comunicação é poder: totalitarismo no filme “a onda”

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Comunicação é poder: Totalitarismo no filme “A Onda” 1 Gabriel Pinheiro PIRES 2 1. INTRODUÇÃO Sendo a Alemanha um país marcado por regimes ditatoriais e que ainda tem cicatrizes das barbáries geradas por estes poderes totalitários, é difícil debater o totalitarismo dentro da Alemanha. Com essa preocupação, o longa trata o assunto sem mesmo reter-se no debate das características dos regimes totalitários da história alemã, mas sim com um olhar atual de um sociedade que ainda precisa se preocupar com as falhas que permitiram o acontecimento de novos episódios semelhantes em sua história. O filme discute os regimes em sua essência e trata da questão de “se” e “como” um regime totalitário - seja qual for seu ideal - poderia emergir novamente no seio da sociedade alemã. Uma história retratando a experiência de um professor de ensino médio para provar que seus alunos precisam continuar os debates sobre autocracia e assim percebam como a negligência do passado pode fazer com que essas histórias se repitam no futuro. Naturalmente, entre os detalhes essenciais 1 Ensaio para a disciplina de teorias da comunicação sob orientação da professora MsC. Rose Vidal. 2 Aluno do curso de publicidade e Propaganda da Universidade Vila Velha. [email protected]

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Análise do totalitarismo discutido no filme "A Onda" (Die Welle, 2008) sob a perspectiva das teorias da comunicação.

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Comunicação é poder: Totalitarismo no filme “A Onda”1

Gabriel Pinheiro PIRES2

1. INTRODUÇÃO

Sendo a Alemanha um país marcado por regimes ditatoriais e que ainda tem cicatrizes das

barbáries geradas por estes poderes totalitários, é difícil debater o totalitarismo dentro da

Alemanha. Com essa preocupação, o longa trata o assunto sem mesmo reter-se no debate

das características dos regimes totalitários da história alemã, mas sim com um olhar atual

de um sociedade que ainda precisa se preocupar com as falhas que permitiram o

acontecimento de novos episódios semelhantes em sua história.

O filme discute os regimes em sua essência e trata da questão de “se” e “como” um regime

totalitário - seja qual for seu ideal - poderia emergir novamente no seio da sociedade alemã.

Uma história retratando a experiência de um professor de ensino médio para provar que

seus alunos precisam continuar os debates sobre autocracia e assim percebam como a

negligência do passado pode fazer com que essas histórias se repitam no futuro.

Naturalmente, entre os detalhes essenciais debatidos na trama, a contribuição dos Mass

Media tem papel central.

Com a simples observação da história dos regimes políticos autocráticos pelo mundo é fácil

encontrar pistas sobre como a manipulação das massas é fator comum a cada um deste, já

que manipulação é um fator de encontro entre política e comunicação de massa. Assim, o

presente ensaio busca traçar através das situações expostas no filme “A Onda” (Die Welle,

2002) um entendimento do papel das Mass Media na ascensão e perpetuação do

totalitarismo e ainda se essa comunicação pode auxiliar como força opositora a tais

regimes.

1 Ensaio para a disciplina de teorias da comunicação sob orientação da professora MsC. Rose Vidal.2 Aluno do curso de publicidade e Propaganda da Universidade Vila Velha. [email protected]

Finalmente, para compreender a relação entre a autocracia discutida em “A onda” - aqui

também tratada como totalitarismo ou ditadura - e os meios de comunicação de massa,

antes é preciso definir esse tipo de regime político e suas disparidades em relação aos

regimes democráticos. No totalitarismo as leis são definidas por um indivíduo ou grupo

que, segundo o próprio personagem Professor Wenger, “tem poder ilimitado para mudar as

leis se achar necessário”. Já na democracia a coletividade “vive sob leis que ela mesma

criou para si, e que podem ser modificadas quando ela mesma o desejar” (Todorov, 2002,

pág. 19).

