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2018 Ana Cristina Mendonça Processo Penal Organizadores Frederico Amado | Lucas Pavione Coleção Resumos para Concursos 13 3 ª edição revista atualizada Resumos p conc v13 -Mendonca -Proc Penal-3ed.indd 3 21/06/2018 17:01:14

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2018

Ana Cristina Mendonça

Processo Penal

Organizadores Frederico Amado | Lucas Pavione

Coleção

Resumos para

Concursos 13

3ª edição

revistaatualizada

Resumos p conc v13 -Mendonca -Proc Penal-3ed.indd 3 21/06/2018 17:01:14

capítulo

1DA APLICAÇÃO

DA LEI PROCESSUAL PENAL

� Leia a Lei:

� Arts. 1º e 2º, do CPP e arts. 1º, 2º e 6º do Decreto-Lei 4.657/42� Arts. 27, § 1º, 52, I e II, e 53 da CRFB

Conforme estabelecem os arts. 1º e 2º do Código de Processo Pe-nal, a aplicação da norma processual penal deve ser analisada sob os aspectos espacial e temporal norma processual penal. De acordo com o art. 1º do CPP, a lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais praticadas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional, apresentando os incisos I a V daquele mesmo artigo as exceções à aplicabilidade do CPP.

Três são os aspectos observados quando da aplicação das normas processuais penais. São eles:

APLICAÇÃO DA NORMA PROCESSUAL PENAL

• Aplicação da norma processual penal NO TEMPO

• Aplicação da norma processual penal NO ESPAÇO

• Aplicação da norma processual penal QUANTO ÀS PESSOAS

1. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

De acordo com o art. 1º do CPP, a lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais praticadas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional,

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apresentando os incisos I a V daquele mesmo artigo as exceções à aplicabilidade do CPP.

Podemos, portanto, afirmar, que no Processo Penal brasileiro vigora o princípio da territorialidade, segundo o qual se impõe a aplicação da lex fori ou locus regit actum, aplicando-se a lei processual penal nacional aos processos criminais em curso no território nacional.

Contudo, devemos considerar excepcionados, em especial, os proces-sos por crimes militares, aos quais se aplica o Código de Processo Penal Militar e apenas subsidiariamente o CPP, e os processos por crimes de responsabilidade do Presidente da República, bem como dos Ministros de Estado e dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, do Procurador-Geral da República e do Advogado-Geral da União.

Quanto aos tratados, convenções e regras de direito internacional, são os mesmos fonte para interpretação do direito processo penal, desde que compatíveis com as garantias constitucionais brasileiras. É certo que em alguns casos, excepciona-se a aplicação das normas processu-ais penais internas em nome das regras de direito internacional, como ocorre no caso do Tribunal Penal Internacional, instituído pelo Estatuto de Roma, mas deve-se ressaltar que tais normas somente prevalecem quando em conformidade com as garantias antes citadas.

� POSIÇÃO DO STF

"No sistema jurídico brasileiro, os tratados ou convenções internacionais estão hierarquicamente subordinados à autoridade normativa da Constituição da Re-pública. Em consequência, nenhum valor jurídico terão os tratados internacio-nais, que, incorporados ao sistema de direito positivo interno, transgredirem, formal ou materialmente, o texto da Carta Política. O exercício do treaty-making power, pelo Estado brasileiro – não obstante o polêmico art. 46 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (ainda em curso de tramitação perante o Congresso Nacional) –, está sujeito à necessária observância das limitações jurídicas impostas pelo texto constitucional." (Passagem do julgamento da ADI 1480 MC, 04/09/1997, DJ 18-05-2001)

O art. 1º do CPP menciona ainda, como exceção, os processos da competência do tribunal especial e os processos por crimes de imprensa, contudo, os incisos IV e V do CPP não são mais aplicáveis, pois a Cons-tituição de 1988 não contempla o Tribunal Especial, que, em verdade, se tratava do Tribunal de Segurança Nacional, extinto pela Constituição

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19Cap. 1 • DA APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

de 1946. Da mesma forma, a Lei de Imprensa não é mais aplicável, em face de decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal na arguição de descumprimento de preceito fundamental no 130, que entendeu não recepcionada a Lei 5.250/67.

