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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “AVEZ DO MESTRE”
Conceitos e Preconceitos acerca da Adoção
Vanessa Senna Guingo
Orientador: Fabiane Muniz
Rio de Janeiro 2002
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “AVEZ DO MESTRE”
Conceitos e Preconceitos acerca da Adoção.
Vanessa Senna Guingo
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Psicologia Jurídica, com ênfase em família, criança e adolescente.
Rio de Janeiro
2002
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Ao Bruno, que é de extrema importância em minha vida por ser meu amigo,
meu marido, e quase um pai, pois sempre esteve a meu lado torcendo por minhas
vitórias e me ajudando a alcançá-las.
Aos meus pais, irmãs e amigos que sempre estiveram torcendo por mim.
iv
Agradecimentos
Aos Professores do curso pelos conhecimentos que me foram transmitidos, e
principalmente, pela paciência que tiveram durante todo o desenvolvimento deste
trabalho de pesquisa.
Ao autor Fernando Freire por ter dispensado a mim seu tempo e sua atenção
e por ter me cedido suas obras para que fossem consultadas.
Aos meus pais, que desde o início de meus estudos sempre me ajudaram no
que foi preciso e nunca mediram esforços para que eu pudesse atingir minhas metas.
Ao Bruno, que me proporcionou a oportunidade de poder realizar este curso
e pelo amor e carinho dedicados todo o tempo.
v
Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 6
1. A ADOÇÃO NO CONTEXTO HISTÓRICO .............................................................. 9
2. A ADOÇÃO NA RELIGIÃO, MITOLOGIA, TRAGÉDIA GREGA E LITERATURA
INFANTIL ...................................................................................................................... 10
3. A ADOÇÃO E A LEI ................................................................................................ 12
4. ADOÇÃO COMO UM MITO ................................................................................... 15
5. ADOÇÃO: O EXERCÍCIO PARA VENCER O PRECONCEITO ........................... 17
6. FAMÍLIAS ADOTIVAS E CULTURA DOS “LAÇOS DE SANGUE” ..................... 20
7. A REALIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................ 22
7.1 OBJETIVO:..............................................................................................................22
7.2 HIPÓTESE:..............................................................................................................22
7.3 MÉTODO EMPREGADO.............................................................................................22
7.3.1 Sujeitos........................................................................................................... 22
7.3.2 Material.......................................................................................................... 22
7.3.3 Cronograma ................................................................................................... 23
7.4 DESENVOLVIMENTO ...............................................................................................23
7.4.1 Dados colhidos ............................................................................................... 23
7.5 RESULTADO DA PESQUISA REALIZADA.....................................................................33
8. CONCLUSÃO........................................................................................................... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 38
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Introdução
Sempre existiu e provavelmente sempre existirá, mães que por razões
próprias abandonam ou entregam seus filhos a pessoas que se propõem a criá-las pelo
desejo de ter filhos ou até mesmo a pessoas que não podem e não têm o desejo de criá-
las. Dentre as pessoas que têm o desejo de ter filhos, uma parte significativa não pode tê-
los biologicamente, e, dentre todas as crianças, existem muitas que ficam sem pais
naturais. Dessa forma, por existirem essas diversas situações que necessitam de solução,
a organização social das mais diversas culturas encontrou maneiras de implementar
outros tipos de relações familiares que não as biológicas. O objetivo principal desta
medida deve ser o de proteger a criança. No passado, a adoção tinha o objetivo de suprir
a necessidade de casais inférteis, não como sendo um meio de dar uma família para
crianças abandonadas. Esse tipo de adoção é tido como “adoção clássica” e é esse tipo
de adoção que ainda predomina no Brasil em detrimento da chamada “adoção moderna”,
cujo objetivo é garantir o direito a toda criança de crescer e ser educada em uma família.
O conceito de adoção ao longo do tempo e da história vem se modificando
tanto no meio legal quanto de maneira informal. As diferenças jurídicas da adoção
apresentam diferenças com “gerar laços de paternidade, “criar laços de filiação”, receber
um estranho como filho, permitir que um estranho tenha o mesmo nível de filiação de
um filho biológico”, entre outras. ´
Para Marmitt (1993, p.7) a adoção é:
“Um ato jurídico bilateral, solene, e complexo. Através dela cria-se
relações análogas aquelas decorrentes da filiação legítima, um status
semelhante ou igual à entre filhos biológicos e adotivo. Os laços de
filiação e de paternidade são estabelecidos pela vontade dos
particulares, das pessoas entre as quais esta relação inexiste
naturalmente. Não se trata de mero contrato, mas de um ato jurídico,
de um ato-condição, que transforma a situação do adotado,
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tornando-o filho de quem não é seu pai, com toda a garantia de
direitos e deveres que tal ato gera, e cujos efeitos decorem da lei, não
das partes, que não poderão alterá-los. Pelo relevante conteúdo
humano e social que encerra, a adoção, muitas vezes, é um
verdadeiro ato de amor. Além do seu caráter acentuadamente
humanitário, a adoção também faz florescer os sentimentos sublimes
da generosidade, da afeição e da benemerência, eis que veste alguém
com o estado de filho com todas as vantagens decorrentes”.
Segundo Robert (1989, p. 25), adoção é:
“A criação jurídica de um laço de filiação entre duas pessoas”.
