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1 CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO TRABALHO DO DIRETOR NAS ESCOLAS MUNICIPAIS EM PONTA GROSSA PR Dalila Maria Antoneche Burak 1 Simone de Fátima Flach 2 RESUMO O presente texto procura sintetizar e apresentar as principais reflexões realizadas em pesquisa para o Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia UEPG no ano de 2010, a qual se centrou nas concepções sobre o trabalho do gestor escolar e nas atribuições desenvolvidas por esses profissionais no contexto da escola pública municipal de Ponta Grossa. Assim, o texto apresenta alguns subsídios teórico-práticos para a reflexão sobre o papel desempenhado pelo diretor escolar da rede municipal de ensino de Ponta Grossa Paraná, evidenciando que a atuação dos diretores escolares é permeado por contradições, as quais vinculam-se à concepções nem sempre explícitas, ou seja, mesmo que os discursos indiquem, os encaminhamentos político- administrativos e as ações práticas demonstram certa fragilidade para a efetivação de ações democráticas. Palavras-chave: Gestão Escolar. Diretor Escolar. Atribuições Profissionais. O PONTO DE PARTIDA... O estudo sobre a gestão da escola é parte integrante da organização curricular do curso de pedagogia e a inserção de estudantes em espaços escolares ocorre desde o início da formação, através de atividades de Prática Pedagógica e Estágio Supervisionado 3 . Ao problematizar a realidade material, através dessas atividades, os estudantes têm a oportunidade de irem além do estudo teórico e aprofundarem a compreensão da escola. Do trabalho continuado de estudo, observação, reflexão o interesse pela escola pública e pela gestão escolar foi aos poucos se transformando e culminou com a pesquisa realizada para o Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Pedagogia, ocorrida ao longo do ano de 2010. 1 Professora da Rede Municipal de Ensino e Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG. Autora do Trabalho de Conclusão de Curso relatado do presente texto. 2 Professora Adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Doutora em Educação pela Universidade Federal de São Carlos USFCar. Orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso relatado no presente texto. 3 A organização curricular do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa prevê a inserção acadêmica no cotidiano escolar desde o início do curso através das orientações da disciplina de Prática Pedagógica. Nos 3º e 4º anos do curso, os acadêmicos desenvolvem Estágio Supervisionado de docência na Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental e Ensino Médio e, ainda, na Gestão Escolar.

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Page 1: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

1

CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO TRABALHO DO

DIRETOR NAS ESCOLAS MUNICIPAIS EM PONTA GROSSA – PR

Dalila Maria Antoneche Burak1

Simone de Fátima Flach2

RESUMO

O presente texto procura sintetizar e apresentar as principais reflexões realizadas em

pesquisa para o Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia – UEPG no ano de

2010, a qual se centrou nas concepções sobre o trabalho do gestor escolar e nas

atribuições desenvolvidas por esses profissionais no contexto da escola pública

municipal de Ponta Grossa. Assim, o texto apresenta alguns subsídios teórico-práticos

para a reflexão sobre o papel desempenhado pelo diretor escolar da rede municipal de

ensino de Ponta Grossa – Paraná, evidenciando que a atuação dos diretores escolares é

permeado por contradições, as quais vinculam-se à concepções nem sempre explícitas,

ou seja, mesmo que os discursos indiquem, os encaminhamentos político-

administrativos e as ações práticas demonstram certa fragilidade para a efetivação de

ações democráticas.

Palavras-chave: Gestão Escolar. Diretor Escolar. Atribuições Profissionais.

O PONTO DE PARTIDA...

O estudo sobre a gestão da escola é parte integrante da organização curricular

do curso de pedagogia e a inserção de estudantes em espaços escolares ocorre desde o

início da formação, através de atividades de Prática Pedagógica e Estágio

Supervisionado3. Ao problematizar a realidade material, através dessas atividades, os

estudantes têm a oportunidade de irem além do estudo teórico e aprofundarem a

compreensão da escola. Do trabalho continuado de estudo, observação, reflexão o

interesse pela escola pública e pela gestão escolar foi aos poucos se transformando e

culminou com a pesquisa realizada para o Trabalho de Conclusão do Curso de

Licenciatura em Pedagogia, ocorrida ao longo do ano de 2010.

1 Professora da Rede Municipal de Ensino e Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Autora do Trabalho de Conclusão de Curso relatado do presente texto. 2 Professora Adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Doutora em Educação pela

Universidade Federal de São Carlos – USFCar. Orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso relatado

no presente texto. 3 A organização curricular do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa prevê a

inserção acadêmica no cotidiano escolar desde o início do curso através das orientações da disciplina de

Prática Pedagógica. Nos 3º e 4º anos do curso, os acadêmicos desenvolvem Estágio Supervisionado de

docência na Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental e Ensino Médio e, ainda, na Gestão

Escolar.

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2

Inúmeras indagações sobre o tema “gestão escolar” estiveram presentes na

realização das atividades mencionadas e eram contempladas em alguns

questionamentos, tais como: “Qual é a concepção de gestão escolar que permeia as

atividades do diretor escolar da rede municipal de ensino?”; “Quais são as atribuições

do diretor escolar?”; “Quais são as atividades prioritárias do diretor escolar: aspectos

administrativos, financeiros, pedagógicos ou político-comunitários?” A busca à

respostas para tais questionamentos foi a mola propulsora para o desenvolvimento da

pesquisa.

O percurso metodológico utilizado considerou como fundamental a

compreensão de que a metodologia é o “caminho do pensamento e a prática exercida na

abordagem da realidade”. (MINAYO, 1999, p. 16). Pautada nessa compreensão, a

metodologia adequada nos direciona à abordagem significativa da realidade. Para tanto,

foi necessário a utilização de abordagem quantitativa e qualitativa, pois segundo

BAPTISTA (1999, p. 34) a “abordagem quantitativa quando não exclusiva serve de

fundamento ao conhecimento produzido pela pesquisa qualitativa”, sendo possível

trabalhar com as duas abordagens (qualitativa e qualitativa) de modo a estabelecer uma

relação de complementaridade entre ambas.

BREVES NOTAS SOBRE AS CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR

A educação é aqui considerada como processo de assimilação de

conhecimentos sistematizados e tem a escola como lócus do processo educativo formal.

Nesse sentido, PARO (1993, p. 105) nos oferece importante esclarecimento quando

afirma ser a escola uma instituição social, “cuja especificidade é precisamente a

transmissão do saber de forma sistemática e organizada”.

Sendo o estudo da escola enquanto local de organização do trabalho

pedagógico a essência do estudo aqui realizado, tornam-se esclarecedoras as palavras de

Libâneo; Oliveira e Toschi quando os mesmos afirmam que o "estudo da escola como

organização de trabalho não é novo, há toda uma pesquisa sobre administração escolar

que remota os pioneiros da educação nova, nos anos 30". (LIBÂNEO et al, 2001, p. 95).

Na década de 1980, com as discussões relativas "a reforma curricular dos cursos de

Pedagogia e Licenciaturas, a disciplina passou em muitos lugares a ser denominada de

Organização do Trabalho Pedagógico ou Organização do Trabalho Escolar". (idem), e

contempla, pois, a organização e a gestão da escola.

Entendemos que a gestão e a organização escolar visam a racionalização dos

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recursos disponíveis na escola, sejam eles, humanos, materiais, financeiros e

intelectuais, contemplando o interior e o exterior da instituição escolar, suas normas,

diretrizes, ações e planejamentos e principalmente, os sujeitos que compõem a escola:

alunos, professores, pais, funcionários e comunidade local.