Vale ressaltar que, atualmente, os crimes contra a segurança nacio-nal estão definidos na Lei nº 7.170/1983, e, apesar do que dispõe o art. 30 desta lei, a competência para o processo e julgamento dos referidos crimes é da Justiça Federal (art. 109, inc. IV, da CRFB/88), a estes se aplicando as normas processuais penais e constitucionais vigentes.

Assim, salvo nas exceções acima indicadas, ou quando a legislação penal extravagante não dispuser de forma diversa, o Código de Pro-cesso Penal aplica-se aos processos criminais que tramitam no país, normalmente decorrentes de crimes aqui também praticados. Para o Direito Penal, considera-se praticado em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo resultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (art. 6.º do CP), lembrando que, para tais fins, incluem-se, como extensão do território nacional, as embarcações e aeronaves públicas ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem, e as embarcações e aeronaves particulares que se acha-rem em espaço aéreo ou marítimo brasileiro ou em alto-mar ou espaço aéreo correspondente.

2. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPOConforme dispõe o art. 2º do CPP, a norma processual penal tem

aplicação imediata, sem efeito retroativo e, portanto, sem prejuízo dos atos praticados sob a vigência da norma anterior.

Trata-se de disposição genérica, atinente a todos os ramos do Direi-to Processual e decorrente da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), nos artigos 1.º, 2.º e 6.º

Como antes mencionado, vigora o princípio tempus regit actum.

� POSIÇÃO DO STF

"1. A lei processual possui aplicabilidade imediata, nos termos do art. 2º do CPP (“Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”). 2. A Lei 11.689/08 é aplicada aos processos futuros e também aos processos em curso, ainda que estes tenham como objeto fato criminoso anterior ao início da vigência da própria Lei 11.689/09 (...). A nova norma processual tem aplicação imediata, preservando-se os atos praticados ao tempo da lei anterior (tempus regit actum)." (Passagem do julgamento do RHC 115563, de 11/03/2014, DJe-062 27-03-2014)

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capítulo

2PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS

� Leia a Lei:

� Arts. 5º, XXXVII, LIII, LV, LIV, LX, 93, IX, 129, I CRFB/88 e arts. 156, 386, VII, 399,§ 2º, do CPP

Os princípios são os alicerces da ciência jurídica, podendo estar ou não expressos no ordenamento jurídico. São diretrizes a serem seguidas tanto pelo legislador como pelo operador do direito.

Como todos os ramos do Direito, o processo penal possui uma base fundamental principiológica, que ganha especial destaque pela coinci-dência de muitos desses princípios com aqueles elevados à condição de garantias constitucionais individuais fundamentais.

1. INÉRCIA(NE PROCEDAT IUDEX EX OFFICIO)(ART.129,I,CRFB/88)

Como sabemos, a jurisdição é inerte, de forma a garantir a impar-cialidade do órgão julgador.

A inércia decorre do sistema acusatório, que foi opção clara do le-gislador constituinte que, no art. 129, inciso I da Constituição, entregou ao Ministério Público a privatividade da ação penal pública.

Caracterizam um sistema acusatório um processo triangular no qual as três funções processuais são entregues a entes distintos da relação jurídica, prevalecendo a inércia e a imparcialidade do juiz e o contraditório e ampla defesa, consequência de um processo dialético, que busca garantir a igualdade entre as partes.

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Assim, o princípio da inércia ou da demanda impede que o juiz instaure o processo por iniciativa própria, exigindo-se a provocação jurisdicional por parte do titular do direito alegado, que no Brasil é, via de regra, o Estado, que se faz presente através do Ministério Público.

Num processo acusatório, acusação, defesa e julgamento estão nas mãos de órgãos distintos, em contraposição ao sistema inquisitivo ou inquisitório, no qual as funções de acusar, defender e julgar são reali-zadas pelo mesmo órgão.

Contudo, apesar das inúmeras críticas, é certo que o nosso sistema processual penal não se caracteriza como um acusatório puro uma vez que se verificam inúmeros vestígios inquisitivos no nosso ordenamento jurídico mesmo após a Constituição de 1988. Por tal motivo, muitos autores referem-se ao sistema processual penal brasileiro como acu-satório misto.

2. FAVOR REI OU FAVOR LIBERTATIS

É muito comum que textos sobre Processo Penal indiquem que os princípios do favor rei ou favor libertatis e o do in dubio pro reo sejam sinônimos.

