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1 LARISSA DE OLIVEIRA CESAR COMUNICAÇÃO SOCIAL E FORMAÇÃO DE OPINIÃO POLÍTICA POR PERSONALIDADES EVANGÉLICAS Universidade Federal Fluminense Curso de Comunicação Social Publicidade e Propaganda Niterói, 2016

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LARISSA DE OLIVEIRA CESAR

COMUNICAÇÃO SOCIAL E FORMAÇÃO DE OPINIÃO POLÍTICA POR PERSONALIDADES EVANGÉLICAS

Universidade Federal Fluminense Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda

Niterói, 2016

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LARISSA DE OLIVEIRA CESAR

COMUNICAÇÃO SOCIAL E FORMAÇÃO DE OPINIÃO POLÍTICA POR PERSONALIDADES EVANGÉLICAS

Monografia apresentada em cumprimento

parcial às exigências do Curso de Comunicação

Social da UFF - Universidade Federal

Fluminense, para obtenção do grau de Bacharel

em Comunicação Social, habilitação

Publicidade e Propaganda.

Orientador: Patrícia Gonçalves Saldanha

Universidade Federal Fluminense

Curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda Niterói, 2016

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Dedicatória A Deus, Digno de toda honra, glória e louvor.

Fonte de todo o conhecimento, sabedoria e vida.

Ao amado Rogério, pela presença constante,

Apoio forte e inesgotável,

Parceiro de sonhos, caminhando

Lado a lado em cada realização.

A minha mãe, Liz Débora,

Suporte e proteção imensuráveis,

Maior torcida e cuidados incondicionais.

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Agradecimentos Agradeço a Deus, pois Nele me movo e existo. Meu auxílio em cada linha escrita, presente em todos

os detalhes, força constante em cada análise e estudo, direção em todos os caminhos, por meio de sua

vontade boa, perfeita e agradável.

Ao companheiro amado, Rogério, sempre presente, paciente em todos os momentos, empenhando

carinho, amor e o cuidado necessários para trilhar esta caminhada, deixando-a mais leve e agradável.

Muita gratidão por enfrentar desafios ao meu lado; pela ajuda, compreensão, amor e afeto que mais

ninguém poderia oferecer.

Aos meus pais, Liz Débora e Marcelo, pois não mediram esforços para dar o suporte necessário,

facilitadores dispostos a contribuir no possível para verem minha vitória. Muita gratidão pelo amor

expressado nos detalhes do cotidiano, pelo incentivo e estímulo, pelas forças necessárias para

percorrer um caminho de sucesso.

Ao meu irmão, Marcelo, pela preocupação e atenção, que somente um irmão mais velho disposto a

proteger poderia dar.

Agradeço à orientadora, Patrícia Gonçalves Saldanha, que mais do que me orientar, me deu a direção e

o suporte teórico necessários. Obrigada pelos esforços empenhados para ajudar e pelas oportunidades

oferecidas.

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Resumo

A religião evangélica é constituída por um número significativo de pessoas inseridas em um

contexto de baixa informação, onde há ausência do poder público, baixo nível de escolaridade

e poder aquisitivo. Expostos à figura do líder religioso mais do que em outras religiões, os

adeptos visualizam as personalidades evangélicas como representantes de Deus, confiando

nas mensagens transmitidas por estas e tomando-as como verdades para suas vidas. Este

contexto viabilizou a emissão de informações políticas para o público, o qual faz uso dos

líderes como atalhos de informação para basear seu pensamento político. A internet, no

contexto da globalização, ampliou as fronteiras do espaço e diminuiu as barreiras do tempo

amplificando este processo comunicativo. Neste sentido, o trabalho trata-se de uma pesquisa

bibliográfica, cujo objetivo é investigar os efeitos do discurso emitido pelo líder de opinião,

para influenciar os fiéis, que se encontram em posição de maior influenciabilidade. Para isso,

é empregado como exemplo de análise o pastor Silas Malafaia, líder evangélico de

ressonância nacional.

Palavras-chaves

Religião evangélica – Comunicação e Mídia – Política –– Propaganda – Líder de opinião –

Atalhos de informação

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Lista de Anexos

ANEXO A – Tweets políticos do pastor Silas Malafaia

ANEXO B – Malafaia citado como liderança

ANEXO C – Candidatos apoiados por pastores são eleitos

ANEXO D – Malafaia se consolida como líder político nacional

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Sumário

Introdução ........................................................................................................................... 8

1. Religião e comunicação .............................................................................................. 12

1.1.A importância da comunicação. ................................................................................... 12

1.2.A busca pela origem da religião. .................................................................................. 13

1.3.A estrita relação entre comunicação e religião. ............................................................ 15

1.4.Igreja Católica: comunicação, propaganda e política. .................................................. 17

2. A origem do protestantismo e suas principais vertentes históricas ....................... 26

2.1.Reforma Protestante e o surgimento de novas doutrinas de base cristã ....................... 26

2.2.Calvinismo .................................................................................................................... 31

2.3.Pietismo ........................................................................................................................ 32

2.4.Metodismo .................................................................................................................... 33

2.5.Seitas Batistas ............................................................................................................... 34

3. Religião e mídia: o movimento pentecostal e a expansão do neopentecostalismo 37

3.1.Pluralidade denominacional evangélica ....................................................................... 37

3.2.As três ondas pentecostais ............................................................................................ 38

3.3.Igreja Eletrônica, sociedade de massa e pentecostalismo............................................. 42

3.4.O conceito de Religiosidade Midiática em um contexto de globalização. ................... 46

4. Personalidades evangélicas contemporâneas: comunicadores sociais e formadores

de opinião política na rede: o caso do pastor Silas Malafaia .................................. 48

4.1.Pastor Silas Malafaia: líder evangélico de ressonância nacional ................................. 48

4.2.O líder de opinião ......................................................................................................... 51

4.3.A escolha por atalhos de informação em uma conjuntura de baixa informação .......... 52

4.4.Opinião política no Twitter .......................................................................................... 53

Conclusão .......................................................................................................................... 61

Referências bibliográficas ................................................................................................ 65

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Introdução

A conjuntura política brasileira recente é constituída de momentos intensos, com uma

forte polarização partidária. Em meio a este contexto, a bancada evangélica se fortaleceu no

Congresso Nacional, demonstrando a força que a população evangélica pode representar na

eleição no que diz respeito à eleição de candidatos no período político difícil em que o país

está inserido. Apesar de soar como a equivalência de um grupo homogêneo e organizado, a

bancada evangélica é heterogênea, possuindo, portanto, representantes de diversas

denominações evangélicas. Vale ressaltar, entretanto, que apesar de representarem

denominações diversas, a grande parte dos políticos evangélicos advém do pentecostalismo,

corrente evangélica a qual analisaremos a origem e peculiaridades, retomando sua formação

histórica e refletindo sobre suas imbricações com a política e a comunicação no presente

estudo.

Como consequência desta mistura entre religião e política, é visto não somente o

ingresso de candidatos autodeclarados evangélicos no âmbito político, como também a

política adentrando no ambiente evangélico e se entranhando no discurso de formadores de

opinião cristãos, como cantores e pastores. Os indivíduos são personalidades famosas no

meio, que por meio de suas figuras como autoridades religiosas e representantes da vontade

de Deus, aproveitam-se da confiança conquistada dos fiéis, influenciam seus pensamentos e

ações políticas. Os formadores de opinião são utilizados pelo público como atalhos

informacionais para a tomada de decisão política.

Na contemporaneidade, a emissão de ideias e informações políticas tornou uma

proporção muito maior promovida pelo ressurgimento do fenômeno da globalização. Dando

prosseguimento à comunicação eletrônica, o advento da internet possibilita a transmissão de

informações encurtando ainda mais o tempo e o espaço e conectando, portanto, indivíduos de

diferentes localizações geográficas. Com um amplo espaço para a propagação de ideias, os

formadores de opinião evangélicos, sobretudo os neopentecostais, que antes, já haviam se

apropriado dos meios de comunicação em massa, especialmente a televisão e o rádio, que

evidenciam o conceito de Igreja Eletrônica; agora, se apropriam também da internet,

tipificando a concepção de Religiosidade Midiática.

As eleições presidenciais de 2014 demonstraram como ainda não se tinha visto a

importância da internet nas campanhas políticas e a significância dos líderes de opinião

evangélicos que consolidam suas opiniões na esfera pública, influenciando milhares de fieis.

O fervilhar político vivenciado recentemente no país, com a possibilidade do impeachment da

presidente eleita Dilma Rousseff, tomou o ambiente virtual, se instalando nas redes sociais,

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que se apresentaram como uma ferramenta importante para a difusão de valores, debates e

embates. Nesse meio, surgiram diversos porta-vozes evangélicos, que se levantaram para

induzir o comportamento da população evangélica, que cresce cada vez mais no Brasil,

constituindo-se, portanto, em um público decisivo para a disputa política. Nesse sentido, a

relação entre mídia e religião baseou o presente trabalho.

A metodologia utilizada para o seu desenvolvimento foi a pesquisa bibliográfica, de

fundamental importância para a estrutura textual e abordagem dos conceitos aqui utilizados. A

consulta com teóricos atuais e estruturantes dos campos da comunicação, mídia e religião

também foi essencial para o levantamento de novos conceitos, a fim de enriquecer o trabalho.

A partir da bibliografia, foram levantadas diversas reflexões teóricas para basear este trabalho,

cuja temática é estudada pela autora desde as eleições de 2014, onde diversos formadores de

opinião fizeram parte do embate entre os candidatos à presidência do Brasil, Dilma Rousseff e

Aécio Neves. Na ocasião, foi divulgado nas redes sociais um vídeo em que cantores e pastores

evangélicos famosos apareciam apoiando Aécio Neves e pedindo à população que votasse no

“candidato da família”. Por se tratarem de figuras muito conhecidas e que conquistaram seu

espaço no meio evangélico, o vídeo repercutiu bastante e chamou a atenção pelo fato de

formadores de opinião manifestarem suas preferências políticas, sem se importarem com o

efeito que estariam causando nos fiéis. Ou ainda, por serem conscientes deste efeito, a

influência de terceiros no pensamento político e tomada de decisão do voto.

Por isso, desde então, tomou-se conhecimento da importância das redes sociais nesse

processo de construção de opinião política a partir de personalidades famosas. Dentre essas

personas, o pastor Silas Malafaia se destaca, pois é recorrente a sua figura atrelada a assuntos

políticos. Apesar de o próprio nunca ter se candidatado a nenhum cargo político, sempre

interfere em tópicos políticos, com o objetivo de influenciar e com o argumento de que foi

levantado por Deus para tal propósito. É importante frisar, que o pastor Silas Malafaia não se

apresenta como corpus central da pesquisa, que tem como eixo central a relação entre política

e religião perpassada pela comunicação como estratégia de divulgação, incluindo a

propaganda, a comunicação eletrônica e a comunicação nas redes sociais a partir do advento

da internet. No entanto, Silas Malafaia tem destaque no trabalho por ser a persona que melhor

exemplifica, no cenário recente brasileiro, a influência política por personalidades

evangélicas, consolidado como um líder de opinião.

Em vista disso, iniciou-se um processo de análise das redes sociais, em especial do

Twitter, por viabilizar um imediatismo ainda maior que o encontrado nas outras redes, a partir

de postagens com caracteres reduzidos, em que o usuário posta, a fim de divulgar o que está

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sendo feito ou pensando naquele exato momento. Além disso, o pastor Silas Malafaia, que

será utilizado como exemplo no presente trabalho, faz uso dessa rede social com constância,

realizando diversas postagens diariamente. Muitas delas, de cunho político. Sua presença e

atividade são maiores no Twitter do que nas outras redes sociais. Por ser muito ativo em suas

postagens, foi necessário realizar um recorte temporal para análise. Por isso, foi escolhido o

período de 16 de abril a 23 de abril. O intervalo de tempo em questão inclui o momento de

fervilhar político mais recente do Brasil, compreendendo o dia que antecede a votação do

impeachment da, então presidente, Dilma na Câmara dos Deputados e a semana útil que se

sucede. No período tratado, buscamos entender o posicionamento adotado pelo pastor Silas

Malafaia no quesito político. Para tanto, foi feito uso da ferramenta online Wordle,

constituindo uma nuvem de palavras que se compõem baseadas em níveis de hierarquia dos

vocábulos mais utilizados nos textos emitidos por Silas neste período. Foram estudados,

ainda, os três momentos em que o pastor alcança os trendings topics da rede social por meio

de seu envolvimento em assuntos de teor político.

Nesse sentido, o estudo tratará da temática mídia e religião, sendo necessário realizar

um percurso histórico para entender as bases dos conceitos comunicação e religião e, ainda, a

comunicação empregada pela primeira instituição cristã oficial, a Igreja Católica, que originou

o protestantismo. Por isso, no capítulo um, serão estudados os conceitos de religião e

comunicação e as suas reflexões no campo social. Será necessário buscar as origens de

ambos, a fim de entender o porquê da importância destas concepções na vida dos indivíduos

desde os tempos primordiais. Neste sentido, o estudo detalhado de Luiz Martino sobre o

surgimento da comunicação se tornará essencial, assim como o de Pessinatti, que analisa a

origem da religião e sua importância como necessidade intrínseca aos seres humanos. A

análise de Raquel Paiva fundamentará os reflexos da relação entre religião e comunicação no

âmbito coletivo. O estudo de Pessinatti sobre as políticas de comunicação utilizadas pela

Igreja Católica será essencial para traçar o trajeto comunicacional de propagação de valores e

ideias percorrido pela instituição desde o seu surgimento até os dias recentes. Nessa lógica,

também será fundamental a utilização do estudo sobre propaganda idealizado por Neusa

Demartini.

No capítulo dois, será de grande importância a realização de um resgaste histórico do

protestantismo, a fim de entender o contexto do rompimento com a instituição católica, suas

bases originais, as principais correntes tradicionais originadas. Para entender melhor, o

protestantismo inicial, será necessário descrever as características e fundamentações das

principais correntes históricas. Por isso, será indispensável a utilização do clássico de Max

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Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo. A obra ajudará a entender a não

vinculação das igrejas protestantes históricas com a política, diferentemente do que era visto

com a instituição católica medieval e, atualmente, com as igrejas evangélicas pentecostais.

No capítulo três, será de grande necessidade esmiuçar as característica do

pentecostalismo e entender o seu surgimento a partir do metodismo, corrente protestante

histórica. Os estudos realizados por Ricardo Mariano e Maria das Dores Machado

representarão ajuda primordial para este detalhamento, buscando suas origens e

contextualização do movimento pentecostal no panorama brasileiro. O pentecostalismo visto

atualmente só surgiu após duas ondas anteriores que serão estudadas nesta etapa. A forte

inserção das igrejas evangélicas, especialmente neopentecostais, na mídia, gerou o fenômeno

denominado Igreja Eletrônica, que será estudado aqui sob o ponto de vista do principal autor

da vertente latino-americana Hugo Assman. Para entender o conceito, será preciso estabelecer

a diferença existente entre mediação, formulação de Barbero, e midiatização, concepção

trazida por Muniz Sodré atualmente. Suas implicações sociais nos levarão para a abordagem

do conceito de sociedade de massa, será de extrema importância, portanto, o estudo sobre as

teorias da comunicação de Mauro Wolf. Percorrendo o caminho que vai de cultura de massa à

cultura global, Magali Cunha propõe uma atualização do conceito de Igreja Eletrônica,

sugerindo como Religiosidade Midiática, conceito-chave que será utilizado neste estudo para

ingressarmos no mundo da internet, principal responsável pela interconexão de espaço e

tempo no mundo globalizado.

No capítulo quatro, será vista a importância do líder de opinião e seu impacto na

sociedade com a amplificação de sua influência na mudança decorrente da utilização dos

meios de comunicação social. Nessa perspectiva, será essencial a concepção de Lazarsfeld

sobre o líder de opinião e também o estudo de Isabel Morgado, em que se averigua a pressão

política sobre este indivíduo, especialmente no mundo pós-moderno. A utilização destes

líderes de opinião como atalhos informacionais em um contexto de baixa informação em que

vivem os pentecostais, tornará fundamental a utilização das bases teóricas de Anthony Downs

sobre os atalhos de informação e a atualização deste conceito proposta por Popkins

recentemente. Em visto de toda a fundamentação teórica, analisaremos o posicionamento

adotado pelo pastor Silas Malafaia em sua rede social do Twitter, principalmente, no que diz

respeito à posição política e seus desdobramentos.

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1. Religião e Comunicação

Os conceitos de religião e comunicação remontam os primórdios. Representando

necessidades intrínsecas ao ser humano e essenciais no âmbito social, ambos estão

estreitamente relacionados. Para a abordagem das temáticas, será necessário remontar a

origem do termo comunicação e aprofundar o estudo sobre a religião, englobando sua

importância refletida no campo coletivo. De caráter essencial para a aplicação das ideias de

religião e comunicação, a Igreja Católica, instituição hegemônica, durante muito tempo, foi o

berço do nascimento destes conceitos, exercendo posição fundamental para a propagação de

valores políticos e ideológicos. Para tanto, será necessário compreender o surgimento da

propaganda e a importância do papel da Igreja Católica desde o contexto de seu surgimento,

estudando a comunicação empregada por ela a partir de então até os dias atuais, a fim de

distingui-la do protestantismo futuramente. Para isso, será importante resgatar as políticas de

comunicação empregadas pela instituição e sua atuação no cenário brasileiro recente.

1.1.A importância da comunicação

A definição sintética de comunicação é dada como a ação de transmitir uma

mensagem e, eventualmente, receber outra mensagem como resposta. Para Paoli, é “o ato de

relação entre dois ou mais sujeitos, mediante o qual se evoca em comum um significado”.

(PAOLI, 1977, p.15 apud PESSINATTI, 1998, p. 45) Apesar de expressarem simplicidade e

sintetismo, as manifestações são abrangentes e refletem a complexidade da ação. O conceito

desencadeia ainda outras palavras-chaves que possuem relação direta com a comunicação;

informação, transmissão, ligação, convivência, relações e participação são alguns exemplos.

Luiz Martino (MARTINO, HOHLFELDT e FRANÇA, 2001, p.12) defende a ideia de

que comunicação é um diálogo entre emissor e receptor, onde há troca de ideias, informações

ou mensagens. Entretanto, afirma que esta explicação é restritiva, visto que a comunicação

não ocorre somente entre duas pessoas. Antes, acontece entre os animais ou, ainda, entre dois

aparelhos técnicos, em que o autor usa como exemplo dois computadores ligados por modem.

