conceito de sociedade em scott

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Título original: Sociology: The Key Concepts Tradução autorizada da primeira edição inglesa, publicada em 2006 por Routledge, membro do Taylor & Francis Group, de Abingdon, Inglaterra Copyright © 2006, John Scott Copyright da edição brasileira © 2010: Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja | 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel (21) 2108-0808 | fax (21) 2108-0800 [email protected] | www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Preparação: Larissa Helena S. Gomes | Revisão: Eduardo Farias, Glória Carvalho Capa: Dupla Design ciP-Brasil. Catalogação na fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ S662 Sociologia: conceitos-chave / John Scott (org.); tradução Carlos Alberto Medeiros; consultoria técnica Luiz Fernando Dias Duarte. - Rio de Janeiro: Zahar, 2010. Tradução de: Sociology: the key concepts Contém glossário e índice ISBN 978-85-378-0273-1 1. Sociologia. I. Scott, John, 1949-. 10-3022 CDD: 301 CDU: 316 SUMÁRIO Introdução Conceitos-chave Ação e agência, 13 Ação racional 17 Alienação, 21 Anomia, 24, Buro- cracia, 28 Capital cultural, 30 Capital social, 32 Capitalismo, 36 Cida- dania, 41 Classe, 43 Comunidade, 47 Consumo, 50 Conversação, 53 Cultura, 57 Definição da situação, 62 Desvio, 65 Discurso, 68 Divisão do trabalho, 72 Elite, 75 Emoção, 77 Estado, 80 Estrutura social, 83 Etnicidade, 87 Gênero, 90 Globalização, 94 Habitus, 98 Hibridismo, 102 Ideologia e hegemonia, 104 Industrialismo, 108 Infância, 110 Insti- tuição, 112 Masculinidade, 115 Mcdonaldização, 117 Medicalização, 119 Migração e diásporas, 123 Mobilidade, 125 Modernidade, 128 Moder- nização e desenvolvimento, 131 Movimentos sociais, 134 Mudança e de- senvolvimento, 136 Nação, 140 Narrativas e accounts, 142 Organização, 147 Papel, 149 Parentesco, família e casamento, 152 Patriarcado, 155 Pobreza e desigualdade, 157 Poder, 161 Raça e racialização, 166 Raciona- lização, 169 Religião, 171 Representações coletivas, 175 Selfe identidade, 178 Sexo e sexualidade, 182 Sistema social, 184 Sistemas-mundo, 188 Socialização, 192 Sociedade, 195 Sociedade civil, 199 Solidariedade, 201 Status, 204 Subcultura, 207 Tempo e espaço, 210 Trabalho doméstico, 213 Tradição e tradicionalismo, 215 Underclass, 218 Urbanismo, 220 Vi- gilância, 224 Glossário de abordagens teóricas Colaboradores índice remissivo 227 235 243

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Page 1: Conceito de Sociedade Em Scott

Título original:Sociology: The Key Concepts

Tradução autorizada da primeira edição inglesa, publicada em 2006 por Routledge,membro do Taylor & Francis Group, de Abingdon, Inglaterra

Copyright © 2006, John Scott

Copyright da edição brasileira © 2010:Jorge Zahar Editor Ltda.rua México 31 sobreloja | 20031-144 Rio de Janeiro, RJtel (21) 2108-0808 | fax (21) 2108-0800 •[email protected] | www.zahar.com.br

Todos os direitos reservados.A reprodução não autorizada desta publicação, no todoou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98)

Grafia atualizada respeitando o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

Preparação: Larissa Helena S. Gomes | Revisão: Eduardo Farias, Glória CarvalhoCapa: Dupla Design

ciP-Brasil. Catalogação na fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

S662 Sociologia: conceitos-chave / John Scott (org.); tradução Carlos Alberto Medeiros;consultoria técnica Luiz Fernando Dias Duarte. - Rio de Janeiro: Zahar, 2010.

