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1 CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DE VIDROS Li 2 O.Nb 2 O 5 .SiO 2 PARCIALMENTE CRISTALIZADOS M. C. Crovace, L.A.Souza, A.C.M. Rodrigues Rod. Washington Luis, km 235 CP 676 São Carlos-SP [email protected] Laboratório de Materiais Vítreos-DEMa-Universidade Federal de São Carlos RESUMO A cristalização de vidros do sistema Li 2 O.Nb 2 O 5 .SiO 2 desperta interesse devido à possibilidade de se cristalizar a fase LiNbO 3 , material ferroelétrico com um conjunto único de propriedades, fazendo com que seja apropriado para diversas aplicações tecnológicas sobretudo em ótica não linear. O vidro 45Li 2 O-20Nb 2 O 5 - 35SiO 2 foi submetido a tratamentos térmicos duplos, i.e., uma etapa de nucleação seguida de outra de crescimento. Neste trabalho, variaram-se tempo e temperatura de nucleação, porém as condições para crescimento foram sempre as mesmas. Este tratamento levou a materiais com distintas frações cristalizadas (α), desde amostras com α< 1% até α 70% porém com pouca variação no tamanho dos cristais. A condutividade elétrica das amostras, medida por espectroscopia de impedância, tende a diminuir com o aumento da fração cristalizada. Uma análise mais acurada dos diagramas de impedância permite detectar a partir de qual fração cristalizada a presença dos cristais se torna dominante na condutividade elétrica das amostras parcialmente cristalizadas. Palavras-chave: vidros, cristalização, condutividade elétrica, espectroscopia de impedância 1. INTRODUÇÃO Composições de vidro do sistema Li 2 O-Nb 2 O 5 -SiO 2 são conhecidas em literatura e apresentam interesse científico e tecnológico devido à possibilidade de formação de cristais de LiNbO 3 durante sua cristalização. Por exemplo, sabe-se que 1

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    CONDUTIVIDADE ELÉTRICA DE VIDROS Li2O.Nb2O5.SiO2 PARCIALMENTE CRISTALIZADOS

    M. C. Crovace, L.A.Souza, A.C.M. Rodrigues

    Rod. Washington Luis, km 235 CP 676 São Carlos-SP

    [email protected]

    Laboratório de Materiais Vítreos-DEMa-Universidade Federal de São Carlos

    RESUMO

    A cristalização de vidros do sistema Li2O.Nb2O5.SiO2 desperta interesse

    devido à possibilidade de se cristalizar a fase LiNbO3, material ferroelétrico com um

    conjunto único de propriedades, fazendo com que seja apropriado para diversas

    aplicações tecnológicas sobretudo em ótica não linear. O vidro 45Li2O-20Nb2O5-

    35SiO2 foi submetido a tratamentos térmicos duplos, i.e., uma etapa de nucleação

    seguida de outra de crescimento. Neste trabalho, variaram-se tempo e temperatura

    de nucleação, porém as condições para crescimento foram sempre as mesmas. Este

    tratamento levou a materiais com distintas frações cristalizadas (α), desde amostras

    com α< 1% até α ≈ 70% porém com pouca variação no tamanho dos cristais. A

    condutividade elétrica das amostras, medida por espectroscopia de impedância,

    tende a diminuir com o aumento da fração cristalizada. Uma análise mais acurada

    dos diagramas de impedância permite detectar a partir de qual fração cristalizada a

    presença dos cristais se torna dominante na condutividade elétrica das amostras

    parcialmente cristalizadas.

    Palavras-chave: vidros, cristalização, condutividade elétrica, espectroscopia de

    impedância

    1. INTRODUÇÃO

    Composições de vidro do sistema Li2O-Nb2O5-SiO2 são conhecidas em

    literatura e apresentam interesse científico e tecnológico devido à possibilidade de

    formação de cristais de LiNbO3 durante sua cristalização. Por exemplo, sabe-se que

    1

  • 2

    vidros do sistema Li2O-Nb2O5-SiO2 podem apresentar cristalização de LiNbO3(1-5). É

    possível também, obter neste sistema, vitrocerâmicas transparentes(2,4,6) que

    poderiam ter aplicação como vidros ópticos, por exemplo, como dispositivos da

    óptica integrada e em óptica não-linear (2,4). Porém, dados sobre a cinética de

    cristalização neste sistema são raros, envolvem vidros contendo alumina(7,8); não

    existem estudos mais aprofundados que investiguem o mecanismo de cristalização

    destes vidros, ou o tipo de nucleação, se homogênea ou heterogênea.