Ampliando a conceituação, Martino elucida o que é comunicação em um campo vasto que se

estende para além da comunicação verbal, legitimando outras formas de comunicar, como por

meio do visual, gestual e, inclusive, a comunicação de massa, em que a relação dualista direta

e imediata é sobrepujada. Sob esta perspectiva, Martino conclui dizendo que, ao passo que a

definição de comunicação é uma tarefa fácil, é também complexa, pela extensão do tema.

A designação do que representa a comunicação é dada pelo autor sob a luz da

etimologia da palavra, demonstrando que, o seu surgimento, está intimamente ligado ao

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ambiente religioso, onde aparece pela primeira vez utilizada para estabelecer uma ruptura do

isolamento vivenciado no cristianismo antigo pelos cenobitas1.

O termo comunicação vem do latim communicatio, do qual distinguimos três

elementos: uma raiz munis, que significa ‘estar encarregado de’, que

acrescido do prefixo co, o qual expressa simultaneidade, reunião, temos a

ideia de uma ‘atividade realizada conjuntamente’, completada pela

terminação tio, que por sua vez reforça a ideia de atividade. E, efetivamente,

foi este o seu primeiro significado no vocabulário religioso onde o termo

aparece pela primeira vez. (Id. Ibid., p. 12-13)

A comunicação representa, então, uma necessidade natural do ser humano. Desde os

primórdios da humanidade, seja por meio de pinturas rupestres ou esculturas, ou ainda por

gestos e sons, o homem procurou forma de comunicar e comunicar-se. A criação do alfabeto

3.000 a.C., na Fenícia, território atual do Líbano, demonstram a sede por criar simbolismos

para tornar a comunicação intra-humana mais clara e eficaz. Pessinatti (1998, p. 45)

desenvolve os avanços na comunicação, destacando importantes processos, tais quais a

criação de uma espécie de correios pelo império egípcio, por volta do ano 2.400 a.C.; pinturas

públicas pelos romanos para divulgar notícias e fazer publicidade, e ainda o teatro,

amplamente utilizado pelos gregos, com enfoque nas artes musicais e literárias, refletindo seu

contexto social e histórico.

Pelo breve resumo aqui retratado, entende-se que “(...) a comunicação nasce

juntamente com a necessidade que os seres humanos, desde os primórdios de sua origem,

sentem de inventar, acumular e transmitir informações na busca de solução para os problemas

diários.” (Id. Ibid., p. 46)

1.2.A busca pela origem da religião

Paralelamente à busca por formas de comunicação, o homem sentiu o anseio da

transcendência, procurando na religião a satisfação deste desejo. Podemos entender que o

homem busca na religião a origem de sua existência, o preenchimento de suas lacunas

1 Para explicar a aparição da palavra comunicação, Martino (2001, p. 13) percorre a rotina vivenciada no

contexto do cristianismo antigo “onde a vida eclesiástica era marcada pela contemplação e isolamento,

considerada na época como uma condição para conhecer Deus”. Se de um lado, os anacoretas viviam em

completo isolamento, vivendo de maneira totalmente individual, por outro lado, os cenobitas viviam em

comunidade nos conventos ou mosteiros, “também conhecidos por cenóbios (do grego koenóbion), ‘lugar onde

se vive em comum’. No mosteiro aparecerá uma prática que recebeu o nome de communicatio, que é o ato de

‘tomar a refeição da noite em comum’, cuja peculiaridade evidentemente não recai sobre a banalidade do ato de

‘comer’, mas de fazê-lo ‘juntamente com os outros’, reunindo então aqueles que se encontravam isolados. A

originalidade dessa prática fica por conta dessa ideia de ‘romper o isolamento’. Daí a necessidade de se forjar

uma nova palavra, para exprimir a novidade dessa nova prática.”

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interiores e respostas para questionamentos inerentes à sua natureza. A religião pode ser

entendida como

(...) a prática humana relacionada com a transcendência como bem e como

Deus. Como bem, ilumina a vida e acode as insatisfações humanas, dando

sentido a todas as vivências. Como Deus, sustenta o ser humano e o

universo. Dá-nos o ser e a vida. E, justamente, por ser transcendente, está

presente no mais íntimo de cada pessoa (...) Portanto, a religião tem a

capacidade de explicar o sentido e a origem do ser humano, no contexto da

transcendência. (CATÃO & VILLELA, 1994, p.59 apud PESSINATTI,

1998, p. 42)

Pode-se dizer ainda, que a adesão a uma religião se dá na busca do ser humano para

encontrar qual é o sentido da vida;

Quando se fala em sentido da vida, percebe-se que se vive em função de algo

ou alguém em quem se crê (...); a religião está empenhada na elaboração e

sustentação desse sentido, que é sua função própria. Não é a religião que dá

resposta à questão de Deus. A religião é a resposta que o ser humano dá à

questão do sentido, num contexto social. (CATÃO & VILLELA, 1994, p.

104-105 apud PESSINATTI, 1998, p. 43)

Nas civilizações primitivas, os humanos acreditavam na divindade atrelada à natureza

e seus fenômenos. Segundo suas crenças, deuses e espíritos controlavam os elementos

naturais, tais como o calor, o vento e a chuva. Não é, porém, a intenção deste trabalho o

aprofundamento da origem da religião, mas sim os motivos pelos quais a mesma surgiu.

A história das religiões é a história de suas instituições e organizações. Nas

sociedades primitivas e arcaicas a religião é um fenômeno difuso. Com o

passar do tempo, aparecem organizações especificamente religiosas que se

estruturam ao redor do culto, da doutrina e de sua relação social. (O’DEA,

1966, p. 55-78 apud PESSINATTI, 1998, p. 35)

Nos tempos primórdios, não havia instituições e organização religiosa. Não havia

estruturação no fenômeno religioso. As religiões surgiram, a fim de suprir a necessidade

pessoal e social de espiritualidade, que pode ser denominada como o desejo de

transcendência, já falado anteriormente. A ação de transcender relaciona-se à superioridade,

sublimidade. No âmbito religioso, a ação está atrelada a elementos que o homem, por si só

não poderia explicar, entender ou alcançar.

A palavra religião vem do termo latim religio, que significa culto, prática religiosa,

cerimônia, lei divina, santidade. Há controvérsias entre os etimologistas, entretanto, sobre o

verbo latim que originou esse substantivo: relegere ou religare? Uns creem que o termo tem

origem na primeira forma verbal, que significa reler, revistar; como referência ao ato

constante de releitura e interpretação de textos sagrados para seguir as orientações das

divindades. Muitos acreditam que a palavra tenha surgido a partir do segundo, que significa

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religar, ligar novamente, ou ainda, unir, atar; caracterizando a ligação do homem com Deus e

também com o outro. (RODRIGUES, 2012) O segundo verbo, porém, é mais pertinente como

significado da palavra.

1.3.A estrita relação entre religião, comunicação e comunidade

Religião e comunicação estão estritamente conectados. Para além da conexão

estabelecida desde o surgimento do conceito de comunicação, que nasceu no âmbito religioso,

ao analisarmos os significados dos dois vocábulos, percebem-se semelhanças. Comunicação

associa-se aos conceitos de informação, ligação e transmissão; assim como a religião também

está relacionada à noção de ligação. Em ambos, tal ideia é muito importante, já que uma

relação é estabelecida com um segundo ser.

A comunicação existe desde os primórdios e seu surgimento está relacionado à

necessidade humana de expressão, enquanto a religião surge da carência da ânsia de

transcendência. A comunicação, não impreterivelmente, depende de religião; enquanto a

religião não existe sem a comunicação, antes tem sua existência baseada no fenômeno

comunicativo, especialmente no cristianismo. “O élan2 de comunicar, herdado do judaísmo,

foi sempre forte na história do cristianismo. A patrística3 e os hagiógrafos

4 são exemplos bem

sucedidos desta herança.” (TEIXEIRA, 1976, p. 117 apud PESSINATTI, 1998, p.53)

Pessinatti averigua a importância da religião ao realizar uma ligação não somente com

Deus, mas também com o outro. Em seu trabalho, destaca-se a função humanizadora da

religião, que pode ser entendida como a preocupação em cuidar do outro, em cumprir uma

função de importância social. “Toda religião comporta elementos e diretrizes de comunicação.

Etimologicamente, lembra a ideia de ligar, relacionar. A religião cristã, de modo especial, se

propõe a orientar (ligar) o homem para Deus e para o seu semelhante.” (1998, p. 53)

A ideia de comunidade torna-se, portanto, uma condição de extrema importância na

religião, especialmente no cristianismo. A autora Raquel Paiva (2003, p. 106), ao discorrer

sobre o conceito de comunidade idealizada, explicita o pensamento de Hegel, que distingue o

cristianismo das outras religiões pré-cristãs, as quais considera serem primitivas, por conta de

sua conexão com os elementos da natureza. “Para Hegel, comunidade deve ser respondida

2 Significa arroubo súbito e passageiro. Entusiasmo; disposição. (ÉLAN)

3 Pensamento cristão desenvolvido pelos primeiros padres ou pais da Igreja Católica. Por isso, a denominação

“patrística”. A filosofia desenvolvida pelos primeiros teóricos da Igreja perdurou do século II ao VII, consistindo

na propagação dos valores cristãos e em sua defesa contra os pagãos e hereges. (AQUINO, 2016) 4 Escritor do sagrado; aquele que escreve a história dos santos; denominação atribuída aos autores dos livros das

Escrituras Sagradas. (HAGIÓGRAFO)

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com espírito divino, da mesma maneira que o cristianismo é visto como a religião que fornece

ao sujeito a possibilidade de tornar-se cidadão do Reino de Deus.”

O caráter coletivo presente no cristianismo agrega um novo aspecto ao fenômeno

religioso, que, antes relacionava-se somente a uma índole pessoal, voltado para uma atitude

individual e egocêntrica. Com o surgimento do cristianismo, a religião passa a ter também

uma função sociológica, voltada para o âmbito social.

O fenômeno religioso pode e é constantemente interpretado sob os mais

variados enfoques; é também facilmente constatável que em todas as

organizações humanas o religioso acompanha a vida dos indivíduos e dos

grupos sociais. O desenvolvimento das ciências humanas e as pesquisas

teológicas na busca da unidade das confissões religiosas facilitaram o

interesse pelo estudo das religiões. (PESSINATTI, 1998, p. 34)

A religião possui a predisposição de ressonância por sua capacidade de responder

questões que surgem na vivência de distintos grupos sociais, justificando experiências pelas

quais os indivíduos tem que passar, como a morte, a doença, a injustiça, entre outras

dificuldades. Por isso, acompanha a vida dos indivíduos em diferentes contextos sociais e

culturais, unindo-os por uma ação em comum de buscar as respostas para as aflições que os

atingem, obtendo satisfação de seus anseios espirituais, por meio da direção dada pela

religião. Meslin sintetiza em três as dificuldades enfrentadas por quaisquer sujeitos durante o

percurso da vida, independente de sua inserção sociocultural e temporal:

desde os ritos fúnebres até aos acontecimentos mais recentes de que se

apossa a mídia” a religião funciona para seus fiéis como maneira de explicar

e agir, pois responde “às três ameaças que pesam sobre toda vida humana: o

sofrimento, a ignorância e a injustiça.” (1992, p. 21 apud PESSINATTI,

1998, p. 34)

Portanto, religião e comunicação tem sua essencialidade no âmbito social. Utilizada

pela religião para cumprir o propósito original de sua função sociológica, funcionando como

meio de aproximar o indivíduo do próximo e de Deus, a comunicação surte efeito benéfico.

Porém, caso mal empenhada, voluntaria ou involuntariamente, a comunicação pode funcionar

como desagregadora social, causando estragos sociais e funcionando como ferramenta para

manipular ideologicamente a população, como veremos mais adiante com o exemplo de

estudo utilizado, pastor Silas Malafaia. Percebemos, então, que o processo comunicativo

traçado por instituições religiosas pode ser instrumento positivo ou negativo, visto que seus

efeitos impactam diretamente nos grupos sociais que as acompanham.

A relação religião-comunicação é muito complexa. Enquanto que a história

revela uma profunda ligação dos povos a uma religião, colhe-se das religiões

uma clara orientação para o “além do homem”. O universo do homem

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aponta para o transcendente e engloba, ao mesmo tempo, o homem e sua

realidade. (PESSINATTI, 1998, p. 53)

As formas de comunicação realizadas pelas religiões cristãs, tanto pela Igreja Católica,

como também pela Igreja Protestante serão analisadas, procurando entender o posicionamento

adotado por essas instituições cristãs tradicionais no âmbito comunicativo. Ao longo do

presente trabalho, iremos constatar qual é a importância da comunicação nas religiões cristãs

e quais foram as estratégias de comunicação utilizadas por estas instituições no decorrer dos

tempos. Será necessário, ainda, analisar quais são os efeitos sociais gerados por essas

estratégias, os objetivos dos processos comunicativos empregados e a zona de influência das

religiões no contexto político. Afinal, como as Igrejas Católica e Evangélica tem se

posicionado na Era da Informação no território brasileiro e qual é a importância dos

formadores de opinião evangélicos nas redes sociais? Estas são perguntas que deverão ser

respondidas, resgatando as origens históricas de ambas as religiões, para entender,

essencialmente, as medidas de comunicação estabelecidas por denominações das Igrejas

Evangélicas no cenário atual brasileiro, focando, em especial, nas estratégias que dizem

respeito ao envolvimento de interesses políticos. Para isso, é fundamental entender o processo

histórico do surgimento das Igrejas Protestantes, que nasceram da Igreja Católica, que é a

principal referência de instituição cristã e que exerceu hegemonia comunicacional durante

séculos.

1.4.Igreja Católica, comunicação, propaganda e política

O cristianismo é uma das maiores ideologias religiosas do mundo. A Igreja Católica,

como propagadora da cultura cristã, é uma das maiores instituições mundiais, com 1,2 bilhão

de fiéis. No Brasil, é a religião que possui o maior número de adeptos. De acordo com o

Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado no ano de 2010,

64,6% da população brasileira se declara católica5, representando a maior nação católica do

mundo, atualmente.

Entretanto, esses números caíram muito nos últimos tempos. Fato este, que tem levado

a instituição a empenhar esforços para recuperar adeptos, inclusive estabelecendo estratégias

de comunicação nos meios de massa. Em 1970, havia 91,8% de brasileiros católicos no país.

Os números mostram a acentuada queda de adeptos no território nacional. Em contrapartida, o

5 AZEVEDO, R. O IBGE e a religião – Cristãos são 86,8% do Brasil; católicos caem para 64,6%; evangélicos já

são 22,2%. VEJA. São Paulo, 29 jun. 2012. Disponível em: < http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-ibge-

e-a-religiao-%E2%80%93-cristaos-sao-868-do-brasil-catolicos-caem-para-646-evangelicos-ja-sao-222/> Acesso

em: 26 jul. 2016.

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número de brasileiros autodeclarados evangélicos não para de crescer. De acordo com o

Censo de 2010, mesmo levantamento utilizando anteriormente, esta parcela já representa

22,2% da população, enquanto em 1970, o número era de apenas 5,2%.

Esta queda nos traz alguns questionamentos quanto às medidas de comunicação

estabelecidas pela Igreja Católica na atualidade e nos leva, ainda, a olhar com mais atenção

para a Igreja Evangélica, que tem angariado mais fiéis a cada Censo realizado e recebido

muitos adeptos oriundos do catolicismo. Ao estudar a pluralidade religiosa no Brasil,

Pessinatti afirma com base nos dados estatísticos oferecidos pelo IBGE (1991), que

aproximadamente 64% dos convertidos para a Igreja Evangélica são provenientes da Igreja

Católica. Qual é a diferença entre as medidas de comunicação estabelecidas por ambas as

religiões no cenário pós-moderno brasileiro? Para fazer esta análise, precisamos resgatar as

bases, tanto da Igreja Católica, como da Igreja Protestante, a fim de entender a comunicação

empregada por essas religiões durante os tempos.

O cristianismo surgiu com o nascimento de Jesus Cristo e se difundiu muito,

incomodando o Império Romano, que perseguiu os fiéis de Cristo por anos, a fim de tentar

exterminar a ideologia que ameaçava seus interesses de dominação sobre o povo, já que a

figura de um mártir idolatrado perturbava as autoridades reais. Foi no século IV que a direção

tornou-se outra. No ano de 313, os cristãos obtiveram liberdade de culto, concedida pelo

governo romano. Em 391, o Império Romano adotou o catolicismo como religião oficial do

governo, oficializando, então, o surgimento da instituição. A prática de outras crenças e rituais

foi proibida.

Como religião do governo romano, a organização se fortaleceu no território europeu.

Na Idade Média, período que perdura do século V ao XV, “a instituição ascendeu como uma

das mais importantes e poderosas do período feudal, alcançando a condição de principal

entidade a disseminar e refletir os valores da doutrina cristã.” (SOUZA, 2008)

A propaganda foi um elemento fundamental para promover a Igreja Católica como a

principal instituição da época, essencial para direcionar o comportamento dos fieis e

conquistar novos membros, rompendo os limites do território europeu, e mantendo-a na

posição hegemônica que se encontrou durante muito tempo. Para tanto, é necessário entender

que, de fato, a propaganda consiste, não só no terreno da comunicação social, mas também

A propaganda, no terreno da comunicação social, consiste num processo de

disseminação de ideias através de múltiplos canais, com a finalidade de

promover no grupo ao qual se dirige os objetivos do emissor, não

necessariamente favoráveis ao receptor; o que implica, pois, um processo de

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informação e um processo de persuasão6. Podemos dizer que propaganda é o

controle do fluxo de informação, direção da opinião pública e manipulação –

não necessariamente negativa – de condutas e, sobretudo, de modelos de

conduta. (DEMARTINI, 2001, p. 116)

Neusa Demartini, ao discorrer sobre o conceito de propaganda, realiza um percurso

histórico, indicando que o termo, assim como comunicação, originou-se no âmbito religioso.

Ameaçada pelo nascimento e expansão do luteranismo, a Igreja Católica, receosa em perdeu

sua hegemonia, cria a Ordem dos Predicadores7, responsável por propagar a fé cristã e

combater a heresia. A função da propaganda tornou-se tão forte no catolicismo que o trabalho

destas organizações gastou, aproximadamente, quatro milhões de dólares, no século XIX,

enquanto o número de missionários empenhados nesta responsabilidade era de 25.000

(LASSWELL, 1960, p. 6 apud MARTINI, 2001, p. 117)

Além do papel de propagar os valores cristãos, a Igreja Católica assumiu as funções de

domínio ideológico; dirigente do pensamento cultural da época, detentora de grande poderio

econômico e interventora nos assuntos políticos. A instituição foi a grande responsável pela

ordem social estabelecida no período feudal. Por meio da divisão em estamentos, nobreza e

clero encontravam-se no topo da pirâmide de classes, dominando sobre a maior parte da

população, que era formada por servos e camponeses. A mobilidade social e econômica não

era possível, nem passível, visto que Igreja e Nobreza dominavam todas as esferas de poder.

