compreensão e produção de textos do curso positivo

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COMENTÁRIO GERAL DA PROVA DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS Tecnicamente, quanto a gêneros e temas, a prova mantém o padrão já conhecido, sem novidades, sem sustos e sem surpresas – boas ou más.Lamentavelmente. No ano passado, o exame foi aberto com uma questão inovadora, a transformação de um poema em notícia. Nesta prova, nada de novo: as modalidades de sempre sobre temas de sempre – meio ambiente (duas questões) e TICs. Sobraram uma questão sobre ética na ciência (tema e autor repetitivos, em texto de 2013!) e uma questão interessante sobre brasilidade, ainda que redundante com relação ao ano passado. Outro ponto a ser considerado, além da ausência de maior abrangência temática, é a falta de atualidade nas questões, uma vez que a prova foi "fechada" em setembro e deixou de lado relevantes contextos de discussão mais recentes. Julgamos imperativo a UFPR dar-se conta de que o seu exame não é apenas uma prova de seleção. A UFPR precisa assumir a responsabilidade de ser um dos principais norteadores de diretrizes para o Ensino Médio, não só em Redação, mas também em Língua Portuguesa e em Literaturas de língua portuguesa. Professores de Compreensão e Produção de Textos do Curso Positivo. 1 COMPR. E PRODUÇÃO DE TEXTOS

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Page 1: Compreensão e Produção de Textos do Curso Positivo

COMENTÁRIO GERAL DA PROVA DE COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS

Tecnicamente, quanto a gêneros e temas, a prova mantém o padrão já conhecido, sem novidades, semsustos e sem surpresas – boas ou más.Lamentavelmente. No ano passado, o exame foi aberto com umaquestão inovadora, a transformação de um poema em notícia. Nesta prova, nada de novo: as modalidades desempre sobre temas de sempre – meio ambiente (duas questões) e TICs. Sobraram uma questão sobre éticana ciência (tema e autor repetitivos, em texto de 2013!) e uma questão interessante sobre brasilidade, aindaque redundante com relação ao ano passado.

Outro ponto a ser considerado, além da ausência de maior abrangência temática, é a falta de atualidadenas questões, uma vez que a prova foi "fechada" em setembro e deixou de lado relevantes contextos dediscussão mais recentes.

Julgamos imperativo a UFPR dar-se conta de que o seu exame não é apenas uma prova de seleção. AUFPR precisa assumir a responsabilidade de ser um dos principais norteadores de diretrizes para o EnsinoMédio, não só em Redação, mas também em Língua Portuguesa e em Literaturas de língua portuguesa.

Professores de Compreensão e Produção de Textos do Curso Positivo.

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VERSÃO 01

A personagem de uma charge de Benett (Gazeta do Povo, 08/07/2015), pequenina diante de um

gigantesco smartphone, observa-se, com tristeza, refletida na tela. O plano verbal esclarece: Narciso.

Bastante pertinente a comparação com o mito. Vivemos sim tempos narcísicos – tão voltados a nós

mesmos estamos. Contudo, o Narciso tecnológico – que posta selfies a todo momento, conta com um

espelho de diversas faces, que lhe permite contemplar-se, ser contemplado e aferir, por meio dos “likes”

recebidos, o grau de aprovação da imagem – corresponde a um “Narciso às avessas”, expressão

cunhada pelo dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues, para definir os que não encontram pretextos

para a autoestima. Voltam-se para si mesmos, mas precisam que seu perfil editado seja apreciado no

Twitter ou no Facebook. Caso contrário, faz-se imperativo postar nova edição.

VERSÃO 02

"Narciso acha feio o que não é espelho", já cantava Caetano Veloso bem antes da invenção do telefone

celular, que virou smartphone e que mudou completamente as formas de interação social. A relação com

o outro praticamnete inexiste. Essa é a intertextualidade a que o cartunista Benett (Gazeta do Povo,

08/07/15) em charge que exibe um homem infeliz contemplando-se num smartphone.

