dos sinais e iniciativas de apostolado.

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42Estes elementos, na aparência, podem afigurar-se contrastantes. Na realidade, porém, eles são complementares e reciprocamente enriquecedores uns dos outros. É necessário encarar sempre cada um deles na sua integração com os demais. Um dos méritos do recente Sínodo foi precisamente o de nos ter repetido constantemente o convite para harmonizar estes mesmos elementos, e não fazer com que se oponham entre si, a fim de se ter a plena compreensão da atividade evangelizadora da Igreja. É esta visão global que nós intentamos apresentar seguidamente, examinando o conteúdo da evangelização, os meios para evangelizar e precisando a quem se destina o anúncio evangélico e a quem é que incumbe hoje esta tarefa de evangelizar. 25. Na mensagem que a Igreja anuncia há, certamente, muitos elementos secundários. A sua apresentação depende, em larga escala, das circunstâncias mutáveis. Também eles mudam. Entretanto, permanece sempre o conteúdo essencial, a substância viva, que não se poderia modificar nem deixar em silêncio sem desvirtuar gravemente a própria evangelização. 26. Não é supérfluo, talvez, recordar o seguinte: evangelizar é, em primeiro lugar, dar testemunho, de maneira simples e direta, de Deus revelado por Jesus Cristo, no Espírito Santo. Dar testemunho de que no seu Filho ele amou o mundo; de que no seu Verbo Encarnado ele deu o ser a todas as coisas e chamou os homens para a vida eterna. Esta atestação de Deus proporcionará, para muitos talvez, o Deus desconhecido, que eles adoram sem lhe dar um nome, ou que eles procuram por força de um apelo secreto do coração quando fazem a experiência da vacuidade de todos os ídolos. Mas ela é plenamente evangelizadora, ao manifestar que para o homem, o Criador já não é uma potência anônima e longínqua: ele é Pai. ‘... Sinal de amor nos deu o Pai em nos chamarmos, como de fato somos, filhos de Deus’; e, portanto, nós somos irmãos uns dos outros em Deus. 27. A evangelização há de conter também sempre - ao mesmo tempo como base, centro e ápice do seu dinamismo - uma proclamação clara que, em Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem, morto e ressuscitado, a salvação é oferecida a todos os homens, como dom da graça e da misericórdia do mesmo Deus. E não uma salvação imanente ao mundo, limitada às necessidades materiais ou mesmo espirituais, e que se exaurisse no âmbito da existência temporal e se identificasse, em última análise, com as aspirações, com as esperanças, com as diligências e com os combates temporais; mas sim uma salvação que ultrapassa todos estes limites, para vir a ter a sua plena realização numa comunhão com o único Absoluto, que é o de Deus: salvação transcendente e escatológica, que já tem certamente o seu começo nesta vida, mas que terá realização completa na eternidade. 28. Por conseguinte, a evangelização não pode deixar de comportar o anúncio profético do além, vocação profunda e definitiva do homem, ao mesmo tempo em continuidade e em descontinuidade com a sua situação presente: para além do tempo e da história, para além da realidade deste mundo cujo cenário passa, e das coisas deste mundo de que um dia se manifestará uma dimensão escondida; para além do próprio homem, cujo destino verdadeiro não se limita à sua aparência temporal, mas que virá também ele a ser revelado na vida futura. A evangelização contém, pois, também a pregação da esperança nas promessas feitas por Deus na Nova Aliança em Jesus Cristo: a pregação do amor de Deus para conosco e do nosso amor a Deus, a pregação do amor fraterno para com todos os homens - capacidade de doação e de perdão, de renúncia e de ajuda aos irmãos - que promana do amor de Deus e que é o núcleo do Evangelho; a pregação do mistério do mal e da busca ativa do bem. Pregação, igualmente - e esta sempre urgente - da busca do próprio Deus, através da oração, principalmente de adoração e de ação graças, assim como através da comunhão com o sinal visível do encontro com Deus que é a Igreja de Jesus Cristo. Uma tal comunhão exprime-se, por sua vez, mediante a realização dos outros sinais de Cristo vivo e a agir na Igreja, quais são os sacramentos. Viver desta maneira os sacramentos, de maneira a fazer com que a celebração dos mesmos atinja uma verdadeira plenitude, não é de modo algum, como às vezes se pretende, colocar um obstáculo ou aceitar um desvio da evangelização; é antes proporcionar-lhe a sua integridade. Efetivamente, a totalidade da evangelização para além da pregação de uma mensagem, consiste em implantar a Igreja, a qual não existe sem esta respiração, que é a vida sacramental a culminar na Eucaristia. 29. Mas a evangelização não seria completa se ela não tomasse em consideração a interpelação recíproca que se fazem constantemente o Evangelho e a vida concreta, pessoal e social, dos homens. É por isso que a evangelização comporta uma mensagem explícita, adaptada às diversas situações e continuamente atualizada: sobre os direitos e deveres de toda a pessoa humana e sobre a vida familiar, sem a qual o desabrochamento pessoal quase não é possível, sobre a vida em comum na sociedade; sobre a vida internacional, a paz, a justiça e o desenvolvimento; uma mensagem sobremaneira vigorosa nos nossos dias, ainda, sobre a libertação. 30. São conhecidos os termos em que falaram de tudo isto, no recente Sínodo, numerosos bispos de todas as partes da terra, sobretudo os do chamado ‘Terceiro Mundo’, com uma acentuação pastoral em que repercutia a voz de milhões de filhos da Igreja que formam esses povos. Povos comprometidos, como bem sabemos, com toda a sua energia no esforço e na luta por superar tudo aquilo que os condena a ficarem à margem da vida: carestias, doenças crônicas e endêmicas, analfabetismo, pauperismo, injustiças nas relações internacionais e especialmente nos intercâmbios comerciais, situações de neo-colonialismo econômico e cultural, por vezes tão cruel como o velho colonialismo político. A Igreja, repetiram os bispos, tem o dever de anunciar a libertação de milhões de seres humanos, sendo muitos destes seus filhos espirituais; o dever de ajudar uma tal libertação nos seus começos, de dar testemunho em favor dela e de envidar esforços para que ela chegue a ser total. Isso não é alheio à evangelização. 31. Entre evangelização e promoção humana - desenvolvimento, libertação – existem, de fato, laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que o homem que há de ser evangelizado não é um ser abstrato, mas é sim um ser condicionado pelo conjunto dos problemas sociais e econômicos; laços de ordem teológica, porque não se pode nunca dissociar o plano da criação do plano da redenção, um e outro a abrangerem as situações bem concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada; laços daquela ordem eminentemente evangélica, qual é a ordem da caridade: como se poderia, realmente, proclamar o mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e o autêntico progresso do homem? Nós próprios tivemos o cuidado de salientar isto mesmo, ao recordar que é impossível aceitar ‘que a obra da evangelização possa ou deva negligenciar os problemas extremamente graves, agitados sobremaneira hoje em dia, pelo que se refere à justiça, à libertação, ao desenvolvimento e à paz no mundo. Se isso

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43porventura acontecesse, seria ignorar a doutrina do Evangelho sobre o amor para com o próximo que sofre ou se encontra em necessidade’. Pois bem: aquelas mesmas vozes que, com zelo, inteligência e coragem, ventilaram este tema candente, no decorrer do referido Sínodo, com grande alegria nossa forneceram os princípios iluminadores para bem se captar o alcance e o sentido profundo da libertação, conforme ela foi anunciada e realizada por Jesus de Nazaré e conforme a Igreja a apregoa. 32. Não devemos esconder, entretanto, que numerosos cristãos, generosos e sensíveis perante os problemas dramáticos que se apresentam quanto a este ponto da libertação, ao quererem atuar o empenho da Igreja no esforço de libertação, têm freqüentemente a tentação de reduzir a sua missão às dimensões de um projeto simplesmente temporal; os seus objetivos a uma visão antropocêntrica; a salvação, de que ela é mensageira e sacramento, a um bem-estar material; a sua atividade - esquecendo todas as preocupações espirituais e religiosas - a iniciativas de ordem política ou social. No entanto, se fosse assim, a Igreja perderia o seu significado próprio. A sua mensagem de libertação já não teria originalidade alguma e ficaria prestes a ser monopolizada e manipulada por sistemas ideológicos e por partidos políticos. Ela já não teria autoridade para anunciar a libertação, como sendo da parte de Deus. Foi por tudo isso que nós quisemos acentuar bem na mesma alocução, quando da abertura da terceira Assembléia Geral do Sínodo, ‘a necessidade de ser reafirmada a finalidade especificamente religiosa da evangelização. Esta última perderia a sua razão de ser se se apartasse do eixo religioso que a rege: o reino de Deus, antes de toda e qualquer outra coisa, no seu sentido plenamente teológico’. 33. Acerca da libertação que a evangelização anuncia e se esforça por atuar, é necessário dizer antes o seguinte: - ela não pode ser limitada à simples e restrita dimensão econômica, política, social e cultural; mas deve ter em vista o homem todo, integralmente, com todas as suas dimensões, incluindo a sua abertura para o absoluto, mesmo o absoluto de Deus; - ela anda, portanto, coligada a uma determinada concepção do homem, a uma antropologia que ela jamais pode sacrificar às exigências de uma estratégia qualquer, ou de uma ‘práxis’ ou, ainda, de uma eficácia a curto prazo. 34. Assim, ao pregar a libertação e ao associar-se àqueles que operam e sofrem com o sentido de a favorecer, a Igreja não admite circunscrever a sua missão apenas ao campo religioso, como se se desinteressasse dos problemas temporais do homem; mas reafirmando sempre o primado da sua vocação espiritual, ela se recusa a substituir o anúncio do reino pela proclamação das libertações puramente humanas e afirma que a sua contribuição para a libertação ficaria incompleta se ela negligenciasse anunciar a salvação em Jesus Cristo. 35. A Igreja relaciona, mas nunca identifica, a libertação humana com a salvação em Jesus Cristo, porque ela sabe por revelação, por experiência histórica e por reflexão de fé que nem todas as noções de libertação são forçosamente coerentes e compatíveis com uma visão evangélica do homem, das coisas e dos acontecimentos; e sabe que não basta instaurar a libertação, criar o bem-estar e impulsionar o desenvolvimento, para se poder dizer que o reino de Deus chegou. Mais ainda: a Igreja tem a firme convicção de que toda a libertação temporal, toda a libertação política - mesmo que ela porventura se esforçasse por encontrar numa ou noutra página do Antigo ou do Novo Testamento a própria justificação, mesmo que ela reclamasse para os seus postulados ideológicos e para as suas normas de ação a autoridade dos dados e das conclusões teológicas e mesmo que ela pretendesse ser a teologia para os dias de hoje - encerra em si mesma o gérmen da sua própria negação e desvia-se do ideal que se propõe, por isso mesmo que as suas motivações profundas não são as da justiça na caridade, e porque o impulso que a arrasta não tem dimensão verdadeiramente espiritual e a sua última finalidade não é a salvação e a beatitude em Deus. 36. A Igreja tem, certamente, como algo importante e urgente que se construam estruturas mais humanas, mais justas, mais respeitadoras dos direitos da pessoa, menos opressivas e menos escravizadoras; mas ela continua consciente de que as melhores estruturas, ou os sistemas melhores idealizados depressa se tornam desumanos, se as tendências inumanas do coração do homem não se acharem purificadas, se não houver uma conversão do coração e do modo de encarar as coisas naqueles que vivem em tais estruturas ou que as comandam. 37. A Igreja não pode aceitar a violência, sobretudo a força das armas - de que se perde o domínio, uma vez desencadeada - e a morte de pessoas sem discriminação, como caminho para a libertação; ela sabe, efetivamente, que a violência provoca sempre a violência e gera irresistivelmente novas formas de opressão e de escravização, não raro bem mais pesadas do que aquelas que ela pretendia eliminar. Dizíamos quando da nossa viagem à Colômbia: ‘Exorta-mo-vos a não pôr a vossa confiança na violência, nem na revolução; tal atitude é contrária ao espírito cristão e pode também retardar, em vez de favorecer, a elevação social pela qual legitimamente aspirais’. E ainda: ‘Nós devemos reafirmar que a violência não é nem cristã nem evangélica e que as mudanças bruscas ou violentas das estruturas seriam falazes e ineficazes em si mesmas e, por certo, não conformes à dignidade dos povos’. 38. Dito isto, nós nos alegramos de que a Igreja tome uma consciência cada dia mais viva do modo próprio, genuinamente evangélico, que ela tem para colaborar na libertação dos homens. E o que faz ela, então? Ela procura suscitar cada vez mais nos ânimos de numerosos cristãos a generosidade para se dedicarem à libertação dos outros. Ela dá a estes cristãos ‘libertadores’ uma inspiração de fé e uma motivação de amor fraterno, uma doutrina social a que o verdadeiro cristão não pode deixar de estar atento, mas que deve tomar como base da própria prudência e da própria experiência, a fim de a traduzir concretamente em categorias de ação, de participação e de compromisso. Tudo isso, sem se confundir com atitudes táticas nem com o serviço de um sistema político, deve caracterizar a coragem do cristão comprometido. A Igreja esforça-se por inserir sempre a luta cristã em favor da libertação do desígnio global da salvação, que ela própria anuncia. O que acabamos de recordar aqui emerge, por mais de uma vez, dos debates do Sínodo. Nós próprios, aliás, também quisemos dedicar a este mesmo tema algumas palavras de esclarecimento na alocução que dirigimos aos padres sinodais no final da Assembléia. Todas estas considerações deveriam contribuir, ao menos é de esperar que assim suceda, para evitar a ambigüidade de que se reveste freqüentemente a palavra ‘libertação’, nas ideologias, nos sistemas ou nos

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44grupos políticos. A libertação que a evangelização proclama e prepara é aquela mesma que o próprio Jesus Cristo anunciou e proporcionou aos homens pelo seu sacrifício. 39. Desta justa libertação, ligada à evangelização e que visa alcançar o estabelecimento de estruturas que salvaguardem as liberdades humanas, não pode ser separada a necessidade de garantir todos os direitos fundamentais do homem, entre os quais a liberdade religiosa ocupa um lugar de primária importância. Tivemos ocasião de falar, ainda há pouco, da atualidade deste problema, pondo em relevo que há ‘muitos cristãos, ainda hoje, que vivem sufocados por uma opressão sistemática, pelo fato de serem cristãos, pelo fato de serem católicos! O drama da fidelidade a Cristo e da liberdade de religião, se bem que dissimulado por declarações categóricas em favor dos direitos da pessoa e das relações humanas em sociedade, é um drama que continua!’”. Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil, 1979-1982, n.8-14: “Ao proclamar a missão que o Pai lhe confiou na terra em favor dos homens, o Senhor Jesus aplicou a si, em sentido pleno, a profecia de Isaías: o ‘Espírito do Senhor está sobre mim porque ele me ungiu para EVANGELIZAR os pobres’ (Lc 4,18). 9. ‘EVANGELIZAR’ é, pois, a missão de Cristo e a razão de ser da Igreja, que impulsionada pelo mesmo Espírito, continua na história dos homens, a atuação de Cristo, o primeiro Evangelizador (cf. EN 6,75). A Evangelização inclui toda uma riqueza de conteúdo que se foi explicitando no correr dos tempos, a partir dos diferentes apelos e situações emergentes em cada época. 10. A Igreja com sua tradição viva é testemunha e depositária do Evangelho (cf. EN 15; Puebla 224). Paulo VI, inspirado pela riqueza do Sínodo sobre Evangelização, recolhe todo esse tesouro e apresenta a missão de evangelizar como ‘um processo complexo em que há variados elementos: renovação da humanidade, testemunho, anúncio explícito, adesão do coração, entrada na comunidade, aceitação dos sinais e iniciativas do apostolado’ (EN 24). 11. A palavra EVANGELIZAR, no início do objetivo geral, põe em evidência a atividade eclesial, continuação da missão de Jesus. A Igreja existe para evangelizar (cf. Puebla 4,75,85,225). 12. Para evangelizar com credibilidade, a Igreja deve evangelizar a si mesma por uma conversão constante (EN 15; Puebla 349). Evangelizar não é missão apenas da hierarquia, mas de todo o povo de Deus que a exerce co-responsavelmente (cf. Puebla 348; 1097). 13. Na globalidade da ação evangelizadora, respeitada e promovida em toda sua riqueza, sublinham-se alguns aspectos: - Evangelizar é anunciar o Reino de Deus, prolongando através dos tempos a missão de Jesus, que veio ‘trazer a boa nova aos pobres, anunciar aos cativos a libertação e aos cegos a restauração da vista, dar liberdade aos oprimidos, proclamar o ano da graça do Senhor’ (Lc 4,18; cf. EN 8; Puebla 227). - Evangelizar é também denunciar profeticamente o que se opõe à dignidade do homem e ao plano de Deus (P 338, 1269). - Evangelizar é renovar toda a vida da sociedade, a partir de dentro (cf. EN 18) não de maneira decorativa, como que aplicando um verniz superficial, mas de maneira vital, em profundidade, e isto até às suas raízes, a cultura e as culturas do homem (cf. EN 20), modificando, pela força do Evangelho os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade (cf. EN 19). 14. Evangelizar constitui assim o centro de convergência do Objetivo Geral. Com isto, se pretende significar que esse mesmo Objetivo se situa no prolongamento e é a implementação concreta de Puebla, cujo tema foi precisamente a Evangelização”. Nota:12 cf. EN 31: “Entre evangelização e promoção humana - desenvolvimento, libertação - existem de fato laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que o homem que há de ser evangelizado não é um ser abstrato, mas é sim um ser condicionado pelo conjunto dos problemas sociais e econômicos; laços de ordem teológica, porque não se pode nunca dissociar o plano da criação do plano da redenção, um e outro a abrangerem as situações bem concretas da injustiça que há de ser combatida e da justiça a ser restaurada; laços daquela ordem eminentemente evangélica, qual é a ordem da caridade: como se poderia, realmente, proclamar o mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e o autêntico progresso do homem? Nós próprios tivemos o cuidado de salientar isto mesmo, ao recordar que é impossível aceitar ‘que a obra da evangelização possa ou deva negligenciar os problemas extremamente graves, agitados sobremaneira hoje em dia, pelo que se refere à justiça, à libertação, ao desenvolvimento e à paz no mundo. Se isso porventura acontecesse, seria ignorar a doutrina do Evangelho sobre o amor para com o próximo que sofre ou se encontra em necessidade’. Pois bem: aquelas mesmas vozes que, com zelo, inteligência e coragem, ventilaram este tema candente, no decorrer do referido Sínodo, com grande alegria nossa forneceram os princípios iluminadores para bem se captar o alcance e o sentido profundo da libertação, conforme ela foi anunciada e realizada por Jesus de Nazaré e conforme a Igreja a apregoa”. Nota:13 A doutrina do Concílio foi assim condensada por um teólogo: “Sabemos que... entre todos os batizados reina a verdadeira igualdade quanto à dignidade e à ação comum dos féis na edificação do corpo de Cristo (LG 32c/80); que todos participam na missão de todo povo cristão na Igreja e no mundo (LG 31 a 76); que todos têm parte ativa na vida e ação da Igreja (AA 10a/1367); que os leigos são agora ‘irmãos’ dos pastores (LG 32c/81; 37a/95); que absolutamente todos são (quicumque sunt) chamados pelo Senhor para o incremento e a perene santificação da Igreja (LG 33a/82; AA 2a/ 1334); que todos (omnes omnino christifideles) são destinados pelo próprio Senhor ao apostolado (LG 33b/83); que a todos os leigos incumbe o preclaro ônus de trabalhar para que o plano divino de salvação atinja sempre mais todos os homens de todos os tempos e de todos os lugares (LG 33d/85); que todos os batizados participam do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo (LG 31a/77; AA 2b/1335; 10a/1367); que o Supremo e Eterno Sacerdote quer continuar seu testemunho e seu serviço também através dos leigos (LG 34a/86), concedendo-lhe parte de seu múnus sacerdotal (LG 34b/87); que o grande Profeta exerce seu múnus profético não só através da hierarquia, mas também mediante os leigos (LG 35a/88), tendo-os por isso e para isso constituído testemunhas e ornado com o senso da fé e a graça da palavra (ib.); que também os leigos têm parte ativa na ação eucarística, devendo eles