Falar do processo comunicativo empregado pela Igreja Católica na Idade Média

significa falar também do posicionamento político adotado pela instituição no período. Igreja

e Estado se mesclavam. A entidade possuía interferência direta na política. Por isso, a

comunicação direcionada aos fiéis tinha como fim genérico a manutenção dos benefícios,

tanto do clero, como também da nobreza. “A instituição era a mais poderosa da época, os

poderes locais dos senhores feudais integravam-se ao poder universal da Igreja, visando

manter a organização econômica e feudal que lhes era favorável”. (PEREIRA, 2008)

Estudos comprovam que o poder ideológico da Igreja Católica era tamanho, que até

mesmo a monarquia e a nobreza estavam sujeitas à sua influência. Afinal, como a Igreja

6 Demartini (2001, p. 114) disserta sobre o significado de persuasão, utilizando a definição de Roiz (1994, p. 6):

“Persuasão é o intento de convencer alguém com razões e argumentos para que acredite em algo ou faça algo.”

A autora completa a explicação, concluindo, então que “persuadir é, pois, convencer alguém com razões e

argumentos para que acredite em algo (afetando no nível psicossocial das atitudes e valores) ou que realize uma

ação (compre, vote, assista a um comício ou modifique suas atitudes sobre algum aspecto da realidade: produto

comercial, ideias políticas ou religiosas).” 7 Para saber mais sobre, consultar Neusa Demartini (2001, p. 116-117). A autora faz uma descrição detalhada

sobre as posições adotadas pela Igreja Católica neste sentido.

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conseguia alcançar esses feitos? Ora, através da comunicação empregada: a propaganda. A

instituição era detentora exclusiva dos meios de comunicação.

A organização da religião se dava de maneira que havia cinco patriarcas ou bispos

distribuídos nas principais cidades do Império Romano. Os patriarcas se apresentavam como

herdeiros dos apóstolos de Cristo. O bispo de Roma seria o de maior importância, chamado de

Papa, denominado o represente de Deus na terra, o pai de todos os cristãos. (MACHADO,

2012) Vemos nessa figuração, a importância atribuída aos ‘”homens de Deus”, personalidades

fundamentais para a difusão dos valores cristãos, representando Deus e funcionando como um

espelho, para que os fieis sejam inspirados por eles a estarem mais perto de sua divindade.

Estes podem ser denominados líderes de opinião, conceito que trabalharemos à frente.

Objetivando fazer os povos merecerem esse lugar no Paraíso, a Igreja

instruía os fiéis a não pecarem, obedecendo aos mandamentos divinos e

fazendo caridade. Essa caridade, por sua vez, além da ajuda ao próximo,

também estavam diretamente relacionadas à doação de bens para a Igreja

Católica, a fim de ajudá-la a prosseguir em sua missão. Os nobres, então,

como forma de se livrarem do que a religião considerava seus pecados

terrenos, deveriam doar à Igreja bens materiais, como dinheiro, terras e

riquezas. Portanto, o crescimento do poder dessa instituição e o tamanho de

sua fortuna estão diretamente relacionados com a capacidade que a Igreja

tinha de fazer com que os fiéis acreditassem nas verdades que ela pregava.

Mais do que acreditar nelas, os fiéis deveriam temer a ira divina e o risco de

queimarem no fogo do Inferno após a morte. (MACHADO, 2012)

A Igreja Católica, portanto, ao representar Deus na terra, conquistou a confiança e

respeito de seus fiéis, presentes não somente nas camadas mais pobres da sociedade, como

também na nobreza. Detentora do conhecimento, restringia o acesso a livros e bibliotecas, a

fim de evitar a difusão de valores que não trouxessem benefícios, mantendo assim, sua

hegemonia nos aspectos cultural, econômico e político.

Na base dos conflitos pela hegemonia, encontramos a preocupação por parte

dos dominadores, culturalmente falando, de fazer prevalecer sua própria

visão de mundo e explicação da realidade. A defesa da ortodoxia e da pureza

da mensagem acaba sendo preocupação prioritária (ou estratégia) por parte

de uma instituição que deseja hegemonia. (PESSINATTI, 1998, p. 75)

Propagando seus próprios valores, mas autodeclarando a representação de Deus,

impunha à população as verdades incontestáveis, chamados dogmas católicos. Qualquer que

pessoa que defendesse ideias contrárias ao posicionamento do papa, alto clero ou posições da

Igreja era considerado herege.

A Santa Inquisição, espécie de tribunal religioso criado pela entidade na Idade Média,

tinha como objetivo condenar os contrários às posições dogmáticas da Igreja Católica. Nesse

contexto, foi difundido o Index, em que livros considerados proibidos eram queimados pela

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Igreja. A perseguição a cientistas e estudiosos, tal como a proibição de determinados livros,

comprovam a preocupação da organização em eliminar possíveis ameaças à sua hegemonia

cultural e ideológica, certificando-se de permanecer no seu papel de comunicadora oficial.

Foram propagadas doutrinas que se afastam dos valores cristãos, especialmente

difundidas pelo alto clero – formado pelos mais altos cargos da instituição, como cardeais,

arcebispos, patriarcas, bispos e sacerdotes de famílias ricas – para beneficiar a própria Igreja,

afastando-se, portanto, da essência da religião, que seria suprir o desejo de transcendência. E

ainda, se afastando do seu papel como instituição religiosa de prestar a sociedade um serviço

de humanização.

“A função sociológica da religião poderá ser exercida e entendida positivamente

enquanto integradora com a sociedade ou negativamente enquanto desintegradora ou

provocadora de distanciamento das realidades sociais.” (WACH, 1990, p. 30-72 apud

PESSINATTI, 1998, p. 35)

A afirmação demonstra o importante papel social que uma religião pode desempenhar,

podendo agregar à sociedade, através do cumprimento de suas funções sociológicas, se

preocupando com o outro; ou ainda se afastando dessas funções, podem trazer malefícios

sociais, agindo como desintregadora e se distanciando da sociedade e, portanto, afastando-se

do próprio intuito, pelo qual a religião foi criada, aquele de levar o indivíduo à transcendência

e conduzi-lo, não somente até Deus, mas também ao próximo.

O início da queda do monopólio exercido pela Igreja Católica se deu com as

repercussões trazidas pela invenção da prensa móvel. A criação de Gutenberg possibilitou a

impressão de textos, que até então eram escritos manualmente. A massificação da produção

de livros foi essencial para a disseminação de conhecimento. Conferindo mais agilidade na

produção textual, a invenção revolucionária, foi difundida rapidamente pela Europa e tornou-

se elemento essencial para a utilidade e lucratividade da imprensa. Thompson fala sobre a

evolução do processo de impressão, ressaltando a reprodução de livros religiosos.

Por volta de 1450 Gutenberg tinha desenvolvido suas técnicas o suficiente para as

explorar comercialmente, e poucos anos depois muitas oficinas tipográficas estavam

operando em Mainz. As técnicas de impressão se espalharam rapidamente, pois os

tipógrafos carregavam seus equipamentos e seus conhecimentos de uma cidade para

outra. Em 1480 já havia tipografias instaladas em mais de cem cidades pela Europa

toda e um florescente comércio de livros tinha surgido. Algumas cidades na

Alemanha e na Itália se tornaram particularmente importantes como centro de

publicações mas tipografias foram surgindo também na França, Holanda, Inglaterra,

Espanha e em outros lugares. A produção destas primeiras tipografias era

formidável. Febvre e Martin estimam que até o fim do século XV pelo menos

35.000 edições tinham sido produzidas, importando em pelo menos 15 a 20 milhões

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de cópias em circulação.8 (...) Muitos destes livros (...) eram em latim, e uma

proporção significativa (cerca de 45%) era de caráter religioso. Estes incluíam

muitas edições da Bíblia (tanto em latim quanto em língua vernáculas). (2011, p. 55-

56)

Antes detentora do conhecimento e dos livros, em especial da bíblia, agora a entidade

católica perdia em grande parte o seu controle hegemônico cultural e econômico. A invenção

da prensa móvel revolucionou a economia e a cultura da época. A instituição perdeu um

terreno imensurável no terreno da ciência, dando espaço para a difusão de ideias humanistas e

renascentistas, sendo essencial para o advento da Reforma Protestante. O poder da Igreja foi

fragmentado.

A Igreja Católica, como tantas outras agências religiosas, tem entre seus

objetivos prestar um serviço qualificado de humanização, que é

essencialmente decorrente de sua proposta espiritual, transcendental. Por

isso ela se organiza. E a dimensão comunicação é preocupação constante. A

primeira parte do estudo de Ismar de Oliveira Soares mostra, de forma

detalhada, o itinerário histórico percorrido pela Igreja Católica na

organização dessa sua dimensão comunicacional. No início, a comunicação

era baseada na força da comunidade. Depois de um longo período de

hegemonia, a Igreja Católica enfrentou as grandes controvérsias geradas,

desde o século XV, pelo movimento dos reformadores e pela introdução da

tipografia na Europa. Hoje, interpelada pela comunicação de massa leiga, ela

expressa seu apreço e, ao mesmo tempo, seu posicionamento crítico diante

dos MCS. Esse posicionamento revela, mais uma vez, o código ético que a

dirige. (SOARES, 1988 apud PESSINATTI, 1998, p.35)

Atualmente, no cenário pós-moderno, a instituição católica encontra dificuldades em

estabelecer uma eficaz comunicação com seus fieis. Os avanços tecnológicos vivenciados

pela sociedade pós-moderna tornaram-se um grande desafio. “A Igreja Católica, que foi

grande propagadora da comunicação escrita, e que foi, desde o Sacro Império, a detentora

exclusiva dos meios de comunicação, encontra-se hoje despreparada diante dos desafios

propostos pela era da informação.” (TEIXEIRA, 1976, p. 118-119 apud PESSINATTI, 1998,

p. 53)

Além disso, o surgimento de distintas religiões e suas denominações, que podemos

denominar como pluralismo religioso, propiciam um ambiente de constante disputa;

formando um cenário que demanda esforço e novas medidas de comunicação das instituições

tradicionais, tais quais da Igreja Católica. Essa explosão de denominações

parece representar, além do fracionamento de um universo religioso

hegemonicamente católico e cristão, até um passado recente, a afirmação de

um pluralismo religioso desafiador. Trata-se de um pluralismo que termina

por envolver as diversas religiões e movimentos religiosos como

8 Febvre and Martin. The Coming of The Book, p. 186, 248-9.

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interlocutores num debate exasperado e complexo, tanto pela concorrência e

diversidade de linhas e de orientação que o compõem, como pela demanda

de tolerância recíproca, também presente. (SANTOS, 1996, p. 158 apud

PESSINATTI, 1998, p. 74)

O fenômeno do pluralismo religioso demanda da Igreja Católica um posicionamento

estratégico para se situar de maneira estratégica na vida dos católicos e possíveis adeptos

diante da ampla concorrência enfrentada com o surgimento de outras religiões. Entretanto

além dos desafios externos, próprios de uma convivência com o pluralismo,

internamente a Igreja Católica encontra também dificuldades na elaboração

de uma fundamentação teórica homogênea para afrontar este desafio. Diante

dos desafios modernos, José Comblin diz categoricamente que se a “Igreja

não mudar de modelo, será abandonada pelas massas”.9 (PESSINATTI,

1998, p. 74)

A Igreja Católica enfrenta, portanto, além dos desafios externos, o interno, na

formação de um consenso entre suas autoridades sobre qual a direção melhor a se tomar, no

que diz respeito à utilização dos meios de comunicação social a serem utilizados, a fim de

otimizar a mensagem propagada. “Entre tantas preocupações que acompanham o trabalho

missionário da Igreja, encontra-se o cultivo de meios que facilitem a comunicação e a luta

contra forças que venham dificultar seu trabalho pastoral." (PUEBLA, n. 1.071; DELLA

CAVA E MONTEIRO, 1991, p. 21 PESSINATTI, 1998, p. 75) Internamente, a Igreja

Católica encontra dificuldades, não só em relação à comunicação entre as manifestações de

religiosidade popular, como também na Igreja oficial (PESSINATTI, 1998, p. 54)

No Brasil, assim como ocorreu durante os tempos no território europeu, Igreja

Católica e Estado estavam intimamente ligados, para benefício de ambos. Entretanto, o

contexto recente vivido pelo país com o golpe militar, levou a instituição a rever seu

posicionamento, afastando-se do Estado e adotando um comportamento mais neutro e crítico.

A Igreja Católica no Brasil, que fizera um casamento com o Estado desde o

tempo colonial, distanciou-se dele nas décadas de 60 e 70, assumindo um

posicionamento crítico diante da ditadura militar instalada a partir de 1964.

No campo da comunicação, a atitude crítica diante dos MCS se radicaliza

com a desconfiança em relação a esses meios, que eram manipulados em

favor da legitimação da situação totalitária. Daí sua luta pela democratização

da comunicação social. (Id. Ibid., p. 72)

Se em outros momentos, a Igreja era cúmplice do Estado, utilizando os meios de

comunicação disponíveis para manipular. Agora, ao perceber que o governo totalitário fez uso

dos meios como ferramentas de manipulação social, a entidade se afasta e passa a refletir

criticamente sobre o uso dos meios de comunicação em massa.

9 COMBLIN, J. Entrevista. REB, 1993, fasc. 212, p. 916-923

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Recentemente, a Igreja Católica tem se posicionado no sentido de reconhecer que uma

estratégia de comunicação eficaz pode ser útil para lhe ser favorável nas questões

humanizadoras e evangelísticas. A busca pela democratização da comunicação mostra a

mudança de disposição da instituição em relação ao ponto inicial de seu surgimento, quando

comunicava para e pelo Estado, mesclando seus interesses aos da política. Fica clara a busca

da instituição pela neutralidade e, ainda, assumindo um papel de analise crítica em relação à

política e aos meios de comunicação. O pesquisador chileno Valerio Fuenzalida indica quatro

estratégias da Igreja Católica na América Latina no que diz respeito à comunicação:

Uma primeira estratégia pode ser caracterizada pelo esforço de fundar e

promover organizações de mídia, como editoras, jornais, rádios etc.; uma

segunda pode ser constatada na tendência que a igreja teve ao procurar estar

presente na mídia como instituição, isto é, não mais ser proprietária dos

instrumentos, mas ser até mesmo uma instância crítica aos mesmos. A

terceira estratégia é relacionada a preocupação com a comunicação grupal,

não descuidando dos meios de comunicação de massa. E a quarta estratégia

consiste na participação da Igreja em vista de uma “nova ordem mundial de

informação e comunicação” (PUNTEL, 1994, p. 112 apud PESSINATTI,

1998, p. 78)

As diretrizes procuradas pela Igreja Católica são definidas por Paula Monteiro em seu

estudo com Della Cava, consistindo em

reorganizar e centralizar sob a autoridade da CNBB10

os meios de

comunicação católicos existentes; reestruturar a própria instituição no

sentido de incorporar as vantagens do uso dos meios na pastoral; congregar

numa rede os profissionais católicos para que colaborem nessa modernização

e para que ocupem organicamente os espaços nos meios de comunicação

leigos; fundar novas rádios, jornais e estações de TV mas, principalmente,

usar meios tecnológicos alternativos como vídeo, boletins, etc.; incentivar

movimentos de crítica aos meios de comunicação que ela não controla.

(DELLA CAVA & MONTEIRO, 1991, p. 153 apud PESSINATTI, 1998, p.

81)

Nesse sentido, percebemos um posicionamento da Igreja Católica em estabelecer

diretrizes de comunicação nos meios de comunicação em massa, considerando sua

importância no contexto pós-moderno, e ainda para não ficar para trás e ser abandonada por

seus adeptos, por motivos de uma comunicação retrógada e ineficiente. Entretanto, os desafios

são enormes, passando da disputa travada entre as diferentes religiões existentes, à falta de

homogeneidade interna em relação às medidas de comunicação a serem tomadas, falta de

recursos financeiros, além da dificuldade em ultrapassar os limites do puro posicionamento

teórico, tomando ações práticas em uma atmosfera gerida por grandes monopólios midiáticos.

10

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

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25

Sendo necessária então, uma análise crítica em relação aos meios de comunicação social. Não

é tarefa fácil passar da teoria à prática, de modo especial tendo presente a tendência da

concentração dos monopólios da grande mídia, ou priorização absoluta do econômico, dentro

de uma política econômica globalizada. (PESSINATTI, 1998, p. 55)

Em vista disso, a Igreja Católica vive um processo de adaptação aos meios de

comunicação, por não fazer parte de sua natureza histórica, como retomaremos a seguir ao

realizarmos um breve comparativo entre o seu comportamento e o das Igrejas Evangélicas

pentecostais em relação aos meios. Veremos nos capítulos que seguem como as instituições

evangélicas lidaram e lidam com relação à comunicação a ser estabelecida com seus fiéis,

sobretudo, no cenário contemporâneo quando o fenômeno da internet conquista espaço na

sociedade, assumindo papel fundamental no processo comunicativo empregado no contexto

religioso e ideológico.

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2. A origem do protestantismo e suas principais vertentes históricas

No presente capítulo, será de grande importância a realização de um resgaste histórico do

protestantismo, a fim de entender o contexto do rompimento com a instituição católica, suas

bases originais e as principais correntes tradicionais originadas. Para entender melhor, o

protestantismo inicial, será necessário descrever as características e fundamentações das

principais correntes históricas, buscando compreender a não vinculação das mesmas com a

política, diferentemente do que era visto com a instituição católica no período medieval e,

conforme veremos mais à frente, com as igrejas evangélicas pentecostais atualmente.

2.1.Reforma Protestante e o surgimento de novas doutrinas de base cristã

A religião evangélica é a que mais cresce no Brasil atualmente. De acordo com o Censo

de 2010, mesma fonte utilizada no capítulo anterior, 22,2% da população é formada por

evangélicos, ou seja, 42,3 milhões de brasileiros adeptos. Este número cresceu 15% em 40

anos, já que em 1970, os adeptos representavam apenas 5,2% da população brasileira. Já a

Igreja Católica, como já falado anteriormente, perdeu muito de seu espaço. Porém, ainda

representa a religião com o maior número de adeptos, resultando um total de 123,2 milhões de

pessoas. Historicamente, Igrejas Católica e Evangélica possuem a mesma origem. Ambas são

religiões cristãs, que professam a fé em Jesus Cristo. Para entender melhor o posicionamento

da religião evangélica no cenário brasileiro atual, incluindo a comunicação empenhada, e

ainda, o posicionamento político que adotado recentemente, é necessário entender o

surgimento da religião, assim como suas bases históricas e sociais.

