comportamento agressivo de crianças do sexo masculino

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  • 8/7/2019 comportamento agressivo de crianas do sexo masculino

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    Psicologia em Estudo, Maring, v. 10, n. 3, p. 353-362, set./dez. 2005

    O COMPORTAMENTO AGRESSIVO DE CRIANAS DO SEXO MASCULINO NAESCOLA E SUA RELAO COM A VIOLNCIA DOMSTICA1

    Daniela Patricia Ado Maldonado*

    Lcia Cavalcanti de Albuquerque Williams#

    RESUMO. Este trabalho teve como meta estudar o comportamento agressivo de crianas do sexo masculino na escola e sua

    relao com a violncia domstica. Avaliaram-se 28 crianas do sexo masculino e suas respectivas mes, dentre as quais 14

    crianas apresentavam comportamentos agressivos na escola (Grupo A). Estas ltimas foram comparadas s 14 crianas do

    mesmo sexo e nvel de renda que no apresentavam tais comportamentos (Grupo B). Os dados foram coletados inicialmente

    pelas professoras das crianas em trs escolas de Ensino Bsico de uma cidade do interior de So Paulo. Seguidamente, foram

    coletados dados com as mes das crianas em visitas domiciliares. Os resultados gerais apontam para a ocorrncia de

    violncia em ambos os grupos, porm, com maior incidncia e maior severidade, no grupo de crianas agressivas. Asconsideraes finais sinalizam a necessidade de futuros estudos para expandir a compreenso do comportamento agressivo e

    sua relao com a violncia domstica.

    Palavras-chave:comportamento agressivo, violncia domstica, violncia na escola.

    AGGRESSIVE BEHAVIORS OF MALE CHILDREN IN SCHOOL

    AND ITS RELATION TO DOMESTIC VIOLENCE

    ABSTRACT. The present study aimed at studying the aggressive behaviors of male children in school and its relation to domestic

    violence. For such purpose, 28 male children and their mothers were evaluated, 14 of them showed aggression in schools (Group A)

    and were compared to 14 children of the same sex and income who did not present aggression (Group B). Data were initially gatheredby the teachers of three elementary schools of an inland city of So Paulo state. Afterwards, data were taken with the childrens

    mothers in their respective homes. General results point to the occurrence of violence in both groups; however, the group of

    aggressive children had more incidents and more severity of violence. Final considerations point to the need for further research in

    order to expand the knowledge of aggressive behavior and its relationship to domestic violence.

    Key words: aggressive behavior, domestic violence, violence in school.

    1 Apoio: CNPq

    * Mestre pela Universidade Federal de So Carlos, Centro de Educao e Cincias Humanas, Programa de Ps-Graduao em

    Educao Especial.# Doutora. Docente da Universidade Federal de So Carlos, Centro de Educao e Cincias Humanas, Departamento de

    Psicologia.

    A violncia um problema social grave que

    atinge toda a populao e precisa ser estudada de

    diferentes maneiras. A importncia do tema no pode

    ser solapada pela cotidianidade. Existem vrias

    definies de violncia, mas, como comenta Koller

    (1999), todo ato de violncia tem em comum o fato de

    ser caracterizado por aes e, ou omisses que

    podem cessar, impedir, deter ou retardar o

    desenvolvimento pleno dos seres humanos (p. 33).

    Tal autora assinala que existem trs papis no ato da

    violncia, que podem ser confundidos, mesclados ou

    no: o papel de vtima, o de autor e o de testemunha.

    Azevedo e Guerra (1995) definem a violncia

    domstica contra a criana como:

    todo ato ou omisso praticado por pais,

    parentes ou responsveis contra crianas e/ou

    adolescentes que sendo capaz de causar

    dano fsico, sexual e/ou psicolgico vtima

    implica de um lado numa transgresso do

    poder/dever de proteo de adulto e, de

    outro, numa coisificao da infncia, isto ,

    numa negao do direito que crianas e

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    Psicologia em Estudo, Maring, v. 10, n. 3, p. 353-362, set./dez. 2005

    adolescentes tm de ser tratados como

    sujeitos de direitos e pessoas em condio de

    desenvolvimento. (p. 36)

    A violncia contra a criana, muitas vezes,acontece dentro do prprio lar. H diferentes formas

    de violncia domstica ou intrafamiliar, as quais so

    agrupadas e definidas como: fsica, sexual, psicolgica

    e negligncia (Caminha, 1999). A violncia no lar se

    expressa de diferentes formas. A criana, como parte

    integrante da famlia, pode estar exposta agresso

    direta - quando ela o alvo da agresso - ou indireta -

    quando presencia cenas de violncia entre os pais

    (Brancalhone, 2003; McCloskey, Figueredo & Koss,

    1995). Ambas as formas de agresso so prejudiciais

    criana (Jouriles, McDonald, Norwood, Ezell, 2001).

