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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Engenharia Comportamento Mecânico e Durabilidade de Betão com Agregados Reciclados de Resíduos de Vidro (Glasscrete) Sara Daniela Esteves de Brito Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil: Estruturas e Construção (Ciclo de estudos integrado) Orientador: Prof. Doutor Luiz António Pereira de Oliveira Covilhã, Outubro de 2016

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UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Engenharia

Comportamento Mecânico e Durabilidade de

Betão com Agregados Reciclados de Resíduos de

Vidro (Glasscrete)

Sara Daniela Esteves de Brito

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil: Estruturas e Construção

(Ciclo de estudos integrado)

Orientador: Prof. Doutor Luiz António Pereira de Oliveira

Covilhã, Outubro de 2016

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À minha avó Céu

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Agradecimentos

Ao Prof. Doutor Luiz António Pereira de Oliveira (orientador cientifico deste estudo), pela sua

disponibilidade, dedicação, colaboração que sempre demonstrou ao longo da elaboração deste

estudo, assim como todos os conhecimentos transmitidos.

À minha mãe pela oportunidade, pelos sacrifícios que fez ao longo do meu percurso académico,

por acreditar em mim e me ajudar a ultrapassar os obstáculos, pela dedicação e pelo amor

incondicional sempre demonstrados.

Às minhas irmãs pelo apoio e incentivo durante esta fase, pelo carinho e alegrias partilhadas

em todos os momentos.

A toda a minha família, pelo apoio incondicional.

Aos meus colegas e amigos de curso que contribuíram para o meu percurso académico, pelo

companheirismo e motivação, por tornarem esta jornada mais divertida e feliz.

Ao Tomás pela colaboração na elaboração dos ensaios presentes neste estudo, assim como o

companheirismo e apoio demonstrados ao longo deste percurso académico.

Aos técnicos do departamento de Engenharia Civil da Universidade da Beira interior, Sr. Felix

por toda a ajuda prestada durante os ensaios laboratoriais.

Agradeço também a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a minha formação

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Resumo

A sustentabilidade ambiental é cada vez mais um tema discutido, a preocupação com o meio

ambiente é crescente. Como reduzir o uso de matérias-primas e o que fazer com os resíduos

provenientes da atividade humana? São questões que têm sido exploradas ao longo dos tempos.

O setor da construção civil tem-se focado na inserção de resíduos sólidos para a produção de

betões, travando assim o crescente depósito de materiais em aterro. Esta prática amiga do

ambiente dá nova vida a materiais como o vidro, cerâmicas e até mesmo resíduos provenientes

de demolições.

A durabilidade das estruturas é também uma preocupação, associada à precoce degradação

observadas nas estruturas. Nos últimos anos a Construção Civil tem se voltado para a extensão

da vida útil das estruturas de betão, assim como medidas que permitam aumentar a

durabilidade das mesmas.

Assim, este estudo debruçou-se sobre o comportamento mecânico e a durabilidade de betão

contendo agregados reciclados de resíduos de vidro. Onde foram substituídos tanto agregados

grossos como agregados finos. Deste modo, foram produzidos cinco tipos diferentes de betão,

um betão de referência e os restantes com substituição de agregados finos e grossos, formando

combinações: 50-50%, 50-100%, 100-50%, 100-100%.

Os resultados obtidos apresentam apenas pequenas discrepâncias, concluindo-se que é viável

tecnicamente, o uso de agregados reciclados no betão de forma racional e em atenção as

propriedades desejadas.

Palavras-chave

Durabilidade; Propriedades do Betão Endurecido; Propriedades do Betão Fresco; Agregados de

Resíduo de Vidro

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Abstract

Environmental sustainability is increasingly a subject discussed, the concern with the

environment is increasing. How to reduce the use of raw materials and what to do with the

wastes from human activity? These matters have been explored throughout the ages.

The construction sector has focused on inserting solid wastes for the production of concrete,

stopping the increase of materials in landfill. This environmentally friendly practice gives new

life to materials such as glass, ceramics and even waste from demolition.

The durability of structures is also a concern, associated with the degradation observed in early

structures. In recent years, Construction has been returned to the extension of the useful life

of concrete structures, as well as measures to increase the durability of the same.

Therefore, this study has on the mechanical behavior and durability of concrete containing

recycled aggregates of glass waste. Where were replaced both aggregated as thick as thin

aggregates. In this way, were produced five different types of concrete, a reference concrete

and the others with thick and thin aggregates replacement, forming combinations: 50-50%, 50-

100%, 100-50%, 100-100%.

The results obtained show only minor discrepancies, concluding that it is technically reliable,

the use of recycled aggregates in concrete in a rational way and note the desired properties.

Keywords

Durability, Properties of Hardened Concrete, Properties of Fresh Concrete, Glass Waste Aggregates.

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Índice

Agradecimentos ................................................................................................ v

Resumo ........................................................................................................ vii

Palavras-chave ............................................................................................... vii

Abstract ........................................................................................................ ix

Keywords ....................................................................................................... ix

Índice ............................................................................................................ xi

Índice de Figuras .............................................................................................. xiii

Índice de tabelas ............................................................................................... xv

Lista de Acrónimos ......................................................................................... xvii

1. Introdução ................................................................................................ 1

1.1. Enquadramento do tema ......................................................................... 1

1.2. Objetivos e justificação do tema ............................................................... 3

1.3. Organização da dissertação ...................................................................... 4

2. Vidro como material .................................................................................... 5

2.1. Reciclagem de vidro em Portugal ............................................................... 7

2.2. Betão com agregados de vidro .................................................................. 9

2.3. Características do betão com agregados de vidro ......................................... 10

2.3.1. Trabalhabilidade ........................................................................... 10

2.3.2. Propriedades mecânicas .................................................................. 11

2.3.2.1. Resistência à compressão .......................................................... 11

2.3.2.2. Resistência à tração ................................................................ 13

2.3.3. Propriedades de Durabilidade ........................................................... 14

2.3.3.1. Absorção de água por capilaridade .............................................. 14

2.4. Reações álcalis-agregado....................................................................... 15

2.4.1. Reações álcalis-sílica ..................................................................... 16

2.4.2. Medidas mitigadoras das Reações Álcalis-Sílica ...................................... 19

2.4.2.1. Cinzas volantes ...................................................................... 20

2.4.2.2. Metacaulino .......................................................................... 23

2.4.2.3. Pó de vidro ........................................................................... 24

3. Procedimento experimental ......................................................................... 25

3.1. Introdução ........................................................................................ 25

3.2. Materiais .......................................................................................... 26

3.2.1. Cimento ..................................................................................... 26

3.2.2. Agregados ................................................................................... 26

3.2.2.1. Agregados naturais .................................................................. 26

3.2.2.2. Agregado de vidro ................................................................... 27

3.2.3. Água de amassadura ...................................................................... 28

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3.2.4. Adições ...................................................................................... 28

3.2.5. Adjuvante ................................................................................... 28

3.3. Caracterização dos materiais ................................................................. 29

3.3.1. Análise granulométrica ................................................................... 29

3.3.2. Composição do betão ..................................................................... 33

3.4. Procedimento de mistura ...................................................................... 35

3.5. Ensaios do betão no estado fresco ........................................................... 36

3.5.1. Ensaio do abaixamento do tronco de cone (slump test) ............................ 36

3.5.2. Ensaio da mesa de espalhamento (mesa de Graff) .................................. 37

3.5.3. Medição da massa volúmica ............................................................. 38

3.6. Ensaios do betão no estado endurecido ..................................................... 39

3.6.1. Medição da massa volúmica ............................................................. 39

3.6.2. Determinação da velocidade ultrassónica e do modulo de elasticidade dinâmico

.............................................................. ................................40

3.6.3. Ensaio de resistência à compressão .................................................... 40

3.6.4. Absorção por capilaridade ............................................................... 42

4. Apresentação e discussão dos resultados .......................................................... 43

4.1. Ensaios do betão fresco ........................................................................ 43

4.1.1. Consistência do betão pelo abaixamento do tronco de cone ...................... 43

4.1.2. Ensaio da mesa de espalhamento ...................................................... 44

4.1.3. Determinação da massa volúmica ...................................................... 46

4.2. Ensaios do betão endurecido .................................................................. 47

4.2.1. Determinação da massa volúmica ...................................................... 47

4.2.2. Ensaio de ultrassom ....................................................................... 49

4.2.3. Ensaio de compressão .................................................................... 51

4.2.4. Absorção de água por capilaridade ..................................................... 52

5. Conclusões .............................................................................................. 55

6. Referências Bibliográficas ............................................................................ 57

7. Anexos ................................................................................................... 61

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Índice de Figuras

Figura 2.1. Composição do vidro comum segundo PRS .................................................. 7

Figura 3.1. Pedrisco e brita utilizados no estudo ...................................................... 26

Figura 3.2. Britador de mandíbulas ....................................................................... 27

Figura 3.3. Vidro após ser reduzido a partículas ....................................................... 27

Figura 3.4. Estufa e peneiro utilizados neste estudo .................................................. 29

Figura 3.5. Curva granulométrica característica da brita de vidro ................................. 30

Figura 3.6. Curva granulométrica característica da areia de vidro ................................. 31

Figura 3.7. Aspecto do betão após mistura ............................................................. 35

Figura 3.8. Procedimento do ensaio do tronco de cone ............................................. 36

Figura 3.9. Mesa de espalhamento ....................................................................... 37

Figura 3.10. Betão nos moldes por compactar e compactado ....................................... 39

Figura 3.11. Corpo de prova em perspectiva ........................................................... 40

Figura 3.12.Vista em planta das direções das medições .............................................. 40

Figura 3.13. Prensa utilizada para os ensaios de compressão ....................................... 41

Figura 3.14. Rotura do tipo normal ....................................................................... 41

Figura 3.15. Corpos de prova durante o ensaio de capilaridade .................................... 42

Figura 3.16. Pesagem dos corpos de prova .............................................................. 42

Figura 4.1. Consistência pelo método do abaixamento do tronco de cone ....................... 43

Figura 4.2.Abaixamento do tronco de cone para o betão de referência e para as misturas com

agregados de vidro .......................................................................................... 44

Figura 4.3. Obtenção do valor do diâmetro do teste da mesa de espalhamento................. 44

Figura 4.4. Consistência pelo método da mesa de espalhamento .................................. 45

Figura 4.5. Massa volúmica média do betão fresco .................................................... 46

Figura 4.6. Tipos de misturas .............................................................................. 47

Figura 4.7. Massa volúmica média do betão endurecido ............................................. 47

Figura 4.8. Velocidade média ............................................................................. 49

Figura 4.9. Módulo de elasticidade dinâmico ........................................................... 50

Figura 4.10. Resistência média à compressão dos diferentes tipos de misturas. ................ 51

Figura 4.11. Absorção de água por capilaridade ....................................................... 52

Figura 4.12. Coeficiente de capilaridade ................................................................ 53

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Índice de Tabelas

Tabela 2.1. Fases da sílica nos vários tipos de agregado ............................................................................ 16

Tabela 3.1. Granulometria característica do agregado de brita de resíduo de vidro ................................. 32

Tabela 3.2. Granulometria característica do agregado da areia de resíduo de vidro ................................ 32

Tabela 3.3. Teores de granulometria para cada tipo de agregado ............................................................. 33

Tabela 3.4. Traço, em massa (kg), da mistura do betão de referência....................................................... 33

Tabela 3.5. Tipo de misturas com as devidas quantidades e substituições ............................................... 34

Tabela 4.1. Qualidade do betão em função da velocidade de propagação dos ultra-sons. Fonte:

Whitehurst (1966) e Rincon et al (1998) .................................................................................................... 49

Tabela 4.2. Velocidade de propagação de ultra-som do estudo de Mardani-Aghabaglou et al. (2014). ... 50

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Lista de Acrónimos

APA Agência Portuguesa do Ambiente

ASTM American Society for Testing and Materials

NP Norma Portuguesa

PRS Portal dos Resíduos Sólidos

RAA Reações Álcalis-Agregado

RAS Reações Álcalis-Sílica

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

RU Resíduos Urbanos

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1. Introdução

1.1. Enquadramento do tema

O Homem tem se desenvolvido ao longo do tempo, adaptando-se ao meio que o rodeia aproveitando

aquilo que o mesmo lhe dá. No início da sua sedentarizarão o Homem começou por construir abrigo para

se proteger dos predadores e do frio. No entanto à medida que o Homem evoluía as suas necessidades

também cresceram. As construções simples usadas para abrigo passaram a providenciar proteção,

conforto e lazer.

Com a crescente evolução do Homem cresceu também a necessidade de consumo de matérias primas e

consequente produção de resíduos de modo a satisfazer as suas necessidades. Hoje em dia, os produtos

resultantes das suas atividades tanto social como industrial são imensos, desde embalagens de vidro,

plástico, papel, etc. Os denominados de resíduos têm aumentado com o avanço da atividade industrial

e com a melhoria das condições de vida, provenientes tanto da construção como do uso doméstico de

produtos, resultado das atividades diárias, quer pela utilização inadequada dos materiais. Surge assim a

necessidade reaproveitar ao máximo os bens de forma a criar uma sustentabilidade ambiental, seja

reutilizando ou reciclando.

Um relatório do Banco Mundial (What a Waste: A Global Review of Solid Waste Management), afirma que

no mundo são produzidos 1.3 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano, e que em 2025

este valor atingirá os 2.2 bilhões de toneladas.