No Brasil, é bastante conhecido o sistema de “adoção” que foge a esfera
jurídica, é chamada “adoção à brasileira”, que ocorre quando uma pessoa registra como
seu filho legítimo uma criança nascida de outra mulher. Robert (op. cit.) também
enfatiza que a adoção é uma realidade biológica e, ao mesmo tempo, uma realidade
social, que está marcada pelo sobrenome. O sobre nome é a indicação e o
reconhecimento social de que pertencemos a uma família. O nome é dado, mas o
sobrenome é transmitido. Da mesma forma, a adoção está inserida numa realidade
psicológica e afetiva: a filiação significa pertencer a uma história, a um passado, ligar-
se por raízes a uma criança. Para os pais, a adoção significa ter um filho.
As definições de adoção são quase sempre jurídicas. Granado (1996, p.5)
ressalta que esses conceitos são adequados à concepção de adoção do Código Civil e leis
posteriores que regulam esse instituto. A adoção, no Estatuto da Criança e do
Adolescente, tem maior abrangência, indicadora de finalidades voltada para os interesses
do adotando. Juridicamente alguns a consideram contrato, outros ato solene, ou então
filiação criada pela lei, ou ainda instituto de ordem pública.
No Brasil a adoção do ponto de vista da Psicologia ainda é deficiente, mas
de qualquer forma, a adoção é uma forma complexa de constituir uma família Desse
modo, veremos de que forma todas as pessoas envolvidas no processo de adoção reagem
psicologicamente, pois a adoção é uma forma de colocação em família substituta que
reflete um padrão comportamental que poderá desencadear uma série de problemas
emocionais.
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É certo de que no decorrer da História sempre houve crianças abandonadas,
órfãs, maltratadas, famílias que abandonam ou abusam de crianças, mas por outro lado,
sempre existirão pessoas (e instituições) interessadas em acolher, de uma forma ou de
outra, estas crianças abandonadas à própria sorte.
Diversas culturas vêm ao longo do tempo modificando suas posturas diante à
adoção que está diretamente relacionada ao contexto sócio-político, econômico e
religioso, no entanto, os estereótipos e preconceitos ainda vigem, que de uma forma ou
de outra é prejudicial para a relação humana. Assim, para nos livrarmos deles é preciso
esclarecer os fatos corretamente, divulgar e debater com a sociedade.
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1. A ADOÇÃO NO CONTEXTO HISTÓRICO
A prática da adoção sempre existiu nos países de direito romano que
estabeleceram suas bases legais na idéia de filiação conferida por um certificado aos pais
adotivos, que anulava a filiação biológica e garantia, através do adotado, a transmissão
do nome de família. Entende-se neste caso a adoção como o direito concedido às
famílias nobres de garantirem uma descendência onde as noções de linhagem e
patrimônio são predominantes na manutenção das dinastias pela transmissão de títulos
nobiliárquicos. Tal procedimento, que visava exclusivamente atender aos interesses do
adotante, foi uma tendência que se manteve.
Foi desta forma que alinha imperial que parte de Otávio, o “Augusto”,
adotado por Júlio César, reinou por mais de um século no império romano através de
seus descendentes adotivos.
Assim, também, Napoleão Bonaparte, cuja esposa Josefina havia se tornado
estéril, procurou garantir, através do Código Civil, todos os direitos aos filhos adotivos,
inclusive os de sucessão. Mas a lei era bastante restritiva, uma vez que só permitia a
adoção de pessoas maiores, isto é, pessoas acima de vinte e três anos, que era a idade
fixada, naquela época, para a maioridade. Outras adoções eram feitas, então, através de
contratos amigáveis entre as famílias naturais e adotivas.
Já os países de direito anglo-saxão passaram a usar adoção legal, após a
Primeira Grande Guerra, a fim de proverem de pais os numerosos órfãos da mesma,
julgados pela sociedade como filhos de heróis.
No Brasil, a prática denominada "adoção à brasileira” poderia se constituir
num importante elo do encadeamento histórico da adoção pela força, persistência e peso
numérico que representa.
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2. A ADOÇÃO NA RELIGIÃO, MITOLOGIA, TRAGÉDIA GREGA E
LITERATURA INFANTIL
A qualidade de adotado é encontrada em muitos dos principais heróis, tanto
na religião como na tragédia e mitologia greco-romana, ou, ainda, na literatura infantil.
Moisés, o “filho das águas”, escolhido por Deus para libertar o povo hebreu,
adotado pela filha do faraó, foi criado como membro da corte egípcia. Tal condição de
membro da corte, adquirida através da adoção, facilitou sua missão de retirar os escravos
hebreus do Egito rumo à “terra prometida” (Êxodo). Assumia, assim, e definitivamente,
sua identidade hebraica.
Hércules (ou Herácles), filho de Zeus (Júpiter) com Alcmena foi abandonado
por sua mãe, temente dos ciúmes de Hera, esposa de Zeus. Este, tentando dar à união
com Alcmena o signo da legitimidade, fez o menino dar à união com Alcmena o signo
da legitimidade, fez o menino sugar o leite imortal da esposa Hera, do qual Hércules
obtém a força que lhe permite realizar os doze trabalhos (Brandão, 1987).
Os gêmeos abandonados Rômulo e Remo, fundadores de Roma, segundo o
mito (Commelin, 1967), depois de abandonados no Tigre, foram amamentados por uma
loba e, posteriormente, criados por pastores.
Através de Sócrates, a tragédia grega apresenta a história do mais célebre
abandonado-adotado estudado na psicanálise. Falo de Édipo, que em função das
implicações sofridas na busca de sua origem, mereceu uma leitura estruturada de Freud
acerca da tragédia incestuosa vivida pelo personagem (Brandão, 1987).