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45oferecer-se a si mesmos e ‘não só pelas mãos do sacerdote’ (SC 48/601)”. (B. Klöppenburg, in REB 1968, 308). Nota:14 Mt 28,16: “Os onze discípulos foram para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado”. Nota:15 Mt 28,19: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Nota:16 Mt 23,8: “Quanto a vocês, nunca se deixem chamar de mestre, pois um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos”. Nota:17 Mt 28,20: “e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”. Nota:18 Mt 18,20: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles”. Nota:19 Mt 18,18: “Eu lhes garanto: tudo o que vocês ligarem na terra, será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra, será desligado no céu”. Nota:20 Mt 16,19: “Eu lhe darei as chaves do Reino do Céu, e o que você ligar na terra será ligado no céu, e o que você desligar na terra será desligado no céu”. Nota:21 Mt 28,16-20: “Os onze discípulos foram para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. Quando viram Jesus, ajoelharam-se diante dele. Ainda assim, alguns duvidaram. Então Jesus se aproximou, e falou: ‘Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo’”. Nota:22 Mt 16,18: “Por isso eu lhe digo: você é Pedro, e sobre essa pedra construirei a minha Igreja, e o poder da morte nunca poderá vencê-la”. cf. Jo 21,15-17: “Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’. Jesus disse: ‘Cuide dos meus cordeiros’. Jesus perguntou de novo a Pedro: ‘Simão, filho de João, você me ama?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’. Jesus disse: ‘Tome conta das minhas ovelhas’. Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: ‘Simão, filho de João, você me ama?’ Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: ‘Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo’. Jesus disse: ‘Cuide das minhas ovelhas’”. Nota:23 Mt 4,18-20: “Jesus andava à beira do mar da Galiléia, quando viu dois irmãos: Simão, também chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando a rede no mar, pois eram pescadores. Jesus disse para eles: ‘Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens’. Eles deixaram imediatamente as redes, e seguiram a Jesus”. Mt 16,16: “Simão Pedro respondeu: Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo’”. Nota:24 cf. Mt 14,31: “Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse: ‘Homem fraco na fé, porque você duvidou?’”. Mt 16,22-23: “Então Pedro levou Jesus para um lado, e o repreendeu, dizendo: ‘Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isso nunca te aconteça!’ Jesus, porém, voltou-se para Pedro, e disse: ‘Fique longe de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens!’”. Mt 26,69-75: “Pedro estava sentado fora, no pátio. Uma criada chegou perto dele, e disse: ‘Você também estava com Jesus, o galileu!’ Mas Pedro negou diante de todos: ‘Não sei o que você está dizendo’. E saiu para a entrada do pátio. Então outra criada viu Pedro, e disse aos que aí estavam: ‘Esse também estava com Jesus, o Nazareno’. Pedro negou outra vez, jurando: ‘Nem conheço esse homem!’ Pouco depois, os que aí estavam aproximaram-se de Pedro, e disseram: ‘É claro que você também é um deles, pois o seu modo de falar o denuncia’. Então Pedro começou a maldizer e a jurar, dizendo: ‘Nem conheço esse homem!’ Nesse instante, o galo cantou. Pedro se lembrou então do que Jesus tinha dito: ‘Antes que o galo cante, você me negará três vezes’. E, saindo, chorou amargamente”. Nota:25 cf. At 2,1: “Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar”. Nota:26 cf. 1Cor 5,4: “Em nome de Nosso Senhor Jesus, vocês e o meu espírito reunidos em assembléia com o poder de nosso Senhor Jesus”. 1Cor 6,3: “Vocês não sabem que nós haveremos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas da vida cotidiana!”. 1Cor 11,13: “Julguem por vocês mesmos: será conveniente que uma mulher reze a Deus sem estar coberta com o véu?”. 1Ts 5,21: “examinem tudo e fiquem com o que é bom”. Nota:27 1Cor 12,7: “Cada um recebe o Dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos”. Nota:28 Ef 4,11-12: “Foi ele quem estabeleceu alguns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres. Assim, ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério que constrói o Corpo de Cristo”. Nota:29

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461Jo 4,1: “Amados, não dêem crédito a todos que se dizem inspirados; antes, examinem os espíritos, para saber se vêm de Deus, pois no mundo já apareceram muitos falsos profetas”. Nota:30 2Jo 10: “Se alguém chega até vocês, sem ser portador deste ensinamento, não o recebam na casa de vocês, nem o cumprimentem”. Nota:31 1Cor 7,22-23: “Porque o escravo, que foi chamado no Senhor, é liberto no Senhor. Da mesma forma, aquele que era livre quando foi chamado é escravo de Cristo. Alguém pagou alto preço pelo resgate de vocês: não se tornem escravos de homens”. Nota:32 Gl 3,28: “Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo”. Gl 6,15: “O que importa não é a circuncisão ou a não circuncisão, e sim a nova criação”. Nota:33 At 15,2: “Isso provocou alvoroço e uma discussão muito séria deles com Paulo e Barnabé. Então ficou decidido que Paulo, Barnabé e mais alguns iriam a Jerusalém para tratar dessa questão com os apóstolos e anciãos”. At 20,17: “De Mileto, Paulo mandou emissários a Éfeso para chamar os anciãos dessa Igreja”. Nota:34 At 5,6: “Os mais jovens se levantaram, enrolaram o corpo de Ananias num lençol e o levaram para enterrar”. 1Tm 5,1: “Não repreenda duramente um ancião, mas exorte-o como se fosse um pai. Aos rapazes, como irmãos”. 1Jo 2,13: “Eu lhes escrevo, pais, porque vocês conhecem aquele que existia desde o princípio. Eu lhes escrevo, jovens, porque vocês venceram o maligno”. Nota:35 Gl 3,28: “Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo”. 1Cor 11,5: “Mas toda mulher que reza ou profetiza de cabeça descoberta, desonra a sua cabeça; é como se estivesse com a cabeça raspada”. Nota:36 1Cor 11,16: “Contudo, se alguém quiser contestar, não temos esse costume, e nem as igrejas de Deus”. 1Cor 14,34: “Que as mulheres fiquem caladas nas assembléias, como se faz em todas as igrejas dos cristãos, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a Lei”. Nota:37 Rm 16,1-15: “Recomendo a vocês nossa irmã Febe, diaconisa da igreja de Cencréia. Recebam-na no Senhor, como convém a cristãos. Dêem a ela toda a ajuda que precisar, pois ela tem ajudado muita gente e a mim também. Saudações a Prisca e Áquila, meus colaboradores em Jesus Cristo, que arriscaram a própria cabeça para salvar a minha vida. A eles não somente eu sou grato, mas também todas as igrejas dos pagãos. Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles. Saudações ao meu caro Epêneto, o primeiro fruto da Ásia para Cristo. Saudações a Maria, que trabalhou muito por vocês. Saúdem Andrônico e Júnia, meus parentes e companheiros de prisão; eles são apóstolos importantes e se converteram a Cristo antes de mim. Saúdem Amplíato, meu caro amigo no Senhor. Saúdem Urbano, nosso colaborador em Cristo, e também o meu caro Estáquis. Saúdem Apeles, que provou ser bom cristão. Saúdem os familiares de Aristóbulo. Saúdem Herodião, meu parente. Saúdem os cristãos da família de Narciso. Saúdem Trifena e Trifosa, que trabalharam pelo Senhor. Saúdem a querida Pérside, que trabalhou muito pelo Senhor. Saúdem Rufo, o eleito do Senhor, e sua mãe, que é minha também. Saúdem Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e os irmãos que vivem com eles. Saúdem Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã, Olimpas e todos os cristãos que vivem com eles” 1Cor 16,19: “As igrejas da Ásia mandam saudações. Áquila e Prisca, com a igreja que se reúne na casa deles, mandam efusivas saudações no Senhor”. Cl 4,15: “ Nota:38 cf. Lc 8,1-3: “Depois disso, Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes; Susana, e várias outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos com os bens que possuíam”. Lc 10, 38-42: “Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra. Marta estava ocupada com muitos afazeres. Aproximou-se e falou: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me! O Senhor, porém, respondeu: Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”. Nota:39 Lc 24,1-11: “No primeiro dia da semana, bem de madrugada, as mulheres foram ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado. Encontraram a pedra do túmulo removida. Mas ao entrar, não encontraram o corpo do Senhor Jesus, e ficaram sem saber o que estava acontecendo. Nisso, dois homens, com roupas brilhantes, pararam perto delas. Cheias de medo, elas olhavam para o chão. No entanto, os dois homens disseram: Por que vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui! Ressuscitou! Lembrem-se de como ele falou, quando ainda estava na Galiléia: O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado, e ressuscitar no terceiro dia. Então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus. Voltaram do túmulo, e anunciaram tudo isso aos Onze, bem como a todos os outros. Eram Maria Madalena, Joana, e Maria, mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam com elas contaram essas coisas aos apóstolos. Contudo, os apóstolos acharam que eram tolices o que as mulheres contavam e não acreditaram nelas”. Nota:40

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47cf. LG 7 e 11: “7. Ao se unir com a natureza humana e ao superar a morte, com sua própria morte e ressurreição, o Filho de Deus resgatou a humanidade e a transformou numa nova criatura (cf. Gl 6, 15; 2Cor 5, 17). Ao comunicar assim seu Espírito a seus irmãos, provenientes de todos os povos, constituiu, misticamente, um corpo para si. Nesse corpo a vida de Cristo, que sofreu e foi glorificado, comunica-se aos fiéis, pelos sacramentos, de maneira não perceptível, mas real. Pelo batismo nos tornamos semelhantes a Cristo: De fato, fomos todos batizados num único Espírito, para constituir um só corpo (1Cor 12, 13). O rito batismal representa e realiza nossa comunhão na morte e na ressurreição de Cristo: Fomos sepultados com ele pelo batismo, na morte; se pois fomos enxertados em sua morte, participaremos também de sua ressurreição (Rm 6, 4-5). Ao participarmos do pão eucarístico, que é realmente Corpo do Senhor, entramos todos em comunhão com ele, e entre nós. Há um só pão, embora muitos, somos um só corpo, todos os que participamos do mesmo pão (1Cor 10, 17). Tornamo-nos membros deste corpo (cf. 1Cor 12, 27) e membros uns dos outros (Rm 12, 5). Assim como são muitos os membros do corpo humano, mas o corpo é um só, também os fiéis (cf. 1Cor 12, 12). Na edificação do corpo de Cristo há igualmente diversidade de membros e de funções. O Espírito é sempre o mesmo, que distribui os seus dons segundo sua generosidade, as necessidades do ministério e a utilidade da Igreja (cf. 1Cor 12, 1-11). Dentre esses dons, está, em primeiro lugar, a graça dos apóstolos, a cuja autoridade o próprio Espírito submeteu todos os outros carismas (cf. 1Cor 14). Esse mesmo Espírito, com seu vigor, entretém e anima o amor, princípio de unidade do corpo e garantia da articulação interna dos membros. Assim, quando um sofre, todos sofrem; quando um é gratificado, todos se alegram com ele (cf. 1Cor 12, 26). A cabeça do corpo é Cristo. Imagem do Deus invisível, nele foram criadas todas as coisas. Existe antes de tudo e tudo nele subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a Igreja. É o princípio. O primogênito dentre os que morreram, que detém o primado sobre todos (cf. Cl 1, 15-18). Domina as coisas do céu e da terra, com a grandeza do seu poder. Com a supereminente perfeição de sua atuação, cumula todo o corpo com a plenitude de seus bens (cf. Ef 1, 18-23). Todos os membros devem assemelhar-se a ele, até que Cristo neles se forme (cf. Gl 4, 19). Por isso, revivemos os mistérios de sua vida, assemelhando-nos a ele, morrendo com ele e ressuscitando, até chegarmos a reinar com ele (cf. Fl 3, 21; 2Tm 2, 11; Ef 2, 6; Cl 2, 12 etc.). Sendo ainda peregrinos na terra, seguimos as suas pegadas na tribulação e na perseguição, associamo-nos a seus sofrimentos como o corpo à cabeça, participando da paixão para participar também de sua glorificação (cf. Rm 8, 17). A partir de Cristo, dele recebendo o alimento e a coesão, através de todos os laços e articulações, o corpo inteiro cresce para Deus (Cl 2, 19). O próprio Cristo distribui ininterruptamente os dons do ministério a seu corpo, a Igreja, graças aos quais prestamos serviço uns aos outros, para crescer em direção a ele, nossa cabeça, praticando a verdade, no amor (cf. Ef 4, 11-16). Para nos renovarmos constantemente nele (cf. Ef 4, 23), deu-nos o seu Espírito, o mesmo e único Espírito que anima a cabeça e os membros, dá vida, unifica e move o corpo inteiro, a ponto de os santos padres chegarem a compará-lo à alma, princípio da vida que dá consistência ao corpo. Cristo amou sua Igreja como sua esposa, tornando-se modelo do esposo virtuoso que ama sua esposa como a seu próprio corpo (cf. Ef 5, 25-28). A Igreja, por sua vez, é submissa à sua cabeça (ib. 23-24). Como a plenitude da divindade habita em Cristo, corporalmente (Cl 2, 9), ele dota a Igreja, seu corpo e complemento (cf. Ef 1, 22-23), com seus dons divinos, a fim de que progrida e alcance a plenitude de Deus (cf. Ef 3, 19). 11. A índole sagrada e a constituição orgânica da comunidade sacerdotal se efetivam nos sacramentos e na prática cristã. Incorporados à Igreja pelo batismo, os fiéis recebem o caráter que os qualifica para o culto. Por outro lado, renascidos como filhos de Deus, devem professar a fé que receberam de Deus, por intermédio da Igreja. O sacramento da confirmação os vincula ainda mais intimamente à Igreja e lhes confere de modo especial a força do Espírito Santo. Daí a obrigação maior de difundir e defender a fé, pela palavra e pelas obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo. Participando do sacrifício eucarístico, fonte e ápice de toda a vida cristã, os fiéis oferecem a Deus a vítima divina e se oferecem com ela. Juntamente com os ministros, cada um a seu modo, têm todos um papel específico a desempenhar na ação litúrgica, tanto na oblação como na comunhão. Alimentando-se todos com o corpo de Cristo, demonstram de maneira concreta a unidade do povo de Deus, proclamada e realizada pelo sacramento da eucaristia. Os fiéis que procuram o sacramento da penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa que lhe fizeram. Ao mesmo tempo, se reconciliam-se com a Igreja, que ofenderam ao pecar e que contribui para sua conversão pelo amor, pelo exemplo e pelas orações. Pela sagrada unção dos enfermos e pela oração dos sacerdotes, a Igreja inteira recomenda os doentes ao Senhor, para seu alívio e salvação (cf. Tg 5, 14). Exorta-os a se unirem livremente à paixão e à morte de Cristo (cf. Rm 8, 17; Cl 1, 24; 2Tm 2, 11-12; 1Pd 4, 13), dando assim sua contribuição para o bem do povo de Deus. Os fiéis marcados pelo sacramento da ordem são igualmente constituídos, em nome de Cristo, para conduzir a Igreja pela palavra e pela graça de Deus. Finalmente os fiéis se dão o sacramento do matrimônio, manifestação e participação da unidade e do amor fecundo entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5, 32). Ajudam-se mutuamente a se santificar na vida conjugal, no acolhimento e na educação dos filhos. Contam, por isso, com um dom específico e um lugar próprio ao seu estado de vida, no povo de Deus. A família procede dessa união. Nela nascem os novos membros da sociedade humana que, batizados, se tornarão filhos de Deus pela graça do Espírito Santo e perpetuarão o povo de Deus através dos séculos. A família é uma espécie de igreja doméstica. Os pais são os primeiros anunciadores da fé e devem cuidar da vocação própria de cada um dos filhos, especialmente da vocação sagrada. Todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, de acordo com o caminho que lhes é próprio, são chamados pelo Senhor à perfeição da santidade, que é a própria perfeição de Deus e, por isso, dispõem de tais e de tantos meios.” Nota:41

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48LG 10-11: “10. O Cristo Senhor, constituído pontífice dentre os homens (cf. Hb 5, 1-5) fez do novo povo um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai (Ap 1, 6; cf. 5, 9-10). Os batizados são consagrados pela regeneração e pela unção do Espírito Santo. Todas as ações dos cristãos são como hóstias oferecidas: proclamam a força daquele que nos libertou das trevas para vivermos na sua luz admirável (cf. 1Pd 2, 4-10). Sendo assim, todos os discípulos de Cristo se oferecem como hóstia viva, santa e agradável a Deus (cf. At 2, 42-47), testemunham Cristo em toda parte e a todos que procuram dão a razão de sua esperança na vida eterna (cf. 1Pd 3, 15). Há uma diferença de essência e não apenas de grau entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico. Contudo, ambos participam a seu modo do mesmo sacerdócio de Cristo e mantêm, por isso, estreita relação entre si. O sacerdócio ministerial, em virtude do poder sagrado que o caracteriza, visa à formação e governo do povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico em nome de Cristo e o oferece, em nome do povo. Os fiéis por sua vez, em virtude de seu sacerdócio régio, tomam parte na oblação eucarística. Exercem contudo seu sacerdócio na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, no testemunho da vida santa, na abnegação e na prática da caridade. 11. A índole sagrada e a constituição orgânica da comunidade sacerdotal se efetivam nos sacramentos e na prática cristã. Incorporados à Igreja pelo batismo, os fiéis recebem o caráter que os qualifica para o culto. Por outro lado, renascidos como filhos de Deus, devem professar a fé que receberam de Deus, por intermédio da Igreja. O sacramento da confirmação os vincula ainda mais intimamente à Igreja e lhes confere de modo especial a força do Espírito Santo. Daí a obrigação maior de difundir e defender a fé, pela palavra e pelas obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo. Participando do sacrifício eucarístico, fonte e ápice de toda a vida cristã, os fiéis oferecem a Deus a vítima divina e se oferecem com ela. Juntamente com os ministros, cada um a seu modo, têm todos um papel específico a desempenhar na ação litúrgica, tanto na oblação como na comunhão. Alimentando-se todos com o corpo de Cristo, demonstram de maneira concreta a unidade do povo de Deus, proclamada e realizada pelo sacramento da eucaristia. Os fiéis que procuram o sacramento da penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa que lhe fizeram. Ao mesmo tempo, se reconciliam-se com a Igreja, que ofenderam ao pecar e que contribui para sua conversão pelo amor, pelo exemplo e pelas orações. Pela sagrada unção dos enfermos e pela oração dos sacerdotes, a Igreja inteira recomenda os doentes ao Senhor, para seu alívio e salvação (cf. Tg 5, 14). Exorta-os a se unirem livremente à paixão e à morte de Cristo (cf. Rm 8, 17; Cl 1, 24; 2Tm 2, 11-12; 1Pd 4, 13), dando assim sua contribuição para o bem do povo de Deus. Os fiéis marcados pelo sacramento da ordem são igualmente constituídos, em nome de Cristo, para conduzir a Igreja pela palavra e pela graça de Deus. Finalmente os fiéis se dão o sacramento do matrimônio, manifestação e participação da unidade e do amor fecundo entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5, 32). Ajudam-se mutuamente a se santificar na vida conjugal, no acolhimento e na educação dos filhos. Contam, por isso, com um dom específico e um lugar próprio ao seu estado de vida, no povo de Deus. A família procede dessa união. Nela nascem os novos membros da sociedade humana que, batizados, se tornarão filhos de Deus pela graça do Espírito Santo e perpetuarão o povo de Deus através dos séculos. A família é uma espécie de igreja doméstica. Os pais são os primeiros anunciadores da fé e devem cuidar da vocação própria de cada um dos filhos, especialmente da vocação sagrada. Todos os fiéis, de qualquer estado ou condição, de acordo com o caminho que lhes é próprio, são chamados pelo Senhor à perfeição da santidade, que é a própria perfeição de Deus e, por isso, dispõem de tais e de tantos meios.” Nota:42 LG 10b: “Há uma diferença de essência e não apenas de grau entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico. Contudo, ambos participam a seu modo do mesmo sacerdócio de Cristo e mantêm, por isso, estreita relação entre si. O sacerdócio ministerial, em virtude do poder sagrado que o caracteriza, visa à formação e governo do povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico em nome de Cristo e o oferece, em nome do povo. Os fiéis por sua vez, em virtude de seu sacerdócio régio, tomam parte na oblação eucarística. Exercem contudo seu sacerdócio na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, no testemunho da vida santa, na abnegação e na prática da caridade”. Nota:43 cf. 1Ts 2,13: “O motivo do nosso contínuo agradecimento a Deus é este: quando ouviram a Palavra de Deus que anunciamos, vocês a acolheram não como palavra humana, mas como ela realmente é, como Palavra de Deus, que age com eficácia em vocês que acreditam”. Nota:44 cf. Jd 3: “Amados, tendo um grande desejo de escrever-lhes a respeito da nossa salvação comum, fui obrigado a fazê-lo, a fim de encorajá-los a lutar pela fé que foi transmitida aos fiéis de uma vez por todas”. Nota:45 LG 12a: “O povo santo de Deus participa da função profética de Cristo. Dá o testemunho vivo de Cristo, especialmente pela vida de fé e de amor, e oferece a Deus a hóstia de louvor como fruto dos lábios que exaltam o seu nome (cf. Hb 13, 15). O conjunto dos fiéis ungidos pelos Espírito Santo (cf. 1Jo 2, 20.27) não pode errar na fé. Esta sua propriedade peculiar se manifesta pelo senso sobrenatural da fé, comum a todo o povo, desde os bispos até o último fiel leigo, demonstrado no acolhimento universal a tudo o que diz respeito à fé e aos costumes. O senso da fé é despertado e sustentado pelo Espírito de verdade. Graças a este senso, o povo de Deus, seguindo fielmente o magistério sagrado, não obedece a uma palavra humana, mas à palavra de Deus (cf. 1Ts 2, 13) transmitida aos fiéis de uma vez por todas (Jd 3). A ela adere firmemente, entende-a em profundidade e a aplica melhor à própria vida”. Nota:46 LG 31: ‘Denominam-se leigos todos os fiéis que não pertencem às ordens sagradas, nem são religiosos reconhecidos pela Igreja. São, pois, os fiéis batizados, incorporados a Cristo, membros do povo de Deus, participantes da função sacerdotal, profética e régia de Cristo, que tomam parte no cumprimento da missão de todo o povo cristão, na Igreja e no mundo.