Primeiramente, cabe estabelecer que não há divergências na utilização dos termos

“evangélico” e “protestante” no sentido prático11

. Ambos os vocábulos referem-se aos cristãos

que romperam com a Igreja Católica, por meio da Reforma Protestante. Entretanto, existe

diferença na origem, pela qual surgiram as duas palavras. O termo protestante vem do

documento formal de protesto. Manifestando sua oposição à política religiosa da Igreja

11

Vale salientar, entretanto, que é possível notar no imaginário social a disparidade entre os termos evangélico e

protestante. A diferença é dada, fundamentalmente, com a intervenção da mídia ao vincular os evangélicos,

especialmente os pentecostais, a uma imagem estereotipada, preconceituosa e, até mesmo, pejorativa, enquanto

admite os protestantes como religiosos mais tradicionais, estabelecendo uma distinção entre estes e aqueles, que

não existe na prática. Magali Cunha (2007, p. 13), em sua obra sobre a difusão da cultura gospel, explica que no

Brasil, o vocábulo “protestante” não foi adotado veemente para referir-se aos não-católicos. Como forma

substitutiva, passou a ser utilizado o termo “crente em nosso Senhor Jesus Cristo”, abreviado pela simples forma

“crente”, que relaciona-se com o ato de conversão característico da pregação protestante, em que o indivíduo

passa da incredulidade à crença em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Já o termo “evangélico” origina-se na

América do Norte, por fieis protestantes que quiseram afirmar que suas doutrinas baseiam-se unicamente no

Evangelho.

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Católica, os luteranos apresentaram o Protestatio – protesto. Já o vocábulo evangélico refere-

se aos adeptos das “boas novas”, ensinamentos trazidos por Jesus Cristo, que em latim,

significa evangelium. Assim como os evangélicos, os protestantes também se declararam

seguidores do Evangelho. Portanto, a utilização dos termos no presente estudo terá por

objetivo a referência ao mesmo grupo social.

O protestantismo surgiu a partir da oposição do padre alemão Martinho Lutero a

algumas práticas realizadas pela instituição católica. No dia 31 de outubro de 1517, Lutero

pregou na porta da igreja, onde exercia seu ministério, em Wittenberg, na Alemanha, um

manifesto com 95 teses em que desaprovava as doutrinas pregadas pela Igreja Católica e seu

distanciamento dos verdadeiros valores bíblicos. Lutero defendeu a reforma do catolicismo

romano, questionando os dogmas pregados pela instituição. Para ele, a bíblia e seus valores

não deveriam ser propriedades exclusivas da entidade. Qualquer um poderia ter direito de

leitura e interpretação das escrituras sagradas.

A criação da prensa móvel foi essencial para o advento da Reforma, visto que a

impressão de títulos da bíblia e sua tradução para outras línguas permitiu a perda do domínio

exclusivo do livro pela Igreja Católica, viabilizando o acesso de outras pessoas aos

ensinamentos cristãos. Karen Armostrong assegura a magnitude da invenção da prensa e,

ainda, a importância do processo de alfabetização, visto que grande parte da população da

época era analfabeta. “O cristão reformado devia postar-se sozinho diante de Deus, contando

apenas com a Bíblia, porém isso não seria possível sem a invenção da imprensa, que permitia

a todos os fiéis terem seu próprio exemplar das Escrituras, e sem a difusão da alfabetização.”

(2001, p. 63)

A venda de indulgências foi o principal motivo de deflagração da reforma incitada por

Lutero. A doutrina consistia na prática de pagamento à instituição católica para obter perdão

de pecados. A atividade permitiu o acúmulo de riquezas da instituição, como alta soma de

dinheiro, além de terras, que concederam amplo poderio econômico à Igreja Católica. Imersa

em contradição, a entidade condenava o acúmulo de bens e riquezas pelos fiéis, embora a

mesma o fizesse. Conforme vimos no capítulo um, a prática possibilitou o crescimento e o

poder da instituição católica no período medieval.

Esse fato promoveu a identificação da ascendente burguesia com o protestantismo,

cujas vertentes não se opunham ao acúmulo de riquezas, pelo contrário. Max Weber, em sua

obra mais conhecida, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, vincula o nascimento

do capitalismo à doutrina calvinista de predestinação. Veremos no decorrer deste estudo que o

sucesso econômico está melhor relacionado às denominações históricas e tradicionais da

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Igreja Evangélica. Desempenho que não se mostra tão aparente nas denominações evangélicas

neopentecostais, que vivem, em sua maior parte representativa, marginalizados e localizados

na área de ausência acionária do Estado. Entretanto, o comportamento capitalista se

demonstra como anseio, visto que as denominações neopentecostais apresentam como forte

característica a pregação da Teoria da Prosperidade. Agora, todavia, nos limitaremos às

origens históricas do Protestantismo, que nos conduzem às denominações evangélicas

tradicionais.

O início do movimento protestantista coincidiu com o surgimento da burguesia e

início do capitalismo. A maioria das cidades mais ricas aderiu ao protestantismo no século

XVI. Este fato se deu pela identificação da burguesia com a nova ideologia cristã. O contexto

histórico favoreceu o diagnóstico. A hegemonia política já pertencia a Igreja Católica e à

nobreza, localizadas no topo da sociedade estamental, não havendo espaço para a burguesia

tomar essas posições, porém a mesma também já não se conformava mais em viver na terceira

classe. Por isso, a identificação com o protestantismo, que não se opunha ao acúmulo de bens

materiais. Antes, via na atitude, uma maneira de honrar e glorificar o nome de Deus.

O resgate do verdadeiro cristianismo é o segundo motivo para o não envolvimento

com assuntos políticos. Muito antes do poder político exercido pela Igreja Católica, religião e

estado possuíam um forte vínculo, este muito mais representativo que o primeiro, claro.

Nos tempos antigos a Religião e o Estado formavam uma instituição única,

por exemplo, o faraó egípcio, antes de ser chefe de Estado era considerado

uma divindade. A Religião acabava assim, dominando o Estado, pois ela

escolhia os seus representantes. Jesus Cristo ensinou que a religião não faz

parte das coisas terrenas, “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de

Deus” (COULANGES, 2002, p. 416)

O ensino trazido por Cristo realiza a devida separação que deve existir entre política e

religião, ou podemos inferir ainda, entre política e Igreja. Foge da essencialidade cristã o

envolvimento da Igreja e do crente com a política. A preocupação do protestantismo

primitivo em preservar os verdadeiros valores cristãos iluminados pelas escrituras sagrada: a

bíblia, revela, então, mais um pretexto para o não empenhamento político das Igrejas

Reformadas.

Ao realizar pesquisas de campo na Europa durante o século XIX e estudar a

estratificação social, relacionando-a à filiação religiosa, Weber percebeu que, os homens

capitalistas estão ligados, predominantemente, ao protestantismo, vinculando “a influência de

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certas ideias religiosas no desenvolvimento de um espírito econômico, ou o ethos12

de um

sistema econômico. Nesse caso, estamos lidando com a conexão do espírito da moderna vida

econômica com a ética racional da ascese protestante.” (Id. Ibid., 2004, p. 32-33)

O autor caracterizou, ainda, que este fato não teria a ver com uma cultura de

peculiaridade nacional, mas sim com a cultura religiosa propagada pelo protestantismo.

A participação nas funções econômicas costuma envolver alguma posse de

capital, uma dispendiosa educação e, muitas vezes, ambas. Hoje tais coisas

são largamente dependentes da posse de riqueza herdada, ou no mínimo, de

certo bem estar material. Certo domínios do antigo império que eram mais

desenvolvidos economicamente, mais favorecidos pela situação e por

recursos naturais, particularmente a maioria das cidades mais ricas, aderiram

ao protestantismo no século XVI. (Id Ibid., p. 39-40)

Se no contexto da hegemonia cultural e econômica da Igreja Católica, a prática de

acúmulo de bens materiais pelos fiéis era condenada, com o protestantismo, a conduta tem

fundamentação bíblica, interpretada como “vocação divina”.

É bem verdade que a maior participação relativa dos protestantes na

propriedade do capital, na direção e nas esferas mais altas das modernas

empresas comerciais e industriais pode em parte ser explicada pelas

circunstâncias históricas oriundas de um passado distante, nas quais a

filiação religiosa não poderia ser apontada como causa da condição

econômica, mas até certo ponto parece ser resultado desta. (Id. Ibid., p. 37)

A concepção de vocação divina foi introduzida através de Lutero e da Reforma

Protestante. O conceito foi incorporado à religião protestante, de maneira nunca vista ou

utilizada anteriormente por outros povos ou religiões.

Se traçarmos a história da palavra dos idiomas civilizados, aparecerá que

nem os povos predominantemente católicos nem os da Antiguidade Clássica

possuíam qualquer expressão que tivesse conotação do que hoje chamamos

“vocação” (no sentido de uma tarefa de vida, de um campo definido no qual

trabalhar), enquanto ela existiu para todos os povos predominantemente

protestantes. (Id. Ibid., p. 67)

De acordo com o autor, nova ideia iluminada por Lutero para o conceito de vocação

compreende

a valorização do cumprimento do dever nos afazeres seculares como a mais

elevada forma que a atividade ética do indivíduo pudesse assumir. E foi o

que trouxe inevitavelmente um significado religioso às atividades seculares

do dia-a-dia e fixou de início o significado de vocação como tal. O conceito

de vocação foi, pois, introduzido no dogma central de todas as denominações

12

Ethos é uma palavra de origem grega, que significa “caráter moral”. É designada para descrever hábitos e

crenças que definem um grupo social ou uma nação, caracterizando o comportamento social e os traços culturais

de um povo. Seu conceito está intimamente relacionado ao valor moral aplicado no âmbito coletivo e social.

(ETHOS)

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protestantes e descartado pela divisão católica de preceitos éticos em

praecepta et concilia13

. (Id. Ibid, p. 68)

De fato, a concepção de vocação introduzida Por Martinho Lutero, tornou-se base do

protestantismo. A formulação permaneceu e é amplamente disseminada nas Igrejas

Evangélicas até os dias atuais. O fenômeno espiritual toma forma e se reflete na vida secular,

pois o adepto da religião transfere a concepção da vocação divina para sua vida pessoal. É

majoritária a sua não restrição ao âmbito religioso e espiritual. Por isso, o fiel compreende o

trabalho secular como um chamado de Deus no mundo, uma oportunidade de sustento e

crescimento econômico como privilégios dados por Deus.

A concepção de trabalho passou por um processo de transformação, sendo entendida

como uma forma de engrandecer o nome de Deus. Para Calvino, a nova visão “Ajudou a

batizar a emergente ética do trabalho capitalista, proclamando que o trabalho é uma vocação

sagrada, e não, como os medievais pensavam, um castigo divino para o pecado.”

(ARMSTRONG, 2001, p. 63)

O desinteresse nos assuntos políticos é um marco no surgimento do protestantismo.

Em oposição ao catolicismo, que adotado pelo governo romano, teve oficializado no seu

processo histórico a integração entre Igreja e Estado. Lutero defendeu esta separação,

exatamente, por repudiar o comportamento coercivo da instituição católica. Em sua

concepção, por se tratarem de naturezas diferentes, em dualismo mundano e espiritual, uma

matéria não deveria interferir na outra.

Sendo a realidade mundana oposta à espiritual, Igreja e Estado deviam atuar

independentemente, cada qual respeitando a esfera de atividade do outro.

Graças a sua apaixonada visão religiosa, Lutero foi um dos primeiros

europeus a advogar a separação entre Igreja e Estado. Mais uma vez a

secularização da política teve início como uma nova forma de religiosidade.

(Id., Ibid., p. 63)

Os homens do capital que não se adequavam às doutrinas de conformidade financeira

da instituição, muito menos poderiam ter mobilidade social para se integrar à nobreza e,

consequentemente, às funções políticas, logo se identificaram com as doutrinas do

protestantismo. Então, constitui-se o contexto ideal para o desenvolvimento econômico dos

adeptos da religião. Este fato torna-se de elevada importância para o presente estudo, a partir

do momento que os pentecostais, como veremos mais à frente, contrariam tal característica

inerente aos protestantes históricos.

13

O conceito está relacionado ao ascetismo monástico, em que os monges vivem reclusos se abstendo dos

prazeres físicos e psicológicos, acreditando, assim, estarem no caminho de santidade que os leva para longe do

pecado e para mais perto de Deus, atingindo, portando, a vocação divina.

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As minorias nacionais ou religiosas, em posição de subordinação em relação

a um grupo de governantes, pela sua exclusão voluntária ou involuntária das

posições de influência política, são aparentemente engajadas com especial

vigor nas atividades econômicas. Seus membros mais aptos buscam o

reconhecimento de suas habilidades nesse campo, uma vez que não há

oportunidades a serviço do Estado. (WEBER, 2004, p. 40)

As peculiaridades mentais e espirituais adquiridas do meio ambiente, especial do tipo

de educação favorecido pela atmosfera religiosa da família e do lar, determinaram a escolha

da carreira (Id., Ibid., p. 39), propiciando e estimulando o aperfeiçoamento da burguesia no

desenvolvimento das funções econômicas. A comparação entre as instituições cristãs

históricas continua, baseada em afirmação de um escritor contemporâneo a Weber, no início

do século XX.

Um escritor contemporâneo tentou definir a diferença de atitude diante da

vida econômica da seguinte maneira: ‘O católico é mais quieto, tem menor

impulso aquisitivo: prefere uma vida a mais segura possível, mesmo tendo

menores rendimentos, a uma vida mais excitante e cheia de riscos, mesmo

que esta possa lhe propiciar a oportunidade de ganhar honrarias e riquezas.’

Diz o provérbio, jocosamente: ‘Coma bem ou durma bem’. Neste caso, o

protestante prefere comer bem, e o católico, dormir sossegado. (Id., Ibid., p.

41)

A Reforma Protestante proporcionou a ruptura com a Igreja Católica, possibilitando o

surgimento de novas interpretações das doutrinas cristãs, que originaram quatro principais

formas de protestantismo sugeridas e estudadas por Weber. São elas: calvinismo, pietismo,

metodismo e seitas provenientes dos movimentos batistas. Iremos caracterizá-las

superficialmente, a fim de melhor entender o desenvolvimento da pluralidade de

denominações evangélicas no cenário brasileiro atual e a origem dos comportamentos

apresentados pelas mesmas, visto que são procedentes das vertentes históricas.

2.2.Calvinismo

O Calvinismo é a proposta protestante criada por João Calvino, em Genebra, na Suíça.

Foi a fé sob a qual se desenrolaram as grandes contendas políticas e culturais dos séculos XVI

e XVII nos países mais desenvolvidos da época: Holanda, Inglaterra e França. Sua doutrina

mais conhecida e peculiar refere-se à teoria da predestinação; ou seja, o homem foi criado por

Deus com seu destino eterno já traçado: condenação ou salvação. A Igreja não seria mais um

meio para se obter a salvação. “Não só não havia meios mágicos de se obter a graça de Deus

para aqueles a quem Ele a negara, como não havia meio algum.” (Id. Ibid, p. 83)

A corrente protestante proporciona maior independência do homem em relação à

igreja, visto que a instituição não representa um instrumento de salvação dentro dessa

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proposta. Por isso, o homem é conduzido a seguir sozinho o seu caminho, trilhando um

destino que já fora escrito. Entretanto, como identificar os predestinados à salvação e à

condenação? O calvinismo supõe que as realizações sociais do homem revelam a condição

eterna a qual está sujeito, pois uma vida de boas ações é o que Deus deseja.

O mundo existe para servir à glorificação de Deus, e só para esse propósito.

Os cristãos eleitos estão no mundo apenas para aumentar a glória de Deus,

obedecendo a Seus mandamentos com o melhor de suas forças. Deus,

porém, requer realizações sociais dos cristãos, porque Ele quer que a vida

social seja organizada conforme Seus mandamentos, de acordo com tais

propósitos. (...) Isto faz com que o trabalho a serviço de pública e impessoal

utilidade pareça promover a glória de Deus, sendo portanto por Ele desejado.

(Id. Ibid., p. 85)

Portanto, nesse sentido, apenas a mudança fundamental no sentido da vida, em cada

momento e ação, e ainda, a busca exclusiva do santo pelo fim transcendental da salvação, por

meio de “uma vida constantemente guiada pela reflexão poderia conseguir sobrepujar o

estado de natureza.” (Id., Ibid., p. 92)

Por isso, “no curso de seu desenvolvimento, o calvinismo acrescentou algo de positivo

a isso tudo, ou seja, a ideia de comprovar a fé do indivíduo pelas atividades seculares”,

priorizando a razão. (Id., Ibid., p. 94) Logo, as conquistas sociais e econômicas adquiridas por

meio do trabalho secular indicariam se um calvinista estava fadado a ser salvo ou condenado.

2.3.Pietismo

O Pietismo é uma corrente que, em oposição ao Calvinismo, prioriza as emoções às

razões, valorizando as experiências individuais vividas pelos crentes no plano terreno, apesar

de estar ligada historicamente à doutrina da predestinação, ocorreram vertentes que se

afastaram dessa teoria. O pietista

visava, por meio da intensificação do ascetismo, desfrutar a bem-

aventurança da comunhão com Deus ainda nesta vida. (...) Este elemento

emocional, originariamente bastante estranho ao Calvinismo (...), levou na

prática, a religião a se emprenhar mais no contentamento com a salvação

nesse mundo mais que a se engajar na luta ascética para a certeza sobre a

vida futura. (Id. Ibid., p. 100)

Como consequência da fé pietista, fundamentada na emoção, cria-se uma espécie de

respaldo religioso para a realização do trabalho secular. “O efeito prático dos princípios

pietistas foi o controle ascético até mais rigoroso da conduta na vocação, o que fornecia uma

base religiosa para a ética vocacional ainda mais sólida do que uma simples respeitabilidade

mundana dos cristãos reformados comuns (...)” (Id., Iibid., p. 101)

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A base doutrinária do Pietismo é caracterizada como uma combinação das ideias

luteranas, privilegiando a fé e a emoção, em detrimento à razão; e a teoria calvinista das boas

obras, que tem como objetivo honrar o nome de Deus e aumentar a Sua glória. Entretanto, a

busca pela comprovação do estado de graça para comprovar a salvação pela predestinação não

era tão intensa e essencial aqui, como o era no Calvinismo. Afinal, os pietistas se

preocupavam mais em viver as experiências proporcionadas por Deus aqui na terra, enquanto

os calvinistas viviam em função da esperança na salvação futura. Além disso, peculiar à

formulação luterana, o Pietismo incorre na “necessidade de sentir, no presente, a reconciliação

e a comunhão com Deus. Assim, a tendência de perseguir o contentamento presente, de certa

previsão do futuro, tem em certo sentido um paralelo no campo da vida religiosa.” (Id., Ibid.,

p. 105)

2.4.Metodismo

A vertente metodista está intimamente relacionado ao puritanismo14

inglês.