O herói “Super-homem”, da literatura infantil e com ampla difusão no
cinema e televisão, foi abandonado pelos pais biológicos, que desejavam salva- lo da
destruição cósmica que seu planeta, Kripton, que estava prestes a sofrer. Enviado ao
planeta Terra, ele é encontrado por um casal estéril, que o adota. À medida que se
desenvolve, destaca-se pela força física e pelo dom de voar. Na adolescência perde o pai
adotivo e retorna às suas origens, recebendo mensagens e determinações de seu planeta.
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Passa a viver, então, com dupla identidade: o confuso o tímido Clark e o herói Super-
homem que combate na defesa dos humanos em perigo.
Também nos desenhos animados, principalmente, nas produções de Walt
Disney, encontramos personagens que, uma vez perdendo seus pais, encontram em
figuras bem diferentes de si, o cuidado e o apoio necessário para se desenvolverem em
família, como o rei Leão, que adotado por um rato do deserto, Timão, e um porco
selvagem, Pumba, pôde desenvolver plenamente as suas potencialidades.
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3. A ADOÇÃO E A LEI
No Brasil, a adoção existiu, principalmente, marginal aos processos legais e
escapando às estatísticas. Segundo Costa (1988), a prática, denominada de “Adoção à
brasileira”, ocorria em 90% das adoções que se concretizavam no país até 1988, ou seja:
pessoas de qualquer estado civil registravam como próprias, legítimas, filhos de outros.
Os argumentos para tal prática estavam, geralmente, apoiadas no excesso de burocracia
imposto pela legislação vigente até 1989.
No país a adoção entrou para a nossa legislação com as mesmas
características do direito português, que, por sua vez, inspirava-se no Direito Romano.
No Art. 217 da “consolidação” do Código Civil de 1917, é abordado o tema adoção da
seguinte forma: aos juízes de primeira instância compete conceder cartas de legitimação
aos filhos sacrílegos, adulterinos e incestuosos e confirmar as adoções procedendo às
necessárias informações e audiências dos interessados, havendo-os.
Já o Art. 368 estabelecia que: “só os maiores de cinqüenta anos, sem prole
legítima ou legitimada” poderiam adotar. O artigo seguinte, que estipula uma diferença
de dezoito anos entre o adotado e o adotante, leva-nos a concluir que poderiam ser
adotadas, pelo Código Civil de 1917, pessoas maiores de trinta e dois anos.
Os dispositivos da lei de 1957 que alterava o Código Civil trouxeram
abrandamentos na lei, eliminando a exigência da ausência de prole legítima por parte do
adotante, diminuindo de cinqüenta para trinta anos e de dezoito para dezesseis a idade
mínima do adotante e a diferença de idade entre esse e o adotado, respectivamente.
Passou a exigir o consentimento explícito do adotado maior ou do seu representante
legal, caso fosse o mesmo menor ou incapaz. Estabeleceu, por outro lado, que os casais
só poderiam adotar após cinco anos de casamento.
Outros avanços no instituto da adoção ocorreram na Lei 4.655, de junho de
1965, com a criação da legitimação adotiva. Destacam-se, dentre eles, a possibilidade de
se permitir à legitimação adotiva de crianças maiores de sete anos que já estivessem sob
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a guarda dos adotantes, antes de completarem essa idade; a dispensa do prazo de cinco
anos de casamento, desde que provada, por perícia médica, a esterilidade de um dos
cônjuges; a irrevogabilidade da legitimação; o rompimento da relação de parentesco com
a família de origem e o direito de modificação do prenome e do uso do nome da família
adotiva. Por outro lado, esta lei excluía o legitimado adotivo do direito à sucessão, caso
viesse a concorrer com o filho legítimo já havido antes da adoção.
Com o Código de Menores (Lei n. 6.697/1979), foi introduzida a adoção
plena em substituição à legitimação adotiva, expressamente revogada, admitindo,
também, a adoção simples, regulada pelo Código Civil. O Código de menores era
destinado à proteção dos menores de até dezoito anos que se encontrassem em “situação
irregular”. Sob esse mesmo rótulo foram agrupados, crianças e adolescentes,
desprovidos de meios para satisfação de suas necessidades básicas (carentes), privados
de qualquer tipo de assistência familiar (abandonados) e em conflito com a lei em razão
de cometimento de delito (infratores).
A Lei que disciplina a adoção de crianças e de adolescentes é a Lei 8.069/90
promulgada em 13 de julho de 1990 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. A
concepção que sustenta o ECA é a Doutrina de Proteção Integral, defendida pela ONU
com base na Declaração Universal dos Direitos da Criança, que afirma o valor intrínseco
da criança como ser humano.
A elaboração da lei foi coordenada pelo Fórum Nacional de Entidades Não
Governamentais de Defesa das Crianças e adolescentes.
As mudanças introduzidas pelo ECA colocam a sociedade brasileira diante
de um novo paradigma em relação à ótica e aos modos de ação quando se trata de
Infância e Juventude. A Constituição, tanto como o Estatuto, traz avanços fundamentais
quando passa a considerar a criança e o adolescente sujeitos de direito, pessoas em
condições peculiares de desenvolvimento, e de prioridade absoluta. Isto significa que já
não poderão mais ser tratados como objetos passivos da intervenção da família, da
comunidade e do Estado, adquiriram direitos especiais em virtude de: ainda não terem
acesso ao conhecimento pleno de seus direitos e nem possuírem condições de defende-
lo, não contarem com meios para a satisfação de suas necessidades básicas e estarem em
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pleno desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e sociocultural, que lhes faculta a
primazia no recebimento de proteção e socorro em qualquer circunstância.