    H um grande nmero de crianas que

    testemunham a violncia domstica (Jaffe & Poisson,

    2000; McCloskey, Figueiredo & Koss, 1995),

    assinalam que uma das importantes razes pelas quais

    filhos de mes agredidas apresentam um quadro de

    distrbio o fato de terem presenciado uma cena de

    violncia domstica contra a prpria me, sendo isto

    uma experincia traumtica. Graham-Bermann (1998)

    explica que a maioria das pesquisas de sade mental

    na rea de violncia domstica concluem que a mera

    exposio violncia domstica , em si mesma, uma

    forma de maltratar a criana, afirmando que a criana

    que testemunha a agresso sua me vitima de

    violncia psicolgica.

    Algumas dificuldades que podem decorrer do fato

    de se presenciar violncia domstica so ilustradas no

    estudo comparativo de famlias violentas e no-

    violentas e estresse maternal, indicando uma

    significativa prevalncia de problemas

    comportamentais e reduzida competncia social em

    crianas expostas violncia familiar (Wolfe, Jaffe,

    Wilson & Zak, 1985). Os resultados obtidos no estudo

    de Wolfe e colaboradores do embasamento posio

    de Cummings (1998) no trabalho em que discute as

    diretrizes conceituais e tericas sobre crianas

    expostas ao conflito conjugal e violncia. Tal autora

    ressalta a posio de Bandura (1973) de que as

    crianas podem aprender modelos cognitivos e

    comportamentais a partir de modelos ou cpias de

    eventos dirios, incluindo-se a observao de seus pais

    em situaes interparentais. A famlia tem uma

    importante influncia na aquisio de modelos

    agressivos pelas crianas (Bandura, 1973; Gomide,

    2003; Jaffe, Wolfe, & Wilson, 1990). Pais que

    utilizam a punio esto mostrando a seus filhos que aviolncia uma forma apropriada de resoluo de

    conflitos e de relacionamento entre homens e

    mulheres.

    Graham-Bermann (1998) assinala, em seu

    trabalho sobre o impacto da violncia contra a mulher

    no desenvolvimento social da criana, que os modelos

    de comportamento aprendidos na primeira infncia em

    interaes com os outros so automaticamente usados

    em novas situaes. Segundo a autora, por meio dessa

    aprendizagem, a criana adiciona tticas de agresso,

    podendo aprender a manipular, persuadir, coagir e

    mostrar, desde o incio, comportamentos anti-sociais,

    podendo ainda exibir tais comportamentos em

    interaes sociais com seus pares, fora do lar.

    O comportamento agressivo, segundo os estudos

    acima citados, est inserido entre os problemas

    apresentados pelas crianas frente violncia

    domstica. Conforme o Manual Diagnstico e

    Estatstico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), o

    comportamento agressivo se encontra associado a

    vrios transtornos; no entanto, encontra-se, mais

    especificamente, inserido no quadro de transtornos de

    conduta, que caracterizado por um padro

    persistente de comportamento que viola os direitos

    bsicos dos outros e as normas ou regras sociais

    importantes e apropriadas idade (American

    Psychiatric Association, 2003).

    Na reviso de literatura aqui realizada constatou-

    se que a literatura nacional a respeito de crianas

    expostas violncia conjugal est apenas iniciando.

    Brancalhone, Fogo e Williams (2004) citam a

    definio de Holden (1998) de que a criana exposta

    violncia conjugal aquela que presencia, viu, ouviu

    agresso contra a prpria me, viu o seu resultado ou

    vivenciou seu efeito. Cabe ressaltar o estudo realizado

    por Corra e Williams (2000), sobre o impacto da

    violncia conjugal na sade mental das crianas, o

    qual confirma os dados da literatura estrangeira,

    indicando que foram encontrados altos ndices de

    depresso, agressividade, isolamento e baixa auto-

    estima em tais crianas. J no trabalho de DAffonsecae Williams (2003) sobre interveno psicoteraputica

    com crianas vtimas de violncia fsica intrafamiliar,

    foram encontrados resultados que mostraram a

    presena de comportamento agressivo nas crianas,

    dentre os indicadores da ocorrncia de abuso fsico. O

    presente estudo envolver tanto crianas que sofrem

    violncia domstica (vitima direta) como aquelas que

    presenciam tal tipo de violncia (vtimas indiretas).

    Cabe destacar que vrios estudos chamam a

    ateno para algumas diferenas comportamentais

    apresentadas pelas crianas, segundo o gnero, como

    conseqncia da violncia domstica. O DSM-IV-TR(American Psychiatric Association, 2003) destaca que

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    foram encontrados maiores escores de problemas de

    comportamento em meninos do que em meninas, da

    mesma forma que diferenas sobre os tipos especficos

    de comportamento. Graham-Bermann (1998) assinala

    diferenas em relao identificao de papis

    familiares segundo o gnero. Tanto Holden, Geffner e

    Jouriles (1998) como Fantuzzo e Lindquist (1989)

    discutem um maior ndice de internalizao de

    comportamentos-problema em meninas do que em

    meninos expostos violncia conjugal. Em contraste,

    para tais autores, os meninos apresentam maior

    externalizao dos comportamentos-problema. Por

    essa razo, o presente estudo restringiu a amostra a ser

    investigada a crianas do sexo masculino.

