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Comunicações Individuais Eixo Temático 5 História da Profissão Docente

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Comunicações Individuais

Eixo Temático 5

História da Profissão Docente

SUMÁRIO EDUCAÇÃO PARA O PROGRESSO: POLÍTICAS PÚBLICAS E A FEMINIZAÇÃO DOCENTE EM 1950........................295 ADRIANA MIKA.................................................................................................................................................295 DE PALAVRA EM PALAVRA: A TRAJETÓRIA DE D. MARIA AMÉLIA JACOBINA, A PRIMEIRA PROFESSORA DA ESCOLA DAS OFFICINAS ...................................................................................................................................295 ADRIANA VALENTIM BEAKLINI ..........................................................................................................................295 A IDENTIDADE PROFISSIONAL DE PROFESSORES DE ENSINO FUNDAMENTAL EM MESQUITA (RJ): ALGUMAS CONSIDERAÇÕES..............................................................................................................................................296 ADRIENA CASINI DA SILVA ................................................................................................................................296 AS MEMÓRIAS MAIS ANTIGAS DA ESCOLA ......................................................................................................296 ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRA ..................................................................................................296 A PEDAGOGIA NA ESCOLA NORMAL: A INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA NA CONSTITUIÇÃO DA CULTURA PEDAGÓGICA (1896-1953) ...............................................................................................................................297 ANA CLARA BORTOLETO NERY..........................................................................................................................297 ANA TEREZA CAFFER CRUZ................................................................................................................................297 DE HOMENS-MUNDO A ESPECIALISTAS; A DISCIPLINARIZAÇÃO DO CURRÍCULO E DA DOCÊNCIA NO COLÉGIO PEDRO II (1855-1881).......................................................................................................................................297 ANA WALESKA POLLO CAMPOS MENDONÇA.....................................................................................................297 FLÁVIA DOS SANTOS SOARES ............................................................................................................................297 RENATA DOS SANTOS SOARES ..........................................................................................................................297 “BRAÇO FORTE MÃO GENTIL”: AS CONTRIBUIÇÕES DA PROFESSORA ROSÁLIA BISPO DOS SANTOS PARA O CENÁRIO EDUCACIONAL SERGIPANO (1960 1991). ..........................................................................................298 ANE ROSE DE JESUS SANTOS MACIEL ................................................................................................................298 JOAO MOUZART DE OLIVEIRA JUNIOR...............................................................................................................298 A PROFISSÃO DOCENTE E A IMPLANTAÇÃO DA LEI 5692/1971 NO PIAUÍ: A REORGANIZAÇÃO DA ESCOLA E AS TRANSFORMAÇÕES NO OFÍCIO DO PROFESSOR...............................................................................................299 ANTONIO DE PÁDUA CARVALHO LOPES ............................................................................................................299 BILDUNG: O NASCIMENTO DE UM SER CHAMADO PROFESSOR.......................................................................299 BRUNO OLIVEIRA SANTOS.................................................................................................................................299 “À PROFESSORA RESPONSÁVEL” – ESCRITAS MARGINAIS, ARQUIVOS ESCOLARES E HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE (VARGEM DO CEDRO – SANTA CATARINA, 1933 – 1944)..................................................................300 CAROLINA CECHELLA PHILIPPI...........................................................................................................................300 O PLANO DE ESTUDOS DE 1769 DE DOM FREI MANUEL DO CENÁCULO: A FORMAÇÃO DO PADRE PROFESSOR CASSIA REGINA DIAS PEREIRA...........................................................................................................................300 CÉZAR DE ALENCAR ARNAUT DE TOLEDO..........................................................................................................300 DOCÊNCIA E “LUCRO DE AÇÃO”: A PERPETUAÇÃO DE UMA CONDIÇÃO ..........................................................301 CÁTIA CORRÊA MICHALOVICZ ...........................................................................................................................301 DE ALUNOS A PROFESSORES: TRAJETÓRIA DOCENTE NO INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT ...........................301 CRISTIANE VALES MACIEL .................................................................................................................................301 ATUAÇÃO DO CORPO DOCENTE NOS GRUPOS ESCOLARES MARANHENSES NO PERÍODO DE 1903 A 1912......302 DIANA ROCHA DA SILVA....................................................................................................................................302 MULHERES EDUCADORAS DAS ESCOLAS DE PRIMEIRAS LETRAS NO ESPÍRITO SANTO IMPERIAL.....................303 EDUARDO VIANNA GAUDIO..............................................................................................................................303

Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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A INSERÇÃO DA MULHER NO MAGISTÉRIO CAPIXABA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: DESDOBRAMENTOS POSSÍVEIS NO TRABALHO DOCENTE NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO............................303 ELDA ALVARENGA ............................................................................................................................................ 303 VIDA DE PROFESSOR: O PERCURSO DE JOSÉ DO NASCIMENTO MORAES NA INSTRUÇÃO PÚBLICA MARANHENSE ELISANGELA PEREIRA GOMES ........................................................................................................................... 304 OLHARES SOBRE O MAGISTÉRIO OITOCENTISTA O ESTADO DA ARTE DA HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO SOBRE A PROFISSÃO DOCENTE NO SÉCULO XIX...............................................................................................304 FABIANA GARCIA MUNHOZ .............................................................................................................................. 304 EXPERIÊNCIAS NARRADAS: TRAJETÓRIAS DE EDUCADORAS ENTRE OS ANOS DE 1940 A 1980 (MARIANA-MG) FERNANDA APARECIDA OLIVEIRA RODRIGUES SILVA......................................................................................... 305 ROSANA AREAL DE CARVALHO.......................................................................................................................... 305 RAQUEL DE JESUS EVANGELISTA....................................................................................................................... 305 A EMERGÊNCIA DO ENSINO SECUNDÁRIO PARTICULAR NO MUNICÍPIO DA CORTE (1841-1860) .....................306 FERNANDO RODRIGO DOS SANTOS SILVA.........................................................................................................306 GUSTAVO DA MOTTA SILVA.............................................................................................................................. 306 “UMA VEZ NOMEADO POR ATO DA PRESIDÊNCIA O PROFESSOR (...)”: “MODOS DE EXISTIR” DOS PROFESSORES PRIMÁRIOS NA PROVÍNCIA PARANAENSE .......................................................................................................306 FRANCIELE FERREIRA FRANÇA........................................................................................................................... 306 CURSO NORMAL DO INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE SURDOS (1951-1957): MANANCIAL DE UM PROGRAMA INSTITUCIONAL............................................................................................................................307 GEISE DE MOURA FREITAS ................................................................................................................................ 307 UMA BIBLIOTECA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: SABERES PEDAGÓGICOS QUE CIRCULARAM ENTRE PROFESSORES E ALUNOS DA ESCOLA NORMAL PAULISTA ...............................................................................307 GIZELMA GUIMARÃES PEREIRA SALES............................................................................................................... 307 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX. .308 INÁRA DE ALMEIDA GARCIA PINTO................................................................................................................... 308 ALINE MACHADO DOS SANTOS......................................................................................................................... 308 O PERIGO DAS BELAS PALAVRAS: PROFESSORES PRIMÁRIOS E PROCESSOS DE SEDUÇÃO NA BAHIA-1865 A 1889.................................................................................................................................................................309 IONE CELESTE JESUS DE SOUSA......................................................................................................................... 309 COMPETÊNCIA DOCENTE NO ENSINO PÚBLICO DE SANTA CATARINA:REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES APOSENTADOS DA REDE ESTADUAL DE ENSINO ..............................................................................................309 IONE RIBEIRO VALLE .........................................................................................................................................309 SILVANA RODRIGUES DE SOUZA SATO .............................................................................................................. 309 JULIA LARISSA BORGES BARCELLA..................................................................................................................... 309 RAÍZES FINCADAS E SONHOS EMBALADOS- EDUCADORAS SALESIANAS EM CAMPOS-RJ.................................310 IVONE GOULART LOPES ....................................................................................................................................310 A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO ENSINO SUPERIOR: FORMAÇÃO DO PROFESSOR EM CURITIBA FACE À LDB 5692/71 JACYARA BATISTA SANTINI................................................................................................................................ 310 “O MODO COMO APRENDI E ENSINEI”: A CONSTITUIÇÃO DA PROFESSORA JANETE AGUIAR DE SOUZA CRUZ 311 JOAQUIM FRANCISCO SOARES GUIMARÃES ......................................................................................................311 MARBENE COSTA DOS SANTOS......................................................................................................................... 311 VOZES DOCENTES NO PAFOR TOCANTINO.......................................................................................................311 JOCYLEIA SANTANA DOS SANTOS...................................................................................................................... 312

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DOCÊNCIA DE EMERGÊNCIA, MISSÕES PEDAGÓGICAS ITINERANTES E REGULAMENTAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE NO ESPÍRITO SANTO (1951-1952).....................................................................................................312 JORDANA VICENTE GAMA.................................................................................................................................312 REGINA HELENA SILVA SIMÕES .........................................................................................................................312 O MAGISTÉRIO RÉGIO SETECENTISTA NA BAHIA: VICISSITUDES DE UMA PROFISSÃO “RECENTE”....................313 JOSÉ CARLOS DE ARAUJO SILVA ........................................................................................................................313 A CONTRIBUIÇÃO NORTE-AMERICANA NO MOVIMENTO DE ESCOLARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA EM 1929...........................................................................................................................................................313 JOSÉ CARLOS XAVIER BONFIM ..........................................................................................................................313 A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA TRAJETÓRIA INTELECTUAL DA PROFESSORA MARIA LÍGIA MADUREIRA PINA. JOSÉ GENIVALDO MARTIRES .............................................................................................................................314 FORMAÇÃO DE PROFESSORES E EDUCAÇÃO DE SURDOS.................................................................................314 JULIO CESAR TORRES ........................................................................................................................................315 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: O CURSO DE PEDAGOGIA UNESP/UNIVESP ..............................................................................................................................................315 JULIO CESAR TORRES ........................................................................................................................................315 MARIA DALVA SILVA PAGOTTO.........................................................................................................................315 O OFÍCIO DOCENTE NA PROVÍNCIA DE SERGIPE: UMA ANÁLISE MEDIADA PELAS CORRESPONDÊNCIAS EMITIDAS PELOS PROFESSORES PRIMÁRIOS (1835) .........................................................................................316 LEYLA MENEZES DE SANTANA...........................................................................................................................316 SIMONE SILVEIRA AMORIM ..............................................................................................................................316 QUEM SE QUER FORMAR NO CURSO NORMAL, NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS EM CURITIBA – PR ........316 LIGIA LOBO DE ASSIS.........................................................................................................................................316 DA SUBMISSÃO A PRÁTICAS DE ASTÚCIAS: A PRESENÇA FEMININA NA ESCOLARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ESPÍRITO SANTO (1931-1936).....................................................................................................................317 MARCELA BRUSCHI...........................................................................................................................................317 OMAR SCHNEIDER............................................................................................................................................317 WALLACE ROCHA ASSUNÇÃO............................................................................................................................317 MARCELO LAQUINI ELLER .................................................................................................................................317 PROFESSORES EM MOVIMENTO: ASSOCIATIVISMO, IMPRENSA E ATUAÇÃO DOCENTE NO RIO DE JANEIRO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1920)...................................................................................................................318 MARCELO GOMES DA SILVA..............................................................................................................................318 GREVES DO MAGISTÉRIO PÚBLICO DO RS: MEMÓRIAS DE PROFESSORAS DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO GENERAL FLORES DA CUNHA/PORTO ALEGRE DÉCADAS DE 1980-1990. ..........................................................318 MARIA BEATRIZ VIEIRA BRANCO OZORIO..........................................................................................................318 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: IMPACTO DAS AÇÕES DO CENESP NAS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS INSTITUCIONALIZADAS NOS ANOS 1980 EM RORAIMA ..........................................319 MARIA EDITH ROMANO SIEMS-MARCONDES....................................................................................................319 A FORMAÇÃO DOCENTE E A PRÁTICA EDUCATIVA NA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS (1824-1850)..................319 MARIANA SILVA SANTOS ..................................................................................................................................319 CLÁUDIO LÚCIO MENDES..................................................................................................................................319 A FORMAÇÃO DOCENTE E A PRÁTICA EDUCATIVA NA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS (1824-1850)..................320 MARIANA SILVA SANTOS ..................................................................................................................................320 CLÁUDIO LÚCIO MENDES..................................................................................................................................320 O USO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PELO PROFESSORADO PRIMÁRIO CATARINENSE NA DÉCADA DE 1960 .......321 MARILÂNDES MÓL RIBEIRO DE MELO ...............................................................................................................321

Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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O MAGISTÉRIO PRIMÁRIO NOS DOCUMENTOS OFICIAIS NO DISTRITO FEDERAL (1892-1913) .........................321 MARINA NATSUME UEKANE ............................................................................................................................. 321 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO NORMAL NA CIDADE DE PARANAÍBA/MT NO PERÍODO DE 1967 A 1971.................................................................................................................................................................322 MILKA HELENA CARRILHO SLAVEZ..................................................................................................................... 322 NOELY COSTA DIAS GARCIA .............................................................................................................................. 322 COMPREENSÕES DA HISTÓRIA E DA DOCÊNCIA EM NARRATIVAS DE PROFESSORES CAPIXABAS DURANTE A DITADURA MILITAR (1964-1985)......................................................................................................................322 MIRIÃ LÚCIA LUIZ ............................................................................................................................................. 322 RETRATOS DE PROFESSORES NA DÉCADA DE 1950: UMA PROFISSÃO DE REVERENCIADA...............................323 MIRIAM WAIDENFELD CHAVES......................................................................................................................... 323 O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA NO RIO GRANDE DO NORTE SEGUNDO A PROFESSORA OLÍVIA PEREIRA (1928-1948) .....................................................................................................................................................324 NANAEL SIMÃO DE ARAÚJO.............................................................................................................................. 324 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO NORMAL NA CIDADE DE PARANAÍBA/MT NO PERÍODO DE 1967 A 1971.................................................................................................................................................................324 NOELY COSTA DIAS GARCIA .............................................................................................................................. 324 MILKA HELENA CARRILHO SLAVEZ..................................................................................................................... 324 OS NORMALISTAS CHEGAM À UNIVERSIDADE: OS IMPACTOS DAS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 1920 E 1930 NO ACESSO AOS CURSOS SUPERIORES .................................................................................................325 PATRICIA GURGEL............................................................................................................................................. 325 SONIA MARIA DE CASTRO NOGUEIRA LOPES.....................................................................................................325 A DOCÊNCIA NO BRASIL NO PERÍODO REPUBLICANO (1920-1970): OLHARES POR MEIO DAS FOTOGRAFIAS PARA AS PRÁTICAS ESCOLARES........................................................................................................................325 ROSEANE MARIA DE AMORIM .......................................................................................................................... 325 MULHERES, EDUCADORAS E COM UMA FÉ DIFERENTE: OS ENCONTROS DE LAURA AMAZONAS E NEYDE MESQUITA.......................................................................................................................................................326 ROSEMEIRE SIQUEIRA DE SANTANA.................................................................................................................. 326 JOSINEIDE SIQUEIRA DE SANTANA.................................................................................................................... 326 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SERVIÇO COMO ESTRATÉGIA PARA A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ATIVA EM ESCOLAS CAPIXABAS (1929-1930)....................................................................................................................327 ROSIANNY CAMPOS BERTO............................................................................................................................... 327 REGINA HELENA SILVA SIMÕES......................................................................................................................... 327 AS PEDRAS BONITAS PODEM FALAR! MEMÓRIAS DE VELHOS PROFESSORES DE ITAPORANGA/SP SOBRE A DOCÊNCIA........................................................................................................................................................327 SANDRA ANTONIA CONVENTO DE MOURA FERRAZ........................................................................................... 327 O LUGAR DA PRÁTICA DE ENSINO E ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA NA UEPG: DE COMPLEMENTO A EIXO CENTRAL NAS PROPOSTAS CURRICULARES, OS AVANÇOS À FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES.................................................................................................................................328 SILVANA MAURA BATISTA DE CARVALHO.......................................................................................................... 328 ENGAJAMENTO DOCENTE EM ATIVIDADES EXTRAESCOLARES: REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES APOSENTADOS DO ESTADO DE SANTA CATARINA...........................................................................................328 SILVANA RODRIGUES DE SOUZA SATO .............................................................................................................. 328 TIAGO RIBEIRO SANTOS....................................................................................................................................328 QUANTO VALE A EXPERIÊNCIA? TRAJETÓRIAS DE PROFESSORAS-ASSISTENTES DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (1950-60) ...............................................................................................................................329 SONIA MARIA DE CASTRO NOGUEIRA LOPES.....................................................................................................329

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ALÉM DO TERRITÓRIO BRASILEIRO: A INTERFERÊNCIA MÉDICO-HIGIÊNICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS EM INÍCIO DO SÉCULO XX. ............................................................................................................330 TAMIRES FARIAS DE PAIVA ...............................................................................................................................330 PRÁTICAS DOCENTES NO CONTEXTO DE CRIAÇÃO DO GINÁSIO DO ESPÍRITO SANTO (1906-1916) ..................330 TATIANA BOREL................................................................................................................................................330 FORMAÇÃO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR: ASPECTOS HISTÓRICOS E DILEMAS PERMANENTES .................331 THAIS BENTO FARIA..........................................................................................................................................331 A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS NO VALE DO PARAÍBA PAULISTA (1889-1920)...............................331 TIAGO DONIZETTE DA CUNHA...........................................................................................................................331

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EDUCAÇÃO PARA O PROGRESSO: POLÍTICAS PÚBLICAS E A FEMINIZAÇÃO DOCENTE EM 1950

ADRIANA MIKA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Resumo: Este artigo tece considerações acerca da docência primária nos anos 1950 no que se refere à massificação e feminização do ensino. A metade do século XX no cenário brasileiro contrasta em diversos fatores, com o ideal e anseios de progresso, a lógica de desenvolvimento pós-guerra emergia ajustes em todo o mundo e também no Brasil. Um ideário da busca pelo progresso em paralelo com a realidade social bastante acentuada pelas altas taxas de analfabetismo, pobreza e miséria. As políticas públicas e reformas das mesmas através do chamado Ministério da Educação e Cultura na época e o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos e uma diversidade de intelectuais da época buscavam propiciar a propagação do ensino, a ampliação de escolas e o acesso para crianças de todas as classes sociais. A pesquisa de caráter quantitativo e bibliográfico é pautada na legislação e nas reformas políticas e educacionais da época e é parte integrante de minha pesquisa de Mestrado em História intitulada “Percursos de professoras primárias: considerações sobre gênero e docência no sul do Paraná nos anos 1950”. A investigação da legislação, as reformas do ensino e a docência sob uma perspectiva de gênero fornecem subsídios para perceber como os mesmos se relacionam historicamente. No que se refere ao caráter profissional sob um olhar de gênero, os espaços públicos, sociais e profissões específicas no ramo industrial, tecnológico e social, surgem modalidades profissionais predominantemente ofertadas para o sexo masculino. Assim, os construtos sobre os papéis sociais masculinos podem ser problematizados para compreender e desvelar práticas sociais e no caso da docência, que ao longo do século XX percebe-se através dos dados estatísticos o distanciamento dos homens na profissão docente a qual se torna oportuna para as mulheres. A feminização docente é um processo ao longo dos séculos XIX e XX e pode ser analisada através de diversos enfoques. A história enquanto um processo dinâmico, passível de reescritas contribui para a revisão e novas reflexões em torno de processos históricos. Assim, analisar a docência sobre uma perspectiva de gênero contribui para perceber as relações sociais atribuídas aos sexos como as mesmas são influentes nos papéis sociais desenvolvidos pelos sujeitos. Ao passo que a docência torna-se uma oportunidade profissional para as mulheres, também é uma área legitimada pela vocação atribuída ao feminino e feminizada a partir dos discursos sobre as relações de gênero e legitimados nas reformas de ensino e políticas públicas. E as políticas públicas e reformas também contribuem para pensar a feminização docente, e especificamente nos década de 1950, as políticas públicas e reformas de ensino

DE PALAVRA EM PALAVRA: A TRAJETÓRIA DE D. MARIA AMÉLIA JACOBINA, A PRIMEIRA PROFESSORA DA ESCOLA DAS OFFICINAS

ADRIANA VALENTIM BEAKLINI Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Analisar a trajetória da primeira professora da Escola das Officinas da Estrada de Ferro D. Pedro II, no bairro do Engenho de Dentro no Rio de Janeiro, D. Maria Amélia Jacobina, através das cartas redigidas por ela. Estas fontes, que sobreviveram ao tempo e as diversas seleções, foram localizadas na Fundação Casa de Rui Barbosa e são compostas de trinta e seis cartas escritas pela professora, abrangendo o período de 1882 a 1904. Elas nos permitem ter acesso aos fragmentos de uma vida que nos é contada de forma dispersa e que tentaremos refletir sobre as mesmas em sua dimensão histórica, considerando as condições socioeconômicas e culturais de uma época. Fonte que se constitui como um campo privilegiado para pensarmos sobre as memórias individuais, as representações e as mudanças que ocorrem no decorrer de uma vida e que foram eternizadas em uma folha de papel. D. Maria Amélia Jacobina expõe nessas cartas acontecimentos de sua vida pessoal, sua saúde e a família, mas também sua “vida” profissional, contando-nos sobre seu processo de admissão na escola e sua trajetória a frente da mesma, marcada pela organização material da escola e suas insatisfações. Ressaltando que esses documentos escritos destinaram-se a alguém, isso nos permitiu tecer as redes de comunicação entre a autora e seus interlocutores, ou seja, compreender a rede de sociabilidade na qual ela dialogava. Portanto chama-nos atenção seu sobrenome já que os Jacobina eram próximos da família de Rui Barbosa, importante intelectual brasileiro que pensou e teceu propostas sobre a educação brasileira, e depois se uniram aos Lacombe através do casamento. Ambas as famílias eram influentes e tradicionais na política e na educação. Segundo Cunha (2007), essas fontes nos fornecem dados e pistas sobre o cotidiano, sobre as formas de ver o mundo através dos fatos comuns da experiência humana, de hábitos e costumes e neste caso nos apontam para o processo de institucionalização e carências da escola e para o exercício da profissão docente no século XIX, na sua face mais humana mostrando as inquietações de uma professora. Tomando por fonte e objeto de estudo as trinta e seis

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cartas da professora D. Maria Amélia Jacobina, e como interlocutores Bastos, Cunha e Mignot (2002), Cunha (2007), Gomes (2004), Malatian (2011), Mignot (2012), entre outros, a investigação pretende analisar, através da escrita epistolar, a trajetória de uma mulher professora no século XIX, no subúrbio do Engenho de Dentro no Rio de Janeiro.