Um dos objetivos da gestão escolar é garantir as condições para o oferecimento

de um ensino de qualidade a todos os membros da comunidade escolar. No entanto, a

gestão escolar vai além da mobilização de pessoas e racionalização de recursos,

envolve, pois, “intencionalidade, definição das metas educacionais e posicionamento

frente aos objetivos educacionais, sociais e políticos (...)” (SCHNECKENBERG, 2007,

p. 09), e visa, portanto, contribuir para a formação de cidadãos capazes de interagir com

o mundo social no qual estão inseridos. Indo além desse entendimento, consideramos

que não basta interagir com o mundo, é preciso transformá-lo, tornando-o mais humano

e igualitário, onde as relações sociais sejam pautadas em princípios de justiça, igualdade

e democracia, que as diferenças e particularidades sejam respeitadas e que o poder

aquisitivo não seja o elemento central das relações humanas, e que as desigualdades

sociais e preconceitos sejam minimizados ou mesmo banidos, enfim, que a sociedade

seja transformada em suas bases estruturais. Segundo PARO (1993, p. 82) a

transformação social “precisa ser entendida num sentido que extrapole o âmbito das

meras „reformas‟, (...) não, portanto, a mera atenuação ou escamoteação dos

antagonismos, mas a eliminação de suas causas, ou seja, a superação das classes

sociais”.

PARO (1993) nos adverte que a organização da sociedade e da mesma forma, a

organização das instituições escolares pode estar articulada tanto com a conservação da

ordem social, quanto com sua transformação, dependendo da maneira como são

configurados os seus objetivos de ação.

Destacamos, ainda, que a finalidade de uma instituição escolar é ofertar um

ensino de qualidade a todos os alunos, buscando promover a cidadania e a justiça social,

garantindo, pois, que o direito à educação seja efetivado em sua coletividade, bem como

atenda as particularidades dos alunos e da comunidade local. (CURY, 2005). No

entanto, considerando a realidade educacional brasileira precisamos entender que a

gestão escolar reflete posicionamentos sociais e políticos intimamente relacionados aos

objetivos da formação educacional dos alunos. Tais posicionamentos estão ligados às

concepções de educação que permeiam a sociedade em determinado espaço e tempo

histórico.

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Nesse sentido se faz importante a compreensão sobre as concepções de

educação que norteiam as ações existentes no cotidiano. Entendendo a sociedade como

movimento dialético, permeado por inúmeras relações, pode-se afirmar que as

concepções existentes não são isoladas, podendo características de uma estar contida em

ações vinculadas à outra concepção. Na sociedade brasileira isso ocorre de forma mais

acentuada, visto que a história de formação profissional e política dos profissionais nem

sempre deu a oportunidade de liberdade de escolha sobre as verdadeiras defesas dos

indivíduos divididos em classes.

Da mesma forma que o entendimento sobre educação as concepções de gestão

escolar coexistem e estão relacionadas com as proposições e finalidades da educação

vigentes na sociedade, ou seja, concepções que visam à conservação da ordem vigente e

concepções que buscam a transformação social.

Para Libâneo et al (2007, p. 323) “se situássemos as concepções de gestão em

uma linha contínua, teríamos em um extremo a concepção técnico-científica (também

chamada científico-racional) e, no outro, a concepção sóciocrítica”.

Em se tratando da concepção técnico científica “prevalece uma visão

burocrática e tecnicista da escola. A direção é centralizada em uma pessoa, as decisões

vem de cima para baixo e basta cumprir um plano previamente elaborado sem a

participação de professores, especialistas, alunos e funcionários”.(LIBÂNEO et al,

2007, p. 323). Nessa concepção, o princípio fundamental da organização escolar é a

busca de maiores índices de eficiência e eficácia e em seus resultados, tomando a

realidade como algo objetivo, neutro, passível de ser controlado.

Contrariamente a concepção técnico-científica, temos a sociocrítica, onde a

organização escolar é

concebida como um sistema que agrega pessoas, considerando o caráter

intencional de suas ações e interações sociais que estabelecem entre si e com

o contexto sociopolítico, nas formas democráticas de tomadas de decisões. A

organização escolar não é algo objetivo, elemento neutro a ser observado,

mas construção social levada a efeito pelos professores, alunos, pelos pais e

até por integrantes da comunidade próxima. O processo de tomada de

decisões dá-se coletivamente, possibilitando aos membros do grupo discutir e deliberar, em uma relação de colaboração. (LIBÂNEO et al, 2007, p. 324).

A organização escolar assume, nessa concepção, caráter de coletividade,

pautada na organização e busca de interesses e objetivos comuns, cada sujeito exerce

democraticamente a expressão de suas idéias, podendo sugestionar, propor, planejar

ações, enfim, participar nas decisões que conduzem os rumos da instituição escolar.

Assim sendo, os membros da escola e comunidade assumem o papel de sujeitos pró-

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ativos e não meros executores de tarefas delegadas arbitrariamente por um poder

centralizado na figura de um único dirigente. Acentuando o seu caráter democrático, a

concepção socio-crítica desdobra-se em diferentes formas de gestão coletiva: a

autogestionária, a interpretativa e a democrático-participativa, as quais, juntamente com

a concepção técnico-científica, compõem o rol de concepções de gestão escolar

presentes no cenário educacional.

Libâneo et al (2007) nos apresentam essas concepções de organização e

gestão escolar, destacando que a concepção técnico-científica "baseia-se na hierarquia

de cargos e funções, nas regras e nos procedimentos administrativos, para a

racionalização do trabalho e a eficiência dos serviços escolares. (p. 324).

A concepção autogestionária "baseia-se na responsabilidade coletiva, ausência

de direção centralizada e acentuação da participação direta e igual de todos os membros

da instituição." (LIBÂNEO et al, 2007, p. 325).

Segundo Hallak apud Dias (1997) a autogestão da escola, quando assumida

com cautela, pode trazer muitos benefícios à instituição escolar. O referido autor

destaca como sendo vantagens:

grande flexibilidade na utilização dos recursos financeiros;

participação crescente dos diferentes setores na tomada de decisões;

eliminação do controle burocrático centralizado;

capacidade crescente para inovação, a criatividade e a

experimentação;

possibilidade de realizar economias;

capacidade de realocar os recursos para atingir os objetivos da escola; autonomia crescente na tomada de decisões.(HALLAK apud DIAS,

1997, p.08)

Isto é, a escola assume determinadas tarefas que lhe conferem certo grau de

autonomia para gerenciar recursos, bem como há espaços participativos para a tomada

de decisões, buscando inovações e novas alternativas de trabalho no campo

educacional.

Por sua vez, a concepção interpretativa “considera como elemento prioritário

na análise dos processos de organização e gestão os significados subjetivos, as

intenções e interações das pessoas (...)” (LIBÂNEO et al, 2007, p. 325). O enfoque da

gestão centra-se nos aspectos subjetivos dos sujeitos escolares, suas experiências e

práticas sociais e nessa perspectiva, a gestão assume portanto, um caráter de construção

social e coletiva.

A quarta concepção é conhecida como democrático-participativa, a qual

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baseia-se na relação orgânica entre a direção e a participação dos membros da

equipe. Acentua a importância da busca de objetivos comuns assumidos par

todos. Defende uma forma coletiva de tomada de decisões, Entretanto, uma

vez tomadas as decisões coletivamente, advoga que cada membro da equipe

assuma sua parte no trabalho, admitindo a coordenação e a avaliação

sistemática da operacionalização das deliberações.gestão em que as decisões

são tomadas e discutidas publicamente. (LIBÂNEO et al, 2007, p.325).

