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Comparação entre a certificação LEED-NC e o Selo Azul da Caixa Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade Gabriel Meliga Pimentel [email protected] Renata Faísca [email protected] Ana Seroa da Motta [email protected] Resumo: A construção civil é uma das atividades mais capazes de causar impactos ambientais, sociais e econômicos, tornando este ramo de atividade um dos focos do desenvolvimento sustentável na atualidade. Na tentativa de reduzir os impactos e integrar as três dimensões mencionadas diversas certificações de construção sustentável surgiram nos últimos anos por todo o mundo, as quais tentaram padronizar alguns critérios que caso sejam seguidos caracterizarão uma construção sustentável. Mas por não haver um consenso com relação a uma construção efetivamente sustentável, cada certificação aborda a questão à sua maneira, sendo influenciadas por diferentes fatores. Para este trabalho foram considerados para comparação duas destas certificações: o LEED-NC (Leadership in Energy and Environment Design New Constructions), certificação americana utilizada em vários países do mundo; e o Selo Casa Azul (elaborado pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL), certificação brasileira para construções habitacionais. Palavras-chaves: LEED-NC, Selo Casa Azul, Construção Sustentável ISSN 1984-9354

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Page 1: Comparação entre a certificação LEED-NC e o Selo Azul da Caixa · “Práticas Sociais”, contida no Selo Casa Azul, não é abordado por nenhuma das categorias do LEED-NC. Alguns

Comparação entre a certificação LEED-NC e o Selo Azul da

Caixa

Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade

Gabriel Meliga Pimentel

[email protected]

Renata Faísca

[email protected]

Ana Seroa da Motta

[email protected]

Resumo: A construção civil é uma das atividades mais capazes de causar impactos ambientais, sociais e econômicos,

tornando este ramo de atividade um dos focos do desenvolvimento sustentável na atualidade. Na tentativa de reduzir os

impactos e integrar as três dimensões mencionadas diversas certificações de construção sustentável surgiram nos

últimos anos por todo o mundo, as quais tentaram padronizar alguns critérios que caso sejam seguidos caracterizarão

uma construção sustentável. Mas por não haver um consenso com relação a uma construção efetivamente sustentável,

cada certificação aborda a questão à sua maneira, sendo influenciadas por diferentes fatores. Para este trabalho foram

considerados para comparação duas destas certificações: o LEED-NC (Leadership in Energy and Environment Design

– New Constructions), certificação americana utilizada em vários países do mundo; e o Selo Casa Azul (elaborado

pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL), certificação brasileira para construções habitacionais.

Palavras-chaves: LEED-NC, Selo Casa Azul, Construção Sustentável

ISSN 1984-9354

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XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015

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Introdução

Na indústria da construção civil, segundo Kibert (2008), “o ambiente construído, mais que qualquer

outra atividade humana, possui impactos diretos, complexos e duradouros sobre a biosfera”. A busca

por padrões cada vez mais sustentáveis de desenvolvimento vêm crescendo de forma exponencial,

principalmente nos mercados internacionais.

O passo de maior incentivo para as empresas construtoras mundiais, rumo ao atendimento das metas

de desenvolvimento sustentável, foi a criação de metodologias de avaliação dos edifícios

(certificações), pois, até antes da padronização, os chamados greenbuildings eram idealizados e

conceituados por arquitetos e engenheiros, que por conta própria interpretavam as partes constituintes

do que deveriam ser os edifícios verdes. (PONTES, 2010)

No Brasil, a dificuldade em preservar o meio ambiente é agravada pelos grandes desafios que o setor

da construção civil ainda deve enfrentar em termos de déficit habitacional e infraestrutura para

transporte, comunicação, abastecimento de água, saneamento, energia, atividades comerciais e

industriais (DEGANI, 2010).

Neste panorama, a CAIXA Econômica lançou, em 2010, o Selo Casa Azul, que é o primeiro sistema

de classificação da sustentabilidade de projetos desenvolvido para a realidade da construção

habitacional brasileira. O Selo busca reconhecer os projetos de empreendimentos que demonstrem suas

contribuições para a redução de impactos ambientais e da desigualdade social. Para orientar os

empreendedores que buscam este selo, a CAIXA lançou o um guia denominado SELO CASA AZUL –

Boas Práticas para Habitação mais Sustentável, que serviu como uma das principais referências para

este artigo.