3. “A ONDA”

Na trama do longa Alemão, o professor Rainer Wenger fica responsável por ministrar as

aulas sobre Autocracia em um projeto de uma semana organizado pela escola na qual

trabalha. Devido à própria insatisfação e também a dos alunos em debater o tema, Wenger

decide reformular o método didático das aulas do projeto e para isso cria um experimento

onde os alunos vivenciam as características de um regime ditatorial dentro da sala de aula.

A partir daí acompanhamos o desenvolvimento descontrolado da “onda” criada dentro da

classe durante o “projeto da semana”. Para que seja feita a análise dos elementos contidos

na trama, em paralelo aos estudos de Mass Media, esse tópico do ensaio é organizado em

outros sub-tópicos que correspondem aos dias passados no filme, sendo o primeiro dia

correspondente à introdução sobre o Projeto da Semana, os próximos cinco dias

correspondentes ao período de segunda à sexta-feira da semana na qual transcorre o projeto

e o último item corresponde ao sábado no qual ocorre uma reunião extraordinária. Desta

forma é possível tratar o enredo cronologicamente e analisar os acontecimentos na ordem

em que são mostrados na trama.

3.1. CONTEXTUALIZANDO O PROJETO DA SEMANA

É o professor Wenger quem protagoniza a trama, iniciando e conduzindo as atividades do

“projeto da semana” na turma de Autocracia. O professor no inicio está relutante em

assumir a turma já que seu desejo era ministrar as aulas de Anarquia - regime pelo qual ele

aparenta ser simpatizante.

Já na sequência inicial o longa usa Wenger para introduzir uma teoria da comunicação

importante na contextualização da trama. O professor está dirigindo enquanto ouve no som

do carro a música “Rock 'n' Roll High School” da Banda Ramones e usando uma camiseta

da banda. No figurino do professor, durante todo o longa, o uso de camisetas de bandas

torna-se uma constante

Uma camiseta de banda encaixa-se perfeitamente no entendimento de indústria cultural, já

que se aproveita da popularidade da banda para gerar mercadorias que aparentemente

auxiliam na individualidade, mas criam na verdade uma “pseudo-individualidade” (Wolf,

2003, pág 87). A indústria cultural é uma definição dos pesquisadores da teoria crítica e faz

parte de um sistema de manipulação onde “divertir-se significa estar de acordo [...]”

(Horkheimer - Adorno, 1947, 156 apud Wolf, 2003, pág 87). Manipulação, com será visto

mais a frente, é uma palavra de muito peso quando se trata de política e comunicação.

Os alunos e suas particularidades, que são apresentados nesta parte do filme, ainda serão

aprofundados nos tópicos seguintes de acordo com suas contribuições à história, mas por

hora é importante destacar as coincidências entre eles. Primeiramente por se assemelharem

ao seu professor ao estarem naturalemente imersos na indústria cultural e portanto se

mostram também suscetíveis à serem manipulados

Outro ponto em comum é a apresentação das necessidades de integração presente em todos

os jovens alunos. Uma linha dentro do diálogo entre dois deles expressa exatamente essa

necessidade: “[...] não tem mais nada. Contra o que a gente vai se revoltar hoje em dia?

Parece que nada mais vale a pena. [...] a gente só quer se divertir. O que falta pra nossa

geração é um objetivo comum pra unir a gente, sabe?”.

Essa necessidade de integração fica mais clara quando o enredo apresenta alguns pequenos

grupos de alunos em busca dessa integração: um grupo de tetro que não consegue

concordar quanto ao rumo da peça, um time de polo aquático com problemas de jogo em

equipe e um pequeno grupo de estilo incomum, liderado pelo aluno Kevin, que se reúne

para usar drogas ilícitas. Nesse contexto destaca-se o personagem Tim, personagem chave

para o filme e que - querendo fazer parte do tal grupo de usuários - torna-se um fornecedor

de drogas dos novos “amigos”.