A gestão democrático-participativa incorpora ações e planejamentos coletivos

e democráticos, porém destaca a divisão de responsabilidades individuais, sempre

pautadas num projeto maior, coletivo, que congrega todos os membros da equipe

escolar em torno de objetivos, metas, decisões e compromissos comuns, acentua, pois, o

caráter político-democrático que deve permear a cultura organizacional4 das instituições

escolares.

Podemos afirmar que, uma vez definida a concepção de gestão assumida pela

escola, todas as atividades a serem desenvolvidas em âmbito institucional serão

influenciadas por esse posicionamento, contemplando, pois, o projeto político-

pedagógico5, as relações de poder e os eixos: pedagógico, político e organizacional.

Consideramos que a concepção de gestão denominada democrático-

participativa ou simplesmente gestão democrática, como julgamos ser mais adequado

devido à redundância da primeira denominação, dada suas características fundamentais:

trabalho coletivo, compartilhamento de poderes, participação da comunidade nas

decisões escolares, fazendo com que as ações educativas sejam permeadas pelo diálogo

e pelo interesse da coletividade escolar, é a concepção mais indicada para o momento

histórico em que vivemos, onde se faz urgente despertar a população à participação nos

rumos da vida social, fortalecendo, pois, os espaços de ampliação da cidadania, dentre

os quais situamos a escola.

No atual contexto educacional, ganha destaque a figura do gestor escolar, o

qual é responsável (legal e socialmente) pela condução do trabalho no âmbito

institucional. Severino (apud Vasconcellos, 2002, p. 61) nos afirma que "não se trata de

um papel puramente burocráticoadministrativo, mas de uma tarefa de articulação, de

coordenação, de intencionalização, que, embora suponha o administrativo, o vincula

radicalmente ao pedagógico". Então, segundo Vasconcellos (2002, p. 61) "a grande

4 “A expressão corresponde, de certa forma, a clima organizacional, ambiente, clima da escola”.

(LIBÂNEO et al, 2007, p. 318). 5O Projeto Político Pedagógico é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização,

nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na

caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar a partir de um

posicionamento quanto à sua intencionalidade e de uma leitura da realidade. (VASCONCELLOS, 2002,

p.17).

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tarefa da direção, numa perspectiva democrática é fazer a escola funcionar pautada num

projeto coletivo", fortalecendo as bases democráticas do contexto escolar.

Indo além das definições teóricas sobre a gestão democrática, consideramos

como central na discussão proposta a efetivação do princípio constitucional de “gestão

democrática do ensino público”. Em relação a esse dispositivo, Cury (2005, p. 09)

observa que “a conquista do princípio constitucional da gestão democrática, em 1988,

em estabelecimentos oficiais dos sistemas de ensino representou e continua

representando um passo admirável para a vida democrática de nossos estabelecimentos

de ensino”. No entanto, consideramos que apenas a previsão constitucional não é capaz

de modificar a realidade existe no contexto educacional, visto que as transformações

não ocorrem imediatamente, mas dependem do contexto histórico, da formação dos

profissionais, do contexto social onde as relações se materializam, dentre outros

aspectos não menos relevantes.

ENTENDENDO AS ATRIBUIÇÕES DO DIRETOR ESCOLAR

Para dar suporte teórico no entendimento sobre o papel do diretor escolar na

atualidade, buscamos identificar como os diversos autores da área tratam a questão.

De acordo com Vasconcellos (2002, p. 61) a direção “tem por função ser o

grande elo integrador, articulador dos vários segmentos – internos e externos- da escola,

cuidando da gestão das atividades, para que venham a acontecer e a contento (...)”.

Assim sendo, a direção deve organizar o seu projeto de trabalho “para

qualificar sua intervenção e ficar menos sujeito às enormes pressões do cotidiano”.

(VASCONCELLOS, 2002, p. 61).

A realidade social e educacional atual necessita de pessoas que estejam em

constante processo de formação. Nesse sentido, o diretor é, assim como os outros

sujeitos que trabalham na escola, um profissional da educação, e necessita estar inserido

em processos de formação continuada. Tratando sobre a questão, Vasconcelos afirma

que o diretor “deve se capacitar, buscar crescer, se fortalecer também no conhecimento,

para enfrentar os conflitos do cotidiano de maneira mais qualificada e produtiva”.

(idem).

No entanto, esse processo é difícil e contraditório; porém não impossível. O

diretor escolar precisa estudar, pesquisar e investigar as problemáticas do dia-a-dia,

estando, juntamente com os professores e demais funcionários da escola, em processo

de formação contínua.

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Segundo o entendimento de Falcão Filho (1991), o diretor escolar deve

desenvolver um trabalho em consonância com o coletivo escolar, considerando os

aspectos político, econômico e social do contexto onde a escola está inserida, bem

como, ser competente para administrar os recursos materiais, financeiros e humanos

que, estão sob sua responsabilidade.

Falcão Filho (1991, p. 14) discorrendo sobre a competência profissional do

diretor escolar, nos diz, ainda, que:

a competência profissional do diretor implica, em primeiro lugar, o domínio

de um saber que permita o desempenho das funções a ele destinadas na

escola; em segundo, pressupõe que ele tenha uma visão relativamente

integrada e articulada dos aspetos relevantes mais imediatos de sua própria

prática, ou seja, um entendimento das múltiplas relações entre os vários aspectos da escola; em terceiro lugar, o diretor precisa ter não somente a

compreensão das relações entre o preparo técnico que recebeu, a organização

da escola e os resultados de sua ação, como também uma percepção

abrangente e profunda das relações entre a escola e a sociedade.

Concordamos com esse apontamento, pois entendemos que a competência

profissional contempla a integração das dimensões política, humana e técnica.

Em se tratando da competência política, a mesma “identifica a capacidade do

diretor de ver a escola, a sociedade e o sistema educacional como um todo; pressupõe o

entendimento e a compreensão de que a escola (...) insere-se num contexto maior, a

sociedade; (...)”. (FALCÃO FILHO, 1991, p. 14).

A competência política “exige que o diretor tenha conhecimento de como os

determinantes de ordem política, social e econômica contribuem ou não para que o

processo ensino-aprendizagem alcance os seus objetivos”. (FALCÃO FILHO, 1991, p.

15).

A competência humana “pressupõe a capacidade do diretor de trabalhar eficaz

e eficientemente, em base individual e em situações de grupo. Essa competência exige

compreensão empática6 e consideração positiva incondicional

7”. (FALCÃO FILHO,

1991, p. 15).

A competência humana é extremamente necessária para a criação de um clima

6 “Refere-se ao fato de o diretor ser capaz de colocar-se no lugar do outro, para poder entender sua

reação, os seus sentimentos e suas emoções”. (FALCÃO FILHO, 1991, p. 15).

7 “identifica a sua capacidade de trabalhar com pessoas (professores, especialistas, alunos, pais,

auxiliares, etc) com os quais não se sente identificado e a quem tampouco devota afetividade”. (FALCÃO

FILHO, 1991, p. 15).

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organizacional propício a concretização do “projeto educativo, razão de ser da

existência da escola” enquanto a competência técnica “supõe compreensão e

proficiência em métodos, processos, procedimentos, técnicas de organização do

trabalho, tomada de decisão e solução de problemas”. (FALCÃO FILHO, 1991, p. 15).

Dessa forma, acreditamos que o diretor escolar deve assimilar tais

competências profissionais: humana, política e técnica, de modo que sua prática diária

demonstre articulação dessas competências, fortalecendo, pois, a sua profissionalidade.

Gomes (1997, p. 18) ao tratar do exercício da direção escolar nos afirma que

“dirigir uma escola, indiferente do seu tamanho e nível de ensino, requer competência

técnica, disponibilidade e uma grande responsabilidade do profissional”.