Em âmbito internacional, muitos outros certificados já foram criados, dentre os quais o LEED-NC

(Leadership in Energy and Environment Design – New Constructions), certificado de construção

sustentável desenvolvido nos EUA para novas construções. O certificado é pautado majoritariamente

nas questões ambientais, tendo uma influência internacional, sendo aplicado em diversos países,

inclusive no Brasil, onde mais de 200 construções já foram certificadas.

Estes certificados possuem uma metodologia de avaliação semelhante, sendo ambos de adesão

voluntária, funcionam a partir de um checklist que é dividido em categorias de temáticas específicas.

Cada qual com sua determinada quantidade de critérios, que são separados em pré-requisitos ou

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critérios obrigatórios, cujo cumprimento é indispensável para a obtenção da certificação. Os requisitos

ou itens de livre escolha, possuem uma quantidade mínima pré-estabelecida a ser cumprida para obter

o certificado.

Apesar da semelhança inicial e da possibilidade de ser aplicado em um mesmo empreendimento,

quando se analisa o conteúdo dos certificados mais profundamente, evidencia-se a real distinção entre

suas metodologias. Isso demonstra que, mesmo com objetivos idênticos, tornar uma construção mais

sustentável, a questão não é analisada da mesma maneira.

Neste artigo, o objetivo é apresentar as principais diferenças entre LEED-NC e SELO CASA AZUL,

a partir de conceitos dos certificados. Estes conceitos são a base para se determinar como a certificação

irá lidar com as questões de sustentabilidade e, assim, concluir como a padronização das metodologias

de avaliação deve ser enxergada.

Comparação conceitual geral

Para iniciar a análise das certificações, é necessário primeiro estabelecer o panorama geral dos

conceitos que serão desenvolvidos ao longo do artigo, indicando as semelhanças e, principalmente, as

diferenças entre as metodologias. Este panorama é apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 - Panorama Geral das Certificações.

LEED-NC Selo Casa Azul

Contexto de

Criação

Desenvolvido para o contexto

estadunidense, baseado nas normas e

meio de vida do país, apesar de ser

utilizado internacionalmente.

Desenvolvido para o contexto

brasileiro, baseado em normas e

técnicas de construção voltadas

para habitação.

Aplicabilidade Aplicável a qualquer tipo de nova

construção.

Aplicável a construções

habitacionais.

Metodologia Avaliação dos edifícios é realizada

por meio de uma lista de critérios

pré-estabelecidos pelo certificado,

alguns obrigatórios (pré-requisitos) e

outros opcionais (créditos). Aos

opcionais são atribuídos pontos que

podem ser obtidos com o

cumprimento dos critérios. A

classificação final é obtida pela soma

dos pontos atingidos nas categorias.

Avaliação das construções é

realizada a partir de uma lista de

critérios pré-estabelecidos, alguns

obrigatórios e outros de livre

escolha (cumprimento opcional).

A classificação final é obtida a

partir do cumprimento da

quantidade mínima de critérios

estabelecidos para cada nível.

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Compreensão De fácil compreensão, aplicação

simples e fácil preenchimento por ser

checklist.

De fácil compreensão, aplicação

simples e fácil preenchimento por

ser checklist.

Categorias Sítios Sustentáveis;

Eficiência de água;

Energia e Atmosfera;

Materiais e Recursos;

Qualidade do Ar

Interno;

Inovação em Projeto; e

Prioridade Regional.

Qualidade Urbana;

Projeto e Conforto

Eficiência Energética;

Conservação de Recursos

Materiais;

Gestão da Água; e

Práticas Sociais.

Análise da

documentação

e definição do

nível de

certificação

Análise e definição do nível de

certificação feita após a finalização

das obras e ocupação do edifício.

Análise e definição do nível de

certificação feita antes de se

iniciar o preparo do terreno para

as obras.

Níveis Platina;

Ouro;

Prata; e

Certificado.

Ouro;

Prata; e

Bronze.