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49O caráter secular caracteriza os leigos. Os membros das sagradas ordens, apesar de exercerem às vezes funções seculares ou de se ocuparem de coisas seculares, estão orientados para o ministério sagrado, em virtude de uma vocação especial. Os religiosos, por sua vida, testemunham de maneira clara e magnífica a transfiguração do mundo oferecido a Deus numa vida inspirada nas bem-aventuranças. A vocação própria dos leigos é administrar e ordenar as coisas temporais, em busca do reino de Deus. Vivem, pois, no mundo, isto é, em todas as profissões e trabalhos, nas condições comuns da vida familiar e social, que constituem a trama da existência. São aí chamados por Deus, como leigos, a viver segundo o espírito do Evangelho, como fermento de santificação no seio do mundo, brilhando em sua própria vida pelo testemunho da fé, da esperança e do amor, de maneira a manifestar Cristo a todos os homens. Compete-lhes pois, de modo especial, iluminar e organizar as coisas temporais a que estão vinculados, para que elas se orientem por Cristo e se desenvolvam em louvor do criador e do redentor”. Nota:47 cf. LG 32c: “Na Igreja, embora nem todos sigam pelo mesmo caminho, são todos chamados à santidade e herdeiros da mesma fé, segundo a justiça de Deus (cf. 2Pd 1, 1). Todos são iguais em dignidade. A ação de todos os fiéis em vista da edificação do corpo de Cristo é comum a todos. No entanto, em benefício do conjunto, o próprio Cristo constitui alguns como doutores, pastores e dispensadores dos mistérios de Deus. A distinção estabelecida pelo Senhor entre os ministros sagrados e os outros membros do povo de Deus exige a união, pois vincula uns aos outros, pastores e fiéis. Os pastores devem se colocar a serviço uns dos outros e dos fiéis, à imitação do Senhor. Os fiéis, por sua vez, devem colaborar alegremente com os pastores e doutores. Na própria diversidade, todos dão testemunho da admirável unidade do corpo de Cristo. A variedade das graças, dos ministérios e das atividades congrega os filhos de Deus na unidade, pois é sempre o mesmo e único Espírito que tudo opera (1Cor 12, 11)”. Puebla 125, 925: “125. O seu sentido de pertença à Igreja aumentou em toda parte, não só pelo compromisso eclesial mais estável, mas também por sua participação mais ativa nas assembléias litúrgicas e nas tarefas apostólicas. Em muitos países as CEBs são prova desta incorporação e deste desejo de participação. O compromisso do laicato com o temporal, tão necessário para a mudança de estruturas, tem sido insuficiente. Em geral, poder-se-ia dizer que há uma valorização maior da necessária participação do laicato na vida da Igreja. 925. A reforma e renovação litúrgicas fomentam a participação, que conduz à comunhão. A participação plena, consciente e ativa na liturgia é fonte primária e necessária do Espírito verdadeiramente cristão. Por isso, as considerações pastorais, salva sempre a observância das normas litúrgicas, devem superar o mero rubricismo”. Nota:48 cf. Puebla 640-643: “640. Nas pequenas comunidades, mormente nas mais bem constituídas, cresce a experiência de novas relações interpessoais na fé, o aprofundamento da palavra de Deus, a participação na eucaristia, a comunhão com os pastores da Igreja particular e um maior compromisso com a justiça na realidade social dos ambientes em que se vive. Pergunta-se quando é que uma pequena comunidade pode ser considerada verdadeira comunidade eclesial de base na América Latina? 641. A comunidade eclesial de base, enquanto comunidade, integra famílias, adultos e jovens, numa íntima relação interpessoal na fé. Enquanto eclesial, é comunidade de fé, esperança e caridade; celebra a palavra de Deus e se nutre da eucaristia, ponto culminante de todos os sacramentos; realiza a palavra de Deus na vida, através da solidariedade e compromisso com o mandamento novo do Senhor e torna presente e atuante a missão eclesial e a comunhão visível com os legítimos pastores, por intermédio do ministério de coordenadores aprovados. É de base por ser constituída de poucos membros, em forma permanente e à guisa de célula da grande comunidade. "Quando merecem o seu titulo de eclesialidade, elas podem reger, em solidariedade fraterna, sua própria existência espiritual e humana" (EN 58). 642. Os cristãos unidos em comunidade eclesial de base, fomentando sua adesão a Cristo, procuram uma vida mais evangélica no seio do povo, colaboram para questionar as raízes egoístas e de consumismo da sociedade e explicitam a vocação para a comunhão com Deus e com os irmãos, oferecendo um valioso ponto de partida para a construção duma nova sociedade, "a civilização do amor". 643. As comunidades eclesiais de base são expressão de amor preferencial da Igreja pelo povo simples; nelas se expressa, valoriza e purifica sua religiosidade e se lhe oferece possibilidade concreta de participação na tarefa eclesial e no compromisso de transformar o mundo. Puebla, 648-650: “648. Como pastores, queremos resolutamente promover, orientar e acompanhar as comunidades eclesiais de base, de acordo com o Espírito de Medellín e os critérios da Evangelii Nuntiandi,; favorecer o descobrimento e a formação gradual de animadores para elas. Em especial, é preciso procurar como possam as pequenas comunidades que se multiplicam sobretudo na periferia e na zonas rurais, adaptar-se também à pastoral das grandes cidades do nosso Continente. 649. Nas paróquias, é preciso prosseguir no esforço de renovação, superando os aspectos meramente administrativos; buscando maior participação dos leigos, mormente no conselho pastoral; dando prioridade aos apostolados organizados e formando os seculares para que assumam, como cristãos, suas responsabilidades na comunidade e no ambiente social. 650. Deve-se insistir numa opção mais decidida em favor da pastoral de conjunto, especialmente com a colaboração das comunidades religiosas, promovendo grupos, comunidades e movimentos; animando-as a um esforço constante de comunhão, fazendo da paróquia o centro de promoção e dos serviços que as comunidades menores não podem assegurar.” Nota:49 CD 27: “O principal cargo da cúria é o de vigário-geral. Sempre que for necessário ao governo da diocese, o bispo pode estabelecer um ou mais vigários episcopais, que, numa determinada parte da diocese, em certo tipo de atividade ou em relação aos fiéis de determinado rito, gozam do poder reconhecido pelo direito aos vigários-gerais. Entre os cooperadores do bispo, no governo da diocese, contam-se os sacerdotes que constituem seu senado ou conselho, como o capítulo da catedral, os grupos de consultores ou outros conselhos, de acordo com as

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50circunstâncias locais ou a natureza do que está em jogo. Estas organizações, a começar pelos capítulos das catedrais, devem ser reformadas de acordo com as necessidades e exigências dos dias de hoje. Os sacerdotes e os leigos que prestam serviço na cúria saibam que são auxiliares do ministério pastoral do bispo. A cúria diocesana deve ser um instrumento apto à ação do bispo, tanto na administração da diocese, quanto no apostolado. Seria desejável que se instituísse em todas as dioceses o conselho pastoral, presidido pelo próprio bispo diocesano, de que participassem clérigos, religiosos e leigos, especialmente escolhidos. Sua função seria investigar e apreciar tudo que se relacione com a pastoral, procurando chegar a conclusões práticas”. AA 26: “Na medida do possível mantenham as dioceses conselhos que assistam às obras apostólicas, tanto de evangelização e santificação, como de caridade ou de ação social, estabelecendo-se frutífera colaboração entre clérigos, religiosos e leigos. Estes conselhos podem favorecer a coordenação entre diversas associações e iniciativas, sem prejuízo da índole própria e da autonomia de cada uma. Conselhos análogos sejam criados, se possível, em âmbito paroquial ou interparoquial, interdiocesano, nacional e até internacional”. Nota:50 Puebla, 645: “Na Igreja particular, constituída à imagem da Igreja universal, encontra-se e opera verdadeiramente a Igreja de Cristo que é una, santa, católica e apostólica. Ela é uma parte do povo de Deus, definida por um contexto sociocultural mais amplo, onde se encarna. Sua primazia no conjunto das comunidades eclesiais deve-se ao fato de ser presidida pelo bispo, dotado de forma plena e sacramental do tríplice ministério de Cristo, cabeça do corpo místico, profeta, sacerdote e pastor. O bispo é, em cada Igreja particular, principio e fundamento de unidade da mesma”. Nota:51 Puebla 704: “Dar aos conselhos presbiterais e pastorais e outros organismos pastorais a consistência e funcionalidade requeridas pelo Concílio e promover com solicitude o crescimento espiritual e pastoral dos presbíteros”. Nota:52 cf. Puebla 98 e 1197: “Em alguns lugares não se deu a atenção conveniente ao trabalho de formação de CEBs. É lamentável que em algumas partes interesses visivelmente políticos as pretendam manipular e afastar da autêntica comunhão com seus bispos. 1197. Formar-se-á no jovem um sentido crítico frente aos meios de comunicação social e aos contravalores culturais que as diversas ideologias tentam transmitir-lhe, especialmente a liberal capitalista e a marxista, para que não seja por elas manipulado”. Nota:53 Communio et Progressio, 115: “Como corpo vivo, a Igreja necessita duma opinião pública para alimentar o diálogo entre os seus membros, condição do progresso no seu pensamento e ação. ...com a ausência da opinião pública, faltar-lhe-ia qualquer coisa de vital, e a culpa recairia tanto sobre os Pastores como sobre os leigos”. Nota:54 cf. Mc 10, 42-44: “Jesus chamou-os e disse: Vocês sabem: aqueles que se dizem governadores das nações têm poder sobre elas, e os seus dirigentes têm autoridade sobre elas. Mas, entre vocês não deverá ser assim: quem de vocês quiser ser grande, deve tornar-se o servidor de vocês, e quem de vocês quiser ser o primeiro, deverá tornar-se o servo de todos”. Nota:55 1Cor 12,11: “Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. Nota:56 1Cor 12,7: “Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos”. Nota:57 LG 12b: “Mas não é só pelos sacramentos e pelos ministérios que o Espírito Santo santifica, dirige e fortalece o povo de Deus. Distribuindo os seus dons a cada um, conforme quer (1Cor 12, 11), o Espírito Santo distribui graças especiais aos fiéis das mais variadas condições, tornando-os aptos e dispostos a assumir os trabalhos e funções úteis à renovação e ao maior desenvolvimento da Igreja, de acordo com o que está escrito: Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito, para utilidade de todos (1Cor 12, 7). Todos esses carismas, dos mais extraordinários aos mais simples e mais difundidos devem ser acolhidos com ação de graças e satisfação, pois correspondem às necessidades da Igreja e lhe são úteis. Não se deve porém cobiçar temerariamente os dons extraordinários nem esperar deles, com presunção, frutos significativos nos trabalhos apostólicos. A apreciação sobre os dons e seu exercício ordenado no seio da Igreja pertence aos que a presidem, que têm especial mandato de não abafar o Espírito, mas tudo provar e reter o que é bom (cf. 1Ts 5, 12.19-21)”. Nota:58 É preciso esclarecer a relação entre carismas e ministérios. Não se confundem entre si nem também se separam. O Apóstolo Paulo, em seu texto mais explícito sobre os carismas, visa exatamente a demonstrar a unidade fundamental de dons (charísmata), ministérios (diakoníai), operações ou modos de ação (energémata), todos eles coisas espirituais (pneumatiká) (cf. 1Cor 12,1.4-6). Carismas, de per si, não é ministério. É toda graça ou dom do Espírito Santo. Dados para utilidade comum (cf. 1Cor 12,7; LG 12b/33), tendem os carismas a se tornar ministérios, isto é, serviços ou funções, temporários ou estáveis, reconhecidos como tais pela Igreja. De outro lado, todo ministério supõe ou exige um carisma, um dom do Espírito Santo, uma vocação divina e não puramente humana, que a Igreja acolhe e reconhece. Basta se lembrar que, juntamente com os dons (charísmata) dos milagres, das curas, da assistência ou ajuda, da direção ou governo e das línguas, Paulo cita os apóstolos, profetas e doutores, não sem dizer que é Deus que os colocou em primeiro lugar na Igreja (1Cor 12,28). Nota:59

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51EN 73: “Assim, a presença ativa dos leigos nas realidades temporais assume toda a sua importância. No entanto, é preciso não descurar ou não deixar no esquecimento outra dimensão: os leigos podem também sentir-se chamados ou vir a ser chamados para colaborar com os próprios Pastores no serviço da comunidade eclesial, para o crescimento e a vida da mesma, pelo exercício dos ministérios muito diversificados, segundo a graça e os carismas que o Senhor houver por bem depositar neles. Não é sem experimentar intimamente uma grande alegria que nós vemos uma legião de Pastores, religiosos e leigos, apaixonados pela sua missão evangelizadora, a procurarem os modelos mais adaptados para anunciar eficazmente o Evangelho; e encorajamos a abertura que, nessa linha e com essa preocupação, a Igreja demonstra ter alcançado nos dias de hoje. Abertura para a reflexão, em primeiro lugar; e depois, abertura para ministérios eclesiais susceptíveis de rejuvenescer e de reforçar o seu próprio dinamismo evangelizador. É certo que, ao lado dos ministérios ordenados, graças aos quais alguns fiéis são colocados na ordem dos Pastores e passam a consagrar-se de maneira particular ao serviço da comunidade, a Igreja reconhece também o lugar de ministérios não-ordenados, e que são aptos para assegurar um especial serviço à mesma Igreja. Um relance sobre as origens da Igreja é muito elucidativo e fará com que se beneficie de uma antiga experiência nesta matéria dos ministérios, experiência que se apresenta válida, dado que ela permitiu à Igreja consolidar-se, crescer e expandir-se. O atender assim às fontes, deve ser completado ainda pela atenção às necessidades atuais da humanidade e da mesma Igreja. Ir beber nestas fontes sempre inspiradoras, e nada sacrificar destes valores, mas saber adaptar-se às exigências e às necessidades atuais, constituem a base sobre a qual há de assentar a busca sapiente e o colocar na devida luz os ministérios de que a Igreja precisa e que bom número dos seus membros deverão assumir para uma maior vitalidade da comunidade eclesial. Tais ministérios virão a ter um verdadeiro valor pastoral na medida em que se estabelecerem com um respeito absoluto da unidade e aproveitando-se da orientação dos Pastores, que são precisamente os responsáveis e os artífices da mesma unidade da Igreja. Tais ministérios, novos na aparência, mas muito ligados a experiências vividas pela Igreja ao longo da sua existência - por exemplo, os de catequistas, de animadores da oração e do canto, de cristãos devotados ao serviço da Palavra de Deus ou à assistência aos irmãos em necessidade, ou ainda os de líderes de pequenas comunidades, de responsáveis por movimentos apostólicos, ou outros animadores - são preciosos para a implantação, para a vida e para o crescimento da Igreja e para a sua capacidade de irradiar a própria mensagem à sua volta e para aqueles que estão distantes. Nós somos devedores também da nossa estima particular a todos os leigos que aceitam consagrar uma parte do seu tempo, das suas energias e, às vezes, mesmo a sua vida toda a serviço das missões. Para todos os agentes da evangelização é necessária uma preparação séria; e é necessária de modo muito particular para aqueles que se dedicam ao ministério da Palavra. Animados pela convicção, incessantemente aprofundada, da nobreza e da riqueza da Palavra de Deus, aqueles que têm a missão de a transmitir devem dedicar a maior atenção à dignidade, à precisão e à adaptação da sua linguagem. Todos sabem que a arte de falar se reveste, hoje, de uma grandíssima importância. E como poderiam então os pregadores e os catequistas descurá-la? Nós auguramos vivamente que, em todas as Igrejas particulares, os Bispos velem pela formação adequada de todos os ministros da Palavra. Essa preparação séria fará aumentar neles a indispensável segurança, como também o entusiasmo para anunciar nos dias de hoje Jesus Cristo”. Nota:60 É ilustrativo neste particular o belo conselho de Jetro a Moisés: “Não está certo o que fazes! Tu te esgotarás seguramente, assim como todo este povo que está contigo, porque o fardo é pesado demais para ti, e não poderás levá-lo sozinho. Escuta-me: Vou dar-te um conselho, e que Deus seja contigo! Tu serás o representante do povo junto de Deus, e levarás as questões diante de Deus: ensinar-lhes-ás suas ordens e suas leis, e lhes mostrarás o caminho a seguir e como terão de comportar-se. Mas escolherás do meio do povo homens prudentes, tementes a Deus, íntegros, desinteressados, e os porás à frente do povo, como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinqüenta e chefes de dezenas. Eles julgarão o povo em todo o tempo. Levarão a ti as causas importantes, mas resolverão por si mesmos as causas de menor importância. Assim aliviarão a tua carga, levando-a contigo. Se fizeres isto, e Deus o ordenar a ti, poderás dar conta do trabalho, e toda esta gente voltará em paz para as suas habitações” (Ex 18,17-23). Moisés ouviu o conselho do seu sogro, conclui a Bíblia. Nota:61 Listas indicativas de novos ministérios, bem como sugestões práticas para diversas situações, encontram-se no volume n.23 da coleção “Estudos da CNBB” (Comunidades Eclesiais de Base no Brasil, 1979, cf. cap. V., p.49-65) e nos documentos de estudo da 15ª Assembléia Geral da CNBB (cf. Com. Mensal n.293, 1977, pág. 307-308). Também “Evangelii Nuntiandi, n.73, fornece uma lista de ministérios. Nota:62 cf. Tg 2,5: “Ouçam, meus queridos irmãos: não foi Deus quem escolheu os que são pobres aos olhos do mundo, para torná-los ricos na fé e herdeiros do Reino que ele prometeu àqueles que o amam?”. 2Cor 8,14: “Neste momento, o que está sobrando para vocês vai compensar a carência deles, a fim de que o supérfluo deles venha um dia compensar a carência de vocês. Assim haverá igualdade”. Mt 11,25: “Naquele tempo, Jesus disse: Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos”. Nota:63 cf. 1Cor 9,7-14: “Alguém vai à guerra alguma vez, com seus próprios recursos? Quem é que planta uma vinha, e não come do seu fruto? Quem apascenta um rebanho, e não se alimenta do leite do rebanho? Será que estou dizendo isso apenas como considerações humanas? E a Lei, não diz a mesma coisa? De fato, na Lei de Moisés está escrito: ‘‘Não amordace o boi que debulha o grão.’’ Por acaso, é com os bois que Deus se preocupa? Não será por causa de nós que ele fala assim? Claro que é por causa de nós que isso foi escrito. De fato, aquele que trabalha deve trabalhar com esperança de receber a sua parte. Se semeamos bens espirituais em vocês, será muito colher bens materiais de vocês? Se outros exercem sobre vocês tal direito, por que não o poderíamos nós, e com maior razão? Todavia, não usamos esse direito. Pelo contrário, tudo suportamos para não criar obstáculo ao Evangelho de Cristo. Vocês não sabem: aqueles que desempenham funções sagradas