Inicialmente, tinha como objetivo a Reforma da Igreja Anglicana, porém, deu início a uma

nova corrente protestante. A priorização sentimental, característica das influências luteranas,

marcou

o Metodismo, que desde o início viu sua missão entre as massas, a assumir

um caráter fortemente emocional, especialmente na América (...), formando

as bases de uma crença na posse não merecida da graça divina e, ao mesmo

tempo, de uma consciência imediata de justificação e perdão. (Id., Ibid., p.

106-107)

Outro aspecto metodista é adoção da doutrina de santificação de Wesley. De acordo

com essa teoria, pelo motivo de a graça já ser atuante sob o indivíduo, ele pode obter a

santificação nesta vida, sendo liberto de seus pecados para posteriormente sofrer um processo

de transformação espiritual.

Qualquer que seja a dificuldade em obter esta finalidade, geralmente não

longe do fim da vida do indivíduo, esta deve inevitavelmente ser buscada,

pois ela finalmente garante a certitudo salutis15

e substitui com uma serena

confiança a sombria ansiedade calvinista. E ela distingue o verdadeiro

convertido, aos próprios olhos e aos demais pelo fato de que o pecado, ao

menos, não tem mais poder sobre ele. (Id. Ibid., p. 107)

O desenvolvimento lógico da doutrina consiste, então, na possibilidade de conquista

do perdão de pecados na terra, através da graça já obtida e atuante. A busca pelo alcance do

14

O puritanismo caracteriza um radicalismo religioso protestante. O movimento decorrente da Reforma

Protestante foi introduzido na Inglaterra. (SOUSA) 15

Termo do latim, que designa a certeza da graça presente e da salvação eterna. (SCHÜLER, 2002, p. 110)

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perdão deve ser constante para alcançar o favor da salvação. Nesse sentido, apesar de

representar um processo racional, assim como a realização de obras calvinistas, a presente

teoria traz maior segurança ao indivíduo em relação a sua vida, visto que o arrependimento,

acompanhado de mudança de postura ulterior traz alívio em relação ao pecado que já não

mais atua sobre ele, enquanto no calvinismo, o indivíduo deve estar em constante vigilância

para refletir através de suas realizações sociais o seu estado de graça.

2.5.Seitas batistas

As seitas batistas são a quarta forma de protestantismo representada e descrita por

Max Weber. De acordo com o autor (Id., Ibid., p. 109), tanto o pietismo, originário do

continente europeu, como o metodismo dos povos anglo-saxões16

são movimentos

secundários. Já as seitas batistas encontram-se ao lado do calvinismo se desenvolvendo

“independentemente do ascetismo protestante”.

O vocábulo seita significa um grupo que diverge de uma religião, ou então, segue uma

doutrina derivada de outra. Pode ser definido ainda como um grupo organizado de caráter

fechado com ideias ou causas em comum. Weber (Id., Ibid., p. 110) refere-se a seitas batistas,

por tratarem-se de comunidades exclusivas de pessoas crentes na redenção, devido à perda de

confiança na chamada “Igreja visível”, ou seja, a igreja física, material, concreta. Para os

crentes batistas, poderiam ser batizados somente os adultos que tivessem vivido a experiência

pessoal de adquirir sua própria fé. Para o autor,

a justificação por essa fé (...) consistia mais na tomada de posse espiritual do

Seu dom de salvação. Mas isso ocorria mediante a revelação individual do

Espírito Divino sobre o indivíduo, e apenas desse modo. O significado da fé

no sentido do conhecimento das doutrinas da Igreja, mas também no da

busca arrependida da graça divina, era, consequentemente, bastante reduzido

(...). (Id., Ibid., p.110)

Os batistas pretendiam “ser a verdadeira e irrepreensível Igreja de Cristo; tal como a

comunidade apostólica, consistia daqueles que foram pessoalmente despertados e chamados

por Deus.” Portanto, de acordo com este pensamento, o dom da salvação viria, unicamente,

através de uma experiência pessoal, provocada pelo agir do Espírito de Deus. Logo, a

observância dos valores bíblicos não era tão rígida, vista a importância dada a “força do

Espírito atuando na vida diária, e que fala diretamente a qualquer indivíduo que queira ouví-

Lo.” (Id., Ibid., p. 111) Como consequência dessa ideologia, os batistas afastaram-se do

mundo, buscando como modelo de vida a experiência cristã vivida pelos apóstolos e as 16

Denominação dada para referir-se a povos de origem norte-europeus que migraram para ilhas britânicas;

inglês, britânico. (FARIA)

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próximas gerações após eles, entendendo que a prioridade na vida do crente é o ministério de

Deus.

O batismo afetou o mundo do trabalho normal, a ideia de que Deus fala

apenas quando a carne se cala, o que significou, evidentemente, um

incentivo para a ponderação deliberada do curso do agir humano e sua

cuidadosa justificação em termos de consciência individual. (...) [No que

tange a vida pessoal] as comunidades batistas não queriam ter nada que ver

com o poder político e seu agir, o resultado externo foi também a penetração

de tais virtudes ascéticas na vida vocacional. (Id., Ibid., p. 113)

O batista é apresentado, pois, como um indivíduo contido, tanto na vida pessoal, como

também na vida profissional, já que conforme seu pensamento, o Espírito Divino atua na

aquietação da carne. Da mesma maneira que as outras divisões protestantes, o crente batista

não estimava a vida política e nada que tivesse a ver com o seu curso.

Mais do que quaisquer outros grupos religiosos dos sécs. XVII e XVIII, os

de convicção batista patrocinaram o conceito de que a consequência lógica

da doutrina da liberdade religiosa era o princípio da separação entre a igreja

e o estado. Com base em passagens como Mt 22:15-2217

e Rm 13:1-718

eles

argumentaram que esse era o único meio de salvaguardar a liberdade

religiosa e o sacerdócio dos crentes. Com isso eles queriam dizer que o

estado não tinha o direito de interferir nas crenças e práticas religiosas dos

indivíduos e das igrejas, e que a igreja, por sua vez, não tinha o direito de

receber qualquer sustento financeiro do estado. Receber verbas públicas era

abrir as portas para o controle governamental e a perda da identidade

religiosa. (MATOS, 2011) Podemos inferir, que além de uma consequência histórica, tal característica é vista nas

quatro correntes tradicionais protestantistas por simbolizar também um ensinamento cristão.

17

Então, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como o surpreenderiam nalguma palavra; E enviaram-lhe

os seus discípulos, com os herodianos, dizendo: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de

Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois, que te

parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me

experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele diz-lhes:

De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai pois a César o que é

de César, e a Deus o que é de Deus. E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram. (Mateus

22:15-22) 18

Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as

potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os

que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas

para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Porque ela é ministro de

Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e

vingador para castigar o que faz o mal. Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo,

mas também pela consciência. Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo

sempre a isto mesmo. Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a

quem temor, temor; a quem honra, honra. (Romanos 13:1-7)

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O protestantismo surgiu na brecha da insatisfação com as doutrinas católicas, como foi

apresentado anteriormente. A Igreja Católica exercia poder no campo da política, enquanto,

ao analisarmos as peculiaridades das principais divisões protestantes, percebemos que o não

envolvimento com o aspecto político é uma característica do movimento protestantista. Tal

atributo se dá por dois principais motivos. O primeiro motivo possui cunho social e histórico.

A impossibilidade de mobilidade social vivida no medievalismo, imposta por clero e nobreza,

resultou em um obstáculo para os membros da sociedade que almejavam expansão financeira.

Enquanto o segundo motivo, refere-se às doutrinas que fundamentam o protestantismo

histórica, dando, inclusive, argumento bíblico para a adoção deste posicionamento.

Apesar desse posicionamento das Igrejas protestantes primitivas, é explícita a relação que

uma religião pode estabelecer com diferentes aspectos de uma nação. O fenômeno religioso

pode, portanto, interferir na sociedade, economia e, também, influir na política. Tudo isso,

baseado na comunicação empregada pelas instituições e destinada aos seus fieis, como foi

visto com a instituição católica.

Logo, a base do campo de influência religiosa é construída no domínio da propaganda.

Analisando diferentes tempos e contextos, vemos que a força religiosa pode, então, conduzir

os seus adeptos, influenciando, ou ainda, direcionando o seu comportamento. “As forças

mágicas e religiosas e as ideias éticas de dever nelas baseadas têm estado sempre, no passado,

entre as mais importantes influências formativas da conduta” (WEBER, 2004, p. 32)

A afirmação de Weber refere-se à disposição do homem em praticar a racionalidade

prática e o consequente desenvolvimento financeiro desta atitude. Porém, podemos inferir que

a afirmativa pode ser atualizada, expandida e desenvolvida para outros aspectos e, não se

restringir apenas ao âmbito econômico, antes ser aplicada também no campo político.

Adiante, veremos que o posicionamento das igrejas pentecostais no cenário contemporâneo,

especialmente representadas por seus líderes de opinião, difere das correntes protestantes

históricas aqui retratadas, remontando o vínculo entre política e religião existente com a

hegemônica instituição católica no período medieval, estudado anteriormente.

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3. Religião e mídia: o movimento pentecostal e a expansão do neopentecostalismo

Neste capítulo, será de grande valia esmiuçar as características do pentecostalismo e

entender o seu surgimento a partir do metodismo, corrente protestante histórica. O

neopentecostalismo ascendente visto atualmente só surgiu após duas ondas pentecostais

anteriores que serão estudadas nesta etapa. A forte inserção das igrejas evangélicas,

especialmente neopentecostais, na mídia, determinou a conceituação de Igreja Eletrônica.

Para entender o conceito, será preciso estabelecer a diferença existente entre mediação e

midiatização. As implicações sociais desse fenômeno nos levarão para a abordagem do

conceito de sociedade de massa. Entretanto, com o desenvolvimento dos estudos, percebe-se

uma defasagem desses conceitos no cenário atual. Percorrendo o caminho que vai de cultura

de massa à cultura global, é necessária uma atualização do conceito de Igreja Eletrônica,

denominada como Religiosidade Midiática, conceito-chave que será utilizado neste estudo

para ingressarmos no mundo da internet, principal responsável pela interconexão de espaço e

tempo no mundo globalizado.

3.1.Pluralidade denominacional evangélica

A Reforma Protestante abriu os caminhos para o surgimento de novas igrejas de doutrina

cristã. Antes, a Igreja Católica exercia um poderio hegemônico, representando a única

instituição religiosa cristã, oficializada pelo governo romano, o que lhe dava um controle

ainda maior. A instituição católica até os dias de hoje possui caráter homogêneo, com divisão

em níveis hierárquicos e tendo como figura de autoridade máxima o bispo de Roma, que é

considerado um líder mundial: o Papa.

O acesso aos livros sagrados viabilizou uma série de diferentes interpretações bíblicas,

originando distintos movimentos protestantes formados de acordo com suas próprias

perspectivas doutrinárias. O “sacerdócio universal” defendido por Lutero em sua ruptura com

a Igreja Católica e instauração da Reforma Protestante foi determinante para esta conjuntura.

Lutero pregava o "sacerdócio universal", ou seja, todas as pessoas podem

buscar o conhecimento de Deus por meio do Livro Sagrado. Ao possibilitar

diferentes interpretações religiosas, o Protestantismo já nasceu plural e assim

se mantém até hoje: divergências teológicas podem gerar novas práticas e

denominações religiosas (FELIPPE; TUNES, 2005, p.18)

Com o desenvolvimento e disseminação do protestantismo pelo mundo, surgiram

novas denominações que possuem origem nas correntes aqui citadas. Esta é uma

característica própria do protestantismo atual: a pluralidade denominacional.

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38

A Reforma Protestante promoveu uma radical dessacralização da hierarquia

eclesiástica. As instituições eclesiais continuam a existir, naturalmente, mas

o seu valor tende a ser reduzido a uma dimensão funcional. Por isto, não há

dificuldades transcendentais em romper com uma igreja existente e fundar

uma outra. (FERNANDES, 1998, p. 25 apud BOHN, 2004, p. 294)

Atualmente, as Igrejas Evangélicas são definidas como sendo protestantes tradicionais

e pentecostais. O crescimento da religião evangélica no Brasil se dá, majoritariamente, devido

às Igrejas Pentecostais. A facilidade na formação de igrejas, divisão e miscelânea de doutrinas

constroem um cenário difuso e heterogêneo no meio evangélico, especialmente, falando de

Igrejas Pentecostais.

O pentecostalismo, oriundo da América do Norte, vem crescendo

rapidamente em diversas sociedades em desenvolvimento do Sul do

Pacífico, da África, do Leste e Sudeste da Ásia. Na América Latina sua

expansão tem sido ainda mais acentuada, ameaçando cada vez mais a secular

hegemônica católica. (MARIANO, 1996, p. 25)

Os pentecostais priorizam a manifestação do Espírito Santo, inspirados pelo

Pentecostes, episódio da descida do Espírito de Deus sobre os apóstolos e a igreja primitiva

reunida 50 dias após a Páscoa, em que Jesus Cristo foi crucificado. O evento é descrito na

Bíblia, no livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 2. A promessa bíblica é de derramamento do

Espírito Santo sobre toda a carne, ou seja, sobre todos os homens. Todos aqueles que recebem

o Espírito Divino, manifestam um dom espiritual, como dom de línguas, muito revelado nas

denominações pentecostais, e de profecias. O movimento pentecostal surgiu em meio à

necessidade do homem em se aprofundar em uma experiência mais próxima e pessoal com o

sagrado, produzindo uma doutrina diferente das antigas estruturas protestantes, por meio da

ampla valorização do emocional, herança de sua origem metodista, cujas características foram

estudadas no segundo capítulo.

3.2.As três ondas pentecostais

No Brasil, o pentecostalismo chegou em início do século XX e “desde então centenas

de igrejas se formaram e diversas mudanças ocorreram em seu interior tornando esta religião

cada vez mais complexa, heterogênea”. (Id., Ibid., p. 25) O movimento pode ser entendido em

três ondas diferentes, apesar de não representarem fenômenos isolados. Antes, são

coexistentes e influenciam umas doutrinas às outras.

A primeira onda, chamada de pentecostalismo clássico, abrange o período de

1910 a 1950, que vai de sua implantação no país, com a fundação da

Congregação Cristã no Brasil (em 1910, em São Paulo) e da Assembleia de

Deus (1911, Pará), até sua difusão pelo território nacional. Desde o início,

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39

estas igrejas se caracterizaram pelo anticatolicismo, pela ênfase no dom de

línguas, por radical sectarismo19

e ascetismo de rejeição do mundo. (IDEM)

A segunda onda é denominada como pentecostalismo neoclássico, que ocorreu com a

chegada de dois missionários norte-americanos da International Church of the Foursquare

Gospel.

Aqui, criaram a Cruzada Nacional de Evangelização e iniciaram, com grande

êxito, o evangelismo baseado na cura divina, provocando a fragmentação

denominacional e acelerando a expansão do pentecostalismo no país. Logo,

fundaram a Igreja Quadrangular (1951, São Paulo). No seu rastro, surgiram

Brasil para Cristo (1955, São Paulo), Deus É Amor (1962, São Paulo), Casa

da Benção (1964, Minas Gerais) e inúmeras outras de menor porte. Esta

onda caracterizou-se pela ênfase teológica na cura divina, pelo intenso uso

do rádio (que por sectarismo, até a década de 50 não era usado pelas igrejas

pentecostais aqui existentes) e pelo evangelismo itinerante nas tendas de

lona. (IDEM)

A terceira onda, designada como neopentecostalismo, tem como principal atributo a

disseminação da Teologia da Prosperidade. Com início na década de 70, a vertente cresce e se

fortalece durante as décadas de 80 e 90, com o fundamental auxílio dos meios de comunicão

em massa, principalmente da televisão, meio de comunicação muito utilizado por nosso

objeto de exemplificação, conforme veremos a seguir, pastor Silas Malafaia.

Universal do Reino de Deus (1977, Rio de Janeiro), Internacional da Graça

de Deus (1980, Rio de Janeiro), Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra

(1976, Goiás) e Renascer em Cristo (1986, São Paulo), fundadas por

pregadores brasileiros, constituem as principais igrejas neopentecostais.

Todas apresentam poucos traços de seita, forte tendência de acomodação ao

mundo, participam de política partidária e utilizam intensamente a mídia

eletrônica. Caracterizam-se por pregar e difundir a Teologia da Prosperidade,

(...) enfatizar a guerra espiritual contra o diabo (...) e não adotar os

tradicionais e estereotipados usos e costumes de santidade, que até há pouco

figuravam como símbolos de conversão e pertencimento ao pentecostalismo.

(IDEM, p. 26)

Maria das Dores Machado ressalta o caráter de viver o aqui e o agora do

neopentecostalismo, diferentemente das Igrejas protestantes históricas, em que os crentes

viviam asceticamente, concentrando suas vidas com, foco em um futuro de salvação e

redenção. Os neopentecostais

(...) atraíram milhares de fiéis pela estratégia de enfatizarem a prática do

exorcismo, bem como a capacidade de cura e de resolução de problemas

econômicos e familiares em seus programas televisivos. Outro fator de

atração seria a adoção da Teologia da Prosperidade, que promoveu um

deslocamento das expectativas milenaristas de salvação para uma vida de

19

A definição da palavra refere-se ao que é de seita; estado de espírito ou atitude sectária; intransigência,

intolerância.

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graças no presente, e favoreceu a inserção dos pentecostais na política

partidária, no mercado editorial e no restrito universo das telecomunicações.

(MACHADO, 2012, p.34, 35)

A peculiaridade evangélica, acima de tudo, neopentecostal, em que o foco passa a ser a

vida terrena, tirando do foco a preocupação com a vida eterna e o futuro de salvação, é

determinante para o ingresso de denominações do movimento neopentecostal no cenário

político. Retomaremos a questão a títulos de conclusão.

Antes de adentrar mais a fundo no tema, faz-se necessário explicar a diferença entre os

conceitos de mediação e midiatização, entendendo que ambos os conceitos são cabíveis no

presente trabalho por estarem atrelados às formas de comunicação que se efetivam no âmbito

social e cotidiano envolvendo, até mesmo, a igreja, e, ainda, que podem provocar mudanças

no indivíduo, de acordo o que veremos adiante. A abordagem de Martín Babero sobre a ideia

de mediação é introduzida nos anos 80 e representa um marco importante para entender que

mediação não quer dizer o mesmo que intermediação.

