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CONDIÇÕES DE TRABALHO E RISCOS À SAÚDE DO TRABALHADOR NA FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE LIMPEZA - ESTUDO DE CASO Luana Marques Souza Farias (UFPB ) [email protected] Maria Betania Gama Santos (UFCG ) [email protected] Lenilson Olinto Rocha (UFPB ) [email protected] Nichelle Carolliny de Oliveira Costa (UFPB ) [email protected] Marina Nunes Goncalves Lira (UFPB ) [email protected] As empresas que fabricam produtos de limpeza, por possuírem grande número de substâncias e produtos finais presentes no ambiente, podem expor os trabalhadores a vários os tipos de agentes e riscos, e isto vir a provocar danos à saúde dos trrabalhadores ou até mesmo acidentes. Esta preocupação se justifica, pois a empresa necessita proporcionar um ambiente laboral saudável e seguro, sem que haja comprometimentos à integridade dos trabalhadores. Este estudo tem como objetivo, realizar uma apreciação dos riscos aos quais estão submetidos os trabalhadores de uma indústria de fabricação de produtos de limpeza, localizada na cidade de Campina Grande, PB. A metodologia aborda pesquisa bibliográfica, avaliação qualitativa, por meio da aplicação de check list, avaliação quantitativa através de medições referentes às variáveis de ruído, iluminância e térmicas, e aplicação do método GUT a fim de priorizar as ações nos riscos encontrados. Os resultados mostram que a empresa necessita adequar as instalações da empresa às normas regulamentadoras e estabelecer prioridades na implantação das medidas de mitigação dos riscos. Mediante os aspectos levantados sobre as condições de segurança do trabalho na fabricação de produtos de limpeza, concluiu-se que a empresa precisa de políticas de treinamentos e estímulos para que a segurança e saúde do trabalho façam parte das atividades rotineiras da organização. Palavras-chave: Segurança, Riscos Ambientais, Grau de risco, Produtos de Limpeza XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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CONDIÇÕES DE TRABALHO E RISCOS

À SAÚDE DO TRABALHADOR NA

FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE

LIMPEZA - ESTUDO DE CASO

Luana Marques Souza Farias (UFPB )

[email protected]

Maria Betania Gama Santos (UFCG )

[email protected]

Lenilson Olinto Rocha (UFPB )

[email protected]

Nichelle Carolliny de Oliveira Costa (UFPB )

[email protected]

Marina Nunes Goncalves Lira (UFPB )

[email protected]

As empresas que fabricam produtos de limpeza, por possuírem grande

número de substâncias e produtos finais presentes no ambiente, podem

expor os trabalhadores a vários os tipos de agentes e riscos, e isto vir a

provocar danos à saúde dos trrabalhadores ou até mesmo acidentes.

Esta preocupação se justifica, pois a empresa necessita proporcionar

um ambiente laboral saudável e seguro, sem que haja

comprometimentos à integridade dos trabalhadores. Este estudo tem

como objetivo, realizar uma apreciação dos riscos aos quais estão

submetidos os trabalhadores de uma indústria de fabricação de

produtos de limpeza, localizada na cidade de Campina Grande, PB. A

metodologia aborda pesquisa bibliográfica, avaliação qualitativa, por

meio da aplicação de check list, avaliação quantitativa através de

medições referentes às variáveis de ruído, iluminância e térmicas, e

aplicação do método GUT a fim de priorizar as ações nos riscos

encontrados. Os resultados mostram que a empresa necessita adequar

as instalações da empresa às normas regulamentadoras e estabelecer

prioridades na implantação das medidas de mitigação dos riscos.

Mediante os aspectos levantados sobre as condições de segurança do

trabalho na fabricação de produtos de limpeza, concluiu-se que a

empresa precisa de políticas de treinamentos e estímulos para que a

segurança e saúde do trabalho façam parte das atividades rotineiras

da organização.