A IDENTIDADE PROFISSIONAL DE PROFESSORES DE ENSINO FUNDAMENTAL EM MESQUITA (RJ): ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

ADRIENA CASINI DA SILVA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A profissão docente tem se constituído em um tema bastante relevante para a pesquisa educacional. Procura entender a escola ou até mesmo um sistema de ensino pelo modo como os professores desenvolvem suas práticas e saberes, bem como têm fabricado sua história tanto profissional quanto sindical. Muitos desses trabalhos têm se dedicado aos estudos de trajetórias, identidade e socialização profissionais, que, nesse caso, é o que nos interessa. Nesse sentido, objeto deste trabalho tem como foco a trajetória da profissão docente de alguns professores de Mesquita (RJ), após sua emancipação, no início dos anos 2000. Ao emancipar-se de Nova Iguaçu, Mesquita precisou atender à demanda por escolas municipais e professores em seu território, já que as escolas públicas e municipais que pertenciam à Nova Iguaçu e haviam sido integradas à Mesquita, eram poucas e insuficientes. A Prefeitura de Mesquita decidiu, então, complementar sua rede municipal com contratos de professores e aluguel de escolas particulares, transformando-os, temporariamente, em escolas públicas, segundo o Diário Oficial e leis municipais. Por meio de uma abordagem sócio-histórica, temos o objetivo de entender os modos de constituição desse sistema de ensino através da maneira como se deu o processo de formação da identidade profissional docente de alguns professores recém empossados pela Secretaria Municipal de Mesquita ao longo dos anos de 2000 a 2006. Através de algumas análises documentais, já podemos observar que o conjunto de professores que compõe a rede de ensino do município se constituiu a partir de uma heterogeneidade que já, de imediato, nos levou a ter como resultado parcial, a existência de três grupos: a) professores concursados de Nova Iguaçu que passaram a integrar a equipe docente de Mesquita, uma vez que o território das escolas em que lecionavam passou a fazer parte desse novo município; b) professores de escolas particulares que se tornaram contratados da nova prefeitura, na medida em que seus prédios foram alugados pela prefeitura para suprir a carência de escolas nesse mesmo município; c) professores contratados pela Multiprof, cooperativa que mantinha contrato com a Prefeitura de Mesquita para seleção de profissionais para trabalharem no município. A elucidação desse quadro será possível por meio de análises documentais, bem como pelo uso de entrevistas com professores de Ensino Fundamental que atuaram no município entre 2000 e 2006. Nesse sentido, buscamos compreender as diferentes trajetórias e identidades que formaram o corpo docente de Mesquita no período em questão, a fim de depreendermos algumas tensões e articulações no forjar da identidade profissional docente mesquitense.

AS MEMÓRIAS MAIS ANTIGAS DA ESCOLA

ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente estudo tem por objetivo investigar as memórias mais antigas da escola, narradas por alunos dos cursos de licenciatura em História e em Pedagogia de uma universidade de grande porte, para nelas identificar aprendizagens de docência por eles vivenciadas e compreender os processos pelos quais lhes atribuem sentido. Essas memórias mais antigas são consideradas o início da história da vida escolar dos participantes, contribuindo para a formação de ideias e crenças sobre o ensino que, mais tarde, poderão refletir-se em sua vida profissional. A subjetividade do professor é formada desde seu ingresso na escola e um trabalho de reflexão a respeito da trajetória escolar permite repensar sobre a própria formação, tornando a pessoa mais visível para ela mesma, dando-lhe apoio na transformação de suas ações e significado ao seu percurso pessoal. Justifica-se, portanto, o emprego das histórias de vida e do método autobiográfico na formação de professores, partindo-se de que a ação de escrever e refletir sobre o vivido possibilita a identificação de posturas cuja origem pode estar nas histórias de sua escolarização. O apoio teórico para a pesquisa foi buscado em McAdams et al (1997), Cunha (1998), Thompson (1998), Nóvoa (1991) e Souza (2004). Do ponto de vista metodológico, adotou-se o método autobiográfico, sendo, para coleta de dados, utilizado questionário inspirado em McAdams et al (1997), com adaptação realizada por Lima e Rebelo (1997), que propõe uma autobiografia altamente seletiva, com ênfase em eventos considerados relevantes pela pessoa, que são descritos com algum detalhe. Respondido o questionário

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pelos participantes, foram selecionadas as respostas que se referiam à memória mais antiga da escola, acompanhadas da menção de onde, o que, quando, com quem e como ocorreram, bem como o que pensaram e sentiram os envolvidos naquele momento. As histórias de vida possibilitaram conhecer uma grande variedade de situações que dão sentido à vida das pessoas. Essas respostas foram categorizadas e submetidas a análise e interpretação, numa abordagem qualitativa, com respaldo nas orientações de Bardin (2011) e nos estudos de McAdams et al (1997). Como resultado, além de se recuperar a singularidade das histórias de vida escolar dos alunos, contadas por eles mesmos, foi possível analisar a possibilidade de se trabalhar a autobiografia em contextos de formação docente, identificando aproximações desses relatos com aprendizagens da docência e com a construção da identidade profissional.

A PEDAGOGIA NA ESCOLA NORMAL: A INFLUÊNCIA ESTRANGEIRA NA CONSTITUIÇÃO DA CULTURA PEDAGÓGICA (1896-1953)

ANA CLARA BORTOLETO NERY ANA TEREZA CAFFER CRUZ

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Analisar a constituição da cultura pedagógica na formação de professores a partir do estudo da biblioteca é um grande desafio. Pensar esta cultura pedagógica numa instituição centenária é uma desafio maior ainda. Para enfrentar tal desafio, proponho nesta comunicação analisar os livros presentes na biblioteca da Escola Normal de Piracicaba, de origem estrangeira, definindo uma temática específica num recorte temporal. A temática eleita é a Pedagogia e os objetos eleitos são os livros que contém esta temática, publicados no exterior ou traduzidos no Brasil. O recorte é feito pela criação da biblioteca (1896) até o momento que marca, a entrada de um bibliotecário especializado na biblioteca. Tomar uma biblioteca como objeto de estudo, e no caso uma biblioteca para a formação profissional, significa se debruçar sobre as marcas materiais resultantes das políticas de formação do leitor ao longo do tempo; das estratégias que engendraram a composição dos saberes profissionais do magistério, incluindo ou excluindo referências, autores, gêneros literários e modalidades editoriais de impressos; assim como definiram os modelos de leitura privilegiados no processo de formação dos novos leitores sob sua responsabilidade. Às bibliotecas profissionais foram atribuídas as funções de instrumento de guarda dos saberes fundamentais do campo profissional a que se refere e instrumento de pesquisa e formação das práticas profissionais que legitimariam o corpo profissional formado sob seus auspícios. Pela precariedade das sucessivas políticas educacionais para formação de professores no estado de São Paulo, no que diz respeito à biblioteca escolar, possibilitaram as múltiplas formas de entrada dos livros no acervo. A maior fonte de entrada dos livros foi por meio das doações. Os livros estrangeiros ocupam um lugar significativo na cultura pedagógica: possibilitava aos professores da Escola Normal e aos alunos entrarem em contato com as ideias presentes nas escolas congêneres de outros países. Os livros eleitos foram originalmente publicados na Espanha, Argentina, Estados Unidos, França e Portugal. Esta comunicação analisa as ideias presentes nos livros de autores estrangeiros, procurando explicitar a filiação ou não dos mesmos às pedagogias prescrita pela oficialidade. Procura responder as seguintes questões: a definição de Pedagogia; função exercida pelos autores no campo educacional; se há indicação de prescrição dos usos dos livros; se há indícios de usos dos livros; e, por fim, se os livros eram indicados pelas orientações oficiais.

DE HOMENS-MUNDO A ESPECIALISTAS; A DISCIPLINARIZAÇÃO DO CURRÍCULO E DA DOCÊNCIA NO COLÉGIO PEDRO II (1855-1881)

ANA WALESKA POLLO CAMPOS MENDONÇA FLÁVIA DOS SANTOS SOARES

RENATA DOS SANTOS SOARES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O trabalho se remete a uma pesquisa mais ampla que se propõe a estudar o processo de constituição de uma identidade profissional específica por parte do magistério público secundário, a partir de um recorte institucional. Toma como objeto de estudo o Colégio Pedro II, com um largo espectro temporal (1837-1945), considerando o lugar que o Colégio ocupa no processo de institucionalização do ensino secundário no Brasil e o seu caráter modelar. O marco inicial da pesquisa é a criação do Colégio, em 1837, com a qual a própria denominação de ensino secundário passa a ter curso legal, entre nós. O marco final, 1945, foi estabelecido em função do final do período do Estado Novo, ao longo do qual foi gestada uma política de centralização do controle do ensino

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secundário nas mãos do governo federal, através do Ministério da Educação e Saúde, que se consubstanciou na Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942, e sob cujo impacto, a nosso ver, o Colégio encerra uma espécie de ciclo e perde o seu caráter de colégio padrão. O presente trabalho se debruça sobre o período imperial e procura estudar o processo que caracterizamos como de uma progressiva disciplinarização do currículo, que se pode constatar a partir do Regulamento de 1855, e do seu impacto no recrutamento e no trabalho docente dos professores do Colégio. O novo Regulamento para o Imperial Colégio de Pedro II, aprovado por meio do Decreto n. 1556, de 17/02/1855, que procurou adaptar o Colégio às exigências do Decreto-lei n. 1331-A, de 17/02/1854, vulgarmente conhecido como Reforma Couto-Ferraz, introduziu uma série de alterações significativas no funcionamento interno do Colégio, entre elas a exigência de concurso para o ingresso no seu quadro docente. Como afirmamos em trabalhos anteriores, até então, os professores do Colégio eram diretamente nomeados pelos Ministros do Império. Outra questão, com relação a essa primeira geração de professores, diz respeito à sua intensa circulação entre as mais distintas cadeiras/matérias de ensino, sendo a interinidade a estratégia frequentemente utilizada para o preenchimento das mesmas, ou seja, um professor era nomeado para uma determinada cadeira, mas interinamente encarregado de uma outra. O Regulamento de 1855 cria também uma nova categoria docente, a dos repetidores, que foi objeto de outro trabalho nosso e para a qual também se exige o concurso para o ingresso. Diferentemente do que ocorria com os professores substitutos do primeiro regulamento (1838), tais repetidores passavam a ficar vinculados a um grupo de matérias de ensino, estabelecendo-se, portanto, uma primeira vinculação, ainda que tênue, entre o professor e uma área de conhecimentos. Encontramos indícios, na documentação levantada, de que esse processo se dá, preliminarmente, em determinadas áreas curriculares, a saber, as Ciências Naturais e as Matemáticas, o que tentaremos analisar na parte final do texto.

“BRAÇO FORTE MÃO GENTIL”: AS CONTRIBUIÇÕES DA PROFESSORA ROSÁLIA BISPO DOS SANTOS PARA O CENÁRIO EDUCACIONAL

SERGIPANO (1960 1991).

ANE ROSE DE JESUS SANTOS MACIEL JOAO MOUZART DE OLIVEIRA JUNIOR

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Pesquisar pressupõe um interesse por algo que nos inquieta e nos provoca a querer conhecer. Pressupõe a existência de um objeto/situação que nos apresente problemático de modo que nos desafie a pensar, esteja tal objeto ou situação localizado no âmbito do conhecimento sobre a natureza ou das questões sociais (OLIVEIRA, 2010). Assim, esta pesquisa se propõe a fazer uma análise da atuação da professora Rosália Bispo dos Santos, a primeira gestora e fundadora do Ginásio de Aplicação da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe junto ao Mons. Luciano José Cabral Duarte, buscando compreender como Rosália constituiu sua formação intelectual para atuar frente a alguns estabelecimentos educacionais importantes para a sociedade sergipana. Para tanto é imprescindível verificar o cenário educacional sergipano e a reação dessa sociedade às mudanças educacionais em voga. Nossa metodologia encontra-se ancorada nas pesquisas qualitativas, fundamentada com autores que tratam da temática da História da Educação no Brasil e, em Sergipe, e História Cultural. A relevância aqui apresentada dá-se pela contribuição propiciada pela professora que dedicou parte significativa de sua vida profissional para a formação educacional dessa sociedade. Embora tenha se tornado professora em 1943, nossa pesquisa traz como foco o ano de 1960 por ser o início de sua gestão no G A, e finaliza em 1991 por ser o ano de sua aposentadoria. A professora Rosália pode ser classificada como uma intelectual que disseminou seu conhecimento em função da educação sergipana. Segundo Duarte (2006) o que torna alguém um intelectual não é o fato dele realizar uma atividade na qual predominem os aspectos intelectuais, mas sim, o fato de que esse indivíduo desempenhe na sua sociedade a função de intelectual, ou seja, trata-se da sua posição na divisão social do trabalho. Natural de Pacatuba/SE estudou as primeiras letras no Grupo Escolar, General Siqueira, hoje Cultart – UFS. Escola Normal, hoje, Instituto de Educação Rui Barbosa, onde teve contato pela primeira vez com a língua francesa através de uma professora que a motivou e influenciou a querer ser professora. “Senti um desejo em querer ser professora de Francês por influência extraordinária de uma professora brilhante, Norma Reis”. Em 1955, licenciou-se em Letras Neolatinas pela FCFS. Em 1957, foi indicada professora substituta de Língua e Literatura Francesa na mesma Faculdade onde se formou. Em 1960 iniciou sua gestão no Ginásio de Aplicação, assumindo a direção até o ano de 1965. De 1965 a 1970 foi indicada pelo Governador do Estado Sebastião Celso de Carvalho para assumir a direção do Colégio Estadual Atheneu Sergipense o mais importante colégio estadual na época. Em 1968 passou a integrar o quadro da recém formada Universidade Federal de Sergipe, ficando até o ano de 1991, quando se aposenta. A fim do reconhecimento histórico educacional, essa pesquisa busca preencher lacunas deixadas pelo tempo na historiografia sergipana.

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A PROFISSÃO DOCENTE E A IMPLANTAÇÃO DA LEI 5692/1971 NO PIAUÍ: A REORGANIZAÇÃO DA ESCOLA E AS TRANSFORMAÇÕES NO

OFÍCIO DO PROFESSOR

ANTONIO DE PÁDUA CARVALHO LOPES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O Piauí foi um dos primeiros estados brasileiros a implantar a reforma de ensino proposta pela lei 5692/1971. Apresentada, no estado, como uma inovação importante, essa reforma promoveu alterações na organização escolar e no trabalho docente. No presente texto procuramos compreender as conseqüências da reorganização da rede escolar para o ofício docente. Para tanto analisamos as transformações sofridas pela rede escolar no período de 1950 a 1974 e as repercussões dessa na profissão docente. O cerne do trabalho direciona-se para a análise do ofício docente, caracterizando os processos de aceso à ocupação, o agrupamento dos docentes em categorias, a composição salarial e as exigências formativas postas. Como fontes utilizamos a legislação educacional do período, planos e projetos governamentais, jornais, livros de memória, discursos de formatura, estatísticas populacionais, dentre outras. Os dados foram analisados considerando os vínculos estabelecidos entre as prescrições sobre o ofício docente, o ingresso na profissão, a carreira, os salários e as disputas em torno da formação e do ofício docente, além do lugar da escola nos projetos de Piauí. Trabalhamos, principalmente, com os conceitos de profissão docente e sua história como pensado por Nóvoa (1991) e de configuração, como formulado por Norbert Elias (1991). O trabalho considerou, ainda, a historiografia sobre a profissão docente em diferentes estados no Brasil e recortes temporais. Essas pesquisas encontram-se publicados em obras como a organizada por Lopes e Stamatto (2010), a de Wachowicz (1984) e na obra organizada por Correa e Mendonça (2011), dentre outras. Compreendemos como Vicentini e Lugli (2009, p.15) que "[...] no caso brasileiro, a constituição do magistério deve ser entendida no âmbito na difusão, entre nós, do modelo escolar de educação". O trabalho considerou, também, a historiografia local utilizando dentre outros, os escritos de Santos Neto (2001), Camilo Filho (1969), Medeiros(1996), Brito (1996), Queiroz (1986). Percebemos que diferentes e sutis hierarquias são estabelecidas no interior da profissão docente baseadas nas formas de ingresso, na formação, no salário, nos espaços de atuação e nas disputas em torno da escola e de seu papel. O período analisado encerra-se com a implantação do Estatuto do Magistério Piauiense, que reorganizou a carreira docente no estado, sob a égide do planejamento e do tecnicismo na estruturação da rede escolar.Entender as relações entre uma norma moderna e as condições concretas do exercício da profissão docente é analisar a forma como o prescrito se efetiva.

BILDUNG: O NASCIMENTO DE UM SER CHAMADO PROFESSOR.

BRUNO OLIVEIRA SANTOS Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Do ponto de vista historiográfico, os estudos sobre a formação do professor até meados da década de 1980, focavam principalmente nos métodos e técnicas de ensino. Sendo assim, o professorado era subjugado pelos mecanismos de ensino (didática, avaliação, plano de aula, recursos, dentre outros). Dessa forma, suas experiências pessoais eram consideradas irrelevantes no contexto educacional. O escopo do presente estudo é apresentar o Erfahrung (termo alemão que designa experiência que se passa numa viagem, ou seja, experiência do acontecimento) como elemento constitutivo do Bildung (termo alemão que designa a formação), pois, entendemos que a formação está intrinsecamente ligada as histórias de vida dos professores, pois, como escreveu Nóvoa (1988) “ninguém forma ninguém.” Nessa perspectiva, a formação seria o resultado de um trabalho reflexivo a partir da trajetória de vida do próprio individuo. Em consonância com esse autor, Morin (2013), conceituou o termo formação como sendo o encorajamento ao autodidatismo, ou seja, ao despertar, ao provocar, visando sempre o favorecimento da autonomia de espírito do individuo. Seguindo essa linha de pensamento, Larrosa (2009) escreveu que a tarefa de formar é multiplicar as perspectivas dos discentes, abrir seus ouvidos, apurar seu olfato, educar seu gosto, sensibilizar seu tato, dar-lhe tempo, formar um caráter livre e intrépido. O resto será decidido pelo discípulo seguindo seu próprio temperamento, seu próprio estilo, sua própria curiosidade, suas próprias forças, seu próprio caminho... e o ‘que tira’ de seus próprios encontros. Nesse sentido, apresentamos o tornar-se professor como algo oriundo do experienciar, do sem pressa, do silenciar e, entendemos que esse processo formativo, não se limita aos bancos acadêmicos. Esse artigo é parte componente de minha dissertação de mestrado e teve como referencial metodológico a análise do discurso e de narrativa de vida e as coletas dos dados pautaram-se nas técnicas da história oral. Foram realizadas entrevistas com três professores de história sergipanos, todos ligados à rede básica de ensino, sendo uma professora aposentada, um professor com mais de dezessete anos de sala de aula e uma professora iniciando sua vida como docente. Nosso

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intuito foi verificar o processo formativo desses docentes tomando por base suas histórias de vida. Em suma, em uma profissão repleta de valores e crenças, como a docência, é inconcebível dissociar o processo formativo da trajetória de vida do professor.

“À PROFESSORA RESPONSÁVEL” – ESCRITAS MARGINAIS, ARQUIVOS ESCOLARES E HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE (VARGEM DO

CEDRO – SANTA CATARINA, 1933 – 1944).

CAROLINA CECHELLA PHILIPPI Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O estudo inscreve-se como análise e reflexão sobre o uso inusitado da escrituração escolar da Escola Estadual Mista Desdobrada de Vargem do Cedro. Já exausta após um dia de trabalho, a professora enfim, reúne seus instrumentos de ofício e a eles destina o sossego e o repouso da pequena gaveta. A docente, responsável por tais documentos produzidos no interior da escola, vê em suas margens o espaço para uma escrita docente que escapa à norma. São estes: seis (6) Livros de Chamada, um (1) Livro de Matrícula, um (1) Livro de Registro Escolar e um (1) Quadro de Resultado de Exames utilizados entre os anos de 1933 e 1944. A pequena instituição que abriga tais documentos localiza-se ao sul do estado de Santa Catarina, no distrito de Vargem do Cedro, vinculado ao município de São Martinho. A análise das escritas marginais abarcadas neste estudo - bilhetes soltos, observações diversas acerca do trabalho docente e de demais temas e esboços de cálculos em espaços utilizados como rascunho – caracteriza-se por escaparem do espaço que lhes é oficialmente destinado (CHARTIER, 2002). Além disso, é um meio de aproximação com estudos da História da Profissão Docente. Este trabalho é um excerto da dissertação de mestrado vinculada ao Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) sob orientação da professora Maria Cristina Menezes (coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, Cultura Escolar e Cidadania - CIVILIS – UNICAMP). Propõe-se a mapear e apresentar tais escritos, justificando sua adoção e uso para maior entendimento das fontes apreendidas. O propósito é inventariar essas escritas entendendo-as como forma de aproximação com as práticas docentes componentes dos cotidianos escolares revisitados, bem como das culturas escolares da pequena instituição catarinense. Utiliza-se de estudos de Castillo Gomez (2002), Viñao Frago (2003), Michel de Certeau (1994) e Roger Chartier (2002). Salienta também a existência de múltiplas nuances interpretativas nos arquivos escolares, dando destaque nesta investida ao arquivo como um lugar de memória e de produção da história. Acerca deste aspecto utiliza-se, sobretudo, de escritos de Menezes (2009) e desta em parceria com grupo de pesquisa (MENEZES; SILVA; TEIXEIRA JÚNIOR, 2005). Salienta por fim a importância da valorização destes aspectos em documentos angariados em arquivos escolares, deixando claro o entendimento deste como lócus de construção de memória institucional e de exercício de escrita da história.

O PLANO DE ESTUDOS DE 1769 DE DOM FREI MANUEL DO CENÁCULO: A FORMAÇÃO DO PADRE PROFESSOR

CASSIA REGINA DIAS PEREIRA CÉZAR DE ALENCAR ARNAUT DE TOLEDO

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Este texto tem por finalidade apresentar um estudo sobre a formação intelectual, ética, científica e técnica do padre professor em Portugal na segunda metade do século XVIII e o esforço de Dom Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814), representante do processo de modernização do reino português, em conciliar as diretrizes da ciência experimental moderna com as raízes tradicionais do catolicismo em Portugal. A pesquisa se insere na área de estudos da história e da historiografia da educação. A docência passou por um processo de redefinição na segunda metade do século XVIII, integrando o rol de mudanças fundamentadas nas ideias do iluminismo. A função docente era uma ocupação secundária de religiosos e os modelos escolares estavam sob a tutela da Igreja. O movimento iluminista pôs na ordem do dia o debate sobre a laicização da educação e defendeu seu controle pelo Estado. Defendeu a mudança do método de ensino, que deveria ser baseado na ciência experimental, e também a formação e o perfil do educador. Em Portugal na segunda metade do século XVIII ocorreu o movimento de secularização do ensino, que tomou forma mais estruturada durante o reinado de D. José I (1714-1777, rei desde 1750) e governo do primeiro ministro Sebastião José Carvalho e Melo (1699-1782), o Marquês de Pombal. As reformas chamadas pombalinas foram determinantes para a mudança da mentalidade cultural do povo português. Essas mudanças, de cunho modernizador foram também conservadoras, no sentido

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em que houve preocupação em preservar as bases de sustentação da política absolutista e a religião católica em Portugal. Destacamos neste texto o Plano de Estudos para a Reforma da Ordem Terceira de São Francisco de 1769, elaborado por Dom Frei Manuel do Cenáculo, como um exemplo de uma proposta de formação de professores que se alinhou com o contexto reformador de Pombal. Nele foi evidenciado o cuidado e a importância que deveria ser dada à boa formação do professor e sua relação com o bom desenvolvimento do aluno nos estudos e fora deles na sociedade. Apresentou uma proposta de ensino que defendia o método científico, baseado na observação e na experimentação. Sua proposta curricular para a formação do padre professor se constituiu em um exemplo de estrutura de ensino de cunho iluminista, mas, sem abandonar o catolicismo. Seu pensamento pedagógico e sua proposta curricular propunha ao trabalho do professor um caráter prático e interventivo. Destacou que suas práticas pedagógicas precisariam ser coerentes, e para isso elas deveriam estar vinculadas a propostas metodológicas coerentes. O documento analisado representa o movimento chamado de iluminismo católico, especificidade portuguesa.