Como exemplo de facilitação introduzida pelo ECA, o Art. 42 estabelece que
qualquer pessoa maior de 21 anos, independente de estado civil, pode adotar, tendo
como restrição apenas a diferença mínima de 16 anos entre o adotante e o adotado e o
grau de parentesco (não podem adotar irmãos e avós do adotante). Deve o postulante,
porém, submeter-se a um parecer técnico e/ ou o do juiz, que deferirá o seu pedido de
candidatura para a adoção de uma criança ou adolescente. Está previsto, também, um
trabalho sistemático de preparação e acompanhamento por técnicos que orientem a
criança e família em todo o processo de adoção.
Mesmo que o Ministério Público e a Magistratura estejam se reorientando
nesse sentido, observa-se a carência no meio científico de um trabalho mais
sistematizado de acompanhamento das mães/famílias que abandonam seus filhos,
crianças abandonadas e das famílias ou indivíduos postulantes à adoção.
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4. ADOÇÃO COMO UM MITO
Existem famílias que querem adotar crianças e existem crianças sem família,
sendo inúmeras abandonadas por seus pais quando nascem, e por isso são encaminhadas
a Instituições que as abrigam. Nessas instituições as crianças deveriam ficar até que
pudessem ir para uma família substituta, ou seja, em caráter provisório.
No entanto, essas crianças infelizmente crescem e se desenvolvem sem
conhecer o que é uma família. Isso acontece não porque não existam famílias que as
queiram, mas por não estarem “juridicamente” em condições de serem adotadas.
O que seria? “Ter condições de serem adotadas?” São crianças sem vínculo
familiar. Quando abandonadas, não se tem o nome dos pais e seus endereços ou quando
se tem, não são encontrados. O caminho jurídico para se desvincular uma criança desta
família fantasma é a Ação de Destituição do Pátrio Poder. O Ministério Público tem
legitimidade para propô-la independentemente de uma ação de adoção, para que desta
forma, aí já em condições de adoção, estas crianças possam ser apresentadas às famílias
interessadas. Ocorre que, na prática, esta ação é pouco ajuizada levando as famílias a
uma espera maior pelo fim da Ação de Adoção (adoção e destituição do pátrio poder
podem ser pedidos cumulativamente na mesma Ação) e a maior insegurança com
relação ao resultado. Muitas vezes as crianças já vão para as casas dos adotantes,
provisoriamente (guarda provisória), até que se tenha uma decisão definitiva.
Dentre os elementos dificultadores estão o déficit de promotores e juízes
para muitos processos; receio de quebrar o vínculo familiar destas crianças ainda que
saiba que foram abandonadas e negligenciadas e muitas vezes até maltratadas;
advogados pouco capacitados nesta área e descrença na família substituta. Essas
dificuldades levam as famílias ao desestímulo e muitas vezes às vias obscura para
“terem” um filho.
Existem verdadeiras razões pelas quais famílias não querem adotar. Muitos
abordam a questão sob a ótica das dificuldades da relação adotante e adotado, outros
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ainda, para justificarem a inoperância da Justiça, alegam que as famílias só querem
crianças recém-nascidas, brancas e de olhos azuis. Essa teoria não se adequa uma vez
que, quantas famílias desprovidas de qualquer tipo de vaidade, procuram os Juizados da
Infância com o intuito de adotar? Quantas ainda gostariam de fazê- lo e só não fazem por
medo da Justiça?
Deve acabar o mito de que são as famílias, que em razão de suas exigências
e temores, inviabilizam a adoção. E na realidade o que inviabiliza a adoção é o processo.
O reconhecimento do verdadeiro motivo é necessário ser reconhecido para
que se busque a solução mais concreta.
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5. ADOÇÃO: O EXERCÍCIO PARA VENCER O PRECONCEITO
Preconceito é um conceito formado antecipadamente e sem fundamento
razoável; uma opinião formada sem reflexão, sem base; é uma idéia que não leva em
conta os fatos, mas o que se “diz sobre ele”. O preconceito se desenvolve a partir das
influências que experiências passadas generalizadas têm sobre os indivíduos. A
sociedade cria preconceitos sobre aqueles que são estigmatizados, exclui os diferentes
como uma maneira de tentar garantir a sua própria normalidade.
Em nosso dia-a-dia costumamos utilizar muitas expressões e termos que
denotam preconceito sem que tenhamos plena consciência deles. Assim como as
novelas, a mídia, as propagandas estão repletas de chavões preconceituosos, muitas
vezes mascarados em sátiras e situações engraçadas, mas que servem simplesmente para
manter um determinado status que um segmento social acha recomendável. Rimos da
mocinha “loira e burra” de determinado programa de televisão e não percebemos o
quanto isto é estereotipado e preconceituoso. Há algum tempo, em um programa de TV,
um pai falou algo assim para seu filho: “E se você não passar no vestibular você não vai
ganhar carro, vou cortar sua mesada, vai ficar de castigo e ainda vou contar para todo
mundo que você é filho adotivo!”. Uma pena! Valeria uma proposta de conscientização
dos redatores de televisão, revistas, pois temos a todo o momento expressões que
denotam preconceito racial, religiosos, étnicos, sociais, estéticos e muitos outros. É
preciso parar para refletir um pouco.
Em maior ou menor grau todas as pessoas têm algum tipo de preconceito.
Alguém “diferente” pode ser alguém de outra cor, de outra raça, de outra religião, com
muito peso, ou pouco peso, muito bonito, ou pouco bonito, muito alto, muito baixo,
enfim, vemos sempre a relatividade dessa questão: nós sempre achamos que “outro” é
diferente tomando a nós mesmos como base. De um ponto de vista existencialistas.