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52vivem dos rendimentos do templo? E aqueles que servem ao altar têm parte no que é oferecido sobre o altar? Da mesma forma, o Senhor ordenou que aqueles que anunciam o Evangelho vivam do Evangelho”. Mt 10, 9-10: “Não levem nos cintos moedas de ouro, de prata ou de cobre; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu alimento”. 1Tm 5,17-18: “Os presbíteros que exercem bem a presidência são dignos de dupla remuneração, sobretudo os que trabalham no ministério da palavra e da instrução. De fato, assim diz a Escritura: ‘Não amordace o boi que debulha.’ E ainda: ‘O operário é digno do seu salário’”. Nota:64 cf. LG 28: “O Pai santificou e enviou ao mundo Jesus Cristo (cf. Jo 10, 36), que constituiu os apóstolos e seus sucessores, os bispos, participantes de sua própria consagração e missão. Os bispos, por sua vez, outorgam legitimamente a outras pessoas diversos graus de participação no seu ministério. Por isso, o ministério eclesiástico, divinamente instituído, se exerce, desde a antigüidade, através de diversas ordens denominadas episcopado, presbiterato e diaconato. Os presbíteros, a quem chamamos de sacerdotes ou, simplesmente, padres, não têm a plenitude do pontificado. Dependem dos bispos no exercício de seu ministério. Participam, entretanto, com ele da honra do sacerdócio e foram consagrados pelo sacramento da ordem. São verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento à imagem de Cristo, sacerdote supremo e eterno (cf. Hb 5, 1-10; 7, 24; 9, 11-28), para a pregação do Evangelho, o cuidado do rebanho e a celebração do culto. Pelo seu ministério específico, os sacerdotes participam da função de Cristo, único mediador (cf. 1Tm 2, 5) e devem anunciar a todos a palavra de Deus. Exercem a plenitude de suas funções no culto ou assembléia eucarística, em que agem em nome de Cristo, proclamam o seu mistério, unem ao seu sacrifício como cabeça as preces dos fiéis e renovam e aplicam, até a vinda do Senhor (cf. 1Cor 11-16), na missa, o único sacrifício do Novo Testamento, em que Cristo se ofereceu uma vez por todas ao Pai como hóstia imaculada (cf. Hb 9, 11-28). Os sacerdotes são chamados a desempenhar o ministério da reconciliação e do alívio junto aos fiéis penitentes e doentes, apresentando a Deus Pai suas necessidades e suas orações (cf. Hb 5, 1ss). Participantes da função de Cristo, pastor e cabeça, exercem uma certa autoridade sobre a família de Deus, procurando unir a comunidade na fraternidade e conduzi-la por Cristo, no Espírito, a Deus. No meio do rebanho adoram a Deus, em espírito e verdade (cf. Jo 4, 24). Devem meditar na palavra e na doutrina (cf. 1Tm 5, 17), acreditar no que assimilam da lei do Senhor, ensinar o que acreditam e praticar o que ensinam. Os sacerdotes devem ser assíduos cooperadores dos bispos, como seus auxiliares e intermediários. São chamados a servir o povo de Deus, formando um só presbitério com seu bispo, nas diversas funções que lhes cabem. Associados fiel e generosamente ao bispo, tornam-no de certa maneira presente em todos os lugares em que se reúnem com os fiéis, participam de suas funções e preocupações no exercício cotidiano da pastoral. Santificando e dirigindo, sob a autoridade do bispo, a parte do rebanho que o Senhor lhes confiou, tornam visível em todos os lugares a Igreja universal e contribuem eficazmente para a edificação de todo o corpo de Cristo (cf. Ef 4, 12). Sempre atentos ao bem dos filhos de Deus, procurem se empenhar no trabalho pastoral de toda a diocese e, até mesmo, de toda a Igreja. Os sacerdotes devem tratar o bispo como sendo realmente pai e a ele obedecer com respeito, em virtude da própria participação no seu sacerdócio e na sua missão. O bispo, por sua vez, deve considerar os sacerdotes colaboradores seus, filhos e amigos, como Cristo, que não chamou os seus discípulos de servos, mas de amigos (cf. Jo 15, 15). Em virtude da ordem e do ministério, todos os sacerdotes, diocesanos e religiosos, estão associados ao colégio dos bispos, a serviço do bem de toda a Igreja, de acordo com a vocação e a graça de cada um. Em virtude da ordenação e missão comum, os sacerdotes estão também unidos fraternalmente entre si. Devem pois manifestá-lo pelo auxílio recíproco, espiritual, material, pastoral e pessoal, nos encontros, na vida comum, nos trabalhos e no exercício da caridade. Sejam como pais dos fiéis gerados espiritualmente pelo batismo e pela doutrina (cf. 1Cor 4, 15; 1Pd 1, 23) e modelos do rebanho (cf. 1Pd 5, 3). Devem pois presidir e servir a comunidade local de tal modo que mereça o nome de Igreja de Deus, aplicado a todo o povo de Deus, na sua unidade (cf. 1Cor 1, 2; 2Cor 1, 1 e muitas outras passagens). Lembrem-se de que sua vida cotidiana e seu empenho pastoral mostram o que é o ministério sacerdotal e pastoral para os fiéis e os não-fiéis, para os católicos e não-católicos. Dêem a todos o testemunho da verdade e da vida e, como bons pastores, procurem (cf. Lc 15, 4-7) aqueles que foram batizados na Igreja católica, mas abandonaram os sacramentos ou mesmo, perderam a fé. A humanidade é hoje cada vez mais una, do ponto de vista civil, econômico e social. É preciso pois que os sacerdotes atuem em conjunto, sob a direção dos bispos e do papa, evitando toda a dispersão de forças, para conduzir a humanidade à unidade da família de Deus”. Nota:65 LG 10: “O Cristo Senhor, constituído pontífice dentre os homens (cf. Hb 5, 1-5) fez do novo povo um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai (Ap 1, 6; cf. 5, 9-10). Os batizados são consagrados pela regeneração e pela unção do Espírito Santo. Todas as ações dos cristãos são como hóstias oferecidas: proclamam a força daquele que nos libertou das trevas para vivermos na sua luz admirável (cf. 1Pd 2, 4-10). Sendo assim, todos os discípulos de Cristo se oferecem como hóstia viva, santa e agradável a Deus (cf. At 2, 42-47), testemunham Cristo em toda parte e a todos que procuram dão a razão de sua esperança na vida eterna (cf. 1Pd 3, 15). Há uma diferença de essência e não apenas de grau entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico. Contudo, ambos participam a seu modo do mesmo sacerdócio de Cristo e mantêm, por isso, estreita relação entre si. O sacerdócio ministerial, em virtude do poder sagrado que o caracteriza, visa à formação e governo do povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico em nome de Cristo e o oferece, em nome do povo. Os fiéis por sua vez, em virtude de seu sacerdócio régio, tomam parte na oblação eucarística. Exercem contudo seu sacerdócio na recepção dos sacramentos, na oração e na ação de graças, no testemunho da vida santa, na abnegação e na prática da caridade”. Nota:66 LG 28: “O Pai santificou e enviou ao mundo Jesus Cristo (cf. Jo 10, 36), que constituiu os apóstolos e seus sucessores, os bispos, participantes de sua própria consagração e missão. Os bispos, por sua vez, outorgam legitimamente a outras pessoas diversos graus de participação no seu ministério. Por isso, o ministério eclesiástico, divinamente instituído, se exerce, desde a antigüidade, através de diversas ordens denominadas episcopado, presbiterato e diaconato. Os presbíteros, a quem chamamos de sacerdotes ou, simplesmente,

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53padres, não têm a plenitude do pontificado. Dependem dos bispos no exercício de seu ministério. Participam, entretanto, com ele da honra do sacerdócio e foram consagrados pelo sacramento da ordem. São verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento à imagem de Cristo, sacerdote supremo e eterno (cf. Hb 5, 1-10; 7, 24; 9, 11-28), para a pregação do Evangelho, o cuidado do rebanho e a celebração do culto. Pelo seu ministério específico, os sacerdotes participam da função de Cristo, único mediador (cf. 1Tm 2, 5) e devem anunciar a todos a palavra de Deus. Exercem a plenitude de suas funções no culto ou assembléia eucarística, em que agem em nome de Cristo, proclamam o seu mistério, unem ao seu sacrifício como cabeça as preces dos fiéis e renovam e aplicam, até a vinda do Senhor (cf. 1Cor 11-16), na missa, o único sacrifício do Novo Testamento, em que Cristo se ofereceu uma vez por todas ao Pai como hóstia imaculada (cf. Hb 9, 11-28). Os sacerdotes são chamados a desempenhar o ministério da reconciliação e do alívio junto aos fiéis penitentes e doentes, apresentando a Deus Pai suas necessidades e suas orações (cf. Hb 5, 1ss). Participantes da função de Cristo, pastor e cabeça, exercem uma certa autoridade sobre a família de Deus, procurando unir a comunidade na fraternidade e conduzi-la por Cristo, no Espírito, a Deus. No meio do rebanho adoram a Deus, em espírito e verdade (cf. Jo 4, 24). Devem meditar na palavra e na doutrina (cf. 1Tm 5, 17), acreditar no que assimilam da lei do Senhor, ensinar o que acreditam e praticar o que ensinam. Os sacerdotes devem ser assíduos cooperadores dos bispos, como seus auxiliares e intermediários. São chamados a servir o povo de Deus, formando um só presbitério com seu bispo, nas diversas funções que lhes cabem. Associados fiel e generosamente ao bispo, tornam-no de certa maneira presente em todos os lugares em que se reúnem com os fiéis, participam de suas funções e preocupações no exercício cotidiano da pastoral. Santificando e dirigindo, sob a autoridade do bispo, a parte do rebanho que o Senhor lhes confiou, tornam visível em todos os lugares a Igreja universal e contribuem eficazmente para a edificação de todo o corpo de Cristo (cf. Ef 4, 12). Sempre atentos ao bem dos filhos de Deus, procurem se empenhar no trabalho pastoral de toda a diocese e, até mesmo, de toda a Igreja. Os sacerdotes devem tratar o bispo como sendo realmente pai e a ele obedecer com respeito, em virtude da própria participação no seu sacerdócio e na sua missão. O bispo, por sua vez, deve considerar os sacerdotes colaboradores seus, filhos e amigos, como Cristo, que não chamou os seus discípulos de servos, mas de amigos (cf. Jo 15, 15). Em virtude da ordem e do ministério, todos os sacerdotes, diocesanos e religiosos, estão associados ao colégio dos bispos, a serviço do bem de toda a Igreja, de acordo com a vocação e a graça de cada um. Em virtude da ordenação e missão comum, os sacerdotes estão também unidos fraternalmente entre si. Devem pois manifestá-lo pelo auxílio recíproco, espiritual, material, pastoral e pessoal, nos encontros, na vida comum, nos trabalhos e no exercício da caridade. Sejam como pais dos fiéis gerados espiritualmente pelo batismo e pela doutrina (cf. 1Cor 4, 15; 1Pd 1, 23) e modelos do rebanho (cf. 1Pd 5, 3). Devem pois presidir e servir a comunidade local de tal modo que mereça o nome de Igreja de Deus, aplicado a todo o povo de Deus, na sua unidade (cf. 1Cor 1, 2; 2Cor 1, 1 e muitas outras passagens). Lembrem-se de que sua vida cotidiana e seu empenho pastoral mostram o que é o ministério sacerdotal e pastoral para os fiéis e os não-fiéis, para os católicos e não-católicos. Dêem a todos o testemunho da verdade e da vida e, como bons pastores, procurem (cf. Lc 15, 4-7) aqueles que foram batizados na Igreja católica, mas abandonaram os sacramentos ou mesmo, perderam a fé. A humanidade é hoje cada vez mais una, do ponto de vista civil, econômico e social. É preciso, pois, que os sacerdotes atuem em conjunto, sob a direção dos bispos e do papa, evitando toda dispersão de forças, para conduzir a humanidade à unidade da família de Deus”. Nota:67 PO 2: “O Senhor Jesus, que o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10, 36) tornou todo o seu corpo místico participante da unção com que foi ungido: assim, unidos a ele, todos os fiéis formam um único sacerdócio régio e santo, oferecem hóstias espirituais a Deus, por Jesus Cristo, e proclamam aquele que os chamou das trevas para sua extraordinária luz. Não há nenhum membro que não participe da missão do corpo: todos devem santificar Jesus em seu coração, e dar testemunho dele, em espírito de profecia. Para que os fiéis se reúnam num corpo único, cujos membros não têm todos a mesma função (Rm 12, 4) o mesmo Senhor estabeleceu, na sociedade formada pelos fiéis, alguns ministros, dotados do poder de ordem, isto é, capazes de oferecer sacrifício e perdoar pecados, desempenhando publicamente o ofício sacerdotal, em favor do homens e em nome de Cristo. Tendo enviado os apóstolos, como ele mesmo fora enviado pelo Pai, Cristo, através dos apóstolos, estabeleceu os bispos, sucessores de sua consagração e de sua missão. Estes, por sua vez, atribuíram uma participação subordinada de seu ministério aos padres, os quais, pela ordenação, tornam-se cooperadores dos bispos no cumprimento da missão a eles confiada pelos apóstolos. A função dos padres, em união com a ordem episcopal, os torna, pois, participantes da autoridade com que Jesus Cristo constitui seu corpo, santifica-o e o governa. Por isso, o sacerdócio dos padres, ou presbiterato, supõe os sacramentos da iniciação cristã, e é conferido por um sacramento específico. Ao receber a unção do Espírito Santo, os presbíteros são marcados com um caráter especial, que os configura a Cristo sacerdote e os faculta agir em lugar de Cristo cabeça. Aos padres, como participantes da missão dos apóstolos, servidores do Evangelho, é dada por Deus a graça de serem ministros de Cristo Jesus junto a todos os povos, para que o culto prestado a Deus por todos seja aceito e santificado pelo Espírito Santo. Pelo anúncio apostólico do Evangelho o povo de Deus é convocado e reunido, de tal maneira que todos os que pertencem a esse povo, santificados pelo Espírito Santo, ofereçam-se como hóstias vivas, santas e agradáveis a Deus (Rm 12, 1). Pelo ministério sacerdotal, o sacrifício espiritual dos fiéis se realiza em união com o sacrifício de Cristo, mediador único, que pela mão dos sacerdotes, em nome de toda a Igreja, é oferecido incruenta e sacramentalmente na eucaristia, até que o Senhor venha. Para tanto tende e nisto se completa o ministério dos padres: começa com o anúncio do Evangelho, tira toda sua força e vigor do sacrifício de Cristo, e visa a que todos os que foram salvos, isto é, a comunhão e a sociedade dos santos, ofereça a Deus um sacrifício universal, pelo sumo sacerdote, no qual ele se dá por nós na paixão, a fim de que nos tornemos corpo de tão eminente cabeça.

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54O objetivo do ministério e da vida dos padres é a promoção da glória de Deus em Cristo, a qual consiste em que os seres humanos acolham consciente e livremente, com gratidão, a obra de Deus realizada em Cristo, e a manifestem em toda a sua vida. Os padres contribuem para a glória de Deus e para a promoção da vida divina entre os seres humanos, quando se dedicam à oração e à adoração, quando pregam, quando oferecem o sacrifício ou administram os sacramentos ou, ainda, quando exercem qualquer ministério em favor do povo. Tudo promana de Cristo, em seu mistério pascal, e se orienta para sua vinda gloriosa, quando entregará o reino a Deus, o Pai”. Nota:68 Jo 20,21: “Jesus disse de novo para eles: A paz esteja com vocês. Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês”. Nota:69 2Cor 5,20: “Sendo assim exercemos a função de embaixadores em nome de Cristo, e é por meio de nós que o próprio Deus exorta vocês. Em nome de Cristo, suplicamos: reconciliem-se com Deus”. cf. Rm 1,1: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo e escolhido para anunciar o Evangelho de Deus”. 1Cor 1,1: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade e chamado de Deus, e o irmão Sóstenes”. Gl 1,1: “Paulo, apóstolo não da parte dos homens, nem por meio de um homem, mas da parte de Jesus Cristo e de Deus Pai, que o ressuscitou dos mortos”. Nota:70 Mc 3,14: “Então Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar”. Nota:71 Mt 10, 40-42: “Quem recebe a vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo. Quem der, ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa”. Lc 10,16: “Quem escuta vocês, escuta a mim, e quem rejeita vocês, rejeita a mim; mas quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou”. cf. Mt 28,18-20: “Então Jesus se aproximou, e falou: Toda a autoridade foi dada a mim no céu e sobre a terra. Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo”. Nota:72 1 Cor 15,3-8: “Por primeiro, eu lhes transmiti aquilo que eu mesmo recebi, isto é: Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras; ele foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; apareceu a Pedro e depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez; a maioria deles ainda vive, e alguns já morreram. Depois apareceu a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos. Em último lugar apareceu a mim, que sou um aborto”. Nota:73 At 15,7: “Depois de longa discussão, Pedro levantou-se e falou: ‘‘Irmãos, vocês sabem que, desde os primeiros dias, Deus me escolheu no meio de vocês, para que os pagãos ouvissem de minha boca a palavra da Boa Notícia e acreditassem”. At 9,27: “Então Barnabé tomou Saulo consigo, o apresentou aos apóstolos, e lhes contou como Saulo no caminho tinha visto o Senhor, como o Senhor lhe havia falado, e como ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus na cidade de Damasco”. Gl 2,1-7: “Catorze anos depois, voltei a Jerusalém com Barnabé e levei também Tito comigo. Fui lá seguindo uma revelação. Expus a eles o Evangelho que anuncio aos pagãos, mas o expus reservadamente às pessoas mais notáveis, para não me arriscar a correr ou ter corrido em vão. Nem Tito, meu companheiro, que é grego, foi obrigado a circuncidar-se. Nem mesmo por causa dos falsos irmãos, os intrusos que se infiltraram para espionar a liberdade que temos em Jesus Cristo, a fim de nos tornar escravos. Mas para que a verdade do Evangelho continuasse firme entre vocês, em nenhum momento nos submetemos a essas pessoas. No que se refere àqueles mais notáveis pouco me importa o que eles eram então, porque Deus não faz diferença entre as pessoas esses mesmos notáveis nada mais me impuseram. Pelo contrário, viram que a mim fora confiada a evangelização dos não circuncidados, assim como a Pedro fora confiada a evangelização dos circuncidados”. Nota:74 LG 20: “A missão divina confiada por Cristo aos apóstolos se estende até o fim dos séculos (cf. Mt 28, 20), pois o Evangelho que devem transmitir alimenta continuamente a vida da Igreja. Os apóstolos cuidaram por isso de instituir seus sucessores nessa sociedade hierarquicamente organizada, que é a Igreja. Para que a missão a eles confiada continuasse depois de sua morte, não só recorreram a auxiliares seus para o ministério, como também pediram a seus cooperadores imediatos, numa espécie de testamento, que desempenhassem a função por eles exercida e levassem a bom termo o trabalho começado. Confiaram-lhes assim o rebanho inteiro sobre o qual o Espírito Santo os havia colocado como pastores da Igreja de Deus (At 20, 28). Dessa forma, escolheram e ordenaram homens que, quando morressem, passassem a outros igualmente provados o seu ministério. Entre os diversos ministérios exercidos desde os primeiros tempos da Igreja, segundo a tradição e por sucessão ininterrupta, ocupa o primeiro lugar a função episcopal, herdada dos apóstolos. Como diz s. Irineu, a tradição apostólica se manifesta e se conserva em todo o mundo através dos bispos e de seus sucessores, instituídos pelos apóstolos. Os bispos assumem pois o serviço da comunidade com o auxílio dos presbíteros e dos diáconos. Presidem o rebanho em lugar de Deus, como pastores, mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado e ministros que governam. A função que o Senhor confiou a Pedro, primeiro dos apóstolos, para ser transmitida a seus sucessores, permanece igualmente para sempre e sem interrupção, como a própria função dos apóstolos de conduzir a Igreja. Por isso o concílio ensina que os bispos, por instituição divina, sucedem aos apóstolos, como pastores da Igreja. Quem os ouve ouve a Cristo e quem os despreza despreza a Cristo e àquele que o enviou (cf. Lc 10, 16)”. Nota:75

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55cf. PO 1: “O concílio já acenou diversas vezes para o lugar especial que os sacerdotes ocupam na Igreja. No entanto, parece conveniente voltar ao assunto de maneira mais ampla e mais profunda, pois o papel que os padres desempenham na renovação da Igreja de Cristo é importantíssimo e está ficando cada dia mais difícil. O que o concílio diz se aplica diretamente aos sacerdotes que se ocupam da cura das almas, mas se estende também, com as necessárias modificações, aos religiosos padres. Pela ordenação e pela missão recebidas do bispo, os sacerdotes são promovidos a servidores de Cristo, mestre, sacerdote e rei, e participam do ministério pelo qual a Igreja vai se edificando continuamente na terra, como povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. As condições em que vivem os homens e a conjuntura pastoral estão passando por modificações tão profundas que o concílio resolveu declarar e decidir o que se segue, a fim de conservar a eficácia do ministério sacerdotal e tornar melhores as condições de vida dos sacerdotes”. Nota:76 cf. 1Ts 5,12: “Irmãos, pedimos que tenham consideração para com aqueles que se afadigam em dirigi-los no Senhor e admoestá-los”. Nota:77 LG 20: “A missão divina confiada por Cristo aos apóstolos se estende até o fim dos séculos (cf. Mt 28, 20), pois o Evangelho que devem transmitir alimenta continuamente a vida da Igreja. Os apóstolos cuidaram por isso de instituir seus sucessores nessa sociedade hierarquicamente organizada, que é a Igreja. Para que a missão a eles confiada continuasse depois de sua morte, não só recorreram a auxiliares seus para o ministério, como também pediram a seus cooperadores imediatos, numa espécie de testamento, que desempenhassem a função por eles exercida e levassem a bom termo o trabalho começado. Confiaram-lhes assim o rebanho inteiro sobre o qual o Espírito Santo os havia colocado como pastores da Igreja de Deus (At 20, 28). Dessa forma, escolheram e ordenaram homens que, quando morressem, passassem a outros igualmente provados o seu ministério. Entre os diversos ministérios exercidos desde os primeiros tempos da Igreja, segundo a tradição e por sucessão ininterrupta, ocupa o primeiro lugar a função episcopal, herdada dos apóstolos. Como diz santo Irineu, a tradição apostólica se manifesta e se conserva em todo o mundo através dos bispos e de seus sucessores, instituídos pelos apóstolos. Os bispos assumem pois o serviço da comunidade com o auxílio dos presbíteros e dos diáconos. Presidem o rebanho em lugar de Deus, como pastores, mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado e ministros que governam. A função que o Senhor confiou a Pedro, primeiro dos apóstolos, para ser transmitida a seus sucessores, permanece igualmente para sempre e sem interrupção, como a própria função dos apóstolos de conduzir a Igreja. Por isso o concílio ensina que os bispos, por instituição divina, sucedem aos apóstolos, como pastores da Igreja. Quem os ouve ouve a Cristo e quem os despreza despreza a Cristo e àquele que o enviou (cf. Lc 10, 16)”. Nota:78 cf. Mc 9, 33-37: “Quando chegaram à cidade de Cafarnaum e estavam em casa, Jesus perguntou aos discípulos: Sobre o que vocês estavam discutindo no caminho? Os discípulos ficaram calados, pois no caminho tinham discutido sobre qual deles era o maior. Então Jesus se sentou, chamou os Doze e disse: Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos. Depois Jesus pegou uma criança e colocou-a no meio deles. Abraçou a criança e disse: Quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará recebendo a mim, mas àquele que me enviou”. Mt 18, 1-5: “Naquele momento, os discípulos se aproximaram de Jesus e perguntaram: Quem é o maior no Reino do Céu? Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: Eu lhes garanto: se vocês não se converterem, e não se tornarem como crianças, vocês nunca entrarão no Reino do Céu. Quem se abaixa, e se torna como essa criança, esse é o maior no Reino do Céu. E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe”. Lc 9,46-48: “Houve entre os discípulos uma discussão, para saber qual deles seria o maior. Jesus sabia o que estavam pensando. Pegou então uma criança, colocou-a junto de si, e disse a eles: Quem receber esta criança em meu nome, estará recebendo a mim. E quem me receber, estará recebendo aquele que me enviou. Pois, aquele que é o menor entre vocês, esse é o maior”. Nota:79 Lc 22,26-27: “Mas entre vocês não deverá ser assim. Pelo contrário, o maior entre vocês seja como o mais novo; e quem governa, seja como aquele que serve. Afinal, quem é o maior: aquele que está sentado à mesa, ou aquele que está servindo? Não é aquele que está sentado à mesa? Eu, porém, estou no meio de vocês como quem está servindo”. Nota:80 cf. Puebla 273: “Cada comunidade eclesial deveria esforçar-se por constituir para o Continente um exemplo de modelo de convivência onde consigam unir-se a liberdade e a solidariedade, onde a autoridade se exerça com o espírito do Bom Pastor, onde se viva uma atitude diferente diante da riqueza, onde se ensaiem formas de organização e estruturas de participação, capazes de abrir caminho para um tipo mais humano de sociedade, e, sobretudo, onde inequivocamente se manifeste que, sem uma radical comunhão com Deus em Jesus Cristo, qualquer outra forma de comunhão puramente humana acaba se tornando incapaz de sustentar-se e termina fatalmente voltando-se contra o próprio homem”. Nota:81 1Pd 5,1-3: “Faço uma admoestação aos presbíteros que estão entre vocês, eu que sou presbítero como eles, testemunha dos sofrimentos de Cristo e participante da glória que vai ser revelada: cuidem do rebanho de Deus que lhes foi confiado, não por imposição, mas de livre e espontânea vontade, como Deus o quer; não por causa de lucro sujo, mas com generosidade; não como donos daqueles que lhes foram confiados, mas como modelos para o rebanho”. Nota:82 1Ts 5,12: “Irmãos, pedimos que tenham consideração para com aqueles que se afadigam em dirigi-los no Senhor e admoestá-los”. Nota:83