DOCÊNCIA E “LUCRO DE AÇÃO”: A PERPETUAÇÃO DE UMA CONDIÇÃO

CÁTIA CORRÊA MICHALOVICZ Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Discutir a perpetuação da relação entre docência e dom, vocação, missão, é o objetivo principal desse texto. Traz-se para a discussão a continuidade, na história da profissão docente, do senso comum que alia a função de “ensinar” ao sacerdócio. Este trabalho constitui-se como recorte de uma pesquisa maior, para dissertação de mestrado. O aporte teórico abarca, sobretudo, conceitos da sociologia e da história da educação de autores como: Berger (1986); Bourdieu (1988); Lugli (1997, 2002); Penna (2007); Pereira (1963, 1969); Pereira (2000, 2001); Pereira, Andrade (2006). Algumas questões principais norteiam o trabalho: Qual a relação, para as docentes entrevistadas, entre ser professor e exercer um dom? De que maneira a “missão” a ser cumprida permeia sua prática cotidiana e sua vida “fora da escola”? Como se utilizam, as professoras, do “lucro de ação” para justificar a não adesão ao aspecto material (financeiro) da profissão? Como entendem, e analisam, sua posição na hierarquia das funções intelectuais – a posição “desprestigiada num universo prestigioso”, já evidenciada no fim da década de 1950? Parte-se de uma constatação na prática da pesquisa de campo, de que as docentes entrevistadas (professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental de escolas públicas municipais de Joinville) relacionam, ainda hoje, o exercício da docência muito mais ao sentimento de missão do que à profissionalidade da mesma. Não quer dizer que as professoras participantes da pesquisa não se entendam como profissionais da educação e não reivindiquem melhores condições de trabalho e mais valorização, sobretudo valorização social. Contudo, na quase totalidade das entrevistas, prevalece o sentimento de doação, de vocação, de dom para exercer a docência. O que parece demonstrar algo da condição docente na esfera da produção simbólica: as docentes apresentam-se como portadoras de uma missão legítima e legitimada socialmente. O aparente desinteresse pelo aspecto financeiro da profissão na atualidade pode ser entendido, aqui, como vinculado ao “lucro de ação”, a uma espécie de ressarcimento e compensação não econômicos à função ocupada. As docentes parecem operar modos de intercâmbio não explicitamente econômicos, valorizando os padrões simbólicos, não econômicos, talvez até mesmo antieconômicos de sua profissão, já que a racionalidade econômica está excluída da dádiva que cerca a profissão. Tudo indica que a teoria da dádiva poderia servir de base para se analisar a condição docente nesse aspecto, permitindo apreender, ao menos em parte, mecanismos subjacentes às trocas simbólicas efetivadas no magistério. Por outro lado, faz-se relevante indagar se realmente essas trocas simbólicas são mais importantes, ou se é a operação prática da dádiva que faz com que essas profissionais recusem (aparentemente) o material, o econômico, evidenciando a adesão ao mundo da escola.

DE ALUNOS A PROFESSORES: TRAJETÓRIA DOCENTE NO INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT

CRISTIANE VALES MACIEL Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A profissão docente tem se constituído em um tema bastante relevante para os historiadores da educação, principalmente porque através da história docente tem sido possível elucidar várias questões a respeito da própria gênese da escola moderna. Inclusive, o volume desses estudos indica que não se pode entender a história da profissão docente de forma homogênea e uniforme. E se, de imediato, demonstra que se detém em, pelo menos, duas variáveis - nível de ensino, primário ou secundário e tipo de estabelecimento escolar, público e ou privado – que pressupõem histórias bastante singulares, outros recortes podem ainda sugerir que essa temática

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nos parece até o presente momento inesgotável. Este trabalho, acreditando nessa hipótese, ao adentrar ainda mais em suas especificidades procura investigar a história da profissão docente sob o prisma daqueles professores que lecionaram/lecionam em uma instituição especializada na escolarização de alunos deficientes visuais, na medida em que os trabalhos encontrados sobre esses estabelecimentos têm se preocupado mais com as didáticas e as práticas docentes do que com a identidade docente desse agrupamento de professores. Nesse sentido, este estudo tem o objetivo de compreender a trajetória profissional de docentes cegos e com baixa visão do Instituto Benjamin Constant (IBC), órgão do Ministério da Educação (MEC) que presta atendimento a pessoas com deficiência visual - cegueira e baixa visão - na estimulação precoce, educação infantil, ensino fundamental - 1º ao 9º ano - à reabilitação. A partir de uma perspectiva sócio-histórica, toma como recorte seis ex-alunos que estudaram nessa instituição de ensino e que após terminarem sua graduação retornaram a esse mesmo estabelecimento como professores nos anos 1980, 1984, 1993 e 2006. Ou seja, o que fez com que esse grupo de ex-alunos optasse por construir sua trajetória profissional no mesmo colégio em que foram alunos? A comodidade? A certeza de que ali seriam bem recebidos? O receio do desconhecido? O risco em se verem em uma escola regular? Enfim, esses são os questionamentos que movem este trabalho, cujas respostas, com certeza, indicam facetas ainda não pesquisadas sobre a história da profissão docente. As fontes privilegiadas deste estudo até agora analisadas são os resultados de um questionário aplicado a esse agrupamento de professores, suas fichas funcionais, bem como suas fichas de ex-alunos. De imediato, alguns resultados já podem ser percebidos: se há uma passagem de ex-aluno para professor a partir de uma linha sequencial que implica em continuidade e ininterrupção, também podem ser detectadas algumas diferenças quanto às trajetórias desses seis professores que compõem a amostra deste trabalho.

ATUAÇÃO DO CORPO DOCENTE NOS GRUPOS ESCOLARES MARANHENSES NO PERÍODO DE 1903 A 1912

DIANA ROCHA DA SILVA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Nos últimos 30 anos verifica-se um crescente número de publicações abordando estudo das formas de organização, valores, gestos e saberes vivenciados cotidianamente no ambiente escolar pelos sujeitos envolvidos no processo de escolarização. Tal motivação tem se dado não apenas pela relevância do assunto, mas pela possibilidade de se fazer novas abordagens sobre o dia-a-dia escolar, suas práticas e seus significados, a fim de compreender, a partir de uma releitura baseada nos indícios, pistas e marcas deixadas ao longo do tempo, como as escolas republicanas em diferentes localidades do Brasil, por meio dos rituais informal e formalmente instituído, foram se constituindo como elemento imprescindível no processo de configuração do cenário político, econômico e sociocultural no início do século XX. No Maranhão, assim como em outros estados brasileiros, ao professor foi repassado a missão de remodelar os hábitos e costumes dos educando, presumindo, assim, a formação de uma sociedade que caminharia para o progresso e desenvolvimento. Neste sentido, esse estudo tem como objetivo apresentar as formas de atuação do corpo docente nos Grupos escolares maranhenses no período de 1903 a 1912, épocas referentes à fase de criação e extinção respectivamente. Este estudo baseou-se nos estudos historiográficos, com análises das fontes primárias, priorizando a documentação oficial sobre a educação maranhense, situando o processo de constituição dos grupos, além dos critérios para admissão, métodos de ensino e controle dos professores. Observa-se que a docência nos grupos do Maranhão foi consagrada pela presença do público majoritariamente feminino, tanto no interior como na capital. Mesmo assim, o cenário revelava que o poder masculino ainda imperava nas escolas maranhenses, pelo menos ao que se refere à primeira fase de sua institucionalização. Para tanto, utilizou-se a pesquisa histórica, tendo como instrumentos de análises a documentação oficial como as leis, decretos e regulamentos sobre os grupos escolares maranhenses no período em foco. Buscou-se, ainda os vestígios que exprimem o cotidiano escolar e as reclamações de professores, onde, a partir de uma análise minuciosa das entrelinhas, foi possível extrair aquilo que não é dito: as insatisfações das famílias (ao retirar seus filhos dos Grupos Escolares após o início do ano letivo); dos professores, dos alunos e diretores; a reclamação a respeito da falta de estrutura dos Grupos Escolares; a falta de pagamento e de material didático, além de outros aspectos. Acreditamos, assim, que os estudos dessa modalidade de ensino são imprescindíveis para a compreensão da história do ensino público no Brasil; para o entendimento do modelo de educação moderna, implantado durante o Período Republicano; para detectar quais são as características específicas dessas “Escolas de Verdade” no Maranhão; bem como compreender as permanências e mudanças relacionadas a esta cultura.

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MULHERES EDUCADORAS DAS ESCOLAS DE PRIMEIRAS LETRAS NO ESPÍRITO SANTO IMPERIAL

EDUARDO VIANNA GAUDIO Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Pretendemos com este texto apresentar o lugar ocupado pelas mulheres nas escolas de primeiras letras da província do Espírito Santo durante o período Imperial brasileiro. Acreditamos que investigar a história da educação nos fornece suporte para entender as práticas docentes da atualidade, elaborar pressupostos de composição dos currículos – em sua estruturação de grade de conteúdos – , e resgatar a memória da docência acadêmica a fim de compor um ponto de partida para entender as políticas educacionais vigentes. Partindo do método indiciário fomos em busca de um certo realismo na construção histórica, que acreditamos não ter função saudosista, nem caráter misericordioso com o passado, mas estar em busca de uma verdade, verdade esta que pode nos apontar outros olhares sobre a nossa identidade social, cultural, escolar, da mulher docente das escolas de primeiras letras no Espírito Santo imperial. Uma busca um tanto árdua, pois poucos são os registros que conseguimos resgatar que apontam para a temática. Realizamos uma pesquisa documental investigativa lançando mão, das leis imperiais e as leis provinciais; dos relatórios oficiais de Presidentes da Província do Espírito Santo, de 1842 a 1888; de documentos originais – as correspondências entre os professores, os inspetores de ensino, e a diretoria geral de ensino da província – ; do texto de Levy Rocha que retrata a visita de D. Pedro II ao Espírito Santo em 1860; e de fragmentos do jornal “Correio da Victória”. Após nossos estudos, pudemos verificar que as mulheres, mesmo com todos os preconceitos ao lugar de professora que ocupavam, conquistaram durante o império brasileiro o lócus do ensino de primeiras letras, anos iniciais da educação básica dos dias atuais. A inserção dos elementos cotidianos das mulheres, prendas domésticas, no processo de ensino e aprendizagem começa a aparecer como alternativa didática na educação das alunas que participavam do processo escolar e “obrigava” a presença feminina como docente. A discriminação, a cobrança na conduta, a submissão aos comandos dos diretores e inspetores de ensino, não foram capazes de ocultar a significante participação das mulheres educadoras ocorridas nesse período, marcando profundamente a relação de gênero estabelecida na prática docente. Sabemos que a cultura escolar, e suas práticas, tiveram em têm uma forte influência cultural. Buscamos salientar esta questão na pesquisa, principalmente apontando para as relações de gênero, a fim de compreendermos a constituição da estrutura educacional capixaba, assim como as estruturas de ensino da atualidade, os quais fundamentam a história da educação brasileira.

A INSERÇÃO DA MULHER NO MAGISTÉRIO CAPIXABA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: DESDOBRAMENTOS POSSÍVEIS NO

TRABALHO DOCENTE NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.

ELDA ALVARENGA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A INSERÇÃO DA MULHER NO MAGISTÉRIO CAPIXABA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: DESDOBRAMENTOS POSSÍVEIS NO TRABALHO DOCENTE NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. O estudo objetiva compreender como se deu a inserção das mulheres no magistério no Estado do Espírito Santo e os desdobramentos desta inserção para o exercício do trabalho docente. No Brasil, a inserção feminina no magistério aconteceu em um contexto da expansão do campo educacional, especialmente no ensino primário. De acordo com Almeida (1998), as mulheres fizeram-se presentes no exercício do magistério, dentre outros motivos, para atender ao conservadorismo católico da época, que não aceitava que os professores educassem as meninas. A autora aponta ainda que a ocupação do magistério pelas mulheres deveu-se efetiva e inicialmente ao aumento do número de vagas nas escolas e, posteriormente, ao abandono da profissão pelo grupo masculino. A retirada dos homens em busca de melhores salários teria permitido que seus postos fossem ocupados pelas mulheres. Observa por fim, que a inserção das mulheres no magistério teria sido influenciada pelas transformações das relações patriarcais que vinham estruturando a sociedade brasileira nas primeiras décadas do Século XX. Dialogando com essa e com outras pesquisas sobre o tema este estudo investiga o processo de inserção feminina no magistério capixaba a partir das seguintes interrogações: quando, como e em que ritmo aconteceu essa inserção? Que fatores contribuíram para a configuração local da presença das mulheres no magistério e quais foram os seus desdobramentos para o trabalho docente exercido localmente? O percurso teórico metodológico baseou-se no método indiciário, tendo como principal referência os estudos de Carlo Ginzburg. (1990). Dentre as fontes utilizadas destacam-se os relatórios de governo e da secretaria de instrução pública e registros efetuados por professores/as da época, como por exemplo, planos de aula e relatórios e materiais publicados em periódicos

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locais. Sá e Rosa (2004), apontam que em quase todos os estados brasileiros o magistério se torna uma ocupação majoritariamente feminina entre finais dos séculos XIX e início do Século XX. Afirmam ainda que as razões utilizadas para explicar esse fenômeno são muito semelhantes e “são mais afirmadas do que demonstradas” (p.3). No caso do Espírito Santo, as mulheres passam a ser maioria no exercício do magistério a partir das primeiras décadas do Século XX e este estudo pretende contribuir para a compreensão desse fenômeno, por meio da investigação historiográfica de singularidades e semelhanças constituídas localmente.

VIDA DE PROFESSOR: O PERCURSO DE JOSÉ DO NASCIMENTO MORAES NA INSTRUÇÃO PÚBLICA MARANHENSE

ELISANGELA PEREIRA GOMES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente trabalho, extrato de uma pesquisa em desenvolvimento, objetiva analisar a trajetória docente de José do Nascimento Moraes na instrução pública maranhense. Filho do sapateiro negro Manuel do Nascimento Moraes e de Maria Catarina Vitória, nasceu em 19 de março de 1882 em São Luís do Maranhão e faleceu na mesma cidade aos 76 anos em 21 de fevereiro de 1958. A reconstituição do seu percurso no ensino público situa-se entre a nomeação como professor interino da cadeira de Álgebra, Aritmética e Geometria da Escola Normal em 28 de abril de 1911 e a promulgação da lei n.º 962, de 15 de setembro de 1953, concedendo-lhe pensão. Constitui-se de um esforço biográfico nesse recorte temporal, ao mesmo tempo, uma descrição, em linhas gerais, da situação do professorado maranhense, demonstrando algumas ações governamentais por meio de leis e regulamentos da instrução pública, mensagens e correspondências de autoridades para o desenvolvimento da educação, fazendo-se a articulação teórica com Dosse (2009), Chartier (1988), Le Goff (1992) e Certeau (2014). Busca-se captar as representações que envolvem o corpo docente de sua época, no que diz respeito às utensilagens mentais: o modo como tempo é manipulado em sala de aula, condições de trabalho, remuneração salarial, concursos, programa de ensino e a participação do Estado na garantia ou não dessas questões. E, particularmente, em relação ao regulamento do Liceu Maranhense, principal instituição de ensino secundário daquele período, onde foi aluno e catedrático de Geografia, então admitido por concurso público em 1913. Ser professor dessa instituição trazia prestígio, pois encerrava fazer parte de um espaço de poder institucionalizado, profícuo de produzir discursos e gerenciar práticas em conexão com a exterioridade. Era frequentemente indicado não somente para presidir mesas examinadoras, especialmente quando era designado como examinador dos exames finais do curso ginasial do Liceu Maranhense, como também servir de fiscal de determinados estabelecimentos de ensino de São Luís, com a missão de equiparar o estudo ministrado, tomando como parâmetro essa instituição. Esse professor foi um intelectual negro engajado politicamente, a exemplo de seus embates na imprensa jornalística contra o governo ou de literatos adversários, comprometido com uma educação popular que promovesse melhoria nas condições de vida e combatendo o analfabetismo que solapava o Estado. Marcou de forma visível a existência de um grupo, produzindo e reproduzindo discursos de seu tempo, do espaço escolar e sua relação com outros professores liceístas, contribuindo com sua erudição de maneira significativa para a História da Educação no Maranhão, sobretudo na formação de docentes.

OLHARES SOBRE O MAGISTÉRIO OITOCENTISTA O ESTADO DA ARTE DA HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO SOBRE A PROFISSÃO DOCENTE

NO SÉCULO XIX

FABIANA GARCIA MUNHOZ Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A profissão docente é um canteiro bastante frequentado pelos pesquisadores da história da educação. Concomitantemente ao fortalecimento do próprio campo, a história da profissão docente sempre constituiu um eixo temático específico em todas as edições de congressos brasileiros de história da educação (CBHE), algumas vezes com um eixo exclusivo para a temática e noutras agregando-se a outros temas. Esta comunicação, de caráter bibliográfico, tem como objetivo sistematizar um levantamento dos estudos sobre os professores no século XIX com a intenção de identificar e problematizar os diferentes objetos de estudos, períodos, recortes geográficos, perspectivas teóricas, estratégias metodológicas e fontes mobilizadas pelos pesquisadores que investigaram historicamente o magistério no Oitocentos. Buscou-se realizar o levantamento das pesquisas brasileiras que problematizaram a profissão docente oitocentista apresentadas no período de 2002 a 2014 nos seguintes eventos científicos de História da Educação: Congresso Brasileiro de História da Educação (CBHE),

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Congressos Luso-Brasileiros de História da Educação (COLUBHE), Reuniões Anuais da ANPEd (Grupo de Trabalho História da Educação/GTHE). Outros balanços da produção historiográfica sobre os educadores e seus entornos vem sendo produzidos, assim o diferencial desta comunicação é recortar temporalmente um século da história brasileira buscando verticalizar a análise de resultados de pesquisas acadêmicas desenvolvidas e questionar matrizes interpretativas e análises propostas para as diferentes realidades brasileiras Como investigadora das experiências docentes oitocentistas, compreendo o balanço na perspectiva proposta por José Gondra (2007), como um esforço que “exige pensar nossa própria experiência de modo a diagnosticar nosso presente para dizer o que somos hoje e o que significa, hoje, dizer o que somos. Atitude experimental que implica em um trabalho nos limites de nós mesmos, do campo em que atuamos para, simultaneamente, apreender os pontos em que a mudança é possível e desejável e para determinar a forma precisa a dar a essa mudança, como diria Foucault (GONDRA, 2007, p. 174). Este esforço de diagnosticar permitiu delinear os contornos de uma produção ampla e diversificada, com estudos que enveredaram a partir de diferentes entradas: as práticas cotidianas, a ação do estado, reformas educacionais, formação docente, recrutamento e ingresso, exercício do magistério, processo de profissionalização, associações, periódicos educacionais, representações do professor entre outras.

EXPERIÊNCIAS NARRADAS: TRAJETÓRIAS DE EDUCADORAS ENTRE OS ANOS DE 1940 A 1980 (MARIANA-MG)

FERNANDA APARECIDA OLIVEIRA RODRIGUES SILVA ROSANA AREAL DE CARVALHO

RAQUEL DE JESUS EVANGELISTA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Resgatar o passado pelo olhar de sujeitos com experiências de atuação vinculadas ao Grupo Escolar “Dom Benevides” (Mariana-MG) entre os anos de 1940 a 1980 é o objetivo central da pesquisa “Mulheres educadoras em Minas Gerais: trajetórias contemporâneas”. Tal pesquisa decorre dos estudos desenvolvidos, ao longo da última década, sobre a instalação dessa instituição no contexto da Reforma João Pinheiro, de 1906. Avançando no tempo, as análises focaram no esforço de compreender a cultura escolar elaborada nesse espaço educacional durante as décadas de 40 a 60 do século passado, tendo como referência a atuação das senhoras diretoras. Decorre daí o interesse pelos sujeitos presentes nessa história que, não sendo poucos, merecem recortes mais específicos. Neste trabalho, tomamos como objeto quatro mulheres, irmãs entre si, que tiveram suas trajetórias profissionais na área da educação ligadas à escola, desde os anos de 60 e que nos dias atuais seguem contribuindo com a cidade de Mariana, em vários setores, principalmente na educação. O foco deste estudo é a trajetória dessas mulheres, tomando como ponto inicial o processo formativo e o seu natural desdobramento: a atuação docente. Interessa-nos observar, no interior das narrativas, aspectos constitutivos do processo de formação; do campo de possibilidades na escolha da profissão; das práticas e experiências docentes; das opções feitas ao longo da carreira; das mudanças de caráter pedagógico ocorridas ao longo do tempo; das funções educativas desenvolvidas; dos materiais pedagógicos utilizados, dentre outros. Para tanto, tomamos da metodologia da história oral o instrumental para a construção das narrativas. Por meio dessas narrativas, propomos estabelecer uma interlocução entre sensibilidades, memórias, subjetividades e os saberes docentes, no esforço de alcançarmos verdades plurais e não apenas a homogeneização científica. Em paralelo, nos apoiamos em diversas outras fontes como jornais, acervo documental da escola e documentos pessoais como registros escritos e fotográficos das atividades e estudos desenvolvidos durante a carreira; material bibliográfico utilizado no exercício da profissão; diplomas e certificados; planos de aula; programação dos cursos frequentados e demais materiais encontrados. O espectro analítico possível a partir das narrativas nos impele a pesquisas bibliográficas para composição do cenário cultural no qual estiveram inseridas, desde o contexto sócio-político à feminização do magistério. A pesquisa contribui para a compreensão do processo educativo desenvolvido na Região dos Inconfidentes, prioritariamente no espaço geográfico delimitado pelo município de Mariana tendo em vista as singularidades próprias ao recorte local.

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A EMERGÊNCIA DO ENSINO SECUNDÁRIO PARTICULAR NO MUNICÍPIO DA CORTE (1841-1860)

FERNANDO RODRIGO DOS SANTOS SILVA GUSTAVO DA MOTTA SILVA

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Este trabalho se refere a uma pesquisa maior que se dispõe a estudar o processo de constituição de uma identidade profissional específica por parte dos professores secundários e que toma como recorte institucional o Colégio Pedro II, instituição de ensino oficial do Município da Corte. A centralidade neste colégio se dá pelo lugar que ele ocupa no processo de institucionalização do ensino secundário no país e também pelo seu caráter modelar. Criada em 1837, a instituição surgiu com o objetivo de regular, pela sua exemplaridade, o funcionamento dos liceus públicos e particulares das províncias. Estudos realizados por grupos de pesquisas de vários estados brasileiros têm relativizado a eficácia da estratégia imperial, contudo, ainda pouco se sabe da relação entre o Colégio Pedro II e as instituições particulares congêneres que surgiram em meados do século XIX na Corte. No intuito de investigar esta relação, propomos analisar aquilo que chamamos de “a emergência dos colégios particulares”. Com base na documentação que vimos analisando, percebemos a década de 1840 como o marco de um lento fenômeno: a substituição da denominação “casas de ensino” por “colégios”. Esta mudança evidencia transformações significativas na configuração desta modalidade de ensino, como a passagem do exercício docente de uma atividade familiar para uma atividade de tipo mais profissional, com a entrada de “contratados” que não fossem do círculo familiar do dono do estabelecimento de ensino. Destacamos também o aparecimento do ensino secundário feminino, administrado por diretoras e com a atuação professores do sexo masculino contratados para a segunda seção, cujas lições não eram manuais. Percebe-se uma divisão sexual do trabalho docente, onde as professoras, ocupam-se do ensino de primeira seção e das lições manuais e os professores da segunda seção. Outro ponto relevante é proximidade entre o ensino primário e secundário, oferecidos no mesmo estabelecimento, por professores e em turnos diferentes, algo impensável para o Colégio Pedro II. A delimitação do recorte deve-se à análise da documentação trabalhada que identifica na década de 1840 uma maior preocupação da Câmara Municipal em controlar a ação dos professores (ou família de professores) e na década de 1860, o período onde o modelo do colégio já estaria consolidado, no citado município. O núcleo forte da nossa análise encontra-se na década de 1850, em função da Reforma Couto Ferraz (1854) que ao organizar o ensino primário e secundário na Corte nos permitiu entrever as práticas de ensino destas instituições particulares, por meio da análise da documentação gerada com o intuito de fiscalizar o funcionamento destes colégios, possibilitando o registro dos métodos de ensino, dos usos dos compêndios adotados, da modalidade de contratação dos professores, das autorizações para o funcionamento dos estabelecimentos, das licenças para o exercício do magistério e dos mapas de ensino.