No entanto, favor rei é um princípio gênero do qual a espécie mais conhecida, cujo conceito mais se aproxima do gênero, consiste no princípio do in dubio pro reo.

Para especificar o que seria o favor rei ou favor libertatis, precisamos nos lembrar que em oposição ao direito concreto de punir do Estado está o direito à liberdade de cada um de nós, inclusive do infrator. O Pro-cesso Penal surge na tentativa de dirimir este conflito: direito de punir versus direito à liberdade. Problema existe quando surge qualquer tipo de dúvida na solução deste conflito, dúvidas estas que podem ocorrer em momentos diversos: na análise de uma nova norma, na solução de um conflito de duas ou mais normas, na análise de um recurso ou ainda na hora do juiz utilizar do seu convencimento para proferir sentença, dentre outros. Decorrem do favor rei os princípios do in dubio pro reo, da proibição da reformatio in pejus, da extensibilidade das decisões benéficas, o princípio da reserva legal, a irretroatividade da norma penal, a impossibilidade de analogia in malam partem, a impossibilidade de revisão criminal pro societate, etc.

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capítulo

3INQUÉRITO POLICIAL

� Leia a Lei:

� Arts. 4º e ss. do CPP e art. 144 da CRFB/88

Muitos são os aspectos relevantes acerca do inquérito policial, tema recorrente nos diversos concursos do país, independentemente da banca examinadora. Contudo, são temas mais cobrados aqueles indicados no quadro abaixo.

Inquérito Policial

Natureza Jurídica e conceito de Inquérito Policial

Finalidade e objeto

Destinatários do Inquérito Policial

Características do Inquérito Policial

Formas de instauração do Inquérito Policial

Indiciamento e garantias do indiciado

Prazo, arquivamento e desarquivamento do Inquérito

1. FUNÇÕESDOESTADOEAATIVIDADEDEINVESTIGAÇÃO

Como visto anteriormente, o processo penal brasileiro adota um modelo acusatório, no qual as três funções processuais estão entregues a entes distintos dentro da relação jurídico-processual (juiz, autor e réu), preservando-se a imparcialidade do julgador e garantindo-se a igualdade de partes.

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Contudo, quando da prática de uma infração penal, a sociedade é surpreendida pelo fato crime, sendo certo que naquele momento so-mente uma única pessoa conhece todos os passos dados para a prática da infração penal: o próprio agente delituoso.

Podemos assim dizer que o mesmo se encontra em clara situação de vantagem em relação a toda a sociedade, havendo, na grande maio-ria dos casos, necessidade de um procedimento investigativo prévio, que tem por objetivo equiparar condições, viabilizando para o “Estado Sociedade” até mesmo a narrativa fática necessária ao início de um processo no modelo acusatório.

Surge então a necessidade de um procedimento de investigação criminal, que, embora dispensável, já que as “provas” podem surgir através de meios diversos, é, na maioria das vezes, necessário. Contudo, de forma a preservar a imparcialidade do órgão julgador, no modelo de tripartição de funções do Estado, não poderia tal atividade ficar a cargo do Poder Judiciário. Assim, tal procedimento de investigação enquadra-se dentre as funções administrativas do Estado, e é entregue, geralmente, aos órgãos de polícia judiciária.

2. PERSECUTIOCRIMINISEPOLÍCIAJUDICIÁRIA

Os atos de investigação criminal incluem toda e qualquer atividade pré-processual que tenha por objetivo apurar a materialidade e a autoria do delito, visando à preparação da ação penal. Configuram, portanto, um procedimento preparatório que, no modelo acusatório utilizado pelo orde-namento jurídico brasileiro, não integra a fase processual propriamente dita.

Não se pode, entretanto, confundir investigação criminal e perse-cução criminal.

A persecução penal ou persecutio criminis caracteriza-se por toda e qualquer atividade que tenha por objetivo elucidar um fato criminoso (perseguição do crime e de todas as suas circunstâncias), e possui duas fases distintas: a investigação criminal e a ação penal.

Assim, essa atividade de persecução penal normalmente tem início com a investigação criminal, mas não se esgota nela, pois a ação penal e os atos dela decorrentes, dentre os quais se destaca a instrução cri-minal – fase de colheita de provas durante o processo –, também se demonstra como uma sequência de atos que buscam o esclarecimento da materialidade do crime, sua autoria e demais circunstâncias.