    Alguns trabalhos apresentam resultados de condutividade iônica em vidros

    silicatos de nióbio e lítio(1). Vidros contendo nióbio e lítio apresentam elevada

    condutividade iônica, mesmo em presença de outros formadores vítreos, como por

    exemplo, P2O5, e por este motivo são bons candidatos a eletrólitos sólidos em

    baterias de lítio(9) .

    Por outro lado, apesar de várias composições desse sistema já terem sido

    estudadas(1-5), não se conhece ainda, as regiões de formabilidade de vidros em um

    diagrama ternário envolvendo Li2O, Nb2O5 e SiO2.

    Assim, este trabalho tem por objetivo, além de apresentar a região de

    formabilidade de vidros no diagrama ternário Li2O-Nb2O5-SiO2, discutir alguns

    resultados preliminares sobre a variação da condutividade elétrica do vidro 45Li2O-

    20Nb2O5-35SiO2 quando parcialmente cristalizado e em função da fração

    cristalizada, α .

    2. EXPERIMENTAL

    Síntese dos Vidros Os vidros do diagrama ternário foram preparados a partir de SiO2 (mineração

    Jundu), Nb2O5 (fornecido pela CBMM- Companhia Brasileira de Metalurgia e

    Mineração) e Li2CO3 (P.A. Synth). A fusão das composições obtidas para a

    determinação da região de formabilidade de vidros no ternário Li2O-SiO2-Nb2O5 foi

    realizada em forno elétrico a 1250°C/1h utilizando cadinho de platina. O líquido foi

    então vertido e resfriado através de “splat cooling” (o vidro é resfriado rapidamente

    entre duas placas de aço). O vidro de composição 45Li2O-20Nb2O5-35SiO2 foi

    preparado a partir dos mesmos reagentes químicos e fundido a 1250°C/2h.

    Tratamentos Térmicos

    2

  • 3

    As amostras parcialmente cristalizadas da composição em estudo foram

    obtidas a partir de tratamento térmico duplo, i.e, nucleação dos cristais seguida de

    posterior crescimento. Os tempos e temperaturas do tratamento foram estabelecidos

    baseando-se na curva de DSC do vidro (Figura 1), e em resultados de cinética de

    cristalização ainda não publicados(10,11). Deste modo, as amostras foram obtidas

    através de nucleação entre 535 e 595°C por diferentes tempos, seguido de um

    tratamento para crescimento a 650° C por 45 min. O controle de temperatura dos

    fornos garante uma estabilidade de ± 1 0C. Este tratamento térmico permite a

    obtenção de vitrocerâmicas com diferentes frações cristalizadas, mas com cristais

    com estreita distribuição de tamanhos, o que elimina a variável “fator de forma” na

    análise dos resultados.

    300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200

    Exo

    térm

    ico

    End

    otér

    mic

    o

    Flux

    o de

    Cal

    or (u

    .a.)

    Temperatura (°C)

    Figura 1: Curva DSC do vidro 45Li2O-20Nb2O5-35SiO2, mostrando Tg e Tc. Taxa de aquecimento: 10°C/min e amostra na forma de pó.

    Determinação das Frações Cristalizadas, α Após os tratamentos térmicos duplos, os vidros foram cortados, desbastados

    com SiC, polidos com CeO2 e atacados com solução aquosa de 0,8% HF e 0,2%

    HCl (% em volume) para revelar os cristais. Por microscopia ótica, foi possível

    calcular α (fração cristalizada) para este vidro. O princípio básico empregado é o de

    que a fração volumétrica de uma determinada fase é igual à fração em área sobre

    uma seção plana aleatória; e é também igual à fração linear em uma linha aleatória

    e à fração de pontos de uma fase particular projetada sobre a microestrutura. A

    eficiência de cada método, a precisão obtida com um número razoável de medidas e

    3

  • 4

    o tempo necessário, levou à escolha do método de Hilliard e Cahn ou método da

    rede quadriculada.