Ainda, segundo o mesmo autor, os conhecimentos que são considerados

indispensáveis ao bom exercício do papel de diretor escolar contemplam os eixos:

financeiro, administrativo e pedagógico, bem como aspectos relativos à legislação

vigente.

Quando falamos em legislação educacional brasileira, não podemos deixar de

mencionar a LDB, lei nº 9394/1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional. A referida lei, ao tratar da organização da educação nacional, define que “Art.

12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de

ensino, terão a incumbência de:I (...); II administrar seu pessoal e seus recursos

materiais e financeiros; (...)” (BRASIL, 1996, p. 54).

Observa-se, pois, que a legislação vigente garante a autonomia das instituições

escolares no que se refere a administração dos recursos humanos, materiais e

financeiros, reforçando-se um dos papéis do diretor escolar.

E a partir dessa perspectiva, podemos afirmar que a direção escolar é

o princípio e atributo da gestão, por meio da qual é canalizado o trabalho

conjunto das pessoas, orientando-as e integrando-as no rumo dos objetivos.

Basicamente, a direção põem em ação o processo de tomada de decisões na

organização e coordena os trabalhos, de modo que sejam realizados da

melhor maneira possível. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI 2007, p. 318).

Isto é, cabe a direção escolar coordenar o trabalho coletivo da instituição,

objetivando-se alcançar os objetivos propostos como: a oferta de um ensino de

qualidade, a educação inclusiva em todos os seus aspectos, a construção de ambiente

escolar acolhedor e livre de preconceitos e a participação da comunidade na tomada de

decisões, as quais são concretizadas e operacionalizadas pela equipe de gestão escolar,

destacando-se o diretor escolar.

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10

Avançando os estudos a respeito da gestão escolar e focalizando-se nas

atribuições específicas do diretor escolar, verificamos que alguns autores como Libâneo

et al (2007); Dias (1997) e Gomes (1997) abordam a questão segundo um viés

democrático, que postula a direção enquanto uma ação compartilhada, envolvendo

todos os segmentos escolares. Já outros autores, como Sander (2007) representam a

gestão escolar sob um enfoque mais administrativo e gerencial. Consideramos que se

torna importante para o nosso trabalho, o conhecimento desses dois enfoques: o

democrático e o gerencial.

Sander (2007) ao analisar aspectos constitutivos da administração da educação,

propõe quatro modelos específicos de gestão da educação, fundamentando-os em

critérios de desempenho administrativo que contemplam respectivamente, eficiência8,

eficácia9, efetividade

10 e relevância

11.

A administração para a eficiência econômica funda-se no “critério econômico

que traduz a capacidade administrativa de produzir o máximo de resultados com o

mínimo de recursos, energia e tempo”. (SANDER, 2007, p. 76). Nessa ótica, é

considerado eficiente o indivíduo que “produz o máximo com o mínimo de desperdício,

de custo e esforço, ou seja, o indivíduo que na sua atuação profissional, apresenta uma

elevada relação produto/insumo”. (SANDER, 2007, p. 76).

A administração pautada pela eficiência econômica, quando aplicada à escola

“acentua as características extrínsecas e instrumentais dos fenômenos organizacionais e

dos atos e fatos administrativos”. (SANDER, 2007, p. 77). Ou seja, as ações são

norteadas pela lógica econômica, pela racionalidade instrumental, buscando-se o

máximo de realizações com um mínimo de recursos.

Gomes (1997) ao discorrer sobre o aspecto financeiro-administrativo ressalta

que o diretor é responsável pelo patrimônio sob sua guarda: “o prédio com todo o seu

mobiliário e os recursos financeiros destinados à escola tais como as verbas, doações e

outros valores recebidos e arrecadados”. (GOMES, 1997, p. 18). Quanto aos recursos

financeiros, a autora afirma que “todos os recursos que a escola recebe devem ser

contabilizados, assim como os respectivos gastos” (p. 19). Gomes (1997, p. 20)

discorrendo sobre as atribuições profissionais do diretor escolar, nos adverte que o

8 Eficiência: “do latim efficientia, ação, força, virtude de produzir”. (SANDER, 2007, p. 76). 9 Eficácia : “do latim efficax, eficaz, que tem o poder de produzir o efeito desejado”. (SANDER, 2007, p.

78). 10 Efetividade: “do verbo latino efficere, realizar, cumprir, concretizar”. (SANDER, 2007, p.80). 11 Relevância : “do verbo latino relevare, levantar, salientar, valorizar”. (SANDER, 2007, p. 82).

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11

mesmo

deve conhecer a legislação que regulamenta o nível de ensino oferecido pela

escola que administra. Conhecimentos tais como: conteúdos obrigatórios,

carga horária obrigatória12

, recuperação, uso correto de diários, fichas

individuais, transferência, históricos, atualização de regimento, etc.

Como outrora afirmamos, o diretor deve ter o domínio de vários

conhecimentos, especialmente aqueles que se relacionam à legislação educacional

(políticas de inclusão, currículo, calendário escolar, sistemática de avaliação, repasse de

verbas, etc) e também, aspectos relacionados à organização do trabalho escolar, os quais

devem estar contidos expressamente no Projeto Político Pedagógico da instituição

(organização dos tempos e espaços, metodologias de trabalho, planejamento, projetos,

estabelecimento de parcerias com os pais e a comunidade, etc).

No entanto, as questões de cunho financeiro e administrativo, apesar da

responsabilidade necessária, não representam maiores dificuldades para aqueles que

adentram no trabalho da direção das escolas. Para Gomes (1997, p. 21) o maior desafio

para o diretor escolar é “administrar com sucesso os aspectos pedagógicos da escola”,

oferecendo, pois, “um ensino de qualidade, oportunizando ao aluno a aquisição de um

saber sistematizado, culturalmente aceito, que o transforme em verdadeiro cidadão”.

(idem).

Sander (2007) ao falar sobre o aspecto pedagógico do trabalho do

administrador escolar apresenta como modelo explicativo a administração para a

eficácia pedagógica, que preconiza “a capacidade de administrar para alcançar metas

estabelecidas ou resultados propostos”. (SANDER, 2007, p. 78).

O referido modelo, quando aplicado á educação “preocupa-se, essencialmente

com a consecução dos objetivos intrinsecamente educativos, estando, dessa forma,

estreitamente vinculado aos aspectos pedagógicos das escolas, universidades e sistemas

de ensino”. (SANDER, 2007, p. 79).

Baseando-se no pensamento de Paro (2001) acerca do envolvimento do diretor

escolar com os aspectos pedagógicos, podemos afirmar que o mesmo deve ir além do

mero alcance dos objetivos institucionais, que segundo o autor, se situam numa

dimensão individual. As ações pedagógicas precisam alcançar uma dimensão de cunho

social, ligada à formação de cidadãos ativos, críticos e participativos. Isto é, a escola

12 A LDB, ao tratar da organização da educação básica, estabelece no artigo 24 que : “a carga horária

mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho

escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver”. (BRASIL, 1996. p. 57).

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fundamental deve

pautar-se pela realização de objetivos numa dupla dimensão: individual e

social. A dimensão individual diz respeito ao provimento do saber necessário

ao autodesenvolvimento do educando, dando-lhe condições de realizar seu

bem-estar pessoal e o usufruto dos bens sociais e culturais postos ao alcance

dos cidadãos; em síntese, trata-se de educar para o „bem viver‟. Por sua vez, a

dimensão social liga-se à formação do cidadão tendo em vista sua

contribuição para a sociedade, de modo que sua atuação concorra para a

construção de uma ordem social mais adequada à realização do „bem viver‟

de todos, ou seja, para a realização da liberdade como construção social.

(PARO, 2001, p.34).