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56Papa João Paulo II, aos ordenandos do Rio de Janeiro: “Com o rito da Sagrada Ordenação sereis introduzidos...em um novo gênero de vida que vos une ao Cristo com um vínculo original, inefável, irreversível. Não é um simples título jurídico, não consiste apenas num serviço prestado à comunidade... Trata-se de uma real e íntima transformação por que passou vosso organismo sobrenatural por obra de um sinete divino, o caráter, que vos habilita a agir in persona Christi..., instrumentos vivos de sua ação”. Nota:84 Jo 21, 15-18: “Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros? Pedro respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Jesus disse: Cuide dos meus cordeiros. Jesus perguntou de novo a Pedro: Simão, filho de João, você me ama? Pedro respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Jesus disse: Tome conta das minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus perguntou a Pedro: Simão, filho de João, você me ama? Então Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Disse a Jesus: Senhor, tu conheces tudo, e sabes que eu te amo. Jesus disse: Cuide das minhas ovelhas. Eu garanto a você: quando você era mais moço, você colocava o cinto e ia para onde queria. Quando você ficar mais velho, estenderá as suas mãos, e outro colocará o cinto em você e o levará para onde você não quer ir”. Nota:85 cf. Puebla 687: “O bispo é mestre da verdade. Numa Igreja totalmente consagrada ao serviço da Palavra, ele é o primeiro evangelizador, o primeiro catequista; nenhuma outra tarefa o pode eximir desta missão sagrada. Medita religiosamente a Palavra, atualiza-se doutrinalmente, prega ao povo pessoalmente; vela para que a sua comunidade progrida de continuo no conhecimento e prática da palavra de Deus, animando e orientando a todos os que ensinam na Igreja (a fim de evitar “magistérios paralelos” de pessoas ou grupos), e suscitando a colaboração dos teólogos, que exercem o seu carisma especifico dentro da Igreja a partir dos métodos próprios da teologia; para isto, busca uma atualização teológica, a fim de poder discernir a verdade, e mantém com eles uma atitude de diálogo. Isso tudo em comunhão com o Papa e com seus irmãos bispos, especialmente os de sua conferência episcopal”. Nota:86 PO 4: “Antes de tudo, o que reúne o povo de Deus é a palavra que sai da boca do sacerdote. Como ninguém se salva sem fé, os padres, como cooperadores dos bispos, têm o dever precípuo de levar a todos o Evangelho de Deus, no cumprimento do mandamento do Senhor: vão ao mundo inteiro e preguem o Evangelho a toda criatura, constituindo e fazendo crescer o povo de Deus. Graças à palavra da salvação, a fé é despertada no coração dos que não crêem e alimentada no coração dos fiéis, nascendo e crescendo, assim, a comunidade dos fiéis, de acordo com o que diz o apóstolo: A fé vem do ouvir e o que se ouve é a palavra de Cristo (Rm 10, 17). Os sacerdotes devem comunicar a todos a verdade do Evangelho para que todos possam estar com o Senhor. Levem a Deus, quer vivendo honestamente entre o povo, quer pregando o mistério de Cristo aos que não o reconhecem, quer ensinando a doutrina da Igreja ou catequizando os fiéis. Discutam, as questões atuais à luz de Cristo, baseados não na sua sabedoria, mas na palavra de Deus, procurando ensinar a todos, convidando-os à conversão e à maior santidade. A pregação é especialmente difícil nos dias de hoje. Para falar de fato às pessoas, evitem generalidades e abstrações e apliquem a verdade perene do Evangelho às circunstâncias sempre mutáveis da vida. O ministério da palavra varia de acordo com a necessidade dos ouvintes e os dons dos pregadores. Nas regiões ou ambientes não cristãos, o anúncio do Evangelho deve atrair os seres humanos à fé e aos sacramentos da salvação; na comunidade, em relação aos que são menos instruídos, como praticam, crêem. A pregação é uma exigência dos próprios sacramentos, que são sacramentos da fé, nascidos e alimentados pela palavra. Isso vale, especialmente, para a liturgia da palavra, na missa, em que estão inseparavelmente unidos o anúncio da morte e da ressurreição de Jesus, a resposta do povo, a oblação com que Cristo confirmou a nova aliança no seu sangue e a comunhão, de desejo ou sacramental, dos fiéis, nessa mesma oblação”. LG 21 e 25: “21. O Senhor Jesus é o pontífice supremo. Como tal, está presente no meio dos fiéis por intermédio dos bispos, assistidos pelos presbíteros. O Senhor Jesus está sentado à direita do Pai, mas nem por isso se distancia do colégio dos bispos por cujo ministério, principalmente, faz chegar a todos os povos a palavra de Deus e administra aos seus os sacramentos da fé. Por intermédio do exercício da função paterna dos bispos (cf. 1Cor 4, 15), Cristo incorpora novos membros a seu corpo, pela regeneração celestial. Por intermédio de sua sabedoria e prudência, dirige e orienta o povo do Novo Testamento na peregrinação para a felicidade eterna. Os pastores escolhidos para cuidar do rebanho do Senhor são ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus (cf. 1Cor 4, 1). A eles foram confiados o testemunho do Evangelho da graça de Deus (cf. Rm 15, 16) e o serviço do Espírito e da justiça, na glória (cf. 2Cor 3, 8-9). Os apóstolos receberam do próprio Cristo especial comunicação do Espírito Santo (cf. At 1, 8; 2, 4; Jo 20, 22-23) para o exercício de funções muito importantes. Eles próprios, por sua vez, comunicaram esse dom espiritual a seus coadjuvantes, pela imposição das mãos (cf. 1Tm 4, 14; 2Tm 1, 6-7). Até hoje esse mesmo dom é transmitido pela consagração episcopal. O concílio ensina que a consagração episcopal confere a plenitude do sacramento da ordem, expressão máxima do ministério sagrado e sumo sacerdócio, de acordo com o costume litúrgico da Igreja e com a palavra dos santos padres. A consagração episcopal confere as funções de santificar, ensinar e governar, que, porém, só têm valor e só podem ser exercidas em comunhão com a cabeça e com os demais membros do colégio episcopal. É o sentido da imposição das mãos e das palavras da consagração que conferem a graça do Espírito Santo e imprimem o caráter sagrado de acordo com a tradição expressa nos ritos litúrgicos, tanto no Oriente como no Ocidente. Os bispos desempenham o papel do próprio Cristo e agem em seu nome, de maneira eminente e significativa. Compete-lhes agregar os novos eleitos ao corpo episcopal, pelo sacramento da ordem. 25. A principal função dos bispos é a pregação do Evangelho. São porta-vozes da fé, para trazer a Cristo novos discípulos. São, além disso, doutores legítimos, isto é, dotados da autoridade de Cristo. Compete-lhes mostrar a norma da fé e a prática dos costumes ao povo que lhes é confiado. Iluminar esse mesmo povo com a luz do Espírito Santo, tirando coisas novas e velhas do tesouro da revelação (cf. Mt 13, 52). Fazê-las frutificar, afastando, vigilantes, de seu rebanho, todos os erros (cf. 2Tm 4, 1-4). Os bispos que ensinam em comunhão com o pontífice romano devem ser acolhidos por todos como testemunhas da verdade divina e católica. Os fiéis, por sua vez, devem concordar com as decisões tomadas por seu bispo a respeito da fé e dos costumes,

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57acolhendo-as, em nome de Cristo, com respeito religioso. O magistério legítimo do pontífice romano, mesmo quando não fala ex cathedra, deve receber especial acolhimento religioso da vontade e da inteligência, e ser respeitosamente reconhecido. As decisões do pontífice devem ser sinceramente acolhidas, conforme ele as entende. Sua vontade deve ser seguida, de acordo com o que se deduza, quer da natureza dos documentos, da freqüência com que propõe determinado aspecto ou expressamente da própria maneira de falar. Isoladamente, os bispos não gozam da prerrogativa da infalibilidade. Proclamam porém de maneira infalível a doutrina de Cristo quando, embora dispersos pelo mundo, mostram-se unidos entre si e com o sucessor de Pedro, na sustentação legítima de uma mesma doutrina concernente à fé ou aos costumes, que deva ser tida como definitiva. É o que acontece de maneira absolutamente clara quando, reunidos num concílio ecumênico, agem como doutores e juízes da fé e dos costumes, para toda a Igreja. Suas definições devem ser acolhidas pela fé. A infalibilidade na doutrina a respeito da fé e dos costumes, que o divino Redentor garante à sua Igreja, é tão ampla quanto é amplo o ensinamento da própria revelação divina, que deve ser conservado e fielmente manifestado. O pontífice romano, cabeça do colégio episcopal, goza desta infalibilidade em virtude de sua função de confirmar seus irmãos na fé (cf. Lc 22, 32) e de proclamar, de maneira definitiva, a doutrina relativa à fé e aos costumes, como pastor e doutor supremo de todos os fiéis. Por isso se diz que suas definições são irreformáveis por si mesmas e não dependem do consentimento da Igreja. São tomadas sob a assistência do Espírito Santo, prometida ao próprio Pedro. Não têm necessidade de nenhuma aprovação nem estão sujeitas à apelação junto a qualquer outro juiz. O pontífice romano não profere tal sentença como pessoa particular, mas como mestre supremo da Igreja universal, dotado, como tal, do carisma da infalibilidade da própria Igreja, no que se refere à manifestação e defesa da fé católica. A infalibilidade da Igreja reside igualmente no corpo episcopal, quando exerce o magistério supremo, em comunhão com o sucessor de Pedro. O assentimento a essas definições por parte da Igreja não faltará nunca, em virtude da ação do próprio Espírito Santo, que sustenta e faz crescer o rebanho de Cristo, na unidade. Quando o pontífice romano ou o corpo episcopal em conjunto com ele, definem uma doutrina, fazem-no segundo a própria revelação, a que todos devem se referir e conformar. Essa revelação, por meio da Escritura ou da Tradição, é integralmente transmitida pela sucessão legítima dos bispos, em especial do pontífice romano, santamente conservada e fielmente manifestada na Igreja, pela luz do Espírito da verdade. O pontífice romano e os bispos, em virtude de seu ofício, levando em conta a importância da matéria, empenham-se em melhor conhecer e a exprimir da maneira mais adequada essa tradição. Não aceitam nenhuma nova revelação pública como fazendo parte do ensinamento da fé”. Nota:87 PO 5: “Deus, que somente é santo e santificador, quis colocar humildes associados e auxiliares a serviço da obra de santificação. Nesse sentido, os sacerdotes são consagrados a Deus, por ministério do bispo, como participantes, a título especial, do sacerdócio de Cristo, para que atuem, nas celebrações sagradas, como ministros daquele que exerce incessantemente, por nós, na liturgia, seu papel sacerdotal, no Espírito. Os sacerdotes introduzem os seres humanos, pelo batismo, no povo de Deus. Reconciliam os pecadores pelo sacramento da penitência. Aliviam os doentes com a unção. Oferecem na missa, sacramentalmente, o sacrifício de Cristo. Desde os tempos primitivos, como mostra santo Inácio, mártir, os padres estão associados ao bispo em todos os sacramentos e o representam de diversas maneiras em cada uma das assembléias de fiéis. Os sacramentos, todos os ministérios eclesiásticos e todas as obras apostólicas estão ordenados à eucaristia formando um só todo. Na eucaristia reside todo o bem espiritual da Igreja, que é Cristo, nossa páscoa. Pão vivo, em sua carne, vivificada e vivificante, no Espírito Santo, é fonte de vida para os homens, convidados a se unirem a ele, com todos os seus sofrimentos e toda a criação, num único oferecimento. Por isso, a eucaristia é fonte e cume de toda a evangelização. Os catecúmenos são progressivamente admitidos à eucaristia, enquanto os fiéis batizados e confirmados, pela recepção da eucaristia, se inserem cada vez mais profundamente no corpo de Cristo. A assembléia eucarística, presidida pelo padre, é o centro de todas as reuniões de fiéis. Os sacerdotes ensinam o povo a oferecer a Deus Pai a vítima divina no sacrifício da missa, em união com sua própria vida. No espírito de Cristo pastor, os sacerdotes procurarão levar os fiéis contritos a submeterem seus pecados ao sacramento da penitência, para melhor se converterem ao Senhor, recordando-se de sua palavra: Façam penitência, aproxima-se o reino dos céus (Mt 4, 17). Habituem-nos igualmente a participar da liturgia sagrada, para se iniciarem na oração e se exercitarem a praticar, em toda a vida, de maneira cada vez mais perfeita, o espírito de oração, segundo as graças e necessidades de cada um. Orientem todos a viver segundo as exigências do seu estado, estimulando os mais perfeitos à prática dos conselhos evangélicos. Ensinem os fiéis a cantarem ao Senhor, em seu coração, hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças a Deus Pai por tudo, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Os louvores e ações de graça da celebração eucarística se prolonguem pelas diversas horas do dia através da recitação do ofício divino, que os padres devem dizer em nome da Igreja, do seu povo, e de todos os seres humanos. Para consolo e satisfação dos fiéis a casa de oração, em que se celebra e se guarda a santíssima eucaristia, deve ser objeto de respeito e veneração, pois é o lugar da reunião dos fiéis e da presença do Filho de Deus, nosso salvador, que se oferece no altar por nós. Ela deve estar sempre limpa e ser reservada à oração e às celebrações solenes, pois, nesse lugar, pastores e fiéis são convidados a corresponder ao dom daquele que, por sua humanidade, infunde incessantemente a vida em seu corpo. Cultivem os sacerdotes a ciência e arte litúrgicas, para que seu ministério junto às comunidades que lhe são confiadas seja cada dia mais perfeito no louvor a Deus Pai, Filho e Espírito Santo”. Nota:88 João Paulo II, Homilia no Maracanã, n.6: “Nada disso, entretanto, urge dizê-lo, diminui de forma alguma a importância e a necessidade do ministério sacerdotal, nem pode justificar um menor empenho pelas vocações eclesiásticas. Menos ainda, pode justificar a tentativa de transferir para a assembléia ou comunidade o poder que Cristo conferiu exclusivamente aos ministros sagrados. O papel do sacerdote permanece insubstituível. Devemos, sim, solicitar de todos os modos a colaboração dos leigos. Mas, na economia da redenção, existem tarefas e funções como o oferecimento do sacrifício Eucarístico, o perdão dos pecados, o ofício do magistério -

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58que Cristo quis ligar essencialmente ao sacerdócio, e nas quais ninguém , sem ter recebido a ordem sagrada, nos poderá substituir. Sem o ministério sacerdotal, a vitalidade religiosa corre o risco de se cortar de suas fontes, a comunidade cristã se desagregar-se e a Igreja de secularizar-se”. Nota:89 At 10, 38: “Eu me refiro a Jesus de Nazaré: Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder. E Jesus andou por toda parte, fazendo o bem e curando todos os que estavam dominados pelo diabo; porque Deus estava com Jesus”. Nota:90 cf. Mt 9,36: “Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. Nota:91 cf. Jo 10,10: “O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”. Jo 14,6: “Jesus respondeu: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”. Nota:92 Jo 10,15: “assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas”. Jo 13,1: “Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a sua hora. A hora de passar deste mundo para o Pai. Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Nota:93 LG 11a: “A índole sagrada e a constituição orgânica da comunidade sacerdotal se efetivam nos sacramentos e na prática cristã. Incorporados à Igreja pelo batismo, os fiéis recebem o caráter que os qualifica para o culto. Por outro lado, renascidos como filhos de Deus, devem professar a fé que receberam de Deus, por intermédio da Igreja. O sacramento da confirmação os vincula ainda mais intimamente à Igreja e lhes confere de modo especial a força do Espírito Santo. Daí a obrigação maior de difundir e defender a fé, pela palavra e pelas obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo. Participando do sacrifício eucarístico, fonte e ápice de toda a vida cristã, os fiéis oferecem a Deus a vítima divina e se oferecem com ela. Juntamente com os ministros, cada um a seu modo, têm todos um papel específico a desempenhar na ação litúrgica, tanto na oblação como na comunhão. Alimentando-se todos com o corpo de Cristo, demonstram de maneira concreta a unidade do povo de Deus, proclamada e realizada pelo sacramento da eucaristia”. Nota:94 PO 14: “No mundo de hoje há tanta coisa a fazer e tantos são os problemas a resolver com rapidez, que ninguém pode se ocupar com tudo sem se atrapalhar. Os padres, no meio das múltiplas obrigações de ofício e tendo que atender a tantas coisas diferentes, tornam-se freqüentemente ansiosos, com dificuldade para levar uma vida interior razoável, no meio de tão diversas atividades, dentro de certa harmonia e unidade. Essa unidade não resulta nem unicamente da organização do ministério, nem tampouco dos simples exercícios de piedade. Só se alcança quando se procura exercer o ministério de acordo com o exemplo do Cristo Senhor que, para cumprir perfeitamente o seu trabalho, tinha como alimento fazer a vontade daquele que o enviou. Na realidade, é através de sua Igreja, pelo trabalho de seus ministros, que Cristo cumpre, no mundo, a vontade do Pai, que é, de fato, a fonte de unidade para a vida sacerdotal. Para alcançar essa unidade de vida, os padres devem se unir a Cristo no reconhecimento da vontade do Pai e na generosidade do dom de si mesmos ao rebanho que lhes é confiado. Dessa forma, agindo como o Bom Pastor, encontram no próprio exercício da caridade pastoral o caminho da perfeição sacerdotal que os leva à unidade entre a vida e a ação. A caridade pastoral provém, principalmente, do sacrifício eucarístico, centro e raiz de toda a vida do padre, que deve procurar viver o que faz no altar. Mas isso só é possível se os sacerdotes penetrarem a fundo no mistério da oração de Cristo. Na prática, os padres devem examinar se cada uma de suas iniciativas é realmente querida por Deus, verificando se correspondem às normas evangélicas da missão da Igreja. Não se pode separar a fidelidade a Cristo da fidelidade à Igreja. A caridade pastoral exige que os padres não trabalhem em vão, mas sempre em comunhão com os bispos e com os demais sacerdotes. Assim fazendo, os padres encontrarão sua unidade de vida na unidade da própria missão da Igreja, unindo-se a seu Senhor e, por ele, ao Pai, no Espírito Santo, para que sejam plenamente confortados, na maior alegria”. Nota:95 Mc 3,14: “Então Jesus constituiu o grupo dos Doze, para que ficassem com ele e para enviá-los a pregar”. Nota:96 cf. Jo 21,15: “Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, você me ama mais do que estes outros? Pedro respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo. Jesus disse: Cuide dos meus cordeiros”. Nota:97 1Cor 4,1: “Que os homens nos considerem como servidores de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”. Nota:98 1Pd 2,15: “Pois esta é a vontade de Deus: praticar o bem, fazendo calar a ignorância dos insensatos”. Nota:99 Jo 8,29: “Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque sempre faço o que agrada a ele”. Nota:100 Mt 18,20: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles”. Nota:101 João Paulo II, Homilia no Maracanã, n. 5: “O sacerdote é o homem da comunidade, ligado de forma total e irrevogável ao seu serviço, como o Concílio o ilustrou claramente (cf. Presbyterorum Ordinis, 12). Sob este