De acordo com a APA (Agencia Portuguesa do Ambiente), em Portugal cada habitante produz, em média,

1.2 Kg de resíduos por dia, o que corresponde a uma produção média anual de 452 Kg. Em 2008 a produção

de resíduos sólidos urbanos ultrapassou 5 milhões de toneladas das quais 6% era constituído de vidro. Em

2014 a produção de RU foi cerca de 4.719 mil toneladas. (APA, 2014)

A excessiva produção de resíduos urbanos e o crescente aumento de depósitos em aterros, a falta de

tratamento e a eliminação levanta um grande problema. É necessário consciencializar a população sobre

a crescente utilização dos recursos e matérias-primas que colocam em causa a sustentabilidade dos

ecossistemas. A aplicação de medidas como reduzir a produção destes resíduos, reutilizar e reciclar é

fundamental para a proteção e conservação do meio ambiente. Por vezes o tratamento e eliminação dos

resíduos podem-se revelar um verdadeiro problema.

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O PERSU 2020 (Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos) de modo a combater o deposito de resíduos

urbanos estabeleceram metas para 2020 como preparação para a reutilização e reciclagem mínima de

50% dos RU, valorização de resíduos de embalagens. Incentivando a reciclagem e/ou a reutilização dos

mesmos, passando por reduzir a produção de RU, aumentar e melhorar a rede de recolha seletiva,

eliminar progressivamente a deposição direta de RU em aterro, são apenas alguns eixos de atuação.

O vidro como recipiente de vários tipos de consumíveis, em princípio, é 100% reciclável. A sua inserção

na produção de novas embalagens de vidros é perfeitamente possível e é utilizada na indústria vidreira.

Porém, a indústria vidreira se interessa em boa parte pelo resíduo de vidro homogêneo em termos de

cores. Também se interessa pelos resíduos disponíveis nas suas proximidades tornando assim a reciclagem

um benefício económico. A questão coloca-se quando a coleta do resíduo é heterogênea, aglomerando

todas as cores possíveis, e também quando essa coleta é relativamente distante das regiões industriais.

Essas situações desestimulam a reciclagem do vidro enquanto matéria-prima da indústria vidreira,

heterogeneidade de cores e preço de transporte.

Na construção civil o betão desempenha um grande papel devido a sua versatilidade e adaptabilidade,

o seu custo é relativamente reduzido e o seu uso tem vindo a crescer em todos os tipos de obras, entre

pontes, barragens, tuneis, residências, etc. As suas propriedades como a durabilidade, a disponibilidade

dos seus materiais, e a possibilidade de incorporar materiais resultantes da indústria, reutilizando-os,

são algumas das inúmeras vantagens.

Na tentativa de contribuir para o uso local do vidro na indústria de construção, como componentes em

compósitos cimentícios, esta dissertação apresenta um estudo de caráter experimental com o intuito de

observar os efeitos e os limites da substituição do vidro tanto como agregados finos e grossos nas

propriedades do betão.

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1.2. Objetivos e justificação do tema

A crescente utilização de matérias-primas e a crescente produção de resíduos urbanos é um problema

atual. Neste contexto surge o interesse em estudar a inserção de vidro como agregado na fabricação de

betão, sobretudo os provenientes da reciclagem de resíduos urbanos e industriais como material

alternativo.

O presente estudo tem como objectivo analisar e avaliar o comportamento dos betões produzidos com

agregados produzidos a partir de resíduo de vidro. O estudo é parte de um trabalho iniciado nos

Laboratórios de Construção em atenção à uma linha de investigação desenvolvida no seio do C-MADE, a

qual visa a valorização e resíduos urbanos e industriais como materiais de construção. Em caráter

complementar aos estudos precedentes desenvolvidos em forma de argamassas, este se ocupa de betões

normais nos quais os agregados finos e grossos convencionais são substituídos por resíduos de vidro. Desta

maneira o principal objetivo é o de conhecer a influência dos agregados de vidro nas propriedades do

betão nos estados fresco e endurecido. Finalmente pode-se argumentar que as informações obtidas são

importantes no sentido de viabilizar o incremento da reciclagem do vidro e de contribuir para a

sustentabilidade da construção.

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1.3. Organização da dissertação

A presente dissertação encontra-se estruturada em 5 capítulos elaborados da seguinte forma:

O primeiro e presente capitulo está reservado à descrição dos objectivos e da estrutura que constituem

o presente trabalho.

Assim o segundo capitulo dedica-se a um levantamento do estado de arte, apresentando as propriedades

do vidro, assim como a sua história, as características do betão com agregados de vidro.

O terceiro capitulo descreve o programa experimental desenvolvido, nomeadamente ao nível dos ensaios

realizados para observação das propriedades do betão no estado fresco e no estado endurecido.

No quarto capitulo apresentam-se os resultados obtidos durante o estudo experimental, tentando extrair

conclusões, aferindo a variação de desempenho dos betões com o aumento da incorporação dos

agregados de vidro reciclados.

No capítulo cinco apresentam-se as principais conclusões extraídas do estudo realizado.

O documento contém ainda um índice geral, uma listagem de figuras, tabelas e uma listagem de

referências bibliográficas.

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2. Vidro como material

Julga-se que o vidro já era conhecido há pelo menos 5.000 anos antes de Cristo, e que fora descoberto

de forma casual, através das fogueiras feitas na praia, pelos fenícios, sírios e babilônios. No entanto já

na Idade da Pedra Polida (10.000 a 5.000 a.C.) eram queimadas peças cerâmicas com o intuito de

aumentar a resistência mecânica do material. As peças de vidro mais antigas confeccionadas pelo Homem

datam de 7.000 a.C., na Mesopotâmia, afirma Smith (1964) citado por Barros (2010).

A partir de 1.500 a.C. no Egipto o vidro deixou de ser usado como adorno e iniciou-se a produção de

recipientes. Por volta de 300 a.C. foi descoberto o sopro, que consistia em colher uma porção pequena

do material em fusão e com a ponta de um tubo soprar, a partir daí ficou mais fácil a produção de

recipientes e frascos. Hoje em dia, 2000 anos depois ainda se utiliza este princípio.

Em Portugal a indústria do vidro surge no século XV, com uma pequena fábrica na freguesia S. Pedro de

Villa Chã, protegida pelo rei D. João II.

A American Society for Testing and Materials (ASTM) define o vidro como um material inorgânico,

homogêneo e amorfo, composto basicamente por sílica ou dióxido de silício (SiO2), carbonato de cálcio

(CaCO3) e carbonato de sódio (Na2CO3). A inclusão destes dois aditivos reduz a temperatura de fusão da

areia, diminuindo a quantidade energia consumida processo.

A produção do vidro resulta da fusão das matérias-primas: areia, barrilha e calcário, por vezes são

utilizados grandes parte de cacos de vidro reciclados, de modo a reduzir o uso de matérias-primas,

minimizando a energia necessária para a produção da mesma quantidade de vidro.

A temperatura necessária para a fusão do vidro está entre os 1000ºC e os 1200ºC, já a temperatura

necessária para fundir a areia ronda os 1700ºC, sendo um processo vantajoso para o ambiente e para a

economia.

A sua estrutura molecular amorfa permite-lhe reciclar infinitas vezes sem que se perca a qualidade,

tornando-o assim o único produto 100% reciclável. Para além de ser um produto cujo tempo de vida é

indeterminável, possui outras características como:

Transmissão de luz

Recurso abundante

Baixo nível de condutividade

Isolante térmico

Impermeável

Dureza

Não poluente

Baixa densidade

Resistência ao fogo

Durabilidade

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As suas propriedades mecânicas são bastante apreciadas neste material, possui uma resistência á

compressão cerca de 1000 MPa, uma resistência à tração entre 300 a 700 MPa enquanto que a

resistência à flexão ronda os 40 MPa, afirma Barros (2010).

A sua composição varia de acordo com a sua finalidade, pequenas alterações podem proporcionar

especificas propriedades, como por exemplo a cor, no entanto, a sua natureza química e

mineralógica obriga ao estudo do comportamento relativamente à reação álcalis-sílica (RAS).

Segundo Shi e Zheng (2007), o vidro pode ser classificado em diferentes categorias devido a sua

composição, deste modo temos: sílica vítrea (usados em laboratórios de alta tecnologia), vidros

sodo-cálcios (usados na fabricação de recipientes, lâmpadas, vidro plano), vidros de borossilicato

(usado em utensílios domésticos, lâmpadas e vidros resistentes ao fogo), vidros de chumbo (usados

como protetores de radiação), silicatos alcalinos, vidros de bário e vidros de silicato de alumínio.

O vidro mais comercializado é vidro sodo-cálcio, devido ao seu elevado consumo populacional em

artigos como garrafas, copos, recipientes, etc., cuja composição química é 73% SiO2, 13% Na2O e

10% CaO podendo ainda conter aditivos como sulfato de ferro, ou oxido de cromo, selênio, oxido

de cobre, entre outros, usados para atribuir coloração desejada.

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2.1. Reciclagem de vidro em Portugal

Segundo a APA desde 2004 até 2010 a produção de resíduos de embalagens aumentou certa de 20%,

enquanto que a produção de resíduos de vidro aumentou cerca de 16%. Em 2010 foram produzidas

cerca de 425.033 toneladas de resíduos de vidro, correspondendo a 25 % do total de resíduos

urbanos. Dessas 425 toneladas apenas 53% foi reciclado, a taxa de reciclagem dos resíduos de vidro

aumentou cerca de 14% entre 2004 e 2010.

A produção do vidro acarreta um acréscimo no consumo energético, já que o vidro é produzido a

altas temperaturas, sem esquecer que necessita de grandes quantidades de matéria prima, a

reciclagem de vidro além de diminuir o consumo de energia, diminui o consumo de matéria prima,

assim como os gases emitidos, tornando o processo de produção de vidro mais econômico e

sustentável. Segundo o PRS (Portal dos Resíduos Sólidos) a reciclagem de vidro reduz até 300kg de

gás carbônico (CO2) por tonelada de vidro reciclado.

Segundo Alves et al. (2001) a produção de 1 kg de vidro novo necessita 4500 quilojoules, enquanto

que para produzir 1 kg de vidro reciclado são necessários apenas 500 quilojoules!

Figura 2.1. Composição do vidro comum segundo PRS (http://www.portalresiduossolidos.com/wp-content/uploads/2013/09/GBM-024-2014.04.10-20.20.jpg)

Ainda assim, a indústria vidreira aparenta não demonstrar muito interesse na recolha destes

resíduos para reciclagem, talvez por falta de condições ou pelo facto de não se justificar o

transporte de pequenas quantidades por longas distâncias, entre os pontos de recolha e a central

de reciclagem, dispendendo imensa energia (combustível) e emitindo gases tornando-se

economicamente inviável. Por sua vez a sua valorização na indústria de materiais de construção

revela-se como uma alternativa ao depósito deste agregado em aterros, sobretudo na reciclagem

de vidro para compósitos cimentícios como argamassas e betões, quer como agregado ou como

adição.

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O ciclo de vida do vidro não tem fim, este é um dos poucos materiais que pode ser reciclado

infinitamente sem perder as suas propriedades, no entanto a heterogeneidade dos resíduos também

limita a sua reciclagem, uma vez que é necessário separar o vidro por cores antes de se proceder

à sua reciclagem, crescendo assim o deposito de resíduos de vidro em aterros.

Este material levantou a curiosidade de muitos estudiosos quanto à sua aplicação enquanto residuo,

de modo a minimizar os impactos ambientais provocados pelo seu deposito em aterro, Shi e Zheng

(2007), estudaram o uso de vidro na produção de cimento e betão, Cota et al. (2015) estudaram a

aplicação de vidro na produção de telhas, Disfani et al. (2012) estudou a inserção de residuo de

vidro na produção de estradas. Estes são apenas alguns exemplos de autores e de alguns dos seus

estudos realizados de modo a avaliar a viabilidade da inserção deste material na produção de novos

produtos, sejam eles cimento, betões, telhas, estradas etc.

O uso de vidro como substituto do agregado natural, reduz o uso de recursos naturais é uma

alternativa com benefícios ambientais associados ao deposito em aterros de resíduos sólidos, quer

às pedreiras, quer econômicos. No entanto, a sua natureza química e mineralógica obriga ao estudo

do comportamento do betão contendo este material como agregado, relativamente à reação

álcalis-sílica (RAS).

Alguns estudos mostram que o vidro tem potencial em materiais cimentícios, Shi e Zheng (2007),

afirmam que desde 1960 são realizados estudos de forma a inserir agregados de resíduo de vidro

na produção de betão, mencionando autores como Pike et al.(1960) Schmidt e Saia (1963), Phillips

et al. (1972) e Johnston (1974).

Segundo Shi e Zheng (2007) os benefícios econômicos e ambientais da reutilização dos resíduos de

vidro reciclados em betões e cimentos podem ser muito significativos, dependendo da utilização e

da escala de produção. A utilização de resíduos de vidro na produção de betão reduz os custos de

eliminação deste resíduo, conserva o meio ambiente economizando o uso de matérias-primas,

energia e reduz a quantidade de CO2, NOx e outros poluentes emitido na fabricação do cimento.

Oliveira et al (2008) afirmam com base nos resultados do seu estudo que a areia produzida a partir

de resíduos de vidro pode ser um bom substituo das areias naturais, promovendo assim benefícios

econômicos e ambientais consideráveis.

Taha e Nounu (2007) afirmam que como o vidro é material impermeável, a areia de vidro reciclado

pode reduzir a permeabilidade da mistura de betão e pode aumentar a sua durabilidade e limitar

a migração da água e iões no interior da matriz de concreto.

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2.2. Betão com agregados de vidro

Durante os últimos anos têm-se utilizados vários materiais nas misturas de betão, de modo

economizar, a inserção de vidro como substituto do agregado natural apresenta-se como uma opção

viável e cativou vários curiosos ao seu estudo, de modo a compreender o comportamento do betão

com a presença deste material, o desenvolvimento das suas propriedades e até mesmo formas de

aperfeiçoar o betão.

Usado em forma de adição, como substituição de agregado natural como a areia, ou como substituto

do cimento, são várias a empregabilidade de resíduos de vidro, assim como os estudos realizados

de forma a analisar o comportamento deste material em misturas cimentícias.