A respeito dos objetivos institucionais, que assumem dimensões individuais e

sociais e estão intimamente articulados ao aspecto pedagógico, destacamos que a equipe

diretiva juntamente com o corpo docente deve buscar sempre, o sucesso do processo

ensino-aprendizagem, a diminuição dos índices de fracasso escolar (evasão e

repetência) bem como a oferta de um ensino de qualidade a todos. Para tanto, são

necessários os conhecimentos da base teórica que norteiam o processo ensino-

aprendizagem, como por exemplo, as concepções básicas de educação e as teorias que

as fundamentam, os conhecimentos a respeito das teorias de aprendizagem, concepções

de avaliação, entre outros saberes.

Dentre os objetivos educacionais de ordem social que estão presentes no PPP

da maioria das escolas, podemos destacar: “formação política do educando”, ou em

outras palavras “a preparação para o exercício da cidadania”. Destas duas assertivas,

podemos subtrair que, a administração educacional, neste caso, está voltada para a

“efetividade política”, conforme modelo explicativo proposto por Sander (2007).

Segundo o referido modelo voltado à efetividade política, no processo

administrativo, são acentuadas as “características substantivas dos atos e fatos

administrativos, preocupando-se, primordialmente, com o atendimento das exigências

políticas e educacionais da comunidade, acima das considerações internas de natureza

instrumental e utilitária”. (SANDER, 2007, p. 81).

Cabe destacar que não basta somente a escola expandir suas ações no âmbito

da comunidade, é preciso trazer também comunidade para participar das ações e

decisões que acontecem dentro da escola, estabelecendo, pois, diálogo e parceria. Assim

sendo, podemos afirmar que a elaboração do PPP se consubstancia num precioso

momento de envolvimento da escola com a comunidade.

A relação escola/ comunidade quando em sintonia, isto é, em parceria e

diálogo contribui significativamente para a melhora da qualidade do ensino, pois os

Page 13: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

13

pais/responsáveis participam da vida escolar dos filhos, ajudam nas tarefas, se envolvem

com a vida da instituição e se sentem responsáveis por ela, a escola passa a ser um

“território aliado” (VASCONCELLOS, 2002, p. 63), um espaço de aprendizagem e

vivência de uma sociedade mais justa e igualitária.

Para Sander (2007, p 95) cabe a administração [e por sua vez, ao diretor

escolar], o papel de “mediação dialógica entre as dimensões e o todo, entre o intrínseco

e o extrínseco, entre o instrumental e o substantivo do processo educacional”.

Cabe, portanto, ao diretor escolar, a tarefa de “mediação dialógica” entre as

dimensões: econômica, política, pedagógica e cultural, as quais constituem o substrato

de sua ação profissional.

Sander (2007) agrupa as referidas dimensões no “paradigma multidimensional

de administração da educação”. E a partir desse entendimento, há que se ressaltar que as

diferentes dimensões (econômica, pedagógica, política e cultural) e seus critérios

administrativos (eficiência, eficácia, efetividade e relevância) não se excluem entre si,

ao contrário, são “dimensões dialética e simultaneamente articuladas de um paradigma

compreensivo de gestão democrática da educação, alicerçada em valores substantivos e

éticos de validade geral, como a liberdade individual e a igualdade social”. (SANDER,

2007, p. 106).

Após nos aproximarmos da gestão da educação segundo um enfoque mais

gerencial, mais uma vez, enfatizamos a concepção de gestão democrática, como sendo o

alicerce fundamental da atuação do diretor escolar. No entanto, não descartamos as

valiosas contribuições de Sander (2007), no que se refere ao “paradigma

multidimensional da administração da educação”, discutido anteriormente, pois também

defendemos a idéia de que o diretor escolar deve assumir a postura de mediador das

dimensões (econômica, pedagógica, política e cultural) discutidas anteriormente.

É preciso considerar, ainda o pensamento de VASCONCELLOS (2002, p. 51)

ao afirmar que “a equipe diretiva (direção, supervisão, coordenação pedagógica,

orientação educacional) tem um importante papel, dada a sua influência na criação de

um clima organizacional favorável” para a realização de mudanças positivas no cenário

escolar.

De acordo com Dias (1997) o diretor escolar é também um agente animador da

equipe escolar e pode assumir a postura de sujeito inovador das práticas escolares. Para

o referido autor, o diretor

transforma-se em animador da equipe, responsável por estimular e regular os

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14

diferentes grupos, e nesta qualidade deve adquirir determinadas competências

no domínio das relações humanas, de forma a tornar-se capaz de resolver

conflitos. Os agentes locais, pais, comunidade, ou coletividade local, tornam-

se “parceiros” ávidos de informação: o papel do diretor enriquece-se,

também, com um novo domínio, o das relações públicas. (DIAS, 1997, p.

15).

Isto é, o diretor assume a postura de agente mediador entre a escola e a

comunidade, e dessa forma, propõe-se a resolver conflitos, bem como estabelecer

parcerias entre a escola e a comunidade, objetivando sempre, promover melhorias no

ambiente escolar.

Acreditamos que, quando a equipe escolar (equipe diretiva, professores,

funcionários em geral) consegue vislumbrar possibilidades concretas de melhorias na

realidade escolar, ela se sente mais motivada pré-disposta ao trabalho.

Vasconcellos (2002) ao falar sobre o papel específico da direção, destaca as

reuniões pedagógicas13

e o Conselho Escolar, enquanto espaços de atuação do diretor

escolar, que podem desencadear processos de mudança e despertar a motivação da

equipe de trabalho.

O referido autor nos afirma que é fundamental “a participação constante da

direção nas reuniões pedagógicas semanais, pois assim tem a oportunidade de ouvir e

expor argumentos, conhecer por dentro a realidade da escola, enfim, acompanhar o

processo e se comprometer também com ele”. (VASCONCELLOS, 2002, p. 62). É

necessário que o diretor assuma o papel de educador, participando continuamente do

processo ensino-aprendizagem.

Uma vez apresentadas as atribuições específicas do diretor escolar, as quais

contemplam os eixos: administrativo, pedagógico, financeiro e político- comunitário,

passamos a apresentar a investigação sobre como tais atribuições se efetivam na prática

cotidiana do diretor escolar no município pesquisado.

A PRÁTICA COTIDIANA DO DIRETOR ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE

PONTA GROSSA

A seleção dos sujeitos da pesquisa foi realizada considerando-se os objetivos

do presente trabalho e a realidade da Rede Municipal de Ensino (RME), a qual conta

com 82 escolas14

, sendo que 49% tem diretores eleitos pela comunidade escolar e 51%

13 Vasconcellos (2002, p. 120) concebe as reuniões pedagógicas como “espaço de reflexão crítica,

coletiva e constante sobre a prática de sala de aula e da instituição”. 14 Ressalta-se que em 04 de dezembro de 2009 ocorreu o processo eleitoral para escolha de diretores na

Rede Municipal de Ensino e naquela oportunidade ocorreu o processo em 50 escolas, nas quais 10 foram

considerados inválidos e em 32 não houve eleição por falta de candidatos. Portanto, em 49% da Rede

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15

indicados pela Secretária de Educação. Consideramos ainda, o porte das escolas,

conforme o número total de alunos, o qual oscila entre 51 alunos e 747 alunos. Para

tanto, selecionamos 10 escolas, sendo 05 de grande porte (escolas com mais de 500

alunos) e 05 escolas de pequeno porte (escolas com até 125 alunos). Ainda,

consideramos o processo de condução ao cargo, ou seja, buscamos selecionar diretores

eleitos e indicados.