    Alguns estudos apresentam dados sobre a possvel

    relao entre violncia domstica e comportamentoagressivo. Meneghel, Giugliani e Falceto (1998)

    estudaram a relao entre violncia domstica e

    agressividade na adolescncia, mais especificamente,

    num estudo comparativo entre alunos considerados

    agressivos e no-agressivos de duas escolas (pblica e

    privada), da cidade de Porto Alegre. Os resultados

    indicaram que em ambas as escolas existiam famlias

    com episdios graves e freqentes de punio em

    proporo semelhante. A relao entre agressividade

    na adolescncia e punio fsica grave foi

    estatisticamente significativa. Os adolescentesconsiderados agressivos na escola eram mais punidos

    do que os adolescentes no-agressivos. Assim, como

    ressaltam os autores, ficou explcita a figura do

    adolescente agressivo e maltratado, violento e

    machucado (Meneghel, e cols., p. 332).

    As crianas podem apresentar vrias

    conseqncias em decorrncia de sofrer violncia

    fsica. Manion e Wilson (1995) apresentam evidncias

    de estudos que sugerem que os maus-tratos em

    crianas esto associados a comportamentos infratores

    em adolescentes. Os resultados do trabalho de taisautores distinguem que experincias de maus-tratos na

    infncia podem colocar os adolescentes em alto perigo

    de se engajarem em comportamentos de risco, estando

    relacionados a severos dficits de ajustamento nos

    adolescentes. Estes so suscetveis de apresentar maior

    internalizao e externalizao de comportamentos-

    problema, tais como ansiedade, depresso, agresso e

    delinqncia. Estudos sobre comportamento anti-

    social em crianas e jovens salientam que modelos

    coercitivos traam histrias de desenvolvimento que

    caracterizam jovens infratores e adultos anti-sociais

    (Patterson, Reid & Dishion, 1992; Reid, Patterson &Snyder, 2002). Webster-Stratton (1997) destaca que

    diversos estudos tm demonstrado uma alta

    continuidade entre crianas que apresentam transtorno

    desafiador opositivo e externalizao de problemas

    nos primeiros anos pr-escolares e adolescentes que

    apresentam transtorno de conduta.

    De acordo com as consideraes aqui levantadas,

    cabe dizer que as conseqncias do comportamento

    agressivo podem ser graves, razo pela qual

    importante a compreenso de tal comportamento. Nesse

    sentido, o presente estudo se justifica fundamentalmente

    pelo propsito de decifrar o comportamento agressivo

    como um sinalizador da existncia de problemas com

    crianas que se encontram em situao de risco,

    contribuindo, assim, com dados e informaes, de

    forma a facilitar a elaborao de estratgias de

    preveno e atuao na rea.Assim sendo, o presente estudo se props como

    objetivo avaliar se as crianas do sexo masculino que

    apresentam comportamentos agressivos na escola,

    quando comparadas s crianas do mesmo sexo que

    no apresentam comportamentos agressivos, tm

    maior histrico de violncia domstica.

    MTODO

    Participantes

    Participaram deste estudo 28 crianas do sexomasculino, de 7 a 11 anos de idade (mdia 8,2

    anos) e suas respectivas mes. As crianas

    cursavam a primeira e a segunda sries do Ensino

    Fundamental de trs escolas pblicas de uma cidade

    de porte mdio do Estado de So Paulo, de dois

    bairros identificados, segundo o estudo realizado

    por Basso (1998), como lugares com alto ndice de

    denncias de ocorrncia de violncia. Os critrios

    para participao foram os seguintes: que as

    crianas participantes fossem do sexo masculino e

    que a composio familiar fosse constituda de

    figura materna e paterna no lar, sendo que a uniodo casal deveria ter pelo menos um ano.

    As crianas participantes foram divididas em dois

    grupos segundo seu comportamento na escola: o

    grupo das crianas que apresentaram comportamentos

    agressivos (grupo A) e o daquelas crianas que no

    apresentaram comportamentos agressivos (grupo B),

    sendo que cada grupo tinha quatorze meninos.