Palavras-chave: Segurança, Riscos Ambientais, Grau de risco,

Produtos de Limpeza

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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1. Introdução

Em empresas de fabricação de produtos de limpeza, devido ao grande número de substâncias

e produtos finais que podem estar presentes no ambiente, são vários os tipos de agentes e

riscos que podem se encontrar e que podem vir a provocar danos à saúde dos trabalhadores ou

até mesmo acidentes.

Assim, a empresa que fabrica produtos químicos para limpeza necessita proporcionar um

ambiente laboral saudável e seguro, sem que haja comprometimentos à integridade dos

trabalhadores. Propor medidas de controle a estes riscos é uma forma de inserir a organização

num grupo mais competitivo e seguro, proporcionando uma maior garantia para seu

patrimônio físico, e integridade física, mental e social de seus funcionários.

O objetivo dessa pesquisa partiu da premissa de que os trabalhadores envolvidos no processo

de fabricação de produtos de limpeza estão em constante risco devido ao manuseio e

estocagem desses materiais para comercialização.

Desse modo, o objetivo geral deste estudo foi realizar uma apreciação dos principais riscos

ambientais, aos quais estão submetidos os trabalhadores de uma indústria de fabricação de

produtos de limpeza, localizada na cidade de Campina Grande - PB, a fim de se obter um

ambiente com melhores condições ocupacionais e segurança para os trabalhadores.

2. Riscos ambientais

Os Riscos Ambientais são classificados de acordo com a sua origem, ou seja, com o tipo de

agente potencialmente capaz de provocar danos à saúde do funcionário. Assim, a NR 9

considera como riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos

ambientes de trabalho, que em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo

de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. Esta norma não menciona

os riscos ergonômicos e de acidentes, porém a NR 5 ao tratar do Mapa de Riscos, estabelece a

inclusão dos referidos agentes.

O grupo dos riscos físicos é constituído por ruídos, temperaturas excessivas, vibrações,

pressões anormais, radiações, umidade, entre outros. O grupo dos riscos químicos é

constituído por agentes ou substâncias químicas. O grupo dos riscos biológicos é formado

pelos vírus, bactérias, entre outros parasitas. O grupo constituído pelos riscos ergonômicos é

aquele decorrente da organização e gestão do trabalho. O grupo dos riscos de acidentes se

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relaciona com a proteção das máquinas, o arranjo físico e a limpeza do ambiente de trabalho,

a sinalização, entre outros, os quais podem levar a acidentes de trabalho (SOARES, 2006).

Em se tratando de riscos físicos, para este estudo, serão abordados o ruído e a temperatura.

Conforme a NR 17 o nível de ruído aceitável para efeito de conforto, a fim de que as

condições ambientais de trabalho estejam adequadas será de até 65 dB (A).

Quanto à temperatura, de acordo com a ISO 7730 (2005) uma análise detalhada da influência

do ambiente na carga térmica a que está sujeito o indivíduo, requer o conhecimento de três

parâmetros ambientais básicos: temperatura do ar, umidade relativa do ar e velocidade do ar.

A NR 17 recomenda as seguintes condições de conforto com relação a estes parâmetros

térmicos:

- Índice de temperatura efetiva: entre 20ºC e 23ºC;

- Umidade relativa do ar: não inferior a 40%;

- Velocidade do ar: não superior a 0,75m/s.

Conforme a NR 9 os riscos químicos são considerados como substâncias, compostos ou

produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, ou que, pela natureza da

atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele

ou por ingestão.

Os riscos ergonômicos, por sua vez, são todos os fatores que podem afetar a integridade física

ou mental do trabalhador, proporcionando-lhe desconforto ou doença (FIOCRUZ, 2015).