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45Cap. 3 • INQUÉRITO POLICIAL

Entre os possíveis mecanismos de investigação criminal, destaca--se o inquérito policial, já que a atividade investigativa é normalmente entregue aos órgãos de polícia judiciária.

Ao tratar do inquérito policial, dispõe o art. 4º do CPP, que “a polí-cia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria”.

Repare que o dispositivo legal menciona: “A polícia judiciária será exercida...”, o que demonstra claramente ser a polícia judiciária uma atividade, e não uma instituição ou órgão estatal.

Realmente, a investigação criminal é, em regra, uma atividade desempenhada pela polícia. Ocorre que os diversos órgãos policiais, todos vinculados ao Poder Executivo, são classificados, de acordo com suas atribuições ou competências, em órgãos de Polícia Administrativa e órgãos de Polícia Judiciária.

A atividade de Polícia Administrativa ou Polícia Ostensiva está a cargo, em regra, da Polícia Militar (muito embora não estejam excluídas as Po-lícias Rodoviária, Ferroviária etc., cada qual dentro de suas atribuições) e tem por finalidade realizar o policiamento ostensivo ou policiamento de segurança, isto é, trata-se de uma atividade preventiva, de garantia da ordem social, evitando-se, dentre outras coisas, a atividade criminosa.

A atividade de Polícia Judiciária está a cargo das Polícias Federal e Civil, e se caracteriza como a atividade “pós-crime”. Ou seja, nem sem-pre o policiamento de segurança é suficiente para se evitar a prática de condutas delituosas. Quando o crime ocorre, entra em ação o policia-mento de investigação. Esta atividade investigativa da polícia é chamada atividade de polícia judiciária. É, na verdade, a atividade desenvolvida durante o Inquérito Policial, presidido, no âmbito federal, pelo Delegado de Polícia Federal e, no âmbito estadual, pelo Delegado de Polícia Civil.

Vejam que os §§ 1º e 4º do art. 144 da CRFB/88 dispõem que a po-lícia federal se destina, dentre outros, a exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União; e que às polícias civis incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

Assim, a atividade de polícia judiciária é a atividade de investiga-ção criminal realizada pela Polícia Federal e pela Polícia Civil, que se utilizam, para tanto, do inquérito policial.

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O inquérito policial, numa definição clássica, é o conjunto de dili-gências investigatórias realizadas pela polícia judiciária, com o objetivo de apurar o fato criminoso e todas as suas circunstâncias, incluindo-se autoria e materialidade, de forma a viabilizar o exercício da ação penal.

Daí, podemos dizer que a atividade de polícia judiciária é uma ati-vidade persecutio criminis, ou seja, de perseguição do crime, mas não se pode dizer que a persecução penal é atividade de polícia judiciária. A persecução penal ou criminal é mais ampla que a polícia judiciária, pois inclui, como antes mencionado, a atividade desenvolvida em de-corrência do exercício da ação penal.

2.1. Outros mecanismos de investigação

Como indicado, no processo penal brasileiro a investigação criminal é, em regra, realizada pela polícia civil ou federal, responsável pela atividade de polícia judiciária, que se concretiza no inquérito policial. Trata-se de uma polícia de investigação, diferentemente da polícia militar que exerce, em regra, um policiamento ostensivo, fardado, e, por isso mesmo, preventivo.

Contudo, é o próprio texto da Constituição Federal que demonstra a existência de outros mecanismos de investigação, realizados por órgãos distintos àqueles de polícia judiciária.

Dentre as várias formas de investigação criminal previstas no pró-prio texto constitucional, destacam-se:

a) CPI’s (Comissões Parlamentares de Inquérito): A Câmara dos Deputados e o Senado Federal podem presidir a realização de inquéritos parlamentares que, uma vez concluídos, serão reme-tidos ao MP para que este ofereça a denúncia. As CPIs também investigam crimes. Os inquéritos parlamentares são analisados em ordem de urgência e são analisados antes dos inquéritos poli-ciais. Gozam, portanto, de preferência (art. 58, § 3º, da CRFB/88).

b) Infrações Militares: Muito embora a polícia militar não seja uma polícia de investigação, é a própria Constituição Federal que acaba por lhe atribuir a investigação dos crimes de natu-reza militar praticados por policial militar ou bombeiro militar, no momento em que o § 4º do art. 144, exclui da atribuição da polícia civil a investigação dos crimes militares. De acordo com o