“UMA VEZ NOMEADO POR ATO DA PRESIDÊNCIA O PROFESSOR (...)”: “MODOS DE EXISTIR” DOS PROFESSORES PRIMÁRIOS NA PROVÍNCIA

PARANAENSE

FRANCIELE FERREIRA FRANÇA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Em meio às deliberações legais, diversas foram as formas de nomeação e titulação dos professores primários paranaenses na segunda metade do século XIX, muitas foram as tentativas de regular e organizar o professorado primário, desta forma, muitas foram as modificações em relação aos critérios de seleção do corpo docente, às definições de seus direitos e deveres, e aos seus “modos de existir”. No bojo dessa organização, têm-se um grupo de professores em exercício, composto por professores vitalícios (professores públicos que tiveram provimento definitivo nas cadeiras para as quais foram nomeados), professores efetivos (professores públicos nomeados, a partir de 1865, que poderiam, depois de cinco anos de efetivo exercício, solicitar o provimento vitalício), professores contratados (professores particulares contratados em localidades em que não havia professor público habilitado ou número suficiente de crianças em idade escolar para a criação de uma escola) e por professores interinos (professores que permaneciam durante seis meses ou um ano nesta condição para provarem-se habilitados no ofício, nomeados ainda com o intuito de substituir os professores em suas licenças ou quando não havia professor na localidade). Diante dessas alterações, este trabalho tem por intuito evidenciar os “modos de existir” dos professores primários paranaenses, ou seja, a condição de professor de primeiras letras paranaenses em meados do século XIX. Para tanto, faz-se a análise sobre a organização estrutural da profissão docente – quais as formas de vínculo com o governo e a relação destas com as movimentações do professorado –

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a partir da consulta em relatórios e cartas de professores, relatórios e cartas de inspetores de ensino e a legislação educacional paranaense. Em meio às movimentações do pessoal do magistério e às determinações quanto aos vínculos que foram estabelecidos, é possível perceber que constituir-se professor estava atrelado também ao tipo de vínculo que o professor mantinha com o governo, e aliado a este, as tensões existentes entre as diferentes representações que esse ofício fez emergir. Ademais, salienta-se que a experiência profissional dos mesmos se constituía, lentamente, e, às vezes, veladamente, como um dos critérios de vínculo e permanência destes no exercício do magistério, uma vez que sujeitos se valeram dessa experiência, dos seus saberes produzidos ao longo da prática do ofício (TARDIF, 2012), para obterem sua nomeação como professor público e para continuarem em exercício. Estar numa condição determinada - de professor vitalício, efetivo, contratado ou interino – configurou-se ainda em fases de aprimoramentos de saberes e validação de experiências na construção de uma carreira docente.

CURSO NORMAL DO INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE SURDOS (1951-1957): MANANCIAL DE UM PROGRAMA

INSTITUCIONAL

GEISE DE MOURA FREITAS Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

CURSO NORMAL DO INSTITUTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE SURDOS (1951-1957): MANANCIAL DE UM PROGRAMA INSTITUCIONAL O presente trabalho se insere no campo de estudos da História da Educação, mais especificamente no âmbito da história das instituições escolares. Tem como tema de pesquisa a formação de professores e se ocupa do estudo do Curso Normal (1951-1957) oferecido pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Esse modelo institucionalizado de socialização docente, pela força e consistência de seu programa institucional, foi sendo consolidado no decorrer do tempo histórico da instituição através dos seus cursos de especialização em deficiência auditiva oferecidos até a década de 1980 e pode ter influenciado diretamente as condutas, os sentimentos e os valores da grande maioria dos então alunos e cursistas, futuros professores, que passaram, por sua vez, a dissipar esse mesmo modelo junto aos seus alunos quando se tornaram, mais tarde, docentes do quadro permanente do INES. Para a análise do campo empírico, buscou-se a interlocução com teóricos como François Dubet, por meio do conceito de programa institucional, Jean Sirinelli, com os conceitos de intelectual e geração, assim como estudos biográficos de Giovanni Levi e educação comparada, nos sentidos atribuídos por Antònio Nóvoa e Luiz de Carvalho. A investigação, de cunho qualitativo, tem como metodologia a pesquisa documental. As fontes consultadas são: textos legislativos, regimentos, grades curriculares, fichas de matrículas das ex-normalistas e cursistas, fichas funcionais de professores, periódicos (revistas e jornais de alunos e professores), anais de campanhas INES/MEC e relatórios do INEP (décadas de 1950/1960). Esses documentos foram encontrados no Acervo Histórico do INES, no Acervo do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, no Acervo Histórico da Escola Normal da Praça da República, em São Paulo, e no Acervo Histórico do Instituto Jacob Rodrigues Pereira, da Casa Pia de Lisboa, Portugal. Também houve a produção de entrevistas semi-estruturadas à luz da metodologia da História Oral por esta contribuir para a compreensão dos processos histórico-sociais. Para os propósitos desse trabalho, o objetivo a ser perseguido diz respeito à compreensão das práticas docentes divisadas a partir dos valores, saberes, ideias e comportamentos, relacionados ao programa institucional colocado em ação a partir da criação do Curso Normal do INES, e dos cursos de especialização, com foco nas análises dos depoimentos de quatro ex-normalistas e uma professora do referido curso e dos documentos escritos anunciados. Em seu provisório conclusivo, a pesquisa já pode apresentar indícios de que os professores podem assimilar, ou até mesmo reelaborar, o programa institucional no qual sua socialização docente foi forjada, disseminando seu sistema de ação para seus alunos e gerações descendentes de professores.

UMA BIBLIOTECA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: SABERES PEDAGÓGICOS QUE CIRCULARAM ENTRE PROFESSORES E ALUNOS DA

ESCOLA NORMAL PAULISTA

GIZELMA GUIMARÃES PEREIRA SALES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O tema deste texto, resultante de pesquisa de mestrado, trata da divulgação, circulação e sistematização de determinado conjunto de saberes pedagógicos considerados hegemônicos e que constituíam a Biblioteca da

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Escola Normal, nas primeiras décadas do século XX. Esses saberes disseminados em livros brasileiros e estrangeiros, revistas, coleções, jornais e demais literaturas sobre o ensino na escola primária tinham como objetivo oferecer subsídios para conduzir o trabalho docente dos futuros professores, com base nos considerados avançados estudos da escola moderna, ativa, denominado no Brasil como Escola Nova. Este texto tem por objetivo compreender aspectos relacionados à Biblioteca da Escola Normal, entendida como um espaço destinado a reunir um conjunto de saberes, especialmente voltados à formação do professor, como é o caso das bibliotecas das Escolas Normais. A circulação de saberes pedagógicos passa a ser um fator de grande relevância para a formação de professores. Dessa forma, os livros de destinação pedagógica são importantes fontes de divulgação, circulação e sistematização desses saberes científicos, psicológicos e pedagógicos a serem utilizados pelos professores no desempenho de suas atividades. Esse livros, manuais, revistas etc. desempenharam um papel relevante, tanto na formação dos professores, quanto no desempenho das funções do professor primário, uma vez que, neles circulavam saberes e propostas de modelos de ensino que procuravam atender a um ideal de renovação educacional, fundamentado, segundo os seus defensores, em “novos” e “modernos” pressupostos teóricos e filosóficos, e que visavam a uma elevação do nível cultural e intelectual do país. Tais impressos caracterizam-se como suportes de investigação para a compreensão de determinados saberes pedagógicos e permitem analisar, na sua materialidade, tanto os processos de difusão e imposição desses saberes, quanto as práticas dos que deles se apropriam. (CARVALHO, 1989). Essa pesquisa parte dos pressupostos de análise da História Cultural, e busca compreender como em diferentes momentos uma determinada realidade tem sido apropriada por diferentes leitores. (CHARTIER, 1990). Resultados da pesquisa permitiram compreender a relevância desses impressos como fontes de divulgação e circulação de saberes necessários à formação do professor primário, assim como para a configuração da escola primária, ao longo do seu desenvolvimento. Compreender aspectos da formação de professores primários no Brasil é, também, conhecer como determinados conjuntos de saberes pedagógicos e modelos culturais foram difundidos, desde o final do século XIX e que tiveram relativa hegemonia nas primeiras décadas do século XX.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX.

INÁRA DE ALMEIDA GARCIA PINTO ALINE MACHADO DOS SANTOS

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX. Pensar a carreira docente nos remete ao século XIX, tempo em que ela ainda não se encontrava afirmada como profissão no Brasil e nos Estados Unidos da América. O discurso pedagógico já neste período alertava para a necessária qualificação de professores para a escola primária e garantia de condições favoráveis para o exercício da profissão. Tendo em conta a especificidade dos sistemas educativos dos países aqui considerados, este trabalho tem como objetivo observar as condições de formação e qualificação de professores brasileiros e norte-americanos na segunda metade do século. Para tal fim, em relação ao Brasil, utilizamos a massa documental referente à Educação disponível no Arquivo Nacional e no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Entre as fontes analisadas priorizamos a legislação educacional, os relatórios de inspetores e professores, documentos nos quais percebemos, entre outros elementos, as medidas prescritas e práticas efetivadas em relação à carreira docente. No que se refere aos Estados Unidos trabalhamos com o The American Journal of Education conduzido por Henry Barnard.Este editor planejou organizar uma Revista que funcionasse como uma das agências interessadas na profissionalização docente e na melhoria das condições do exercício da profissão nos estados norte-americanos.Diferentes manifestações em relação à formação docente se refletiam nos discursos oficiais do Estado e nos periódicos destinados as questões educacionais da época. Destacamos as instituições voltadas para a formação do professorado, o debate a respeito da formação do professor primário. Mapeamos os saberes, materiais didáticos, as demandas pelo ofício e as condições do exercício do magistério primário nesses dois países. Na análise dos discursos produzidos sobre o tema proposto buscamos pontos de conexão entre as políticas de formação do professor na tentativa de apreender as tensões travadas em torno da questão.Desta forma, esta proposta pretende contribuir para a reflexão sobre a representação do perfil do professorado desejável pelos Estados nacionais no tempo e espaços considerados. Nos dois países foi possível apreender a ênfase do discurso na pauperização do professor, na imprescindível formação prévia e formação continuada e na busca pelas condições adequadas ao magistério primário. Nesse sentido, este estudo aponta para um quadro em que a pluralidade dos discursos sobre a docência sinaliza um tempo em que a definição do sentido de profissionalização torna-se importante estratégia, tanto de modelação docente por parte dos governos, quanto de luta pela valorização do professor enquanto categoria profissional que precisava ser reconhecida pela sociedade em formação.

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O PERIGO DAS BELAS PALAVRAS: PROFESSORES PRIMÁRIOS E PROCESSOS DE SEDUÇÃO NA BAHIA-1865 A 1889.

IONE CELESTE JESUS DE SOUSA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A comunicação enfoca processos de acusação de sedução contra professores das aulas primárias públicas, na província da Bahia, entre 1865 a 1889, em relações com aluna ou moça da comunidade onde exercia seu magistério. São processos que eram encaminhados pelos inspectores paroquiais, elementos da estrutura da Instrução Pública encarregados de zelar pelo bom magistério dos professores, ao Conselho Provincial de Ensino. Ocorria também de um parente das possíveis seduzidas diretamente encaminhar a queixa a este Conselho, que abria uma Representação contra o professor, que pelo Regulamento de Ensino, desde 1862, e mantido nas reformas de 1870, 1873 e 1881, deveria responder em defesa, apresentando provas de sua inculpabilidade. A destacar que este período foi marcado por estratégias de controle do próprio pessoal do magistério, através de estratégias como a reclassificação das Cadeiras; pela efetuação de sucessivas intervenções no Externato Normal para Homens e no Internato Normal de Senhoras, visando melhorar a formação dos futuros alumnos/as-mestres/as; pela instalação e sistematização da fiscalização do magistério público, através dos inspetores paroquiais e pela criação do cargo de inspetor geral do ensino. A ressaltar também que este magistério público, no período, era ainda majoritariamente masculino, pelo menos oficialmente. Partindo desta característica, o sujeito histórico que investigamos é o professor das escolas elementares de primeiras letras- o professor primário público, nem sempre formado na Escola Normal. De maneira mais detida, proponho uma análise de algumas das tensões e disputas que esta peculiaridade predispôs, marcadas por experiências de saber-fazer e de viver em uma sociedade masculinizada e fortemente hierarquizada quanto a distinções de côr e origem social, em situações de desafio ou não submissão as regras sociais tradicionais de acesso sexual/amoroso. O caso mais rumoroso, o processo que baseia esta comunicação, foi o de rapto de uma filha de senhor de engenho, branca, por um professor de côr, Domingos Cedro. A destacar que rapto, naquela contexto, podia ser uma fuga consentida pela moça, um a tática amorosa para conseguir o intento de convivência ante a objeção da família. Neste caso, a objeção teve também um caráter racial: na Representação que abriu contra o professor Cedro no Conselho de Ensino, o irmão da seduzida argumentou negativamente , entre outras questões, a sua categoria de homem “de Côr”, cuja côr seria “tão escura, que próxima dos escravos”. Os demais processos são inversos, tendo como sujeitos professores, enquanto parte de uma parcela do sistema público e letrados, sedutores de jovens locais, filhas e irmãs de pequenos lavradores ou artesãos, que contudo, encaminharam suas queixas da mesma forma ao Conselho de Ensino, deplorando a perda da honra de suas parentas e a oportunidade de casamentos com rapazes locais, ante a sedução dos mestres, permeadas pelo seu "bem falar".

COMPETÊNCIA DOCENTE NO ENSINO PÚBLICO DE SANTA CATARINA:REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES APOSENTADOS DA

REDE ESTADUAL DE ENSINO

IONE RIBEIRO VALLE SILVANA RODRIGUES DE SOUZA SATO

JULIA LARISSA BORGES BARCELLA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Este estudo integra os trabalhos de investigação que vêm sendo desenvolvidos por intermédio do projeto “Memória Docente e Justiça Escolar: Os Movimentos de Escolarização e de Profissionalização do Magistério em Santa Catarina”, aprovado pelo CNPq no Programa de Bolsa de Produtividade em Pesquisa (2012 a 2015). O artigo apresenta representações acerca da competência docente, estas elencadas em uma amostra de questionários aplicados com professores aposentados da Rede de Ensino do Estado de Santa Catarina. Em razão do uso polissêmico da noção de “representação social” no campo das ciências humanas e da educação, optamos pela perspectiva apresentada por Abric (1994): maneira pela qual os indivíduos se apropriam e interpretam a realidade que os cerca. As representações orientam as ações, definem o que é correto, moral, aceitável, ou não, numa determinada situação, e permitem aos indivíduos desenvolver argumentos que justifiquem suas escolhas e seus julgamentos. A questão norteadora centra-se nas maneiras pelas quais o professor torna-se competente na opinião do corpo docente que respondeu os duzentos questionários selecionados para esta análise. Dentre os aspectos considerados visando situar a competência docente que compõe esta enquete no tempo das políticas educacionais, destacamos variáveis a cerca do corpo professoral como: os professores leigos, os que possuem formação no ensino normal e os que são graduados no ensino superior. Tendo em vista as diferentes dimensões

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do conceito de competência, particularmente, e de sua força nas políticas educacionais mais recentes, buscou-se examinar as apostas do ensino público em Santa Catarina na competência profissional do magistério, a partir de uma análise da legislação educacional posta em vigor ao longo da segunda metade do século XX. O modo como os professores incorporaram, ou não, a retórica da competência profissional contida nos dispositivos legais, foi instrumento de análise por intermédio das representações descritas por eles. Para a realização deste estudo, nos apoiamos em concepções teóricas produzidas, principalmente, no quadro da sociologia e da história da educação. O estudo das representações dos professores aposentados em relação a competência docente, mais especificamente a como que um professor se torna competente evidenciou cinco aspectos mais atribuídos pelos docentes aposentados, graças: ao seu esforço pessoal (95%); a experiência em sala de aula (88%); ao curso de capacitação (85,5%); ao curso de formação inicial (73,5%) e aos recursos didáticos (55%). Assim sendo, as representações dos professores interrogados com relação a competência apontam para o caráter polissêmico do termo e de seu uso bastante ambíguo no campo sócio-educativo.

RAÍZES FINCADAS E SONHOS EMBALADOS- EDUCADORAS SALESIANAS EM CAMPOS-RJ

IVONE GOULART LOPES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

RAÍZES FINCADAS E SONHOS EMBALADOS: EDUCADORAS SALESIANAS EM CAMPOS/RJ Resumo Este artigo tem como objeto as educadoras que atuaram na formação das normalistas no curso normal do Colégio N. S. Auxiliadora de Campos/RJ no período de 1942-1961. Busca entender o projeto educativo da congregação através da análise do perfil da salesiana educadora bem como da construção da identidade da normalista católica neste ambiente. Para que isso aconteça é importante: Identificar a práxis do projeto educativo das irmãs salesianas de Campos/RJ, na formação da professora dentro do bojo da educação católica. Entender como esta escola, traduziu, mediante suas práticas, seus métodos de ensino, seus saberes, ambiência, o movimento de modernização escolar da época. Identificar o perfil da normalista desta instituição e a constituição de sua identidade profissional produzida ao longo de sua formação, (ethos cristão). Verificar porque o Ginásio e Escola Normal N.S. Auxiliadora se constituiu como um espaço de referência de formação docente na região. Perceber as formas de socialização escolar e, inclusive, religiosa que compõem a identidade das discentes selecionadas para a análise, o ethos religioso que impregnava, a configuração social, a experiência profissional. Busco no Projeto Educativo das Salesianas a construção da identidade institucional, com foco na equipe de professores: religiosas e “leigos” que atuaram na formação de professoras “católicas” que “professoraram” nas escolas públicas de Campos e região, seu significado e contribuição para a formação docente. Trata-se de uma pesquisa sócio-histórico, na linha da história das instituições educativas de formação de professores, na perspectiva de Magalhães (1999), Antonio Nóvoa (1992), Mogarro (2001), que têm na instituição escolar seu foco de estudo, estabelecendo um referencial teórico metodológico para análise da organização educativa, enquanto tempo e espaço de produção de práticas, através da ação de seus atores, professores, alunos, gestores e funcionários. Os princípios metodológicos: análises dos documentos escolares, fontes inéditas e história oral. As fontes advêm do arquivo do Colégio, de três arquivos das províncias das Salesianas: São Paulo/SP, Belo Horizonte/MG e Rio de Janeiro/RJ. A Biblioteca Nacional/RJ e o Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa com sede em Barbacena/MG também foram locus de fontes importantes. Analisar a história da instituição educacional e a sua evolução é o primeiro passo, mas o mais importante é a maneira como as práticas desenvolvidas em seu interior e fora dele vão revelando os possíveis vínculos entre o saber-fazer educacional daquelas agentes e as formas de organização próprias do mundo moderno. Destaco a abordagem de Dubet (2002) sobre as profissões que se remetem ao trabalho sobre o outro.

A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO ENSINO SUPERIOR: FORMAÇÃO DO PROFESSOR EM CURITIBA FACE À LDB 5692/71

JACYARA BATISTA SANTINI Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Esse artigo integra uma investigação historiográfica e tem como foco contribuir para a ampliação das reflexões sobre a formação do professor para o ensino de arte em Curitiba, especialmente a formação universitária, face à promulgação da lei 5692/71 que fixa as Diretrizes e Bases para o ensino de 1.º e 2.º graus. Ao ser aprovada a lei da reforma educacional, tornou a arte obrigatória na escola de 1.º grau e em alguns cursos do 2.º grau e os professores, na época, recorreram às Escolinhas de Arte em busca de orientação, sendo que no Paraná tal

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direção ficou à incumbência do Curso de Artes Plásticas na Educação - CAPE. Pesquisas têm-se ampliado no âmbito da história e da historiografia desse ensino no Brasil acerca da formação e dos cursos que marcam essa trajetória e o Paraná tem sua própria história, marcada primeiramente, por artistas/professores imigrantes como Alfredo Andersen, Guido Viaro, Ricardo e Emma Koch, entre outros que aqui se instalaram e desenvolveram seus projetos, norteados pelos ideais da livre expressão, das escolinhas de arte e dos movimentos renovadores da educação. A necessidade da formação superior para o professor de Arte já era sentida e discutida em Curitiba desde a ciência do projeto de reforma educacional, inclusive pelo CAPE, que possuía fortes ideais relacionados à formação e desejava expandir-se para a formação universitária. Inicialmente objetiva-se, com esse texto, compreender a passagem ou a transformação do lugar de formação do professor de arte mediante um conjunto de fatores que se impuseram à realidade Curitibana: a promulgação da lei 5692/71, o fim do Curso de Artes Plásticas na Educação - CAPE e o início do curso de licenciatura em Educação Artística na Faculdade de Educação Musical do Paraná em 1976, uma instituição que até então tinha sua trajetória exclusiva na área de música. Além disso, busca-se refletir sobre as condições do ensino de arte e seus mecanismos de sustentação para a formação específica do professor diante da referida lei. Algumas pesquisas historiográficas no âmbito do ensino de arte, realizadas pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Paraná - UFPR fundamentam essa reflexão. São as de: Ricardo Carneiro Antonio, Denise Bandeira, Dulce Osinski, Luciana Gurgel, João Paulo de Souza Silva e Rossano Silva. Utiliza-se ainda fontes como Circulares, Ofícios, Relatório de Atividades, Convênios, Leis, Resoluções e Pareceres. Para embasar algumas relações sobre a Lei 5692/71 e o entendimento da legislação escolar buscou-se autores como Nádia Gonçalves, Telma Valério e Faria Filho. Para pensar sobre a situação do ensino de arte, especificamente diante das mudanças da lei 5692/71, apoia-se em balanços feitos por Ana Mae Barbosa e Carmen Biasoli. Por fim, para adensar as reflexões sobre ações no interior de instâncias de poder buscou-se Michel de Certeau.

“O MODO COMO APRENDI E ENSINEI”: A CONSTITUIÇÃO DA PROFESSORA JANETE AGUIAR DE SOUZA CRUZ

JOAQUIM FRANCISCO SOARES GUIMARÃES MARBENE COSTA DOS SANTOS

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente artigo é fruto da dissertação de mestrado “Memória de Educadoras Sergipanas: práticas escolares e cultura escolar em Umbaúba (1955 -1989)”, e toma por objeto de estudo as memórias orais da professora Janete Aguiar de Souza, 72 anos, residente a Rua Manoel Messias, s/n no município de Umbaúba, cidade localizada no sul sergipano. As suas memórias são experiências vividas na família, no grupo de convívio e nas instituições escolares onde estudou e trabalhou que se revelam potentes em possibilitar um novo processo de leitura/escrita da história da educação sergipana, pois são capazes de revelar um passado alargado. Desse modo, traçamos o objetivo de compreender como a professora Janete Aguiar de Souza Cruz constituiu-se educadora pelos saberes mediados por sua primeira professora, “Maria Galdino da Silva”, na década de 1940. A significância de tomarmos nossa personagem para a pesquisa relacionada à história da profissão docente se encontra na razão de que suas narrativas do viver na escola muito dizem de sua composição como professora. Ao nos apropriarmos das memórias da professora e concebê-la como fruto de sujeito fazedor de sua própria história, buscamos na história cultural e social Inglesa, segundo Edward P. Thompson (1981) o respaldo teórico para operar historiograficamente pelas lentes da “experiência”. O trabalho com as memórias da professora nos possibilitou escrever uma espécie de history from bllow. Neste enfoque, as experiências históricas dos homens, das mulheres e das crianças comuns ganharam espaço. Desse modo, por uma história da educação “vista de baixo”. Para tal, fizemos uso da metodologia da história oral, segundo as analises realizadas por Aberti (2005) e Bosi (2003). Para compreender o que cada narrativa traz consigo, precisamos ter claro para quem ela se destina e porque ela fala. Portanto, não basta considerar o enunciado; é preciso refletir sobre as condições da enunciação. É evidente que as entrevistas de história oral compõem parte das fontes do historiador, contudo, é preciso que ele reflita sobre a construção de suas fontes. Também operamos com as categorias de análise: “cultura escolar” de Julia (2001) e “Práticas Escolares” Vidal (2009). Assim, conclui-se que os modos de ser e fazer-se professora de Janete Aguiar de Souza Cruz, foram forjados durante sua trajetória enquanto aluna, pois teria herdado de sua professora “Alice” o modo de pensar e agir no ensino escolarizado. Pois, é na escola que se aprende a ser professor, uma vez que, foi na sala de aula na relação com sua professora que Dona Janete também se compôs professora e nos deixou indícios de como se constituiu a história da profissão docente no interior sergipano.