Tradução de: Sociology: the key conceptsContém glossário e índiceISBN 978-85-378-0273-1

1. Sociologia. I. Scott, John, 1949-.

10-3022

CDD: 301CDU: 316

SUMÁRIO

Introdução

Conceitos-chave

Ação e agência, 13 Ação racional 17 Alienação, 21 Anomia, 24, Buro-cracia, 28 Capital cultural, 30 Capital social, 32 Capitalismo, 36 Cida-dania, 41 Classe, 43 Comunidade, 47 Consumo, 50 Conversação, 53Cultura, 57 Definição da situação, 62 Desvio, 65 Discurso, 68 Divisãodo trabalho, 72 Elite, 75 Emoção, 77 Estado, 80 Estrutura social, 83Etnicidade, 87 Gênero, 90 Globalização, 94 Habitus, 98 Hibridismo,102 Ideologia e hegemonia, 104 Industrialismo, 108 Infância, 110 Insti-tuição, 112 Masculinidade, 115 Mcdonaldização, 117 Medicalização, 119Migração e diásporas, 123 Mobilidade, 125 Modernidade, 128 Moder-nização e desenvolvimento, 131 Movimentos sociais, 134 Mudança e de-senvolvimento, 136 Nação, 140 Narrativas e accounts, 142 Organização,147 Papel, 149 Parentesco, família e casamento, 152 Patriarcado, 155Pobreza e desigualdade, 157 Poder, 161 Raça e racialização, 166 Raciona-lização, 169 Religião, 171 Representações coletivas, 175 Selfe identidade,178 Sexo e sexualidade, 182 Sistema social, 184 Sistemas-mundo, 188Socialização, 192 Sociedade, 195 Sociedade civil, 199 Solidariedade, 201Status, 204 Subcultura, 207 Tempo e espaço, 210 Trabalho doméstico, 213

Tradição e tradicionalismo, 215 Underclass, 218 Urbanismo, 220 Vi-gilância, 224

Glossário de abordagens teóricas

Colaboradores

índice remissivo

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Page 2: Conceito de Sociedade Em Scott

vidas, adquirimos e perdemos identidades secundárias - identidades ocupacionais, de lazer, associadas a determinados tipos de práticas de consumo e assimpor diante. Socialização ocupacional é uma expressão utilizada para descreveros processos de aprendizado e transformação vinculados a identidades profissionais ou de emprego. Assim, é necessário um processo de socialização paraque alguém se torne e seja um médico, construtor, cabeleireiro ou contadorEvidentemente, isso inclui a aquisição de um conhecimento "ensinado" formale de habilidades - medicina, procedimentos cirúrgicos, escrituração, cortesde cabelo, como construir uma parede e assim por diante. Mas também in-clui a aquisição de conjuntos mais tácitos e indeterminados de conhecimento-os aprendidos in loco, por tentativa e erro, observação, imitação e interaçõescom pares e pessoas íntimas. Portanto, a socialização ocupacional tambémexige que se "entenda do assunto" - categorizar pacientes, parecer "ocupado"quando não há clientes no salão de cabeleireiros, ficar sabendo quem são osindivíduos importantes num escritório, descobrir como conseguir trabalhoinformal num canteiro de obras e assim por diante. Aprender as sutilezas doambiente ocupacional é tão importante quanto adquirir as habilidades técni-cas - para estabelecer e manter uma identidade ocupacional plausível e paraser socializado na cultura ocupacional.

As mesmas regras se aplicam à construção de outras identidades - ondeo ensinamento e o aprendizado de conhecimento e habilidades formais sãoapenas, se tanto, parte do processo de socialização. Ser um músico competentenão é pré-requisito suficiente, nem mesmo necessário, para ter uma carreiramusical de sucesso. Com efeito, há músicos "bem-sucedidos" que não sabemler partituras, tocar instrumentos ou cantar dentro do tom. Jogar golfe ra-zoavelmente não garante acesso e aceitação pela fraternidade golfista, ondepertencer ao clube de golfe "correto" pode ter maior importância. Inclusive,certas identidades são quase inteiramente "aprendidas" graças à decodificaçãoinformal de roteiros culturais. Não há cursos a freqüentar nem livros a estudarsobre "como se tornar" um punk gótico, um vigia de trem, um cliente de boateou um sem-teto. Há papéis - como os de paciente de hospital, público de teatroou cliente de salão - com regras e padrões de comportamento a eles associa-dos que raramente são explicitados. Esses roteiros culturais, e as identidadessociais por eles moldadas, são apreendidos por meio de processos contínuosde engajamento e interação.