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59aspecto, vós sois destinados ao cumprimento de uma dupla função, que bastaria, ela só, para uma infindável meditação sobre o Sacerdócio”. Nota:102 cf. LG 28: “O Pai santificou e enviou ao mundo Jesus Cristo (cf. Jo 10, 36), que constituiu os apóstolos e seus sucessores, os bispos, participantes de sua própria consagração e missão. Os bispos, por sua vez, outorgam legitimamente a outras pessoas diversos graus de participação no seu ministério. Por isso, o ministério eclesiástico, divinamente instituído, se exerce, desde a antigüidade, através de diversas ordens denominadas episcopado, presbiterato e diaconato. Os presbíteros, a quem chamamos de sacerdotes ou, simplesmente, padres, não têm a plenitude do pontificado. Dependem dos bispos no exercício de seu ministério. Participam, entretanto, com ele da honra do sacerdócio e foram consagrados pelo sacramento da ordem. São verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento à imagem de Cristo, sacerdote supremo e eterno (cf. Hb 5, 1-10; 7, 24; 9, 11-28), para a pregação do Evangelho, o cuidado do rebanho e a celebração do culto. Pelo seu ministério específico, os sacerdotes participam da função de Cristo, único mediador (cf. 1Tm 2, 5) e devem anunciar a todos a palavra de Deus. Exercem a plenitude de suas funções no culto ou assembléia eucarística, em que agem em nome de Cristo, proclamam o seu mistério, unem ao seu sacrifício como cabeça as preces dos fiéis e renovam e aplicam, até a vinda do Senhor (cf. 1Cor 11-16), na missa, o único sacrifício do Novo Testamento, em que Cristo se ofereceu uma vez por todas ao Pai como hóstia imaculada (cf. Hb 9, 11-28). Os sacerdotes são chamados a desempenhar o ministério da reconciliação e do alívio junto aos fiéis penitentes e doentes, apresentando a Deus Pai suas necessidades e suas orações (cf. Hb 5, 1ss). Participantes da função de Cristo, pastor e cabeça, exercem uma certa autoridade sobre a família de Deus, procurando unir a comunidade na fraternidade e conduzi-la por Cristo, no Espírito, a Deus. No meio do rebanho adoram a Deus, em espírito e verdade (cf. Jo 4, 24). Devem meditar na palavra e na doutrina (cf. 1Tm 5, 17), acreditar no que assimilam da lei do Senhor, ensinar o que acreditam e praticar o que ensinam. Os sacerdotes devem ser assíduos cooperadores dos bispos, como seus auxiliares e intermediários. São chamados a servir o povo de Deus, formando um só presbitério com seu bispo, nas diversas funções que lhes cabem. Associados fiel e generosamente ao bispo, tornam-no de certa maneira presente em todos os lugares em que se reúnem com os fiéis, participam de suas funções e preocupações no exercício cotidiano da pastoral. Santificando e dirigindo, sob a autoridade do bispo, a parte do rebanho que o Senhor lhes confiou, tornam visível em todos os lugares a Igreja universal e contribuem eficazmente para a edificação de todo o corpo de Cristo (cf. Ef 4, 12). Sempre atentos ao bem dos filhos de Deus, procurem se empenhar no trabalho pastoral de toda a diocese e, até mesmo, de toda a Igreja. Os sacerdotes devem tratar o bispo como sendo realmente pai e a ele obedecer com respeito, em virtude da própria participação no seu sacerdócio e na sua missão. O bispo, por sua vez, deve considerar os sacerdotes colaboradores seus, filhos e amigos, como Cristo, que não chamou os seus discípulos de servos, mas de amigos (cf. Jo 15, 15). Em virtude da ordem e do ministério, todos os sacerdotes, diocesanos e religiosos, estão associados ao colégio dos bispos, a serviço do bem de toda a Igreja, de acordo com a vocação e a graça de cada um. Em virtude da ordenação e missão comum, os sacerdotes estão também unidos fraternalmente entre si. Devem pois manifestá-lo pelo auxílio recíproco, espiritual, material, pastoral e pessoal, nos encontros, na vida comum, nos trabalhos e no exercício da caridade. Sejam como pais dos fiéis gerados espiritualmente pelo batismo e pela doutrina (cf. 1Cor 4, 15; 1Pd 1, 23) e modelos do rebanho (cf. 1Pd 5, 3). Devem pois presidir e servir a comunidade local de tal modo que mereça o nome de Igreja de Deus, aplicado a todo o povo de Deus, na sua unidade (cf. 1Cor 1, 2; 2Cor 1, 1 e muitas outras passagens). Lembrem-se de que sua vida cotidiana e seu empenho pastoral mostram o que é o ministério sacerdotal e pastoral para os fiéis e os não-fiéis, para os católicos e não-católicos. Dêem a todos o testemunho da verdade e da vida e, como bons pastores, procurem (cf. Lc 15, 4-7) aqueles que foram batizados na Igreja católica, mas abandonaram os sacramentos ou mesmo, perderam a fé. A humanidade é hoje cada vez mais una, do ponto de vista civil, econômico e social. É preciso pois que os sacerdotes atuem em conjunto, sob a direção dos bispos e do papa, evitando toda a dispersão de forças, para conduzir a humanidade à unidade da família de Deus”. Nota:103 cf. 2Cor 4,5: “Não pregamos a nós mesmos, mas Cristo Jesus, Senhor. Quanto a nós mesmos é como servos de vocês que nos apresentamos, por causa de Jesus”. Nota:104 PO 5: “Deus, que somente é santo e santificador, quis colocar humildes associados e auxiliares a serviço da obra de santificação. Nesse sentido, os sacerdotes são consagrados a Deus, por ministério do bispo, como participantes, a título especial, do sacerdócio de Cristo, para que atuem, nas celebrações sagradas, como ministros daquele que exerce incessantemente, por nós, na liturgia, seu papel sacerdotal, no Espírito. Os sacerdotes introduzem os seres humanos, pelo batismo, no povo de Deus. Reconciliam os pecadores pelo sacramento da penitência. Aliviam os doentes com a unção. Oferecem na missa, sacramentalmente, o sacrifício de Cristo. Desde os tempos primitivos, como mostra santo Inácio, mártir, os padres estão associados ao bispo em todos os sacramentos e o representam de diversas maneiras em cada uma das assembléias de fiéis. Os sacramentos, todos os ministérios eclesiásticos e todas as obras apostólicas estão ordenados à eucaristia formando um só todo. Na eucaristia reside todo o bem espiritual da Igreja, que é Cristo, nossa páscoa. Pão vivo, em sua carne, vivificada e vivificante, no Espírito Santo, é fonte de vida para os homens, convidados a se unirem a ele, com todos os seus sofrimentos e toda a criação, num único oferecimento. Por isso a eucaristia é fonte e cume de toda a evangelização. Os catecúmenos são progressivamente admitidos à eucaristia, enquanto os fiéis batizados e confirmados, pela recepção da eucaristia, se inserem cada vez mais profundamente no corpo de Cristo. A assembléia eucarística, presidida pelo padre, é o centro de todas as reuniões de fiéis. Os sacerdotes ensinam o povo a oferecer a Deus Pai a vítima divina no sacrifício da missa, em união com sua própria vida. No espírito de Cristo pastor, os sacerdotes procurarão levar os fiéis contritos a submeterem seus pecados ao sacramento da penitência, para melhor se converterem ao Senhor, recordando-se de sua palavra: Façam penitência, aproxima-se o reino dos céus (Mt 4, 17).

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60Habituem-nos igualmente a participar da liturgia sagrada, para se iniciarem na oração e se exercitarem a praticar, em toda a vida, de maneira cada vez mais perfeita, o espírito de oração, segundo as graças e necessidades de cada um. Orientem todos a viver segundo as exigências do seu estado, estimulando os mais perfeitos à prática dos conselhos evangélicos. Ensinem os fiéis a cantarem ao Senhor, em seu coração, hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças a Deus Pai por tudo, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Os louvores e ações de graça da celebração eucarística se prolonguem pelas diversas horas do dia através da recitação do ofício divino, que os padres devem dizer em nome da Igreja, do seu povo, e de todos os seres humanos. Para consolo e satisfação dos fiéis a casa de oração, em que se celebra e se guarda a santíssima eucaristia, deve ser objeto de respeito e veneração, pois é o lugar da reunião dos fiéis e da presença do Filho de Deus, nosso salvador, que se oferece no altar por nós. Ela deve estar sempre limpa e ser reservada à oração e às celebrações solenes, pois, nesse lugar, pastores e fiéis são convidados a corresponder ao dom daquele que, por sua humanidade, infunde incessantemente a vida em seu corpo. Cultivem os sacerdotes a ciência e arte litúrgicas, para que seu ministério junto às comunidades que lhe são confiadas seja cada dia mais perfeito no louvor a Deus Pai, Filho e Espírito Santo”. Nota:105 Hb 10,5: “Por esse motivo, ao entrar no mundo, Cristo disse: ‘‘Tu não quiseste sacrifício e oferta. Em vez disso, tu me deste um corpo”. Nota:106 cf. Ef 5,19-20: “Juntos recitem salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor de todo o coração. Agradeçam sempre a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”. Nota:107 cf. Hb 2,14-18: “Uma vez que os filhos têm todos em comum a carne e o sangue, Jesus também assumiu uma carne como a deles. Assim pôde, por sua própria morte, tirar o poder do diabo, que reina por meio da morte. Desse modo, Jesus libertou os homens que ficavam paralisados a vida inteira por medo da morte. Ele não veio para ajudar os anjos, e sim para ajudar a descendência de Abraão. Por isso, teve que ser semelhante em tudo a seus irmãos, para se tornar sumo sacerdote misericordioso e fiel em relação às coisas de Deus, a fim de expiar os pecados do povo. De fato, justamente porque foi colocado à prova e porque sofreu pessoalmente, ele é capaz de vir em auxílio daqueles que estão sendo provados”. Nota:108 Mt 23,8-12: “Quanto a vocês, nunca se deixem chamar de mestre, pois um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. Na terra, não chamem a ninguém de Pai, pois um só é o Pai de vocês, aquele que está no céu. Não deixem que os outros chamem vocês de líderes, pois um só é o Líder de vocês: o Messias. Pelo contrário, o maior de vocês deve ser aquele que serve a vocês. Quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado”. Nota:109 PO 3: “Tomados dentre os seres humanos e se ocupando, por sua causa, das coisas divinas, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados, os padres devem viver entre os seres humanos como irmãos. Foi assim que o Senhor Jesus, Filho de Deus, homem enviado por Deus aos seres humanos, viveu entre nós como um dos nossos, exceto quanto ao pecado. Imitaram-no os apóstolos, que, na expressão de Paulo, doutor dos gentios, escolhido para anunciar o Evangelho (Rm 1,1), tornaram-se como qualquer um, para salvar a todos. Os sacerdotes do Novo Testamento, por sua vocação e ordenação, distinguem-se, de certo modo, no seio do povo de Deus não porque constituem algo à parte do resto do povo ou de qualquer pessoa em particular, mas por causa de sua inteira consagração ao trabalho para o qual o Senhor os chamou. Não podem ser ministros de Cristo sem testemunhar e estar a serviço de algo que ultrapassa a vida terrena; como não poderiam servir aos seres humanos se permanecessem alheios às suas reais condições de vida. O próprio ministério que exercem requer que não vivam segundo o espírito do mundo ao mesmo tempo que exige estarem inseridos no mundo, conheçam suas ovelhas como bons pastores, procurem também aquelas que não pertencem ainda ao rebanho, para que todos ouçam a voz de Cristo e se tornem membros de um único rebanho, sob o único pastor. Para alcançar este objetivo são muito importantes as virtudes a que se dá, com razão, muito valor, como a bondade do coração, a sinceridade, a força de ânimo e a constância, o senso de justiça, a afabilidade no trato e tudo que recomenda o apóstolo, dizendo: Ocupem-se, irmãos, com tudo que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso, ou que de algum modo mereça louvor(Fl 4,8)”. Nota:110 cf. 2Cor 12, 9-10: “Ele, porém, me respondeu: ‘‘Para você basta a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder.’’ Portanto, com muito gosto, prefiro gabar-me de minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. E é por isso que eu me alegro nas fraquezas, humilhações, necessidades, perseguições e angústias, por causa de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte”. Nota:111 Lc 17,10: “Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. Nota:112 Fl 2,7: “Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem”. Nota:113 2Tm 1,6-8: “Por esse motivo, o convido a reavivar o dom de Deus que está em você pela imposição de minhas mãos. De fato, Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sabedoria. Não se envergonhe, portanto, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participe do meu sofrimento pelo Evangelho, confiando no poder de Deus”. Nota:114

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612Tm 1,10-11: “mas somente agora foi revelada pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo. Ele não só venceu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho, do qual eu fui constituído anunciador, apóstolo e mestre”. Nota:115 1Cor 15,24-28: “A seguir, chegará o fim, quando Cristo entregar o Reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo principado, toda autoridade, todo poder. Pois é preciso que ele reine, até que tenha posto todos os seus inimigos debaixo dos seus pés. O último inimigo a ser destruído será a morte, pois Deus tudo colocou debaixo dos pés de Cristo. Mas, quando se diz que tudo lhe será submetido, é claro que se deve excluir Deus, que tudo submeteu a Cristo. E quando todas as coisas lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho se submeterá àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos”. Nota:116 cf. At 1,24: “Em seguida fizeram esta oração: ‘‘Senhor, tu conheces o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois tu escolheste”. At 13,2: “Certo dia, eles estavam fazendo uma reunião litúrgica com jejum, e o Espírito Santo disse: ‘‘Separem para mim Barnabé e Saulo, a fim de fazerem o trabalho para o qual eu os chamei’”. At 20,28: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho, pois o Espírito Santo os constituiu como guardiães, para apascentarem a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si com o sangue do seu próprio Filho”. 1Cor 12,28: “Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres... A seguir vêm os dons dos milagres, das curas, da assistência, da direção e o dom de falar em línguas”. 2Tm 1,6: “Por esse motivo, o convido a reavivar o dom de Deus que está em você pela imposição de minhas mãos”. Nota:117 cf. At 6,1-6: “Naqueles dias, o número dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de origem grega começaram a queixar-se contra os fiéis de origem hebraica. Os de origem grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário. Então os Doze convocaram uma assembléia geral dos discípulos, e disseram: ‘Não está certo que nós deixemos a pregação da palavra de Deus para servir às mesas. Irmãos, é melhor que escolham entre vocês sete homens de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos dessa tarefa. Desse modo, nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra.’ A proposta agradou a toda a assembléia. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; e também Filipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas, e Nicolau de Antioquia, um pagão que seguia a religião dos judeus. Todos estes foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles”. At 15,40: “Paulo, por sua vez, escolheu Silas, e partiu, recomendado pelos irmãos à graça do Senhor”. At 16,3: “Paulo quis então que Timóteo partisse com ele. Tomou-o e o circuncidou, por causa dos judeus que se encontravam nessas regiões, pois todos sabiam que o pai de Timóteo era grego”. 1Cor 16,3: “Quando eu chegar, mandarei com uma carta minha aqueles que vocês tiverem escolhido para levar suas ofertas a Jerusalém”. 2Cor 8, 19-23: “Mais ainda: foi escolhido pelas igrejas para ser nosso companheiro de viagem nesta obra de generosidade, serviço que empreendemos para dar glória ao Senhor e realizar as nossas boas intenções. Tomamos essa precaução para evitar qualquer crítica na administração da grande quantia que nos confiaram. De fato, estamos preocupados com o bem, não somente aos olhos de Deus, mas também diante dos homens. Junto com os representantes, enviamos também o nosso irmão, cuja dedicação muitas vezes e de muitos modos temos experimentado, e que agora se mostra muito mais disposto, já que deposita plena confiança em vocês. Quanto a Tito, ele é meu companheiro e colaborador junto a vocês, ao passo que os nossos irmãos são os enviados das igrejas, as quais são a glória de Cristo. Portanto, diante das igrejas, dêem a eles provas do amor de vocês, e façam que eles vejam como é justo o motivo do nosso orgulho a respeito de vocês”. 1Tm 4,14: “Não descuide o dom da graça que há em você e que lhe foi dado através da profecia, juntamente com a imposição das mãos do grupo dos presbíteros”. 2Tm 2,2: “O que você ouviu de mim na presença de muitas testemunhas, transmita-o a homens de confiança que, por sua vez, estejam em grau de ensiná-lo a outros”. Nota:118 cf. PO 11: “O pastor e bispo de nossas almas, que constituiu a Igreja como seu povo, adquirido pelo seu sangue, providenciará até o fim do mundo os sacerdotes necessários para que os cristãos não venham a se tornar como rebanho sem pastor. Conhecendo, no Espírito Santo, esta disposição de Cristo, os apóstolos julgaram seu dever escolher ministros capazes de ensinar aos outros (2Tm 2, 2). Este papel deriva, sem dúvida, da missão sacerdotal, através da qual o padre participa da preocupação que a Igreja tem de que não faltem, na terra, operários, ao povo de Deus. Como, porém, piloto e viajantes estão no mesmo barco, lembre-se a todo o povo de Deus que é seu dever cooperar de diversas maneiras, pela oração instante e por todos os meios a seu alcance, para que a Igreja tenha sempre os sacerdotes necessários ao cumprimento de sua missão divina. A começar pelos padres: na pregação e pelo testemunho da própria vida, manifestando claramente o espírito de serviço e a alegria pascal, coloquem diante dos olhos dos fiéis a excelência e a necessidade do sacerdócio. Sem medir sacrifícios ou dificuldades, procurem ajudar os jovens e adultos que julgarem idôneos para tão excelso ministério, a fim de que se preparem devidamente e possam ser chamados pelo bispo, respeitada integralmente sua liberdade tanto exterior quanto interior. A direção espiritual contribui enormemente para a consecução desse objetivo. Pais, professores e todos que cuidam da educação das crianças e dos jovens formem-nos de tal modo que, conscientes da solicitude do Senhor para com seu rebanho e considerando as necessidades da Igreja, estejam prontos a responder generosamente ao chamado do Senhor, dizendo, como o profeta: Eis-me aqui. Envia-me (Is 6, 8). Não se espere, porém, que o chamado do Senhor se faça ouvir de maneira extraordinária ao futuro padre. Deve ser percebido e avaliado, com toda atenção, pelos padres, através dos sinais habituais com que a vontade de Deus é conhecida todos os dias pelos cristãos prudentes.

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62Recomendam-se vivamente as obras das vocações, tanto diocesanas, como nacionais. Na pregação, na catequese e na imprensa é preciso manifestar as necessidades da Igreja, tanto local como universal, colocar em sua verdadeira luz o sentido e a excelência do ministério sacerdotal, em que se acumulam os muitos deveres, muito maiores alegrias e através do qual se pode dar a Cristo o testemunho máximo do amor”. Nota:119 cf. 1Ts 5,19-21: “Não extingam o Espírito, não desprezem as profecias; examinem tudo e fiquem com o que é bom”. LG 12b: “Mas não é só pelos sacramentos e pelos ministérios que o Espírito Santo santifica, dirige e fortalece o povo de Deus. Distribuindo os seus dons a cada um, conforme quer (1Cor 12, 11), o Espírito Santo distribui graças especiais aos fiéis das mais variadas condições, tornando-os aptos e dispostos a assumir os trabalhos e funções úteis à renovação e ao maior desenvolvimento da Igreja, de acordo com o que está escrito: Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito, para utilidade de todos (1Cor 12, 7). Todos esses carismas, dos mais extraordinários aos mais simples e mais difundidos devem ser acolhidos com ação de graças e satisfação, pois correspondem às necessidades da Igreja e lhe são úteis. Não se deve porém cobiçar temerariamente os dons extraordinários nem esperar deles, com presunção, frutos significativos nos trabalhos apostólicos. A apreciação sobre os dons e seu exercício ordenado no seio da Igreja pertence aos que a presidem, que têm especial mandato de não abafar o Espírito, mas tudo provar e reter o que é bom (cf. 1Ts 5, 12.19-21)”. OT 2c: “Essa atuação efetiva de todo o povo de Deus em favor das vocações corresponde à ação da Providência divina, que confere a graça e os dons necessários aos que são divinamente chamados a participar do sacerdócio hierárquico de Cristo, ao mesmo tempo que confia aos ministros legítimos da Igreja, a função de chamar e consagrar ao culto divino e ao serviço da Igreja com a marca do Espírito Santo, os candidatos a tão elevado ministério, acedendo a seu pedido, feito com reta intenção e plena liberdade, depois de lhes reconhecer a idoneidade”. Nota:120 cf. Mt 9,38: “Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita”. Lc 10,2: “E lhes dizia: A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita”. Nota:121 cf. Mt 25,14-30: “Acontecerá como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamando seus empregados, entregou seus bens a eles. A um deu cinco talentos, a outro dois, e um ao terceiro: a cada qual de acordo com a própria capacidade. Em seguida, viajou para o estrangeiro. O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. Do mesmo modo o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas, aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão. Depois de muito tempo, o patrão voltou, e foi ajustar contas com os empregados. O empregado que havia recebido cinco talentos, entregou-lhe mais cinco, dizendo: Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei. O patrão disse: Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria. Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei. O patrão disse: Muito bem, empregado bom e fiel! Como você foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria. Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: Senhor, eu sei que tu és um homem severo pois colhes onde não plantaste, e recolhes onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo, e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence. O patrão lhe respondeu: Empregado mau e preguiçoso! Você sabia que eu colho onde não plantei, e que recolho onde não semeei. Então você devia ter depositado meu dinheiro no banco, para que, na volta, eu recebesse com juros o que me pertence. Em seguida o patrão ordenou: Tirem dele o talento, e dêem ao que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, será dado mais, e terá em abundância. Mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a esse empregado inútil, joguem-no lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes”. Jo 10,12-13: “O mercenário, que não é pastor e as ovelhas não são suas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas. O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro, e não se importa com as ovelhas”. 1Tm 3,1-10: “É certo que se alguém aspira a um cargo de direção está aspirando a uma coisa nobre. É preciso, porém, que o dirigente seja irrepreensível, esposo de uma única mulher, ajuizado, equilibrado, educado, hospitaleiro, capaz de ensinar, não dado à bebida, nem briguento, mas indulgente, pacífico e sem interesse por dinheiro. Ele deve ser homem que saiba dirigir bem a própria casa, e cujos filhos lhe obedeçam e o respeitem. Pois, se alguém não sabe dirigir bem a própria casa, como poderá dirigir bem a igreja de Deus? Que ele não seja recém-convertido, a fim de que não fique cheio de soberba e seja condenado como o foi o diabo. Exige-se ainda que ele tenha boa fama entre os de fora, para não cair no descrédito e nos laços do diabo. Os diáconos igualmente devem ser dignos de respeito, homens de palavra, não inclinados à bebida, nem ávidos de lucros vergonhosos. Conservem o mistério da fé com a consciência limpa. Também eles devem ser primeiramente experimentados e, em seguida, se forem irrepreensíveis, sejam admitidos na função de diáconos”. Nota:122 cf. Rm 8,28: “Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele”. 1Cor 1,2: “à igreja de Deus que está em Corinto. Dirigimo-nos àqueles que foram santificados em Jesus Cristo e chamados a ser santos, juntamente com todos os que invocam em todo lugar o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”. Jd 1: “Judas, servo de Jesus Cristo, irmão de Tiago, aos eleitos que são amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo”. Nota:123 cf. especialmente o n.32 da Lumen Gentium: “A santa Igreja foi instituída por Deus com uma grande variedade de categorias e funções. Num só corpo há muitos membros e esses membros não têm todos a