Quando utilizado em pó fino, apresenta características pozolânicas, já a sua aplicação como

agregado tem apresentado problemas devido ao surgimento da RAS afirma Serpa et al.a (2012).

Serpa et al (2012) b aconselha o uso de superplastificante quando se pretende aplicar agregado

grosso e fino de vidro, de modo a manter a mesma trabalhabilidade para a mesma relação de

água/cimento, não comprometendo o comportamento mecânico dos betões.

Alguns autores defendem o emprego deste resíduo na produção de cimento e/ou betão, referindo

em seus estudos, que este traz benefícios económicos e ambientais:

Ganiron (2013) após a realização do seu estudo sobre o uso de garrafas de vidro reciclado como

agregado fino em misturas de betão, conclui que o uso deste material diminui o custo da produção

de betão, devido à grande disponibilidade de garrafas de vidro, assim como a unidade de peso,

devido à baixa densidade do vidro. Embora não se recomende para a produção de elementos como

colunas, vigas e lajes suspensas, apresenta-se como uma boa alternativa ao agregado fino.

Shayan e Xu (2004) afirmam que o vidro possui grande potencial como resíduo na produção de

betões, seja na forma de agregado miúdo, graúdo ou moído, podendo assim, ser utilizado como

substituto de materiais caros como cinzas volantes na medida que impediria as RAS ou como

substituto do cimento.

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2.3. Características do betão com agregados de vidro

2.3.1. Trabalhabilidade

Propriedade que confere ao betão fresco facilidade no seu manuseamento sem afetar a sua

homogeneidade. O betão é considerado de boa trabalhabilidade, quando no estado fresco,

apresenta consistência e as dimensões máximas dos agregados são apropriadas ao tipo de obra a

que se destina. No entanto é também influenciada pelos métodos adotados para o transporte,

características da peça, lançamento, e claro pelo o traço e as características do agregado.

Topçu e Canbaz (2004), Chen et al (2006) citados por Shi e Zheng (2007) afirmam que o uso de

vidro como agregado não tem efeito significativo sobre a trabalhabilidade, no entanto a sua

inserção diminui o conteúdo de ar e a unidade de peso no estado fresco.

Terro (2005) concluiu através do seu estudo que em geral os betões produzidos com 10% de

agregado de vidro, sejam ele fino, grosso ou mistura de ambos melhora as propriedades no estado

fresco e endurecido à temperatura ambiente e a temperaturas elevadas do que aqueles com

maiores percentagens de substituição.

Oliveira et al (2008) afirmam que a manutenção da consistência na classe S3, devido sobretudo o

efeito da lamelaridade dos grãos de vidro, foi possível com a adição de um adjuvante altamente

redutor de água de modo a manter constante a relação agua/cimento.

Castro e Brito (2013), concluíram que a trabalhabilidade é afetada pelo tamanho das partículas,

conduzindo um aumento na razão de a/c de 0.55 para 0.58 para a mistura com substituição de 20%

de agregado fino de vidro. Já a densidade do betão diminui devido á menor densidade das partículas

de vidro.

Ganiron (2013), afirma que o uso de garrafas de vidro reciclado como agregado fino na produção

de betão, diminui a proporção de água/cimento, dependendo da quantidade presente na mistura.

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2.3.2. Propriedades mecânicas

As propriedades mecânicas dos materiais definem o comportamento do material quando sujeito a

cargas externas, ou seja, é a resposta do material perante uma força, sem se deformar ou fraturar.

Essa força aplicada pode ser de compressão, tensão, flexão, torção, podendo ser aplicada ao longo

do tempo, ou intervalada.

Para controle de qualidade e atendimento as especificações, são realizados ensaios em laboratório

de forma a determinar as propriedades mecânicas do betão, sendo elas a resistência à compressão,

resistência à tração e o módulo de elasticidade.

Estudos feitos por Ali e Al-Tersawy (2012), Castro e Brito (2013), Sharifi et al. (2013) citados por

Rashad (2014) relataram diminuição da resistência mecânica com aumento do teor de areia de

vidro. Esta redução foi principalmente devido à superfície lisa e bordas nítidas de partículas de

vidro que resultou na ligação mais fraca na zona de transição entre as partículas de vidro e matriz

de pasta de cimento. Outros como estudos mostraram o contrário como é o caso de Metwally (2007),

Turgut e Yahlizade (2009) que relataram uma melhoria das propriedades mecânicas de betões com

resíduos de pó de vidro. No geral a utilização de resíduo de vidro como agregado fino em argamassas

e betões apresenta vantagens como o aumento da trabalhabilidade, a redução de densidade, o

aumento da resistência química, resistência ao fogo, por outro lado a resistência à compressão

diminuiu, aumentou a expansão das RAS e propriedades como absorção de água, resistência à

brasão ainda precisam de ser estudadas.

2.3.2.1. Resistência à compressão

A resistência à compressão assim como as outras características desenvolvem-se ao longo do tempo.

Para efeito de dimensionamento das estruturas, estabeleceu-se a idade de 28 dias como

característica desta propriedade.

Segundo a norma NP EN 206-1, a resistência à compressão deve ser determinada em provetes

cúbicos de 150 mm ou provetes cilíndricos de 150/300 mm, sendo a resistência cilíndrica da ordem

de 0,80 da resistência cúbica, diferença essa, gerada pelo atrito entre as faces dos provetes e as

prensas, que ao impedirem a deformação transversal do betão conduzem a maiores valores da

resistência.

Park et al. (2004) demonstraram em seu estudo que a cor dos vidros reciclados que fazem parte do

agregado de resíduo de vidro não tem qualquer influência sobre a resistência à compressão, e que

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há medida que o teor de agregado de vidro aumenta na mistura a sua resistência diminui. As

misturas usadas de 30%, 50% e 70% mostraram uma resistência de 99.4%, 90.2% e 86,4%

respetivamente, essa tendência pode ser devido à diminuição da força adesiva entre os agregados

de vidro e a pasta de cimento.

Terro (2005) concluiu através do seu estudo que betões com substituição 10% de agregado fino de

resíduo de vidro tiveram maior resistência à compressão do que betões feitos com a substituição

de agregado grosso e/ou com os dois tipos de agregado (fino e grosso) de resíduo de vidro a

temperatura ambiente e elevada.

Shi e Zheng (2007) estudaram possíveis usos de resíduo de vidro na produção de cimento e betão,

concluindo que o vidro como agregado tem um efeito ligeiramente negativo na resistência do

betão, no entanto a sua preocupação recai sobre as expansões devido às reações álcalis-sílica.

Oliveira et al. (2008) concluíram que com a manutenção da trabalhabilidade, em misturas de

relação agua/cimento mantidas constante é possível manter a resistência característica de 40 MPa

em todos os casos de substituição. A substituição parcial e total da areia natural pela areia de

resíduos de vidro revelou uma significativa melhoria na resistência à compressão dos betões, nos

quais a reação expansiva do tipo álcalis-sílica foi mitigada pela adição de cinza volante. Durante

o estudo observaram que a medida que o teor de areia de vidro no betão aumenta, para teores de

25, 50 e 100%, a resistência à compressão aumentou na ordem de 24%, 25% e 29% respetivamente.

Este efeito é foi obtido em misturas com adição de 30% de cinzas volantes, que ao controlarem a

mitigação das reações expansivas, evitaram também o decréscimo das resistências. Geralmente a

resistência à compressão de betões com agregados de vidro são inferiores aos betões com agregados

naturais.

Serpa et al. (2012)b ao estudar a aplicação de agregados de vidro como substitutos ao agregado

natural até uma percentagem de 20%, afirma que a resistência à compressão é mais afetada pelos

agregados finos, afirmando que este fator pode ser minimizado com a inserção de

superplastificantes, de modo a manter a mesma trabalhabilidade e a mesma relação de a/c para

todas as misturas.

Ali e Al-Tersawy (2012) concluíram quanto a resistência à compressão e módulo de elasticidade

estático que estes diminuíram com o aumento do teor de vidro, constatando também problemas

no contato entre a matriz de cimento e o vidro reciclado. Devido à diminuição de força de ligação

entre a pasta de cimento e o vidro, resultado da superfície lisa dos resíduos de vidro.

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Segundo Castro e Brito (2013), que estudaram misturas de betão com agregado fino de vidro,

concluindo que o desempenho das misturas difere com o tamanho das partículas, apesar da

resistência de 1000MPa do vidro, a resistência do betão diminui com o aumento do teor de vidro,

a fraca ligação de interface entre agregados de vidro e a pasta de cimento é a principal razão dessa

diminuição.

Metwally (2007), citado por Rashad (2014), relatou um aumento de 4.23% em betões com

substituição de 20% de areia de vidro já a substituição de 60% de areia de vidro levou a uma redução

de 6.6% aos 28 dias. Aos 90 dias observou-se uma diminuição da resistência à compressão com o

aumento do teor de areia de vidro.

Autores como Gautam et al. (2012) e Malik et al. (2013), citados por Rashad (2014), defendem que

certos teores de resíduos de vidro aumentam a resistência à compressão, enquanto outros reduzem

a mesma propriedade. Gautam et al. (2012) verificou que a substituição parcial da areia natural

por resíduos de vidro (tamanho de 4.75-0.15 mm) em teores de 10 e 20% aumenta a resistência à

compressão, já teores de 30% e 40% tem efeito contrário. Já Malik et al. (2013) afirma que teores

de 10%, 20% e 30% de resíduo de vidro (tamanho 1.18 - 0 mm) aumentam a resistência à compressão

do betão, já a substituição de 40% de areia de vidro levou a uma diminuição.

Mardani-Aghabaglou et al. (2014) estudou o desempenho mecânico e a durabilidade de betões com

agregado de resíduos de betão e de vidro reciclado, usando misturas com teores de 15%, 30%, 45%

e 60%. Os resultados dos testes de resistência à compressão mostraram que o menor valor registado

foi quando houve uma substituição de 60% de agregado fino por agregado de resíduo de vidro.

Comparando os valores com o betão de referência verificou-se uma diminuição de 1.6%, 3.6%, 6%

e 10.6% respetivamente.

2.3.2.2. Resistência à tração

Park et al. (2004) verificaram uma tendência decrescente com o aumento do teor de agregados de

resíduo de vidro, comparativamente ao betão de referência, comportamento similar quando

submetidos a forças compressivas. De entre as três misturas estudadas, 30%, 50% e 70%, os betões

produzidos com o teor de 30% de agregado de resíduo de vidro apresentaram propriedades de

resistência à tração maior.

Serpa et al b(2012) concluíram que os agregados finos conduzem a piores resultados quanto à

resistência à tração (por compressão diametral e por flexão) podendo este fato ser colmatado com

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o uso de superplastificantes em vez de alterar a relação a/c nas situações em que se pretende

manter a trabalhabilidade.

Ali e Al-Tersawy (2012), concluíram que a resistência à tração diminui com o aumento do teor de

vidro na mistura, devido à superfície dos resíduos de vidro diminuírem a força de ligação entre o

agregado de vidro e a pasta de cimento.

Mardani-Aghabaglou et al. (2014) constatou, comparando as diversas misturas com a mistura de

referência (com agregados naturais), que a resistência à tração para misturas com teores de 15%,

30%, 45% e 60% de agregado de resíduo de vidro, diminuíram 1.5%, 5.0%, 8.2% e 15.4%

respectivamente, associando esta diminuição ao enfraquecimento da zona interfacial de transição.

2.3.3. Propriedades de Durabilidade

A durabilidade do betão define-se, em termos gerais como a capacidade do material resistir a

ataques de natureza física ou química, sendo atualmente um dos principais focos de estudo na área

dos materiais.

A durabilidade aparece assim associada à minimização da possibilidade dos agentes agressivos

poderem ingressar no betão, o que poderá acontecer em determinadas condições ambientais, por

mecanismos de transporte como permeabilidade, difusão ou capilaridade.

2.3.3.1. Absorção de água por capilaridade

Sendo o vidro um material impermeável, a inserção deste na mistura de betão reduz a sua

permeabilidade, aumentando a sua durabilidade, pois limita a migração de água e de iões dentro

da matriz do betão.

Oliveira et al (2008) concluíram que os betões com areia de resíduos de vidro apresentaram

coeficientes de capilaridade inferior ou similar ao valor da mistura de referência.

Castro e Brito (2013) concluiu que as misturas com substituição de agregados grossos e finos de

vidro simultaneamente mostraram um melhor desempenho na absorção de água por capilaridade,

sendo mais eficiente, a substituição de 10% de agregado grosso e agregado fino. A elevada

rugosidade juntamente com a relação de água/cimento contribuiu para o aumento da porosidade

da estrutura interna, conduzindo por sua vez a um fraco desempenho da mistura.

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Segundo Taha e Nounu (2007), a natureza impermeável do vidro a sua presença em misturas de

betão pode reduzir a permeabilidade do mesmo. Verificando-se que a quantidade de água absorvida

diminui com o aumento do teor de areia de vidro na mistura cimentícia, a presença de areia de

vidro irá restringir a migração de humidade e iões no interior do betão. Reduzindo a demanda total

de absorção de água, interrompendo a continuidade de microfissuras no interior do betão.

Rashad (2014) afirma, após analisar estudos realizados por Ling e Poon (2011, 2013), Bhandari e

Tajine (2013), Malik (2013), entre outros, relataram a redução da absorção de água devido à

inclusão de areia de vidro. Esta redução pode estar relacionada com a absorção de água

negligenciável do vidro.

2.4. Reações álcalis-agregado

Segundo Lucca (2010), as reações álcali-agregado (RAA) são reações químicas que ocorrem entre

álcalis provenientes principalmente do cimento e alguns minerais reativos existentes no agregado.