Após os estudos teóricos realizados e a análise preliminar da Rede Municipal

de Ensino, utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário semi-

estruturado, com perguntas objetivas e subjetivas contemplando as atribuições do

diretor escolar nos eixos: administrativo, pedagógico, financeiro e político-comunitário,

bem como aspectos relacionados à concepção de gestão escolar. A partir do instrumento

de coleta de dados foi possível traçar um perfil aproximado dos diretores escolares

conforme apresentado a seguir.

Em relação à formação profissional verificou-se que todos os profissionais

possuem habilitação em magistério e formação superior em pedagogia. Este fato

demonstra que todos os critérios estabelecidos pelo Decreto Municipal nº 3530 de

06/10/2009 (que dispõe sobre a eleição de diretores das unidades da rede municipal de

ensino) no que se refere à habilitação para exercício do cargo de diretor escolar estão

sendo seguidos rigorosamente.

Vitor Paro (2003) ao falar sobre a eleição de diretores e a exigência de critérios

para candidatura dos mesmos, nos diz que entre os requisitos exigidos para se

candidatar ao posto de diretor escolar estão “em geral, dados sobre a competência, a

formação acadêmica e a experiência no magistério”. (PARO, 2003, p. 84).

Observou-se que nas escolas de grande porte, a maioria dos diretores possui

pouca experiência no cargo de diretor escolar (menos que dois anos) e nas escolas de

pequeno porte a maioria possui quatro ou mais anos de experiência no cargo.

Na maioria das escolas de grande porte a condução ao cargo de diretor escolar

ocorreu através da eleição, enquanto na maioria das escolas de pequeno porte ocorreu a

indicação como forma de provimento ao cargo. Em relação a essa questão é preciso

considerar que nas escolas maiores houve mais participação da comunidade no

ambiente escolar, visto que durante o processo eleitoral, atingiu-se o quorum mínimo de

comparecimento para homologar o processo de eleição, que “será de maioria simples

Municipal de Ensino ocorreu a escolha de diretores através do processo por nós considerado democrático,

enquanto que nas demais ocorreu a indicação pela Secretaria Municipal de Educação.

Page 16: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

16

dos eleitores cadastrados de cada segmento (50% mais um)”, conforme previsto no

artigo 55 do Decreto nº 3530 de 06/10/2009. Nas escolas onde ocorreu o processo

eleitoral, entendemos que a condução ao cargo aconteceu de forma democrática,

respeitando-se a vontade da maioria dos sujeitos escolares (pais, alunos e funcionários

em geral).

Em relação à condução ao cargo nas escolas de pequeno porte observou-se que

houve menor participação da comunidade durante o processo eleitoral, ocorrendo

anulação do processo eleitoral devido ao não atendimento do quorum mínimo. Nesse

caso o Decreto nº 3530/09 previa indicação pela Secretaria Municipal de Educação

Acerca da eleição como forma de provimento ao cargo, fato que ocorreu em

80% das escolas de grande porte e em 40% das de pequeno porte, Romão e Padilha

(1997, p. 94) afirmam que

baseada na manifestação da vontade da comunidade escolar, a eleição pode

se efetivar de diversas formas: voto direto, representativo, uninominal ou

ainda por escolha através de listas tríplices15

ou plurinominais. As

experiências com esse tipo de escolha têm mostrado que tal critério favorece

a discussão democrática na escola e acaba implicando em maior distribuição

do poder para as instâncias da base da pirâmide estatal.

Concordamos com os referidos autores, pois com escolha direta do diretor

escolar, abre espaço para o exercício da democracia no ambiente escolar e possibilita o

compartilhamento do poder institucional, mesmo que parcialmente, com os vários

segmentos escolares que participam do processo de escolha.

Para Vitor Paro, a escolha de diretores escolares através da eleição contempla

“todas as variações que prevêem a manifestação da vontade das pessoas envolvidas na

vida escolar (educadores, funcionários em geral, alunos, pais e outros membros da

comunidade), seja mediante voto direto, seja por representação, (...)”. (PARO, 2003, p.

14).

A outra possibilidade de provimento ao cargo de diretor escolar, como outrora

afirmamos é a indicação através de nomeação pelo poder público, que, conforme a

pesquisa nos mostrou, ocorreu em 20% das escolas de grande porte e em 60% das de

pequeno porte. Conforme as palavras de Paro (2003, p. 13) “a livre nomeação por

autoridade do Estado, sem outros requisitos que não a vontade do agente que indica, na

hierarquia governamental ou burocrática do próprio Estado, chamarei simplesmente de

nomeação”. No entanto, na Rede Municipal pesquisada a indicação de diretores deve

15 Listas tríplices: “processo em que o pessoal escolar e os usuários escolhem três nomes para que, dentre

eles, o Poder Executivo escolha aquele que ocupará o posto de diretor”. (PARO, 2003, p. 82).

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atender alguns critérios previstos no Decreto nº 3530, de 06/10/2009, isto é, os mesmos

critérios que são estabelecidos para os profissionais que se candidatam ao cargo: estar

lotado e em pleno exercício das atividades profissionais; possuir graduação em

Pedagogia ou outra licenciatura, mas com pós-graduação na área da educação e ter

participado do curso de gestão promovido pela SME, com assiduidade de 100% e

aproveitamento de 80%.

Embora tenham sido observados critérios para a indicação dos diretores é

preciso considerar que esse processo também fica a mercê dos encargos e adesões

próprios dos cargos de confiança em outros setores governamentais, não evidenciando

assim, a veiculação com ações mais democráticas.

Não podemos ser ingênuos e acreditar que a indicação de diretores está isenta

das adesões e/ou conveniências às práticas do órgão governamental. Por isso, a proposta

de eleição constitui-se na melhor alternativa para o provimento ao cargo de diretor

escolar, pois a mesma encontra-se investida de caráter democrático e entendemos que

democratização da escola “deve implicar não apenas o acesso da população a seus

serviços mas também a participação desta na tomada de decisões que dizem respeito a

seus interesses, o que inclui o envolvimento no processo de escolha de seus dirigentes”.

(PARO, 2003, p. 27).

Quando há nomeação/indicação pelo poder público, o diretor fica mais

suscetível às pressões dos agentes hierárquicos, de modo que algumas de suas ações são

influenciadas e influenciam por sua vez, a sua manutenção no cargo, ou seja, para se

manter no cargo, o diretor acaba “cumprindo ordens”, conforme expresso por Dourado

(apud PARO, 2003, p.14)

ao se tomar o diretor como representante do Poder Executivo, fica

imobilizada a abertura de canais legítimos de participação, à medida em que

o diretor prescinde do respaldo da comunidade escolar, trabalhando, pois,

numa situação em si, instrumentalizadora de práticas autoritárias.

Ao passo, que, quando o diretor é eleito, tornando-se, portanto, um legítimo

representante da comunidade, pois salvo ilegalidade no exercício de suas funções,

devidamente comprovada, não existe possibilidade de seu mandato ser interrompido.

Além das questões que objetivavam identificar o perfil dos diretores escolares

buscou-se mapear as principais áreas de atuação do diretor escolar. Como a análise

pautou-se nas respostas dos diretores escolares no instrumento de coleta de dados

observou-se que a maioria dos pesquisados afirmam desempenhar as atribuições de

caráter administrativo, pedagógico, financeiro e político-comunitário.