A busca por integração é análoga à outra importante teoria da comunicação: a Teoria

Funcionalista. Wolf (2003, pag. 67 e 68) mostra que entre as funções dos Mass Media

apresentadas por Lazarsfeld e Merton está “a atribuição de posição social e prestígio às

pessoas e aos grupos” e “o reforço das normas sociais”. Ora, se a comunicação é fator

determinante na construção do status e das normas sociais que organizam uma sociedade,

então ela tem participação na anomia gerada pela exclusão dos que não se adequam a tais

normas e status.

3.2. SEGUNDA-FEIRA: DISCIPLINA É PODER

O desinteresse dos participantes da aula de autocracia se origina em sua insatisfação por

estarem novamente em uma sala de aula discutindo sobre os regimes ditatoriais alemães,

especialmente o terceiro Reich. A insatisfação pode ser vista como influência da disfunção

apontada pelos pesquisadores da corrente Funcionalista que é o efeito narcotizante da

comunicação no qual “o cidadão interessado e informado pode deleitar-se com tudo aquilo

que sabe, não percebendo que se abstém de decidir e de agir” (LAZARSFELD - MERTON,

1948, 85 apud WOLF, 2003, pag. 68). Por se tornar um tema exaustivamente debatido ao

longo da história da comunicação na Europa, a fuga das discussões sobre os problemas

enfrentados em seus regimes ditatoriais é uma característica provavelmente intrínseca ao

povo alemão. A repetição de um tema faz com que esse se banalize e perca a força de sua

importância.

Finalmente Wenger resolve alterar a didática de sua turma no projeto e propõe a criação de

um experimento em que as aulas passam a ser dadas na forma de um regime totalitário.

Primeiramente uma votação extremamente duvidosa eleva o professor ao status de Füher e

a partir dali passa a ser dele o poder de criar leis para que todos obedeçam. O professor

organiza a sala de forma alinhada, impõe regras de postura e conduta dentro da classe e

começa a levantar, através dos alunos, as características de um regime totalitário.

Pensando na relação entre a instauração do pequeno regime ditatorial e a comunicação de

massa, tem-se aqui a utilização de uma fundamental teoria da comunicação: A teoria

hipodérmica. Ao caracterizar a teoria hipodérmica, WOLF (2003, pag. 23). diz que:

A principal componente da teoria hipodérmica é, de facto, a presença explícita de

uma “teoria” da sociedade de massa, enquanto no aspecto “comunicativo”, opera

completamente uma teoria psicológica da acção.

A presença da teoria da sociedade de massa, já se torna explícita em dois elementos aqui já

analisados: (1) a imersão na indústria cultural que elimina a individualidade e submete a

massa a um estado de acríticidade e (2) a falta de integração que faz com que as

informações sejam aceitas e assimiladas sem qualquer discussão. Estes elementos

característicos de uma sociedade de massa tornam aquela sala de aula um terreno fértil para

ideias manipuladas de coletividade em busca de um bem maior.

Já a teoria psicológica apontada por Wolf, trata-se do modelo “estímulo-resposta” da teoria.

Em si o modelo de comunicação já mostra como a teoria hipodérmica está ligada a

manipulação, já que condiciona o público a informações sem que este tenha espaço para

nenhum tipo de réplica. Exemplos dessa manipulação não faltam dentro do filme “A

Onda”, vide as imposições feitas pelo Sr. Wenger que passaram a ser aceitas pela classe em

quase toda sua totalidade.

Os que não aceitam as imposições que saiam - espontaneamente ou à força - como é o caso

de Kevin e seus companheiros Sinan e Bomber que se recusam a levantar e participar do

exercio de “respirar coletivamente” proposto pelo Sr. Wenger. Os últimos se arrependem

em seguida. Enquanto isso a aluna Mona já mostra insatisfação para com a metodologia do

professor, mas ainda cede às atividades para que não seja expulsa da aula. O mais

importante em uma ditadura é a disciplina.