Eu sempre parti do ponto que a comunicação não era apenas os meios e

que, para a América Latina, era muito mais importante estudar o que

acontecia na igreja aos domingos, nos salões de baile, nos bares, no estádio

de futebol. Ali estava realmente a comunicação das pessoas. Não podíamos

entender o que o povo fazia com o que ouvia nas rádios, com o que via na

televisão, se não entendíamos a rede de comunicação cotidiana. (...)

Mediação significava que entre estímulo e resposta há um espesso espaço

de crenças, costumes, sonhos, medos, tudo o que configura a cultura

cotidiana. Era essa espessura da cultura cotidiana, que, para mim, na

América Latina, era muito rica. (BARBERO, 2000)

O autor traz uma nova significação para a comunicação, que passa a ser estudada além

da produção cultural e recepção de produtos, e sim na mediação. Para o autor, o fenômeno da

comunicação assume importância e se estabelece no espaço da cultura popular, assumindo um

significado que está atrelado para além dos meios de comunicação e da transmissão de

informação. Para Barbero, a comunicação está presente no cotidiano, no modo de comunicar

dos indivíduos nas ruas, em casa e em todo lugar, inclusive, na igreja.

O segundo fenômeno refere-se “à articulação do funcionamento das instituições

sociais com a mídia” (SODRÉ, 2009), em que esta perpassa as esferas da comunicação, que

são três: veiculação, caracterizada pelo mercado; vinculação social, qualificado pela

comunicação interpessoal; e cognição, constituída pelos acadêmicos e estudiosos. Muniz

Sodré diferencia os dois conceitos da seguinte forma:

a mediação precisa de bases materiais, que se consubstanciam em

instituições ou formas reguladoras do relacionamento em sociedade. As

variadas formas de linguagem e as muitas instituições mediadoras (família,

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escola, sindicato, partido, etc.) investem-se de valores (orientações práticas

da conduta) mobilizadores de consciência individual e coletiva. Valores e

normas institucionalizados legitimam e outorgam sentido social às

mediações. Já midiatização é uma ordem de mediações socialmente

realizadas no sentido da comunicação entendida como processo

informacional, a reboque de organizações empresariais e com ênfase num

tipo particular de interação – a que poderíamos chamar de “tecnointeração”.

(SODRÉ, 2002, p. 21)

Para o autor, a mídia tem poder imediato, global e instantâneo; o que garante o seu

espaço no meio social ao desvincular-se do meio, como aparato tecnológico, e assumir vida

própria no espaço social, pautando a sociedade, produzindo sentido, construindo valores e

direcionando comportamentos.

A utilização dos meios de comunicação trouxe um novo desafio para as religiões

cristãs que cresceram em outra estrutura, seguindo um percurso histórico, caracterizado pela

utilização de estudos, representando, portanto, um processo que não lhes é habitual, e sim

extrínseco. As denominações neopentecostais, todavia, dominam o processo de comunicação

mediatizado, visto que este é intrínseco à sua natureza. Afinal, suas doutrinas foram

desenvolvidas concomitantemente à massificação dos meios de comunicação, apresentando a

utilização destes, inclusive, como uma de suas peculiaridades, se adequando, assim, às

necessidades da população e conquistando, especialmente as camadas mais populares, que

representam a maior parte da população evangélica.

Pedro Gilberto Gomes caracteriza os processos enfrentados de maneiras distintas pelas

Igrejas cristãs históricas em oposição às neopentecostais, representadas pela Igreja Universal

do Reino de Deus, um dos objetos de estudo do autor.

Igrejas Históricas possuem uma longa tradição do discurso e da escrita. A

utilização da palavra escrita as leva a valorizar sobremaneira a imprensa. São

Igrejas que se movem com desenvoltura na produção de documentos que

expressam a sua doutrina e o seu pensamento. Nesse particular, destaca-se a

produção teórica da Igreja Católica. Pelo mesmo motivo, sentem-se pouco à

vontade com os meios eletrônicos. A mídia eletrônica é um fenômeno que,

ao desenvolver-se, encontra essas Igrejas já estabelecidas. Por isso, elas têm,

dificuldades em se adaptar e adequar a sua mensagem às lógicas dos

processos midiáticos. Por outro lado, a Igreja Universal do Reino de Deus é

uma nativa midiática. Isto é, ela nasce já sob o signo da mídia. Tudo é novo.

Para ela, tanto faz a escrita, a imprensa quanto à mídia eletrônica, cujo

mundo já existia quando ela surgiu. Logo, esse é apenas um dado a mais que

essa Igreja possui para transmitir a sua mensagem. Ela não escreve sobre os

meios porque usa os meios. O uso torna desnecessário o discurso. (GOMES,

2010, p. 26-27)

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42

O autor aponta a principal mudança proporcionada pela midiatização vivenciada pela

religião, em que as prioridades do discurso do pregador são transformadas para adequar-se a

um novo campo da comunicação.

O debruçar-se sobre a relação da mídia com a religião permite ver que sua

consequência mais imediata é o deslocamento do espaço tradicional,

acanhado e restrito aos templos, para um campo aberto e multidimensional.

A lógica do templo, direta e dialogal é substituída pela lógica da mídia

moderna que se dirige a um público anônimo, heterogêneo e disperso. Desse

modo, as táticas dos pregadores, sua oratória e desempenho deixam-se

impregnar pelas leis da comunicação de massa, principalmente do rádio e da

televisão. (2010, p. 30)

3.3.Igreja Eletrônica, cultura de massa e pentecostalismo

O forte uso dos meios de comunicação em massa, especialmente para difusão de ideias

e valores pelos neopentecostais resultou na consolidação do conceito de Igreja Eletrônica. A

concepção estudada no contexto latino-americano pelo teólogo católico brasileiro, Hugo

Assman nasceu a partir da plenitude vivenciada pelo neopentecostalismo nos anos 80, porém

a Igreja Eletrônica já vigorava nas décadas de 50 e 60, nos Estados Unidos, país de imensa

maioria da população adepta ao protestantismo, com famosos evangelistas, tal qual Billy

Graham, considerado o maior evangelista do mundo pós-moderno.

O intenso e crescente uso dos meios eletrônicos, especialmente da TV, por

lideranças religiosas, quase sempre fortemente personalizadas e

relativamente autônomas em relação às denominações cristãs convencionais.

São os superastros da TV. Pelo seu tipo de mensagem salvacionista, com

ênfase na salvação individual, são também chamados de “supersalvadores”

(supersavers). (ASSMAN, 1986, p. 16)

Popularizado entre as camadas de classe média nos Estados Unidos, no Brasil o

fenômeno da Igreja Eletrônica se desenvolveu de maneira distinta ao chegar na América

Latina, alcançando os estratos mais pobres, característica comum para o neopentecostalismo.

Provando, então, mais uma vez que a relação existente entre o movimento neopentecostal e o

surgimento da Igreja Eletrônica, visto que um dá sentido de existência ao outro.

A Igreja Eletrônica dos EUA coincide com esses evangelistas atuantes na

América Latina na medida em que, também ela, articula os códigos de suas

mensagens ao redor das inseguranças, medos e incertezas próprias do

desvairado capitalismo campeante naquele país. Mas na América Latina, os

"milagres", as "curas divinas" e as promessas de "salvação", embora se

valham igualmente de supostas intervenções divinas e recursos psicológicos

triviais, se abastecem, sobretudo, de um referencial básico: a miséria

extrema. (ASSMAN, 1986, p.80)

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No Brasil, não foi diferente do restante da América Latina. O fenômeno se consagrou

entre os estratos sociais mais pobres, tendo a televisão como o meio mais popular para tanto.

A televisão no Brasil, desde o seu início em 1950, acompanha o modelo

comercial consagrado nos Estados Unidos. Logo, com o sucesso dos

programas religiosos nesse país, os pastores norte-americanos buscaram

novas audiências na América Latina, principalmente no Brasil. Porém na

América do Norte, o público-alvo dos programas religiosos é a classe média;

já na América Latina, principalmente no Brasil, os programas se encontram

com um público de baixo poder aquisitivo, sem assistência social adequada,

que busca soluções para problemas de sobrevivência. (THOMÉ, 2011, p. 4)

Em vista disso, a televisão foi um instrumento fundamental para difundir a imagem de

personalidades evangélicas, promovendo-os ao status de líderes de opinião para um público,

majoritariamente, constituído por pessoas de baixa renda. O conceito de líder de opinião,

todavia, será tratado no próximo capítulo.

“O crescimento notável dos evangélicos decorre, sobretudo, de escolhas feitas pelos

pobres” (BOHN, 2004, p. 292 apud FERNANDES, 1998, p. 25), que, massivamente, aderem

ao movimento pentecostal, cujas denominações são as principais responsáveis pela

alavancada da religião no Brasil. “Originário do metodismo e mais diretamente do movimento

Holiness20

, desde o princípio o pentecostalismo atraiu sobretudo as camadas pobres e

marginalizadas e sobre esta base foi difundido.” (MARIANO, 1996, p. 26)

Portanto, o movimento atinge as esferas sociais mais baixas, onde o nível de

escolaridade é menor e a renda é mais baixa. Nessa estratificação social, o acesso, influência e

ação do poder público são limitados, caracterizando pouca ou quase nenhuma atuação do

governo em benefício da sociedade. Por isso, as igrejas evangélicas adquirem um espaço que

nenhuma instituição antes chegou, nem mesmo a Igreja Católica.

É neste contexto, que a política se tornou instrumento de crescimento no interior das

igrejas neopentecostais, utilizando o voto de cabresto, influenciado pela atuação de líderes

religiosos, como é o caso de Malafaia. Este voto torna-se mais difícil de ser consolidado entre

pessoas economicamente independentes ou com avançado grau de instrução.

Simone Bohn realizou um estudo, traçando o perfil socioeconômico, as afinidades

ideológicas e o comportamento eleitoral dos evangélicos. Em sua pesquisa, a autora aponta

que o campo religioso evangélico está submetido a dois movimentos contrários. Eles são

definidos como sendo um centrífugo e outro centrípeto. Por um lado, a pluralidade

denominacional, gerando o que a autora chama de “trânsito religioso”, uma acirrada disputa

20

Em português, significa Movimento da Santidade. É um movimento de avivamento que prega a purificação

dos pecados pela fé e poder do agir do Espírito Santo de Deus. (MATOS, 2011)

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das denominações pelos fiéis; enquanto do outro, a centralização na figura de uma liderança

evangélica, a qual está presente na rotina dos crentes.

as diferentes denominações evangélicas se homogeneizam em torno de uma

exigência de dedicação exclusiva ao culto. Essa demanda tem implicações

importantes, já que aumenta significativamente – conforme veremos a seguir

– os níveis de assiduidade dos seus membros aos cultos e,

consequentemente, sua exposição à autoridade religiosa. Portanto, se, por um

lado, há um mercado religioso competitivo, por outro, as autoridades das

igrejas evangélicas são significativamente mais presentes na vida de seus

membros. Ou seja, as lideranças evangélicas, em virtude da maior

assiduidade dos fiéis, têm mais espaço para influenciá-los politicamente – se

assim o desejarem. (BOHN, 2004, p. 294)

Veremos no capítulo posterior, que a centralização na figura da autoridade religiosa e

a maior exposição dos fiéis são fundamentais para que aquele se consolide como líder de

opinião, emitindo ideias de cunho político.

De acordo com o estudo feito pelo Centro de Políticas Sociais (CPS), da Fundação

Getúlio Vargas (FGV), no ano de 200921

, a maior parte dos praticantes evangélicos pertence

aos estratos sociais de menor renda, enquanto a probabilidade de uma pessoa mais abastada

ser kardecista ou não ter religião é muito maior do que a mesma ser evangélica. As diferenças

socioeconômicas despontam, ainda, no interior da religião evangélica, quando os dados

revelam que nas Igrejas Pentecostais, o número de fiéis com menor poder econômico é maior

que em relação às Igrejas Protestantes não pentecostais. A disparidade também é vista quando

comparamos o número de fiéis com melhor condição econômica, visto que, em maior parte,

estão presentes nas Igrejas não pentecostais do que nas pentecostais.

O contexto brasileiro atual, portanto, demonstra defasagem em relação aos estudos

desenvolvidos por Max Weber sobre as Igrejas protestantes históricas, que encontraram na

sociedade capitalista em desenvolvimento, o berço perfeito para seu nascimento. Entretanto,

vimos que a religião evangélica cresce no Brasil, especialmente devido ao movimento

neopentecostal e que a origem do pentecostalismo está no metodismo, corrente que se

consolidou nos movimentos de massa, especialmente por seu caráter emocional, e não

racional como surgiram as demais vertentes. Além disso, apesar de não possuir na

composição de seus membros uma grande maioria de abastados economicamente, as Igrejas

neopentecostais, ao propagar a Teologia da Prosperidade atraem pessoas que desejam

conquistas financeiras, refletindo a adesão ao aspecto material dessa vida, seus bens e,

também, ao capitalismo; e revelando, desta forma, uma perspectiva que tende à direita

21

NERI, M. Novo Mapa das Religiões. Rio de Janeiro: FGV, CPS, 2011. Disponível em: <

http://www.cps.fgv.br/cps/bd/rel3/REN_texto_FGV_CPS_Neri.pdf> Acesso em: 26 jul. 2016

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política, apresentando um caráter de cunho conservador. Caráter este, inclusive demonstrado

pela representação política neopentecostal, denominada bancada evangélica atuante em nosso

Congresso Nacional.

A Igreja Eletrônica se caracteriza pela ampla utilização dos meios de comunicação em

massa, sobretudo pelo neopentecostalismo. A sociedade de massa refere-se à estruturação

social observada nas sociedades capitalistas. Trata-se da inserção da maioria da população em

um processo de produção e consumo em larga escala de bens de consumo e serviços. A massa

“é tudo o que não avalia a si mesmo – nem no bem, nem no mal – mediante razões especiais,

mas que se sente ‘como todo mundo’ e, no entanto, não se aflige por isso, ou melhor, sente-se

à vontade ao se reconhecer idêntica aos outros.” (ORTEGA Y GASSET, 1930, p.8 apud

WOLF, 2003, p. 6)

O “homem-massa” é extremamente conformado com a estrutura social que lhe é

imposta, não assumindo posição crítica ou racional, antes manifestando conduta passiva.

Resultado do crescente processo de industrialização e consequente divisão do trabalho;

enfraquecimento dos vínculos tradicionais, como família, comunidade e religião; revolução

dos transportes e do comércio, entre outras variantes, “a massa é constituída por um agregado

homogêneo de indivíduos que – enquanto seus membros – são substancialmente iguais, não

distinguíveis, mesmo se provém de ambientes diversos, heterogêneos e de todos os grupos

sociais.” (WOLF, 2003, p. 7)

Por trabalhar com a imagem, a televisão entrega um instinto de fórmula mágica,

transmitindo a impressão de veracidade e confiabilidade. Por isso, facilmente se difundiu na

sociedade de massa, assumindo posição predominante e exercendo papel fundamental para

efeitos da comunicação neopentecostal, exibindo os valores do movimento e alcançando uma

porção significativa da população.

Foi por meio da TV que personalidades da Igreja Eletrônica penetraram e se

popularizaram nas camadas mais populares da sociedade. Trabalhando com uma imagem

relativamente independente das congregações religiosas as quais pertencem, as lideranças

religiosas chegaram às casas dos fiéis, ampliando o grau de exposição dos mesmos a uma

figura divina, que por meio do rádio e, principalmente, da televisão se encontra presente no

cotidiano das pessoas, obtendo aproximação junto ao público e legitimando o seu local de

fala, funcionando como uma liderança religiosa, um formador de opinião na vida de quem

recebe a mensagem.

A televisão não é apenas um ingente processo de intensificação do

fetichismo, mas ela se constitui, enquanto fetichizadora, como mediadora

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dessa adesão devota à realidade substitutiva que ela engendra. A TV, mesmo

quando não traz mensagens religiosas, instaura uma relação próxima ao

religioso. Desta forma pode-se entender o motivo pelo qual, a televisão,

transformou-se no principal ícone da Igreja Eletrônica brasileira. (THOMÉ,

2011, p. 8)

A Igreja Eletrônica desempenhou papel fundamental para dar voz à religião evangélica

a nível nacional e difundir a imagem de pregadores brasileiros neopentecostais, como o

missionário R.R. Soares, Edir Macedo e, mais recentemente, o apóstolo Valdomiro Santiago e

o pastor Silas Malafaia, que na atualidade, assume uma posição estratégica nas redes sociais,

assim como será visto no capítulo quatro.

A TV induz o telespectador numa crença mágica na "sua" objetividade. A

imagem garante que nos faz ver a realidade. Ela não se define pelo conteúdo,

mas pela eficácia ritual, espetacular da própria imagem. A TV é, acima de

tudo, táctil. É a prolongação do sentido do tato, que é uma ponte direta para

a emocionalidade. (ASSMANN, 1986, p. 174)

Por peculiar característica de mexer com as emoções, a televisão se assimila com a

doutrina também emocional propagada pelos neopentecostais, funcionando com grande

magnitude para conquistar os fiéis, que expostos com assiduidade a lideres evangélicos,

aceitaram o desenvolvimento de atuação de natureza política no interior do

neopentecostalismo – principal vertente responsável pelo crescimento da Igreja Eletrônica –

com justificação de prática dos valores divinos, por meio de influência e capacidade de

atuação dos líderes no grupo social em questão. Os meios eletrônicos possibilitaram, então, o

desempenho massivo do já sabido comportamento neopentecostal de agir na brecha do poder

público, fato que instaurou o envolvimento político destas igrejas.

Desde que a sociedade de massa começou a ser estudada, existiram vertentes de

oposição, crítica e questionamentos a respeito desta cultura, por considerar a massa como um

grupo homogêneo, desconsiderando proposições que interferem no processo de comunicação,

como desprezar as características culturais peculiares a cada indivíduo, e ainda, por

menosprezar a influência de terceiros no processo comunicativo. Os meios de comunicação de

massa também sempre representaram alvos de críticas, especialmente a televisão, visto que se

popularizou na sociedade de tal maneira, que conquistou status hegemônico, estimulando uma

visão passiva e acrítica do mundo.

3.4.Utilização do conceito de Religiosidade Midiática em um contexto de globalização

Na contemporaneidade, as formas de comunicação enfrentam um novo processo de

mudança. O surgimento da internet é acompanhado pela alteração no modo de ver a

sociedade. A cultura de massa é colocada em dúvida, levando à defasagem do conceito de

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Igreja Eletrônica, no cenário de globalização vivenciado pelo mundo pós-moderno. A autora

Magali Cunha propõe a utilização do conceito de “Religiosidade Midiática” para o fenômeno

que envolve mídia e religião, tendo em vista as mudanças provocadas pela cultura midiática

na nova conjuntura de globalização.