Page 18: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

18

Obtivemos apenas algumas mínimas variações (média e pouca dedicação) em

algumas atribuições dos eixos: administrativo, pedagógico e político-comunitário. Com

base na coleta de dados, evidenciou-se uma ênfase no aspecto financeiro, demonstrando

uma preocupação com a administração voltada para a eficiência econômica, na qual os

sujeitos “pautam suas concepções e ações pela lógica econômica, pela racionalidade

instrumental e pela produtividade operacional”. (SANDER, 2007, p. 77). Fato esse que,

evidentemente, revela a postura da Secretaria Municipal de Educação: ênfase na

administração financeira das unidades escolares, conforme podemos verificar no Termo

de Posse e compromisso de diretor de unidade da rede municipal de ensino:

São deveres do Compromissário, enquanto Diretor de Unidade da Rede

Municipal de Ensino, os seguintes:

a) levar ao conhecimento de autoridades superiores irregularidades de

que tiver ciência em razão do cargo ou função;

b) zelar pela proteção e conservação dos recursos patrimoniais que

lhe forem confiados;

c) atender prontamente ás convocações da SME quando solicitado;

d) zelar pela documentação de alunos, funcionários e professores, bem

como, da unidade de ensino;

e) guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos de natureza

reservada de que tenha conhecimento em razão da função que exerce;

f) promover e facilitar relações de cooperação entre a SME, a escola e a

comunidade;

g) freqüentar cursos ofertados pela SME para aperfeiçoamento ou

especialização;

h) contribuir para o planejamento contínuo, execução e implementação

da política educacional da SME;

i) zelar pela aplicação correta dos recursos financeiros sobre sua

responsabilidade. (grifos nossos).

Observa-se que o referido documento trata o diretor enquanto “um

representante dos interesses do Estado na instituição, o diretor assume assim o papel de

„preposto‟ do Estado, com a incumbência de zelar por seus interesses (...)”. (PARO,

1993, p. 135).

Em se tratando dos dados obtidos: ênfase na dedicação do diretor escolar em

todos os eixos, sobretudo financeiro, suscitaram dúvidas quanto à veracidade dos fatos,

pois julgamos humanamente impossível priorizar todas as atribuições ao mesmo tempo.

Mais relevante ainda, torna-se essa observação quando os pesquisados declaram assumir

outras funções devido à insuficiência de profissionais para o trabalho da escola.

No aspecto administrativo, as atribuições que foram consideradas prioridade

absoluta foram: gestão de recursos humanos/distribuição de tarefas; discussão com

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19

vistas à resolução de conflitos. Somente as atribuições: organização do tempo/espaço

escolar; organização do calendário escolar”, três diretores assinalaram – “média

dedicação”.

No aspecto pedagógico, as atribuições que não foram priorizadas são: incentivo

ao uso de metodologias diversificadas de trabalho; Criação/implementação de propostas

de inclusão.

No tocante as outras atribuições de cunho pedagógico: construção,

implementação e avaliação do Projeto Político Pedagógico; preocupação com a

aprendizagem dos alunos; preocupação com o rendimento escolar, com a assiduidade;

intervenção em aspectos indisciplinares; contato com pais e responsáveis, as mesmas

foram consideradas prioritárias no rol das atribuições do diretor escolar, evidenciando-

se, portanto, contradição nas ações visto que as ações consideradas não prioritárias são

intimamente articuladas com as prioritárias.

Considera-se que a preocupação com a aprendizagem e o rendimento escolar

necessita do incentivo de metodologias diversificadas, pois no caso contrário, a ênfase

se situa nos resultados e não nos processos. Ao se cobrar resultados sem mencionar

preocupação sobre as formas de alcançá-lo, os diretores distanciam-se das funções

sociais da escola que defendemos em nossa pesquisa.

Assim sendo, podemos afirmar que nesse caso, a administração das escolas

está voltada tanto para a eficiência econômica quanto para a eficácia pedagógica, a qual

“preocupa-se, primordialmente, com a consecução dos objetivos educacionais das

instituições e sistemas de ensino”. (SANDER, 2007, p. 79). Sander (2007) ainda

estabelece um paralelo entre as duas perspectivas de trabalho indicando que os

profissionais ao direcionarem as práticas interventivas segundo critérios de eficácia

pedagógica também “incentivam a eficiência econômica, na medida em que ela

contribuir para a consecução dos objetivos específicos das instituições educacionais”.

(SANDER, 2007, p. 79). Essa afirmativa pode ser constatada nos questionários, pois a

maioria dos diretores que enfatizou os aspectos pedagógicos também o fez em relação

aos aspectos financeiros.

Somente no eixo político-comunitário observou-se certa disparidade entre as

opiniões dos entrevistados. Há que se destacar que a maior divergência centrou-se nos

quesitos: promoção e organização de eventos; participação no Conselho Escolar.

No que se refere à participação no Conselho Escolar, embora 04 diretores

assinalem que participem do referido órgão institucional, há fortes indícios que na rede

Page 20: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

20

municipal de ensino do município pesquisado, não existe nenhum Conselho Escolar

funcionando adequadamente. Porém para confirmarmos essa suposição, julgamos

necessária, uma pesquisa específica com essa temática. Caso essa suposição se

comprove verdadeira, é possível indicar a existência de uma grande lacuna na proposta

de gestão escolar, defendida pela SME, a democrática, pois o Conselho Escolar é um

dos alicerces fundamentais dessa concepção de gestão, uma vez que favorece a

participação da comunidade nas decisões institucionais e também, o compartilhamento

do poder institucional, conforme discutimos anteriormente em nosso estudo.

Ainda, no aspecto político-comunitário, evidenciou-se média ou pouca

dedicação por parte dos diretores escolares, no quesito: promoção e organização de

eventos, restringindo-se apenas a organização de eventos tradicionais: festas juninas;

comemoração do dia dos pais e do dia das mães; comemoração de datas especiais

(Natal, Páscoa, Dia das Crianças, etc.). A nosso ver, a pouca dedicação por parte do

diretor escolar, com o envolvimento com a comunidade, pode ser considerada uma das

causas da falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos, sendo esse um dos

entraves que permeiam o exercício das atribuições do diretor escolar.

Em relação às questões subjetivas a maioria das dificuldades mencionadas no

eixo pedagógico se assemelham às dificuldades apresentadas no eixo administrativo,

pois ficaram circunscritas na gestão de recursos humanos. Os gestores mencionaram a

falta de profissionais (ausência ao trabalho e número reduzido de funcionários) como

empecilhos à ação educativa.

No tocante as dificuldades encontradas na gestão financeira a maioria dos

pesquisados relatou dificuldades na administração dos recursos financeiros provenientes

do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e do Pró-Educação. As dificuldades

mencionadas foram: a tomada de preços e a escassez de verbas.

Gomes (1997, p.18) tratando da administração dos recursos financeiros

assegura que os mesmos exigem do diretor “conhecimento e atenção para seu uso”. O

referido autor adverte que o diretor “não pode deixar de estar atento às datas para

comprar e prestar contas das mesmas (...)” (idem) e principalmente, “planejar sempre os

gastos é uma prática que não pode faltar em uma boa administração”. (GOMES, 1997,

p.19).

Concordamos com o autor acerca da importância do planejamento do uso dos

recursos financeiros, pois devemos zelar pelo bom uso do dinheiro público, isto é, o

diretor deve aplicar com transparência as verbas destinadas à instituição escolar,

Page 21: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

21

pautando suas ações na ética e no compromisso com a qualidade da educação ofertada à

clientela escolar.

No que se refere as dificuldades relacionadas ao eixo político-comunitário, a

maioria dos diretores mencionou a falta de participação e interesse dos pais na vida

escolar dos filhos.