Para avaliação da iluminação, agente pertencente a classe dos riscos de acidentes, devem ser

analisados os níveis mínimos de iluminamento, os quais estão disciplinados na NBR ISO

8995, que estabelecem os valores de iluminância médias mínimas em serviço para iluminação

artificial em interiores. De acordo com a NR 17, em todos os locais de trabalho a iluminação

deve ser adequada, natural ou artificial, conforme a natureza da atividade.

2.1. Matriz G.U.T. – gravidade, urgência, tendência

Segundo Ribeiro (2005), a técnica de GUT é uma matriz, cujo objetivo é orientar decisões

mais complexas, isto é decisões que envolvem muitas questões. Nesta matriz são

considerados os quesitos gravidade, urgência e tendência de cada problema, permitindo-se

que os riscos sejam apreciados por classe: Gravidade (G), avaliado de acordo com os

impactos causado nas pessoas e os efeitos que surgirão em longo prazo, caso o problema não

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seja resolvido; Urgência (U), é avaliada de acordo com o tempo que o trabalhador encontra-se

em exposição ao risco, de acordo com o ciclo ou a jornada de trabalho; e Tendência (T), que

avalia a gravidade do dano, lesão ou risco nas pessoas.

A priorização de riscos demonstra a atitude a ser tomada na prevenção, eliminação, ou

minimização do risco, de acordo com a sua prioridade. A escala é representada em um

formato que sugere que quanto maior o resultado, maior a prioridade: G x U x T =

PRIORIZAÇÃO. Para que se interpretem os riscos, a partir de cada classe representada, são

atribuídos critérios de níveis quantitativos e qualitativos, conforme segue no Quadro 1.

Quadro 1 - Pontuação atribuída a Matriz GUT

Fonte: Adaptado de Klassmann (2011)

3. Aspectos metodológicos

3.1. Ambiente de pesquisa

A Empresa em estudo possui como atividade a fabricação de produtos de limpeza e

polimento. Sendo fabricados os seguintes produtos: detergente, desinfetante, amaciante e

polidor de alumínio.

Fundada em 28 de Junho de 2004 na cidade de Campina Grande - PB, possui uma estrutura

organizacional dividida em gerente, um químico industrial e mais 4 (quatro) colaboradores,

totalizando 6 (seis) funcionários. Na Figura 1 pode-se observar o organograma da mesma:

Figura 1 - Organograma da Empresa Química

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Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

O processo produtivo passa por 6 (seis) setores seguindo o seguinte fluxo apresentado na

figura 2.

Figura 2 – Fluxograma com os setores da produção

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

3.2. Procedimentos técnicos

Para o cumprimento do objetivo dessa pesquisa, foram utilizados os aspectos metodológicos:

Identificação qualitativa de riscos mediante aplicação de folhas de verificação (check-list) nos

setores da empresa, nas quais foram abordados os aspectos: usabilidade e importância do uso

dos EPI’s, edificações, disposição de máquinas e equipamentos, ergonomia, proteção contra

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incêndios e sinalização de segurança. Foram realizadas observações in loco e in situ durante

algumas atividades realizadas, oportunidade em que puderam ser realizados registros

fotográficos de algumas situações de desconformidades com as normas regulamentadoras

referentes a: edificações (NR 8 e NR 18), disposição de máquinas e equipamentos (NR 12),

ergonomia (NR 17), sinalização de segurança (NR 26), proteção contra incêndio (NR 23 e

normas do batalhão de bombeiros militar da Paraíba).

Na avaliação quantitativa, as variáveis que compõem o ambiente térmico, temperatura

ambiente - Ta (°C), velocidade do ar (m/s) e umidade relativa - UR (%), foram coletadas

simultaneamente por meio do instrumento Psicrômetro Anemômetro portátil AN-4870 do

fabricante ICEL, e os níveis de iluminamento (lux) e de ruído (dB) foram coletados mediante

o uso de um Termo-Higro-Decibelímetro-Luxímetro portátil modelo THDL-400 fabricante

Instrutherm, cujas especificações técnicas estão ilustradas nos Quadros 2 e 3.