    Este método consiste na superposição de uma rede quadriculada sobre a

    microestrutura e pressupõe que a dispersão da fase a ser medida é aleatória e que o

    espaçamento entre os pontos da rede é maior do que o máximo comprimento do

    intercepto da fase medida. A fração volumétrica das fases, pelo método de Hilliard e

    Cahn é dada por:

    α=Pα/P (A)

    onde Pα é o número de intersecções de uma fase com os pontos da rede e P é o

    número total de pontos na rede. Todas as contagens foram realizadas em imagens

    retiradas através de um analisador de imagem (Sony – CCD – IRIS/ RGB) acoplado

    a microscópio ZEISS (Axioskop) e do software KS 200.

    Medidas de Condutividade Elétrica Após polimento das amostras, para eliminação da cristalização superficial,

    medidas de condutividade elétrica foram realizadas por espectroscopia de

    impedância, em um equipamento marca Solartron 126A, em freqüências de 1,3x107

    a 0,5 Hz.

    3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    A região de formação de vidros no sistema em estudo é apresentada na

    Figura 2. A atribuição de “totalmente cristalizado”, parcialmente cristalizado e “vidro”

    foi realizada após observação visual das amostras.

    0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0

    0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0 0,0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1,0

    SiO2

    Nb2O5Li2O

    vidro transparente parcialmente cristalizado totalmente cristalizado

    Figura 2: Região onde ocorre formação de vidro no diagrama ternário Li2O-Nb2O5-SiO2.

    4

  • 5

    A Figura 3 apresenta algumas imagens obtidas em microscópio óptico das

    amostras parcialmente cristalizadas, mostrando pouca variação no tamanho do

    cristal e distribuição homogênea dos mesmos.

    (a) (b)

    Figura 3: Micrografias do vidro 45Li2O-20Nb2O5-SiO2 tratado a: (a) 565°C/3h e (b) 585°C/18h, em ampliações diferentes.

    Os resultados do cálculo das frações cristalizadas de algumas amostras

    obtidas com os diferentes tratamentos térmicos estão na Tabela 1. Após os

    tratamentos de nucleação, as amostras foram submetidas a um tratamento para

    crescimento dos cristais a 650°C por 45 minutos.

    Tabela 1. Fração cristalizada do vidro 45Li2O-20Nb2O5-SiO2 tratado em diferentes temperaturas de nucleação.

    Tnucleação (oC) 535 545 565 585

    t nucleação (h)

    18 16

    16 14 2 3 5 10 8

    α (%) 79 43 46 31 1 2 3 0,95 0,5

    Medidas de impedância foram realizadas nas amostras tratadas a 535°C/16 e

    18h; 545°C/14 e 16h; 565°C/2, 3 e 5h; 585°C/8 e 10h e em uma amostra sem

    tratamento térmico. Os parâmetros geométricos (l/s, sendo l a espessura e s a área

    da amostra em contato com os eletrodos das amostras) foram medidos para

    determinar a condutividade elétrica da amostra. As temperaturas de medida

    variaram desde a temperatura ambiente até 165°C, a fim de se obter também a

    energia de ativação de condução. Desta forma, pode-se estudar as mudanças na

    condutividade elétrica do vidro em função da sua fração cristalizada.

    5

  • 6

    Os dados de impedância são apresentados em diagramas de Nyquist como

    mostra alguns exemplos da Figura 4.

    Nestes diagramas, o valor da resistência (R) da amostra é lido na intersecção,

    a baixa freqüência, do semicírculo com o eixo dos reais. Conhecendo-se o

    parâmetro geométrico da amostra, a condutividade pode ser calculada pela

    expressão:

    σ=1/R *L/S (B)

    (a) (b)

    (c) (d)

    Figura 4: Diagramas de Nyquist de amostras do vidro 45Li2O-20Nb2O5-SiO2: (a) sem tratamento, (b) Tn e tn=535°C/18h; (c) Tn e tn=545°C/16h e (d) Tn e tn=565°C/5h. Tc e tc=650°C/45 min. As medidas foram realizadas a temperatura ambiente.