A disciplina e a ordem da sala de aula contrastam com os ambientes familiares

desordenados e longes de tradicionalismos. Neste contexto pós-aula, é preciso observar

outro fator causado pela teoria hipodérmica: Em cada casa mostrada, um aluno expressa

para sua família as suas impressões sobre o projeto e surpreendentemente todos

demonstram estarem satisfeitos com a experiência de participar do sistema ditatorial,

inclusive o próprio professor.

Uma fala de Caro serve perfeitamente para mostrar a impressão geral sobre a aula: “De

repente todo mundo ‘tava’ (sic) fazendo. Era uma energia estranha que pegou todo mundo”.

Temos aqui a exata ilustração do efeito da teoria hipodérmica em que “cada elemento do

público é pessoal e diretamente ‘atingido’ pela mensagem” (Wright, 1975, 79 apud Wolf,

2003, pag. 22). Em uma escala maior, essa manipulação não seria eficaz em nossa

atualidade devido à diversidade das fontes de informação, porém dentro do ambiente da

classe de Autocracia a figura do professor é fonte inquestionável da informação e a

manipulação em pequena escala torna-se possível.

No fim do dia, o professor se enche de curiosidade para tentar novos elementos de uma

ditadura e novas formas de manipulação, enquanto os alunos começam a fazer com que o

sistema tenha vida além da sala de aula.

3.3. TERÇA-FEIRA: UNIÃO É PODER

Para dar início à segunda aula, o Sr. Wenger faz novas experiências que continuam se

aproximando da linha da Teoria Hipodérmica. Ao pedir que todos se levantem, a turma

toda fica de pé; Ao pedir que todos façam movimentos com braços e pernas, a resposta da

turma é imediata; Só a partir do terceiro pedido - que é o de imitarem um movimento de

marcha - algumas contestações surgem com Mona. Para justificar as atitudes o professor

usa dois argumentos básicos: gerar união e incomodar os inimigos da aula de Anarquia.

Para unir os membros da turma/ditadura são usados os artifícios do alinhamento das

posições, da divisão em duplas - organizadas para unir alunos com notas altas e baixas - e

por fim a proposição de um uniforme. Para o uso do uniforme Mona é novamente a única

aluna relutante, enquanto todos os outros concordam com os argumentos de que a

uniformidade é capaz de fortalecer a união e eliminar diferenças sociais. A participação dos

alunos chega ao ponto de alguns deles argumentarem defendendo a ideia dos uniformes

enquanto ajudam uns aos outros para que todos se adequem ao uso.

A definição de um inimigo também deixa claro como o efeito da mensagem à qual os

alunos são submetidos está gerando um efeito completamente manipulador. Ela apresenta

um ideal de coletividade que está acima do indivíduo e que precisa combater um inimigo

comum: A anarquia; O caos; a falta de ordem.

No extremo da manipulação encontra-se Tim, que assimila o ideal coletivo de modo tão

doentio que chega a um ponto em que ateia fogo a todas suas roupas que ostentem marcas

famosas - rejeitando a Indústria cultural. Porém, no extremo da contestação encontra-se

Mona que desde o princípio demonstrou ser um personagem não manipulável e que não

deixa passar ordens sem antes questioná-la.

A atitude de Mona rejeita justamente uma característica da teoria hipodérmica que é

comum à teoria funcionalista: ambas se baseiam em paradigmas que não admitem resposta

do público. O modelo de “estímulo-resposta” da Teoria Hipodérmica - já tratada neste

ensaio - vai de perfeitamente ao encontro do Paradigma de Laswell usado na Teoria

Funcionalista para explicar como acontece o ato comunicativo. (citação direta sobre ato

comunicativo). Este paradigma de Laswell é baseado nas seguintes perguntas:

“ [...] quemdiz o quêatravés de que canalcom que efeito? [...]” (Lasswell, 1984, 84 apud Wolf, 2003, pag. 29)

3.4. QUARTA-FEIRA: AÇÃO É PODER

Aplicando o paradigma de Lasswel a uma as atitudes do professor no dia anterior temos o

seguinte:

Quem? O professor

Diz o que? Que imitem o ritmo de seus passos

Em que canal? Oralmente em sala de aula

Com que efeito? Todos os alunos acompanham seus passos

É importante lembrar que a comunicação oral não é necessariamente um meio que atinge

massas e, portanto não deve ser usada como prova perfeita dos efeitos manipuladores de

teorias do estudo de comunicação de massa. Na situação analisada na tabela, por exemplo,

é preciso levar em conta a reação de Mona em contestar antes de aceitar a mensagem, já

que esta não é uma atitude cabível em canais como televisão e rádio. Depois dessa situação

o que acontece é a desistência de Mona em fazer parte do regime da sala de aula.

Combater inimigos é a nova palavra de ordem do projeto da semana. Mesmo que não

admitido verbalmente, o uso da exclusão fica obvio neste ponto da trama. A começar por

Karo que não está usando o uniforme de camisas brancas proposto na aula anterior e por

isso passa a ser quase que totalmente ignorada pelo professor. A partir daí a turma passa a

adotar este sistema de exclusão para com pessoas que não fazem parte do movimento.

A escolha do nome “A Onda” vem justamente no momento em que, mesmo com a saída de

Mona, a sala recebe novos alunos - suficientes para lotar a sala - seduzidos pela estranha

didática do professor. Um nome muito justo, já que define poéticamente o regime iniciado

dentro da sala, mas que já está crescendo e captando adeptos fora dos limites da classe.

Dentro da sala os alunos são incentivados a contribuírem com suas ações em prol da

“Onda” e todos demonstram-se extremamente entusiasmados em fornecer suas forças e

ideias para o crescimento do movimento. Naturalmente essas ações reverberam para o

exterior.

No grupo de teatro de alunos os sentimentos de união e disciplina já mostram seus efeitos

quando Bomber e Sinan defendem Tim das agressões de Anarquistas e quando Dennis, o

diretor da peça de teatro e um dos alunos mais entusiasmados com a Onda, assume uma

postura de pulso firme ao substituir Karo no papel principal e também proibir os

improvisos. Entretanto, a ação externa d’A Onda se mostra grande de verdade quando todos

os membros se reúnem à noite para fazer um arrastão e invadir toda a cidade. Adesivos e

pichações com o símbolo do grupo são espalhados pelas ruas e agora até mesmo quem não

participa da turma de Anarquia - como Kevin e o irmão de Mona - contribui para as ações

da Onda.

3.5. QUINTA-FEIRA: ESTÁ FORA DE CONTROLE

Os problemas acontecem longe da vigilância de Wenger que está inebriado com os

resultados positivos de seu experimento. Quem realmente enxerga os males causados pela

Onda são os que estão de fora da mesma e é aqui que finalmente a trama vai ajudar a

refletir uma nova forma de influência dos meios de comunicação: sua contribuição no

combate a um regime totalitário.

Para sustentar-se o totalitarismo usa os meios de comunicação por ele dominados a favor de

seus propósitos e faz com que seus ideais e métodos sejam bem vistos enquanto os

malefícios são disfarçados e ignorados. As funções manipuladoras são vistas em plena

atividade para justificar as aberrações das Ditaturas. Logo, a única forma de descontruir as

“verdades” impostas por uma ditadura é através de meios alternativos de comunicar,

provenientes de uma força alheia aos ideais do regime. Se todos os meios de comunicação

de massa estão sobre controle fica quase impossível se impor a ela.

Os professores se mostram insatisfeitos com as proporções das atividades da aula de

Autocracia, até a Sra. Wenger já se mostra preocupada e as ex-alunas Mona e Karo se unem

para usar um meio alternativo de alertar à escola do risco que A Onda representa.