Quadro 2 - Especificações técnicas do Psicrômetro-anemômetro portátil NA-4870 fabricante ICEL

Escala Valores Resolução Exatidão

Temperatura (°C) 0 à 70 0,1

Umidade Relativa (%) 0 à 100 0,1

Velocidade do Ar (m/s) 0 à 35 0,1

Fonte: Dado obtido em um Psicrômetro Anemômetro portátil AN-4870

Quadro 3 - Especificações técnicas do Termo-Higro-Decibelímetro-Luxímetro THDL-400 fabricante

Instrutherm

Escala Valores Resolução Exatidão

Pressão sonora dB (A) 35-130 0,1

Luminosidade (Luz) 0-20000 0,1

Fonte: Dado obtido em um Termo-Higro-Decibelímetro-Luxímetro THDL-400

As medições de ruído foram realizadas com o sensor posicionado o mais próximo possível da

zona auditiva conforme a Norma Regulamentadora 15 (NR 15), que trata das atividades e

operações insalubres.

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As medições de níveis de iluminância nos campos de trabalhos foram realizadas

posicionando-se a base da fotocélula num plano horizontal dentro dos setores determinados,

obtendo-se os níveis de iluminância, em lux. Para a iluminação, a análise foi feita conforme a

NBR ISO 8995-1 (2013).

A avaliação dos parâmetros térmicos, temperatura ambiente (°C) e umidade relativa do ar (%)

foi realizada de acordo com a NR 17, que trata do estabelecimento de parâmetros que

permitem a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores. No local onde permanecia o trabalhador, o Psicrômetro-anemômetro portátil

foi posicionado próximo ao trabalhador com espera de 5 minutos para estabilizar a medição.

Os dados para avaliação quantitativa foram coletados em intervalos de 15 minutos, no período

da tarde das 15:00h às 17:00h, durante dois dias. Para as medições estabeleceram-se oito

pontos de medição, sendo quatro no setor de embalagem e quatro no setor de armazenagem e

calcularam-se as médias aritméticas dos valores coletados nos dois setores. Foram registrados

os valores máximos e mínimos de ruído, térmicos e de iluminação, e a partir da média

encontrada fez-se a comparação com o valor normatizado.

Após as identificações dos perigos, os riscos encontrados foram analisados, mediante a

construção da matriz GUT.

A revisão bibliográfica foi feita mediante consultas em livros, artigos de periódicos técnicos e

científicos, e sites relacionados ao tema abordado.

4. Análise e discussão dos resultados

4.1. Identificação do perfil de concepção quanto a usabilidade e importância de EPI

Foi possível identificar que são fornecidos gratuitamente pelo gestor da empresa os seguintes

EPI’s: luvas, óculos de segurança, máscaras e calçado de segurança. Contudo, nenhum dos 04

colaboradores que trabalham no processo produtivo dos produtos químicos recebeu

treinamento quanto ao uso específico destes equipamentos, uma vez que a utilização

inadequada pode originar danos efetivamente perigosos à saúde e a integridade do

trabalhador. Observou-se que no setor de embalagem existem placas de sinalização de uso

obrigatório da utilização dos EPI’s. Levando em consideração que no local os funcionários

manipulam os produtos químicos, há a necessidade de uso de luvas, máscaras, óculos de

proteção, e também de botas. Entretanto, observou-se que nenhum dos 04 colaboradores

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utilizava todos os equipamentos necessários: apenas 50% destes utilizavam botas e luvas, e os

50% restantes não utilizavam EPI’S.

4.2. Avaliação qualitativa

Os perigos foram identificados e gravados por meio de registros fotográficos, conforme estão

expostos na Tabela 1 juntamente com o detalhamento das situações de perigo.

Tabela 1 – Identificação dos perigos na empresa

Situações Analisadas Identificação Qualitativa dos Perigos

Foi possível observar que onde existe risco de

escorregamento está sendo utilizado material de proteção

contra quedas.