    Para amostras com altas frações cristalizadas, quando as condutividades do

    cristal e do vidro são bastante distintas, esperava-se observar a presença de dois

    semicírculos nos diagramas de Nyquist. Segundo MacDonald(11), quando f1/f2 > 103

    (onde: f1= freqüência de relaxação da fase 1, f2= freqüência de relaxação da fase 2)

    os dados de impedância mostram dois semicírculos. A frequência de relaxação (f0) é

    a única que satisfaz a expressão:

    1=×× CRω

    sendo: ω=2πf0; R= resistência e C= capacitância

    6

  • 7

    Porém, o segundo semicírculo característico da fase cristalina não foi

    observado em nenhum dos casos estudados neste trabalho. Assim, o que se mediu

    foi a resistividade/condutividade total da amostra. Não foi possível separar a

    contribuição da fase cristalina daquela da fase vítrea.

    Com os valores de condutividade (total) obtidos, podemos construir as retas

    de Arrhenius (log σ x 103/T) para as amostras em questão, como mostra a Figura 5:

    2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6

    -7,5

    -7,0

    -6,5

    -6,0

    -5,5

    -5,0

    -4,5

    -4,0

    -3,5

    -3,0

    log

    σ (σ

    (Ω.c

    m)-1

    )

    1000/T (K-1)

    sem tratamento 535°C/18h 535°C/16h 545°C/16h 545°C/14h 565°C/2h 565°/3h 565°/5h 585°C8h 585°C/10h

    Figura 5: Retas de Arrhenius para o vidro silicato sem tratamento térmico, tratado a 535°C/16 e 18h; 545°C/14 e 16h; 565°C/2, 3 e 5h e a 585°C/8 e 10h.

    Conhecendo-se a fração cristalizada e a condutividade das amostras,

    podemos construir o gráfico da variação da condutividade com a fração cristalizada,

    para uma mesma temperatura (25°C) como na Figura 6.

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    -7,4

    -7,2

    -7,0

    -6,8

    -6,6

    -6,4

    -6,2

    log

    σ (σ

    (Ω.c

    m)-1

    )

    α (%)

    -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

    -6,65

    -6,60

    -6,55

    -6,50

    -6,45

    -6,40

    -6,35

    log(

    σ) (σ

    (Ω.c

    m)-1

    )

    α (%)

    (a) (b)

    7

  • 8

    Figura 6: Variação da condutividade elétrica com a fração cristalizada, a temperatura ambiente, para todas as amostras (a) e para as amostras com baixas frações cristalizadas (b). Os valores foram corrigidos para a temperatura ambiente. A Figura 6 mostra que a condutividade elétrica das amostras tende a diminuir com o aumento da fração cristalizada, com exceção de dois pontos. Este é um

    resultado esperado, já que o cristal é menos condutor que o vidro e introduz novas

    interfaces que podem atrapalhar a condução iônica no vidro. Novas medidas

    deverão ser realizadas para confirmar esta tendência.

    Já que não foi possível identificar dois semicírculos nos diagramas de

    Nyquist, decidimos investigar os ângulos de descentralização dos semicírculos

    obtidos, na tentativa de se detectar a presença da fase cristalizada.

    Um circuito RC ideal é representado, em diagrama de Nyquist por um

    semicírculo com o centro no eixo dos reais (eixo x). Quando “heterogeneidades”

    químicas na estrutura do material estão presentes, ocorre um “achatamento” do

    semicírculo, ou seja, o centro do semicírculo passa a ficar abaixo do eixo dos reais,

    possuindo um ângulo negativo em relação à origem, chamado ângulo de

    descentralização. Este ângulo de descentralização tem sua origem em

    heterogeneidades elétricas, oriundas de heterogeneidades químicas. Assim, a

    estrutura amorfa do vidro, pode ser descrita como sendo composta por uma

    infinidade de microheterogeneidades. O ângulo de descentralização de um vidro é

    tipicamente de -10 a -12°, como constatado no trabalho de Ravaine(10).