Sartre nos diz que “o inferno, são os outros”, e é isso que percebemos quando vemos que
a justificativa das pessoas em não aceitar crianças de cor diferente da sua em adoção é
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que, embora eles não sejam absolutamente preconceituosos, a “sociedade” e “os outros”
o são, e a criança sofreria futuramente com a discriminação racial. Na verdade, esse
preconceito, consciente ou não, tem por base o medo que temos do diferente, daquele
que não é igual a nós, do outro que não reflete a nossa imagem como gostaríamos. “O
que buscamos em nossas relações com as pessoas é uma espécie de projeção especular
da nossa própria identidade. Buscamos um olhar que possa desenvolver-nos a nossa
própria imagem que lhe depositamos. O outro deve assumir um papel de alguém que
possa confirmar o nosso desejo”. Não é tarefa simples alguém admitir seus próprios
preconceitos, pois no fundo sabemos que preconceitos são limites. Dessa forma, é mais
fácil dizer que “os outros é que são preconceituosos”, mas, na verdade, quando
delegamos a responsabilidade para “os outros”, esquecemos que eles acabam revelando
um lado sem dúvida, pela nossa capacidade de tomar consciência das coisas que nos
controlam, das coisas de que temos medo, das coisas que ignoramos que não
conhecemos. Quanto maior a nossa consciência do que controla o nosso comportamento,
ou seja, das razões para agirmos desta ou daquela forma, maior a nossa possibilidade em
mudar o mundo, mudar nosso comportamento, e ser livres!
À adoção criada pelos romanos foi instituída como instrumento de poder
familiar e tinha três objetivos principais: escolher um sucessor; permitir a ascensão de
um indivíduo a um status superior e dar descendentes a quem não os tinham. Não existia
nessa época nenhuma discussão sobre “a proteção da criança”; ao contrário, até o século
IV d.C. a família estava sob autoridade do pai que tinha direito de vida e morte de seus
filhos. Na Idade Média, com a influência do Cristianismo, a Igreja criou as famosas
Rodas dos Enjeitados, as quais serviam para o abandono anônimo de bebês e,
conseqüentemente nessa época, pois a própria Igreja não via com bons olhos a adoção,
uma vez que esta poderia ter o objetivo de regularizar filhos oriundos do adultério.
Na Era Moderna, foi Napoleão quem procurou legalizar a adoção. Mas, através
de uma análise das leis, percebem-se claramente o preconceito e o valor inigualável dos
“laços de sangue”. O próprio Napoleão disse que à adoção era “uma imitação, através da
qual a sociedade quer plagiar a natureza”. Esta frase acaba aparecendo em inúmeros
tratados jurídicos sobre o tema, denotando o preconceito de que se é uma imitação, então
não é verdadeiro.
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As leis, em seu início, sempre privilegiaram os filhos biológicos em detrimento
dos adotivos. A discriminação era clara. Nas leis brasileiras, somente com o Estatuto da
Criança e do Adolescente, de 1990, desapareceu qualquer tipo de discriminação entre
filhos adotivos e filhos biológicos. A partir desse Estatuto passou a existir somente um
tipo de adoção, à adoção plena, a qual é irrevogável e torna a criança filho legítimo dos
pais adotivos, com todos os seus direitos e deveres.
Por outro lado, existem sociedades e culturas em que o sistema de adoção de
crianças faz parte do dia-a-dia com muita freqüência e também é possível aprender com
suas práticas.
No Brasil até pouquíssimo tempo não existiam pesquisas científicas sobre
adoção, e isto contribuiu para a generalização de casos dramáticos e a formação de
preconceitos e estereótipos. No entanto, o rumo e a rapidez que este tema tem tomado,
tanto em pesquisas quanto na prática a partir de poucos anos atrás, também são um
fenômeno e mostra que o seu desenvolvimento está no caminho certo!
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6. FAMÍLIAS ADOTIVAS E CULTURA DOS “LAÇOS DE SANGUE”
No Brasil cultua-se um forte sentimento que prioriza e valoriza em demasia
os laços de sangue e a “parecença” dos filhos com seus pais. No dia-a-dia é comum nos
depararmos com situações em que um filho não se parece em nada com os genitores,
mas as pessoas fazem questão de “ver” as semelhanças e enfatizar a força dos genes. Se
não estiverem preparados para lidar com esta questão, tanto pessoal quanto em relação
aos outros, os pais adotivos também poderão sofrer com a não-semelhança dos seus
filhos adotivos. Afinal, os filhos trazem junto à questão de nós mesmos, da nossa
perpetuação, da ilusão da não-finitude.
Paralelamente a isso e sob a mesma origem, situam-se as questões dos traços
hereditários. Essa questão do “herdeiro versus ambiente” ainda não está resolvida para a
ciência e os investimentos neste tipo de estudo têm sido muito grandes. Há alguns anos,
o famoso Projeto Genoma tenta mapear os genes humanos e correlacioná- lo com
comportamentos. Mesmo quando esta tarefa estiver concluída, será muito difícil
determinar com certeza o quanto de um traço de personalidade é fruto da genética e em
que proporções. Na verdade, tentar atribuir certas características comportamentais aos
genes às vezes é muito cômodo, porque nos livra da responsabilidade de ter construído
ou contribuído para tal comportamento. É mais fácil você dizer que seu filho “herdou o
gênio” do avô do que assumir que você também é responsável por todo esse
comportamento de birra que ele apresenta freqüentemente. Nas famílias adotivas, se o
comportamento da criança está “de acordo” com o que os pais adotivos esperam, eles
acabam creditando o sucesso à sua educação; mas se algo não vai bem, muitas vezes, e
até de maneira não consciente, colocam a responsabilidade nos genes do “outro”, no
“sangue ruim” que esta criança pode ter trazido.