A cultura midiática não deve ser concebida apenas como uma versão

atualizada da cultura de massa. (...) Deve ser compreendida, entretanto,

como um novo quadro de interações sociais, uma nova forma de estruturação

das práticas sociais, marcada pela existência dos meios. Nesse sentido, a

midiatização da sociedade, fenômeno da sociedade global, precisa ser

reconhecida como a reconfiguração do processo coletivo de produção de

significados por meio do qual grupo social se compreende, se comunica, se

reproduz e se transforma, a partir das novas tecnologias e meios de produção

e transmissão de informação. (CUNHA, 2002, p. 12)

Cabe entender, portanto, a relevância da internet no cenário de globalização e cultura

midiática, no que diz respeito ao afeto do comportamento religioso, propiciado por figuras

religiosas autônomas. Figuras estas que se consolidaram, sobretudo, devido à conjuntura

viabilizada pelo apogético fenômeno da Igreja Eletrônica, promovendo personas, e não

denominações. Tal construção tornou-se fundamental para estabelecer vínculos dos líderes

para com o público, favorecendo a exposição de assuntos secundários à religião, assim como

os de cunho político, campo de interesse deste trabalho. Atualmente, assiste-se uma migração

destas lideranças para o ambiente cibernético, acompanhando a sociedade, cada vez mais

presente na rede. Como a migração pode afetar o comportamento político dos fiéis

evangélicos?

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4. Personalidades evangélicas contemporâneas: comunicadores sociais e formadores de

opinião política na rede: o caso do pastor Silas Malafaia

No capítulo quatro, será vista a importância do líder de opinião e seu impacto na

sociedade com a amplificação de sua influência na mudança decorrente da utilização dos

meios de comunicação social. A internet possibilitou o maior acesso dos fiéis aos líderes de

opinião, permitindo a utilização destes como atalhos informacionais para os pentecostais em

um contexto de baixa informação em que este público está inserido. Em vista disso,

analisaremos o posicionamento adotado pelo nosso objeto de exemplificação, pastor Silas

Malafaia em sua rede social do Twitter, principalmente, no que diz respeito à posição política

e seus desdobramentos.

4.1.Pastor Silas Malafaia: líder evangélico de ressonância nacional

A difusão da internet alterou a visão mundial, resgatando a concepção de globalização, se

revelando como um desafio novo e ainda maior para as religiões cristãs, mesmo a vertente

protestante neopentecostal, “nativa midiática” e objeto do presente estudo. Seus efeitos e

potencial ainda são pouco conhecidos e vêm sendo estudados recentemente, porém, já

revelam seus atributos no que se refere à interação e engajamento. O fenômeno foi decisivo

para efervescer o conceito de globalização, que Thompson caracteriza detalhadamente,

acentuando a capacidade de romper as fronteiras do tempo e do espaço.

Um dos aspectos mais salientes da comunicação no mundo moderno é que

ela acontece numa escala cada vez mais global. Mensagens são transmitidas

através de grande distâncias com relativa facilidade, de tal maneira que

indivíduos têm acesso à informação e comunicação provenientes de fontes

distantes. Além disso, com a separação entre o espaço e o tempo trazida

pelos meios eletrônicos, o acesso às mensagens provenientes das mais

remotas fontes no espaço pode ser instantâneo ou virtualmente instantâneo.

Distâncias foram eclipsadas pela proliferação de redes de comunicação

eletrônica. Indivíduos podem interagir uns com os outros, ou podem agir

dentro de estruturas de quase interação mediada, mesmo que estejam

situados, em termos de contextos práticas da vida cotidiana, em diferentes

partes do mundo. (...) No sentido mais geral, ele (o processo de globalização)

se refere à crescente interconexão entre as diferentes partes do mundo, um

processo que deu origem às formas complexas de interação e

interdependência. (THOMPSON, 2011, p. 197)

Pelas características apresentadas, a internet pode, portanto, ser uma ferramenta de

“benção” ou “maldição” na vida dos fiéis, dependendo da intenção do emissor no

compartilhamento de conteúdo, visto que permite a conexão entre indivíduos de diferentes

espaços e tempos e, ainda, a replicação deste conteúdo, possuindo um enorme potencial para

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49

transmissão de valores e comportamentos, especialmente tratando-se de redes sociais,

conforme veremos a seguir com o pastor Silas Malafaia no Twitter.

O pastor ganhou destaque por suas manifestações polêmicas a respeito de assuntos

como aborto e homossexualidade, especialmente no ambiente virtual. Silas é pastor e

fundador da igreja evangélica Assembleia de Deus Vitória em Cristo e tornou-se conhecido

por ser televangelista, coordenando e apresentando o programa “Vitória em Cristo”, antes

denominado “Impacto”. O programa está no ar há mais de trinta anos.22

Por apresentar tais

peculiaridades, Malafaia é considerado um pastor neopentecostal. De acordo com o que foi

estudado no capítulo antecedente, o neopentecostalismo é caracterizado pela forte utilização

dos meios de comunicação, especialmente a televisão e exploração da Teologia da

Prosperidade, ressaltando o caráter de viver a vida no presente.

Apesar de nunca ter se candidatado a nenhum cargo político, o pastor pode ser

considerado um ativista político por sua atuação em assuntos do âmbito, se configurando

como um líder nacional. Recentemente, nas eleições presidenciais de 2014, ficou conhecido

por apoiar a candidatura de Aécio Neves e assumir ferrenha oposição contra o governo do PT,

especialmente ao ex-presidente Lula e à presidente, atualmente, afastada Dilma Rousseff, e

seus simpatizantes. Malafaia exerce forte influência sobre a bancada evangélica do Congresso

Nacional e ajuda a eleger vereadores, prefeitos e deputados em todo o Brasil por meio de seu

apoio e declaração de voto. Nas eleições de 2012, o pastor ajudou a eleger 24 prefeitos e 16

vereadores em sete estados brasileiros. (GOMIDE, 2012) Já nas eleições de 2014, o religioso

ajudou a eleger seis dos oito deputados que apoiou, além de três vereadores. (CHAGAS,

2014)

Nas redes sociais, o pastor faz amplo uso das palavras “petralhas” e “esquerdopatas”

para referir-se aos petistas ou simpatizantes da esquerda. Autor de uma linguagem direta e um

discurso agressivo para defender seu pensamento conservador, Malafaia se manifesta sob o

pretexto de defesa dos valores cristãos e da família, já que tem se posicionado desta maneira,

creditando a Deus o comportamento adotado pelo mesmo. É o que veremos a seguir baseado

em uma citação em que diz “ser levantado por Deus” para assim agir. A defesa dos valores da

família também é evidente ao se opor ao homossexualismo como forma de destruição da

família tradicional. E, assim, expõe suas opiniões e posições políticas, principalmente na

internet, onde tem consciência de sua força e potencial de influência, com capacidade de

22

Mais informações disponíveis no site oficial da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, cuja Silas é

pastor. Disponível em: <http://www.vitoriaemcristo.org/_gutenweb/_site/gw-pr-silas-detalhe/?cod=406> Acesso

em: 16 de jul. 2016.

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alcançar milhares de fieis. É o que o próprio religioso revela em entrevista concedida ao

Portal Ig.

“O segmento social que mais usa a internet e as redes sociais são os

evangélicos (...) Gooosto (de política)! Eu nunca vou ser candidato a nada,

pode anotar aí! Agora, tenho a convicção, como pastor, acredito que fui

levantado para influenciar. Então, vou influenciar o máximo que puder. Ser

(político), nunca, mas influenciar, sempre!” (MALAFAIA, 2012)

Seu discurso político é construído a partir de posições antagônicas, indo sempre de

encontro com os indivíduos, pensamentos e/ou valores, com os quais discorda, tendo como

objetivo o confronto identitário, e não o debate. Por isso, faz-se útil o conceito de política

como distinção entre amigo-inimigo proposto por Schmitt. Entende-se inimigo como o outro

que contém diferenças, que de acordo com a visão de um grupo antagônico, representa a

“negação de sua própria existência”.

A diferenciação entre amigo e inimigo tem o sentido de designar o grau de

intensidade extrema de uma ligação ou separação, de uma associação ou

dissociação; ela pode, teórica ou praticamente, subsistir, sem a necessidade

do emprego simultâneo das distinções morais, estéticas, econômicas, ou

outras. O inimigo político não precisa ser moralmente mau, não precisa ser

esteticamente feio; não tem que surgir como concorrente econômico,

podendo talvez até mostrar-se proveitoso fazer negócios com ele. Pois ele é

justamente o outro, o estrangeiro [...], de modo que, no caso extremo, há

possibilidade de conflitos com ele, os quais não podem ser decididos

mediante uma normatização geral previamente estipulada, nem pelo

veredicto de um terceiro "desinteressado", e, portanto, "imparcial". (Schmitt,

1992, p. 53).

Esta concepção revela a utilização de uma posição que está sempre disposta a atacar o

outro, considerado como um inimigo. Aliás, pode ser considerado que a existência do outro

funciona para dar sentido à existência do discurso que se constrói, tendo em vista que este é

sempre constituído à medida que se posiciona para combater.

Como ocorre com os televangelistas na televisão, nas redes sociais, são divulgados os

perfis sociais das personalidades, propagando uma imagem autônoma do líder, não

importando sua denominação cristã. Logo, é possível atingir diferentes denominações, e não

apenas os membros da própria igreja, o que amplia o campo de influência.

Durante o evento Marcha para Jesus23

, realizado em São Paulo, em maio de 2016, foi

aplicada um questionário para presentes no evento. A pesquisa foi realizada pelo Grupo de

Pesquisa, Mídia, Religião e Cultura (MIRE), do Programa de Pós-Graduação em

Comunicação Social, da Universidade Metodista de São Paulo. Com o tema “Evangélicos:

23

A Marcha para Jesus é um evento internacional e interdenominacional (realizado por diversas denominações

evangélicas). Ocorre anualmente em várias cidades do mundo.

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Política e pensamento conservador”, a pesquisa dispõe de conclusões importantes para a

matéria.24

Questionados sobre política, a maioria (62,7%) dos entrevistados afirma não ter

preferência de linha política (esquerda, centro ou direita). E ainda, 81,6% disseram não ter

preferência partidária, o que demonstra ser um público que não possui forte interesse ou

engajamento no âmbito político. O nome do pastor Silas Malafaia apareceu como destaque ao

serem perguntados sobre “representatividade”. Silas obteve 58,6% das menções no quesito

“liderança”, o que revela que a importância e eficácia de seu papel como líder de opinião na

vida dos fiéis.

4.2.O líder de opinião

De acordo com Isabel Morgado, (2005, p. 120) “a emergência da figura do líder de

opinião foi entendida no séc. XVIII como a de um indivíduo que consubstancia numa só

pessoa o poder da palavra de muitos. Ele exerce o poder de falar em nome dos pares ou

explicar a sua visão do que está a acontecer.” O líder de opinião é, por conseguinte, o

representante de um grupo. No caso do pastor Silas, ele é o representante do grupo

evangélico. Ainda falando sobre o líder, Morgado afirma que

(...) ele filtra a informação que provém das instituições políticas e sociais.

Homem comum que faz uso das suas faculdades naturais, julga-se então

sujeito capaz de fazer uso no seu discurso de princípios que se querem

legitimados pela razão, porfiando pelas ideias políticas de liberdade de

opinião e liberdade de expressão de opinião. Um líder de opinião é portanto

um indivíduo com influência. (Id. Ibid., p. 121)

Em 1944, no contexto da Segunda Guerra Mundial, Lazarsfeld estudou de que forma

os líderes de opinião influenciavam os votos das pessoas na comunidade no Estado de Ohio,

Estados Unidos, na eleição presidencial de 1940.

Esses líderes representam a parcela de opinião pública que procura

influenciar o resto do eleitorado e que demonstra uma capacidade de reação

e de resposta mais atentas aos acontecimentos da campanha presidencial. Os

líderes de opinião constituem, assim, o setor da população (...) mais ativo na

participação política e mais decidido no processo de formação das atitudes

de voto. (LAZARSFELD; BERELSON; GAUDET, 1944, p. 49 apud

WOLF, 2003, p. 38)

24

ORTUNES, L. Pesquisa mostra perfil da cultura política de participantes da Marcha para Jesus 2016,

Universidade Metodista de São Paulo, MIRE, São Paulo, 2 jun. 2016. Disponível em:

<http://www.metodista.br/midiareligiaopolitica/index.php/2016/06/02/pesquisa-mostra-perfil-da-cultura-

politica-de-participantes-da-marcha-para-jesus-2016/#comment-198> Acesso em: 16 jul. 2016

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No cenário contemporâneo, com as mudanças vividas no âmbito da comunicação, que

se transformou com o uso dos aparatos tecnológicos, o poder de influência do líder de opinião

se potencializou. Em particular, com o surgimento das redes sociais online, onde a conexão

entre pessoas permite que o fluxo de informações viaje em curto espaço de tempo para

alcançar outros lugares e indivíduos.

O líder de opinião mediático, mais do que um representante da voz pública,

continua, como se fora um líder local, a ser o intérprete da voz do poder

público junto dos que selecionam o meio que ele escolheu para se

manifestar, para se manterem situados relativamente à informação sobre os

acontecimentos. (MORGADO, 2005, p. 15)

Morgado, em trabalho que estuda a pressão política exercida sobre os líderes de

opinião, debate a respeito desta mudança no espaço público do campo da comunicação usado

para a emissão de ideias. A alteração no processo de transmissão de informação, que se

ampliou do modo interpessoal para a utilização da comunicação intermediada, estendeu a

capacidade do alcance, não somente da mensagem a ser comunicada, como também

amplificou a propagação da imagem do emissor desta mensagem, no caso de nosso interesse,

os líderes de opinião evangélicos.

A opinião comum publicitada na conquista de um espaço público de maior

visibilidade para manifestar as suas ideias alarga-se, já que o círculo onde se

fazia uso da palavra crítica se amplia do salão ou do café até à associação

sindical e partidária, passando pelo jornal. Previsivelmente, na

contemporaneidade, este confronto ideológico que estrutura as relações entre

as diferentes esferas da acção pública escolheu para campo de batalha os

meios de comunicação de massas que topografam quase em exclusivo o

nosso espaço público. (MORGADO, 2005, p. 121)

Se antes, um espaço físico limitado era empregado para a manifestação de ideias,

agora, com os meios de comunicação, são rompidas as limitações físicas, trazendo consigo

uma nova dimensão de espaço e tempo, principalmente, com o advento da internet.

4.3. A escolha por atalhos de informação em uma conjuntura de baixa informação

É importante observar que no contexto de baixa informação em que vivem os crentes

neopentecostais, imersos em uma condição de baixa aquisição financeira e dotados de baixo

nível de instrução, assim como foi destrinchado no capítulo anterior, a figura do líder de

opinião torna-se essencial para a tomada de decisão do voto político. O fato desses indivíduos

não apresentarem engajamento em questões políticas, os torna ainda mais vulneráveis e

suscetíveis a agir politicamente de forma influenciável, se baseando nas escolhas feitas por

personalidades que representam uma referência divina.

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53

Em vista disso, o conceito de “atalho de informação” criado pelo economista Anthony

Downs (1999), torna-se, fundamental para entender como os indivíduos pensam na hora de

escolher um político. De acordo com Downs, o eleitor possui outras preocupações na vida

cotidiana do que analisar política, portanto, os custos e esforços envolvidos para adquirir

informações políticas são altos e não compensariam os benefícios que se espera obter. Por

isso, a busca por atalhos informacionais se torna um recurso utilizado para simplificar este

processo. Os cidadãos se informariam sobre assuntos políticos mediados por terceiros, de

maneira involuntária, para os quais estes indivíduos delegariam a missão de moldar as

informações e episódios políticos em uma narrativa que seja pertinente e simples. Isto é, o

eleitor delega os passos do processo decisório a outras pessoas, especialmente, de grupos de

seu interesse.

Samuel Popkin (1994) revisa as contribuições deixadas pelo estudo de Downs, por

meio de seu estudo baseado na psicologia cognitiva, propondo a chamada “teoria da

racionalidade de baixa informação”. De acordo com este conceito, o indivíduo não delega,

simplesmente, a sua decisão a terceiros, mas procura agir com certo nível de racionalidade e

coerência, buscando informação e aprendizado em experiências cotidianas, utilizando atalhos

de informação validados em conversas com pessoas de sua confiança e em figuras nacionais

cujos valores são conhecidos. É o caso de evangélicos que buscam nas opiniões políticas

emitidas pelo pastor Silas Malafaia, atalhos de informação para simplificar a decisão do voto

político a ser dado.

Na conjuntura de baixa informação e busca por atalhos que simplifiquem o processo

político de tomada de decisão, os meios de comunicação assumem um lugar especial, por

reduzir localizações espaciais, aproximando indivíduos, ainda que estes não estejam em um

mesmo espaço físico. Antes, para se identificarem uns com os outros, basta que pertençam a

uma mesma ideia. Nesta situação, a identificação com o líder de opinião nacional é

viabilizada nas redes sociais, que se tornam aliadas no processo dos atalhos informativos,

facilitando o encontro entre eleitores e líderes.

4.4. Opinião política no Twitter

Para compreender a atuação do formador de opinião, pastor Silas Malafaia, e os

efeitos provocados pelo seu posicionamento na sociedade, que adere ao seu pensamento,

tomamos como ponto de análise sua página oficial na rede social do Twitter, observando o

conteúdo das postagens realizadas. O pastor está presente em redes, como o Facebook,

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Twitter e Youtube. Porém, o Twitter é a mais utilizada pelo pastor com diversos tweets25

postados diariamente, totalizando um número de quase trinta mil, e um milhão e 290 mil

seguidores26

. A maior parte de suas postagens são manifestações políticas, convites para

eventos, propagandas de seu programa na Band e de seus produtos, já que o pastor é dono da

Editora Central Gospel; outras, visivelmente em menor número, são mensagens bíblicas. Suas

publicações mais curtidas e retweetadas27

são constituídas, geralmente, de conteúdo político.

Malafaia já se destacou por alcançar lugar nos trending topics28

nacionais e, também,

internacionais, inclusive, se manifestando a respeito de assuntos políticos.

Nas eleições de 2014, o pastor se tornou destaque no microblog por duas vezes.