    Na Tabela 2, são apresentados os valores da energia de ativação (Ea) obtidos

    das retas de Arrhenius da Figura 4 e dos ângulos de descentralização dos

    semicírculos dos diagramas de Nyquist.

    Tabela 2: Valores de α, Ea (energia de ativação), do ângulo de descentralização (β) a 35oC, para amostras sem tratamento térmico (α=0,0) e parcialmente cristalizadas (mesmas amostras que apresentadas naTabela 1).

    α (%) 79 43 46 31 1 2 3 0,95 0,5 0,0

    Ea (eV) 0,61 0,56 0,58 0,52 0,51 0,524 0,60 0,60 0,60 0,53

    −β (ο) 24,1 22,1 24,4 23,1 16,69 21,96 16,17 15,0 17,85 14,2

    8

  • 9

    Percebe-se que a presença dos cristais e consequentemente o aumento da

    fração cristalizada tende a aumentar o ângulo de descentralização, como esperado.

    A amostra sem tratamento térmico é a que possui menor ângulo, próximo aos 12

    graus esperados. Observou-se-se também que, à medida que a temperatura

    aumenta, o ângulo de descentralização diminui, em módulo (resultados não

    apresentados na tabela, por problema de limite de espaço). Este comportamento já

    foi observado em outros materiais, como o apresentado nos trabalhos de Lanfredi(13)

    e de Niitsu(14)

    Comparando-se os ângulos entre as diferentes amostras em temperaturas

    próximas, concluímos que estes são maiores para amostras que possuem uma

    maior fração cristalizada e, portanto, os semicírculos dos diagramas de Nyquist

    possuem uma forma mais “achatada”, indicando a presença de cristais.

    Com os valores da energia de ativação, podemos construir o gráfico de Ea x α

    (Figura 7):

    0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,50,48

    0,50

    0,52

    0,54

    0,56

    0,58

    0,60

    E a (e

    V)

    α (%)0 20 40 60 80 100

    0,48

    0,

    0,

    0,

    0,

    0,

    0,

    0,

    50

    52

    54

    56

    58

    60

    62

    α (%)

    E a (e

    V)

    (a) (b)

    Figura 7: Variação da energia de ativação com a fração cristalizada: (a) todas as amostras e (b) amostras com baixas frações cristalizadas.

    Pode-se observar na Figura 7 que existe uma dispersão nos valores de

    energia de ativação para baixas frações cristalizadas. Esta mesma dispersão já foi

    observada nos valores de condutividade elétrica (Figura 6). No entanto, são

    necessários mais resultados para confirmar a tendência observada nas Figuras 6 e

    7.

    9

  • 10

    2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4

    3,5

    4,0

    4,5

    5,0

    5,5

    6,0

    6,5

    7,0

    7,5

    8,0

    sem tratamento α = 0 N = 565°C/5h α = 3% N = 545°C/14h α = 31% N = 535°C/18h α = 79%

    Como não foram observados dois semicírculos, chegamos a especular a

    possibilidade destes estarem presentes, formando um único semicírculo “achatado”,

    de maneira que o nosso software não possa separá-los. Desta forma, plotou-se

    também a frequência de relaxação flo

    g f 0

    (f 0

    (Hz)

    )

    1000/T (K-1)

    0 (única frequência que satisfaz a condição

    ω.R.C=1) em função da fração cristalizada para as amostras sem tratamento térmico

    e tratadas a 565°C/5h, 545°C/14h e 535°C/18h (Figura 8).

    Figura 8: Variação de f0 com a fração cristalizada, para as amostras sem tratamento

    térmico e tratadas a 565°C/5h, 545°C/14h e 535°C/18h.