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63mesma função. O mesmo acontece conosco, embora sendo muitos, formamos um só corpo em Cristo, e, cada um por sua vez, é membro dos outros (Rm 12, 4). O povo de Deus é uno: um só Senhor, uma fé, um só batismo (Ef 4, 5). A dignidade dos membros é a mesma, em virtude da regeneração em Cristo. A graça filial e a vocação à perfeição são também as mesmas. Uma a salvação, uma a esperança, uma e indivisível a caridade. Não há, portanto, em Cristo e não deve haver na Igreja nenhuma diferença de raça ou nação, de condição social ou de sexo, não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Cristo Jesus (Gl 3, 28; cf. Cl 3, 11). Na Igreja, embora nem todos sigam pelo mesmo caminho, são todos chamados à santidade e herdeiros da mesma fé, segundo a justiça de Deus (cf. 2Pd 1, 1). Todos são iguais em dignidade. A ação de todos os fiéis em vista da edificação do corpo de Cristo é comum a todos. No entanto, em benefício do conjunto, o próprio Cristo constitui alguns como doutores, pastores e dispensadores dos mistérios de Deus. A distinção estabelecida pelo Senhor entre os ministros sagrados e os outros membros do povo de Deus exige a união, pois vincula uns aos outros, pastores e fiéis. Os pastores devem se colocar a serviço uns dos outros e dos fiéis, à imitação do Senhor. Os fiéis, por sua vez, devem colaborar alegremente com os pastores e doutores. Na própria diversidade, todos dão testemunho da admirável unidade do corpo de Cristo. A variedade das graças, dos ministérios e das atividades congrega os filhos de Deus na unidade, pois é sempre o mesmo e único Espírito que tudo opera (1Cor 12, 11). Cristo, Senhor de todas as coisas, veio para servir e não para ser servido (cf. Mt 20, 28). Os leigos o têm pois como irmão, graças à misericórdia divina. São também irmãos dos que estão encarregados do ministério sagrado. É pela autoridade de Cristo que apascentam a família de Deus, ensinando, santificando e dirigindo-a, para que seja cumprido por todos o novo mandamento da caridade. Agostinho o diz com rara felicidade: Assusta-me ser de vocês, consola-me estar com vocês. Sou de vocês como bispo, estou com vocês como cristão. bispo é nome de função; cristão, o nome da graça. Um representa perigo, o outro, salvação”. Nota:124 LG 32b: “Na Igreja, embora nem todos sigam pelo mesmo caminho, são todos chamados à santidade e herdeiros da mesma fé, segundo a justiça de Deus (cf. 2Pd 1, 1). Todos são iguais em dignidade. A ação de todos os fiéis em vista da edificação do corpo de Cristo é comum a todos. No entanto, em benefício do conjunto, o próprio Cristo constitui alguns como doutores, pastores e dispensadores dos mistérios de Deus. A distinção estabelecida pelo Senhor entre os ministros sagrados e os outros membros do povo de Deus exige a união, pois vincula uns aos outros, pastores e fiéis. Os pastores devem se colocar a serviço uns dos outros e dos fiéis, à imitação do Senhor. Os fiéis, por sua vez, devem colaborar alegremente com os pastores e doutores. Na própria diversidade, todos dão testemunho da admirável unidade do corpo de Cristo. A variedade das graças, dos ministérios e das atividades congrega os filhos de Deus na unidade, pois é sempre o mesmo e único Espírito que tudo opera (1Cor 12, 11)”. LG 40: “O Senhor Jesus é mestre e exemplo de toda perfeição. Autor e realizador da santidade, ele mesmo manifestou suas exigências a todos e a cada um dos discípulos: Sejam perfeitos como é perfeito seu Pai, que está nos céus (Mt 5, 48). Enviou igualmente a todos o Espírito Santo, para movê-los interiormente ao amor de Deus de todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força (cf. Mc 12, 30) e para que se amem uns aos outros, como Cristo os amou (cf. Jo 13, 34; 15, 12). Os seguidores de Cristo são santificados por Deus, não por suas obras, mas de acordo com o propósito e a graça daquele que os chamou e justificou no Senhor Jesus, tornando-os, pelo batismo da fé, verdadeiros filhos de Deus e participantes da natureza divina. Devem, pois, manter e aperfeiçoar na vida a santidade que lhes é dada por Deus. O apóstolo Paulo lhes recomenda que vivam como convém aos santos (Ef 5, 3): como escolhidos de Deus, santos e amados, vistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência (Cl 3, 12), trazendo os santos frutos do Espírito (cf. Gl 5, 22; Rm 6, 22). Como, porém, todos estamos sujeitos a muitas falhas (cf. Tg 3, 2) e precisamos a todo momento da misericórdia divina, devemos pedir diariamente que nos perdoe as nossas ofensas (Mt 6, 12). Fique bem claro que todos os fiéis, qualquer que seja sua posição na Igreja ou na sociedade, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. A santidade promove uma crescente humanização. Que todos pois se esforcem, na medida do dom de Cristo, para seguir seus passos, tornando-se conformes à sua imagem, obedecendo em tudo à vontade do Pai, consagrando-se de coração à glória de Deus e ao serviço do próximo. A história da Igreja mostra como a vida dos santos foi fecunda, manifestando abundantes frutos da santidade no povo de Deus”. Nota:125 GS 18b: “Em face da morte, o ser humano não sabe o que pensar. Contudo, a revelação divina leva a Igreja a sustentar que o ser humano foi feito por Deus para uma felicidade que ultrapassa todos os limites terrenos. A fé cristã ensina, além disso, que a morte, a que não se estaria sujeito não fosse o pecado, será vencida graças à misericórdia do Salvador, quando se recuperar a salvação perdida com o pecado. Deus chamou e chama o ser humano à união com ele e à comunhão com sua vida divina, perpétua e incorruptível. Cristo alcançou esta vitória, ressuscitando depois de ter sido morto, para libertar o gênero humano da morte. Baseada em sólidos argumentos, a fé oferece, a todos que se dispõem a refletir, uma resposta válida à ansiedade a respeito do futuro depois da morte. Confere, além disso, a possibilidade de estar em comunhão, em Cristo, com os irmãos que já morreram, alimentando a esperança de que já tenham alcançado, junto de Deus, a vida verdadeira”. GS 19a: “A expressão máxima da dignidade humana é a vocação à comunhão com Deus. Desde as suas origens o ser humano se entretinha com Deus. Existe, foi criado e vive, porque Deus o ama. Não viverá pois plenamente, segundo a verdade, se não reconhecer livremente esse amor e confiar no seu criador. Hoje em dia muitos são os que não levam em conta essa relação íntima e vital com Deus, ou até a rejeitam explicitamente. O ateísmo é um dos aspectos mais graves de nossa época, que precisa ser cuidadosamente analisado”. Nota:126

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64GS 32: “Primogênito entre muitos irmãos, depois da morte e da ressurreição, estabeleceu uma nova comunhão fraterna com os que o acolhem na fé e no amor, pelo dom do Espírito Santo. Seu corpo é a Igreja, em que todos se prestam serviço, sendo membros uns dos outros”. LG 3: “Veio o Filho, enviado pelo Pai que, através dele, nos escolheu desde antes da criação e nos predestinou à adoção filial, pois havia decidido nele ordenar tudo a si (cf. Ef 1, 4-5, 10). Cristo cumpriu a vontade do Pai, inaugurou na terra o reino dos céus, revelou-nos o seu mistério pessoal e realizou a redenção pela obediência. A Igreja, reino de Cristo, desde já misteriosamente presente no mundo, cresce pela força de Deus. Sua origem e desenvolvimento são simbolizados pelo sangue e pela água que jorraram do lado aberto de Jesus crucificado (cf. Jo 19, 34), como foi predito pela palavra do Senhor a respeito de sua morte na cruz: Levantado da terra, atrairei a mim todas as coisas (Jo 12, 32). Todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, em que se imola Cristo, nossa Páscoa (1Cor 5, 7), realiza-se a obra da redenção. Representa-se ao mesmo tempo, e se realiza, pelo sacramento do pão eucarístico, a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cf. 1Cor 10, 17). Todos os homens, aliás, são chamados a esta união com Cristo, que é a luz do mundo, de quem procedemos, por quem vivemos e para quem tendemos”. Nota:127 AA 2a: “A Igreja nasceu para estender o reinado de Cristo a toda parte, em vista da glória de Deus Pai e de virem a se tornar, todos os seres humanos, participantes efetivos da redenção salvadora contribuindo assim para que o mundo inteiro se volte para Cristo. Toda a atividade do corpo místico ordenada para esse fim merece o nome de apostolado. A Igreja o exerce de inúmeras formas, por intermédio de todos os seus membros. A vocação cristã é vocação ao apostolado. Assim como no corpo vivo nenhum membro fica inteiramente passivo, mas participa da vida e da ação de todo o corpo, no corpo de Cristo, a Igreja, o corpo inteiro cresce, através da rede de articulações, que são os membros (Ef 4, 16). Neste corpo a junção entre os membros e sua união é de tal natureza, que o membro que não contribui segundo sua capacidade para o crescimento do corpo não vale nada nem para si mesmo nem para a Igreja”. Nota:128 LG 33b: “O apostolado dos leigos é participação na missão salvadora da Igreja. Todos estão qualificados pelo Senhor ao exercício desse apostolado, através do batismo e da confirmação. A alma desse apostolado é a caridade para com Deus e para com os homens, alimentada e comunicada pelos sacramentos, especialmente pela eucaristia. Os leigos são especialmente chamados a tornar a Igreja presente e ativa nos lugares e nas circunstâncias onde somente por eles pode atuar o sal da terra. Através dos dons recebidos, todo leigo é, ao mesmo tempo, testemunha e instrumento da própria missão da Igreja, segundo a medida do dom de Cristo (Ef 4, 7)”. Nota:129 LG 44c: “A profissão dos conselhos evangélicos deve ser um sinal que estimule todos os membros da Igreja e os leve a cumprir prontamente as exigências da vocação cristã. O povo de Deus não tem, aqui na terra, morada permanente. Caminha para o reino. A vida religiosa, na medida em que liberta os seus seguidores das preocupações terrenas, proclama a presença, já neste mundo, dos bens celestiais para todos os fiéis, dá testemunho da vida nova e eterna, fruto da redenção de Cristo, prenuncia enfim a ressurreição futura e a glória celestial. A vida religiosa imita e representa para sempre na Igreja, de maneira mais direta, a forma de vida adotada pelo Filho de Deus, quando veio ao mundo, cumprindo a vontade do Pai e que ele mesmo propôs aos discípulos que o queriam seguir. Manifesta, de maneira toda especial, as supremas exigências do reino de Deus, que está acima de todas as coisas terrestres. Demonstra enfim, a todos os homens, a força superior do reino de Cristo e o poder infinito do Espírito Santo, que atua admiravelmente na Igreja.” Nota:130 cf. PO 12: “O sacramento da ordem associa os padres a Cristo sacerdote, como ministros da cabeça, para construir e edificar o seu corpo, a Igreja, como colaboradores da ordem episcopal. Já no batismo, como todos os fiéis, receberam o sinal e o dom desta graça imensa, que é a possibilidade de visar à perfeição, apesar das fraquezas humanas, conforme a palavra do Senhor: Sejam perfeitos como seu Pai celeste é perfeito (Mt 5, 48). Os sacerdotes devem buscar essa perfeição por uma razão especial, a saber, por terem se consagrado a Deus de um modo novo, na ordenação sacerdotal, como instrumentos vivos do Cristo, sacerdote eterno, prosseguindo no tempo sua obra admirável de reunir a humanidade, com a força do alto. Como representante de Cristo, o sacerdote recebe a graça de ir se aperfeiçoando no serviço da comunidade que lhe é confiada, e de todo o povo de Deus. Suas fraquezas, como homem, são sanadas por aquele que é pontífice santo, inocente, impoluto e isento de todo pecado (Hb 7, 26)”. Nota:131 cf. LG 32d: “Na Igreja, embora nem todos sigam pelo mesmo caminho, são todos chamados à santidade e herdeiros da mesma fé, segundo a justiça de Deus (cf. 2Pd 1,1). Todos são iguais em dignidade. A ação de todos os fiéis em vista da edificação do corpo de Cristo é comum a todos. No entanto, em benefício do conjunto, o próprio Cristo constitui alguns como doutores, pastores e dispensadores dos mistérios de Deus. A distinção estabelecida pelo Senhor entre os ministros sagrados e os outros membros do povo de Deus exige a união, pois, vincula uns aos outros, pastores e fiéis. Os pastores devem se colocar a serviço uns dos outros e dos fiéis, à imitação do Senhor. Os fiéis, por sua vez, devem colaborar alegremente com os pastores e doutores. Na própria diversidade, todos dão testemunho da admirável unidade do corpo de Cristo. A variedade das graças, dos ministérios e das atividades congrega os filhos de Deus na unidade, pois, “é sempre o mesmo e único Espírito que tudo opera” (1Cor 12,11). Cristo, Senhor de todas as coisas, veio para servir e não para ser servido (cf. Mt 20,28). Os leigos o têm pois como irmão, graças à misericórdia divina. São também irmãos dos que estão encarregados do ministério sagrado. É pela autoridade de Cristo que apascentam a família de Deus, ensinando, santificando e dirigindo-a, para que seja cumprido por todos o novo mandamento da caridade. Agostinho o diz com rara felicidade: “Assusta-me ser de vocês, consola-me estar com vocês. Sou de vocês como bispo, estou com vocês como cristão. Bispo é nome de função; cristão, o nome da graça. Um representa perigo, o outro, salvação”.

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65PO 9: “9. Em virtude do sacramento da ordem, os sacerdotes do Novo Testamento exercem no povo e para o povo de Deus, as funções importantíssimas e indispensáveis de pais e mestres. Antes disso, porém, juntamente com todos os fiéis, são discípulos do Senhor, constituídos participantes do seu reino pela graça da vocação divina. Os padres são irmãos entre irmãos, no meio de todos os que foram regenerados pelo batismo, membros do mesmo corpo de Cristo cuja edificação depende de todos. Os sacerdotes devem presidir buscando não o seu interesse, mas o de Jesus Cristo, unindo-se aos leigos no trabalho e vivendo no meio deles segundo o exemplo do Mestre, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida pela redenção de muitos (Mt 20, 28). Os padres devem reconhecer a dignidade dos leigos e deixá-los desempenhar o papel que lhes compete na missão da Igreja. Apóiem e prestigiem as justas liberdades, a que todos têm direito na sociedade civil. Escutem os leigos com atenção, acolhendo fraternalmente as suas considerações e lhes reconhecendo a experiência e a competência que têm, nos diversos setores da vida humana, para que possam todos juntos ser sensíveis aos sinais dos tempos. Com discernimento dos espíritos, para ver se são de Deus, saibam reconhecer, na fé, os diversos carismas dos leigos, tanto os mais altos, como os mais humildes, favorecendo a todos. Dentre os diversos dons de Deus, cuidem sobretudo dos inúmeros fiéis chamados a uma vida espiritual mais profunda. Confiem também aos leigos diversos encargos a serviço da Igreja, dando-lhes liberdade e deixando-lhes o espaço necessário para agir, de tal modo que se sintam livres inclusive para tomar iniciativas quando as julgam oportunas. Finalmente, no meio dos leigos, o papel dos padres é encaminhar todos para a união, na caridade, amando-se mutuamente com caridade e honrando uns aos outros (Rm 12,10). Compete-lhes por isso harmonizar os espíritos e fazer com que ninguém se sinta estranho na comunidade. Sejam promotores do bem comum em nome do bispo e defensores da verdade, para que nenhum fiel seja abalado por doutrinas vãs. Cuidem especialmente dos que se afastaram da prática sacramental, ou mesmo da fé, junto aos quais saibam desempenhar o papel do bom pastor. Atentos às recomendações a respeito do ecumenismo, não esqueçam os irmãos que não vivem em plena comunhão conosco. Pensem igualmente em todos que não reconhecem Cristo como Salvador. Os fiéis, por sua vez, sintam-se obrigados a acolher os seus padres com amor filial, como pastores e pais. Participem de suas preocupações e os auxiliem pela oração e pela ação, quanto possível, para que possam superar as dificuldades e cumprir cada vez melhor os seus deveres”. Nota:132 cf. OT 2: “Toda a comunidade, na medida em que se orienta para uma vida plenamente cristã, tem o dever de estimular as vocações. É de grande importância a contribuição da família e da paróquia. A primeira, quando animada pelo espírito de fé, de caridade e de piedade, torna-se uma espécie de pré-seminário. Também a paróquia, desde que os adolescentes participem da fecundidade de sua vida. Na escola e especialmente nas associações católicas, os professores e todos os que de alguma forma trabalham com a educação das crianças e dos jovens procurem criar condições para que os adolescentes percebam sua vocação divina e se disponham livremente a segui-la. Os sacerdotes todos demonstrem seu zelo apostólico, favorecendo as vocações e atraindo os adolescentes para o sacerdócio, através de uma vida humilde, ativa e alegre, marcada pela recíproca caridade sacerdotal e pela colaboração fraterna”. Nota:133 OT 2d: “O concílio recomenda, antes de tudo, os meios tradicionais de ação, na Igreja: oração, penitência e melhor instrução dos fiéis, na pregação, na catequese e através dos meios de comunicação social, mostrando a necessidade, a natureza e a importância da vocação sacerdotal. Além disso, ordena que a Obra das Vocações, de acordo com os documentos pontifícios a respeito, já constituída ou a ser criada nas dioceses, regiões e nações, coordene a ação pastoral em favor das vocações, lançando mão de todos os recursos oferecidos hoje pela psicologia e pela sociologia, de maneira metódica coerente e discreta, mas com toda a diligência possível. A obra das vocações seja magnânima. Transcenda os limites de cada diocese, família religiosa ou rito e vise às necessidades da Igreja universal, com o apoio especial daquelas regiões em que o Senhor convoca maior número de operários para a sua vinha”. cf. Mt 9,38: “Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita”. Lc 10,2: “E lhes dizia: A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita”. Nota:134 Puebla 882: “Devem-se fomentar as campanhas de oração, a fim de que o povo tome consciência das necessidades existentes. A vocação é a resposta de Deus providente à comunidade orante”. Nota:135 cf. GS 52b: “A família constitui o fundamento da sociedade. Nela se reúnem e colaboram diversas gerações, que crescem em sabedoria e aprendem a compatibilizar os direitos das pessoas, com as exigências da vida social. Todos os que têm influência nas comunidades e nos grupos sociais devem contribuir eficazmente para a promoção do matrimônio e da família. O poder civil deve considerar sagrada sua função de reconhecer a natureza própria da família, protegê-la e promovê-la, preservando a moralidade pública e favorecendo a prosperidade doméstica. Os fiéis, resgatando o tempo presente e distinguindo o que é eterno de suas formas mutáveis, sejam promotores diligentes dos bens do matrimônio e da família, tanto pelo testemunho de sua própria vida como pela ação, em conjunto com todos os homens de boa vontade. Vencendo as dificuldades, procurem prover às necessidades da família e obter-lhe todas as facilidades próprias do nosso tempo. Para a consecução desses