    Instrumentos

    Para a coleta de dados foram utilizados:

    a) Escala de Percepo por Professores dosComportamentos Agressivos de Crianas na

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    Psicologia em Estudo, Maring, v. 10, n. 3, p. 353-362, set./dez. 2005

    Escola (Lisboa & Koller, 2001). A escala consta de41 itens que avaliam o comportamento da criana,medindo sua agressividade na escola. Cada itemrepresenta uma afirmao, sendo que a respostadeve ser dada pelo professor em uma escala de 5pontos - onde 1 corresponde resposta discordototalmente, e 5 corresponde resposta concordototalmente;

    b) Entrevista para Levantamento de Dados sobre asFamlias (roteiro adaptado de Williams, 1998).Trata-se de uma entrevista semi-estruturada, comdurao aproximada de 40 minutos, contendo itensde caracterizao, relacionamento e ocorrncia deviolncia. Por exemplo: descrio da famliaquanto ao nmero de integrantes, ao nvel

    socioeconmico, sade, modalidade de violnciaexperienciada pela famlia e sua freqncia;

    c) Escala de Tticas de Conflito Revisada (RevisedConflict Tactics Scale CTS-2, Straus, 1996),respondida pela me da criana logo aps aentrevista para levantamento de dados sobre afamlia. Tal escala consta de 78 itens, sendocomposta por afirmaes que so utilizadas paraidentificar a violncia (fsica, psicolgica, sexual)entre casais e confirmar a existncia ou no daviolncia conjugal nas famlias das crianas. Osescores resultantes da escala representam a

    freqncia de classes e nveis de comportamentoapresentados pelo casal.

    Procedimento

    Dados coletados na escola

    O primeiro contato com as escolas foi feito com aapresentao, por parte da pesquisadora, dos objetivosdo estudo e da solicitao da assinatura do Termo deConsentimento Livre e Esclarecido para a participaona pesquisa pelos professores.

    Aps aceitao de participao na pesquisa asprofessoras da primeira e segunda sries receberamuma breve instruo sobre como preencher oinstrumento a ser utilizado por elas. Em seguida, foientregue o instrumento Escala de Percepo, porProfessores, dos Comportamentos Agressivos deCrianas na Escola (Lisboa & Koller, 2001), sendosolicitado s professoras o preenchimento relativo atodas as crianas do sexo masculino da sua sala. Combase nos dados fornecidos pelo instrumento, apesquisadora analisou os resultados.

    Para a anlise da pontuao da escala de

    percepo (Lisboa & Koller, 2001), a pesquisadorautilizou o seguinte procedimento: foram computados

    os pontos negativos (referentes a comportamentosagressivos), sendo diminudos os pontos positivos(referentes a comportamentos cooperativos ouassertivos) da escala. Em seguida, foram calculados amdia de cada sala e o desvio-padro. Os alunos quese encontravam acima da mdia de desvio-padroforam consideradas pertencentes ao grupo A (grupo decrianas com comportamentos agressivos), e aquelasque se encontravam em um desvio-padro abaixo damdia foram consideradas pertencentes ao grupo B(crianas que no apresentavam comportamentosagressivos). As crianas do grupo B foramemparelhadas com as do grupo A, tomando-se emconta o nmero delas, a faixa etria e o fato depertencerem mesma sala de aula. Tendo compilado alista de alunos integrantes de ambos os grupos, aadministrao da escola cedeu os endereos dascrianas para que as respectivas mes fossemcontatadas.

    Dados coletados com as mes

    Inicialmente foi feito um contato domiciliar comcada uma das mes das crianas de ambos os grupos erealizado o convite para participar da pesquisa, dandoseu Consentimento Livre e Esclarecido por escrito.Posteriormente, foi realizada a Entrevista paraLevantamento de Dados sobre a Famlia com asrespectivas mes de ambos os grupos. Em seguida apesquisadora, aplicava nas mes a Escala de Tticasde Conflito Revisada (CTS-2), na qual as mesresponderam a questes relativas ao comportamentodelas e do parceiro. Terminada a coleta de dados comas mes, caso fosse necessrio, a pesquisadorarealizava orientaes e encaminhamentos paraservios especializados, respondendo a dvidaseventuais das mes. O estudo tambm tomou osdevidos cuidados ticos, obtendo a aprovao doComit de tica do Comit de tica em Pesquisa daUniversidade Federal de So Carlos, registrado no

    CONEP.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Aps o levantamento dos dados, foram analisadose comparados os dados de 14 crianas queapresentavam comportamento agressivo na escola(grupo A) e suas famlias, em relao a 14 crianasque no apresentavam tal comportamento (grupo B) esuas famlias. Em um primeiro momento foramrealizadas anlises a respeito das caractersticasapresentadas pelas famlias de ambos os grupos econstatou-se, com base nos testes estatsticos deMann-Whitney (Teste de Hipteses no Paramtricos,

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    Psicologia em Estudo, Maring, v. 10, n. 3, p. 353-362, set./dez. 2005

    com nvel de significncia fixado em 5%), que os

    grupos A e B no so diferentes quanto s variveis de

    caracterizao das famlias. Tais resultados no

    chegam a ser surpreendentes, uma vez que as crianas

    eram provenientes das mesmas salas e, portanto, dos

    mesmos bairros, com alta probabilidade de serem

    iguais quanto s variveis socioeconmicas. As

    famlias do estudo caracterizaram-se por serem de

    baixa renda, vivendo em condies precrias de

    habitao, sendo que os pais no completaram o

    ensino fundamental na maioria dos casos.