VOZES DOCENTES NO PAFOR TOCANTINO

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JOCYLEIA SANTANA DOS SANTOS Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A pesquisa relata as atividades desenvolvidas no Parfor - Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica, do Curso de Pedagogia de Palmas na Universidade Federal do Tocantins, especificamente nas disciplinas pedagógicas relacionadas à história da educação (História Geral da Educação, História da Educação Brasileira e Metodologia do Ensino de História). O objetivo foi investigar a formação do aluno de Pedagogia ao ingressar no Parfor no período de 2010 a 2014 e explicitar os saberes adquiridos no processo ensino- aprendizagem estabelecendo uma conexão deste conhecimento com prática pedagógica de história na educação básica. A pesquisa de campo deu-se através de entrevistas com docentes de municípios distintos do estado do Tocantins com intuito de obter uma visão diversificada dos profissionais que trabalham com a educação. A opção pela história oral possibilitou conhecer os docentes como sujeitos da história e como se veem dentro dessa história. Como a memória pode proporcionar os conhecimentos de fatos não relatados no contexto educacional histórico, dando identidade à aqueles que a vivenciaram, sendo esses também personagens que traduzem a história no cotidiano da sala de aula. As entrevistas foram circunscritas ao desempenho profissional das educadoras no espaço acadêmico e no contexto escolar. Roteiro: – Professor (a) você consegue fazer uma avaliação do seu desempenho profissional ao ingressar e ao finalizar o Curso de Pedagogia, na disciplina de História Geral da Educação, ofertada pelo PARFOR? – Qual a influência e o impacto da disciplina de História Geral da Educação, sobre o contexto de sala de aula? – Como foi o processo de construção metodológica nas disciplinas de História Geral da Educação, História da Educação Brasileira e Metodologia do Ensino de História? Como se dá a utilização dos materiais ofertados pelo Parfor, no contexto da educação básica? As entrevistas obedeceram às fases, de transcrição absoluta e depois de textualização, etapa em que foram eliminadas as perguntas e reparadas as palavras sem peso semântico, como algumas repetições, de forma a manter a oralidade das educadoras, respeitando as normas da Língua Portuguesa. Inferimos que, as educadoras ao se apropriarem dos saberes descobriram que a pesquisa foi a alternativa para melhoria do processo educacional, tanto do ponto de vista teórico e quanto do ponto de vista conceitual. Esta conscientização crítica foi proporcionada pelas leituras dos textos históricos que propiciou uma formação teórica consistente com envolvimento e participação imediata na vida escolar e nas atividades sócio-culturais no entorno da escola. A partir das narrativas dos docentes compreendemos a influência e o impacto das disciplinas de História em sua formação pedagógica no contexto de sala de aula do sistema Parfor. O discurso revisionista está sendo adotado e as práticas pedagógicas paulatinamente modificadas.

DOCÊNCIA DE EMERGÊNCIA, MISSÕES PEDAGÓGICAS ITINERANTES E REGULAMENTAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE NO ESPÍRITO SANTO

(1951-1952)

JORDANA VICENTE GAMA REGINA HELENA SILVA SIMÕES

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Objetiva investigar propostas para a formação de professores durante a reforma da educação ocorrida no Espírito Santo de 1951 a 1952, focalizando, especialmente, a docência de emergência e a regulamentação do trabalho docente. Para tanto, tomamos como fontes a legislação estadual da educação e matérias publicadas no Diário Oficial durante o período estudado. Para complementar este estudo, analisamos, também, a obra Didática Mínima, de autoria do professor paulista Rafael Grisi, cuja primeira edição foi publicada em 1952. Rafael Grisi foi o secretário de educação do Estado do Espírito Santo (1951 a 1952) responsável pela reforma do ensino investigada, o que nos permite pensar possíveis nexos entre a reforma capixaba e as ideias expressas no livro. Nossas buscas pautaram-se nas proposições de Marc Bloch (2001), Walter Benjamin (1994) e Carlo Ginzburg (1989, 2002) explorando, nesses autores, a ideia de que passado e presente se interpenetram e a noção de que a narrativa histórica se constitui por meio do mergulho nas fontes estudadas de forma ao mesmo tempo rigorosa e flexível. As primeiras leis analisadas compreendem o período de posse do novo governador do Estado – Jones dos Santos Neves – e da nomeação do novo secretário de educação. Observa-se que as primeiras medidas adotadas foram no intuito de regulamentar a situação dos docentes, bem como criar critérios para a distribuição do professorado. Dentre as medidas adotadas, destacamos o Curso Intensivo das Missões Pedagógicas Itinerantes destinado aos Docentes de Emergência cuja presença no magistério remonta a 1939, um momento crítico segundo a avaliação contida no Diário Oficial. Esses docentes compunham um magistério provisório e sem direitos ou deveres claramente estabelecidos e totalizavam 700 professores, em 1945, e mais de 1200 em 1951, abrangendo 60% do magistério militante (DIÁRIO OFICIAL, 1952). Para regulamentar a situação dos professores, realizou-se o Curso Intensivo das Missões Pedagógicas Itinerantes no primeiro trimestre de 1952. A análise dos

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discursos que circulavam no contexto da Reforma da Educação no Espírito Santo no período aponta para: a) a valorização de conhecimentos científicos relativos à Psicologia, à Sociologia e à Filosofia na formação de professores; b) a presença do ideário de uma política desenvolvimentista; c) a utilização de modelos estrangeiros como orientação para a educação, entendida como “elemento chave” para o progresso e para o desenvolvimento da nação; d) a ênfase ao exercício da didática em sala de aula. Tanto nos discursos analisados como no livro Didática Mínima, identificamos como características da proposta reformadora realizada, políticas e programas voltados para a formação de professores em serviço, com base na pedagogia nova, assim como iniciativas que visavam à organização profissional do trabalho docente.

O MAGISTÉRIO RÉGIO SETECENTISTA NA BAHIA: VICISSITUDES DE UMA PROFISSÃO “RECENTE”

JOSÉ CARLOS DE ARAUJO SILVA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

As reformas pombalinas da instrução, conjunto de medidas modernizadoras derivadas do Alvará régio de 28 de junho de 1759 promoveram uma reforma geral nos estudos do reino português, durante o reinado de D. José I e sob a orientação do seu principal ministro, Sebastião José Carvalho e Melo. Dentre essas mudanças, a principal consistiu na criação do sistema de aulas régias, o que necessariamente provocou a instituição do cargo de Professor régio, selecionado e remunerado pelo Estado. Posto isso, a presente proposição de comunicação individual circunscrita espacialmente a Capitania da Bahia entre os anos de 1780 a 1827, tem como objetivo apresentar as singularidades do magistério baiano do período e compreender como os membros dessa nova categoria profissional, criada para preparar quadros mais bem qualificados para o futuro exercício dos cargos da burocracia estatal, se constituíram profissionalmente e exerceram o seu magistério diante de um conjunto de dificuldades pessoais, profissionais, materiais, e financeiras que muito eclipsaram o título nobiliárquico de “Professoribus e Medicis” que lhes fora conferido pela legislação pombalina. Cabe destacar que entre os membros do magistério régio baiano do período citado, encontramos alguns indivíduos cujo exercício profissional tanto no magistério como em outras áreas foi marcante, a exemplo de José da Silva Lisboa (futuro Visconde de Cairu), que exerceu o magistério de Filosofia Moral e Racional por 16 anos na Capitania, Francisco Moniz Barreto de Aragão, professor de Gramática Latina e um dos principais envolvidos na “Conjuração dos Alfaiates”, além de Luis dos Santos Vilhena, professor de língua grega, notabilizado por ser o autor da mais conhecida crônica do cotidiano colonial baiano, as Recopliações Soteropolitanas. Esse corpo docente marcantemente composto por clérigos (de várias ordens, mas não da Companhia de Jesus) e bacharéis coimbrãos se apresentava como um conjunto de indivíduos que, por diversos motivos, se inseriam no magistério, fosse como uma extensão das suas obrigações religiosas fosse como a oportunidade de colocação profissional. Por sua vez, não se deve descartar que a essa altura, o ingresso no serviço público, já exercia um grande fascínio sobre parte da população, sobretudo entre aqueles que estavam alijados da participação nos negócios da terra e do comércio. A análise da documentação (cartas e ordens régias, termos de posse e juramento de professores régios para as várias vilas da capitania; registros de correspondências recebidas e expedidas pelas câmaras das vilas; registros de correspondência expedida e recebida por autoridades diversas; provisões; alvarás; registros; petições; nomeações; licenças; testamentos e inventários) revela que os professores régios, apesar do reduzido número de membros, foram sumamente ativos nas decisões mais importantes do período da chamada "crise do sistema colonial".

A CONTRIBUIÇÃO NORTE-AMERICANA NO MOVIMENTO DE ESCOLARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA EM 1929

JOSÉ CARLOS XAVIER BONFIM Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Esta comunicação procura problematizar os modelos de apropriação e de circulação dos métodos de ensino-aprendizagem da educação física norte-americana, no segundo quartel do século XX, apreendidos no Brasil para serem aplicados na formação pedagógica de professores de educação física enquanto produção de novos saberes construtores de um novo olhar escolarizador nacional. Corpo e alma em disciplina, reconfigurando as representações da prática docente em educação física no país sob o espectro da modernização conservadora dos anos 1930. Concepções pedagógicas aliando-se aos discursos normativo, reformador e intervencionista. Vale destacar que a articulação dos métodos pedagógicos norte-americanos, como exemplo as prescrições para o ensino escolar não era uma influência uníssona, sendo interpelada, (res)significada e, por vezes, recusada por

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membros as ABE, como também pelo Ministério da Guerra. Em “operação historiográfica” como nos indica Certeau (1982) recorremos às fontes científicas. As Atas da Seção de Educação Física e Higiene da ABE, da 20ª sessão de 2 de maio de 1929, da 21ª sessão de 16 maio, da 22ª sessão de 3 de maio de 1929, da 23ª sessão de 30 de maio de 1929, da 24ª sessão de 13 de junho de 1929, da 31ª reunião da ABE em 14 de novembro de 1929 e da 32ª reunião da ABE em 22 de novembro de 1929 constituem um corpus empírico importante para que possamos investigar às pistas, às evidências e os encobertos à luz da história cultural (Burke, 1992, p.14-16) num esforço de heteroglossia, entrecruzamento de linguagem, ideologias e poder. Assim, buscamos pensar representações, imagens e proposições interpretativas dos métodos pedagógicos norte-americanos imiscuídos no processo de formação de professores para a prática docente da educação física no país. Nesta perspectiva, a partir de 1929, a Associação Brasileira de Educação (ABE) e, de modo mais específico, através de sua Secção de Educação Physica e Hygiene (SEPH) estreitou diálogo com a Associação Cristã de Moços (ACM) e com a Associação Cristã Feminina(ACF) a fim de estabelecer uma rede de trocas com entidades educacionais norte-americanas para formação de profissional de educação física. Não à toa, os membros da ACM e da ACF, passaram a frequentar reuniões do Conselho Diretor da ABE e da sua Sessão da SEPH. Neste mesmo período, ACM foi escolhida pela ABE para ser a interlocutora para os assuntos relativos à Educação Física. Conectada à ACM, ABE passou a ter afinidade com modelo pedagógica norte-americano, ao enviar frequentemente professores e professoras associados da ABE para a realização de cursos de formação pedagógica em educação física nas entidades educacionais nos Estados Unidos da América do Norte. Pressupostos que modelaram proposições para a Educação Física no Brasil.

A REPRESENTAÇÃO FEMININA NA TRAJETÓRIA INTELECTUAL DA PROFESSORA MARIA LÍGIA MADUREIRA PINA.

JOSÉ GENIVALDO MARTIRES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Este estudo tem como objetivo discutir a representação feminina na trajetória intelectual da Professora Maria Lígia Madureira Pina. Em relação à metodologia aplicada, utilizamos os referenciais teóricos da história oral, por meio do uso da técnica de história de vida realizada através de depoimentos da Profª Maria Lígia Madureira Pina. Outras fontes também foram utilizadas a exemplo das pesquisas em jornais e pesquisas bibliográficas. A Prof.ª Maria Lígia Madureira Pina nasceu em Aracaju, no dia 30 de setembro de 1925, realizou os estudos nos colégios: Prof.ª Carlota, Frei Santa Cecília, Nossa Senhora de Lourdes e no Instituto Rui Barbosa (antiga Escola Normal). O Ensino superior em História e Geografia foi realizado na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe no período de 1955 a 1958. Iniciou a vida profissional no magistério a partir de 1958, lecionando em vários colégios na cidade de Aracaju. Em 1967 foi convidada para lecionar no Colégio de Aplicação, onde desenvolveu várias peças de teatro entre elas: “As Grandes Navegações”, “Patrícios e Plebeus”, “Os Caminhos da Filosofia”, “O Ponto Ômega”, “O 1º e o 2º Recital de Poesias Sergipanas”. Permaneceu no Colégio de Aplicação até 1991 em razão de sua aposentadoria. No decorrer desta trajetória as presenças marcantes das professoras serviram como exemplos e conduta de sua vida, ao tempo que constatou as injustiças no universo feminino. Fruto destas inquietações, a Prof.ª Maria Lígia Madureira Pina criou em 1992 a Academia Literária de Vida, onde congrega somente mulheres, discutem e divulgam as suas produções literárias. Em 1994 publicou o Livro A Mulher na História, O livro está organizado em dez capítulos e como critério de organização, a professora Pina organizou o material pesquisado de acordo com a divisão da História em idades, ou seja, Pré-História, História Antiga, História Moderna e História Contemporânea. Os períodos da História do Brasil ocorrem concomitantemente com as idades Moderna e Contemporânea, O último capítulo é destinado às Mulheres Sergipanas que foram esquecidas ou são desconhecidas pela geração atual. Mulheres a exemplo de Leda Regis, professora; Cesartina Regis, primeira farmacêutica de Sergipe; Quintina Diniz, primeira Deputada Estadual de Sergipe; Maria Rita Soares, Juíza de Direito; dentre outras. Através do relato dessas mulheres a Professora Pina faz uma retrospectiva histórica das lutas femininas pela igualdade entre os sexos. O livro A Mulher na História é referência para as pessoas que têm interesse em se debruçar sobre essas mulheres que a sociedade colocou no baú do esquecimento. O grande legado desta obra foi a retirada do esquecimento as mulheres sergipanas que foram pioneiras em diversas áreas, sendo a mesma utilizada como referência em várias pesquisas no campo da história da educação.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E EDUCAÇÃO DE SURDOS

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JULIO CESAR TORRES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A educação de surdos e a formação de professores no Brasil apresentam um histórico de conflitos. Ao se fazer um retrospecto, pode-se observar que houve um avanço significativo, porém, tal avanço ainda não foi suficiente para garantir um contexto educacional satisfatório. Vistos como incapazes até meados do século XX, a surdez foi considerada um déficit cognitivo durante décadas, pois acreditava-se que o surdo não era capaz de desenvolver um nível de aprendizagem semelhante ao de alunos ouvintes. Um dos fatores que contribuiu para o avanço da educação dos surdos no Brasil foi a Constituição Federal de 1988, que estabeleceu em seu capítulo III, seção I, art.205, que a educação é um direito de todos, e enfatiza no art. 206, que deve existir igualdade de condições e permanência nas escolas. Entende-se com isso que, independentemente de qualquer diferença ou necessidade que o sujeito possua, é seu direito uma educação de qualidade, incluindo-se, assim, os sujeitos surdos no sistema educacional. Em 2002, após muito tempo lutando contra a restrição e buscando o reconhecimento do uso de sua língua, as pessoas surdas conquistam um marco político-normativo importante: a Lei nº 10.436/2002 que reconhece a LIBRAS como meio legal de comunicação e expressão das comunidades surdas, além de estabelecer a adequação do sistema educacional às particularidades do aluno surdo, havendo, assim, a necessidade de uma formação diferenciada de todos os envolvidos no contexto escolar, principalmente por parte dos professores. Outros aspectos importantes para a inclusão social dos surdos estão disciplinados, também, no Decreto nº 5.626/2005. No caso dos surdos, para que se garanta a oferta de um ensino de qualidade, é necessário que sejam respeitadas suas diferenças linguísticas e culturais, fato que só pode ser concretizado por meio da Língua de Sinais, no caso do Brasil, a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Adotou-se, nesta proposta de estudo, a perspectiva da abordagem socioantropológica da surdez. O objetivo desta pesquisa foi investigar historicamente as políticas de formação de professores da Educação Básica no tocante à realidade contemporânea de inclusão dos surdos na escola regular. Como problematização do objeto de estudo, pretendeu-se discutir, a partir dos pressupostos do bilinguismo, quais concepções de formação docente estão implícitas nas diretrizes da política nacional de inclusão das pessoas com deficiência por meio do Decreto nº 7.611/2011 que disciplina o Atendimento Educacional Especializado (AEE). Trata-se de pesquisa bibliográfica e documental. Discute-se o perfil dos atuais profissionais da Educação que atuam na área da surdez. Diante disso, fazemos uma reflexão sobre como se dá a formação desses professores, analisando-se o que preconiza a legislação e o que tem sido discutido pelo paradigma bilíngue de educação de surdos.

FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA CURSOS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: O CURSO DE PEDAGOGIA UNESP/UNIVESP

JULIO CESAR TORRES MARIA DALVA SILVA PAGOTTO

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O objetivo desta pesquisa foi investigar a formação de professores-tutores para a educação a distância, tomando-se o caso do curso de Pedagogia oferecido pela UNESP a partir de 2010, em convênio com a UNIVESP, Universidade Virtual do Estado de São Paulo. O curso de Pedagogia na modalidade a distância foi organizado em 21 pólos, disponibilizando um total de 1350 vagas distribuídas em faculdades e institutos da universidade espalhadas pelo estado de São Paulo. Com características de semi-presencial e totalizando 3390 horas, o curso foi organizado de forma que os alunos realizassem 60% das atividades a distância, online, por meio de plataforma de aprendizagem, e 40% em atividades presenciais em encontros nos pólos. O material de apoio foi constituído de filmes, documentários, palestras etc., veiculados pela Fundação Padre Anchieta, no canal digital Univesp TV, de livros textos por disciplinas, elaborados por professores da UNESP e de uma biblioteca física, com títulos escolhidos especialmente para atender às diferentes disciplinas previstas no currículo do curso. Com esse perfil, o curso teve uma coordenação central, sediada em São Paulo e 54 orientadores de disciplinas, denominação para designar os professores-tutores, sendo um para cada 25 alunos. Cada um dos pólos contou com um professor coordenador, docente da UNESP, responsável pelo andamento do curso e pelo apoio aos orientadores e alunos. Partindo-se do entendimento de que os professores-tutores dos cursos de educação a distância passaram a se constituir uma nova categoria de trabalhadores da educação que têm a tarefa de instruir, ensinar e formar profissionais, sem, contudo, serem professores ou tratados como tais, estabeleceu-se a seguinte questão de pesquisa: como é feita a formação inicial e continuada dos professores-tutores do projeto Pedagogia EaD da UNESP/UNIVESP? Ao longo do período em que esta pesquisa foi desenvolvida buscou-se: a) proceder ao levantamento da produção científica em livros, periódicos, teses e dissertações sobre a formação de tutores; e b) acompanhar os procedimentos para a seleção de tutores a serem contratados para atender aos pólos nos quais o curso se realiza; c) acompanhar o processo formativo que lhes foi/vem sendo oferecido ao longo do trabalho. Diante desse primeiro levantamento foi possível observar que significativa parte dessa produção sobre Tutoria –

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Educação a Distância, relaciona-se mais à descrição de procedimentos de trabalho e prática pedagógica dos tutores e pouco à formação de tutores. No entanto, com base no referencial bibliográfico, foi também possível avaliar que está em construção uma teoria sobre a formação de tutores, tendo como referência a produção já bastante consolidada a formação de professores.

O OFÍCIO DOCENTE NA PROVÍNCIA DE SERGIPE: UMA ANÁLISE MEDIADA PELAS CORRESPONDÊNCIAS EMITIDAS PELOS

PROFESSORES PRIMÁRIOS (1835)

LEYLA MENEZES DE SANTANA SIMONE SILVEIRA AMORIM

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

De abordagem histórica cultural, pois envolve sujeitos produtores e receptores de cultura, essa comunicação debruçar-se sobre as questões que envolvem a prática do ofício docente na Província de Sergipe no ano 1835. Objetiva-se aqui analisar a atuação das professoras e professores primários, participantes de um sistema educativo, através das práticas de ensino entrelaçadas com as normativas políticas e sociais exigidas no período citado. As principais fontes desse estudo são correspondências emitidas por esses professores no ano de 1835 e que são confrontadas com os Relatórios dos Presidentes da Província de Sergipe deste mesmo ano. Essas correspondências possuem riquezas de informações; trata-se de uma documentação que se relaciona com o interesse humano, sendo de suma importância para este estudo. O caminho metodológico até chegar às correspondências teve como marco inicial o Arquivo Público do Estado de Sergipe (APES), lá foram localizadas 19 (dezenove) correspondências que possuem um conteúdo comum: fazem referência ao folheto Fonte da Verdade ou Caminho para a Virtude. Nestas correspondências, os professores comunicavam ao destinatário que receberam o documento oficial dando ordem expressa de não mais utilizar o folheto nas aulas de primeiras letras. Esta proibição expressa incorrerá na necessidade de explicar o motivo que levou o Presidente da Província a tomar esta decisão. Dentre os motivos, destaque para a alegação do Presidente da Província de que o impresso disseminava ideias anticristãs. Para operar metodologicamente com as fontes deste estudo, recorreu-se às orientações elaboradas por Ginzburg (1989), através do método indiciário, assim como ao conceito de configuração (ELIAS, 2001), de modo a olhar a configuração da profissão docente e apanhar as suas práticas através das correspondências. É na perspectiva do “entrelaçamento de interdependências” (ELIAS, 2001, p. 55) e das relações dos indivíduos consigo próprio, com os outros e com o ambiente social que esse estudo buscou compreender como figurou-se a prática dos professores primários. Ao analisar o ofício docente mediado pela análise das correspondências foi possível descrever a atuação dos professores, identificando principalmente as interrupções e continuidades relacionadas com a prática desses professores e professoras, bem como a localização geográfica de cada professor e professora na província que atuavam no ano de 1835. A participação ativa desses professores primários nesse processo foi percebida nas correspondências por eles escritas, seja pelo único fato de terem sido escritas, o que já sinalizou um ordenamento de comunicação entre os professores e seus superiores diretos, seja pelos conteúdos que estas correspondências traziam, ora com questões formais e sistemáticas, a título somente de obediência; ora com ideias de cunho moral, agregado a isto valores religiosos, políticos e civis.