No entanto, as escadas não estão em bom estado de

conservação.

Existem instalações elétricas que possam eventualmente

ficar em contato com água, (no caso de eventuais

respingos) e há uso de acessórios que aumentem o

número de saídas de tomadas.

Os líquidos inflamáveis encontram-se próximos a

tomadas. Também não há no local, placas com os dizeres

“Não Fume” e “Inflamável”.

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Os assentos utilizados estão em desconformidade com a

NR 17, uma vez que não possuem altura ajustável, bem

como encosto com forma adequada ao corpo. Além

disso, observou-se a ausência da utilização de EPI’S e

que há levantamento manual e transporte de peso.

Os trabalhadores não possuem acesso às fichas com

dados de segurança dos produtos químicos que utilizam

no local de trabalho, bem como não recebem treinamento

para compreensão dos termos relativos aos produtos

químicos, apresentando desconformidade com o que

estabelece a NR 26.

Os equipamentos portáteis de combate à incêndio não

estão localizados em locais de fácil acesso, e não possui

área indicativa do equipamento, possuindo apenas

sinalização de solo, mas feita de forma errada.

Fonte: Elaborado pelos autores (2015)

4.3. Abordagem quantitativa de riscos ambientais

4.3.1. Ruído

De acordo com a NR 17 o nível de ruído ambiental aceitável para efeito de conforto é de até

65 dB. Tanto no setor de embalagem, quanto no de armazenagem, foi possível identificar que

os níveis de ruído encontram-se abaixo do limite de tolerância estabelecido pela norma,

conforme a Figura 3:

Figura 3 - Níveis de ruído nos setores de embalagem e armazenamento

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Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2015)

Portanto, não é necessária nenhuma intervenção de controle de ruído.

4.3.2. Iluminação

Na Figura 4 são apresentados os dados referentes à intensidade de iluminação nos setores de

embalagem e armazenagem.

Figura 4 - Níveis de iluminamento nos setores de embalagem e armazenamento

Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2015)

A iluminação do local é predominantemente de forma artificial (lâmpadas fluorescentes

tubulares), com pequena contribuição da iluminação natural ao longo do galpão através de

janelas basculantes.

Conforme as medições realizadas, o setor de embalagem foi o que apresentou mais baixo

nível de iluminamento com média de 41 LUX, quando o recomendado estaria em torno de

150 LUX. Já no setor de armazenamento a média foi de 68.2 LUX, com o recomendado pela

NBR 8995-2 estando em torno de 100 LUX.

Portanto, pode-se concluir que as condições de iluminamento são insuficientes para a garantia

de conforto e segurança durante a execução de atividade. Ou seja, o tipo de iluminação

utilizada no ambiente de trabalho deve estar relacionado ao tipo de atividade que é realizada.

Além de ser distribuída e difusa de maneira uniforme, a iluminação deve ser projetada e

instalada de forma a evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes

excessivos.

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4.3.3. Parâmetros térmicos

Na Figura 5 pode ser observada a temperatura ambiente encontrada nos setores de embalagem

e armazenagem:

Figura 5 - Temperatura ambiente nos setores de embalagem e armazenamento

Fonte: Dados obtidos da pesquisa (2015)

Em relação às condições térmicas observou-se que no setor de embalagem a média encontrada

foi de 30,4ºC e no setor de armazenagem foi de 30,3ºC. Portanto, nos dois setores estudados

há desconformidade com a NR 17, visto que a temperatura efetiva está entre 20 ºC e 23 ºC.

É necessário acrescentar, que devido à falta de equipamentos disponíveis para a medição da

temperatura efetiva, foi levada em consideração neste estudo, para efeito de comparação, a

temperatura efetiva como semelhante à temperatura ambiente.