A partir dos dados apresentados na Tabela 1, pode-se começar a entender algumas das principais

diferenças entre cada certificado, os quais apesar de terem uma metodologia e uma organização

semelhante (checklist), que é considerada de fácil interpretação, abordam as questões de construção

sustentável com visão distinta, em muitos pontos.

Um exemplo nítido desta distinção, apresentado na Tabela 1, é a presença da categoria de Práticas

Sociais na certificação Selo Casa Azul, categoria essa cujos conceitos não são abordados em nenhuma

das categorias do LEED-NC, o qual está quase que todo voltado para a dimensão ambiental da

sustentabilidade.

Alguns autores defendem que o LEED está voltado para a dimensão ambiental, uma vez que as

questões econômica e social em seu país de origem encontram-se melhor resolvidas que no Brasil e

que este, assim como outros países em desenvolvimento, ainda está bastante aquém em ambos os

aspectos. Assim, a necessidade de redução da desigualdade social e econômica não é tão importante

quanto o aspecto ambiental.

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Para se discutir melhor as diferenças e/ou semelhanças entre as certificações e entender o motivo de

suas ocorrências, serão apresentadas nos próximos itens, comparações pontuais das temáticas

apresentadas na Tabela 1.

Comparação do contexto de criação e aplicabilidade

Como qualquer novo sistema de avaliação é normal e recomendável que inicialmente se considere as

condições conhecidas (nacionais) para criação de seus critérios, e posteriormente, adapte-os às demais

condições que surgirem. Sendo assim, conforme mostrado na Tabela 1, cada certificado foi criado para

o contexto de seu país de origem, considerando em sua elaboração as condições de vida, clima e

normas nacionais.

Nesse contexto, o LEED-NC apresenta uma inflexibilidade quando comparado ao Selo Casa Azul.

Em muitos critérios o LEED-NC exige certificados, classificações e cumprimento de normas

estadunidenses para obtenção da pontuação, sendo que muitas vezes as certificações não são

difundidas em outros países, ou a norma estabelecida não é aplicável. Nesses casos, a construção

simplesmente não tem possibilidade de conseguir a pontuação, mesmo que dentro do país haja

certificações, classificações e normas semelhantes às estabelecidas pelo LEED-NC ou mesmo que a

construção alcance os objetivos do critério por outros métodos.

Já o Selo Casa Azul é bem mais flexível para essas questões, exceto as normas de legalização das

obras, que são obrigatórias. Todas as normas, certificações e classificações brasileiras são

contempladas, mas não são obrigatórias para o cumprimento dos critérios do certificado, aparecendo

dentro da certificação como recomendações a serem seguidas. Deste modo, caso o empreendimento

não cumpra a norma, mas alcance os objetivos do critério através de outras estratégias, este ainda

poderá cumprir o critério.

Abordando as certificações pela sua aplicabilidade geral, não pelo seu contexto de criação, tem-se

uma visão diferente da apresentada anteriormente. O LEED-NC passa a apresentar uma flexibilidade

maior, dando oportunidade para que qualquer construção nova possa aplicar o certificado,

independente de sua finalidade ou proprietário.

Já o Selo Casa Azul, é bem restrito quanto à questão de aplicação, sendo aplicável apenas a

empreendimentos habitacionais, com candidatura feita por empresas construtoras, Poder Público,

empresas públicas de habitação, cooperativas, associações e entidades representantes de movimentos

sociais.

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Comparação Conceitual das Categorias

Analisando-se as categorias apresentadas pelas certificações na Tabela 1, nota-se que as temáticas

abordadas são muito semelhantes. Algumas vezes mais explícitas, como o caso das categorias que

abordam o uso de água e o uso de energia. Outras vezes menos explicitas, sendo necessário um estudo

mais detalhado dos critérios envolvidos para notar a aproximação das categorias.

Entretanto, nem todas as questões abordadas pelas categorias de uma certificação estão presentes na

outra, demonstrando um caráter diferenciado que as certificações possuem.

Na Tabela 2, serão apresentadas as questões base da sustentabilidade, indicando em qual categoria

dentro de cada certificação a questão é abordada, explicitando-se o caráter das certificações.

Tabela 2 - Aspectos principais para uma construção sustentável.