    Considerando como referncia o indicador de situao

    de pobreza do Programa das Naes Unidas para o

    Desenvolvimento ONU/UNDP (1997), a maioria

    das famlias do grupo A e B (78,6%) encontrava-se

    inserida dentro da linha da pobreza.

    As caractersticas apresentadas pelas crianas,

    mediante a aplicao dos testes estatsticos (Testes de

    Mann-Whitney), indicaram que ambos os grupos so

    iguais quanto idade e diferentes quanto pontuao na

    escala de comportamentos agressivos entre os grupos,

    como era de se esperar segundo os procedimentos

    utilizados para seleo dos participantes.

    Os resultados da anlise estatstica (Teste Qui-

    quadrado, 1.= 3,84146, com nvel de significncia

    de 5%) dos dados relativos violncia na famlia,

    coletados na entrevista realizada com as mes,

    indicaram que os incidentes de violncia familiardos grupos A e B foram diferentes, sendo maiores

    para o grupo A. Foram analisados dois itens, um a

    respeito da ocorrncia de violncia em casa e outro

    a respeito da ocorrncia de violncia contra a

    criana. Quanto aos dados referentes ocorrncia

    de violncia em casa, no grupo A, 28,6% das mes

    relataram a ocorrncia, em contraposio ao grupo

    B, que no relatou incidentes desse tipo de

    violncia. Em contraste, episdios de violncia

    contra a criana surgiram em ambos os grupos: em

    42,9% das famlias do grupo A e em 14,3% das

    famlias do grupo B houve relatos de episdios deviolncia contra a criana. Pode-se mencionar a

    existncia, no grupo A, de um nmero expressivo

    (42,9%) de crianas que, segundo as mes,

    sofreram violncia direta por parte de algum

    familiar. Cabe destacar que a maioria das mes que

    relataram terem ocorrido incidentes de violncia

    contra a criana no considerou tais incidentes

    como sendo integrantes dos relatados de episdios

    de violncia em casa.

    Os dados obtidos nas entrevistas foram, tambm,

    analisados em relao s medidas aplicadas pelos pais

    em decorrncia de comportamentos inapropriados dascrianas para os grupos A e B respectivamente.

    Segundo o relato das mes, as medidas aplicadas pelos

    pais (pai, me) foram divididas em trs tipos: medida

    verbal (ex. repreende, grita, xinga), medida fsica

    (palmada, bate, bate com objeto) e outros (referente

    a aes como colocar de castigo, deixar sem assistir

    TV). Para tal anlise foi aplicado o Teste No

    Paramtrico de Mann-Whitney (com nvel de

    significncia fixado em 5%). Verificaram-se na

    comparao entre os grupos A e B diferenas entre a

    medida verbal aplicada pelas mes dos grupos,

    sendo tal tipo de medida significativamente maior para

    o grupo B. J para com as outras variveis no foram

    encontradas diferenas significativas. Pode-se dizer

    que, em geral, as famlias de ambos os grupos afirmam

    aplicar os mesmos tipos de medida s suas crianas,

    exceto aquela carter verbal.

    No obstante, em ambos os grupos, 21,4% das

    mes relataram o uso, para castigar as criancas, de

    objetos como cinto ou chinelo, sem aparentemente

    discriminar tal prtica como constituinte de um

    exemplo de violncia contra a criana. Segundo

    pesquisadores da rea (Azevedo & Guerra, 2001;

    Straus, 2000) o uso de punio corporal , muitas

    vezes, embasado em crenas e normas culturais

    presentes na rede social. Essas crenas e normas

    culturais consideram que o uso da punio

    corporal seja uma forma aceitvel de disciplina e

    refletem um desconhecimento da legislao emvigor como o atual Estatuto da Criana e do

    Adolescente (1990).

    Nas famlias participantes foram encontrados

    problemas de sade (como abuso de lcool, drogas e

    depresso), tanto no grupo A como no grupo B. No

    Grupo A, 35,7% das mes e 42,8% dos pais foram

    identificadas como tendo problemas de sade, e no Grupo

    B, 21,4% das mes e 28,5% dos pais. Pode-se dizer que

    ambos os grupos existem estressores que contribuem para

    o desencadeamento da violncia domstica.

    H consenso na literatura de que problemas de

    sade por parte da famlia, dentre esses o abuso de

    lcool e drogas so considerados srios estressores

    que propiciam o desencadeamento da violncia

    (Caminha, 1999; Sinclair, 1985; Webster-Stratton,

    1997). Alm disso, altos nveis de estresse parental

    podem estar associados a um maior risco de abuso

    fsico infantil, na medida em que as crenas e

    valores dos pais aprovarem o uso da fora fsica

    como forma de lidar com a criana (Crouch &

    Behl, 2001). Mais especificamente sobre a sade da

    famlia, em seu estudo de reviso sobre programas

    de interveno com famlias de crianas pr-escolares com problemas de comportamento,

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    Webster-Stratton (1997) diz que mes com

    depresso, pais alcoolistas, e comportamento anti-

    social e agressivo em quaisquer dos pais implica

    em um fator de risco (p. 434).Quando se levam em conta os dados a respeito

    dos episdios de violncia familiar, constatou-se que

    em 71% das famlias do grupo A em que se

    identificou a ocorrncia de episdios de violncia no

    relato da me, existiam, adicionalmente, problemas de

    sade na famlia. Essa caracterstica no se repetiu

    com o grupo B. As mes do grupo B com problemas

    de sade no relataram episdios de violncia.