Como resultado destas reações a estrutura de betão deteriora-se, pois devido ao seu caráter

expansivo, na presença de humidade gera fissuras, redução da resistência e aumenta a

permeabilidade do material.

A reação álcali-agregado ocorre principalmente em estruturas de betão em contato com a água,

como barragens, pontes, fundações, entre outras, esta reação afeta várias obras de engenharia

civil, requerendo por vezes a substituição dos elementos afetados, afirmam Cunha e Cincontto

(2008).

As reações podem ser classificadas em três tipos, em função dos mecanismos envolvidos e da

composição mineralógica dos agregados:

Reação álcali-sílica

Reação álcali-silicato

Reação álcali-carbonato

Para que se possam desenvolver este tipo de reações é necessário existir presença de três

condições, como a presença de fases reativas no agregado, humidade suficiente e uma

concentração de hidróxidos alcalinos (K+, Na+ e OH-), Cunha e Cincontto (2008).

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É, assim, fundamental conhecer as características dos agregados, para saber qual o tipo de reação

que afetou a estrutura. Para descrever com maior facilidade todo o processo das RAA, é necessário

o entendimento das propriedades químicas e físicas dos agregados.

2.4.1. Reações álcalis-sílica

Segundo Santos e Brito (2008), as reações álcalis-sílica (RAS) são manifestações patológicas que

ocorrem em longo prazo no betão já endurecido, e apresentam-se como uma das principais

condicionantes da durabilidade das estruturas de betão.

Observa-se que as RAS enquadram-se nas reações expansivas e são as que mais afetam o betão com

agregados de vidro, sendo uma das grandes condicionantes à sua durabilidade, sendo este o motivo

do seu destaque de entre as várias RAA.

A sílica (SiO2) presente em alguns agregados reage com os iões alcalinos (OH-, Na+ e K+)

provenientes dos hidróxidos de álcalis existentes no cimento, formando um composto álcali-sílica.

Tabela 2.1. Fases da sílica nos vários tipos de agregado

Fases da sílica Tipos de agregado

Vítrea Vidros naturais e artificiais

Amorfa (forma mais desordenada e reativa) Calcedônias, opalas

Microcristalina Quartzo

Cristalizada metaestável cristobalistas e tridimitas

Por sua vez o composto álcali-sílica ao reagir com os iões de cálcio do hidróxido de cálcio (Ca(OH)₂)

forma um gel expansivo silicato de cálcio alcalino ou de sílica-cálcio.

O gel, produto das RAS, na presença de água aumenta de volume e expande-se entre os poros do

betão criando forças expansivas, gerando tensões de tração. Ao atacar os pontos mais fracos, como

os poros ou a superfície dos agregados, o gel causa fissuras e perda de resistência do material,

afetando assim a durabilidade do elemento de betão.

As estruturas afetadas por esta reação podem apresentar vários tipos de manifestações como:

Fissuras

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Expansão e/ou desalinhamento dos elementos estruturais

Exsudação de gel (por vezes confundido por eflorescência)

Lascamentos, denominados Pop-outs

As fissuras desenvolvem-se na superfície do betão, e podem apresentar duas variantes. Quando o

elemento está sujeito a tensões elas possuem uma forma alinhada, mas caso o betão não esteja

sujeito a tensões pré-existente estas manifestam-se em forma de mapa. Sendo também possível a

combinação dos dois tipos.

Para além dos componentes do betão, como a composição dos agregados e o teor de álcalis do

cimento, as condições do meio ambiente, como a humidade e a temperatura são fatores bastante

influentes na reação álcalis-sílica.

Os álcalis provem principalmente do cimento, mas existem outras fontes externas. A utilização de

água do mar na mistura pode influenciar o teor de álcalis no betão, tal como a absorção de água

pelo contato de águas subterrâneas ricas em sulfato, assim como o contato com a água do mar. O

teor de álcalis no betão depende ainda da permeabilidade do material, da porosidade, assim como

do tempo em que este está exposto ás fontes de álcalis.

A temperatura também é um propulsor das expansões geradas pelas RAS, segundo Foradada (2005)

citada por Santos (2008), a velocidade de reação e a formação do gel aumentam com a

temperatura, mas a sua viscosidade diminui, permitindo que se dissolva com mais facilidade nas

fissuras e poros, dissipando-se em parte a expansão. Em suma as RAS desenvolvem-se mais

rapidamente com o aumento da temperatura, aquando a uma temperatura menor a expansão

torna-se mais lenta, o entanto prolonga-se por mais tempo.

A existência de água é essencial para o processo de hidratação do cimento, no entanto em grande

quantidade pode ser considerada prejudicial. A abundância de água quer seja por contato externo

direto, quer pela humidade relativa do ar, estimula a formação do gel expansivo.

Para que esta reação se desencadeie é necessário, para além de um agregado potencialmente

ativo, álcalis do cimento, um teor de humidade entre 75-80%, afirma Silva (2009).

Segundo Poole (1992), citado por Lucca (2010), a expansão devido a RAS varia diretamente com a

humidade relativa do betão, embora se despreze a reação expansiva baixo dos 70% HR, acima dos

80% os efeitos são visivelmente perceptíveis.

A prevenção deste acontecimento pode passar pela restrição do acesso da água ao betão, ou a

inclusão de medidas mitigadoras, visto que é difícil controlar o acesso de água.

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A composição do agregado é um fator bastante influente nas RAS, com o aumento da percentagem

de agregado de vidro no betão há um aumento da taxa de expansão devido às reações álcalis-sílica

que a inserção deste material desencadeia.

Rashad (2014) ao analisar estudos realizados por Limbachiya (2009), Kou e Poon (2009), Serpa

(2013), afirmou que em geral a inclusão de areia de vidro na matriz cimentícia aumenta a expansão

RAS, verificou ainda que a medida que o tamanho da partícula aumenta a expansão também

aumenta. Mostrou ainda que a cor do vidro tem efeito significativo sobre a expansão ordenando-as

do seguinte modo: azul – branco – âmbar – castanho - verde.

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2.4.2. Medidas mitigadoras das Reações Álcalis-Sílica

As medidas mitigadoras são ações tomadas de forma a prevenir ou reduzir os impactos negativos

que possam comprometer o material ou a estrutura.

Não sendo possível evitar nem recuperar a deterioração dos elementos de betão provocada pelas

reações álcali-agregado, é necessário prevenir o seu acontecimento. Como não é fácil evitar a

difusão de humidade e o emprego de um cimento com baixo teor de álcalis ou de agregados,

podemos optar por pôr em pratica algumas medidas mitigadoras, como a inserção de adições ativas

como escoria de alto forno, metacaulino, entre outros que mitiguem as reações, de forma a evitar

o seu aparecimento em futuras construções.

Ao longo dos anos autores como Park et al. (2004), Topçu et al. (2008) e Taha e Nounu (2009), têm

documentados estudos com vários métodos de atenuar as RAS, eles incluem a substituição de

cimento, o uso de minerais e aditivos químicos, bem como de reforço de fibras adicionais

mencionando autores como. O efeito supressor de ASR também depende da dosagem quantidade,

afirma Du e Tan (2014).

De modo a perceber qual o tipo de adição, a percentagem necessária para mitigar as RAS, foram

realizados alguns estudos, de modo a perceber o seu comportamento perante os diferentes tipos

de adição.

Cunha e Cincontto (2008), ao analisar teores de adições para mitigação da expansão álcali-

agregado, constatou que a eficiência das adições variou consoante a sua composição química e

mineralógica, e a sua proporção no cimento, assim como o grau de reatividade do agregado com o

tipo de reação álcali-agregado. Demonstrando-se mais eficiente a sílica ativa, seguida pelo

metacaulino, cinzas volantes e por fim escorias de alto forno.

A E 461, citada por Silva (2009), elaborada a partir dos dados publicados pela RILEM, recomenda a

utilização dos seguintes teores por tipo de adição: sílica ativa de 10%, cinzas volantes siliciosas ≥

30 %, escória granulada de alto forno moída ≥ 50 %, um teor de metacaulino na ordem dos 15%

como efetivo no controlo e prevenção das RAS.

Lucca (2010), menciona o estudo de Munhoz (2007), que ao analisar a utilização de adições ativas

como escoria de alto-forno, cinza volante, metacaulino e sílica ativa conseguiu mostrar que a

capacidade das adições ajuda na redução da expansão, mas é dependente do teor utilizado, da

composição química e mineralógica e o grau de reatividade do agregado.

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Silva et al. (2010) afirma que os mecanismo de inibição parece estar relacionado com a redução de

alcalinidade do meio, e conclui com base nos dados obtidos no seu estudo que com exceção das

cinzas de biomassa, todas as adições minerais do tipo II são efetivas na mitigação das RAS,

dependendo do tipo e do teor de adição utilizada.

Serpa et al a (2012) afirma que o emprego de misturas de agregados naturais reativos aos álcalis do

vidro reciclado é viável sendo mais eficiente com agregados de natureza calcária.

Segundo Du e Tan (2014), afirmam que nem todos os métodos mitigadores mostraram aumento de

eficiência com o aumento da quantidade das adições. Após o seu estudo concluíram que o teor

eficiente para cada adição é cerca de 10-50% de cinza volante, 45-60% de escoria granulada de

alto-forno, 12,5% para sílica ativa, 1,5-2,0% de fibras de aço e 0,5-2,0% de composto de lítio.

Ordenando as várias adições pela sua eficiência: cinzas volantes, composto de lítio, escoria de alto-

forno, sílica ativa e fibras de aço.

Rashad (2014) ao rever estudos como o de Taha e Nounu (2009) afirma que as expansões devido às

RAS em argamassas e betões contendo areia de vidro podem ser mitigadas pela adição de 10-30%

metacaulino, 20-50% cinzas volantes, 50-60% de escória de alto-forno, 10% sílica ativa, 1-2% de

Ni2CO3, 1% de nitrato de lítio (LiNO3) e uma quantidade adequada de fibras.

2.4.2.1. Cinzas volantes

A cinza volante é um tipo de adição mineral obtido por precipitação mecânica ou eletrostática dos

gases de exaustão de estações alimentadas por carvão (Neville, 1997) é constituída principalmente

por silicato vítreo contendo alumínio, ferro, afirma Lucca (2010).

Segundo Sherata et al (1999) referidos por Lucca (2010), os fatores influentes são os teores de

cálcio, sílica e álcalis. Os compostos CaO e SiO2 afetam os produtos de hidratação devido a

quantidade de cálcio e sílica no sistema, quanto maior a quantidade de sílica menor a relação Ca/Si

dos produtos e/ou maior a quantidade destes, resultando numa maior quantidade de álcalis

retirados da solução por esses produtos de hidratação. Já o alto teor em cálcio aumenta a relação

Ca/Si dos produtos, reduzindo a quantidade de álcalis removidos da solução. Finalmente, quanto

maior o teor de álcalis da cinza maior o seu desprendimento da cinza para a solução dos poros,

resultando de uma maior alcalinidade.

O betão com cinzas volantes economiza energia e material virgem, o uso desta adição também

aumenta a resistência à tração como melhora a trabalhabilidade, reduz a retração ou calor de

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21

hidratação, melhora a resistência contra o ataque químico. No entanto também possui algumas

desvantagens como o facto de retardar o processo de hidratação, o cuidado durante a cura deve

ser maior e o facto de só melhorar a trabalhabilidade de misturas coesivas.

Segundo Bleszynski e Thomas (1998), citados por Lucca (2010), ao analisarem os betões com cinza

volante, não constataram a presença da camada rica em cálcio, o gel rico em potássio permaneceu

na superfície do agregado, mas o gel rico em sódio dispersou-se pela matriz cimentícia. A cinza

volante reduz a disponibilidade de cálcio ao reduzir o conteúdo de Ca(OH)2, o gel torna-se mais

fluido dispersando-se pela matriz cimentícia sem criar tensões internas. Afirmam ainda que o uso

deste aditivo reduz à alcalinidade da solução dos poros, a permeabilidade, a mobilidade iônica e

refina a estrutura dos poros.

Segundo Ferreira (2000), a substituição de 40% de cimento por cinza volante diminui três vezes o

coeficiente de difusão de betões de elevado desempenho.

Sherata e Tomás, (2000), citados por Lucas (2010), afirmam que a existência de cinza volante,

independentemente do seu teor ou tipo reduz a expansão comparada com o betão de referência

(sem cinza volante ou qualquer outro aditivo). Mostram ainda que a medida que aumentamos o

teor da substituição a redução também cresce. Enquanto que uma cinza volante com baixo teor

em cálcio é capaz de manter a expansão abaixo dos 0.04% usando apenas um teor de 20%, uma

cinza com alto teor de álcalis ou cálcio necessitara de um teor maior, entre 40ª 50%.

Segundo Cunha e Cincontto (2008), citando Malvar et al (2002), afirmam que a cinza volante é

eficiente na minimização de RAA quando presente em teores de 25% a 35%.

Silva et al. (2010) concluíram no seu estudo ser suficiente uma substituição na ordem de 15-20%,

sendo a par com o metacaulino as adições que melhor desempenho mostraram na mitigação das

expansões devido à RAS.

Segundo Du e Tan (2014), afirmam que como é de conhecimento geral, as cinzas volantes é um

subproduto industrial, e a sua utilização como substituição de cimento reduz o impacto ambiental

negativo como melhora a durabilidade do betão. As cinzas volantes é um ótimo supressor das RAS,

no entanto o uso de um teor superior a 40% leva a uma diminuição de 20% da resistência à

compressão do betão, embora essa perda possa ser compensada pela reação pozolânica numa idade

mais avançada.

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22

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23

2.4.2.2. Metacaulino

O metacaulino é uma adição mineral de elevada eficácia, e ao contrário de muitas adições minerais

que geralmente são rejeitos industriais secundários, o metacaulino é um produto precedente de

matérias-primas criteriosamente selecionadas, cujo processo de fabricação é totalmente

controlado e rigoroso, possuindo normatização, ASTM C618.