Questão Categoria do LEED-NC Categoria do Selo Casa Azul

Conexão com o Entorno Espaço Sustentável. Qualidade Urbana; e Projeto e

Conforto.

Recurso Hídrico Espaço Sustentável; e Uso

Racional da Água. Gestão da Água

Consumo de energia Energia e Atmosfera Eficiência Energética

Gerenciamento de

resíduos e materiais Materiais e Recursos.

Projeto e Conforto; Qualidade

Urbana; e Conservação de

Recursos e Materiais.

Qualidade do Ar Qualidade do Ambiente

Interno. -

Aspectos sociais - Práticas Sociais

Conforto Qualidade do Ambiente

Interno. Projeto e Conforto.

Como se pode observar, os aspectos sociais da sustentabilidade, questão presente na categoria de

“Práticas Sociais”, contida no Selo Casa Azul, não é abordado por nenhuma das categorias do LEED-

NC.

Alguns autores defendem que o Brasil ainda apresenta inúmeras questões de desenvolvimento social,

havendo desigualdade social elevada e pouca mão de obra qualificada, sendo necessário um

investimento maior na vertente social da sustentabilidade. A falha nesta defesa está no fato do LEED

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se propor a ser um certificado de sustentabilidade e, portanto, deveria contemplar os três pilares da

sustentabilidade: o ambiental, o social e o econômico.

Para que uma construção seja efetivamente sustentável, é necessária a abordagem dos três pilares de

sustentabilidade (Figura 1). Caso um dos pilares falte, então o conceito de sustentabilidade acaba

sendo falho. Nenhum país é tão desenvolvido a ponto de não precisar de mais estimulo à redução de

suas desigualdades ou a disseminação de uma nova cultura e capacitação.

Assim, as questões sociais deveriam ser abordadas no LEED também, mesmo que com relevância

inferior às questões ambientais. A falta desta abordagem demonstra que o LEED-NC é uma

certificação de sustentabilidade ambiental apenas, não uma certificação de construção sustentável

propriamente dita.

Figura 1 - Pilares da Sustentabilidade (PONTES, 2010).

Ao se analisar a categoria de Qualidade do Ambiente Interno do LEED-NC, a qual possui como

objetivo principal tornar o ambiente agradável e salubre para seus ocupantes, tem-se que a categoria

propõe alcançar esse objetivo a partir de duas análises: uma considerando as vistas, o conforto térmico

e quantidade iluminação; e outra considerando as questões de qualidade do ar no interior do edifício

tanto durante a construção quanto durante a ocupação.

Para esta última análise, é proposto a utilização de produtos como tintas, solventes, adesivos e alguns

tipos de madeira composta, com baixa emissão de Compostos Orgânicos Voláteis) (COV), controle de

fontes poluentes, planos de gerenciamento da qualidade do ar com análises de poluentes, para se

alcançar um desempenho mínimo de qualidade interna.

A preocupação com a qualidade do ar interno, conforme mostrado na Tabela 2, não é abordado em

nenhuma das categorias do Selo Casa Azul. Isso indica que, apesar do apelo social presente no selo,

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este acaba por falhar em parte na questão ambiental e em parte da social, deixando de lado um fator

ambiental que afeta diretamente o conforto, saúde e bem estar dos ocupantes do edifício.

Partindo das semelhanças identificadas entre os dois métodos de certificação estudados, será

apresentada nas Figuras 2 e 3, a distribuição estatística de critérios que cada certificado possui por

categoria. Estes gráficos explicitam assim quais as categorias que cada certificação considera mais

relevante para uma construção sustentável.

Sabendo que a certificação LEED-NC trabalha com pontuação, é mostrado na Figura 2, além da

distribuição estatística de critérios, a distribuição estatística dos pontos em cada categoria, para que

desta forma, fique mais evidente as categorias favorecidas pela certificação, a fim de facilitar a

comparação com o Selo Casa Azul.

Figura 2- Distribuição Estatística da Quantidade de Critérios e Pontos do LEED-NC.

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Figura 3- Distribuição Estatística da Quantidade de Critérios do Selo Casa Azul.