Hoje, entre os que visitam o Louvre, em Paris, poucos aproveitam a oportunidade de olhar - de

perto e ao vivo - uma obra de arte secular, como a Monalisa de da Vinci.. Ao contrário, dão as costas à

tela para fazer uma "selfie". O "bobo-alegre" não consegue se libertar de seu próprio umbigo mortal

nem diante de algo imortal.

Não deve ser coincidência que teses humanistas coletivistas, na política, têm perdido espaço para

ideologias individualistas. O mundo do espelho, a meu ver, está ficando muito mais feio .

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VERSÃO 1

É de Nelson Rodrigues a crítica de que o Brasil sofria de um “complexo de Vira-Latas”, nome mais a

seu gosto para o que historiadores consideram “síndrome de país colonizado”. O fato é que dos colares e

quinquilharias portuguesas até as camisetas “pop’s” da balada, bom é o que vem de fora, o importado. Já as

mazelas – tão comuns a tantos outros países – essas sim ganham nacionalidade: brasileira. Corrupção?

Nasceu com o país! Jeitinho? Brasileiro safado! Pouco se lembram de Berlusconi ou da eficiência dos E V A

em burlar leis internacionais. E a atitude não é sutil. Para o Observatório da Imprensa, o estudante de

Oxford, Adam Smith, questiona por que o brasileiro não altera o sistema. Ora, não sabe que tal poder, só

com disciplina japonesa. Já o brasileiro, esse seguirá, complexado e virando latas.

VERSÃO 2

Há em Sampa mulheres com o cabelo descolorido. Complexo de vira-lata? Também há em Tóquio. Há

negras americanas lindas e famosas, como Beyoncé, com o cabelo descolorido. Estigmatizam-nos como portadores

de baixa autoestima e esperam que a solucionemos, como faz o estudante de Oxford Adam Smith

(pragmatismo.com.br – 14/05/2015). Ora, seria por falta de amor próprio que comemos hambúrguer do Mac

em vez de tapioca? Que tomamos coca em vez de suco de caju? Não estariam esquecendo o imperativo da

grande indústria do mundo globalizado? Da grande publicidade? Orgulhando-nos, sim, paulatinamente da

nossa brasilidade: saltou, segundo o IBGE, em cerca de 5 p. p o número de auto declarados pardos; parecem

nunca ter sido tão abundantes as vastas cabeleiras “black power” em nossas ruas. Deixem de classificar-nos!

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VERSÃO 1

A questão está nas ruas há tempos e tem sido plataforma (e por que não pesadelo?) de alguns

políticos brasileiros na tentativa de civilizar um pouco mais a ideia de mobilidade urbana e trânsito no

Brasil.

Alternativas econômicas, saudáveis ou politicamente corretas, o transporte coletivo - em sua

maior capacidade de abrangência - e as bikes - não poluentes e um instrumento de vida mais

saudável - poderiam parecer a solução óbvia em meio ao oceano de carros que estrangula a malha

viária brasileira.

Agora, vá propor isso aos que sofrem o dia a dia na precariedade de ônibus, trens e metrôs em

nossas cidades ou precisa pedalar sob o olhar raivoso que vê o ciclista como um estorvo a quem,

segundo a propaganda, "como todo brasileiro, ama carro". "Carona solidária", "carro em casa" ainda

soam apenas como um germe de boa intenção e concretude. A diferença entre os modais é clara; a

indiferença é a questão.

VERSÃO 2

O infográfico publicado em Planeta Sustentável, da Abril, traz uma pirâmide que compara o espaço

utilizado por três meios diferentes (do topo para baixo: ônibus, bicicletas e automóveis) para transportar 30

pessoas. A diferença-física-é enorme. Não é à toa que cidades como Paris e Madri adotaram neste ano políticas

de restrição à circulação de veículo. Mas, para que novos planos de mobilidade urbana funcionem, não só nas

terras das prefeitas Hildalgo e Carmena, devem-se levar em conta aspectos positivos e negativos da utilização

de cada tipo de veículo, bem como investir em programas de compartilhamento, como já vem ocorrendo na

Europa. Nota-se que opção pelo transporte coletivo, quando de qualidade , ou seja, seguro e prático, garante

menos congestionamento e poluição. Para os que se interessam também pelo exercício, há a possibilidade da

utilização da bicicleta, que prevê visitas menos frequentes ao médico, mas necessita, além de um ajudinha do

clima, de uma malha de ciclovias adequada, abrangente e livre de assaltos. O automóvel é o meio mais

poluente e complicador do trânsito, mas pode ser utilizado em projetos de carona solidária e, não se pode

esquecer, ainda é largamente adotado por idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais.