Na verdade, sempre existe o temor de uma carga genética desconhecida,
tanto em famílias adotivas quanto em biológicas... Há diferentes interpretações sobre
estes medos, sendo que as mais importantes remetem ou a um “biologismo” ou a um
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“psicologismo”. O “biologismo” pode ser caracterizado pela crença de que serão
geneticamente herdadas taras morais – ancoradas em representações que as associam à
condição de classe de parentes “biológicos”(Costa, 1988). E pode-se considerar como
um “psicologismo” a ênfase dada à rejeição materna inicial como geradora de filhos
adotivos “rebeldes”, “frustrados” ou “ingratos”. Esta última interpretação tende a
acentuar a importância do fator ambiental, gerando uma “negação da hereditariedade”.
A cultura dos “laços de sangue” é tão presente que faz com que as pessoas
acreditem que estes laços são “fortes” e “duráveis” porque eles são “naturais” e
“verdadeiros”. Toda essa supervalorização da consangüinidade traz como conseqüência
um linguajar também preconceituoso.
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7. A REALIZAÇÃO DA PESQUISA
7.1 Objetivo:
A pesquisa que foi realizada teve como objetivo verificar se a sociedade
petropolitana possui uma visão que cerca à adoção de opiniões formadas sem reflexão e
fundamento, ou seja, de idéias preconceituosas e estereotipadas.
7.2 Hipótese:
Há preconceito quanto à adoção na sociedade petropolitana.
7.3 Método empregado
7.3.1 Sujeitos
Foram sujeitos 30 (trinta) pessoas de ambos os sexos, maiores de 21 (vinte e
um) anos, escolhidos de maneira a representar aproximadamente o perfil da sociedade
petropolitana. Os sujeitos foram distribuídos em sexo, idade, estado civil, cor,
escolaridade, faixa salarial e religião.
7.3.2 Material
Foi elaborado um questionário com 20 questões objetivas.
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7.3.3 Cronograma
Foi estabelecido o prazo de 03 (três) meses para o levantamento dos
formulários de pesquisa, sua avaliação e conclusão.
7.4 Desenvolvimento
7.4.1 Dados colhidos
Quadro 1: Características gerais da amostra da sociedade petropolitana. (Out
2002)
Sujeito Sexo Idade Est Civ Cor Escolaridade Fx Sal Religião
1 M 25 S B 2º AT3 CAT
2 M 33 C B 3º AC10 CAT
3 F 48 C B 2º AT10 ESP
4 F 43 C B 1º AT3 ESP
5 F 21 S B 2º AT3 ESP
6 F 24 S N 2º AT3 CAT
7 M 28 S B 3º AT10 CAT
8 F 35 C B 1º AT3 EVG
9 M 32 S N 2º AT3 CAT
10 M 41 S N 2º AT10 CAT
11 F 45 C P 2º AT3 EVG
12 F 54 C P 1º AT3 EVG
13 F 60 C B 1º AT3 EVG
14 F 21 S B 2º AT3 CAT
15 F 60 C N 1º AT3 OUT
24
Sujeito Sexo Idade Est Civ Cor Escolaridade Fx Sal Religião
16 F 53 C P 2º AT3 EVG
17 F 52 C B 1º AT3 OUT
18 M 48 C B 1º AT3 CAT
19 M 50 C N 1º AT3 CAT
20 M 51 C P 1º AT3 CAT
21 F 29 C B 2º AT10 CAT
22 F 33 C B 3º AC10 CAT
23 M 37 C B 3º AC10 ESP
24 M 60 C P 2º AT10 CAT
25 M 51 C N 1º AT3 CAT
26 F 42 C N 1º AT3 EVG
27 F 32 S P 2º AT10 EVG
28 F 54 C B 1º AT3 CAT
29 F 36 C B 2º AT10 CAT
30 F 22 S N 2º AT3 OUT
Legenda: M: Masculino F: Feminino C: Casado S: Solteiro B: Branco N: Negro P: Pardo 1º: 1ºGrau 2º: 2ºGrau 3º: 3ºGrau AT3: até 3 salários mínimos AT10: até 10 salários mínimos AC10: acima de 10 salários mínimos CAT: Católico EVG: Evangélico ESP: Espírita OUT: Outras
25
OBS: Dados coletados através de entrevistas com pessoas da sociedade
petropolitana.