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66objetivos contribuem igualmente o senso cristão dos fiéis, a consciência moral dos homens e sua sabedoria, assim como a ciência daqueles que são versados nas disciplinas sagradas”. AA 11d: “A família recebeu a missão divina de ser a primeira célula vital da sociedade. Cumpre-a e se torna uma espécie de santuário doméstico da Igreja, quando a piedade de seus membros os reúne na oração comum e quando, reunida, insere-se na liturgia, pratica a hospitalidade, promove a justiça e se põe a serviço dos que passam necessidade. Entre as diversas obras de apostolado familiar podem-se citar: a adoção de crianças abandonadas, o acolhimento dos estrangeiros, o apoio ao trabalho de educação escolar, a assistência moral e material prestada a adolescentes, a colaboração na preparação dos noivos ao casamento e na catequese, o apoio material e moral aos casais e às famílias em necessidade, o cuidado dos mais idosos, não só vindo em socorro de suas necessidades, mas sobretudo encontrando maneiras de se sustentarem economicamente por si mesmos. Vivendo de acordo com o Evangelho, e praticando de maneira exemplar as exigências do matrimônio, as famílias cristãs dão ao mundo precioso testemunho de Cristo. Este testemunho, que é sempre válido, em toda parte, torna-se fundamental nas regiões recém-evangelizadas, em que a Igreja esteja começando a se implantar ou em que esteja passando por dificuldades especiais. Para melhor alcançar os objetivos de seu apostolado é conveniente que as famílias se agrupem em associações específicas”. Nota:136 LG 11b: “Os fiéis que procuram o sacramento da penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa que lhe fizeram. Ao mesmo tempo, reconciliam-se com a Igreja, que ofenderam ao pecar e que contribui para sua conversão pelo amor, pelo exemplo e pelas orações. Pela sagrada unção dos enfermos e pela oração dos sacerdotes, a Igreja inteira recomenda os doentes ao Senhor, para seu alívio e salvação (cf. Tg 5, 14). Exorta-os a se unirem livremente à paixão e à morte de Cristo (cf. Rm 8, 17; Cl 1, 24; 2Tm 2, 11-12; 1Pd 4, 13), dando assim sua contribuição para o bem do povo de Deus. Os fiéis marcados pelo sacramento da ordem são igualmente constituídos, em nome de Cristo, para conduzir a Igreja pela palavra e pela graça de Deus. Finalmente os fiéis se dão o sacramento do matrimônio, manifestação e participação da unidade e do amor fecundo entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5, 32). Ajudam-se mutuamente a se santificar na vida conjugal, no acolhimento e na educação dos filhos. Contam, por isso, com um dom específico e um lugar próprio ao seu estado de vida, no povo de Deus. A família procede dessa união. Nela nascem os novos membros da sociedade humana que, batizados, se tornarão filhos de Deus pela graça do Espírito Santo e perpetuarão o povo de Deus através dos séculos. A família é uma espécie de igreja doméstica. Os pais são os primeiros anunciadores da fé e devem cuidar da vocação própria de cada um dos filhos, especialmente da vocação sagrada”. AA 11b: “Os cônjuges cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé em relação a si mesmos, aos filhos e a todos os demais familiares. São eles os primeiros arautos e educadores da fé de seus próprios filhos, formando-os para a vida cristã por sua palavra e exemplo, ajudando-os na escolha prudente de sua vocação, especialmente da vocação sagrada que, uma vez identificada, precisa ser sustentada”. GE 3a: “Ao dar vida aos filhos, os pais assumem a obrigação de educá-los. Devem ser reconhecidos como primeiros e principais educadores. A função educativa dos pais é tão importante que, quando falta, dificilmente pode ser suprida. Os pais devem criar um ambiente familiar de amor e piedade para com Deus e para com os outros, favorável à educação integral, pessoal e social dos filhos. A família é a primeira escola das virtudes sociais, de que tanta necessidade têm as sociedades. Especialmente na família cristã, dotada das graças e deveres do sacramento do matrimônio, os filhos, de acordo com a fé recebida no batismo, devem ser iniciados desde os primeiros anos na percepção e no culto de Deus e aprender a amar o próximo. Fazem-se também, na família, as primeiras experiências da vida na sociedade e na Igreja. Por intermédio da família, enfim, os filhos são pouco a pouco introduzidos no convívio civil da sociedade e do povo de Deus. Que os pais se dêem pois conta da importância da família verdadeiramente cristã para a vida e para o crescimento do próprio povo de Deus”. Nota:137 GS 52a: “A família é a escola em que cada um aprende a se tornar humano. Para que possa atingir a plenitude de sua vida e de sua missão é preciso que haja entre os cônjuges uma comunhão de afeto e de maneiras de ver, assim como efetiva cooperação na educação dos filhos. A presença do pai é muito valiosa para a formação, mas o cuidado doméstico da mãe, especialmente com as crianças mais pequenas, deve ser sempre preservado, sem que se desconheçam as exigências da promoção da mulher. A educação dos filhos deve permitir que, quando maiores, sejam livres para seguirem uma vocação, inclusive a religiosa, ou eclesiástica, e de escolher seu estado de vida. Casando-se, têm direito de constituir a própria família em condições morais, sociais e econômicas favoráveis. Os pais ou tutores devem orientar os jovens na fundação de sua família com conselhos que sejam bem acolhidos, evitando, porém, toda coação direta ou indireta que os force ao casamento ou à escolha do cônjuge. AG 13b: “Onde quer que Deus proporcione ocasião para se falar do mistério de Cristo a todos os seres humanos, anuncie-se com confiança a constância a Deus vivo e a Jesus Cristo, por ele enviado para a salvação de todos. O Espírito Santo abrirá o coração dos não-cristãos para que acreditem no Senhor e livremente se convertam, acolham com sinceridade aquele que sendo "caminho, verdade e vida" (Jo 14, 6) satisfaz e até supera infinitamente todas as suas expectativas espirituais. Trata-se de uma conversão inicial, suficiente, porém, para que a pessoa se dê conta de que foi libertada do pecado e introduzida no mistério do amor de Deus, que a chama para um convívio pessoal consigo em Cristo. Com a graça de Deus, o neoconvertido inicia uma caminhada espiritual na fé. Participa desde o início do mistério da morte e da ressurreição de Cristo, que transforma o velho ser humano que ele era em um novo, a imagem do homem realizado em Cristo.

Essa transformação comporta uma progressiva mudança na maneira de sentir e de viver, com repercussão em sua relação com os outros, que vai evoluindo aos poucos durante o catecumenato. O Senhor em quem acreditamos é sinal de contradição, por isso o convertido experimenta quase sempre rupturas e separações, embora conheça também novas alegrias que Deus dá com generosidade”.

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67OT 2: “Toda a comunidade, na medida em que se orienta para uma vida plenamente cristã, tem o dever de estimular as vocações. É de grande importância a contribuição da família e da paróquia. A primeira, quando animada pelo espírito de fé, de caridade e de piedade, torna-se uma espécie de pré-seminário. Também a paróquia, desde que os adolescentes participem da fecundidade de sua vida. Na escola e especialmente nas associações católicas, os professores e todos os que de alguma forma trabalham com a educação das crianças e dos jovens procurem criar condições para que os adolescentes percebam sua vocação divina e se disponham livremente a segui-la. Os sacerdotes todos demonstrem seu zelo apostólico, favorecendo as vocações e atraindo os adolescentes para o sacerdócio, através de uma vida humilde, ativa e alegre, marcada pela recíproca caridade sacerdotal e pela colaboração fraterna.” LG 11b: “Os fiéis que procuram o sacramento da penitência obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa que lhe fizeram. Ao mesmo tempo, se reconciliam-se com a Igreja, que ofenderam ao pecar e que contribui para sua conversão pelo amor, pelo exemplo e pelas orações. Pela sagrada unção dos enfermos e pela oração dos sacerdotes, a Igreja inteira recomenda os doentes ao Senhor, para seu alívio e salvação (cf. Tg 5, 14). Exorta-os a se unirem livremente à paixão e à morte de Cristo (cf. Rm 8, 17; Cl 1, 24; 2Tm 2, 11-12; 1Pd 4, 13), dando assim sua contribuição para o bem do povo de Deus. Os fiéis marcados pelo sacramento da ordem são igualmente constituídos, em nome de Cristo, para conduzir a Igreja pela palavra e pela graça de Deus. Finalmente os fiéis se dão o sacramento do matrimônio, manifestação e participação da unidade e do amor fecundo entre Cristo e sua Igreja (cf. Ef 5, 32). Ajudam-se mutuamente a se santificar na vida conjugal, no acolhimento e na educação dos filhos. Contam, por isso, com um dom específico e um lugar próprio ao seu estado de vida, no povo de Deus. A família procede dessa união. Nela nascem os novos membros da sociedade humana que, batizados, se tornarão filhos de Deus pela graça do Espírito Santo e perpetuarão o povo de Deus através dos séculos. A família é uma espécie de igreja doméstica. Os pais são os primeiros anunciadores da fé e devem cuidar da vocação própria de cada um dos filhos, especialmente da vocação sagrada”. Nota:138 OT 2: “Toda a comunidade, na medida em que se orienta para uma vida plenamente cristã, tem o dever de estimular as vocações. É de grande importância a contribuição da família e da paróquia. A primeira, quando animada pelo espírito de fé, de caridade e de piedade, torna-se uma espécie de pré-seminário. Também a paróquia, desde que os adolescentes participem da fecundidade de sua vida. Na escola e especialmente nas associações católicas, os professores e todos os que de alguma forma trabalham com a educação das crianças e dos jovens procurem criar condições para que os adolescentes percebam sua vocação divina e se disponham livremente a segui-la. Os sacerdotes todos demonstrem seu zelo apostólico, favorecendo as vocações e atraindo os adolescentes para o sacerdócio, através de uma vida humilde, ativa e alegre, marcada pela recíproca caridade sacerdotal e pela colaboração fraterna. Os bispos devem animar, em todo o rebanho, a promoção das vocações, articulando os esforços e trabalhos de todos e ajudando paternalmente, sem medir sacrifícios, aqueles que se julguem chamados pelo Senhor. Essa atuação efetiva de todo o povo de Deus em favor das vocações corresponde à ação da Providência divina, que confere a graça e os dons necessários aos que são divinamente chamados a participar do sacerdócio hierárquico de Cristo, ao mesmo tempo que confia aos ministros legítimos da Igreja, a função de chamar e consagrar ao culto divino e ao serviço da Igreja com a marca do Espírito Santo, os candidatos a tão elevado ministério, acedendo a seu pedido, feito com reta intenção e plena liberdade, depois de lhes reconhecer a idoneidade. O concílio recomenda, antes de tudo, os meios tradicionais de ação, na Igreja: oração, penitência e melhor instrução dos fiéis, na pregação, na catequese e através dos meios de comunicação social, mostrando a necessidade, a natureza e a importância da vocação sacerdotal. Além disso, ordena que a Obra das Vocações, de acordo com os documentos pontifícios a respeito, já constituída ou a ser criada nas dioceses, regiões e nações, coordene a ação pastoral em favor das vocações, lançando mão de todos os recursos oferecidos hoje pela psicologia e pela sociologia, de maneira metódica coerente e discreta, mas com toda a diligência possível. A obra das vocações seja magnânima. Transcenda os limites de cada diocese, família religiosa ou rito e vise às necessidades da Igreja universal, com o apoio especial daquelas regiões em que o Senhor convoca maior número de operários para a sua vinha”. Nota:139 cf. Pronunciamentos do Papa no Brasil, 4,3; 27,9: “Meus votos e minhas preces são para que Brasília traduza cada vez mais na realidade o sonho de um grande santo. Que os jovens, prediletos de Dom Bosco, aqui cresçam com possibilidade de conhecer e viver o Evangelho. Que as famílias realizem o ideal da Sagrada Família de Nazaré. Que Brasília seja sempre uma cidade para as pessoas humanas: acolhedora, fraterna, serena. Que floresçam aqui belas comunidades cristãs. Que surjam, nestas famílias e nestas comunidades, belas e promissoras vocações sacerdotais e religiosas”. 27, 9. “Sei que vosso Estado é rico em vocações e, convosco, agradeço ao Senhor. Desejo que saibas sempre apreciar este dom, assumir estas vocações, ajudá-las a amadurecer no amor a Deus e na fidelidade incondicional à Igreja, para o bem de toda a comunidade. Deus abençoe vossas famílias, portadoras de belas tradições, centros de irradiação de valores cristãos e celeiros de nutridas vocações”. Nota:140 cf. João Paulo II Homilia em Porto Alegre, 4.7.1980, n. 4/22: “Quero, além disso, recomendar vivamente a catequese paroquial. A paróquia é o lugar em que a catequese pode desdobrar toda a sua riqueza. Nela, a escuta da palavra se associa à oração, à celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos, à comunhão fraterna e ao exercício da caridade. Nela, o mistério cristão é anunciado e vivido. Urge que cada paróquia se torne um lugar onde a catequese ocupa a maior das atenções e reencontre a própria vocação, que é a de ser

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68uma cada de família, fraterna e acolhedora, onde os batizados e os confirmados tomam consciência de ser Povo de Deus”. Nota:141 cf. Puebla 629: “Está comprovado que as pequenas comunidades, sobretudo as comunidades eclesiais de base criam maior inter-relacionamento pessoal, aceitação da Palavra de Deus, revisão de vida e reflexão sobre a realidade, à luz do Evangelho; nelas acentua-se o compromisso com a família, com o trabalho, o bairro e a comunidade local. Destacamos com alegria, como fato eclesial relevante e caracteristicamente nosso e como ‘esperança da Igreja’ (EN 58 ), a multiplicação das pequenas comunidades. Esta expressão eclesial nota-se mais na periferia das grandes cidades e no campo. Constituem elas ambiente propicio para o surgimento de novos serviços leigos. Nelas se tem difundido muito a catequese familiar e a educação dos adultos na fé, de forma mais adequada ao povo simples”. Nota:142 cf. Puebla 850, 867: “850. * Há uma consciência mais aguda do problema vocacional e maior clareza teológica sobre unidade e diversidade da vocação cristã. * Multiplicam-se com êxito cursos, encontros, jornadas e congressos. * Tudo isso se realizou, na maioria dos casos, mediante a colaboração entre o clero diocesano, os religiosos, as religiosas e os leigos, em conexão com a pastoral juvenil, os seminários e as casas de formação. * Ambientes efetivos de pastoral vocacional têm sido, em muitos países, os grupos juvenis apostólicos e as comunidades eclesiais de base. * Em muitos países existe, com fruto visível, o plano nacional e o diocesano de pastoral vocacional, de acordo com a iniciativa da Sagrada Congregação para a Educação Católica. * Houve nos últimos anos um sensível aumento de vocações ao sacerdócio e para a vida consagrada, embora ainda insuficientes para satisfazer às necessidades próprias e o compromisso missionário com outras Igrejas mais necessitadas. * Nota-se também entre os leigos, nos últimos anos, maior tomada de consciência de sua vocação específica. 867. Lugares privilegiados da pastoral vocacional são a Igreja particular, a paróquia, as comunidades de base, a família, os movimentos apostólicos, os grupos e movimentos de juventude, os centros educacionais, a catequese e as obras das vocações”. Nota:143 João Paulo II, aos bispos do CELAM, Rio de Janeiro, 12,60: “A pastoral vocacional deve merecer uma atenção especialíssima, como indiquei repetidamente aos bispos latino-americanos durante sua visita ad limina. As vocações ao sacerdócio hão de ser o sinal da maturidade das comunidades; e hão de manifestar-se também como conseqüência da floração dos ministérios confiados aos leigos e de uma oportuna pastoral familiar, que prepara para escutar a voz de Deus”. Nota:144 cf. PC 24: “Os sacerdotes e educadores cristãos se esforcem seriamente para aumentar as vocações religiosas bem escolhidas, em função das necessidades da Igreja. Fale-se com freqüência, inclusive na pregação ordinária, dos conselhos evangélicos e do estado religioso como proposta de vida. Os pais, ao educar religiosamente os filhos, despertem e cultivem em seus corações a vocação religiosa”. LG 47: “Cada um daqueles que foi chamado à profissão dos conselhos procure permanecer na vocação que recebeu de Deus, vivendo-a de maneira cada vez mais perfeita, em vista da santidade da Igreja e da maior glória da Trindade una e indivisa, que é fonte e origem de toda santidade, em Cristo e por Cristo”. Nota:145 cf. LG 12b: “Mas não é só pelos sacramentos e pelos ministérios que o Espírito Santo santifica, dirige e fortalece o povo de Deus. Distribuindo os seus dons a cada um, conforme quer (1Cor 12, 11), o Espírito Santo distribui graças especiais aos fiéis das mais variadas condições, tornando-os aptos e dispostos a assumir os trabalhos e funções úteis à renovação e ao maior desenvolvimento da Igreja, de acordo com o que está escrito: Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito, para utilidade de todos (1Cor 12, 7). Todos esses carismas, dos mais extraordinários aos mais simples e mais difundidos devem ser acolhidos com ação de graças e satisfação, pois correspondem às necessidades da Igreja e lhe são úteis. Não se deve porém cobiçar temerariamente os dons extraordinários nem esperar deles, com presunção, frutos significativos nos trabalhos apostólicos. A apreciação sobre os dons e seu exercício ordenado no seio da Igreja pertence aos que a presidem, que têm especial mandato de não abafar o Espírito, mas tudo provar e reter o que é bom (cf. 1Ts 5, 12.19-21)”. Nota:146 Gl 5,1: “Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, fiquem firmes e não se submetam de novo ao jugo da escravidão”. cf. PO 6b: “Como educadores na fé, os sacerdotes, pessoalmente ou por meio de outros, cuidem de cada fiel em particular, para que sigam sua vocação própria, segundo o Evangelho. Ensine-os a agir segundo o Espírito Santo, na caridade e na liberdade pela qual Cristo nos libertou. Pouco adiantam as belas cerimônias ou as associações cheias de vida, se não contribuem para o amadurecimento cristão das pessoas. Em vista desse objetivo, será de grande valia para os sacerdotes analisarem os acontecimentos, grandes e pequenos, em que se manifesta a vontade de Deus. Ensinem os fiéis a não viverem exclusivamente em função de si mesmos. Com as graças que recebeu, cada um deve-se colocar a serviço dos outros e cumprir cristãmente seus deveres na sociedade, de acordo com as exigências da caridade”. Nota:147 cf. LG 41: “Nas diversas profissões e formas de vida, a santidade é sempre a mesma. Todos são movidos pelo Espírito de Deus. Obedecendo à voz do Pai, adoram-no em espírito e verdade e seguem a Cristo pobre, humilde e portador de sua cruz, para merecer participar de sua glória. De acordo com seus próprios dons e capacidades, cada um deve marchar firmemente pelo caminho da fé viva, que desperta a esperança e atua por amor. Em primeiro lugar, vêm os pastores do rebanho de Cristo. Eles devem desempenhar o seu ministério santa e alegremente, humilde e corajosamente, a exemplo do sacerdote supremo e eterno, bispo e pastor de nossas almas. Dessa forma, também o ministério é para eles magnífico instrumento de santificação. Os que são

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69chamados à plenitude do sacerdócio recebem a graça sacramental para cumprir com perfeição o exercício da caridade pastoral orando, celebrando o sacrifício, pregando ou praticando qualquer outra forma de cura e de serviço episcopal. Não hesitem em dar sua vida por suas ovelhas e, como modelos do rebanho (cf. 1Pd 5, 3) façam crescer cada dia, pelo seu exemplo, a santidade da Igreja. Os sacerdotes imitem os bispos, dos quais são o complemento espiritual e de cuja função participam pela graça de Cristo, eterno e único mediador. No exercício cotidiano de sua função cresçam no amor a Deus e ao próximo. Observando os laços da comunhão sacerdotal, participem de todos os bens espirituais e dêem testemunho vivo de Deus, como tantos sacerdotes de todas as épocas, que deixaram exemplos de exímia santidade no exercício de um ministério humilde e abnegado. A Igreja os exalta. Orando e oferecendo o sacrifício por sua gente e pelo povo de Deus, conscientes do que fazem e imitando o que tratam, superam os perigos e as dificuldades dos trabalhos apostólicos, que se tornam, para eles, via de acesso a uma santidade cada vez maior. Alimentam sua ação com a abundância da contemplação, para o conforto de toda a Igreja de Deus. Em virtude de sua ordenação os sacerdotes, especialmente os diocesanos, tenham sempre presente o quanto contribui para sua santidade manterem-se fielmente unidos ao bispo, num espírito generoso de cooperação. Os ministros das ordens inferiores participam a seu modo da missão e da graça do sumo sacerdote. Em primeiro lugar, os diáconos. Sirvam os mistérios de Cristo e da Igreja conservando-se puros de todos os vícios, agradando a Deus e praticando o bem diante dos homens (cf. 1Tm 3, 8-10.12-13). Os clérigos, chamados pelo Senhor e considerados sua parte, preparem-se para as funções de ministros sob a vigilância dos pastores, procurem conformar suas mentes e seus corações às exigências de sua vocação. Sejam assíduos na oração, fervorosos no amor, pensando sempre no que é verdadeiro, justo e digno, tudo fazendo para a glória e honra de Deus. O mesmo vale para os leigos escolhidos por Deus e chamados pelo bispo para se dedicarem inteiramente aos trabalhos apostólicos e cultivar com frutos o campo do Senhor. Esposos e esposas, pais e mães cristãos, seguindo o caminho que lhes é próprio, sustentem-se reciprocamente com amor e fidelidade, aceitando amorosamente os filhos e educando-os na doutrina e nas virtudes cristãs. Dêem assim a todos exemplo de um amor incansável e generoso. Construam a fraternidade na caridade, como testemunhas e cooperadores da fecundidade da Igreja mãe, que Cristo amou como esposa e por quem se entregou. O mesmo exemplo é dado a seu modo pelas viúvas e pelos solteiros que podem contribuir grandemente para a santidade e para a atuação da Igreja. Todos devem se aperfeiçoar através do seu trabalho. Ajudem seus concidadãos e procurem promover o bem da sociedade e de toda a criação. Sigam assim a Cristo, que também trabalhou e atuou em vista da salvação de todos, sempre unido ao Pai. Imitem esse amor, alegrando-se na esperança e levando os fardos uns dos outros, sabendo que o seu trabalho os pode encaminhar para o cume da santidade, inclusive apostólica. Todos aqueles que são oprimidos pela pobreza, fraqueza, doença ou outras dificuldades saibam estar unidos especialmente a Cristo, que sofreu para a salvação do mundo. Unam-se também a ele os que sofrem perseguição por causa da justiça e que o Senhor proclama bem-aventurados no Evangelho. Depois de sofrerem um pouco, Deus, fonte de toda graça, que os chamou em Cristo Jesus para sua glória eterna, os restabelecerá, firmará e fortalecerá (1 Pd 5, 10). Numa palavra, todos os fiéis cristãos santificam-se cada dia em sua condição de vida, nas circunstâncias concretas em que vivem e no exercício de sua profissão, desde que tudo recebam fielmente das mãos do Pai celestial, cooperem com a vontade divina e manifestem, na prática da vida temporal o mesmo amor com que Deus amou o mundo”. GS 92b: “É preciso que comecemos por promover, dentro da própria Igreja, a estima recíproca, o respeito e a concórdia, reconhecendo-se toda diversidade legítima, para que se estabeleça um diálogo frutífero entre todos os que formam o único povo de Deus, tanto pastores, como fiéis. O que nos une é mais forte do que o que nos divide: haja unidade no que é necessário, liberdade onde há dúvida e, em tudo, caridade”. Nota:148 João Paulo II, aos bispos do CELAM, Rio de Janeiro, 12,60: “A pastoral vocacional deve merecer uma atenção especialíssima, como indiquei repetidamente aos bispos latino-americanos durante sua visita ad limina. As vocações ao sacerdócio hão de ser o sinal da maturidade das comunidades; e hão de manifestar-se também como conseqüência da floração dos ministérios confiados aos leigos e de uma oportuna pastoral familiar, que prepara para escutar a voz de Deus”.