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47Cap. 3 • INQUÉRITO POLICIAL

art. 8º e seguintes, do CPPM (Código de Processo Penal Militar), os crimes militares são passíveis de inquérito militar, presidido por um oficial de carreira da própria corporação.

c) Ministério Público: o processo contra membros do Ministério Público é conduzido pelo Procurador Geral. Delegado de Polícia não pode indiciar membro do MP, e mesmo a autuação da prisão em flagrante, que somente será possível em crimes inafiançáveis, depende de comunicação imediata ao Procurador Geral de Justiça ou ao Procurador Geral da República, dependendo se membro do Ministério Público Estadual ou Federal. Tais prerrogativas estão definidas nos arts. 40 e 41 da Lei Orgânica Nacional do MP (Lei no 8625/93).

d) Juízes: serão investigados pelo Presidente do Tribunal compe-tente, face à prerrogativa de foro garantida constitucionalmente, bem como o disposto da Lei Orgânica da Magistratura (LOMAN, LC 35/79, art. 33). Da mesma forma que os membros do Minis-tério Público, os magistrados não podem ser investigados por Delegados de Polícia e a autuação do flagrante, que somente é possível em crimes inafiançáveis, deverá ser precedida da co-municação imediata ao Presidente do Tribunal competente.

e) Autoridades que gozam de foro privilegiado: recentemente, a jurisprudência passou a entender que também a investigação deverá observar as regras relativas à prerrogativa de função, à semelhança do que já ocorria no caso de membros do Ministério Público. Assim, terão as investigações presididas pelo Procurador Geral de Justiça ou pelo Procurador Geral da República, embora a operacionalização da investigação seja feita pela polícia.

f) Inquérito Civil Público: o art. 129, inc. III, da CRFB/88 atribui ao Ministério Público a presidência privativa do inquérito civil público, procedimento administrativo, de caráter inquisitivo, que tem por objetivo produzir um conjunto probatório acerca da lesão a interesses metaindividuais, de forma a viabilizar o ajuizamento da Ação Civil Pública, prevista na Lei nº 7.347/85. Ainda que não seja finalidade direta, é comum que o inquérito civil público apure também a prática de ilícitos penais.

g) Investigação direta pelo Ministério Público: objeto do tópico a seguir.

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Contudo, devemos ressaltar que todos os mecanismos de inves-tigação estão igualmente subordinados à observância das garantias constitucionais, devendo ser respeitadas as garantias do direito ao silêncio, do direito à não autoincriminação, à assistência de um advo-gado, bem como deverão ser observadas as hipóteses que se submetem à reserva jurisdicional.

Possuem reserva jurisdicional as decisões referentes à prisão (exce-to o flagrante), à interceptação telefônica, à busca e apreensão domiciliar e, conforme posicionamento dominante, à condução coercitiva.

No que se refere à condução coercitiva, a atual redação do art. 2o. da Lei 1.579/52 estabelece que "poderão as Comissões Parlamentares de Inquérito determinar diligências que reputarem necessárias e requerer a convocação de Ministros de Estado, tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais, ouvir os indiciados, inqui-rir testemunhas sob compromisso, requisitar da administração pública direta, indireta ou fundacional informações e documentos, e transpor-tar-se aos lugares onde se fizer mister a sua presença.” No entanto, na eventual necessidade da condução coercitiva de testemunha faltante, será necessária ordem judicial, como prescreve o § 1o. do referido artigo.

§ 1o Em caso de não comparecimento da testemunha sem motivo justificado, a sua intimação será solicitada ao juiz criminal da localidade em que resida ou se encontre, nos termos dos arts. 218 e 219 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.

Relevante discussão surge no tocante à quebra de sigilo. O art. 58, § 3o, da CRFB, bem como o art. 1o. da Lei 1.579/52, com as alterações implementadas pela Lei 13.367/2016, entregam às CPIs poderes de investigação próprios das autoridades judiciais.

Daí surgir relevante discussão sobre a possibilidade das CPIs deter-minarem quebra de sigilo. Contudo, entende o STF pela possibilidade de que a quebra de sigilo, seja bancário, fiscal ou telefônico (nunca a interceptação) possa ocorrer pelas comissões parlamentares de inqué-rito, exigindo-se, contudo, a devida fundamentação.