Quanto à umidade relativa do ar na empresa, as medições de umidade nos setores

engarrafamento e armazenagem apresentaram uma média de, respectivamente, 45.23% e

46.56% de umidade relativa do ar. Portanto, está em conformidade com o que é sugerido pela

NR 17. Não necessitando, com isto. Nenhuma intervenção de controle.

O mesmo ocorre para a velocidade do ar, uma vez que as medições de velocidade do ar nos

setores engarrafamento e armazenagem apresentaram o valor de 0 m/s, estando assim em

conformidade com a norma.

4.4. Método GUT

Na Matriz GUT apresentada na Figura 6, é demonstrada a identificação, classificação e a

priorização dos riscos encontrados no ambiente de fabricação de produtos químicos.

Figura 6 - Matriz G.U.T. Preenchida pela interação conforme os riscos ambientais

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Fonte: Adaptada (KLASSMANN 2011)

Como é observado na Figura 6, é possível encontrar os quatro riscos ambientais descritos na

NR-9, sendo o risco de acidente o que demonstra as primeiras priorizações entre os riscos.

Como medidas mitigadoras desse tipo de risco, propõe-se:

- Quanto ao manuseio de substâncias químicas: Deverão ser realizados treinamentos

adequados para que haja qualificação dos funcionários para o trabalho com produtos

químicos, de forma a minimizar os riscos;

- Quanto à ausência de EPI’s adequados: Adoção de políticas de educação,

conscientização, fornecimento e cobrança do uso dos EPIs;

- Quanto aos líquidos inflamáveis: Estocagem dos materiais inflamáveis em áreas bem

ventiladas;

- Quanto à iluminação inadequada: Prover instalações adequadas das luminárias

observando a intensidade, posicionamento, distribuição e altura;

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- Quanto às tomadas próximas a líquidos e com acessórios: Instalação de barreira às

tomadas quando não em uso, e a revisão de projeto elétrico;

- Quanto à falta de organização e limpeza: Manter a organização e limpeza no setor de

preparação de líquidos.

Na sequência da priorização encontrada na matriz GUT estão os riscos químicos. Para o

controle deste risco, deve-se evitar o contato com substâncias corrosivas e a inalação de

substâncias químicas. E fazer uso de máscaras, luvas, óculos e calçados de segurança nos

setores de embalagem e preparação de líquidos.

Quanto aos riscos ergonômicos, propõe-se como medida mitigadora à postura inadequada, a

utilização de assentos confortáveis e de altura ajustável à estatura do trabalhador, evitando

esforços lombares desnecessários. Sugere-se também evitar o levantamento manual e

transporte de pesos.

Por fim, para controle do risco físico encontrado recomenda-se que seja implantado um

sistema de ventilação artificial diluidora nos ambientes de trabalho.

5. Considerações finais

Na empresa estudada ainda não é dada a devida atenção às questões de higiene, saúde e

segurança do trabalho. Ainda não há políticas de treinamentos e estímulos para que a segurança e

saúde do trabalho façam parte das atividades rotineiras da organização.

Na avaliação qualitativa, se constatou a necessidade de mais atenção por parte dos gestores da

empresa, em adequar às instalações da empresa, às normas regulamentadoras.

Na avaliação quantitativa, o agente ambiental mais agressivo para os funcionários, foi a

temperatura, assumindo valores acima do nível de conforto, que deveria ser de 20ºC a 23ºC.

A partir do método de avaliação GUT, assumiu-se que os riscos de acidentes são os que

apresentam prioridade. Em seguida, apresentam-se os riscos: químicos, ergonômicos e físicos;

os quais estão presentes em sua maioria no setor de embalagem.

Portanto, os resultados encontrados possibilitam juntar informações sobre as questões de

saúde e segurança do trabalho, na empresa, fazendo com que em estudos futuros, esta possa

vir a implementar um plano de ação, utilizando os dados obtidos, que satisfaça suas

necessidades quanto às questões de higiene, saúde e segurança do trabalho.

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Referências

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