QUEM SE QUER FORMAR NO CURSO NORMAL, NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS EM CURITIBA – PR

LIGIA LOBO DE ASSIS Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Este artigo objetiva analisar o perfil dos egressos e a trajetória de formação propostos nos projetos pedagógicos do Curso de Formação de Docentes em Nível Médio, modalidade Normal, nas três escolas da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná, na Cidade de Curitiba, capital do estado, após a retomada da oferta dos cursos profissionalizantes a partir de 2004. A pesquisa a partir da qual se produz estas reflexões encontrasse em fase inicial. No recorte apresentado, busca-se identificar a que se propõem esses cursos no contexto em que as recomendações legais e a produção acadêmica apontam para a formação de professores no Ensino Superior pode auxiliar na tarefa de avaliar e discutir a sua pertinência no presente. Para compreender o contexto de cessação e reabertura da sua oferta no Paraná, será apresentado um histórico do período com compreende a imlementação em 1996 do Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio - PROEM, que só não obrigou o

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fechamento do Curso de Magistério em razão deste ser objeto de legislação específica do Conselho Estadual de Educação do Estado do Paraná (Deliberação PR/ CEE 002/90), que tratava especificamente da regulamentação desta habilitação. Serão utilizados para esse fim o documento síntese do Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio - PROEM (PARANÁ, 1996), bem como artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que tratam do tema (ALMEIDA, 2004; SANDRI, 2007; VALGAS, 2003). Os elementos acerca do perfil do egresso e da trajetória de formação para o Curso Normal nas escolas que compõem o campo de pesquisa atualmente serão baseados na Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do ensino Fundamental, em Nível Médio, na modalidade Normal, produzida pela Secretaria Estadual da Educação do Paraná (PARANÁ, SEED, 2006) e nos projetos de curso elaborados e implementados pelas instituições formadoras. Análises preliminares da proposta oficial e dos projetos pedagógicos das escolas indicaram que é comum aos documentos, tanto da Secretaria de Estado como aqueles em vigência nas escolas, a explicitação de que visam à formação de educadores e professores para a Educação Básica, mais especificamente para a atuação na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A partir desta constatação pretende-se constituir elementos que contribuam para compreensão tanto da suposta função e demanda social pela continuidade de sua oferta no âmbito da pesquisa ora realizada.

DA SUBMISSÃO A PRÁTICAS DE ASTÚCIAS: A PRESENÇA FEMININA NA ESCOLARIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ESPÍRITO SANTO (1931-

1936)

MARCELA BRUSCHI OMAR SCHNEIDER

WALLACE ROCHA ASSUNÇÃO MARCELO LAQUINI ELLER

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O estudo busca compreender a representação alcançada por 22 professoras normalistas formadas no Curso de Educação Física, entre os anos de 1931 e 1936. Objetiva analisar os discursos produzidos por elas, em formato de monografias, sobre a necessidade da prática da Educação Física direcionada ao sexo feminino e, ao mesmo tempo, procura entender como essas professoras agiram dentro de uma realidade que determinava seus papéis sociais. Utiliza, como referencial teórico-metodológico, o conceito de lutas de representação, estratégia e tática e consumo produtivo, para visualizar como a realidade é construída por seus atores sociais. Como fonte documental, utiliza os documentos do Arquivo Permanente do Centro de Educação Física e Desportos, um conjunto de documentos que guarda a memória do curso desde a década de 1930. Dessa forma, torna-se possível observar as trajetórias dos alunos em seus processos de formação como professores de Educação Física. O Curso de Educação Física foi criado em 1931, passando a oferecer uma segunda formação para os professores normalistas, cuja maioria era constituída por mulheres. Ao analisar a configuração da Educação Física no período, é possível perceber que as mulheres se apresentaram na linha de frente no desenvolvimento da disciplina no Espírito Santo, pois passaram a ser habilitadas para trabalhar com esse conteúdo nos ensinos primário e secundário. Como estratégia formativa dos professores, pode-se destacar que a monografia se configurava como dispositivo modelar muito eficiente nas práticas curriculares do curso. Entre os temas discutidos, a Educação Física direcionada à mulher apresenta-se como um assunto monográfico bastante enfatizado. Nesses documentos é possível observar um discurso comum, em que ressoa uma representação que circula em várias instâncias, entre elas, o discurso oficial do Estado, que acreditava que a mulher possuía um papel estático na sociedade, de ser uma boa dona de casa, preparada fisicamente pela ginástica para ter filhos saudáveis para a pátria, garantindo a formação de um homem moderno. Ao ler os documentos do Arquivo Permanente, percebe-se que 22 professoras de Educação Física, por meio de suas monografias, tiveram a oportunidade de dar visibilidade a seus trabalhos ao serem publicados no Jornal Diário da Manhã (1908-1937) e no impresso pedagógico Revista de Educação (1934-1934) ao lado de homens que possuíam formação militar ou que ocupavam cargos públicos no Estado. As trajetórias dessas mulheres demonstram haver uma distinção entre o mundo dos textos e as práticas sociais, pois elas mesmas não ficaram aprisionadas ao mundo doméstico, mas se tornaram professoras, burlando os condicionamentos sociais produzidos por elas próprias em suas monografias, passando a ocupar cargos em instituições de ensino com maior representatividade, como o próprio Curso de Educação Física, como professoras e secretárias, cargos, anteriormente assumidos por homens com formação militar.

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PROFESSORES EM MOVIMENTO: ASSOCIATIVISMO, IMPRENSA E ATUAÇÃO DOCENTE NO RIO DE JANEIRO NA PRIMEIRA REPÚBLICA

(1889-1920).

MARCELO GOMES DA SILVA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente artigo visa analisar as atuações, os espaços e veículos de participação utilizados por professores na cidade do Rio de Janeiro para se fazerem atuantes no debate sobre o magistério e a formação do campo educacional nas décadas iniciais da Primeira República. Para tanto faz-se necessário investigar os professores a partir do grupo social que representam, das relações sociais a que estão emergidos, das práticas políticas, das instituições às quais estão vinculados e dos espaços utilizados para materializarem suas concepções e demandas, a exemplo da imprensa docente. Como destacado por Schueler (2007) é preciso pensar as ações dos professores, homens e mulheres, como intelectuais do ensino e da cidade, estando as atuações desses sujeitos articuladas pelas possibilidades e limitações surgidas das relações com esses espaços. Neste sentido, este trabalho articula-se com a reflexão sobre o movimento dos professores no que tange às associações docentes, o uso da imprensa por parte dos mesmos e os espaços ocupados pelos professores na capital federal A partir do escrutínio dos modos de associativismo docente nas décadas iniciais da República, e suas práticas de produção de uma imprensa vinculada às associações, toma-se como fontes centrais, periódicos produzidos por docentes entre os anos de 1899-1920, tendo como objetivo demonstrar os contornos do debate público educacional e a participação do magistério em contextos pouco explorados pela historiografia da educação. Em função da proposta deste trabalho, que focaliza, inspirado pela perspectiva sugerida por Thompson (1987), os sujeitos e suas experiências de “fazer-se” profissionais, não se preocupou em categorizar se os periódicos são de professores públicos, particulares, ou a quais níveis de ensino pertencem. Os estudos clássicos sobre este período recobrem o período da década de 1920 e o pós-1930, com ênfase nos projetos em disputa no debate educacional e na matriz escolanovista (NAGLE, 1974; NUNES, 1998; XAVIER, 2002). Mesmo os trabalhos que buscam problematizar e revisar o período e as marcas que o tema escolanovista reproduziu na historiografia da educação tomam como marco, principalmente, a década de 1920 (CARVALHO, 1989, 1998; SAVIANI, 2004). A investigação se insere no campo da História da Educação no que diz respeito às discussões sobre a profissão docente, o que ocorrerá em diálogo com autores do campo e com as pesquisas que contribuem para a contextualização do Rio de Janeiro no período proposto. Acredita-se que o movimento dos professores no espaço da cidade/capital precisa ser entendido nesse período, considerando-se as articulações feitas pelos sujeitos, assim como a circularidade de ideias e discussões no universo educacional.

GREVES DO MAGISTÉRIO PÚBLICO DO RS: MEMÓRIAS DE PROFESSORAS DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO GENERAL FLORES DA

CUNHA/PORTO ALEGRE DÉCADAS DE 1980-1990.

MARIA BEATRIZ VIEIRA BRANCO OZORIO Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente artigo aborda as mobilizações de professoras, materializado nas greves do magistério público estadual do Rio Grande do Sul, no período compreendido entre 1980 a 1990. Para isso foi escolhida a Escola Estadual General Flores da Cunha, em Porto Alegre, entre outros motivos pela sua destacada liderança nas greves do período estudado, nas mobilizações da categoria, tendo como horizonte a efetiva participação das professoras no movimento grevista. A partir desse lugar, a pesquisa elege como principal corpus documental narrativas de memória de professoras da escola em questão que aderiram total ou parcialmente às greves dos anos 1980 e 1990. A metodologia da pesquisa é a História Oral, que foi desenvolvida a partir de entrevistas. Importa dizer que a investigação procura contextualizar as narrativas de memória em suas interfaces com o momento político vivido no país, especialmente, no Rio Grande do Sul. Nesta perspectiva, a abordagem da investigação não perde de vista as transformações ocorridas no magistério público diante de políticas públicas vigentes, destacando o papel do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul - CPERS, que agregou o nome de sindicato a partir de 1989. No cruzamento de fontes, busca-se um maior entendimento acerca da temática da pesquisa ao ouvir as narrativas dessas mulheres-professoras, que atuando nas salas de aula, tiveram significativas e até decisiva participação nas greves do magistério. A pesquisa se inscreve no campo da História da Educação e tem a História Cultural como vertente teórica. Pretende ouvir as experiências das professoras, a partir de suas memórias e vivências nos momentos de greve, seus silêncios, ou não ditos, procurando entrecruzar suas narrativas com os registros sindicais e notícias da imprensa local. A pesquisa busca conhecer as histórias dessas

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professoras que, não estando nas lideranças do movimento grevista, atuaram dentro das escolas, nas ruas e acampadas nas praças. Procura compreender seus sentimentos, seu olhar sobre o vivido e o sentido durante as greves. O estudo dialoga com a perspectiva de Michel Foucault sobre os homens infames, aqueles que durante séculos foram esquecidos por uma História que privilegiava as ações de uns, eleitos como merecedores de terem suas vidas narradas, destinando outros a um estado de marginalidade, de anonimato. Através das entrevistas, procuro trazer à tona este passado das greves em que foram sujeitos muitas mulheres-professoras. Esse ato de lembrar, afirma Lucilia de Almeida Neves, insere-se entre as possibilidades múltiplas de registro do passado, elaboração das representações e afirmação de identidades construídas na dinâmica da História. Não perdendo de vista a afirmação de Alistair Thomson, compomos nossas memórias para dar sentido à nossa vida passada e presente. Relembrar, revisitar as memórias atualizando o tempo passado, tornando-o vivo e cheio de significados no presente.

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: IMPACTO DAS AÇÕES DO CENESP NAS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS

INSTITUCIONALIZADAS NOS ANOS 1980 EM RORAIMA

MARIA EDITH ROMANO SIEMS-MARCONDES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A década de 1970 é marcada por um período de significativa expansão das ações da Educação Especial no Brasil, tendo como ponto central a inserção da educação dos então chamados “excepcionais” como sujeitos a serem considerados pelo poder público na construção das políticas educacionais conforme explicitado na Lei 5692/1971 que orienta a reforma do ensino proposta pelo regime militar ditatorial da época. Cria-se então o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP em 1973, primeiro órgão nacional vinculado ao Ministério de Educação, com a finalidade de promoção, em todo o território nacional, da expansão e melhoria do atendimento aos excepcionais. Uma das ações adotadas para o alcance deste objetivo, foi a oferta maciça de cursos destinados à capacitação dos professores que iriam atuar nos projetos e serviços em processo de estruturação. Em estudo que tomou como foco a história da Educação Especial no Território Federal de Roraima, identificamos ser o Território Federal, espaço privilegiado de implantação das políticas e propostas do governo central já que toda a estrutura de gestão dessas áreas era diretamente definida e monitorada pela Presidência. Desta forma, compreender o ocorrido neste espaço regional, contribui para o entendimento das macro políticas do regime militar brasileiro para a área. Este estudo, desenvolvido na perspectiva historiográfica de Edward Palmer Thompson, de uma “história vista de baixo”, pauta-se na análise dos relatos de professores e técnicos sobre suas vivências na área à época e em documentos do cotidiano escolar como atas, diários e relatórios internos, além de documentos do acervo pessoal dos professores, como Certificados e Históricos Escolares. Documentos emitidos pelo denominado Serviço de Autorização para o Exercício do Magistério, apontam a existência no campo da Educação Especial, de professores “autorizados a lecionar em Caráter Suplementar e a Título Precário” nas unidades de ensino especializado (Classes Especiais ou Centros de Educação Especial), entre os anos de 1980 e 1984. É também neste período que observamos uma alta incidência de oferta de cursos de capacitação promovidos e realizados pelo CENESP localmente ou em outros estados para onde os professores eram deslocados. Dentre os resultados dessas ações de formação destacamos a substituição de práticas de natureza pedagógica, com foco na alfabetização e educação escolar dos alunos, para uma ênfase das ações no sentido da oferta de atividades clínicas e terapêuticas aos alunos. Na experiência dos professores, estes registram a substituição do foco na ação pedagógica pela centralização em práticas medicalizantes e biologizantes que se disseminam nos anos seguintes no campo da Educação Especial em todo o país.

A FORMAÇÃO DOCENTE E A PRÁTICA EDUCATIVA NA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS (1824-1850)

MARIANA SILVA SANTOS CLÁUDIO LÚCIO MENDES

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Esse trabalho propõe-se a compreender como se dava a formação docente e a prática educativa na província de Minas Gerais, no período pós-independência, 1824, até meados de 1850. Em meados da primeira metade do oitocentos, o método de formação de professores era conhecido como monitorial. Em determinado instante, tal método deixa de ser suficiente e passa-se a valorizar a apreensão da teoria para a formação, teoria essa

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repassada pelas Escolas Normais. Ocorre, então, nesse ínterim, uma coexistência entre as duas maneiras de formação. Os fundos que ampararam a busca de evidências para esta investigação foram dois, localizados no Arquivo Público Mineiro: Presidência da Província e Instrução Pública, nos quais se pesquisou e transcreveram-se determinados documentos. Trabalha-se metodologicamente embasando-se no pensador Michel Foucault, inspirando-se em seus estudos genealógicos para desenvolver os argumentos e analisar as fontes pesquisadas. Baliza-se a análise agrupando os documentos em cinco grupos temáticos, a saber, Controle dos Alunos, A Conduta e os Conteúdos dos Professores, Os Outros Especialistas da Escola: a Vigilância da Conduta, O Salário e a Docência como Dom, As Leis e os Métodos de Ensino. Cada um desses tópicos vem explicar como se pode, a partir deles, lançar luz à formação de professores no período estabelecido. Percebe-se que a obrigatoriedade escolar é pioneira na província de Minas Gerais. Obrigar as crianças em idade escolar a frequentarem as escolas remete a uma medida do bom governo, e coincide com a necessidade do controle social. Além disso, há também a criação de cargos que atuam no controle direto da atuação do professorado, como os inspetores e delegados, além do diretor. Há uma clara normatização dos deveres dos professores, e uma exaustiva regulamentação de conduta para os estudantes. Muitas reclamações são encontradas acerca de estrutura física e ausência de materiais e utensílios para o sucesso das aulas. Existiam inúmeros pedidos de demissão de professores que encontram outras profissões mais rentáveis que a docente ou que alegavam terem sido acometidos por moléstias que os impediam de prosseguir com a realização de seus trabalhos. Essa evasão de profissionais gerava certa flexibilização no cumprimento das leis. Relativizava-se, por exemplo, a real necessidade de punição de um professor que não se adaptava ao novo método de ensino, já que o método antigo, ainda que inadequado sob a voz da lei e aos olhos do Estado, dava resultados na instrução e mantinha o docente empregado. Ser professor após a independência era, portanto, um ato encarado por poucos, e esses poucos por vezes não resistiam à tarefa de lecionar sob as condições que lhes eram ofertadas, solicitando a retirada do cargo em decorrência de moléstias ou pelo salário baixo.

A FORMAÇÃO DOCENTE E A PRÁTICA EDUCATIVA NA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS (1824-1850)

MARIANA SILVA SANTOS CLÁUDIO LÚCIO MENDES

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Esse trabalho propõe-se a compreender como se dava a formação docente e a prática educativa na província de Minas Gerais, no período pós-independência, 1824, até meados de 1850. Em meados da primeira metade do oitocentos, o método de formação de professores era conhecido como monitorial. Em determinado instante, tal método deixa de ser suficiente e passa-se a valorizar a apreensão da teoria para a formação, teoria essa repassada pelas Escolas Normais. Ocorre, então, nesse ínterim, uma coexistência entre as duas maneiras de formação. Os fundos que ampararam a busca de evidências para esta investigação foram dois, localizados no Arquivo Público Mineiro: Presidência da Província e Instrução Pública, nos quais se pesquisou e transcreveram-se determinados documentos. Trabalha-se metodologicamente embasando-se no pensador Michel Foucault, inspirando-se em seus estudos genealógicos para desenvolver os argumentos e analisar as fontes pesquisadas. Baliza-se a análise agrupando os documentos em cinco grupos temáticos, a saber, Controle dos Alunos, A Conduta e os Conteúdos dos Professores, Os Outros Especialistas da Escola: a Vigilância da Conduta, O Salário e a Docência como Dom, As Leis e os Métodos de Ensino. Cada um desses tópicos vem explicar como se pode, a partir deles, lançar luz à formação de professores no período estabelecido. Percebe-se que a obrigatoriedade escolar é pioneira na província de Minas Gerais. Obrigar as crianças em idade escolar a frequentarem as escolas remete a uma medida do bom governo, e coincide com a necessidade do controle social. Além disso, há também a criação de cargos que atuam no controle direto da atuação do professorado, como os inspetores e delegados, além do diretor. Há uma clara normatização dos deveres dos professores, e uma exaustiva regulamentação de conduta para os estudantes. Muitas reclamações são encontradas acerca de estrutura física e ausência de materiais e utensílios para o sucesso das aulas. Existiam inúmeros pedidos de demissão de professores que encontram outras profissões mais rentáveis que a docente ou que alegavam terem sido acometidos por moléstias que os impediam de prosseguir com a realização de seus trabalhos. Essa evasão de profissionais gerava certa flexibilização no cumprimento das leis. Relativizava-se, por exemplo, a real necessidade de punição de um professor que não se adaptava ao novo método de ensino, já que o método antigo, ainda que inadequado sob a voz da lei e aos olhos do Estado, dava resultados na instrução e mantinha o docente empregado. Ser professor após a independência era, portanto, um ato encarado por poucos, e esses poucos por vezes não resistiam à tarefa de lecionar sob as condições que lhes eram ofertadas, solicitando a retirada do cargo em decorrência de moléstias ou pelo salário baixo.

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O USO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PELO PROFESSORADO PRIMÁRIO CATARINENSE NA DÉCADA DE 1960

MARILÂNDES MÓL RIBEIRO DE MELO Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Esta comunicação possui como objetivo analisar o uso de materiais didáticos pelo professorado da educação primária catarinense na década de 1960. Esse professorado é aposentado da Rede Estadual de Ensino catarinense e exerceu a profissão docente na década em questão. A empiria com a qual operaremos são questionários nos quais são registradas as memórias da atuação pedagógica desse contingente e nos quais buscaremos desvendar não somente a diversidade dos materiais didáticos, mas igualmente analisar os usos e as possíveis ressignificações a eles concedidas por esse professorado. A comunicação está relacionada ao desenvolvimento do projeto Memória Docente e Justiça Escolar: os movimentos de escolarização e de profissionalização do Magistério em Santa Catarina. Este projeto apresenta como uma de suas metas, recuperar e registrar a memória dos docentes catarinenses, objetivando produzir fontes de pesquisa e construir uma memória docente, a partir do olhar de professoras/res aposentados da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina. Atualmente o acervo é composto por mais de 1000 questionários, recolhidos entre o professorado da referida rede, além de outras fontes tais como entrevistas e memoriais descritivos. A abrangência desse acervo permite distintos estudos, dada a sua amplitude: abordam temáticas que se iniciam com os dados pessoais até os mais significativos para o professorado, tal como a experiência pedagógica. Para desenvolver as reflexões propostas nesta comunicação realizamos uma seleção no acervo disponível que é composto por 173 questionários (24 homens e 149 mulheres) e que integraram um estudo de doutoramento por nós desenvolvido. Optamos por operar com o item 4 do questionário que aborda questões relacionadas à experiência pedagógica e no qual se coloca a seguinte questão: Como era o material didático da sua escola?. As professoras/res ao responderem as questões nos questionários contidas romperam com as suas fronteiras, silenciando-se diante de algumas proposições e ampliando as respostas diante de outras, posturas estas, que revelam tanto o prazer, quanto o desprazer em compartilhar suas histórias e memórias e, por meio delas, contribuir para a construção não somente da história da formação docente em Santa Catarina, mas também para a construção da História da Educação brasileira. Assim, o professorado inserido em seu contexto histórico, suas vivências e experiências profissionais e pessoais, de modo generoso e conflitante, permitiu que penetrássemos em seu mundo, para compreendê-los como agentes que atuam e pensam imersos nas estruturas sociais, que se configuram como marcos de seus habitus. A interface com os questionários possibilitará compreender o uso de materiais didáticos pelo professorado primário catarinense no período recortado para análise, tendo como aporte teórico o sociólogo Pierre Bourdieu, escopo fundamental para desvelar as tramas existentes entre habitus e as práticas de uso e ressignificação do material didático.

O MAGISTÉRIO PRIMÁRIO NOS DOCUMENTOS OFICIAIS NO DISTRITO FEDERAL (1892-1913)

MARINA NATSUME UEKANE Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente trabalho tem como objetivo analisar de que maneira era realizada a formação de professores primários no Distrito Federal, bem como as representações construídas acerca do ofício em documentos oficiais do governo municipal. Para tanto, analisarei como a Escola Normal se organizava através dos seus regulamentos, as representações do magistério primário trazidas nos Boletins da Prefeitura e discussões promovidas no âmbito do Conselho Municipal os quais apresentavam acontecimentos referentes à instrução e seus aspectos diversos, incluindo os professores. A constituição do Distrito Federal em 1892, através de disputas e tensões, criou para a cidade do Rio de Janeiro um aparato administrativo diferenciado das demais do país, sendo governado por um Prefeito nomeado pelo Presidente da República, com aprovação do Senado Federal, juntamente com Conselheiros Municipais eleitos para essa função. Com este aparato administrativo e burocrático, as questões educacionais e representações sobre o papel da escola e dos professores eram disputadas por diferentes sujeitos, através de projetos e iniciativas diversas. Na conjuntura das décadas iniciais da República brasileira é necessário pontuar que o desenvolvimento e processo de expansão das primeiras letras se constituíam como campo de tensão e disputa pela legitimidade de projetos a serem executados, devendo ser considerados também a demanda dos sujeitos que dela se beneficiariam e os seus interesses com a sua aquisição. No que tange à política municipal para a educação desenvolvida pelos Conselheiros no nível legislativo, segundo Torres (2009), a avaliação dos dirigentes reforçava um discurso “regenerador” da instrução elementar, sendo em alguns momentos, mas não livre de tensões, defendida a ampliação quantitativa das escolas e a aprovação da

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obrigatoriedade do ensino. No movimento de expansão do ensino público e nos projetos dos Conselheiros e reformadores os professores primários apareciam como objeto de discussão, pois seria necessário qualificá-los para a formação dos futuros cidadãos. Aliado a questões específicas sobre a forma escolar que seria difundida, o debate acerca da necessidade de criar escolas primárias e educar as crianças e jovens das classes populares, que estava presente desde os anos finais do Império se mantinha nas falas de diferentes sujeitos, como escritores, advogados, literatos e políticos (SCHUELER, 2002; COSTA, 2012). Ao propor esse estudo, questões podem ser levantadas como, por exemplo, o que era necessário para o exercício da função segundo os responsáveis pela sua ordenação? Como os professores primários e a Escola Normal apareciam nas falas administrativas? De que maneira os administradores percebiam e registravam os acontecimentos do ensino? Questões que serão investigadas a fim de entendermos o papel dos professores primários, sua atuação na escola pública e algumas representações construídas sobre eles nas décadas finais do século XIX e iniciais do XX.