� POSIÇÃO DO STF

MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO CONSTITUCIONAL. COMISSÃO PARLAMEN-TAR DE INQUÉRITO. CPI DO FUTEBOL. ENTIDADE DESPORTIVA. ATOS PRIVADOS. COMPETÊNCIA PARA APURAÇÃO CONFIGURADA. DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO.

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capítulo

4AÇÃO PENAL

� Leia a Lei:

� Arts. 24 a 62 do CPP

Neste Capítulo serão estudadas as principais diferenças entre as ações penais de iniciativa pública e privada, enquanto ações penais de natureza condenatória, seja nos aspectos relativos à legitimidade para o seu exercício, seja nos princípios regentes de cada uma dessas espécies de ação penal.

Ação Penal

Ação, Pretensão, Jurisdição e Processo.Ações penais não condenatórias e condenatórias

Da legitimidade para a ação penal condenatória

Condições para o regular exercício do direito de ação

Diferenças entre as Ações Penais Pública e Privada:princípios regentes

Ação Penal Privada Subsidiária da Pública

1. AÇÃO,PRETENSÃO,JURISDIÇÃOEPROCESSO.AÇÕESPENAISNÃOCONDENATÓRIASECONDENATÓRIAS

Tal qual no Processo Civil, e em decorrência da Teoria Geral do Processo, é preciso identificar os três institutos basilares do direito processual penal: Ação, Jurisdição e Processo, os quais identificam a trilogia processual.

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vol. 13 – PROCESSO PENAL – Ana Cristina Mendonça82

No caso do Direito Processual Penal, em face do sistema acusatório definido constitucionalmente, sobreleva-se essa distinção, de forma a garantir, realmente, a imparcialidade do órgão responsável pelo exer-cício da função jurisdicional.

Assim, para assegurar a imparcialidade do julgador, a jurisdição é inerte, dependendo de provocação através do instituto da ação, atividade entregue a órgão distinto daquele a exercer a jurisdição.

A “ação” é classificada como o direito público, subjetivo e abstrato de se pedir ao Estado-Juiz a prestação da tutela jurisdicional para o reconhecimento, manutenção ou defesa de um direito. É através da ação que se deduz uma pretensão, provocando o Judiciário para o exercício da jurisdição, visando à aplicação da lei ao caso concreto.

A jurisdição, uma vez provocada por meio da ação, passa a atuar através do processo.

O processo penal de conhecimento, dependendo da pretensão de-duzida, poderá ser de natureza condenatória, declaratória, constitutiva, e ainda, para alguns, mandamental.

Devemos lembrar que a revisão criminal, o habeas corpus, o manda-do de segurança, e a ação de reabilitação são espécies de ação, porém, em nenhum deles vislumbramos pretensão condenatória. Estes institu-tos são considerados ações autônomas de impugnação e não recursos, muito embora o CPP/1941 as considere, equivocadamente, como tal.

A revisão criminal é uma ação constitutiva negativa, na qual se pre-tende a desconstituição da coisa julgada. Já o habeas corpus e o mandado de segurança podem ser declaratórios ou constitutivos. Quanto à ação de reabilitação, muitos a consideram declaratória, outros constitutiva.

Entretanto, quando ouvimos a expressão AÇÃO PENAL, de imediato nos vem à mente a ação penal de natureza condenatória, através da qual o autor pretende a satisfação do direito de punir do Estado.

Isso mesmo! Devemos sempre lembrar que o direito de punir é estatal, motivo pelo qual o art. 100 do CP dispõe que “toda ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofen-dido”. Também por este mesmo motivo a Constituição de 1988, em seu art. 129, I, entregou a titularidade da ação penal pública, privativamente,

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83Cap. 4 • AÇÃO PENAL

ao Ministério Público, que “personifica” o Estado-sociedade na relação jurídico-processual penal. Daí falarmos que o Ministério Público pre-senta (e não representa) o Estado, já que é o próprio Estado em juízo, exercendo o direito de ação, deduzindo sua pretensão punitiva.

2. DALEGITIMIDADEPARAAAÇÃOPENALCONDENATÓRIA

Como vimos, o Ministério Público “é o próprio Estado” no exercício do direito de ação, deduzindo sua pretensão punitiva. Fala-se, neste caso, em legitimidade ordinária para o exercício do direito de ação penal.