Primeiramente, Silas convocou o que denominou de “tuitaço” contra a “causa gay” e a então

candidata à reeleição da presidência, Dilma Rousseff. Na ocasião, o pastor se manifestou

contra o apoio de Dilma à criminalização da homofobia e convocou seus seguidores a

protestarem contra o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). O deputado é conhecido por

lutar pelos direitos das minorias, defendendo pautas como casamento igualitário,

regularização do aborto e legalização da maconha. A hashtag29

#JeanWyllysNãoMeRepresenta mobilizada por Silas chegou aos trendings topics da rede

social, como um dos assuntos mais comentados do mundo. No entanto, a rápida reação dos

seguidores do deputado multiplicou a marcação #JeanWyllysMeRepresenta.30

25

Nome utilizado para designar as publicações realizadas na rede social do Twitter. 26

Informação colhida no dia 16 de julho de 2016, podendo, portanto, sofrer alterações para mais ou para menos. 27

Ato de replicar uma publicação na rede social do Twitter. 28

Assuntos mais comentados do Twitter. 29

Espécie de palavras-chave utilizada para explicitar uma informação, discussão ou tópico e indexá-la em redes

sociais como Twitter, Facebook, Instagram e Google+. É constituída pela palavra-chave antecedida pelo símbolo

cerquilha (#). 30

Ler mais sobre em VEJA Rio. Disponível em: < http://vejario.abril.com.br/materia/web/twitter-tem-batalha-

seguidores-do-pastor-silas-malafaia-e-do-deputado-federal-jean-wyllys> Acesso em: 17 de jul. 2016.

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Figura 1: Manifestação do público evangélico em apoio ao “tuitaço” proposto por Silas Malafaia.

Fonte: Veja Rio

No mesmo período, Silas Malafaia se envolveu em polêmicas tratando da temática

homossexual e condenando Dilma Rousseff por seu apoio à causa. Segundo postagens do

pastor, “tem que ser muito alienado para votar em Dilma”. As repercussões geradas por suas

manifestações alcançaram o primeiro lugar nos trending topics brasileiros por meio da

hashtag #MenosOdioMalafaia. A marcação refere-se ao discurso de ódio emitido pelo pastor

em seus tweets.31

Figura 2: Manifestação contra Dilma e seu apoio na criminalização da homofobia

Fonte: Pragmatismo Político

Ainda no cenário das eleições presidenciais de 2014, Silas Malafaia se destacou na

rede social ao confrontar a posição adotada pela candidata Marina Silva em relação ao

casamento gay. Após a divulgação da promessa de encaminhamento de lei para aprovação do

31

Ler mais sobre em matéria na página Pragmatismo Político. Disponível em:

<http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/09/manifestacao-contra-malafaia-atinge-1o-lugar-twitter.html>

Acesso em: 17 de jul. 2016.

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casamento entre pessoas do mesmo sexo em seu programa de governo, o pastor agitou a

internet criticando Marina Silva, chamando de “vergonha” o seu programa de “apoio ao

ativismo gay”. Malafaia ameaçou um discurso duro a respeito da então presidenciável, caso a

candidata não mudasse seu posicionamento. Mais uma vez, suas mensagens de envolvimento

político o levaram aos trending topics da rede social. Horas depois, a campanha da candidata

emitiu uma “errata”, a fim de corrigir uma “falha processual na editoração”. O apoio ao

casamento gay foi substituído pelo compromisso de “garantir os direitos oriundos da união

civil entre pessoas do mesmo sexo”.32

Figura 3: Pastor Silas Malafaia cobra um novo posicionamento sobre o casamento gay da presidenciável Marina

Fonte: Portal R7

Encontra-se claro, portanto, como o pastor Silas Malafaia, um líder de opinião

evangélico, expõe suas opiniões e preferências políticas pessoais na rede social, gerando

comoção e engajamento, mobilizando, influenciando o comportamento de milhares de

pessoas, que enxergam nele uma referência que agrega informação política para aqueles que

procuram por um atalho.

A análise da página do Twitter foi feita entre o dia 16 de abril a 23 de abril deste ano.

O intervalo de tempo em questão compreende a votação do impeachment da presidente Dilma

Rousseff na Câmara dos Deputados, período mais recente do contexto de fervilhar político em

que o país está inserido. Mais especificamente, a análise se inicia no dia anterior à votação e

permanece durante o decorrer da semana.

32

Ler mais sobre em Portal R7 Notícias. Disponível em: < http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/silas-malafaia-

cobra-marina-por-posicao-sobre-casamento-gay-e-agita-campanha-30082014> Acesso em: 17 de jul. 2016.

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57

Figura 4: Gráfico feito com ajuda do Wordle com postagens da página oficial do pastor Silas Malafaia

no período de 16 de abril a 23 de abril de 2016.

Conforme o gráfico, que faz referência ao conteúdo presente na página oficial do

pastor Silas Malafaia (durante o período de 16 de abril a 23 de abril), as palavras mais citadas

foram: impeachment, PT, Dilma, Temer, vídeo, contra, satanista, STF, dia, povo,

esquerdopatas, etc. As citações comprovam o envolvimento e o posicionamento político

adotado por Silas Malafaia em sua rede social.

No período em questão, a grande maioria das postagens trata-se de textos de acusação

contra o governo de Dilma e do PT e apoio do impeachment da, até então, presidente. As

colocações demonstram que o posicionamento político se dá por meio do antagonismo entre

amigo e inimigo, assim como a proposta de Schmitt, constituída em oposição ao PT e outros

partidos de esquerda, que defendem pautas às quais o pastor se opõe, como a criminalização

da homofobia, chamando-os de “esquerdopatas” e “petralhas”.

A dualidade amigo-inimigo se mantém não apenas em oposição a partidos, mas à

figura de Dilma Rousseff, que é evidenciada pela aparição de seu nome nas palavras mais

citadas por Malafaia, não só escrito normalmente, como também em caixa alta. O nome de

Jean Wyllys também aparece demonstrando a prática do conceito.

No intervalo de tempo, foram postados, ainda, diversos publicações com vídeos e

links, em que o pastor divulga a questão religiosa que envolve o atual presidente Michel

Temer. Vale lembrar, que em eleições passadas, se difundiu na população um boato que

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consistia na proposição de que Temer estaria envolvido com o satanismo.33

Tal informação

agitou o público evangélico e se tornou um obstáculo para o ganho de votos para Dilma, já

que Temer era o seu vice-presidente, e também para o PT. Esta situação causou um

desconforto no partido, tendo em vista que o a população evangélica vem crescente

recentemente, representando, portando, uma significativa porcentagem de votos a ser perdida.

No contexto da votação do impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, os ânimos se

levantaram pela expectativa de sua saída e possível entrada de Michel Temer assumindo o

cargo da presidência do país. Por apoiar abertamente a saída de Dilma Roussef e, na

esperança da permanência do, até então, vice-presidente, Silas Malafaia saiu em sua defesa,

postando vídeos em que comenta o não envolvimento de Temer com o satanismo, a fim de

desmistificar a questão para o público evangélico, buscando o apoio destes ao impeachment e

a entrada do novo presidente. Por isso, “Temer”, “assista”, “Temer” e “satanismo” estão entre

as palavras mais citadas pelo pastor neste período.

Cabe na análise, considerar uma postagem curiosa feita pelo objeto de estudo em

questão. No dia seguinte à votação, constatada a resposta positiva em relação ao

prosseguimento do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, pastor Silas amanhece o

dia com uma mensagem bíblica bem sugestiva. “Passada a tempestade, o ímpio já não existe,

mas o justo permanece para sempre.” (Provérbios 10:25) A proposição de encaixar Dilma na

posição antagônica de “ímpio” é sugestiva, representando que ela não resistiu à “tempestade”

provocada pelo processo de impeachment, enquanto que o “justo”, em seu lugar, resistiria.

33

GREGÓRIO, N. Michel Temer é satanista? Teólogo diz que é boato. Gospel Prime, 29 jul. 2010. Disponível

em: <https://noticias.gospelprime.com.br/michel-temer-e-satanista-teologo-diz-que-e-boato/> Acesso em: 27 jul.

2016.

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Figura 5: Mensagem bíblica sugestiva

Fonte: Twitter

A posição política defendida por Silas Malafaia em sua rede social do Twitter é

manifesta. Dentro da lógica do conceito amigo e inimigo, o pastor confronta os pensamentos

que vão de encontro aos seus, por meio de um discurso agressivo e conservador. A

explicitação de suas preferências políticas visa influenciar o pensamento do público

evangélico, que está presente nas redes sociais e visualiza na figura do pastor um líder com

inspiração divina para agir desta maneira, utilizando-o para tomar um atalho de informação

para assumir um posicionamento político.

É construído, sobretudo no cenário das Igrejas Evangélicas pentecostais, portanto, o

cenário perfeito para que personalidades evangélicas sejam atores principais no campo de

influência política. De um lado, crentes, de maioria, pobres e com baixo nível de escolaridade,

vendo como referência a sua liderança religiosa, que agora, está mais acessível, devido à

intensificação das atividades religiosas, comparada a outras religiões. Consideramos ainda, a

maior exposição à figura do líder, pois um dos fatores caracterizantes do neopentecostalismo

é a ampla utilização dos meios de comunicação, alcançando o maior número possível de

pessoas. Por isso, encontra-se no interior do movimento uma maior facilidade de ir de

encontro aos crentes.

De outo lado, a ausência do poder público no estrato social em que vivem os fieis,

oferece a oportunidade para que candidatos evangélicos se elejam a cargos políticos, com o

pretexto de atuação pelos crentes e pelos valores de Deus. Entretanto, não é o objetivo do

presente trabalho estudar os candidatos políticos, ou mesmo os políticos evangélicos já

eleitos. Antes, nos interessa analisar como os formadores de opinião neopentecostais se

utilizam de suas posições privilegiadas, criando uma zona de influência decisiva no

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comportamento eleitoral, que ocorre no âmbito religioso, alcançando os fieis e consolidando

interesses próprios.

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Conclusão

A partir de toda a análise aqui realizada, levando em consideração o resgaste histórico

empreendido das instituições tradicionais cristãs, tanto da Igreja Católica, como também das

correntes protestantes tradicionais, infere-se que o comportamento professado pelas igrejas

evangélicas da atualidade difere daquelas, sobretudo, quando se fala de igrejas evangélicas

pentecostais, que conforme foi visto no capítulo três, trata-se de uma vertente recente.

No primeiro capítulo, de acordo com o estudo do nascimento e desenvolvimento da

Igreja Católica, foi vista a forma que a instituição se desenvolveu, tornando-se a mais

poderosa do período medieval, exercendo amplo poder de influência sobre a comunidade, não

somente entre as camadas mais populares da sociedade estamental, mas também

influenciando a nobreza feudal, sendo fundamental para a manutenção da ordem social sob o

regimento de estamentos e atuante direta no regime político vigente, atuando em favor do

Estado. Sob este aspecto, a comunicação empregada pela entidade teve um papel fundamental

para promove-la à esta condição. Por meio da propaganda, a Igreja difundia valores,

pensamentos e conduzindo comportamentos.

A divisão hierárquica da instituição, centralizando a responsabilidade e o poder nas

mãos do alto clero, configurados como homens de Deus, estabeleceu-os como formadores de

opinião da época, desempenhando papel fundamental para a emissão dos valores e ideias

propagados pela Igreja Católica, mediante a justificativa de agir em favor de Deus. Este

cenário foi viabilizado pelo analfabetismo da população e impossibilidade de seu acesso à

informação. O poder ideológico estava concentrado nas mãos da instituição, dominando as

formas de conhecimento.

A Reforma Protestante ocorreu como forma de oposição a esse posicionamento

adotado pela Igreja Católica medieval, que exercia poderio político e ideológico. A partir

desta conjuntura, as correntes protestantes históricas primordiais assumiram uma posição

neutra no âmbito político, caracterizando-se, entretanto, na maior parte das vertentes, pelo

desenvolvimento financeiro, por meio da doutrina que permite a acumulação de capital, antes

condenada pelos católicos. O não envolvimento com a política transcorreu possibilitado pelo

contexto, visto que a instituição católica e nobreza já ocupavam esse espaço; e,

fundamentalmente, por fidelização a suas bases doutrinárias, seguindo-as com racionalidade,

inclusive, com respaldo bíblico para essa atuação.

As denominações pentecostais nasceram a partir da corrente tradicional metodista

wesliana. Fundamentado na emoção, em detrimento da racionalidade, desde o princípio, o

metodismo se difundiu entre as massas. Com o pentecostalismo, não foi diferente. Estudos

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demonstrados no decorrer do terceiro capítulo, indicam que os fiéis pentecostais, em sua

porção significativa, estão presentes nos estratos sociais mais baixos, com pouco poder

aquisitivo e baixo nível de instrução. Este cenário possibilita a atuação dos pentecostais nas

margens do poder público, fazendo desabrochar o anseio na intervenção política como forma

de emergência social.

Expostos com mais frequência a figura de seus líderes, pela maior assiduidade aos

cultos religiosos, os fiéis evangélicos, mantém um relacionamento de confiança com os

mesmos, acreditando nas opiniões e valores emitidos, justificados pelo agir conforma a

vontade de Deus. Logo, o líder religioso torna-se uma autoridade divina, passível de atuar não

somente na esfera religiosa. Antes, é consentida a sua atuação em diferentes áreas da vida do

crente por meio da confiança e espaço conquistados por este líder, inclusive, a influência em

assuntos políticos.

O líder de opinião é esta figura com influência que representa um grupo, no presente

caso, os evangélicos. Ele faz uso de seu discurso convincente e eficaz para induzir o

comportamento de terceiros, que na nossa conjuntura, são indivíduos inseridos em um

contexto de pouco poder aquisitivo e baixa informação. Se antes, a atuação deste formador de

opinião era restrita a espaços físicos, na contemporaneidade, os meios de comunicação

expandiram seu campo de exercício, amplificando seu discurso, que passa a ser emitido a um

número de pessoas muito maior, estendendo, assim, sua zona de influência.

Na atualidade, a internet levou o confronto ideológico a outro patamar, viabilizando a

interação e o relacionamento entre emissor e receptor. Neste ambiente, a informação atravessa

barreiras geográficas em um curto espaço de tempo, conectando pessoas de diferentes

localidades do mundo, potencializando ainda mais a transmissão de informações, valores e

pensamentos e, tornando-se ferramenta importante nas mãos dos líderes de opinião no

confronto ideológico-político.

Percebe-se, neste contexto, como o posicionamento adotado pelas Igrejas evangélicas

pentecostais, por meio de suas representantes atuantes como líderes de opinião, quando atuam

no âmbito político, se desvinculam das bases históricas do protestantismo tradicional. No

princípio, a neutralidade política e o desenvolvimento financeiro foram justificados para a

honra e glória do nome de Deus, compreendendo a vida secular, e não apenas a religiosa,

como forma de engrandece-lo. Recentemente, a posição se transformou. O envolvimento com

assuntos políticos é maneira de atuar em favor de Deus, representando uma possibilidade para

ser uma ferramenta Dele em um ambiente repleto de ilegalidade e corrupção.

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Para além das doutrinas religiosas, este posicionamento não se afasta simplesmente

das doutrinas religiosas protestantes. Antes, e mais importante, se afasta das doutrinas

bíblicas. Fugindo da essencialidade cristã, os líderes de opinião evangélicos fazem uso de um

discurso propositalmente persuasivo, de cunho conservador, com o objetivo de denegrir a

imagem de candidatos políticos que se opõe a suas preferências, como visto recentemente no

embate político proferido nas redes sociais. Trabalhando na perspectiva da dualidade amigo-

inimigo, estas personas atuam espalhando um discurso de ódio e acirrando os ânimos na

disputa política que se acompanha no cenário brasileiro atual. Fica em segundo plano,

portanto, o amor e o respeito ao próximo, bases primordiais do cristianismo.

Outro fator preocupante é a intenção de persuadir o outro, imerso em uma cultura de

baixa informação, apresentando-se, consequentemente, como um alvo fácil para satisfazer as

preferências políticas de indivíduos que agem com consciência dos efeitos que suas atitudes

podem causar e, por isso mesmo, o fazem. Consolidar objetivos políticos é o propósito destes

líderes de opinião e, para esse fim, fazem uso da confiança conquistada pelos fiéis por

representarem Deus e emitirem seus valores.

Desta maneira, remontamos à postura apresentada pela Igreja Católica no período

medieval. Consciente de sua hegemonia político-ideológica, a instituição determinava o

comportamento a ser tomado pela sociedade para manter a ordem social e política que lhes era

favorável. Assim, os próprios evangélicos assumem a postura, pela qual um dia seus

primitivos se opuseram. Oposição esta que gerou uma ruptura com a instituição católica, a fim

de que os cristãos conquistassem a liberdade de ler e interpretar as doutrinas bíblicas,

assumindo comportamento conveniente ao que ali está escrito, e não seguindo doutrinas

instituídas por homens com interesses em domínio.

A atuação na conjuntura política, apesar de se opor ao comportamento empenhado

pelos protestantes históricos, demonstra mais do que nunca a preocupação dos evangélicos em

viver o aqui e agora. Para isso, a intervenção política se faz com o pretexto de melhorar a

vivência terrena, deixando de lado a preocupação com o futuro da salvação e redenção,

deixando imperar a preocupação com elementos que, de acordo com a doutrina bíblica, são

passageiros e secundários. Isto posto, o que se vê é a construção de uma conduta

contraditória, ao passo que ao mesmo tempo que confia em um “Deus soberano”, deseja

oferecer a Ele uma ajuda para melhorar as circunstâncias decorrentes do desgoverno político,

econômico e social, mas que, no fundo se apropria das ferramentas comunicativas para efeitos

de manipulação em prol de interesses próprios.

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Portanto, o que se defende neste trabalho é a reflexão da sociedade, em todos os seus

âmbitos, e não apenas no meio evangélico, a respeito do papel empenhado pelos líderes de

opinião, que misturam religião e política, com o objetivo de influenciar indivíduos passíveis

de manipulação. A racionalidade não tem em vista se afastar da fé, adotando um

posicionamento descrente a respeito de formadores de opinião e autoridades religiosas. Antes,

tem o intuito de desmistificar figuras, que se autointitulam representantes de Deus, quando

agem segundo interesses próprios, conscientes da capacidade que seus atos possuem na

tomada de decisão política de uma população inserida em uma conjuntura de baixa

informação, assumindo seus pensamentos políticos mediados por terceiros na mídia

contemporânea. É necessário difundir o entendimento que a interferência na política por

personalidades evangélicas foge do protestantismo histórico e, ainda, da doutrina bíblica.

Sendo o líder de opinião que desta maneira age, portanto, passível de ser descreditado pelos

fiéis por ir contra o que a fundamentação cristã propõe e induzir ao erro outros fiéis de

maneira premeditada, agindo de acordo com a concepção própria.

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Anexo A – Tweets políticos do pastor Silas Malafaia

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Anexo B – Malafaia citado como liderança