No período deste dia o longa nem mesmo se prende a apresentar os acontecimentos dentro

da turma de Autocracia, com exceção de alguns minutos para mostrar a adoção de um sinal

que serve apenas para reforçar a imagem de união do grupo. Fora da sala, Tim demonstra

estar ainda mais afetado: saca uma arma numa discussão com um grupo de uma tribo

urbana anarquista e mais tarde se oferece como guarda-costas de seu Füher. Uma festa com

os membros d’A Onda marca o ápice do movimento enquanto Karo se arisca numa

tentativa de comunicar a escola sobre os efeitos nocivos do grupo.

3.5. SEXTA-FEIRA: É POSSIVEL UMA NOVA DITADURA NA ALEMANHA?

Já na sexta, Karo é frustrada em sua tentativa - feita na noite anterior - de espalhar folhetos

de repudio à Onda. Para o jogo do time de polo aquático há mais uma nova ação de poder

desmedido por parte dos membros d’A Onda: todos os alunos da escola são obrigados a

usar camisas brancas - que são o uniforme da Onda - e mais uma vez Karo e Mona se

recusam a participar. Ambas se lançam em uma última forma desesperada de informar a

escola sobre o risco que o movimento representa. Tentam distribuir folhetos para o público

do jogo e o resultado desta ação é uma grande briga dentro e fora da piscina. Mais tarde em

uma discussão Karo é agredida por seu namorado Marco que logo após o ocorrido vai a

procura do professor para clamar que este acabe com a A Onda por ser, em suas palavras,

uma “disciplina extremamente fascista”.

Finalmente os defeitos da Onda ficam visíveis aos olhos do Sr. Wenger e cabe a ele decidir

se A Onda tem que ser extirpada pelas óbvias consequências desastrosas ou se vale a pena

manter o experimento e transforma-lo em algo maior graças aos bons resultados na

disciplina dentro da sala de aula.

4. SÁBADO: SOBRE O FUTURO D’A ONDA

Em um auditório lotado de camisas brancas o Sr. Wenger discursa sobre os acontecimentos

daquela semana, usando as palavras dos alunos que pontuam os benefícios do movimento

na vida de cada um deles. Logo a seguir o Füher inflama a multidão com suas palavras ao

dizer que não é possível deixar que A Onda acabe ali e que é possível leva-la a um novo

nível e espalhar suas vantagens por toda a Alemanha.

Não é mais um experimento escolar, mas um verdadeiro regime ditatorial com plena adesão

de membros dispostos a sacrificar-se pela causa. Cada elemento que foi tratado até aqui

serviu de base para o que A Onda se tornasse a tsunami vista nessa cena. Marco, do meio

das cadeiras do auditório grita: “vocês não entendem o que ele está fazendo? Ele está

manipulando todos vocês.”. A resposta é hostil e Marco é arrastado até o palco. O Sr.

Wenger instiga seu público e pergunta o que deve ser feito com o traidor, deixando na mão

de Bomber o poder de decisão já que foi ele quem o arrastou até ali. O aluno diz que só fez

aquilo porque foi mandado e essa é a deixa para o professor mostrar o real motivo daquela

reunião extraordinária ao perguntar: “você mataria ele se eu mandasse?”.

“É isso que fazem na ditadura” completa o professor para a surpresa geral. Um vazio toma

conta do local enquanto a compreensão da loucura fascista começa a ser entendida pelos

jovens membros d’A Onda. Achar-se superior e ferir os que não concordam seria só o

começo. Prova disso é o último momento de Tim que não aguenta o estado de anomia que é

perder aquilo que dá sentido a sua vida e ali mesmo fere um colega e dá fim a própria vida

com sua arma. No fim, Rainer Wenger é levado pela polícia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. São Paulo, Editora Anablume, 2003.

TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem: Indagações sobre o século XX.

São Paulo, Editora Arx, 2002.

REFERÊNCIAS CINEMATOGRÁFICAS

DIE WELLE. Direção de Dennis Gansel. Produção de Nina Maag. Alemanha:

CONSTANTIN FILM PRODUKTION, 2002. 1 DVD (107 minutos).