    Caso os dois semicírculos pudessem ser separados, existiriam duas

    freqüências de relaxação, cada uma delas associada a uma das fases. Assim, a

    freqüência de relaxação mostrada na Figura 8, se supusermos a influência de duas

    fases, não corresponde a nenhuma das fases presentes na amostra, mas sim à

    soma das impedâncias das duas fases. Deste modo, deveríamos esperar uma

    irregularidade na variação de f0 com a temperatura. Porém, neste caso, o ajuste dos

    pontos da Figura 8, indica que, se as contribuições da fase cristalina e da fase

    amorfa podem ser separadas, estas devem possuir freqüências de relaxação

    próximas, ou a variação de uma predomina sobre a outra.

    Pode-se também observar na Figura 8 que para baixas frações cristalizadas,

    a freqüência de relaxação obtida é próxima ao do vidro sem tratamento térmico,

    enquanto que para altas frações cristalizadas, a freqüência de relaxação é diferente

    (inferior), indicando que, nestes casos, esta freqüência de relaxação pertence a

    outra fase, i.e., o cristal já predomina nos processos de condução iônica.

    10

  • 11

    4. CONCLUSÃO

    As medidas de impedância revelam que a condutividade elétrica tende a

    diminuir com a fração cristalizada das amostras. Não foi observada a presença de

    dois semicírculos nos diagramas de Nyquist, como o esperado. A presença da fase

    cristalina foi detectada devido à variação do ângulo de descentralização para

    amostras com diferentes frações cristalizadas. Não foi possível separar as

    contribuições do vidro e dos cristais na condutividade elétrica. Porém, percebe-se

    que a freqüência de relaxação das amostras com baixas frações cristalizadas é mais

    próxima da do vidro sem tratamento térmico do que aquelas das amostras com altas

    frações cristalizadas.

    5. REFERÊNCIAS [1] PRASAD, E., SAYER, M., VYAS, H. M.. Li+ conductivity in lithium niobate: silica

    glasses. J. Non-Cryst. Solids, v.40, p.119-134, 1980.

    [2] DING, Y., OSAKA, A., MIURA, Y., TORATANI, H., MATSUOKA, Y.. Second order

    optical nonlinearity of surface crystalized glass with lithium niobate. J. Appl. Phys.,

    v.77, n.1, p.2208-2210, 1995.

    [3] ZENG, H. C., TANAKA, K., HIRAO, K., SOGA, N., Crystallization and glass

    formation in 50Li2O.50Nb2O5 and 25Li2O.25Nb2O5.50SiO2. J. Non-Cryst. Solids,

    v.209, p.112-121, 1997.

    [4] DING, Y., MIURA, Y., NAKAOKA, S., NANBA, T.. Oriented surface crystallization

    of lithium niobate on glass and second harmonic generation. J. Non-Cryst. Solids,

    v.259, p.132-138, 1999.

    [5] GERTH, K., RÜSSEL, C., KEDING, R., SCHLEEVOIGT, P., DUNKEN, H..

    Oriented crystallisation of lithium niobate containing glass ceramic in an electric field

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    Chem., v.40, n.3, p.135-139, 1999.

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    by glass crystallization. Ceram. Int., v.23, p.55-60, 1997.

    [7] HU, YI, HUANG, C-L., Crystal growth kinetics of LiNbO3 crystals in Li2O-Nb2O5-

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    11

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    ABSTRACT

    Crystallization of glasses from the system Li2O.Nb2O5.SiO2 are of great interest due

    to the possibility of forming LiNbO3, which is a ferroelectric material with several

    interesting properties, that make this crystal suitable for numerous technological

    application, specially in non-linear optic. The 45Li2O-20Nb2O5-35SiO2 glass was

    submitted to double stage heat-treatment, i.e, a nucleation step followed by a crystal

    growth one. Time and temperature of heat treatment were varied while the growth

    conditions remained the same. This treatment leads to materials with different

    crystallized fraction (α) from α< 1% to α ≈ 70% , but with short distribution in crystal

    size. Electrical conductivity, measured by impedance spectroscopy, tend to vanishes

    as α increases. An accurate analysis of the impedance diagram allow us to

    determine from which crystallized fraction the crystals dominate the electrical

    conductivity of partially crystallized samples.

    Key-words: glass, crystallization, electrical conductivity, impedance spectroscopy

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