    Os dados obtidos na Escala de Tticas de Conflito

    CTS-2 foram calculados seguindo as sugestes de

    Straus e cols. (1996). Na anlise sugerida pelos

    autores a escala constituda pelas subescalas:violncia psicolgica, violncia fsica, coero sexual,

    ferimentos e negociao (essa, particularmente, refere-

    se s habilidades socialmente desejveis para a

    resoluo de conflitos). Os resultados obtidos so

    apresentados na Figura 1.

    De modo geral, os dados apresentados a

    respeito da Escala de Tticas de Conflito (CTS-2)

    mostram existirem nveis de violncia e de

    negociao em ambos os grupos. Entre as

    subescalas que apresentaram maior porcentagem de

    pontuao em ambos os grupos tm-se a subescalaviolncia psicolgica e a subescala negociao. No

    entanto, na subescala negociao o grupo B

    apresentou 11,6 % de pontuao a mais do que o

    apresentado pelo grupo A. Sendo assim, o grupo B

    demonstrou maiores ndices de negociao que o

    grupo A.

    6,0%

    53,7%

    0,4%

    5,8%

    20,2%

    42,1%

    0,9%4,2%

    2,8%

    17,5%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    V.Psi. V. Fis. C. Sex. Fer. Neg.

    S u b - e sc a l a s

    Grupo A

    Grupo B

    Nota. V Psi.= violncia psicolgica; V Fis.= violncia fsica; C Sex.=

    coero sexual; Fer.= ferimentos; e Neg. = negociao (habilidades

    socialmente desejveis para a resoluo de conflitos).

    Figura 1. Porcentagem mdia de pontos atribudos pelas

    mes de ambos os grupos, nas subescalas do CTS-2

    Uma vez que as mes de ambos os grupos

    relataram ter experienciado violncia, cabe

    perguntar em que medida a violncia seria igual

    para os dois grupos. Teria ela a mesma

    intensidade? Para responder a tal questionamento

    uma segunda anlise consistiu em avaliar a

    intensidade da violncia sofrida por cada grupo.

    Straus e cols. (1996) dividem os atos violentos em

    duas categorias de intensidade: leve e severa.

    Para comparar os grupos A e B a respeito dos

    dados obtidos nas subescalas, por nveis de

    intensidade da violncia, mudou-se a unidade de

    anlise dos grupos para as famlias de cada grupo que

    apresentaram pontuao nas subescalas de violncia, o

    que ocorreu para 12 famlias do grupo A e 11 famlias

    do grupo B. Foram efetuados Testes Qui-quadrado( 1.= 3,84146) sobre o total de cada subescala e sobre

    os nveis de intensidade de violncia, considerando-se

    o nvel de significncia de 5%.

    A Tabela 1 expressa os resultados obtidos a partir

    dessa classificao. Tal Tabela apresenta a pontuao

    de itens por nveis de intensidade assinalados em cada

    subescala e os resultados obtidos dos testes estatsticos

    realizados.

    Tabela 1. Pontuao de itens assinalados por nveis de

    intensidade em cada subescala dos grupos A e B

    Classes e nveis de comportamento Grupo A Grupo B

    Violncia Fsica

    Leve 135* 102*

    Severa 100* 18*

    Total 235* 120*

    Violncia Psicolgica

    Leve 388* 346*

    Severa 109* 83*

    Total 497* 429*

    Coero Sexual

    Leve 45* 71*

    Severa 77* 17*Total 122* 88*

    Ferimentos

    Leve 4* 13*

    Severa 5* 7*

    Total 9* 20*

    Total de violncia 863* 657*

    Negociao 884* 1117*

    * diferenas estatisticamente significativas p < 0,05.

    Em relao subescala violncia fsica, a

    pontuao obtida nos itens assinalados, referentes ao

    nvel de intensidade leve, foi significativamente maiorpara o grupo A (135) do que para o grupo B (102), o

  • 8/7/2019 comportamento agressivo de crianas do sexo masculino

    7/10

    Meninos agressivos e violncia domstica 359

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 10, n. 3, p. 353-362, set./dez. 2005

    mesmo ocorrendo em relao violncia severa,

    sendo o grupo A (100) significativamente maior do

    que o grupo B (18) para tal intensidade.

    Na subescala correspondente violncia

    psicolgica, em ambos os grupos a maior

    pontuao se encontrou na intensidade leve. No

    entanto, cabe ressaltar que o grupo A apresentou

    uma pontuao significativamente maior de

    violncia psicolgica leve (388) do que o grupo B

    (346). Adicionalmente, tal como na modalidade

    violncia fsica, a pontuao dos itens assinalados

    correspondentes intensidade de violncia

    psicolgica severa foi significativamente maior no

    grupo A (109) do que no grupo B (83).