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VERSÃO 1

Liberdade vigiada. Basicamente essa é a conclusão que se pode extrair da entrevista do astrofísico

Marcelo Gleiser ao jornal Zero Hora (13/10/13). Provocado a discorrer sobre os limites éticos à ciência,

Gleiser parte do livro “Frankenstein”, de Mary Shelley, para discutir que muitas vezes estamos

tecnologicamente prontos, mas não moralmente, para realizar.

Embora defenda a liberdade total para a pesquisa científica, paradoxalmente o cientista entende

que certas questões, como a clonagem, devem ser monitoradas. Para tanto, defende uma união entre o

poder Judiciário e um corpo de notáveis indicados pelo governo para decidir e regulamentar limites

éticos e morais à ciência e à tecnologia. Apesar disso, conclui lamentando que a liberdade, em algum

momento, há de prevalecer sobre quaisquer formas de controle.

VERSÃO 2

A partir de uma referência à obra “Frankenstein”, cujo enredo explora os limites do

controle humano sobre a experimentação científica, o físico Marcelo Gleiser discute a

ética na ciência em entrevista ao jornal Zero Hora (13/10/2013). Ele evidencia a

problemática do limite moral nas pesquisas. Defende que, embora não haja maturidade

moral para certas questões, deve ser garantida uma total liberdade à pesquisa científica.

Além disso, acrescenta o professor, necessário será um controle ou monitoramento por

órgãos especiais, formado pelo Judiciário e um corpo de cientistas credenciados para

estabelecer as regras.

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VERSÃO 1

“Um inadiável acerto de contas com a Mãe Terra”. Eis o título – e a tese – do artigo do

Frei Leonardo Boff publicado no Jorbal do Brasil online. Boff se pauta na encíclica do Papa Francisco

para fundamentar sua defesa de que todas as pessoas devem envolver-se na solução dos problemas

ambientais, o que o pontífice considera uma “conversão ecológica”. Aqui, ambos compartilham da

premissa de que a forma como se vê ecologia deve ser alterada, pois colocá-la como dependente ou a

serviço do homem, e tão somente ligado ao ambiental, impede avanços. Boff, inclusive, elogia a atitude

do Santo Padre de não isentar católicos e a própria Igreja de culpa pela atual situação e corrobora que

somente ser racional frente aos problemas causados pelo homem à natureza não basta. Destaca o

teólogo brasileiro a fala do Papa Francisco, para quem só com “paixão” são possíveis alterações de

comportamento.

VERSÃO 2

É preciso quebrar o paradigma da modernidade, segundo o qual a natureza está a serviço do

homem, que destruiu seus bens naturais. Isso é o que defende o teólogo Leonardo Boff no artigo “Um

inadiável acerto de contas com a Mãe Terra” (site do Jornal do Brasil). Boff opina sobre a encíclica do

Papa Francisco sobre “O cuidado da Casa Comum”. Para o articulista, o Papa percebeu a urgente

necessidade de todos cooperarmos com a Terra e propôs, além da economia “verde”, a ecologia “integral”,

em uma visão holística. Boff compactua com a encíclica do Papa. Nela, o Santíssimo faz um apelo à

emoção – responsável pela inovação – em detrimento da razão. Sua encíclica tem como objetivo atingir

toda a humanidade (não só os cristãos), conclamando a um novo estilo de vida, o que exige uma

revolução no modo de produção e do consumo. O articulista deixa claro que sua Santidade não exime

a Igreja de culpa, visto que o longo período teocêntrico levou à visão antropocêntrica, tão fortemente

criticada em sua encíclica.

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