Há uma série de teorias da socialização. Entre elas, as que sugerem queos indivíduos não têm agência ou escolha na construção de suas identidades

sociais - os papéis sociais devem ser aprendidos, não negociados, para que asociedade funcione. Também há teorias psicanalíticas que se concentram nosprocessos inconscientes e emocionais da individualidade. Em sociologia, asobras do filósofo e reformador social americano George Mead e do sociólogoErving Goffman têm sido particularmente importantes no reconhecimentode que o selfé um construto»social e de que os indivíduos são agentes ativosnos processos de socialização e construção de identidade. Mead descreveu aemergência do se//por meio da experiência pessoal e a importância da comu-nicação e da reflexividade sociais. Goffman contribuiu para nossa compre-ensão sobre as maneiras como as identidades sociais resultam de processos einterações sociais localizados com/em momentos e lugares particulares. Eleadotou as metáforas teatrais do "proscênio" e dos "bastidores" para com-preender o trabalho envolvido na socialização, tanto o mais visível quantoo que se dá "por trás das cortinas"- enquanto construção e administraçãode identidades sociais.

OUTRAS LEITURAS

Giddens, Anthony. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro, Zahar, 2002.

GofTman, Erving. The Presentation ofSelfin Everyday Life. Harmondsworth, Penguin,

1959-Jenkins, Richard. Social Identities. Londres, Routledge, 2a ed., 2004.

Melia, Kath. Learning and Working: The Occupational Socialisation ofNurses. Londres,

Tavistock, 1987.

AMANDA COFFEY

Sociedade

Quando alguém pergunta "o que é sociologia?", é normal que se responda queé o estudo da sociedade - ou talvez das sociedades. Essa resposta parece clara eobjetiva, mas não é. Com efeito, há pouca concordância sobre o que é sociedade,especialmente na era contemporânea.

De fato, a ex-primeira-ministra Margaret Thatcher uma vez declarou que"não existe essa coisa de sociedade", há apenas "indivíduos, homens e mulhe-res, e suas famílias". Muitos sociólogos rejeitaram essa afirmação declarandoque, evidentemente, existe essa coisa de sociedade. Mas, embora quase todos

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Page 3: Conceito de Sociedade Em Scott

os sociólogos concordem em que existe algo "mais" na vida social do que anas "indivíduos, homens e mulheres, e suas famílias", o que é exatamente esacréscimo não é tão óbvio.

Algumas vezes, sociedade significa a existência de um domínio do socialou dos fatos sociais que são de alguma forma distintos, ou de um tipo diferentedos fatos relativos aos indivíduos. Há um nível social, mais bem esclarecido'pelos argumentos de Durkheim sobre a existência de uma esfera de fatos sociaise sobre a idéia de que um conjunto de fatos sociais deve ser explicado por outrosfatos sociais. Presume-se que a sociedade seja uma realidade sui generis, cons-tituída por fatos sociais e por suas inter-relações. Estudar esse nível sui generispossibilita à sociologia desenvolver um objeto de estudo distinto e unívoco.

A sociologia do século XX aceitou esse desafio durkheimiano e desenvolveua noção de "sociedade" organizada como seu objeto de estudo. Isso se deu espe-cialmente a partir da década de 1920, quando a sociologia foi institucionalizadanas universidades norte-americanas. Em vários livros-texto e nas principaispublicações, sociólogos se referiram à rede de relacionamentos que compõe asociedade, considerada possuidora de certos poderes que subordinavam os in-divíduos a ela. O teórico do modelo prototípico de sociedade moderna, TalcottParsons, definiu "sociedade" como o tipo de sistema social caracterizado pelomais alto nível de autossuficiência em relação ao seu meio ambiente, incluindooutros sistemas sociais.