Na Figura 2, nota-se que o LEED-NC nitidamente prioriza a categoria de Energia e Atmosfera. Esta

categoria, apesar de não possuir tantos critérios, possui a maior porcentagem de pontos da certificação.

Em seguida, observa-se que a categoria de Espaço Sustentável, possui a porcentagem de critérios e

pontos semelhantes. Somadas a porcentagem de pontos de ambas, percebe-se que possuem mais de

50% do total de pontos da certificação, ressalta-se que possuem, aproximadamente, 40% dos critérios.

Das demais categorias do LEED-NC, pode-se notar a desvalorização da categoria de Uso Racional da

Água, que possui o menor número de critérios e de pontos. A categoria de Qualidade do Ambiente

Interno, como se pode observar, é a categoria com a maior porcentagem de critérios, demonstrando

que para sua avaliação, são necessários muitos parâmetros. Entretanto, possui a mesma porcentagem

de pontos que a categoria de Materiais e Recursos, indicando que mesmo sendo avaliada por muitos

critérios, a categoria de Qualidade do Ambiente Interno é menos valorizada que a categoria de

Materiais e Recursos.

As categorias de Prioridade Regional e Inovação não estão sendo analisadas, pois estas são categorias

extras, cuja pontuação é baseada nas outras cinco principais categorias.

Já na Figura 3, pode-se observar que a priorização do Selo Casa Azul não é tão marcante, sendo

pequena a diferença de porcentagem entre as categorias, demonstrando que para este certificado as

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categorias possuem importância quase igualitária. Ainda assim, nota-se certa hierarquia quanto às

categorias que possuem mais critérios, e assim, mais exigências.

Ainda na Figura 3, observa-se que as categorias de Práticas Sociais e Projeto e Conforto são as

prioritárias, seguidas da categoria de Conservação dos Materiais, que com pouca diferença, fica a

frente das categorias de Eficiência Energética e Gestão de Águas. Por último, com 9% dos critérios

exigidos pela certificação, está a categoria de Qualidade Urbana.

A Tabela 3 apresenta a ordem de prioridade que cada certificação possui, baseada na análise

apresentada acima.

Tabela 3 - Critérios prioritários nas Certificações.

Prioridade LEED-NC Selo Casa Azul

Primeira Energia e Atmosfera Práticas Sociais e Projeto e

Conforto

Segunda Espaço Sustentável Conservação de Recursos

Materiais

Terceira Materiais e Recursos Gestão de Águas e Eficiência

Energética

Quarta Qualidade do Ambiente Interno Qualidade Urbana

Quinta Uso Racional da Água -

.

A supervalorização da categoria de energia e atmosfera pela certificação LEED-NC, pode vir do fato

de nos EUA haver um consumo de energia, majoritariamente, advinda de fontes não renováveis, o que

acarreta em impacto ambiental elevado. Assim, é de suma importância para o país, que esta questão

seja estimulada e os conceitos de economia energética e de utilização de fontes de energia renovável

sejam desenvolvidos.

Neste aspecto, o Brasil possui certa vantagem em relação à matriz mundial por possuir boa parte de

sua matriz energética mantida por hidrelétricas. As hidrelétricas são consideradas fontes de energia

renováveis, dispensando a necessidade de supervalorizar a questão energética no contexto brasileiro,

mesmo dando importância para a economia de energia e estimulando a continua utilização de recursos

renováveis.

Ao se comparar as categorias que abordam a utilização de recursos hídricos, nota-se que o LEED-NC

desvaloriza a questão, sendo a categoria de Uso Consciente de Água a que possui a menor quantidade

de critérios e de pontos. Já no Selo Casa Azul, a categoria é mais valorizada, sendo tão importante

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quanto a Eficiência Energética, além de ter pouca diferença no percentual de critérios que possui com

relação às demais categorias.

Comparação da definição do nível de certificação

Em ambos os certificados, o nível de certificação que o empreendimento irá alcançar é definido após

a análise completa da documentação comprobatória do cumprimento de todos os pré-requisitos ou

itens obrigatórios, além dos créditos ou itens de livre escolha.

Outra distinção importante entre as certificações, está na época na qual a documentação será

avaliada, conforme apresentado na Tabela 1, o LEED-NC avaliará os documentos depois de todo o

investimento e todas as intervenções já terem sido finalizadas e a edificação já estiver em utilização.