Proveniente da caulinita, o metacaulino é obtido pela calcinação entre 700ºC e 800ºC, sendo

constituído basicamente por 51% de sílica (SiO2) e 41% de alumina (Al2O3), possui uma cor branca e

o seu peso especifico é aproximadamente duas vezes menor que o do cimento.

Os compostos a base de sílica do metacaulino reagem com o hidróxido de cálcio presente no

cimento, formando produtos mais resistentes, estáveis, insolúveis, fazendo com que sobre menos

do composto para ser lixiviado, devido a sua característica altamente solúvel ou reagir com

sulfatos, responsável por gerar reações danosas fissurando o betão

A reatividade pozolânica de um metacaulino depende da sua cristalinidade de origem, da

granulometria e do grau de amorfização. O tamanho de partícula de metacaulino é menor do que

as partículas de cimento, mas não tão fina como pó de sílica.

O uso de metacaulino não produz apenas redução dos impactos ambientais, como se trata de uma

pozolana de alta eficiência, melhora o desempenho, a durabilidade entre outras características do

betão.

De acordo com o fabricante, a adição deste material aumenta a resistência mecânica à compressão

e tração, reduz a capilaridade e porosidade tornando o betão mais impermeável, impossibilitando

a penetração de agentes erosivos como cloretos e sulfatos, inibe ainda as RAA e proporciona

melhorias na zona de transição pasta de cimento e agregado (Beltrão e Zenaide, 2010)

Segundo Cunha (2008), citando Malvar et al (2002) o metacaulino é eficiente na minimização de

RAA quando presente em teores próximos de 10%.

Silva et al. (2010) afirmam a eficiência de 10-20% de metacaulino, constatando que a partir de 10%

existe uma redução de aproximadamente 91% a 1 ano. A substituição de 10% de cimento por

metacaulino já é suficiente para mitigar as expansões associadas às RAS.

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2.4.2.3. Pó de vidro

O vidro tem potencial para desenvolver as RAS quando usado como agregado, já ao ser esmagado

adquire propriedades pozolânicas, o que confere ao betão, quando presente, novas características.

Shi e Zheng (2007) afirmam que o pó de vidro moído apresenta uma boa reatividade pozolânica

podendo ser utilizado como um substituto do cimento, as suas propriedades pozolânicas aumentam

a medida que o tamanho das suas partículas diminuem. Os resultados dos testes de ASTM C 1260

indicam que a expansão da RAA diminui com o aumento do teor de substituição de vidro.

Serpa et al. a (2012) afirma no seu estudo que natureza química e mineralógica do vidro permite

que este possa ser utilizado como adição tipo II, desde que tenha granulometria fina. Citando

Corinaldesi et al. (2005) que verificaram a utilização de vidro em pó (< 100 µm) produz melhorias

no desempenho mecânico. Taha e Nounu (2008) concluíram que o pó de vidro conduz à diminuição

da concentração do ião hidroxilo na solução encontrada nos poros, considerada responsável pela

redução do risco de expansão devido à RAS. Pontes et al. (2011) verificaram que pó de vidro, obtido

por britagem de vidro reciclado (dimensão < 125 µm), apresentava uma reatividade pozolânica

semelhante à de cinzas de biomassa. Concluiu, no fim do seu estudo que o vidro reciclado apresenta

potencial como agregado ou adição mineral, a sua influência na RAS depende do teor e da

granulometria da substituição. O vidro moído tem propriedades que possibilitam o seu uso como

pozolana, podendo ser empregue como adição mineral na mitigação de RAS, quando na presença

de agregados reativos naturais. A aplicação do vidro aumenta com a diminuição da granulometria.

A possibilidade de emprego de misturas binárias, aumenta a utilização de vidro reciclado em

materiais cimentícios, incrementando a capacidade mitigadora das adições minerais.

Rashad (2014) relata que a inserção de areia de vidro aumenta a expansão RAS à medida que o seu

teor presente no betão também aumenta, assim como com o aumento do tamanho da partícula, no

entanto refere que alguns investigadores afirmam que partículas de vidro com apenas 0.3 mm é

suficiente para suprimir a expansão RAS.

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25

3. Procedimento experimental

3.1. Introdução

No âmbito de analisar o comportamento de betões com agregados de vidro, foi realizado um estudo

experimental nos Laboratórios de Construção da Universidade da Beira Interior.

O objetivo principal foi avaliar a influência da substituição dos agregados naturais (finos e grossos),

por agregado de vidro reciclado no comportamento do betão.

Podem-se apontar duas fases no betão, o estado fresco e o estado endurecido. Na primeira fase

observa-se a trabalhabilidade. A resistência à compressão, módulo de elasticidade, porosidade, são

outros exemplos de propriedades do betão conferidos na segunda fase.

Os ensaios realizados no estado fresco tiveram como objetivo avaliar a influência do aumento do

teor de vidro tanto como agregado fino ou agregado grosso na trabalhabilidade das misturas.

Já os ensaios realizados no estado endurecido tiveram como finalidade avaliar a influência da

adição de agregados de vidro na resistência à compressão, comparativamente ao betão de

referência com agregados naturais.

As características dos materiais que compõem as misturas são apresentadas a seguir.

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3.2. Materiais

Os materiais utilizados para a realização dos ensaios estudados neste capitulo foram selecionados

após a devida pesquisa bibliográfica e de acordo com os requisitos normativos especificados, tendo

em conta o material existente e disponível no Laboratório de Engenharia da Universidade da Beira

Interior.

3.2.1. Cimento

O cimento usado no desenvolvimento deste trabalho foi o cimento Portland CEM I 42,5R, com massa

volúmica de 3140 kg/m3, de acordo com a norma NP EN 197-1: 2001.

3.2.2. Agregados

Quanto a escolha dos agregados utilizou-se agregados existentes no laboratório, como é o caso dos

agregados finos e grossos de origem natural, tendo em conta as suas granulometrias. Os agregados

de resíduos de vidro foram produzidos em laboratório (recolha, tratamento, beneficiamento e

seleção).

3.2.2.1. Agregados naturais

Os agregados naturais dividem-se consoante a sua granulometria em agregado fino e agregado

grosso. Sendo que para o agregado fino foi utilizada uma areia amarela proveniente do rio Tejo,

de origem fluvial, designada areia grossa, com granulometria compreendida entre 0 a 4 mm.

Como agregado grosso foi utilizado uma mistura de brita e pedrisco, com uma granulometria

compreendida entre 4 a 16 mm e 1 a 4 mm respectivamente. Selecionando-se o material consoante

a granulometria conforme será explicado.

Figura 3.1. Pedrisco e brita utilizados no estudo

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3.2.2.2. Agregado de vidro

Os agregados de vidro são provenientes de resíduos sólidos urbanos, como garrafas com destino à

reciclagem. As garrafas foram fornecidas por vários estabelecimentos na região da Covilhã, não

havendo controlo na percentagem de cada cor.

Os resíduos foram devidamente tratados por lavagem, evitando assim a contaminação do agregado

produzido por outro tipo de resíduo existente nas garrafas, a fim de não comprometer os resultados.

Figura 3.2. Britador de mandíbulas

As garrafas foram reduzidas em partículas de agregados com a ajuda de um britador de mandíbulas,

de modo a obter uma granulometria semelhante ao agregado fino (areia) e grosso natural (pedrisco

e brita 1), cuja massa vólumica ronda os 2500 kg/m³.

Figura 3.3. Vidro após ser reduzido a partículas

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3.2.3. Água de amassadura

Foi utilizada água potável da rede pública, embora não existisse nenhuma preocupação especial

quanto a este componente, considera- se a conformidade da mesma com a norma NP EN 1008:2003.

3.2.4. Adições

De modo a mitigar as reações possíveis entre os agregados e o cimento (reações álcali-sílica) foi

utilizada uma adição ativa. Deste modo optou-se por uma cinza volante, devido a sua

disponibilidade no Laboratório de Construção e às suas propriedades pozolânicas, cuja massa

volúmica ronda os 2380 kg/m3.

3.2.5. Adjuvante

De entre os inúmeros tipos de adjuvantes existentes e dos vários tipos optou-se pela utilização do

“superplastificante Sika Viscocrete 3005”, de acordo com a NP EN 934:2-2009. Este

superplastificante tem numa densidade de 1050 kg/m3 aproximadamente, é basicamente uma

solução aquosa de policarboxilatos modificados. E é indicado para betões de classe igual ou superior

a C30/37.

Uma vez esse trabalho pretende dar continuidade ao estudo realizado por Machado e Sainhas,

(2007) estabeleceu-se a dosagem de 0.6% de superplastificante tal como a utilizada por esses

autores.

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3.3. Caracterização dos materiais

3.3.1. Análise granulométrica

A análise granulométrica foi realizada para os agregados naturais e para os agregados de resíduos

de vidro, com o auxílio de uma peneiradora mecânica, que através da rotação e oscilação separa

os resíduos, consoante o seu tamanho. Foi utilizada uma balança de precisão KERN PCP cuja

capacidade máxima é de 10kg e a sua precisão de 0.1 grama, e ainda os peneiros de malha

quadrangular cuja abertura será mencionada a seguir.

Neste projeto foi necessário ter em atenção a quantidade de material existente no laboratório,

como é o caso do agregado natural, e a quantidade de material proveniente dos resíduos de vidro

coletados. Deste modo optou-se por ajustar a granulometria do material existente em laboratório

ao material produzido com os resíduos de vidro com a ajuda do britador.

Primeiramente, e devido a abundância de agregado natural, efetuou-se a análise granulométrica

do vidro, de forma a adaptar-se a granulometria dos agregados naturais à granulometria dos

agregados de vidro, tanto grossos como finos. Procedeu-se do seguinte modo:

i. Colocaram-se os agregados de resíduo de vidro na estufa ventilada durante 120 minutos a

100 oC.

ii. Colocou-se o agregado de resíduos de vidro no peneiro com malha de 4 mm, e com o auxílio

da máquina de peneiração, de modo a separar o agregado grosso do agregado fino.

Figura 3.4. Estufa e peneiro utilizados neste estudo

Todo o agregado que fica retido no peneiro com malha de 4 mm é considerado grosso, todo aquele

que passou pelas malhas do peneiro é considerado fino.

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30

Posteriormente repetiu-se o processo de modo a analisar a granulometria dos diferentes tipos de

agregado, colocaram-se os peneiros por ordem crescente na máquina de peneiração. Para o

agregado grosso foram utilizados cerca de 8 kg e para o agregado fino cerca de 600 gramas,

dividiram-se em três frações de modo a facilitar a peneiração.

i. Pesaram-se os peneiros, individualmente.

ii. Colocou-se agregado de brita de vidro no peneiro superior, constituído por 3 peneiros de

malhas 16 mm, 8 mm e 4mm.

iii. Ligou-se a máquina de peneiração por 10 minutos.

iv. Pesaram-se os peneiros com agregado e registaram-se os valores.

Para o agregado fino o procedimento foi semelhante, apenas os peneiros variaram, nesta etapa

utilizaram-se peneiros de malhas 2 mm, 1 mm, 0.500 mm, 0.250 mm, 0.125 mm e 0.063 mm.

A média das massas retidas em cada peneiro auxiliou no traçado das curvas granulométricas do

agregado de brita de vidro e do agregado de areia de vidro, respectivamente representadas:

Figura 3.5. Curva granulométrica característica da brita de vidro

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

125,0063,0031,5016,008,004,002,001,000,500,2500,1250,063

Per

cen

tage

m c

um

ula

tiva

(%

)

Abertura quadrada dos peneiros (mm)

Granulometria da brita de vidro

retidas passadas

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Figura 3.6. Curva granulométrica característica da areia de vidro

De forma a obter um agregado de brita natural com granulometria semelhante a do agregado de

brita de vidro reciclado foi necessário misturar a brita com o pedrisco, adaptando as percentagens

de cada um. Quanto ao agregado de areia natural foi apenas necessário adaptar as percentagens

de areia retida em cada peneiro. Deste modo:

i. Peneirou-se o agregado natural, foram aproveitados os peneiros utilizados anteriormente

para peneirar o agregado de vidro, durante 10min.

ii. Separou-se o material em diferentes sacos.

iii. Pesaram-se os sacos.

iv. Misturam-se as granulometrias em igual proporção a do agregado de vidro, igualando deste

modo a granulometria do agregado natural ao agregado de vidro.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

125,0063,0031,5016,008,004,002,001,000,500,2500,1250,063

Per

cen

tage

m c

um

ula

tiva

(%

)

Abertura quadrada dos peneiros (mm)

Granulometria da areia de vidro

retidas passadas

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32

Nas tabelas seguintes (Tabela 3.1 e Tabela 3.2) são apresentadas a granulometrias características

do agregado de brita de resíduo de vidro, e da areia de resíduo de vidro respetivamente obtidas

após a análise granulométrica. Estas granulometrias serão usadas na elaboração das diferentes

misturas para a produção dos betões.