Essa noção de sociologia baseava-se no sistema de nações e de Estados-nação distintos e rivais (que a corrente principal dessa disciplina nunca che-gou a desvendar completamente). Na medida em que exista algo chamado

"sociedade", esta deve ser considerada uma entidade social soberana, em cujocentro está o Estado-nação, que organiza os direitos e deveres de cada cidadão.A economia, a política, a cultura, as classes, as relações de gênero, e assim pordiante, são estruturadas por essa sociedade que regula as oportunidades devida de cada um de seus membros. Tal sociedade não é apenas material, mastambém cultural, de modo que seus membros acreditam compartilhar umaidentidade comum, parcialmente vinculada ao território que a sociedade ocupaou reivindica. Para a maioria dessas sociedades, é fundamental que haja umnacionalismo trivial, parte do modo como as pessoas pensam e vivenciam asi mesmas como seres humanos, e que pode possuir diversas características:agitar bandeiras comemorativas, cantar hinos nacionais, hastear bandeirasnacionais em prédios públicos, identificar-se com uma equipe desportiva, serreferido na mídia como membro de certa sociedade, comemorar o dia da in-dependência e assim por diante. Os membros de toda sociedade fazem coisas

w\parecidas, compartilham crenças, ingerem alimentos semelhantes e pensamsobre si mesmos como caracteristicamente "franceses", "americanos", ou qual-quer que seja a nacionalidade.

Nos dois últimos séculos, essa concepção de sociedade tem sido fundamen-tal para as noções norte-americana e européia ocidental de ser humano comoalguém dotado dos direitos e deveres da cidadania social. Um humano, desseponto $ie vista, significa um membro ou cidadão de determinada sociedade,aqui compreendida como ordenada por um Estado-nação e dotada de clarasfronteiras territoriais e de cidadania, assim como de um sistema de governopara seus cidadãos particulares. O conceito de sociedades baseava-se na idéiade que o cidadão tinha deveres para com ela, recebendo em troca direitos pormeio das instituições centrais do Estado-nação. Governar essas sociedades foialgo realizado, em parte, mediante novas habilidades e, em parte, com base nasociologia como a ciência relativa a elas. Com efeito, a visão predominante doobjeto da sociologia reflete a relativa autonomia exibida pela sociedade norte-americana durante grande parte do século XX.

Essas sociedades são, além disso, bem-organizadas para mobilizar capa-cidades humanas e explorar a natureza, assim como outras sociedades menosdesenvolvidas. A sociologia considerou corriqueiro o sucesso das sociedadesmodernas em dominar a natureza. A sociologia especializada em descrever eexplicar o caráter dessas sociedades se baseava nas indústrias que forneciame utilizavam novas formas de energia, transportes, comunicação e padrões devida social. Essas sociedades modernas eram, ao que se presumia, qualitativa-mente diferentes das do passado.

Também se presumia que a maioria dos problemas e riscos econômicos esociais era produzida, e podia ser resolvida, no nível de cada sociedade indivi-dualmente. Toda sociedade era soberana. Os problemas de cada uma deviamser enfrentados por meio de políticas nacionais e, especialmente a partir dadécada de 1930, por meio de um Estado keynesiano de bem-estar social capazde identificar e reagir aos riscos do capitalismo organizado. Considerava-seque esses riscos se localizavam dentro das fronteiras geográficas e contextostemporais de cada sociedade. As soluções políticas eram concebidas e imple-mentadas dentro dessas fronteiras societais.

Mas, a partir da década de 1980, parece ter se desenvolvido um poderosoconjunto de processos "globais" que estão redesenhando os contornos da ex-periência humana. Há níveis excepcionais de interdependência global - de

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sui generis lat Do seu gênero; peculiar, singular. Designa coisa ou qualidade que não apresenta analogia com nenhuma outra
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globalização -, com ondas de choque se espalhando "caoticamente" de umaparte do globo para outra, e obliterando algumas dessas diferenças entre associedades. Eventos ocorridos em determinado lugar (em Chernobyl, na atualUcrânia, em 1995 ou em Nova York, em 11 de setembro de 2001) têm inúmerasconseqüências profundas e imprevistas em outros lugares. Não existem ape-nas diversas "sociedades", mas "impérios" poderosos (Microsoft, McDonakTs,Ford) pairando sobre o globo. A mobilidade em massa de pessoas e objetos,assim como de dejetos e riscos perigosos (contaminação nuclear, terrorismo,vírus misteriosos), conhece poucas fronteiras societais. Os poderes humanosderivam cada vez mais de interconexões complexas com objetos materiais ra-ramente fixados em sociedades singulares. Temos a miniaturização de tecno-logias eletrônicas conectadas a seres humanos (laptops, iPods, telefones celu-lares); a transformação da biologia em informações geneticamente codificadas;a crescente quantidade e alcance do lixo e dos vírus que se deslocam pelomundo; mudanças tecnológicas nas viagens por terra, ar e mar, que facilitama rápida mobilidade; e fluxos de informação e comunicação que comprimemas diferenças de tempo e espaço.

