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74 www.backstage.com.br REPORTAGEM Computador Computador s tecladistas Hiroshi Mizutani, atualmente com Lulu Santos, e Roberto Pollo, que viaja com Fer- nanda Abreu, têm intimidade com a informática na música. Hiroshi, por exemplo, em meados da década de 80, já ti- nha um Cassiotone de 4 oitavas com teclas pequenas, além de tocar um sintetizador Yamaha CS15 do primo Ricardo Mizutani, que o ensinou o básico de sintetizador. Roberto Pollo tinha 15 anos quando começou a tocar nas primeiras gigs no iní- cio da década de 90, com um sintetizador Korg M1. Os músicos conta- ram à Backstage um pouco da sua experi- ência com a informá- tica no palco e onde chegaram com ela. Se- rá que vale a pena ter computador no palco? Miguel Sá [email protected] Hiroshi Mizutani: mesclando tecnologias Mizutani conta que o seu setup aumentou e diminuiu no decorrer dos anos de acordo com os avanços tecno- lógicos. “No início trocava dois teclados de médio porte por um workstation de 76 teclas. Mas depois ia acrescen- tando teclados controlers e posteriormente os módulos que iam aumentando o setup. Em outra fase, comecei tirando os módulos. Era cansativo ter sempre que programar no rack e de- pois no teclado os PCs e CCs (Program Changes e Control Changes). Então, consegui elimi- nar aquele case de rack da estrada”. No entan- to, o tecladista come- çou a usar mais samples de efeitos e loops em samplers com saídas se- paradas para click na época em que tocou com Gabriel Pensador, subs- tituindo Dudu Trintim amplia as possibilidades dos músicos e da banda A informática já está presente no palco há muito tempo, nos teclados e seqüenciadores. No entanto, só há cerca de três anos os computadores começaram a ser usados nos palcos. Máquinas cada vez mais estáveis e softwares mais ágeis ampliam as possibilidades dos músicos nos shows O no palco

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74 www.backstage.com.br

REPORTAGEM

ComputadorComputador

s tecladistas Hiroshi Mizutani, atualmente com

Lulu Santos, e Roberto Pollo, que viaja com Fer-

nanda Abreu, têm intimidade com a informática

na música.

Hiroshi, por exemplo, em meados da década de 80, já ti-

nha um Cassiotone de 4 oitavas com teclas pequenas, além de

tocar um sintetizador Yamaha CS15 do primo Ricardo

Mizutani, que o ensinou o básico de sintetizador. Roberto Pollo

tinha 15 anos quando

começou a tocar nas

primeiras gigs no iní-

cio da década de 90,

com um sintetizador

Korg M1.

Os músicos conta-

ram à Backstage um

pouco da sua experi-

ência com a informá-

tica no palco e onde

chegaram com ela. Se-

rá que vale a pena ter

computador no palco?

Miguel Sá[email protected]

Hiroshi Mizutani: mesclando tecnologias

Mizutani conta que o seu setup aumentou e diminuiu

no decorrer dos anos de acordo com os avanços tecno-

lógicos. “No início trocava dois teclados de médio porte

por um workstation de 76 teclas. Mas depois ia acrescen-

tando teclados controlers e posteriormente os módulos que

iam aumentando o setup. Em outra fase, comecei tirando os

módulos. Era cansativo ter sempre que programar no rack e de-

pois no teclado os PCs e

CCs (Program Changes

e Control Changes).

Então, consegui elimi-

nar aquele case de rack

da estrada”. No entan-

to, o tecladista come-

çou a usar mais samples

de efeitos e loops em

samplers com saídas se-

paradas para click na

época em que tocou com

Gabriel Pensador, subs-

tituindo Dudu Trintim

amplia as possibilidades dosmúsicos e da banda

A informática já está presente no palco há muito tempo, nos teclados eseqüenciadores. No entanto, só há cerca de três anos os computadorescomeçaram a ser usados nos palcos. Máquinas cada vez mais estáveis esoftwares mais ágeis ampliam as possibilidades dos músicos nos shows

O

no palco

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REPORTAGEM

“que me ensinou vários macetes”. A

partir daí, o músico fez a sua primeira

tentativa de usar um computador no

palco usando um laptop Ibook 600mhz

e uma M Audio Quattro. Isto no ano

de 2001. “Achei que seria meu super

sampler com mais alguns synths que

estavam aparecendo no mercado, mas,

para mim, não deu certo”. Hiroshi fi-

cou mais dois anos sem usar com-

putadores no palco, mas conseguiu se

livrar dos racks usando uma work-

station Kurzweil K2600 com sampler

embutido. “Ele é muito bom. Tem vá-

rias funções e controlers para isso.

Bastava o K2600 e um teclado para

fazer qualquer gig”.

Entretanto, o músico não havia

desistido dos computadores. “Sabia

que o futuro dos softsynths era pro-

missor. Peguei um powerbook 1ghz e

fui testando aos poucos. Depois de ter

usado o simulador de Hammond B4

em estúdio, montei um PC (CPU-

pentium IV 3Ghz) para tocar apenas

órgão e alguns loops. Funcionou bem

nos ensaios, mas, no primeiro show, o

Windows não reconhecia a M-Audio

410 e em outro queimou a placa de

vídeo”. Hiroshi então optou por um

mini MacIntosh menos poderoso que

o PC, “porém com o sistema mais

confiável”. Ele usou – e usa até hoje –

um G4 de 1.42Ghz com 1Gb de Ram.