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO NORMAL NA CIDADE DE PARANAÍBA/MT NO PERÍODO DE 1967 A 1971

MILKA HELENA CARRILHO SLAVEZ NOELY COSTA DIAS GARCIA

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A preocupação em capacitar o professor tem um olhar diferenciado a partir do final do século XVIII devido às mudanças políticas e sociais. Com essa demanda começa a surgir as primeiras Escolas Normais no Brasil em meados do século XIX. A princípio essas Instituições formadoras eram instaladas e logo fechadas, no interior do Brasil, visto que eram desprovidas de um local adequado para o seu funcionamento, além de não haver professores para atuar nestes cursos. Desse modo, a disseminação dessas escolas foi ocorrendo nos estados brasileiros conforme a necessidade de cada região. Assim sendo, o presente trabalho tende apresentar resultados parciais da pesquisa de mestrado intitulada DO CURSO NORMAL AO CURSO MAGISTÉRIO: a trajetória do Curso Normal em Paranaíba/MT (1967-1971), vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária de Paranaíba. Nesse sentido, tem como objetivo compreender como se deram as iniciativas acerca do processo de criação, implantação e funcionamento o Curso Normal de Paranaíba no período de 1967 a 1971 e assim contribuir para compor a história sobre a formação de professores neste município e no estado de Mato Grosso. A pesquisa se fundamenta nos aspectos teórico-metodológicos da Nova História Cultural, utilizando de fontes históricas, a partir de Burke (2010), Ginzburg (1989, 2006, 2010), Chartier, (1990, 2002), Prost (2008) e Chervel, (1990) para compreender como se configurou o Curso Normal de Paranaíba/MT. Portanto compartilhamos da concepção dos fundadores da Escola dos Annales sobre a noção de documentos, admitindo que a história se faça com documentos escritos, sendo necessário tomar a palavra documento no sentido mais amplo, podendo ser destacados os documentos escritos, ilustrações, sons, imagens, ou qualquer outra maneira de registro. Tudo pode ser documento desde que o historiador tenha entendimento para compreender o que será utilizando como fonte. Nessa perspectiva, apresentamos os documentos localizados no acervo pessoal de Jane Carmen Lacerda, ex-aluna da Escola Normal de Paranaíba/MT, e outros documentos como atas, cópia do Diário Oficial, pasta das ex-alunas do Curso Normal encontrados no arquivo da escola Estadual Aracilda Cícero Correia da Costa, local onde funcionaram os cursos de formação de professores na cidade de Paranaíba. Todo o material encontrado, após reunião, seleção e organização constituem os documentos que ajudam a compor a história do Curso normal de Paranaíba/MT.

COMPREENSÕES DA HISTÓRIA E DA DOCÊNCIA EM NARRATIVAS DE PROFESSORES CAPIXABAS DURANTE A DITADURA MILITAR (1964-

1985)

MIRIÃ LÚCIA LUIZ Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Analisa compreensões da história e da docência que atravessaram as experiências narradas por professores que ensinaram História durante a Ditadura Militar (1964-1985). As narrativas de sete professores que atuaram no ensino de História, em escolas públicas, constituem vestígios da História da Educação capixaba do período e, particularmente, da história do ensino de história. Fundamenta-se em Bloch (2001) e Ginzburg (2002; 2007), que compreendem todas as fontes como possíveis por meio de uma produção do historiador. No que se refere à compreensão de docência durante o período, os professores relataram terem sentido a presença de um Estado

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autoritário. Tais relatos, de ordem política e social: “Era perigoso”, “Tínhamos que ter cuidado”, “Não podíamos falar de democracia”; e de ordem didático-pedagógica: “Eles ‘mexeram’ nas disciplinas”, evidenciam a percepção do cerceamento das liberdades, da alteridade. Contudo, o grau e a forma como avaliavam esse controle variava entre os professores. Nas narrativas sobre a docência, os professores intercalam os fatos vividos nas escolas com a vida familiar, os problemas, desafios e as experiências carregadas de humor, de entusiasmo e, em muitos casos, a ênfase estava no fato de terem cumprido o seu papel de educadores, de terem feito o melhor que puderam pelos alunos, pelas escolas e por eles mesmos, como o relato que segue: “Nós éramos professores o tempo todo. Era como um sacerdócio!” (PROFESSORA C.R.N.). Trata-se de modos múltiplos de perceber e narrar suas experiências, que evidenciam também modos distintos de compreender a História. Em tempos sombrios, como aos que aqui se refere, diante das tensões e das prescrições, por um lado pela Lei nº 5692/1971 e, por outro, pela ênfase na formação técnica, de mão de obra para o mercado de trabalho, os professores relataram suas percepções sobre a disciplina na qual atuavam a partir das seguintes questões: ensino: buscavam tornar essa disciplina mais significativa para os estudantes; zelavam por desenvolver um “bom trabalho”, mesmo que isso implicasse na adoção de modelos autoritários; que confessam ter ensinado uma História meio “truncada”. Concepção de História: compreendiam que, a História constituía-se em “[...] disciplina que nunca formou cidadãos, pelo contrário, era ministrada de forma metódica que ‘forçava’ apenas a decorar hinos, armas e brasões, um terror” (PROFESSOR M.F.S.F); Outros que permaneceram compreendendo a história tal como antes da Ditadura e das prescrições no período instituídas. Professores que, em meio às diretrizes a serem seguidas, percebiam a História permeada por outros saberes, que, de algum modo, escapavam às prescrições, como forma de inventar seus fazeres docentes cotidianamente.

RETRATOS DE PROFESSORES NA DÉCADA DE 1950: UMA PROFISSÃO DE REVERENCIADA

MIRIAM WAIDENFELD CHAVES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Como fabricação histórica, a escola origina uma verdadeira “revolução nos modos de socialização”. Estrutura uma relação social inédita, distinta das outras atividades sociais, assim como institui um tipo de socialização que acaba por produzir uma força moral suficiente, não só para se sobrepor às demais instâncias socializadoras – família e Igreja –, como para estabelecer um sistema de valores, uma cultura nacional e científica que, na época, foram internalizados sob a forma de habitus a fim de que os novos cidadãos pudessem atender às novas demandas sociais. Durante esse momento o professor se torna um personagem crucial para a consolidação do projeto educacional em pauta. Sua ação sobre os ‘imaturos’ da sociedade – às crianças e aos jovens, transformados em alunos – se efetiva em razão das possibilidades de criação de consensos sociais, tanto por meio do processo de homogeneização cultural e de invenção de uma cidadania nacional, quanto pelo efetivo trabalho de socialização integrado à imposição de um modo racional de pensar e de expressar sentimentos. Nesse caso, é possível perceber que a história do ensino secundário e a gênese identitária de seus docentes ainda permanecem instigando os pesquisadores na área da História da Educação. E se essa constatação é fato, pode-se afirmar que esse interesse, ao priorizar os estudos sobre as relações do professor com a escola pública, deixa de lado uma importante fração dessa história: os professores que lecionaram nos colégios católicos que, inclusive, durante os séculos XVII e XVIII introduziram essa mesma modalidade de ensino no Brasil. Este texto, por meio de uma abordagem cultural e uma perspectiva sócio-histórica, procura justamente analisar o modelo de professores idealizado por uma revista escolar de um colégio católico de prestígio nos anos 1950. Pretende chamar a atenção para a fabricação de certas formas identitárias docentes que nesse período contribuem para consolidar o próprio estatuto do professor que, segundo os estudiosos sobre o tema, se constitui a partir de uma ambivalência que acaba por compor sua identidade. Através da revista escolar Vitória Colegial – nossas fontes privilegiadas –, produzida por um colégio católico centenário para moços no Rio de Janeiro, procuraremos apontar os modos como esse docente era retratado no impresso e, consequentemente, percebido pelos seus leitores. Partimos da hipótese que esses perfis expressam o ideal de professor dos anos 1950, período, inclusive, bastante importante para a história da profissão docente, na medida em que as transformações sociais e culturais em curso na época contribuem para a derrocada desse mesmo perfil docente marcado pelo respeito, autoridade e legitimidade, mas que, no nosso caso, insiste em transparecer nos artigos analisados neste trabalho.

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O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA NO RIO GRANDE DO NORTE SEGUNDO A PROFESSORA OLÍVIA PEREIRA (1928-1948)

NANAEL SIMÃO DE ARAÚJO Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA NO RIO GRANDE DO NORTE SEGUNDO A PROFESSORA OLÍVIA PEREIRA (1928-1948) Resumo O presente trabalho tem por objetivo analisar a atuação pedagógica da professora Olívia Pereira Rodrigues, na Região do Seridó do estado do Rio Grande do Norte entre as décadas de 1928 a 1948. A época focalizada pela nossa pesquisa corresponde ao período em que esta professora lecionou em salas de aula de instituições primárias de ensino como: Escolas Rudimentares e Grupos Escolares do interior norte-rio-grandense. As fontes documentais utilizadas em nosso estudo compreendem: artigos de jornais, Mensagens Governamentais, Leis e Decretos, localizados no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, documentos escolares como: Livro de Atas, Livro de Ponto e Livro de Eventos Escolares, localizados no Grupo Escolar Antônio Batista (situado no município de Jucurutu/RN) e no Grupo Escolar Senador Guerra (situado no município de Caicó/RN), além de depoimentos de ex-alunos, familiares e colegas de profissão desta professora. Tratando-se de uma investigação de caráter histórico, pautada na perspectiva da História Cultural, elencamos autores como Burke (1992), Certeau (2002), Chartier (1990) e Morais (2006) na tentativa de extrair subsídios metodológicos que fundamentem este artigo. Ao pesquisarmos as práticas educativas desta professora diplomada pela Escola Normal de Natal no ano de 1928, constatamos sua contribuição para a formação educacional dos seridoenses, principalmente na aprendizagem da leitura e da escrita. Este fato se evidenciava nas atividades realizadas por esta professora, que segundo as fontes documentais analisadas, não se limitavam ao espaço físico da sala de aula, mas, se concretizavam em passeios pedagógicos e comemorações cívicas. Pesquisar sobre as práticas educativas da professora Olívia Pereira significa também estudar a legislação educacional que orientava suas metodologias de ensino. O período correspondente a atuação de tal professora em sala de aula foi aspergido pelas permanências da Lei n. 405 de 29 de novembro de 1916, que reformou a Instrução Pública no estado do Rio Grande do Norte e, posteriormente, serviu de base ao Conselho de Educação, durante a elaboração dos Regimentos Internos das escolas primárias do território potiguar. Em nosso estudo, percebemos que o discurso da modernização do ensino público preconizado pela referida Lei, não esteve circunscrito à capital norte-rio-grandense, tendo sido também deslocado para o sertão, inclusive para as cidades menores, vilas e povoações seridoenses onde lecionou a professora Olívia Pereira. Palavras-chave: Seridó. Professora. Ensino

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO NORMAL NA CIDADE DE PARANAÍBA/MT NO PERÍODO DE 1967 A 1971.

NOELY COSTA DIAS GARCIA MILKA HELENA CARRILHO SLAVEZ

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A preocupação em capacitar o professor tem um olhar diferenciado a partir do final do século XVIII devido às mudanças políticas e sociais. Com essa demanda começa a surgir as primeiras Escolas Normais no Brasil em meados do século XIX. A princípio essas Instituições formadoras eram instaladas e logo fechadas, no interior do Brasil, visto que eram desprovidas de um local adequado para o seu funcionamento, além de não haver professores para atuar nestes cursos. Desse modo, a disseminação dessas escolas foi ocorrendo nos estados brasileiros conforme a necessidade de cada região. Desse modo, o presente trabalho tende apresentar resultados parciais da pesquisa de mestrado intitulada DO CURSO NORMAL AO CURSO MAGISTÉRIO: a trajetória do Curso Normal em Paranaíba/MT (1967-1971), vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Unidade Universitária de Paranaíba. Desse modo, com o objetivo de compreender como se deram as iniciativas acerca do processo de criação, implantação e funcionamento do Curso Normal de Paranaíba no período de 1967 a 1971 e assim contribuir para compor a história sobre a formação de professores neste município e no estado de Mato Grosso. A pesquisa se fundamenta nos aspectos teórico-metodológicos da Nova História Cultural, utilizando de fontes históricas, a partir de Burke (2010), Ginzburg (1989, 2006, 2010), Chartier (1990, 2002), Prost, (2008) e Chervel (1990) para compreender como se configurou o Curso Normal de Paranaíba/MT. Portanto compartilhamos da concepção dos fundadores da Escola dos Annales sobre a noção de documentos, admitindo que a história se faça com documentos escritos, sendo necessário tomar a palavra documento no sentido mais amplo, podendo ser destacados os documentos escritos, ilustrações, sons, imagens, ou qualquer outra maneira de registro. Tudo pode ser documento desde que o historiador tenha entendimento para compreender o que será utilizando como fonte. Nessa perspectiva,

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apresentamos os documentos localizados no acervo pessoal de Jane Carmen Lacerda, ex-aluna da Escola Normal de Paranaíba/MT, e outros documentos como atas, cópia do Diário Oficial, pasta das ex-alunas do Curso Normal encontrados no arquivo da escola Estadual Aracilda Cícero Correia da Costa, local onde funcionaram os cursos de formação de professores na cidade de Paranaíba. Todo o material encontrado, após reunião, seleção e organização constituem os documentos que ajudam a compor a história do Curso Normal de Paranaíba/MT.

OS NORMALISTAS CHEGAM À UNIVERSIDADE: OS IMPACTOS DAS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 1920 E 1930 NO ACESSO AOS

CURSOS SUPERIORES

PATRICIA GURGEL SONIA MARIA DE CASTRO NOGUEIRA LOPES

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Essa comunicação, inserida no eixo temático “História da Profissão Docente”, compõe um projeto maior que objetiva analisar as trajetórias de sete normalistas do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (IE) que, após concluírem estudos na Universidade do Distrito Federal (UDF) ou na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (FNFi) - primeiras universidades criadas com foco na formação do magistério secundário - retornam ao Instituto como docentes, alcançando o posto máximo de professores catedráticos. Os sujeitos dessa pesquisa (seis moças e um rapaz) foram selecionados a partir dos seguintes critérios: a formação pelo Instituto nos anos 1930, a diplomação na UDF ou FNFi, o fato de terem regressado ao Instituto como docentes e chegarem a catedráticos. Essa análise se concretizará mediante a construção de uma prosopografia, gênero trabalhado por Giovani Levi (1996) e Lawrence Stone (2011) que o caracterizam como uma biografia coletiva, ou seja, formada por personagens que apresentam elementos comuns em suas trajetórias. O recorte aqui proposto pretende analisar os impactos gerados pelas reformas educacionais de Fernando de Azevedo (1928) e Anísio Teixeira (1932) na vida desses normalistas, no que se refere ao acesso aos cursos superiores da UDF e da FNFi. Essas reformas, promovidas pelos decretos n° 3.281 e n° 3.810, respectivamente, propiciaram um cenário único na educação brasileira, uma vez que a legislação vigente até então vetava aos alunos normalistas, bem como aos egressos de outros cursos profissionalizantes, o acesso aos estudos de nível superior. Até o momento, as análises indicam que as brechas criadas por essas reformas foram fundamentais para o ingresso desses alunos na universidade. Como principais referências teóricas, utilizaremos os conceitos de geração, a partir das considerações tecidas por Sirinelli (1996) e gênero, na perspectiva de Louro (1997) e Scott (1992). Entretanto, levando-se em conta as observações de Bourdieu (1968) quando este afirma que uma história de vida não pode ser apresentada de forma lógica, uma vez que vidas não seguem fluxos coerentes de acontecimentos, enuncia-se a questão: Quais as peculiaridades encontradas na trajetória desse grupo de alunos, aparentemente homogêneo, no que se refere ao acesso à universidade? Para respondê-la, pretende-se problematizar as condições específicas institucionais e as brechas legislativas, mediante análise documental de fontes primárias. Os documentos analisados - legislação, históricos escolares, fichas funcionais e demais registros acadêmicos - foram obtidos no Centro de Memória do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro(CMEB/ISERJ) e no arquivo da Faculdade Nacional de Filosofia localizado no Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade (PROEDES/UFRJ).

A DOCÊNCIA NO BRASIL NO PERÍODO REPUBLICANO (1920-1970): OLHARES POR MEIO DAS FOTOGRAFIAS PARA AS PRÁTICAS

ESCOLARES

ROSEANE MARIA DE AMORIM Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente artigo ocupa-se em discutir as reformas educacionais e os modelos de docentes implementados durante o processo de consolidação da República Brasileira. Busca-se compreender qual a importância dessas reformas educacionais para a educação no Brasil e para a docência. Nessa perspectiva, objetivo deste artigo é analisar a docência a partir de fotografias no período republicano (1920-1970). Como documento histórico, a fotografia retrata de certo modo a vida cotidiana dos professores e professoras. Embora a fotografia apresente sempre uma seleção de ações de forma congelada em um determinado momento histórico, acreditamos que, por meio dela, podemos apreender aspectos sobre a docência, a organização escolar e o modo de produção das

Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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práticas, captando, portando, a concepção de educação da época. O estudo aqui apresentado encontra-se filiado a uma pesquisa qualitativa, inserido no campo da Antropologia e da História cultural. Como não podia deixar de ser, estaremos estudando as crenças, as representações e os dizeres produzidos pelas pessoas no passado, por meio dos documentos escritos e fotográficos. Apesar disso, os nossos questionamentos nasceram no presente, quando em confronto com a realidade em que estamos imersos. Notamos, a partir dos estudos realizados, que há pouca produção no Brasil e em Alagoas sobre as práticas educativas vividas por professores e professoras através da análise fotográfica. Compreendemos que a educação é construída por pessoas comuns que em seu cotidiano realizam ações e constroem conhecimentos de diferentes modos. Ainda, podemos dizer que de certa forma a realidade do passado é quase inatingível. O historiador produz uma “ficção controlada” a partir da construção de sua narrativa, “compondo uma espécie de ilusão ou versão sobre o passado” (PESAVENTO, 2003, p. 22). Pois, o que elaboramos sobre o passado é também uma produção cultural do homem e da mulher no tempo presente. Sendo assim, estamos filiados à Nova História Cultural e à Antropologia cultural. A cultura é entendida como todo fazer humano, tanto nos aspectos materiais, quanto simbólicos. Enfim, de modo geral, podemos afirmar que a educação é um elemento da prática social responsável pelo processo de socialização e de organização dos sujeitos no mundo, isto é, na vida cotidiana. Atua, também, no desenvolvimento da inteligência, da aprendizagem e da personalidade, e garante a sobrevivência e o funcionamento das coletividades humanas. O ser humano, em seu desenvolvimento, busca progressivamente a descoberta de si próprio pelas experiências no mundo exterior e interior, através do processo de aprendizagem e das trocas diárias. Nessa perspectiva, destacamos a importância do nosso trabalho, na medida em que recupera aspectos da docência no Brasil. Dentre os autores estudados, destacamos Vicentini e Lugli (2009) Gondra (2008) e Pesavento (2003). Palavras-chave: Docência. Período Republicano. Fotografias.

MULHERES, EDUCADORAS E COM UMA FÉ DIFERENTE: OS ENCONTROS DE LAURA AMAZONAS E NEYDE MESQUITA

ROSEMEIRE SIQUEIRA DE SANTANA JOSINEIDE SIQUEIRA DE SANTANA

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O referido estudo se propõe a apresentar a trajetória das educadoras Laura Amazonas e Neyde Mesquita, que viveram no Estado de Sergipe entre o fim do século XIX e durante o século XX. Assim, apresentaremos o “caminhar” dessas educadoras e suas contribuições à História da Educação Espírita. A presença de ambas não ficou apenas no campo educacional, mas também no campo social, principalmente quando partilharam do ideal de que as mulheres podiam ter um papel mais importante na sociedade. Fizeram-se, dessa maneira, presentes na sociedade por meio de ações educativas pela imprensa feminina visando à promoção da mulher. A educadora Laura Amazonas nasceu em 1884, graduou-se em odontologia, em 1905, pela Universidade de Pharmácia de São Paulo, tornando-se a primeira mulher a receber um diploma do curso superior no Estado de Sergipe. Converteu-se ao espiritismo em 1910 e a partir de então se destacou como presença decisiva na implantação de escolas confessionais espíritas em Aracaju. Participou da construção do Asilo Rio Branco, do Diretório da União Universitária Feminina, fez-se presente na Cruz Vermelha, entre outras instituições. Em novembro de 1950, participou da fundação da Federação Espírita de Sergipe, eleita posteriormente para assumir a presidência da mesma, considerada, sendo a primeira mulher dentro da federação a assumir a referida função. Quanto à professora Neyde de Albuquerque Figueiredo Mesquita, nasceu em 30 de dezembro de 1919 na cidade de Aracaju e durante a implantação do primeiro jardim de infância do Estado participou do concurso público para a vaga de professora de recreação. Ela se inscreveu mesmo contrariando o marido, que até então manttinha o pensamento fixo em que lugar de mulher era dentro de casa. Desse modo, a professora Neyde Mesquita se mostrou favorável às reivindicações femininas, que já estavam acontecendo desde o início do século XX. No ano de 1951, ao lado da odontóloga Laura Amazonas, iniciou o trabalho de edificação da Casa do Pequenino, instituição de educação espírita sergipana. As educadoras Neyde Mesquita e Laura Amazonas se dedicaram a uma gama de atividades em função da educação espírita no estado de Sergipe, enfrentando, inclusive, o preconceito gerado por suas escolhas religiosas. A referida pesquisa apresenta como referencial teórico-metodológico os pressupostos da História Cultural e tem como suporte teórico os seguintes autores: Del Priore, 2008; Almeida, 2007; Freitas, 2007 e Pollak, 1992. Também foram consultadas e analisadas algumas fontes, a saber: jornais, depoimentos orais, teses de mestrados e bibliografia especializada. Por fim, para a realização da pesquisa documental, buscamos várias instituições: Instituto Histórico de Sergipe (IHGS), Arquivo da União Espírita de Sergipe e o Arquivo da Casa do Pequenino.