Através da leitura do mesmo art. 100 do CP, percebemos que, em determinados casos, excepcionalmente, o direito de ação é entregue ao ofendido (vítima), surgindo assim a legitimidade extraordinária da vítima para o exercício do direito de ação.

Existem, portanto, crimes de ação penal de iniciativa pública, onde a legitimidade é do Ministério Público, representante estatal, e crimes de ação penal de iniciativa privada, nos quais a legitimidade foi entregue ao ofendido/vítima.

Porém, antes de tratarmos das características e diferenças entre as ações penais pública e privada, faz-se necessária a compreensão das seguintes expressões no tocante a ação penal de natureza condenatória:

• Legitimidade Ordinária: É do próprio Estado, que exerce sua legitimidade através do Ministério Público. Por isso, podemos dizer que o legitimado ordinário é o Ministério Público, que deduz em juízo pretensão punitiva que lhe pertence.

• Legitimidade Extraordinária: Nos crimes de ação penal de iniciativa privada, o direito de ação é entregue ao ofendido/vítima, que detém legitimidade extraordinária para, em seu próprio nome, deduzir uma pretensão punitiva que, em verdade, pertence ao Estado (já que, como antes dito, o direito de punir é estatal). A vítima, nos casos de ação penal privada, é a legitimada extraordinária.

• Substituição Processual: Quando a vítima exerce a legitimidade extraordinária que lhe foi concedida pela lei, oferecendo a queixa crime, através da qual requer, ao final da petição, o julgamento

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capítulo

6JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

� Leia a Lei:

� Arts. 69 a 91 do CPP

Apesar da relevância do estudo da jurisdição enquanto categoria den-tro da teoria geral do processo, devemos, no processo penal, ter especial atenção aos critérios de determinação da competência estabelecidos a partir do art. 69 do CPP, sobre os quais costumam incidir as principais questões nos certames, tanto em provas objetivas quanto discursivas. São critérios de determinação da competência no processo penal:

Critérios de determinação da competência

lugar da infração

domicílio do réu

natureza da infração

distribuição

conexão e continência

prevenção

prerrogativa de função

1. CONCEITO

Como sabemos, o Estado tomou para si a solução dos conflitos de interesses, de forma a evitar a autotutela. De acordo com o Professor

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vol. 13 – PROCESSO PENAL – Ana Cristina Mendonça106

Fernando Tourinho Filho, a Jurisdição, enquanto função do Estado, é “a atividade desenvolvida pelos seus órgãos jurisdicionais visando solu-cionar as lides, aplicando, para tanto, o direito objetivo a uma situação litigiosa concreta.”

A Jurisdição pode ser encarada como poder, função ou atividade. Também esclarece o Professor Tourinho que, “como poder, a jurisdição é uma emanação da soberania nacional. Como função, a jurisdição é aquela incumbência afeta ao juiz de, por meio do processo, aplicar a lei aos casos concretos. Finalmente, como atividade, a jurisdição é toda aquela diligência do juiz dentro do processo objetivando dar a cada um o que é seu.”

2. PRINCÍPIOS

Os princípios que regem a jurisdição decorrem da própria Teoria Geral do Processo. Assim, são relacionados à função jurisdicional os princípios da inércia (ne procedat iudex ex officio), do juiz natu-ral (art. 5º, incisos XXXVII e LII, da CRFB/88), do nulla poena sine iudicio, da unidade da jurisdição, da investidura, da indeclinabilidade, da indelegabilidade, da improrrogabilidade ou aderência (sendo que, para esta última, temos as exceções da conexão e continência, e do desaforamento).

3. JURISDIÇÃOECOMPETÊNCIA–DISTINÇÕES

Como visto no item anterior, a Jurisdição é una, não se podendo falar em divisões do Poder Judiciário. Contudo, a jurisdição não pode ser exercida ilimitadamente por qualquer juiz, em qualquer lugar ou em qualquer matéria, até mesmo em razão da extensão territorial do país e das diversas temáticas abordadas pelo Direito.

Fala-se, portanto, em um limite legislativo para o exercício da função jurisdicional, denominado competência.

Os órgãos diversos dentro do Poder Judiciário têm o exercício da função jurisdicional delineada e medida pela competência, que pode ser analisada sob o aspecto material, territorial ou funcional (ratione materiae, ratione loci e ratione personae).

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