“Tem funcionado bem durante os

dois últimos anos, porém, faço um

uso bem restrito: Hammond B4, Pro

53 e 8 canais de áudio com as progra-

mações do show do Lulu Santos, mas,

com os novos computadores, tenho

certeza de que poderei ampliar o uso

de teclados, efeitos e áudios em BG

em um único computador de palco.

Atualmente o músico usa, no show

de Lulu Santos, um Roland XP-80

com a placa 60&70 controlado por

um teclado Alesis QS8. “Do XP 80 eu

uso Piano, Rhodes, Clavinet, Strings

e Pads. Uso um Roland JP 8000 para

Synths, Pads e Efeitos. No computa-

dor eu uso o B4II e o Pro 53”, diz. A

partir da máquina, ele ainda envia um

sinal MIDI para sincronizar o painel

de LEDs com os videoclips .

Roberto Pollo:

computador no centro

do sistema

Na primeira gig, com 15 anos,

Roberto usou o sintetizador Korg M1.

Depois partiu para o K2000, da Kurzweil,

mas, em casa, o músico já usava um

pouco da tecnologia que então ensai-

ava os primeiros passos. “Sempre fui

vidrado nas possibilidades do compu-

tador. Tinha a intuição de que aqui-

lo ia chegar a algum lugar. A ques-

tão é que hoje os teclados já não

acompanham a qualidade de som de

um computador. São 350 mega na

workstation para vários sons. No

computador, apenas para um som,

tenho dois giga”.

O músico afirma que o computador

começou a fazer parte da sua realidade

no palco há cerca de três anos, quando

tocou com Gabriel o Pensador. “Tecla-

do era mais confiável, mas começou a

mudar de uns três anos pra cá. Hoje já

tem menos latência”. Para Pollo, o

momento da mudança aconteceu com

um software: o Live. “Com ele, o com-

putador começou a ir atrás do músico”.

O tecladista ressalta que, no show do

rapper, há muito improviso, situação

na qual a flexibilidade do Live fica bas-

tante evidente. Com Fernanda Abreu,

Roberto Pollo usa o Logic Studio 8

para disparar os sons de piano elétrico

Wulitzer e Rhodes do Scarbee e o Live

7 para disparar os dez canais seqüen-

ciados de base do show e rodar os

sintetizadores. Roberto gosta do som

dos simuladores destes teclados analó-

gicos. “Para quem ouve, a diferença é

quase imperceptível. Ela é mais evi-

dente para quem toca”.

Os programas rodam em um Mac

Book Pro, 2.33 gHz, com três giga de

memória e monitor de 17 polegadas.

Ainda no terreno dos hardwares, o

instrumentista usa dois HD firewire

800 Little Big Disk para rodar no

computador os samplers do disco de

Lulu Santos e Hiroshi Mizutani

Roberto Pollo

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REPORTAGEM

Fernanda Abreu. No total, ele gerencia pelo computador

dez canais de áudio mais as livrarias de timbre do HD in-

terno e externo. Roberto usa a porta firewire 800 para ligar

o HD e a firewire 400 para a interface RME.

Roberto Pollo ressalta que é necessário fazer algu-

mas escolhas para que o computador rode bem. Os ar-

quivos de áudio da base, por exemplo, ele converteu de

24 bits para 16. “Faço uma matemática entre o que o

equipamento pode oferecer e as necessidades artísti-

cas”, coloca o músico. Ele ainda toma muitos cuidados

com a manutenção do computador, além de carregar a

máquina sempre com ele. “Não despacho o computa-

dor, sempre me preocupo com a máquina, faço desfra-

gmentação”, enumera o tecladista. Ele hoje tem um

setup com teclados Yamaha S80, Korg Kontrol 49 e

Kurzweil K2000VP. O hardware “informático” é com-

posto por interface de áudio RME Fireface 400 e Emu

Darwin (backup e conversor ótico quando necessário),

além do já citado computador Apple Macbook pro 2.33

(17") 3gb RAM com HD firewire 800 Little Big disk

(2x 7200rpm RAID) com sistema OS 10.4.11. Os

softwares são Apple Logic 8 (EXS24 & EVD6), Able-

ton Live 7, Native instruments (Reaktor, B4 &

Pro53), Scarbee KGB & VKFX, Refx Vanguard, Pre-

dator, Ohmboyz e Sugarbytes Artillery.

Sempre computador?

Dos primeiros teclados digitais e seqüenciadores da

década de 80 e início dos 90 aos poderosíssimos com-

putadores responsáveis pelos timbres de teclados e

verdadeiras bandas virtuais nos palcos, muito se evo-

luiu nos últimos 20 anos. Mas não é em qualquer traba-

lho que vale a pena ligar os computadores. Dependen-

do da gig, pode ser um tiro de escopeta na formiga. Afi-

nal, se o show é pequeno, pode bastar um bom sinte-

tizador ou um sampler com bons timbres, ou até mes-

mo um piano ou um Hammond original, por exemplo.

Mas quando se fala de 10 pistas de instrumentos grava-

dos tocando junto com a banda, além dos timbres de

teclado, uma máquina potente com bons softwares ro-

dando pode ser a melhor solução.