    Quanto subescala coero sexual, o grupo A

    apresentou uma pontuao significativamentemenor (45) do que a obtida pelo grupo B (71)

    quanto ao nvel de intensidade leve. Em contraste,

    o inverso aconteceu no nvel de intensidade

    severa, sendo que o grupo A apresentou uma

    pontuao significativamente maior (77) do que a

    obtida pelo grupo B (17).

    Para a subescala relativa a ferimentos, na

    intensidade de violncia leve, a pontuao obtida foi

    significativamente menor para o grupo A (4) do que

    para o grupo B (13). Da mesma maneira, no nvel de

    intensidade de violncia severa o grupo A teve umapontuao significativamente menor (5) do que o

    grupo B (7). Alm disso, em contraste com as demais

    subescalas, os dados obtidos na subescala ferimentos

    apresentaram a menor pontuao obtida pelos grupos

    A e B, em relao s outras subescalas referentes

    violncia.

    Com respeito subescala negociao, pode-se

    destacar que ambos os grupos apresentaram uma

    pontuao elevada de negociao. Considerando-se a

    escala (CTS-2) como um todo, pode-se constatar que a

    subescala negociao foi a que obteve a maior

    pontuao.

    Analisando-se os dados apresentados na Tabela 1,

    relativos aos totais, observa-se que o grupo A

    apresentou pontuao significativamente maior na

    maioria das subescalas, sendo, no geral, a violncia

    experienciada pelo grupo A significativamente mais

    severa do que no grupo B. Da mesma forma, o grupo

    A apresentou uma pontuao total (863)

    significativamente maior do que o grupo B (657),

    referente s subescalas de violncia. Assim sendo,

    pode-se dizer que as crianas do grupo A

    experienciaram maior freqncia e intensidade deviolncia do que as do grupo B.

    A Figura 2 resume os dados obtidos nos relatos

    das mes, durante a Escala de Tticas de Conflito

    (CTS-2), a respeito dos nveis de intensidade de

    violncia em cada um dos grupos.

    572

    291

    532

    125

    0

    200

    400

    600

    800

    Leve Severo

    Nveis de intensidade de Violncia

    Pontuao-CTS2.

    Grupo A

    Grupo B

    Figura 2. Pontuao total dos nveis de intensidade deviolncia nos grupos A e B, no CTS-2

    Os resultados apresentados na figura mostram que

    a pontuao do nvel de intensidade leve foi maior

    para o grupo A (572) e menor para o grupo B (532).

    Ainda neste nvel de intensidade, ambos os grupos

    mostram uma proximidade na pontuao. Em

    contraposio, a pontuao total obtida pelo grupo A

    (291) foi mais do que o dobro da pontuao obtida

    pelo grupo B (125) com respeito ao nvel de

    intensidade severo. Mais especificamente, o grupo A

    apresentou intensidade de violncia severa 57% maior

    do que o grupo B. Esses resultados mostram, tambm,

    um nmero maior de pontuao violncia deintensidade leve em relao severa, em ambos os

    grupos.

    Tais dados reforam a idia de que a violncia

    est presente nas famlias de ambos os grupos, no

    entanto, nas famlias do grupo A ela existe com maior

    intensidade e freqncia. Portanto, pode-se dizer que

    as crianas do grupo A (crianas agressivas) estavam

    mais expostas a incidentes de violncia severa do que

    as crianas do grupo B (crianas no agressivas).

    CONSIDERAES FINAISOs resultados apresentados confirmaram os

    resultados do estudo comparativo de McCloskey,

    Figueredo e Koss (1995) sobre os efeitos da

    violncia sistmica sobre a sade mental das

    crianas. Em ambos os estudos foram encontrados

    ndices de violncia familiar, comparando-se as

    famlias de risco com as famlias do grupo-

    controle; da mesma forma, os dados sobre punio

    corporal foram iguais em ambos os grupos. Vale

    acrescentar que a punio corporal o principal

    fator de risco para o abuso fsico (Straus, 2000). Ouso da punio corporal como forma de educar ou

  • 8/7/2019 comportamento agressivo de crianas do sexo masculino

    8/10

    360 Maldonado & Williams

    Psicologia em Estudo, Maring, v. 10, n. 3, p. 353-362, set./dez. 2005

    disciplinar as crianas envolve conceitos arraigados

    em nossas crenas e normas culturais (Azevedo &

    Guerra, 2001) que, no geral, no so condenados

    pela comunidade, talvez por no ter cincia da

    gravidade dessa prtica disciplinar, bem como pela

    inexistncia de polticas pblicas de combate e

    preveno do castigo corporal.