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A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM SERVIÇO COMO ESTRATÉGIA PARA A IMPLANTAÇÃO DA ESCOLA ATIVA EM ESCOLAS CAPIXABAS

(1929-1930)

ROSIANNY CAMPOS BERTO REGINA HELENA SILVA SIMÕES

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Analisa, no conjunto da reforma educacional liderada pelo secretário da instrução pública capixaba Attílio Vivacqua (1928-1930), a articulação do Curso Superior de Cultura Pedagógica (CSCP) e da Escola Activa de Ensaio (EAE), como estratégia adotada para formar professores em serviço. Utiliza como fontes mensagens de governo, relatórios da Secretaria de Instrução, o compêndio Pedagogia scientífica de Pedro Deodato de Moraes (diretor do CSCP), o livro Cooperação e extensão cultural, trabalho final defendido por Garcia de Rezende – assessor de Vivacqua e aluno do curso – e matérias publicadas na imprensa local. No entrecruzamento dessas fontes, problematiza o CSCP e a EAE como elementos estratégicos (CERTEAU, 2004) de formação docente, tensionada por relações de força (GINZBURG, 2002) desenhadas na cena político-educacional capixaba ao final da década de 1920. O trabalho organiza-se em torno de três eixos: a criação e a organização do CSCP, o programa de formação docente, compreendendo o conjunto teórico-prático constituído pelo CSCP e pela Escola Activa de Ensaio e os trabalhos produzidos no momento da conclusão do curso. Dentre os pontos focalizados destacam-se a) a formação de professores entendida “substancialmente” como resposta ao “problema da educação”; b) a formação teórico-prática de professores vanguardeiros encarregados de levar a escola ativa às instituições escolares capixabas; b) a orientação científica impressa ao trabalho pedagógico dos professores em formação; c) os princípios da escola ativa (leia-se Adolphe Ferrière) como orientação para o trabalho docente; d) a ênfase ao conhecimento científico da criança, das suas necessidades e interesses; e) a ênfase ao trabalho e às questões sociais, segundo os postulados da escola ativa. Evidencia o interesse em imprimir feições “brasileiras” à escola ativa localmente desenvolvida. Em defesa da “originalidade” da experiência capixaba, os discursos de Vivacqua e Rezende transitam entre a recusa à imitação de modelos estrangeiros, a necessidade de adaptação da escola ativa às demandas nacionais e locais e a reforma educacional como expressão de ufanismo patriótico (Moraes chega a propor “o despertar enérgico e viril do espírito nacional”, por meio da ação educativa). Além disso, segundo o programa do CSCP, “sentimentos de brasilidade” comporiam as qualidades essenciais do bom professor. Aponta como preocupações centrais da experiência desenvolvida no Espírito Santo: a compreensão da escola ativa e das suas possibilidades sócio-educativas; a modernização pedagógica pela via da cientificidade dos métodos renovadores; a escola ativa como possibilidade de ampliação, de diversificação de conteúdos abordados nas escolas e do atendimento aos interesses das crianças; a escola ativa em suas possíveis relações com o mundo do trabalho e suas aplicações ao meio rural.

AS PEDRAS BONITAS PODEM FALAR! MEMÓRIAS DE VELHOS PROFESSORES DE ITAPORANGA/SP SOBRE A DOCÊNCIA

SANDRA ANTONIA CONVENTO DE MOURA FERRAZ Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente trabalho surge da pesquisa de doutorado, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação da Universidade de Sorocaba. Ao considerar que na sociedade capitalista, os velhos foram desarmados e necessitam lutar para continuar sendo homens e mulheres capazes de sobreviver em meio às opressões e adversidades, faz-se necessário refletir sobre os feitos desses sujeitos e possibilitar que os fios de seus relatos deixem de ser traços isolados de solidão, para se emaranharem em tramas conjuntas, constituintes de uma sociedade gerada por suas ricas contribuições. Os participantes da pesquisa são professores aposentados, com idade mínima de 70 anos, que trabalharam exercendo a docência pelos longos anos de suas vidas na cidade de Itaporanga, interior do estado de São Paulo. O objetivo principal da pesquisa é analisar as marcas nas formas de viver a velhice, como produtos de singularidades históricas e culturais e investigar o tempo intrínseco no curso de seu próprio envelhecimento, na tentativa de desvelar as possíveis marcas da profissão na gestão/vivência da velhice, a partir do resgate de memórias e histórias de vida de docentes que se afastaram do lócus de sua própria identidade social-profissional pela aposentadoria. O trabalho pretende contribuir com a formação/constituição dos novos professores, por meio do compartilhar de experiências vividas pelos participantes, num processo de (des/re)construção da formação da identidade profissional daqueles que ainda atuam, abrindo o leque de observações sobre as práticas e o processo de formação docente e, ainda, fortalecer o papel da história oral na construção da pesquisa e das raízes locais da referida cidade. Além disso, o intuito é que Itaporanga, palavra

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derivada do Tupi Guarani, que significa “pedra bonita”, possa ser (re)conhecida além de sua etimologia; e as pedras bonitas passem a ser os antigos professores da cidade, que possam ter vida, alma, vozes; que suas lembranças ecoem para além das pedras bonitas assentadas na cidade, fixando-se principalmente em nossos afetos, conforme apresenta Ecléa Bosi, de maneira bem mais entranhada, do que simplesmente observar as pedras como coisas. A metodologia está pautada na pesquisa narrativa, que considera a experiência de vida como história, sendo que as histórias serão trazidas não como parte da pesquisa, mas sim como a própria pesquisa. Nesta perspectiva, as contribuições da história oral, considerada como a interpretação dessas histórias de vidas e das possíveis mudanças que as sociedades e culturas passam, por meio da escuta das pessoas e do registro de suas lembranças e experiências, seja pelas produções de novas fontes históricas, seja pelo compartilhamento das histórias de vida através de diferentes suportes disseminadores das memórias, venham fortalecer a cidadania e a constituição de uma sociedade cada vez mais plural e democrática.

O LUGAR DA PRÁTICA DE ENSINO E ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA NA UEPG: DE COMPLEMENTO

A EIXO CENTRAL NAS PROPOSTAS CURRICULARES, OS AVANÇOS À FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

SILVANA MAURA BATISTA DE CARVALHO Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O artigo apresenta resultados de pesquisa qualitativa sobre as propostas curriculares dos cursos de formação de professores de História para a educação básica, com enfoque à área de formação pedagógica, especificamente, às disciplinas de ensino: - Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, visando analisar como se deu a compleição e relevância das mesmas nas propostas curriculares e as mudanças realizadas em cumprimento à legislação educacional federal. Para tanto, retomou-se na história da FEFCL-Ponta Grossa-PR, o currículo prescrito para o curso de Geografia e História (1949 a 1965) e, o Curso de Licenciatura em História da UEPG, de 1963 até os dias atuais. À luz das principais leis federais para a educação brasileira e, sob a concepção de currículo prescrito (GOODSON) procedeu-se a investigação dos projetos pedagógicos, programas das disciplinas, referências bibliográficas indicadas, relatórios anuais, entre outros documentos constantes no arquivo permanente da instituição e arquivo ativo do departamento de História e sob a concepção de currículo prescrito (GOODSON) para perceber que a princípio as referidas disciplinas faziam parte do Curso de Didática, como um complemento ao curso de bacharelado, no modelo 3+1. Com a LDBEN 4024/61 houve a criação dos cursos de licenciaturas, cujas prescrições revelam como se deu as adequações a essa legislação com a integração das disciplinas pedagógicas e de ensino ao currículo do curso de licenciatura em História e, posteriormente, com a Lei 5540/68 da Reforma Universitária e a Lei 5692/71 de reforma da educação básica, as mudanças em atendimento às novas demandas educacionais com a criação dos cursos de licenciatura curta em Estudos Sociais. No final da década de 1980 e início de 90, nota-se que foi um momento profícuo de novas adequações às propostas dos cursos de formação de professores em nível superior, com a volta das disciplinas escolares de História e Geografia, ocorre mudanças no currículo prescrito, destacando-se entre outras, a volta do curso anual e a valorização das disciplinas de ensino, com aumento de carga-horária e proposta pedagógica atualizada às novas concepções presentes no ensino de História. Adentrando o século XXI, em atendimento à nova LDBEN 9394/96, e à legislação específica do CNE para os cursos de formação de professores em nível superior – licenciatura plena, novas mudanças ocorrem destinando-se uma carga horária significativa às disciplinas de prática de ensino e estágio supervisionado, reconhecendo-as como um dos eixos de formação no curso, o que pode possibilitar ao licenciando ter uma visão mais pertinente ao objetivo do curso que é a formação do professor de História.

ENGAJAMENTO DOCENTE EM ATIVIDADES EXTRAESCOLARES: REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES APOSENTADOS DO ESTADO DE

SANTA CATARINA

SILVANA RODRIGUES DE SOUZA SATO TIAGO RIBEIRO SANTOS

Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Este escrito analisa, a partir do desenvolvimento do projeto “Memória Docente e Justiça Escolar: Os Movimentos de Escolarização e de Profissionalização do Magistério em Santa Catarina”, aprovado pelo CNPq no Programa de

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Bolsa de Produtividade em Pesquisa (2012 a 2015), o engajamento docente em atividades extraescolares, a saber: sindicais, religiosas, comunitárias e partidárias políticas. As diferentes formas de engajamento indicam, ao mesmo tempo, professores que atuam em esferas de atividade que não se reduzem meramente ao espaço escolar, colocando em suspeita a imagem clássica do professor diretamente situado numa posição institucional única. Os professores são compreendidos, antes, como indivíduos que dispuseram de margens de liberdade para a atuação em diferentes frentes de trabalho, exercendo o magistério combinado às suas convicções políticas, religiosas e pessoais, que supõem, em suma, fatores influenciadores da atuação profissional. O caráter heterogêneo do corpo professoral ganha portanto acento ao longo do artigo, bem como suas formas de organização coletiva, sem entretanto indicar a existência de movimentos sociais mais sólidos, mas sim, como pequenas fagulhas, ideológicas em sentido amplo, que permaneceram acesas. Para tanto, analisamos trezentos questionários com respostas atribuídas por professores aposentados da rede de ensino do Estado de Santa Catarina, referentes a relação estabelecida entre as escolas em que os docentes atuavam e suas relações ou não com a comunidade, igreja e esferas administrativas. Cruzamos dados referentes a trajetória escolar dos professores e o exercício ou não de atividades na direção das escolas ou outras associações. O aporte teórico centrou-se em autores da história, sociologia e política. Constatamos que 86% do corpo professoral que participou da enquete são mulheres. Dado que confirma a presença maciça feminina no magistério nacional e catarinense. Em 2002, a situação era similar entre os profissionais da educação da rede estadual do Estado de Santa Catarina, 79% eram mulheres contra 21% de homens (Valle, 2003). Podemos afirmar que os professores aposentados procuravam se engajar em atividades extraescolares, pois do número total 68,5% realizavam alguma atividade fora dos muros escolares. Salientamos que dos professores que participaram da enquete 32,5% eram filiados em sindicatos e associações de professores; 29,5% em atividades religiosas; 23,5% partidários políticos e 14,5% desempenham atividades comunitárias.

QUANTO VALE A EXPERIÊNCIA? TRAJETÓRIAS DE PROFESSORAS-ASSISTENTES DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

(1950-60)

SONIA MARIA DE CASTRO NOGUEIRA LOPES Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

Esta comunicação apresenta resultados de uma investigação que busca traçar o perfil identitário de docentes do curso normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro entre as décadas de 1950-60 no que se refere aos processos de formação, formas de acesso e trajetórias profissionais. O presente texto tem por objetivo focalizar a trajetória de uma categoria docente por nós denominada professoras assistentes, cuja única formação, na maioria das vezes, ocorrera no âmbito de escolas normais, em nível médio. O ingresso dessas professoras no curso normal do Instituto era justificado pela carência de profissionais qualificados para lecionar as disciplinas pedagógicas e pelo aumento do fluxo de normalistas em razão da expansão da rede pública escolar verificada durante o período temporal abarcado pela pesquisa. Essas assistentes eram, em sua maioria, oriundas da própria escola primária do Instituto e os critérios de seleção baseavam-se fundamentalmente na experiência e na prática demonstradas no cotidiano da sala de aula. Na verdade, essa forma de inserção na carreira, já praticada desde a década de 1930, intensificou-se nos anos 1950-60, levando a instituição, com anuência da Secretaria de Educação, a recrutar professoras que, mesmo sem possuir qualificação em cursos superiores, ingressavam no Instituto e demais escolas oficiais, nas quais se dedicavam, exclusivamente, ao ensino das didáticas e/ou prática de ensino. Adotam-se como abordagem teórica os estudos sobre biografias e trajetórias (Levi, 1996; Dubar, 2012), as contribuições do sociólogo François Dubet (2006) a respeito das profissões que se dedicam ao “trabalho sobre o outro”, dentre elas o magistério, onde se percebe uma participação ativa no processo de socialização dos indivíduos e as reflexões do historiador Edward Palmer Thompson (2002, 1981) a respeito da categoria experiência. A metodologia utilizada consiste na análise documental de fontes como decretos, regulamentos, fichas de matrícula, históricos escolares e fichas funcionais que foram obtidas no Centro de Memória do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (CMEB/ISERJ). Além disso, foram produzidas entrevistas com antigas professoras à luz da história oral (Joutard, 2000; Alberti, 2004), aqui entendida sob a perspectiva de um procedimento metodológico que colabora na busca por um sentido do passado que, na maioria das vezes, não passa pela verdade absoluta, mas por uma das versões possíveis da realidade dos sujeitos envolvidos no processo(Portelli, 1997).

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ALÉM DO TERRITÓRIO BRASILEIRO: A INTERFERÊNCIA MÉDICO-HIGIÊNICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS EM INÍCIO

DO SÉCULO XX.

TAMIRES FARIAS DE PAIVA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente trabalho apresenta resultados da pesquisa de mestrado que, inserida no campo da História da Educação, buscou refletir acerca da interferência médico-higiênica na formação do professorado primário. Tendo em vista tal propósito, investigamos, dentre outras fontes, a produção e escrita de compêndios de higiene, voltados para a formação de professores primários em início do século XX. Ao compreendermos que o movimento de higienização no Brasil guardou relações com experiências vivenciadas em outros países, também buscamos refletir acerca dos modos como este fenômeno ocorreu na Espanha, Colômbia, Inglaterra e, de um modo pouco mais aprofundado, na Argentina. Tais apontamentos cumpriram o propósito de tentar registrar um cenário no qual se percebeu esforços, em diferentes países, no sentido de pôr em relevo a infância, os papéis da escola e seus sujeitos, especialmente os professores primários, no âmbito dos discursos médico-higiênicos. Na Espanha, por exemplo, a partir do trabalho de Pedro Luiz Moreno Martinez (2007), observamos as questões que envolveram o estudo da higiene escolar neste país. Na Colômbia, tomando como referência o estudo realizado por Carlos Ernesto Noguera (2002), observamos a veiculação dos dispositivos didáticos utilizados para atender às exigências da formação do professorado primário: os compêndios de higiene (ou manuales de higiene, como registra Noguera). A este respeito, Noguera assinala que a higiene escolar “buscó afectar y redireccionar el proceso educativo, al punto de estabelecer critérios ‘científicos’ para orientar el quehacer del maestro y dirigir el proceso de formación del niño en la escuela” (p. 279). Na Argentina, Laura Azcona (2004) analisa os discursos médico-higiênicos a partir do manual de Emílio Olivé, Nociones de Anatomía, Fisiologia e Higiene, utilizado nas escolas normais até princípios do século XX. As questões colocadas pelos diferentes autores demonstram alguns pontos em comum com o Brasil, com relação à campanha de higienização experimentada nos diferentes territórios – não obstante também se reconheça a existência de especificidades com relação aos diferentes espaços geográficos. Conquanto não possamos afirmar a existência de uma retórica universal, ao estabelecermos contato com estas pesquisas observamos que determinados enunciados discursivos guardaram relações entre si, especialmente com relação às questões da higiene intelectual – que abrangia a discussão sobre as práticas escolares – e higiene moral. Também se evidencia um forte interesse na escola, por parte das medidas governamentais, o que impulsionou o desdobramento de distintas ações neste espaço, a fim de se alcançar a disciplinarização, educação e moralização dos indivíduos.

PRÁTICAS DOCENTES NO CONTEXTO DE CRIAÇÃO DO GINÁSIO DO ESPÍRITO SANTO (1906-1916)

TATIANA BOREL Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A investigação objetiva historicizar elementos relativos à constituição do quadro docente responsável pelos componentes curriculares do Ginásio do Espírito Santo (GES), no período de 1906 a 1916. A motivação para a escolha desse ginásio, como espaço de investigação, decorre da representação emblemática da instituição para o contexto capixaba do início do século XX. Afinal, tratava-se de um estabelecimento de ensino secundário de referência, uma vez que fora equiparado ao Colégio Pedro II, em duas ocasiões, e gozava de grande prestígio junto à sociedade capixaba da época. O educandário foi o principal responsável pela formação de alguns principais nomes da elite espírito-santense, na primeira metade do século passado. O período de investigação compreende a criação do GES, em 1906, e o fim da administração do educandário por parte dos religiosos, em 1916. Criado na administração do governador Henrique da Silva Coutinho, o GES passou a funcionar efetivamente no ano de 1908. O tardio início de suas atividades ocorreu em virtude da ausência de recursos dispensados à instrução pública, conforme justificativa dos governantes da época. A pesquisa utiliza como fontes: recortes de jornais, atas da congregação, pautas de professores, regulamentos e documentos oficiais. Para a análise algumas questões foram priorizadas: Quem foram os primeiros docentes responsáveis pelo ensino no GES? Como se organizou a estrutura curricular dos cursos oferecidos? Quais as práticas de ensino empreendidas? E quais sujeitos fizeram parte da constituição dessa instituição? A prática investigativa e seus registros respaldam-se nas contribuições de Marc Bloch (2001), que ressalta a importância da história como ferramenta para o estudo de homens e mulheres no tempo, considerando os testemunhos históricos do processo. Os pressupostos de Carlo Ginzburg (2002) orientam a análise dos documentos, a partir de um interrogatório

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elaborado, a fim de fazê-los falar por meio da noção de circularidade e do cruzamento das fontes. A princípio, por determinação legal todos os docentes da Escola Normal Pedro II, localizada também em Vitória – ES, tornaram-se professores do GES. Posteriormente o educandário foi entregue à Congregação do Verbo Divino, o que ocasionou uma predominância de religiosos no quadro de professores. No que se refere à estrutura curricular, a saber: orientações metodológicas, duração do curso e disciplinas ministradas no Ginásio do Espírito Santo, houve uma apropriação do Programa de Ensino oficial e orientações advindas do Colégio Pedro II.

FORMAÇÃO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR: ASPECTOS HISTÓRICOS E DILEMAS PERMANENTES

THAIS BENTO FARIA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

O presente estudo trata do lócus privilegiado de formação de professores do ensino secundário – a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), entre os anos de 1930, data de gênese desta instituição, e os anos de 1960, período de sua maior expansão quantitativa no contexto brasileiro. Metodologicamente, este artigo principiou com buscas no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para localizar possíveis dissertações e teses referentes ao tema, produzidas entre 1987 e os dias atuais. Observa-se que as investigações encontradas são estudos particulares e elucidam a necessidade de ampliar as pesquisas sobre esses espaços que durante anos foram os responsáveis em formar profissionais para o magistério. Com o desígnio de compreender o processo de criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras no Brasil, analisamos alguns dos documentos legais que a arquitetaram: o Decreto nº 19.852, de 11 de Abril de 1931; a Lei nº 452 de 5 de julho de 1937 e o Decreto-Lei nº 1.190 de 4 de abril de 1939. Também, neste escrito, trazemos dados dos anos de 1960 de intelectuais importantes no âmbito nacional para pensar a formação de professores para o ensino secundário. Anísio Teixeira, em sua obra “Ensino Superior no Brasil: análise e interpretação de sua evolução até 1969”, focaliza este nível de ensino e fornece inúmeros elementos que permitem avaliar a situação do ensino superior e das FFCLs até 1969, bem como Florestan Fernandes, em duas obras eleitas para esta análise, “Educação e sociedade no Brasil”, de 1966 e “A universidade brasileira: reforma ou revolução?”, de 1975. Ambos exibem informações que permitem uma avaliação de quase três décadas de existência das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras. Conclui-se, ainda que parcialmente, que a FFCL tornou-se desde sua gênese lócus privilegiado de formação de docentes para o ensino secundário e normal, com o desígnio de centrar-se no ensino e na pesquisa, fato evidenciado nas normatizações. Todavia, por intermédio da análise de Anísio Teixeira e Florestan Fernandes, percebe-se que a expansão destas faculdades, em especial, aconteceu via instituições privadas, isoladas, precárias e que suprimiu de seu cotidiano a pesquisa. A privatização crescente em 1960 do ensino superior e acentuada pós anos 1990, retrata a figura de um Estado que negligenciou a formação de professores para a Educação Básica e que enfrenta inúmeros desafios em pleno século XXI. A leitura do Plano Nacional de Educação e o Plano Nacional de Pós-Graduação traz o alerta, para nós educadores comprometidos por uma educação de qualidade e conhecedores da história da formação docente, do dilema permanente que é o de formar professores.

A ATUAÇÃO DE PROFESSORES PRIMÁRIOS NO VALE DO PARAÍBA PAULISTA (1889-1920)

TIAGO DONIZETTE DA CUNHA Eixo Temático: 5 - História da Profissão Docente

A pesquisa analisou a atuação de professores primários nas primeiras décadas da República, especificamente aqueles que lecionaram no Vale do Paraíba paulista entre os anos de 1889 a 1920, período caracterizado pela ampliação de escolas isoladas, o surgimento dos primeiros grupos escolares e a nomeação e circulação de docentes nestas instituições de ensino. Análises de maior abrangência demonstraram que o surgimento da escola elementar graduada acabou por (de)limitar as funções dos professores diante da maior atuação e influência do poder público sobre a educação escolar. Todavia, lacunas ainda precisam ser preenchidas, na tentativa de trazer à tona rupturas, intersecções e permanências, aproximações e distanciamentos mediante as diferentes realidades vivenciadas pelos docentes. Por isso optou-se por uma seleção de 103 sujeitos que, de alguma forma, ganharam destaque no escopo dos relatórios da inspeção escolar e nos documentos elaborados pelos diretores dos grupos escolares e naqueles produzidos pelos próprios professores em processos disciplinares e na imprensa periódica. O principal objetivo foi avaliar como estes profissionais se articularam diante das particularidades relacionadas a estes modelos escolares em seus aspectos pedagógico, cultural, social e político. Os dados

Caderno de Resumos - Comunicações Individuais

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encontrados nessas fontes possibilitaram uma análise preliminar de quem eram estes professores: filiação, formação acadêmica, itinerários profissionais, inserção social, bem como as condições de trabalho, incluindo os recursos materiais para o exercício profissional. Como ferramenta teórico-metodológica destacam-se as contribuições de Jean-François Sirinelli com seus conceitos de itinerário, geração e sociabilidade como forma de analisar o intelectual (professor) como ator político, e de experiência de E. P. Thompson, a fim de compreender as ações e representações condicionadas destes professores que o contexto lhes permitia. As fontes demonstraram que a vivência dos professores ao se depararem com diferentes realidades, tais como a atuação em escolas precárias ou planejadas, conseguidas sob a dispensa de seus recursos ou do Estado, localizadas nas zonas rural, urbana periférica ou central, com alunos de diferentes faixas etárias, graus de escolarização ou organizados em salas seriadas; a escassez ou acesso a materiais didático-pedagógicos; suas obrigações administrativo-pedagógicas; seus relacionamentos conflitantes ou amistosos com inspetores, diretores e autoridades locais; as epidemias que se alastraram pela região, as festas religiosas e outros eventos que diminuíam os dias letivos; as licenças médicas, problemas de ordem pessoal, etc.; foram determinantes para a forma como estes professores “trataram” na consciência estas situações e como agiram diante delas. Com isso, foi possível avaliar de que maneira as relações hierárquicas com o Estado, além de sua inserção social, acabaram por influenciar na atuação e na carreira destes professores.