Tabela 3.1. Granulometria característica do agregado de brita de resíduo de vidro

Tabela 3.2. Granulometria característica do agregado da areia de resíduo de vidro

Granulometria da areia de vidro

Dimensão das aberturas do peneiro (mm)

Material retido

Percentagens acumuladas

Passados Retidos

(g) (%) (%) (%)

4,00 0,00 0,00 100,00 0

2,00 251,80 42,73 54,91 45,09

1,00 148,60 25,22 29,70 70,30

0,50 84,70 14,37 15,32 84,68

0,250 50,70 8,60 6,72 93,28

0,125 29,90 5,07 1,65 98,35

0,063 23,60 4,00 -2,36 102,36

Material restante no fundo 0,00 0,00 0,00 100,00

Total 589,30 100,00

Granulometria da brita de vidro

Dimensão das aberturas do peneiro (mm)

Material retido Percentagens acumuladas

(g) (%)

Passados Retidos

(%) (%)

16,00 66,00 0,94 99,06 0,94

8,00 3350,70 47,50 51,57 48,43

4,00 3636,00 51,54 0,03 99,97

2,00 0,00 0,00 0,00 99,97

Material restante no fundo 1,80 0,03 0,00 100,00

Total 7054,50 100,00

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33

3.3.2. Composição do betão

Após a análise granulométrica do agregado de resíduo de vidro, os teores dos componentes de cada

agregado natural adoptados são os seguintes:

Tabela 3.3. Teores de granulometria para cada tipo de agregado

Agre

gado n

atu

ral fi

no

Dimensão das aberturas do

peneiro (mm)

Teor

(%)

Agre

gado n

atu

ral gro

sso

Dimensão das aberturas do

peneiro (mm)

Teor

(%)

2,000 43

8,000 50 1,000 25

0,500 14

0,250 9

4,000 50 0,125 5

0,063 4

O traço das misturas a serem estudadas foi definido com base no trabalho de Machado e Sainhas

(2007), sendo os teores de substituição determinados elos mesmo autores. O traço utilizado está

descrito na seguinte Tabela 3.4, e foi determinado para um betão de referência, com agregados

naturais:

Tabela 3.4. Traço, em massa (kg), da mistura do betão de referência

Para a realização deste estudo estipulou-se que os teores de vidro a serem substituídos seriam 50

e 100% para ambos os agregados (areia e brita), desta forma foram produzidas quatro misturas para

além do betão de referência, esta com teor de vidro 0%, servindo deste modo para comparações.

As misturas com substituição parcial ou total dos agregados naturais foram produzidas com as

seguintes percentagens de substituição:

Material Cimento Água Cinza

volante Areia Brita

Massa (kg)

1 0.6 0.29 1.87 3.14

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- M 50/50: betão com substituição de 50% da areia natural por areia de vidro e 50% de brita natural

por agregado grosso de vidro;

- M 50/100: betão com substituição de 50% de areia natural por areia de vidro e 100% de brita

natural por agregado grosso de vidro;

- M 100/50: betão com 100% de substituição da areia natural por areia de vidro e 50% de substituição

da brita natural por agregado grosso de vidro, e

- M 100/100: betão com 100% de areia de vidro e agregado grosso de vidro.

Tendo em conta o número de corpos de prova necessários para cada propriedade a ser medida as

quantidades de materiais foram definidas para o traço proposto na tabela 3.4 para a produção dos

mesmos e estas são apresentadas na tabela 3.5.

Tabela 3.5. Tipo de misturas com as devidas quantidades e substituições

Tipo de Mistura

Cimento (kg)

Cinza volante (kg)

Areia natural (kg)

Areia de vidro (kg)

Brita natural (kg)

Brita de vidro (kg)

M Ref.

6 1.74

11.22 - 18.84 -

M 50/50 5.61 5.61 9.42 9.42

M 50/100 5.61 5.61 - 18.84

M 100/50 - 11.22 9.42 9.42

M 100/100 - 11.22 - 18.84

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3.4. Procedimento de mistura

Após se determinarem as quantidades de cada elemento procedeu-se a realização das misturas.

Neste caso, utilizou-se uma betoneira de eixo vertical, que facilita a mistura de todos os

componentes conferindo ao betão maior homogeneidade.

Utilizou-se para a medição das massas dos materiais uma balança AND FV 60K, com capacidade

máxima de 60 kg e precisão de 0.02kg.

Um procedimento de mistura foi adotado com a finalidade de garantir uniformidade e

homogeneidade das misturas estudadas, em detalhes foram executadas as seguintes etapas:

Pesaram-se todos os materiais na balança descrita precedentemente.

Colocaram-se os agregados grossos na betoneira, com 50% de água.

Misturou-se durante 1 minuto.

Colocou-se então o cimento previamente misturado com a cinza volante (adição).

Adicionou-se o agregado fino com os restantes 50% de água.

Acrescentou-se superplastificante.

Deixou-se completar o período de 3 a 4 minutos.

Figura 3.7. Aspecto do betão após mistura

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3.5. Ensaios do betão no estado fresco

A análise da trabalhabilidade dos betões frescos foi realizada através dos ensaios de abaixamento

do tronco de cone e da mesa de espalhamento, logo após a mistura.

3.5.1. Ensaio do abaixamento do tronco de cone (slump test)

O ensaio de abaixamento, teste do cone de abaixamento, (Slump test) foi realizado de acordo com

a norma NP EN 12350-2:2009, este ensaio foi realizado para todas as misturas.

Para a realização deste ensaio foi necessário uma haste de socamento de 60x16cm, um tronco de

cone com 30 cm de altura, cujo topo possui um diâmetro de 10 cm e a base 20 cm, e uma régua.

i. Colocou-se o tronco-cônico sobre uma placa metálica nivelada. Colocam-se os pés nas abas

inferiores do tronco.

ii. Preencheu-se o tronco-cônico com betão, em 3 camadas, recebendo cada camada 25 golpes

com a haste de socamento, penetrando parcialmente a camada anterior.

iii. Após a última camada, retirou-se o excesso de betão com a ajuda de uma régua metálica,

de forma a alisar a superfície.

iv. Retirou-se com um só movimento o molde, o betão abateu-se pelo seu próprio peso.

v. Colocou-se o tronco-cônico ao lado da mistura de betão moldada e com a ajuda da haste

apoiada no topo do tronco-cônico, mediu-se o abaixamento.

Figura 3.8. Procedimento do ensaio do tronco de cone (http://3.bp.blogspot.com/-hGEYgzmJ9Vg/UeaUYgu0oOI/AAAAAAAABK8/Fa3CZ0219vU/s1600/SLUMP+2.jpg)

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37

3.5.2. Ensaio da mesa de espalhamento (mesa de Graff)

O ensaio de espalhamento foi realizado para todas as misturas, encontrando-se no estado fresco,

de acordo com a norma NP EN12350-5 de 1999, de modo a analisar a consistência do betão.

vi. Colocou-se a mesa de espalhamento no chão, de modo a esta ficar nivelada.

vii. Limpou-se a mesa de espalhamento e o tronco-cónico com um pano humedecido

viii. Centrou-se o tronco-cônico e preencheu-se de betão com duas camadas iguais.

ix. Cada camada recebeu 10 golpes com a haste de socamento de modo a compactar a mistura.

x. Após a última camada, retirou-se o excesso de betão com a ajuda de uma régua metálica,

de forma a alisar a superfície.

xi. Removeu-se o molde.

xii. Levantou-se a placa superior com a ajuda da pega deixando-se cair por 15 vezes.

xiii. Mediu-se o diâmetro do espalhamento em duas direções.

Figura 3.9. Mesa de espalhamento

Depois de medidos os dois diâmetros é possível calcular o diâmetro médio de cada mistura, assim

como a área relativa de espalhamento através da formula:

𝑓 =𝑑1 + 𝑑2

2

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38

3.5.3. Medição da massa volúmica

A massa volúmica é definida pela relação entre a massa de um corpo e o volume que o mesmo

ocupa. Deste modo a massa volúmica foi determinada para cada mistura produzida, no estado

fresco, de acordo com a norma NP EN 12350-6: 2009:

i. Pesaram-se os moldes vazios, registando-se o seu valor

ii. Encheram-se os moldes com a mistura de betão

iii. Compactaram-se os corpos de prova com um vibrador

iv. Rasaram-se os moldes com a ajuda de uma régua

v. Pesaram-se os moldes com a mistura de betão

vi. Calculou-se a massa volúmica de acordo coma formula:

𝐷 =𝑚2 − 𝑚1

𝑣

Sendo:

D - massa volúmica do betão fresco, kg/m3

m1 - massa do molde, kg

m2 – massa do molde com a mistura de betão, kg

V- volume do molde, m3

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39

3.6. Ensaios do betão no estado endurecido

Para a determinação das propriedades físicas e mecânicas do betão foram moldados corpos de

prova cúbicos de 150 mm de arestas, segundo a norma NP EN 12390-2. Um vibrador de imersão foi

utilizado para compactar as misturas.

Os corpos de prova foram mantidos em uma estufa com 22ºC e 95% de humidade relativa durante

24 horas, sendo então realizada a descofragem dos mesmos. Logo após a descofragem, os corpos

de prova foram devidamente identificados e mantidos na estufa até completarem a idade de

28dias.

Figura 3.10. Betão nos moldes por compactar e compactado

3.6.1. Medição da massa volúmica

A massa volúmica no estado endurecido foi calculada tendo tem conta as características físicas dos

corpos de prova, deste modo todos os corpos de prova depois de desmoldados e curados, foram

medidos e pesados. Registou-se a área da base, a altura e o peso dos mesmos antes de se proceder

as restantes ensaios. O ensaio foi realizado de acordo com a norma NP EN 12390-7 (2003).

Calculou-se a massa volúmica para cada provete no estado endurecido pela formula:

𝑚𝑣 =𝑝𝑒𝑠𝑜

𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒=

𝑝𝑒𝑠𝑜

á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑏𝑎𝑠𝑒 ∗ 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎

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40

3.6.2. Determinação da velocidade ultrassónica e do modulo de elasticidade dinâmico

Os ensaios de ultrassom foram realizados nos corpos de prova com dimensões de 15 x 15 x 15 cm

aproximadamente, segundo a norma BS 1881-203/1986. Este ensaio consiste na determinação da

velocidade de propagação de um impulso ultrassónico entre dois pontos de medida (figure 11). Este

ensaio permite obter informações sobre as características mecânicas, a homogeneidade e a

presença de fissuras e defeitos.

Antes de se realizar o ensaio em si, foram pesados todos os corpos de prova, seguidamente foram

colocados um emissor e um receptor em faces opostas, o ensaio foi realizado em duas direções.

Primeiramente mediu-se o tempo em microssegundos paralelamente a face de identificação do

corpo de prova, registando-se a sua largura, posteriormente repetiu-se o mesmo processo para a

face perpendicular. Todos os valores foram registados.

Figura 3.11. Corpo de prova em perspectiva

Figura 3.12.Vista em planta das direções das medições

3.6.3. Ensaio de resistência à compressão

A resistência à compressão das misturas foi determinada em conformidade com a NP EN 12390-3:

2009 aos 28 dias, em cubos de 150 mm de aresta, mantidos em condições de temperatura e

humidade.

Os corpos de prova são colocados numa máquina de ensaio à compressão com uma capacidade

máxima de 3 000kN:

i. Verificou-se que a prensa estava livre de sujidade e objetos que pudessem comprometer o

ensaio

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41

ii. Colocaram-se os corpos de prova no centro do prato inferior

iii. Posicionaram-se os corpos de prova de forma a que a carga seja aplicada

perpendicularmente à direção da moldagem

iv. Aplica-se a carga de 13,5 kN/s, de forma continua e gradual

v. Aumenta-se a carga até o corpo de prova ceder (atinge a rotura)

vi. Registaram-se os valores de carga máxima suportada pelo provete antes da rotura

Figura 3.13. Prensa utilizada para os ensaios de compressão

Ao retirarem-se os corpos de prova da prensa procedeu-se ao registo fotográfico, pode-se verificar

que os corpos de prova apresentam uma rotura do tipo normal.

Figura 3.14. Rotura do tipo normal

Após este procedimento pode-se então calcular a resistência à compressão, usando para isso a

expressão:

𝑓𝑐 =𝐹

𝐴𝑐[Mpa ou N/mm2 ]

Sendo:

fc - a resistência à compressão [Mpa]

F – carga máxima À rotura [N]

Ac – a área da secção transversal do provete, onde é aplicada a força [mm2]

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42

3.6.4. Absorção por capilaridade

Para a determinação da absorção de água por capilaridade o método de ensaio foi realizado

segundo o normalizado pela especificação LNEC E393 – Determinação da absorção de água por

capilaridade. Este ensaio tem uma duração de 72h e as medições são realizadas às 3, 6, 24 e 72h.

Os ensaios de absorção de água por capilaridade foram realizados em corpos de prova de 7,5 x 7,5

x ± 15 cm.

i. Secaram-se os corpos de prova na estufa a uma temperatura de 60o C ± 5o C, durante 24h,

tempo em que apresentaram uma massa constante.

ii. Registou-se a massa inicial dos corpos de prova (m0).

iii. Seguidamente colocaram-se num tabuleiro em contato com água, cerca de 5 ± 1 mm de

profundidade.

iv. A cada tempo estipulado, retiraram-se os corpos de prova, com o auxílio de um tecido

húmido removeu-se o excesso de água e pesaram-se os corpos de prova (mi).

v. Recolocando-se os corpos de prova no recipiente imediatamente após a pesagem, até à

próxima pesagem.

Figura 3.15. Corpos de prova durante o ensaio de capilaridade

Figura 3.16. Pesagem dos corpos de prova

A absorção de água é calculada dividindo o aumento de massa ao fim dos intervalos de tempo

estipulados na norma, pela área da face inferior do provete que esteve em contato com a água.

Deste modo temos:

𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟çã𝑜 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑙𝑎𝑟 = 𝑚𝑖 − 𝑚0

𝐴

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43

4. Apresentação e discussão dos resultados

Neste capitulo são apresentados os resultados obtidos nos ensaios realizados anteriormente, de

modo a caracterizar as várias misturas de betões com os vários teores de agregados de resíduos de

vidro. Os resultados serão apresentados de acordo com sequência da descrição dos ensaios, para

facilitar a análise e compreensão, assim como no capítulo anterior, haverá a distinção entre o

estado fresco e o estado endurecido. Serão apresentados figuras e tabelas de modo a facilitar a

compreensão e discussão dos dados obtidos ao longo dos ensaios realizados, facilitando a análise e

a avaliação das propriedades dos betões com as diferentes dosagens de agregado de resíduo de

vidro.