    No estudo de Meneghel, Giugliani e Falceto

    (1998) sobre as relaes entre violncia domstica e

    agressividade na adolescncia, os resultados

    encontrados mostraram uma associao entre

    agressividade e punio fsica. No presente estudo no

    se obtiveram dados suficientes que confirmem ou

    refutem estes resultados, por conseguinte, seria

    pertinente a realizao de futuros estudos sobre

    comportamento agressivo e violncia domstica queconsiderassem as duas populaes participantes de

    ambos os estudos (adolescentes e crianas) a respeito

    de sofrer punio fsica.

    A presena de violncia em ambos os grupos

    pode ser explicada por diversos fatores. As famlias

    participantes do estudo fazem parte de uma populao

    imersa em uma srie de fatores de risco inter-

    relacionados que colaboram para a ocorrncia de

    violncia domstica em maior escala. Dentre esses

    fatores podem-se destacar a pobreza excessiva

    (Barnett, 1997), os problemas de sade, o consumo de

    lcool e drogas, (Webster-Stratton, 1997), o baixonvel de escolaridade e o fato de a comunidade onde

    as famlias se encontram ser desprovida de uma rede

    estruturada de apoio social (Koller, 1999; Pires, 1999).

    Entretanto, estes fatores de risco contribuem para o

    desenvolvimento da violncia domstica, mas no

    devem ser utilizados como justificativa para a

    ocorrncia desta violncia.

    Deve-se ressaltar que a maioria das famlias de

    ambos os grupos apresentaram pontuao na subescala

    negociao da escala CTS-2; portanto, pode-se dizer

    que, de modo geral, as famlias que apresentaram

    violncia tambm negociavam, ou seja, elasapresentavam habilidades socialmente desejveis para

    a resoluo de conflitos. A presena de nveis de

    negociao nas famlias participantes da pesquisa

    pode ser um fator importante que explicaria o no-

    engajamento de alguns dos pais em comportamentos

    abusivos e negligentes. Como j observou Barnett

    (1997), a boa habilidade interpessoal parental

    considerada um fator de proteo contra a ocorrncia

    de violncia domstica.

    Os fatores de proteo tm um papel fundamental

    na mediao dos efeitos da violncia. Talvez a formacomo as crianas responderam ocorrncia de

    violncia - sua capacidade de resilincia - (Masten,

    2001), seja uns dos fatores de proteo que pode ter

    referido no-ocorrncia de comportamentos

    agressivos por parte das crianas do grupo B, que

    tambm estavam expostas direta ou indiretamente

    violncia domstica. Da mesma maneira que os

    fatores de proteo, o nvel de exposio violncia

    conjugal pode ter agido como mediador da violncia a

    que a criana estava sujeita, uma vez que os nveis de

    intensidade da violncia foram diferentes em ambos os

    grupos. As crianas do grupo B, que no

    apresentavam comportamentos agressivos, foram

    expostas a nveis de violncia menores do que as

    crianas do grupo A, que apresentavam

    comportamento agressivo. Mais especificamente, as

    famlias do grupo B apresentaram nveis de

    intensidade de violncia severa 57% menores do queos apresentados pelo grupo A. Segundo Osofsky

    (1997), o nvel de exposio violncia pode ter uma

    relao com os sintomas apresentados pelas crianas.

    Cabe destacar a importncia da realizao de maiores

    estudos a respeito das conseqncias apresentadas

    pelas crianas frente a diferentes nveis de intensidade

    de violncia, assim como a capacidade de resilincia

    apresentada pelas mesmas.

    Em concluso, o presente estudo responde ao

    questionamento inicial. H, no geral, maior incidncia

    de severidade de exposio violncia domstica nas

    crianas do sexo masculino que apresentaramcomportamento agressivo na escola, quando

    comparadas s crianas do mesmo sexo que no

    apresentam tal comportamento. Na amostra estudada o

    fenmeno da violncia domstica foi encontrado em

    ambos os grupos, mas os nveis da violncia se

    expressaram de formas diferentes. As crianas do

    grupo A estavam expostas a violncia conjugal mais

    severa do que as crianas do grupo B.

    Pode-se afirmar que o comportamento agressivo

    das crianas na escola poderia ser entendido como

    um pedido de ajuda das mesmas, j que a

    apresentao de comportamento agressiva pode serconsiderada um indicador de que a criana se encontra

    em situao de risco, frente exposio violncia

    severa. Espera-se que o presente estudo sirva de alerta

    para a necessidade de se desenvolverem servios de

    preveno e interveno em relao s crianas em

    situao de tal risco.

    REFERNCIAS

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    Recebido em 30/11/2004

    Aceito em 30/06/2005

    Endereo para correspondncia: Daniela Patricia Ado Maldonado, Laboratrio de Anlise e Preveno da Violncia. Programa

    de Ps-Graduao em Educao Especial do Centro de Educao e Cincias Humanas,

    Universidade Federal de So Carlos. Rodv. Washington Luis, Km. 235, Cx. Postal 676 CEP

    13565-905, So Carlos-SP.E-mail: [email protected]