Buscando-se aprofundar os conhecimentos acerca da questão da participação,

enquanto ação política e social, nos reportamos a Vitória (apud Paro, 2003, p. 46-47),

que fala da necessidade da incentivação da participação:

(...) é preciso tornar o processo participativo um ingrediente cotidiano na vida

das pessoas. Por outro lado, não se pode somente esperar que as pessoas

tomem voluntariamente consciência da importância da sua participação; é

necessário forjar mecanismos que promovam a sustentação e a garantia da

continuidade d prática participativa nas unidades de ensino, substituindo as

práticas autoritárias e centralizadoras por uma nova postura compatível com

os princípios e diretrizes de democratização consagrados na legislação. Esses

princípios e diretrizes, por sua vez devem garantir uma escola de qualidade,

cujo pressuposto seja a construção da cidadania como projeto de uma

transformação social.

Em outras palavras, não basta reclamar ou mesmo buscar pseudo-justificativas

quanto à falta de participação da comunidade escolar (principalmente e especialmente

os pais) se, não são criados canais que viabilizem essa participação, isto é, a

participação não brota espontaneamente, não acontece sem estímulos, sem convite, sem

a receptividade/abertura das instituições escolares, pois a participação é um processo de

construção e reconstrução constante.

Nenhum dos pesquisados relatou mecanismos concretos de incentivo à

participação, visto que nenhum profissional menciona qualquer tipo de projeto que seja

desenvolvido na escola e objetive aproximar os pais e a comunidade dos espaços

institucionais, fazendo com que os mesmos, venham a participar da vida escolar.

PARA CONCLUIR...

Este texto teve como propósito inicial oferecer uma contribuição à

compreensão do papel desempenhado pelo diretor escolar nas escolas públicas do

município de Ponta Grossa- Pr. Os dados coletados ajudam a entender que a proposta de

gestão democrática precisa ser entendida como processo inacabado e permeado por

contradições.

Ao adotar a eleição como central para prover os cargos de direção e a indicação

como possibilidade, quando a primeira não se efetiva, a política municipal demonstra

Page 22: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

22

vinculação com a gestão democrática. No entanto, a não efetivação de propostas que

viabilizem a participação caminha no sentido contrário, visto que sem incentivos para a

participação, a população se ausenta da escolha e possibilita que o poder público

indique diretores conforme sua vinculação filosófica, mesmo que estes atendam os

demais critérios previstos na legislação pertinente.

Em se tratando do exercício das atribuições específicas do diretor escolar,

constatou-se que os mesmos desempenham várias funções, contemplando os eixos

administrativo, pedagógico, financeiro e político-comunitário, sendo que a prioridade

das ações centra-se no eixo financeiro, demonstrando uma gestão da educação voltada

para “eficiência econômica”.

No eixo pedagógico, muitas atribuições foram priorizadas: a construção,

implementação e avaliação do Projeto político-pedagógico; a preocupação com a

aprendizagem os alunos, com o rendimento escolar, com a assiduidade; intervenção em

aspectos indisciplinares e o contato com pais e responsáveis. No entanto, atribuições

como o incentivo ao uso de metodologias diversificadas de trabalho e a

criação/implementação de propostas de inclusão, formam relegadas a um segundo

plano, uma vez que os pesquisados relataram média e pouca dedicação a essas

atividades. Em nossa interpretação, esse fato evidencia uma contradição entre discurso e

prática, visto que as ações que não foram consideradas prioridade são justamente ações

que possibilitam alcançar êxito nas ações ditas prioritárias.

As atribuições que compõem o eixo político-comunitário também se

mostraram frágeis, pois a integração ao eixo político-comunitário se constitui um dos

alicerces fundamentais da gestão democrático-participativa e a pesquisa evidenciou

divergências quanto à dedicação a esse eixo de trabalho. Os diretores pesquisados não

demonstraram centralidade na real importância desse espaço para a construção e

fortalecimento da autonomia escolar.

Para a concretização da gestão democrática torna-se fundamental aproximar a

comunidade da instituição escolar, promovendo a participação, desenvolvendo parcerias

e principalmente, compartilhando poderes de modo a fazer com que a população usuária

participe das decisões institucionais, indicando prioridades, a serem contempladas no

PPP, visando sempre, propiciar uma educação de qualidade a todos. No entanto, essa

aproximação também se mostrou fragilizada pela ênfase nos aspectos financeiros e

administrativos.

Page 23: CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR PRESENTES NO

23

Ainda, é preciso entender que se buscamos a participação da família na vida

escolar dos filhos, é preciso criar mecanismos concretos que viabilizem a participação,

como por exemplo, programar projetos que objetivem fomentar a participação da

comunidade escolar.

Portanto, na pesquisa ficou evidenciada a necessidade de criação de estratégias

de trabalho que articulem os eixos pedagógico e político-comunitário de forma a

favorecer a participação familiar na vida institucional, pois um dos mais importantes

papéis do diretor escolar é: assumir a postura de elemento articulador dos vários

segmentos escolares em torno da concretização do PPP. Essa questão mostrou-se frágil

e pouco desenvolvida, uma vez que não foi evidenciado nenhum projeto abarcando

essas questões essenciais da vivência da concepção democrático-participativa, isto é, a

participação e o envolvimento comunitário.

Talvez essa lacuna possa ser parcialmente justificada, uma vez que, muitos

profissionais relataram que a questão da falta de funcionários é um problema grave que

se evidenciou nos grupos pesquisados. A falta de funcionários traz reflexos de caráter

administrativo, pedagógico e até mesmo político-comunitário. Para sanar carências de

pessoal, o diretor acaba assumindo outras funções: pedagogo, regente de sala de aula,

escriturário, ou seja, suas atribuições específicas são deixadas em segundo plano.

Além da postura de articulador, o diretor enquanto educador que possui

funções pedagógicas e sociais precisa, também, assumir uma postura democrática no

exercício diário de suas várias atribuições, permeando suas ações pelo diálogo

horizontal e pelo trabalho coletivo.

Por fim, analisando-se a atuação dos vários diretores escolares pesquisados foi

possível identificar alguns aspectos que permeiam o exercício das atribuições

profissionais. Dentre os aspectos identificados podemos citar: preocupação e

comprometimento com o processo ensino-aprendizagem, com mais ênfase nos

resultados do que no processo como um todo; preocupação com a organização e o

andamento das atividades escolares; e, ainda, a preocupação em relação ao

cumprimento das normas estabelecidas pela Secretaria Municipal de Educação.

Essas preocupações são pertinentes, mas não devem se constituir empecilhos

que limitam as ações do diretor escolar. Em nosso entendimento é preciso reverter

posturas quantitativas e dedicar-se mais ao processo de aprendizagem do que nos

resultados propriamente ditos, pois só assim a meta de ensino de qualidade será

efetivamente alcançada

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24

Deve-se ainda, superar a preocupação demasiada com aspectos

organizacionais, fazendo da escola um organismo vivo, em constante interação com sua

comunidade, ampliando pois, o conceito de educação e escola, na perspectiva que a

“escola vai além muros” e por fim, é necessário desvincular-se da preocupação

excessiva com as normas estabelecidas pela Secretaria de Educação, desenvolvendo a

autonomia escolar, fortalecendo-se enquanto instituição educativa, fundada em bases

democráticas e dessa forma, permeada pelo trabalho coletivo, pelo diálogo, pela

criatividade e pela autonomia.

Em outras palavras, a concepção democrática precisa ser fortalecida nas

unidades de ensino da rede municipal de forma a possibilitar o avanço qualitativo no

campo educacional. Esse fortalecimento se constitui no primeiro passo para a

construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Ao concluir o presente texto, oriundo da pesquisa relatada, consideramos que

chegamos a um produto provisório sobre a atuação do diretor escolar. Nesse sentido

consideramos que o produto do conhecimento elaborado, enquanto processo, sempre é

provisório e, assim sendo, devem alimentar novos processos de investigação...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAPTISTA, D. M. T. O debate sobre o uso das técnicas qualitativas e quantitativas de

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