4.1. Ensaios do betão fresco

Como foi mencionado anteriormente no capitulo 3.5 os ensaios realizados no estado fresco

ajudaram a avaliar a trabalhabilidade das misturas de betão, analisando os resultados obtidos nos

ensaios realizados.

4.1.1. Consistência do betão pelo abaixamento do tronco de cone

A Figura 4.1 apresenta os resultados, para todas as misturas produzidas, de consistência do betão

fresco obtida pelo método do abaixamento do tronco de cone.

Figura 4.1. Consistência pelo método do abaixamento do tronco de cone

0

5

10

15

20

Ab

aixa

me

nto

[cm

]

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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44

Denote-se que o abaixamento do betão de referência é quase nulo, registando-se um valor de 15

mm, enquanto as restantes misturas pode-se verificar os elevados valores, todos superiores a 15

cm, registando-se o valor máximo de 20,5 cm na mistura M 100/50.

O aumento deve-se praticamente à presença de vidro como agregado e à sua impermeabilidade,

enquanto que na mistura de referência o agregado natural absorveu a maior parte da água da

mistura, tornando a mistura mais coesa, as restantes misturas, por possuírem agregados de vidro

independentemente do seu teor tornou a mistura menos coesa.

Em todas as misturas com agregados de vidro o cone resultante deste ensaio não se verificou,

quando da remoção do molde, a mistura perdeu a forma. Pode-se especular que a dificuldade de

coesão das misturas com a presença de agregados de vidro tenha sido também influenciada pela

forma dos agregados que para o vidro é tendencialmente lamelar ou irregular.

Figura 4.2.Abaixamento do tronco de cone para o betão de referência e para as misturas com agregados de vidro

4.1.2. Ensaio da mesa de espalhamento

Este ensaio permitiu-nos através da análise do diâmetro método avaliar a deformabilidade do betão

no estado fresco. Depois de registados todos os valores referentes às cinco misturas de betão,

calcularam-se os diâmetros médios e elaborou-se o gráfico presente na Figura 4.4.

Figura 4.3. Obtenção do valor do diâmetro do teste da mesa de espalhamento

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45

Tento em conta a diferença de “permeabilidade” do agregado natural e de vidro consegue-se

prever que a tendência observada no ensaio do abaixamento do tronco de cone. De facto, a mistura

de referência apresenta valor de diâmetro de espalhamento mais baixo que as restantes misturas

contendo agregado de vidro nas suas diferentes proporções. Uma vez que o agregado natural

absorve maior quantidade de água do que o agregado de vidro, essa característica torna a mistura

mais consistente.

Figura 4.4. Consistência pelo método da mesa de espalhamento

Registou-se um aumento de diâmetro com o aumento da substituição do agregado natural por

agregado de vidro, este comportamento deve-se também ao fato do vidro ser um material

impermeável, conferindo à mistura uma menor consistência e coesão, ao aumentar a quantidade

de água não absorvida, aumenta também a fluidez da mistura, aumentando assim o diâmetro.

Pode-se ainda observar que as misturas com maior teor de substituição de agregado natural por

agregado grosso de resíduo de vidro apresentam maiores diâmetros.

Genericamente pode-se afirmar que a inserção de agregados de vidro nas misturas de betão alteram

a consistência do mesmo. À primeira vista pode-se especular que, para uma mesma relação água

cimento, a substituição crescente dos agregados naturais por agregados de vidro pode contribuir

para uma perda de coesão da mistura, como se observa nas figuras 8 e 9, provocando a segregação

das mesmas. Embora as imagens possam levar à essa conclusão, aqui pode não se tratar exatamente

de segregação, pois não se constatou uma separação faseada dos componentes das misturas, mas

sim a aparente aspereza da provocada pela inserção do vidro. Essa característica pode influenciar

a trabalhabilidade das misturas exigindo um cuidado particular, com a inserção de maior

quantidade de finos para assegurar uma dada coesão. Não obstante é importante observar se

alguma influência significativa ocorre na fase do betão endurecido.

0

10

20

30

40

50

Dia

me

tro

dio

[cm

]

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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4.1.3. Determinação da massa volúmica

Depois de calculadas as massas volúmica respetivas de cada tipo de mistura e calculando-se a

média por mistura representadas no seguinte gráfico:

Figura 4.5. Massa volúmica média do betão fresco

Á medida que aumenta a substituição de agregado por agregado de resíduo de vidro, menor se

torna a massa volúmica, esta diferença deve-se ao facto de o vidro ser um material com menor

densidade do que o agregado natural. O agregado grosso de vidro é o grande responsável pela

diminuição da massa volúmica, pois sempre que a substituição do agregado grosso natural por

agregado grosso de vidro é total, existe grande diminuição da massa volúmica.

A eventual dificuldade de compactação dos corpos de prova pode ser outro fator influente na massa

volúmica, uma vez que a existência de poros diminui a densidade do betão. Embora essa hipótese

seja descartada neste estudo, uma vez que o procedimento de compactação adotado foi igual para

todas as misturas ou seja o betão foi compactado com o auxílio de um vibrador de agulha poderá.

2100,00

2150,00

2200,00

2250,00

2300,00

2350,00

2400,00

Mas

sa v

olú

mic

a d

o b

eão

fre

sco

(k

g/m

3)

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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47

4.2. Ensaios do betão endurecido

Realizaram-se os ensaios descritos no capitulo 3.6 de forma a analisar a durabilidade dos betões

em estudo. Para todos os ensaios no estado endurecido do betão fora utilizados três corpos de

prova para cada tipo de mistura. De modo a ilustrar os provetes usados neste estudo, recorremos

ao registo fotográfico dos provetes (Figura 19) usados no ensaio de absorção de água por

capilaridade, de forma a mostrar as diferentes misturas realizadas.

Figura 4.6. Tipos de misturas

4.2.1. Determinação da massa volúmica

No estado endurecido e antes de se realizarem os ensaios de compressão foram determinadas as

massas volúmicas no estado endurecido de cada mistura, resultando no seguinte gráfico com as

respectivas barras de desvio padrão:

Figura 4.7. Massa volúmica média do betão endurecido

2100,00

2150,00

2200,00

2250,00

2300,00

2350,00

Mas

sa v

olú

mic

a d

o b

eão

en

du

reci

do

(k

g/m

3 )

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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48

Pode-se considerar que as misturas com agregados de vidro se enquadram como betão normal, pois

a sua massa volúmica após secagem em estufa (105°C) está compreendida entre a 2000 kg/m3 a

2600 kg/m3.

Podemos ainda afirmar que o betão de referência é mais denso comparativamente às restantes

misturas, devido ao facto deste ser composto apenas por agregado natural, fazendo com que o

peso dos corpos de prova seja superior aos corpos de prova contendo agregado de vidro, devido à

baixa densidade do vidro. Já o valor mais baixo é registado na mistura produzida por 100% de

resíduos de vidro como agregado.

Como já foi referido anteriormente, a baixa densidade do agregado de vidro afeta severamente a

massa volúmica dos corpos de prova, com uma percentagem de cerca de 50%, tendo uma proporção

de 3,14 de agregado grosso na mistura de betão, é natural que os agregados grossos tenham grande

influência no peso do betão. Todos os corpos de prova contendo agregados de vidro tiveram uma

diminuição superior a 2%. Porém não há diferenças significativas entre as massas volúmicas das

misturas M50/100, M100/50 e M100/100.

Comparativamente, a massa volúmica no estado fresco apresenta um valor mais elevado do que a

massa volúmica no estado endurecido, este fator deve-se a evaporação de água durante o processo

de cura do betão. Porém ambas massas volúmicas apresentam a mesma tendência de redução com

a substituição dos agregados naturais por agregados de vidro.

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49

4.2.2. Ensaio de ultrassom

Para a realização deste ensaio os corpos de prova foram submetidos a ondas de ultrassom,

registando-se os resultados das velocidades de propagação dos impulsos, apresentando-os na Figura

4.8, cada valor apresentado é a média de três medições:

Figura 4.8. Velocidade média

Ao analisarmos o gráfico apresentado a cima, podemos verificar que a diferença entre as

velocidades é relativamente pequena, variando entre 4,15 e 4,63 km/s. Essas pequenas diferenças,

são por vezes anuladas pelos valores de desvios padrão. Os valores obtidos encontram-se todos a

cima dos 3500 m/s, classificando-se, então, como excelentes e óptimos segundo Whitehurst (1966)

e Rincon et al. (1998), a sua classificação apresenta-se na Tabela 4.1.

Tabela 4.1. Qualidade do betão em função da velocidade de propagação dos ultrassons. Fonte: Whitehurst (1966) e Rincon et al (1998)

VELOCIDADE DA ONDA ULTRA-SÔNICA (M/S) QUALIDADE DO BETÃO

>4500 Excelente

3500 A 4500 Ótimo

3000 A 3500 Bom

2000 A 3000 Regular

<2000 Mau

4,574,28

4,63

4,15

4,57

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

4,00

4,50

5,00

Vel

oci

dad

e (

km/s

)

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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50

Mardani-Aghabaglou et al. (2014), obteve valores semelhantes no seu estudo “Mechanical and

durability performance of concrete incorporating fine recycled concrete and glass aggregates” no

que diz respeito a betão produzido com agregados de vidro, como mostra a Tabela 4.2.

Tabela 4.2. Velocidade de propagação de ultra-som do estudo de Mardani-Aghabaglou et al. (2014).

Mix Pulse velocity (km/s)

Control 4.75

RG-15 4.77

RG-30 4.81

RG-45 4.90

RG-60 5.10

A Figura 4.9 apresenta os resultados de modulo de elasticidade dinâmico obtidos nas misturas

estudadas, e os respetivos desvios-padrão.

Os fatores básicos que afetam módulo de elasticidade dinâmico de concreto são as propriedades

do agregado, pasta de cimento e as características do antimicótico, afirma Mardani-Aghabaglou et

al. (2014).

Figura 4.9. Módulo de elasticidade dinâmico

Pode-se observar que as diferenças aparentes são anuladas pelos desvios padrão. Demonstrando

assim que a inserção de agregado de vidro pouco influenciou o modulo de elasticidade do betão.

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

du

lo d

e el

asti

cid

ade

din

âmic

o (

MP

a)

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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4.2.3. Ensaio de compressão

Para todas as misturas foram ensaiados três corpos de prova à idade de 28 dias. Na Figura 4.10.,

apresentam-se os resultados médios e os respectivos desvio padrão das misturas estudadas.

Figura 4.10. Resistência média à compressão dos diferentes tipos de misturas.

Os betões apresentam um decréscimo da resistência à compressão com a incorporação de agregados

reciclados, no entanto a diferença entre misturas contendo agregados de resíduos de vidro não é

muito elevada, registando-se um decréscimo da diferença à medida que o teor de agregado fino de

vidro aumenta.

Para cada teor de substituição de agregado natural por agregado de resíduos de vidro (50-50%, 50-

100%, 100-50%, 100-100%) a resistência à compressão aos 28 dias diminuiu na ordem dos 11%, 31%,

23%, 33% respetivamente. Levando em conta o desvio padrão das misturas M50/100 e M100/100

verifica-se que não há diferença significativa da resistência ao aumentar o teor de agregado fino

de resíduo de vidro. Não obstante, com a totalidade da substituição da areia natural e a substituição

parcial do agregado grosso a resistência à compressão foi significativamente incrementada.

O vidro possui uma baixa rugosidade e porosidade o que poderá ter dificultado a ligação entre o

agregado e a pasta cimentícia, tornando o betão com agregados de vidro menos resistente. O valor

mais baixo, comparativamente com a mistura de referência, é registado no betão produzido com

100% de vidro como agregado.

Comparando os resultados da “Massa volúmica” e da “Resistência à compressão” verifica-se que as

misturas com menor massa volúmica foram as que registaram menor resistência à compressão,

10,0

20,0

30,0

40,0

Re

sist

ên

cia

à co

mp

ress

ão f

c [M

Pa]

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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52

consequentemente é a que possui uma total substituição de agregado grosso. Este facto pode ser

explicado pela existência de poros que tornam o betão menos susceptível a grandes cargas, ou à

fraca ligação entre a massa cimentícia e os agregados grossos, pois como estes são maiores possuem

uma maior área de contato com a matriz do betão, e tendo em conta a sua superfície lisa possui

mais dificuldades de adesão à massa cimentícia.

4.2.4. Absorção de água por capilaridade

A absorção de água por capilaridade permite avaliar a durabilidade do betão, pois é este o principal

precursor da corrosão das armaduras, diminuindo a vida útil das estruturas, sendo de elevada

importância conhecer como se processa o transporte de água nos betões estudados.

Após se proceder a análise dos resultados obtidos no ensaio de capilaridade elaborou-se o seguinte

gráfico, onde se pode analisar a evolução da absorção de água por capilaridade dos corpos de prova

durante as 72h. Os resultados apresentados na figura 4.11, relacionam a massa de água absorvida

(g/m2) e a raiz quadrada ao longo do tempo.

Figura 4.11. Absorção de água por capilaridade

Pode-se verificar na figura 4.11 que a mistura de referência (sem agregado de vidro) apresentou

uma absorção mais baixa comparativamente às restantes misturas.

5

10

15

20

25

30

35

0 2 4 6 8 10

Ab

sorç

ão d

e á

gua

po

r ca

pila

rid

ade

(g/

m2 )

Tempo (h0,5)

M Ref.M 50/50M 50/100M 100/50M 100/100

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53

Denote-se que as misturas contendo agregado de vidro reciclado na sua composição possuem um

comportamento similar, pois a porosidade da matriz do betão pouco se alterou com a os diferentes

teores de vidro reciclado.