Quadro 2: Sexo das pessoas da sociedade petropolitana. (Out 2002)
Sexo Fi %
M 11 36.67
F 19 63.33
Total 30 100.00
Quadro 3: Idade das pessoas da sociedade petropolitana. (Out 2002)
Faixa Inicial Final Fi Fr % Pt Médio (xi) Fac
1 21 30 7 0.23 23.33 25.50 7
2 30 40 7 0.23 23.33 35.00 14
3 40 50 7 0.23 23.33 45.00 21
4 50 60 9 0.30 30.00 55.00 30
Total 30 1.00 100.00
Gráfico 1: Sexo da Amostra
37%
63%
M
F
26
Gráfico 2: Histograma da Faixa Etária
2131
4151
3040
5060
7 7 7 9
0102030405060
1 2 3 4
Faixa Etária InicialFaixa Etária FinalFreqüência
Quadro 4: Estado civil das pessoas da sociedade petropolitana. (Out 2002)
Est Civ Fi %
C 21 70.00
S 9 30.00
Total 30 100.00
Gráfico 3: Estado Civil da Amostra
21
9
C
S
Quadro 5: Cor das pessoas da sociedade petropolitana. (Out 2002)
Cor Fi %
N 8 26.67
P 6 20.00
B 16 53.33
Total 30 100.00
27
Gráfico 4: Cor da Amostra
8
6
16N
P
B
Quadro 6: Escolaridade das pessoas da sociedade petropolitana. (Out 2002)
Escolaridade Fi %
1º 12 40.00
2º 14 46.67
3º 4 13.33
Total 30 100.00
Gráfico 5: Escolaridade da Amostra
12
14
4
1º
2º
3º
Quadro 7: Faixa Salarial das pessoas da sociedade petropolitana. (Out 2002)
Fx Sal Fi %
AT3 20 66.67
AT10 7 23.33
AC10 3 10.00
Total 30 100.00
28
Gráfico 6: Faixa Salarial da Amostra
20
7
3
AT3
AT10
AC10
Quadro 8: Religião das pessoas da sociedade petropolitana. (Out 2002)
Religião Fi %
CAT 16 53.33
EVG 7 23.33
ESP 4 13.34
OUT 3 10.00
Total 30 100.00
Gráfico 7: Religião da Amostra
16
7
4
3
CAT
EVG
ESP
OUT
Quadro 9: Resposta da pergunta 1 – Questionário. (Out 2002)
Resp1 Fi %
Sim 26 86.67
Não 4 13.33
Total 30 100.00
29
Você Adotaria uma criança
87%
13%
SimNão
Quadro 10: Resposta da pergunta 2 – Questionário. (Out 2002)
Resp2 Fi %
At1 20 66.67
At5 5 16.67
Ac5 5 16.67
Total 30 100.00
Até que idade você acha possível adotar uma crinça
66%
17%
17%At1At5Ac5
Quadro 11: Resposta da pergunta 3 – Questionário. (Out 2002)
Resp1 Fi %
Sim 8 26.67
Não 22 73.33
Total 30 100.00
30
Você Adotaria uma criança que tenha cor de pele diferente da sua
27%
73%
SimNão
Quadro 12: Resposta da pergunta 4 – Questionário. (Out 2002)
Resp4 Fi %
Sim 10 33.33
Não 20 66.67
Total 30 100.00
Você Adotaria uma criança que viveu muito tempo em orfanato
33%
67%
SimNão
Quadro 13: Resposta da pergunta 5 – Questionário. (Out 2002)
Resp5 Fi %
Sim 16 53.33
Não 14 46.67
Total 30 100.00
31
Você acredita que quem possui filhos naturais não precisa adotar
uma criança
53%47%
SimNão
Quadro 14: Resposta da pergunta 6 – Questionário. (Out 2002)
Resp6 Fi %
Sim 17 56.67
Não 13 43.33
Total 30 100.00
Você acha que a criança adotada sempre vai sofrer preconceito
57%
43%SimNão
Quadro 15: Resposta da pergunta 7 – Questionário. (Out 2002)
Resp7 Fi %
Sim 8 26.67
Não 22 73.33
Total 30 100.00
32
Crianças adotadas nunca conseguirão se recuperar de suas dificuldades físicas e
emocionais
27%
73%
SimNão
Quadro 16: Resposta da pergunta 8 – Questionário. (Out 2002)
Resp8 Fi %
Sim 4 13.33
Não 26 86.67
Total 30 100.00
Você adotaria uma criança com deficiência físicas ou mentais
13%
87%
SimNão
Quadro 17: Resposta da pergunta 9 – Questionário. (Out 2002)
Resp9 Fi %
Sim 12 40.00
Não 18 60.00
Total 30 100.00
33
Você teria medo que os pais verdadeiros da criança adotada pudessem querê-la
de volta
40%
60%
SimNão
Quadro 18: Resposta da pergunta 10 – Questionário. (Out 2002)
Resp10 Fi %
At1 17 56.67
At5 13 43.33
Total 30 100.00
Você acredita que as crianças podem mudar com a nova família
57%
43%SimNão
7.5 Resultado da pesquisa realizada
Os dados mostram que 87% dos entrevistados adotariam uma criança,
evidenciando que não existe tanta resistência assim à cerca da adoção como se
pensava.
No entanto, as questões posteriores avaliadas demonstraram de forma
clara, que em determinados pontos o assunto em tela ainda se encontra nebuloso a
34
cerca da legislação vigente e aos mitos que ainda circundam o assunto, cultivando
dessa forma, o preconceito.
Sobre a idade da criança adotada, o quadro 10 mostra que 66% dos
entrevistado afirmam que adotariam somente crianças com menos de 1 ano de idade e,
igualitariamente com 17% disseram adotar crianças com maiores de 1 e 5 anos de idade,
evidenciando dessa forma, a preferência por crianças menores de 1 ano. Assim, quanto
às adoções tardias, quadro 12 nos mostrou que 67% dos entrevistados teriam medo de
adotar criança que viveu muito tempo em orfanato, confirmando neste caso que as
adoções tardias são em número muito pequeno em nosso país, onde a maioria das
pessoas adotam bebês até um ano de idade.
Em relação à possibilidade de adoções inter-raciais, o quadro 11 mostra que
a maioria absoluta dos entrevistados (73%) afirmam que não adotariam uma criança de
cor diferente da sua. Tanto pessoas com baixa escolaridade ou com nível superior, baixa
ou alta renda salarial e de raças diferentes responderam de forma semelhante a esta
questão. É sabido que a adoção inter-racial não é assim tão aceita, aliás, a maioria
absoluta dos adotantes somente aceita crianças brancas e saudáveis. Para Fernando
Freire, os adotantes que efetuam uma adoção inter-racial precisam “ter uma visão aberta,
que não se contente com os estereótipos produzidos pela sociedade, e possuir uma
grande segurança interior, para superar as diversas pressões.”