Essas transformações debilitam o poder das sociedades de arrebanhar seuscidadãos como se fossem um só, de dotá-los de identidade nacional e de falarcom uma única voz. Assim, enquanto muitas autoridades ainda falam de so-ciedade, o próprio significado e relevância do termo têm sido questionados, jáque outros tipos de grupamento social parecem captar as atenções do público(como ambientalistas, torcedores do Manchester United, vegetarianos, chine-ses vivendo fora do país, gays e lésbicas, fãs de Michael Jackson, refugiados,consumidores do McDonakTs e assim por diante). Todos esses poderiam servistos como novos tipos de "sociedade" cujas fronteiras, entretanto, não coin-cidem com as dos Estados-nação. Na medida em que uma sociedade conseguepermanecer, é apenas uma dentre um grande número de entidades poderosas.Os Estados-nação são menos os reguladores das pessoas que constituem os ci-dadãos unívocos de uma tal sociedade, e mais os facilitadores responsáveis porregular e reagir às conseqüências das diversas mobilidades que fluem dentroe através de suas fronteiras, freqüentemente porosas.

Assim, a missão da sociologia deveria analisar essas mobilidades diversase que se intersectam fluindo dentro e através de territórios nacionais, para vero que resta das "sociedades" propriamente ditas, e também examinar as novasforças que estão surgindo e seus efeitos interdependentes ao redor do mundo.

OUTRAS LEITURAS

Frisby, Da^id e Derek Sayer. Society. Londres, Tavistock, 1986.

Urry, John. Sociology Beyond Societies. Londres, Routledge, 2000.

. Global Complexity. Cambridge, Polity, 2000.

JOHN URRY

Sociedade civil

A expressão sociedade civil se refere a todos os lugares em que indivíduos sereúnam para conversar, defender interesses comuns e, ocasionalmente, tentarinfluenciar a opinião ou a política públicas. Em muitos aspectos, a sociedadecivil é onde as pessoas passam o tempo quando não estão no trabalho ou emcasa. Por exemplo, um grupo de pessoas se reúne num parque local toda tardede quinta-feira para um jogo de futebol. Muitas chegam bem antes de o jogocomeçar e permanecem por algum tempo depois que ele acaba. Algumas saemdepois para jantar ou tomar um drinque. Durante esse tempo, conversam sobreuma variada gama de assuntos que inclui o futebol mas também se estende aquestões como trabalho, família, relacionamentos, eventos comunitários, pro-blemas raciais e política. A maioria dos freqüentadores espera ansiosamenteo encontro semanal e experimenta um sentimento de vinculação aos outrosjogadores que vê no parque. Esse tipo de solidariedade pode ser encontrado emvários outros lugares da sociedade civil - como bares, clubes de jogos, gruposde leitura e movimentos sociais - em que indivíduos se reúnem numa asso-ciação baseada em algum interesse comum.

Os tipos de associações que têm lugar na sociedade civil são importantespor ajudarem as pessoas a promover formas mais efetivas de cidadania. Em-bora as pessoas possam se reunir com base num interesse comum, acabamtendo de desenvolver estratégias produtivas para lidar com os conflitos e di-ferenças que surgem dentro da associação. Membros de um grupo de leitura,por exemplo, nem sempre concordam em relação ao livro que vão ler. Colegasde uma liga de boliche descobrem que, em certos assuntos, têm marcantes di-vergências de opinião. E, no entanto, porque valorizam a associação e anseiampor participar desses eventos, sua reação a tais diferenças não é sair de cena.Em vez disso, buscam negociar decisões para que todos possam aceitá-las, eformas de interação que não ameacem a solidariedade do grupo. No processo,

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