Para maior facilidade de análise do comportamento dos vários tipos de betões foram calculados os

seus coeficientes de capilaridade, que exprime a velocidade de absorção de água. A Figura 4.12

apresenta os valores de coeficiente de capilaridade obtidos pela inclinação das retas obtidas com

os resultados ilustrados na Figura 4.12. O coeficiente de absorção capilar resulta do declive da reta

obtida por regressão linear, a reta que melhor aproxima todos os valores obtidos no estudo.

Figura 4.12. Coeficiente de capilaridade

Pode-se observar que o betão de referência possui um coeficiente de capilaridade bastante mais

pequeno, fazendo com que a absorção de água seja mais lenta durante o ensaio comparativamente

às misturas contendo resíduos de vidro como agregado.

Os betões produzidos com agregado de resíduo de vidro apresentam um coeficiente de capilaridade

três vezes superior ao da mistura de referência. Registando-se maior valor na mistura M100/50.

Este facto pode ser explicado pela ausência de finos que seriam necessários para diminuir a

porosidade das misturas com agregados de vidro e por consequência a presença de poros capilares.

Veja-se que a forma (predominantemente lamelar) dos agregados de vidro têm uma forte influência

na compacidade do betão.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

Co

efic

ien

te d

e ca

pila

rid

ade

(g/m

2)*

h0

,5

M Ref. M 50/50 M 50/100 M 100/50 M 100/100

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5. Conclusões

Ao longo dos capítulos expostos foram observadas e retiradas algumas conclusões que se

apresentaram relevantes para a realização e compreensão do estudo realizado.

A incorporação do vidro como agregado em misturas cimentícias é um assunto já debatido,

levantando muitos estudos ao longo dos anos, sendo uma alternativa sustentável ao depósito em

aterros, o uso do vidro confere propriedades mecânicas ao betão e usado de forma racional pode

trazer inúmeras vantagens. Como foi dita nesse estudo, a aplicação deste tipo de material deve

ser feita tendo em conta a sua tendência em reduzir o desempenho do betão face as resistências

mecânicas.

No decorrer deste estudo foi analisado o comportamento de cinco misturas produzidas com cinco

diferentes teores de agregado de vidro, de forma a avaliar de que forma o vidro influência as

propriedades do betão, analisando assim o comportamento dos diferentes tipos de betões. Todas

as misturas foram submetidas às mesmas condições climatéricas e ensaiadas conforme as normas

referidas anteriormente, sendo os resultados uma média dos valores de três corpos de prova.

No que diz respeito ao estado fresco do betão, pôde-se observar uma grande diminuição da coesão

nos betões com o aumento do agregado de vidro. Esse fato é explicado pela impermeabilidade do

vidro, que confere a mistura uma maior fluidez, podendo facilmente se resolver com uma redução

da água de amassamento e utilizando-se materiais suplementares que melhorem a viscosidade do

mesmo. Neste sentido o próprio pó de vidro aparece como uma alternativa viável.

Relativamente à massa volúmica no estado fresco e endurecido, verificou-se uma ligeira diminuição

com o aumento do teor de agregados de vidro, perda essa associada à baixa densidade dos

agregados do resíduo de vidro, comparativamente com os valores dos agregados naturais.

No que diz respeito ao módulo de elasticidade dinâmico, este não apresentou grande variação para

as diferentes misturas com agregado de vidro quando comparados com os valores obtidos no betão

sem incorporação de agregados de vidro, no entanto os valores enquadram-se no intervalo de

valores obtidos por Mardani-Aghabaglou et al. (2014).

Quanto a resistência à compressão do betão com agregados de vidro, verificou-se uma perda de

11%, 31%, 23% e 33% respetivamente para betões com inserção de agregados finos e grossos de

vidro de 50/50%, 50/100%, 100/50% e 100/100% quando comparados com o betão sem agregados

de vidro. A diminuição da resistência à compressão já era esperada, no entanto a redução de 30%

em algumas misturas é um valor considerável. Estas reduções não inviabilizam de maneira nenhuma

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a utilização do resíduo como agregado, porém devem ser levadas em conta quando dos estudos de

dosagens de betões para atingir uma determinada resistência mecânica.

Os provetes com agregado de vidro reciclado apresentaram um coeficiente de capilaridade superior

comparativamente com o betão produzido apenas com agregados naturais.

De forma geral pode-se concluir que este estudo contribuiu para compreender como a inserção de

agregado de vidro em misturas cimentícias influencia o comportamento do betão. A inserção de

vidro reciclado na produção de betões é uma prática viável, promove a reutilização e a valorização

de um material com baixo valor. No entanto serão necessários mais estudos de forma a esclarecer

algumas questões não respondidas neste estudo.

Um estudo que se veria necessário seria sobre como aumentar a resistência de betões produzidos

com agregado de vidro. A recorrência à inserção de adjuvantes, adições e especificamente alguns

agentes de viscosidade também de origem residual, seria aqui uma proposta.

Na mesma linha de valorização de resíduos, sugere-se a continuidade de trabalhos semelhantes,

usando outros materiais resultantes também dos resíduos urbanos, de forma a dar uma nova vida

a esses materiais, conservando os recursos naturais, diminuindo o volume de depósito destes em

aterros, produzindo betões economicamente viáveis e com qualidade.

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7. Anexos

I. Resultados do ensaio de tronco de cone - Slump test

II. Ensaio da mesa de espalhamento - mesa de Graff

III. Determinação da massa vólumica no estado fresco

IV. Determinação da massa vólumica no estado endurecido

V. Valores Obtidos no Ensaio de Compressão

I. Valores do Ensaio de Absorção de Água por Capilaridade

VI. Ensaio de ultra som - Modulo de elasticidade dinâmico Ed

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II. Ensaio do tronco de cone (Slump Test)

III. Ensaio da mesa de espalhamento (mesa de Graff)

Tipo de mistura

diametros máximos (cm)

d1 d2 média

Mistura ref. 37,4 38,9 38,15

M 50/50 50,5 50,8 50,65

M 50/100 50,8 58 54,4

M 100/50 53 52,3 52,65

M 100/100 53 52,3 52,65

Tipo de mistura Abaixamento (cm)

Mistura ref. 0,15

M 50/50 15

M 50/100 17

M 100/50 20,5

M 100/100 18,5

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IV. Determinação da massa volúmica no estado fresco

Tipo de Mistura

Corpos de prova

peso s/ peso c/ volume do

molde Massa

Vólumica Massa vólumica

média Desvio padrão

Mistura ref.

1 1,28 9,24 0,003375 2358,519

2358,22 22,44 2 1,28 9,26 0,003375 2364,444

3 1,28 9,12 0,003375 2322,963

M 50/50

1 1,28 8,98 0,003375 2281,481

2281,48 3,42 2 1,28 8,98 0,003375 2281,481

3 1,28 9 0,003375 2287,407

M 50/100

1 1,3 8,8 0,003375 2222,222

2228,15 5,93 2 1,3 8,84 0,003375 2234,074

3 1,3 8,82 0,003375 2228,148

M 100/50

1 1,28 8,9 0,003375 2257,778

2240,00 23,95 2 1,32 8,88 0,003375 2240

3 1,32 8,78 0,003375 2210,37

M 100/100

1 1,28 8,72 0,003375 2204,444

2222,22 14,91 2 1,28 8,78 0,003375 2222,222

3 1,28 8,82 0,003375 2234,074

V. Determinação da massa volúmica no estado endurecido

mistura Corpos

de prova lado lado altura peso

massa volumica

Massa vólumica média

desvio padrao

Mistura Ref.

1 14,95 14,95 15,00 7,82 2332,56

2317,11 12,02 2 14,95 14,95 15,10 7,82 2317,11

3 14,95 14,95 14,96 7,72 2308,89

M 50/50

1 14,95 14,95 15,00 7,58 2260,97

2260,97 9,71 2 14,95 14,95 14,85 7,56 2277,79

3 14,95 14,95 15,00 7,58 2260,97

M 50/100

1 14,95 14,95 14,90 7,38 2216,09

2231,07 8,65 2 14,95 14,95 14,84 7,40 2231,08

3 14,95 14,95 14,80 7,38 2231,07

M 100/50

1 14,95 14,95 14,90 7,48 2246,12

2246,12 24,41 2 14,95 14,95 14,80 7,44 2249,20

3 14,95 14,95 14,85 7,32 2205,48

M 100/100

1 14,95 14,95 14,60 7,32 2243,24

2225,02 11,46 2 14,95 14,95 14,80 7,36 2225,02

3 14,95 14,95 14,90 7,40 2222,10

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VII. Valores Obtidos no Ensaio de Compressão

tipo de mistura Corpos

de prova Carga (kN) fc [Mpa]

fc médio [Mpa]

desvio padrão

Mistura Ref.

1 886,3 39,4

40,7

1,25 2 942,5 41,9

3 916,6 40,7

M 50/50

1 810 36,0

36,1 0,62 2 799,3 35,5

3 826,9 36,8

M 50/100

1 621,8 27,6

28,2

1,52 2 608,3 27,0

3 673,3 29,9

M 100/50

1 712,4 31,7

31,2 0,48 2 704,2 31,3

3 690,8 30,7

M 100/100

1 602,9 26,8

27,2

0,39 2 610,5 27,1

3 620,4 27,6

VI. Valores do Ensaio de Absorção de Água por Capilaridade

Tipo de mistura corpos

de prova

tempo

0h 3h 6h 24h 72h

Mistura Ref.

1 1633,2 1639,5 1639,8 1640,4 1641,5

2 1683,2 1690,5 1691,3 1691,5 1693

3 1704,3 1706,3 1706,6 1707 1707,7

M 50/50

1 1543,4 1554,8 1556,7 1560,1 1561,7

2 1461,4 1471,5 1473,4 1476,6 1478,4

3 1425,3 1433,4 1434,9 1437,5 1439,6

M 50/100

1 1727,3 1735,5 1736,9 1740 1741,5

2 1736,1 1738,7 1745,3 1752,7 1751,6

3 1668,8 1676,5 1678,3 1681,9 1684,3

M 100/50

1 1729 1738,5 1740,3 1744,3 1746,9

2 1716,3 1726,5 1728,4 1732,8 1734,6

3 1822,4 1832,5 1834,8 1838,6 1840,7

M 100/100

1 1814,8 1823,3 1825,2 1828,4 1829,7

2 1665,2 1672,1 1673,7 1676,4 1677,5

3 1692,7 1698,4 1701,6 1704,5 1705,3

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quantidade de água absorvida

Tipo de mistura corpos de prova tempo (h)

0-3h 0-6h 0-24h 0-72h

Mistura Ref.

1 11,200 11,733 12,800 14,756

2 12,978 14,400 14,756 17,422

3 3,556 4,089 4,800 6,044

M 50/50

1 20,267 23,644 29,689 32,533

2 17,956 21,333 27,022 30,222

3 14,400 17,067 21,689 25,422

M 50/100

1 14,578 17,067 22,578 25,244

2 16,356 29,511 27,556

3 13,689 16,889 23,289 27,556

M 100/50

1 16,889 20,089 27,200 31,822

2 18,133 21,511 29,333 32,533

3 17,956 22,044 28,800 32,533

M 100/100

1 15,111 18,489 24,178 26,489

2 12,267 15,111 19,911 21,867

3 10,133 15,822 20,978 22,400

Quantidade média de água absorvida

Tipo de mistura

Tempo (h) e tempo h^0,5

3 6 24 72

1,73 2,45 4,90 8,49

M referência 12,09 13,07 13,78 16,09

M 50/50 17,54 20,68 26,13 29,39

M 50/100 14,13 16,77 25,13 26,79

M 100/50 17,66 21,21 28,44 32,30

M 100/100 12,50 16,47 21,69 23,59

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VII. Ensaio de ultra som - Modulo de elasticidade dinâmico Ed

Tipo de Mistura

corpo de prova

lado a

lado b

media ρ

(Kg/m3) L (mm)

V (Km/s)

V media (Km/s)

ʋ (Coef. de Poisson)

Ed (MPa) Edm

(MPa) Sd

(MPa)

M Ref.

1 34,50 32,20 33,35 2332,56 150,00 4,50

4,52

0,20 33974,56

34090,89

150,83

2 34,40 31,80 33,10 2317,11 150,00 4,53 0,20 34261,31

3 33,70 32,60 33,15 2308,89 150,00 4,52 0,20 34036,80

M 50/50

1 35,50 34,60 35,05 2260,97 150,00 4,28

4,28

0,20 29814,78

29891,43

3247,66

2 33,60 33,10 33,35 2277,79 150,00 4,50 0,20 33176,74

3 37,40 36,70 37,05 2260,97 150,00 4,05 0,20 26682,77

M 50/100

1 32,70 31,40 32,05 2216,09 150,00 4,68

4,63

0,20 34949,76

34335,41

1079,59

2 30,50 33,80 32,15 2231,08 150,00 4,67 0,20 34967,61

3 33,30 32,80 33,05 2231,07 150,00 4,54 0,20 33088,85

M 100/50

1 31,90 34,70 33,30 2246,12 150,00 4,50

4,15

0,20 32813,82

27962,11

6143,04

2 41,50 41,70 41,60 2249,20 150,00 3,61 0,20 21054,89

3 35,60 33,40 34,50 2205,48 150,00 4,35 0,20 30017,61

M 100/100

1 31,90 33,10 32,50 2243,24 150,00 4,62

4,57

0,20 34405,00

33520,71

797,40

2 33,00 32,80 32,90 2225,02 150,00 4,56 0,20 33300,77

3 33,70 32,50 33,10 2222,10 150,00 4,53 0,20 32856,36

Page 85: Comportamento Mecânico e Durabilidade de Betão com ... · De acordo com a APA (Agencia Portuguesa do Ambiente), em Portugal cada habitante produz, em média, 1.2 Kg de resíduos