Quando perguntados sobre a questão que abordava sobre aqueles que
acreditavam que quem possui filhos naturais não precisa adotar uma criança, houve uma
quase igualitária opinião entre os entrevistados, sendo 53% para àqueles que disseram
sim, e 47% para àqueles que negaram, demonstrado no quadro 13.
Quanto ao fato de a criança adotada sofrer preconceitos por parte da
sociedade, o quadro 14 mostra que 43% dos entrevistados discordam que uma criança
adotada sofrerá preconceitos e será tratada com discriminação pela sociedade.
A maioria absoluta dos entrevistados (73%) – de acordo com o quadro 15-
não acreditam que crianças abandonadas, que tiveram maus-tratos e má alimentação,
conseguiriam superar suas dificuldades físicas e emocionais, com o devido
acompanhamento médico e psicólogo que poderiam receber depois de adotadas.
35
Em relação à adoção de crianças portadoras de deficiências físicas ou
mentais, o quadro 16 mostra que 13% dos entrevistados adotariam uma criança com tais
problemas e 87% não o fariam. “De forma geral, os postulantes que se orientam para
uma adoção deste tipo devem agir com grande realismo: apreciação exata da deficiência
ou da doença, dos encargos que deverão ser assumidos, no presente e no futuro, os
limites da evolução da criança e principalmente, uma apreciação sincera de suas
motivações e de suas capacidades físicas, morais e financeiras.” (Fernando Freire,
1991,p.105)
No aspecto de desconhecimento das leis que se referem à adoção, levando-
se um fato que pode ser constatado no quadro 17: 40% dos entrevistados teriam medo,
ao adotar, de que os pais biológicos pudessem querer a criança de volta. Ignora-se o art.
48 do Estatuto da Criança e do Adolescente que prescreve a adoção como irrevogável.
Assim, se a adoção for realizada pelos trâmites legais, o medo de “perder” a criança
adotiva para os pais biológicos torna-se infundado; e a “devolução” de uma criança
adotiva para o juizado, ao orfanato ou aos pais naturais torna-se ilegal.
De acordo com o quadro 18, 43% dos entrevistados concordam que as
crianças têm características de personalidade que vêm de seus pais naturais e não
mudarão nunca com uma nova família; porém 57% concordam que realmente a
educação é mais forte do que a “voz do sangue”.
36
8. CONCLUSÃO
De forma geral foi constatado com essas questões que a sociedade em
especial a petropolitana, possui uma visão que cerca a adoção de opiniões formadas sem
reflexão e fundamento, ou seja, de preconceitos. Sobretudo, que a criança adotiva ainda
é estigmatizada como portadora de problemas hereditários e comportamentos associados
a estes ou não, e que existem barreiras para a efetuação de adoções especialmente inter-
raciais, tardias e de crianças portadoras de deficiências físicas e mentais. O estudo
realizado constatou que a adoção ainda é um assunto que reflete a discriminação e o
preconceito apesar de estar em processo de evolução.
A partir desse resultado contatou-se que deverá haver uma reflexão
consciente acerca da adoção e seus estigmas, pois a Adoção é uma atitude concreta
efetiva - existe um medo diante do risco que será assumido, existe um desconhecimento,
existe a falta de um engajamento mais profundo. O momento da verdade assusta em
muito as pessoas, elas têm uma dificuldade muito grande de sair de seus mundos, e é aí
que o preconceito se acentua se tornando vigente, passando a ser um processo
inconsciente.
A decisão de adotar é um momento da verdade, exige uma atitude de amor,
uma atitude de afeto, uma atitude de entrega, e essa entrega é muito difícil.
As pessoas têm medo de assumir os riscos de uma adoção, por falta de
conhecimento, pelas dificuldades que precisarão superar. Torna-se difícil assumir
publicamente a adoção, e quando a adoção é de uma criança maior, ou de uma raça
diferente dos pais, é preciso, além das outras dificuldades, assumir abertamente essa
condição.
Pouco a pouco, os preconceitos vão caindo, e vai crescendo a integração
multi-racial.
É preciso compreender que é a criança que precisa de pais. Acho que a partir
do momento que houver essa conscientização, as dificuldades serão superadas.
37
Penso que a adoção é uma questão de desenvolvimento pessoal. Acho que a
pessoa que adota atinge um grau de amadurecimento pessoal bastante avançado. Ela
decide livremente, ter um ato de entrega, um ato de amor com relação à criança.
38
Referências Bibliográficas
BRANDÃO, J. S. (1987) Mitologia Grega. Petrópolis: Vozes, 1987, vol. III.
COMMELIN, P. (sd) Nova mitologia grega e romana. Trad. Thomaz Lopes. Ro de Janeiro:
Tecnoprint, 1967.
COSTA, M.C.S. (1988). Os “filhos do coração”. – adoção em camadas médias brasileiras.
Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro.
GRANATO, E.F.R. (1996). A adoção no Brasil na Atualidade. Tese de doutorado, Faculdade
de Direito da Universidade Mackenzie, São Paulo.
MARCÍLIO, M.L. (1998). História social da criança abandonada. São Paulo: Hucitec.
MARMITT, A (1993). Adoção. Rio de Janeiro: Aide.
ROBERT, A (1989). L’adoption et après. Paris: Ergopress.
WEBER, L. (2002). Pais e Filhos por Adoção no Brasil. Curitiba: Juruá.
FREIRE, F. (1994).Organizador, Abandono e Adoção - Contribuição para uma cultura da
adoção II, Terre des hommes, Curitiba/PR.
FREIRE, F. (1992) organizador, Os Desafios da Adoção no Brasil, Terres des hommes,
Curitiba/PR.
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – “ECA”, Lei n.º 8.069/90