Enquanto o Selo Casa Azul, avaliará os documentos antes de qualquer intervenção ser iniciada.

Sabendo que ao optar pelo Selo Casa Azul, o empreendedor terá um financiamento diferenciado, a

postura da CAIXA com relação à análise dos documentos já é esperada, sendo o financiamento

liberado depois de se ter a garantia de que o empreendimento se encaixa nos padrões exigidos pelo

selo e está apto para um financiamento diferenciado.

Mas, mesmo sem considerar as questões de financiamento, a metodologia da CAIXA pode ser

considerada mais justa e correta, pois o empreendedor terá desde o início de suas intervenções e de

seus investimentos a garantia de que o empreendimento será certificado no nível desejado.

Após a aprovação dos documentos, qualquer modificação que os projetos sofram deve ser

acompanhada e aprovada pela CAIXA, demonstrando que o empreendimento pode se adaptar e se

inovar no decorrer das obras, sem que este perca a certificação.

Já no LEED-NC, não há nenhuma garantia de que os investimentos realizados pelo empreendedor

serão recompensados com o nível de certificação que o mesmo almeja. Apesar do LEED-NC oferecer

um ponto pela contratação de um consultor aprovado pelo USGBC, os documentos apenas serão

avaliados depois que tudo estiver finalizado.

Ao contrário da metodologia do Selo Casa Azul, a análise do LEED-NC pode ser considerada injusta,

pois mesmo que o empreendedor opte pelo acompanhamento de um consultor aprovado pelo conselho,

haverá o risco de que qualquer intervenção e/ou modificação no prédio seja aprovado pelo consultor,

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mas não necessariamente pelo Green Building Council (GBC), assim, todo o investimento feito para

alcançar um determinado nível, não será recompensado conforme as expectativas do empreendedor.

Neste aspecto o ideal seria uma pré-aprovação dos documentos pelo USGBC e posterior

acompanhamento por um consultor habilitado, assim haveria uma maior segurança para que o

empreendedor investisse nas intervenções propostas.

Conclusão

A partir das considerações apresentadas neste trabalho, pode-se concluir que as certificações são

consideravelmente distintas, apresentando diferenças na forma de se avaliar pontualmente as questões

da sustentabilidade. Isto se dá, em grande parte, pelo contexto de criação dos certificados,

principalmente em relação a aplicabilidade proposta e ao país de origem, que é a base para o

desenvolvimento de cada metodologia de avaliação.

O maior exemplo disto é a valorização dada por cada certificado para cada categoria, sendo a mais

valorizada aquela que é mais evidente no país de origem e menos valorizada (ou inexistente) aquela

que aparentemente não é tão grave nacionalmente.

Outra conclusão, é que de ambos os certificados, o Selo Azul da CAIXA é o único realmente

sustentável por abordar todos os três pilares da sustentabilidade. Já o LEED-NC é um selo

ambientalmente sustentável, abordando, majoritariamente, as questões ambientais, um pouco as

econômicas e nada das sociais.

Por fim, conclui-se que as certificações abordam as questões de sustentabilidade de forma semelhante

e ao mesmo tempo distintas, indicando que tais questões não podem ser 100% padronizadas, pois

sempre haverão adaptações a serem consideradas dependendo do local onde determinado tipo de

empreendimento será construído e gerenciado.

Referências

BENEVIDES, Jean Rodrigues. Experiências na Implementação do Selo Casa Azul em Projetos

Habitacionais de Interesse Social. In: 84º Encontro Nacional da Industria da Construção. Belo

Horizonte – BH. 2012

JOHN, Vanderley, PRADO, Racine Tadeu Araujo (Coord.). Boas práticas para habitação mais

sustentável. São Paulo – SP. Páginas & Letras - Editora e Gráfica. 2010. 204 p.

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DEGANI, C. M. Modelo de gerenciamento da sustentabilidade de facilidades construídas. São

Paulo, 2010. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica de Universidade de São Paulo.

KIBERT, C. J. Sustainable Construction: Green Building Design and Delivery. 2nd Ed. Editora

John Wiley & Sons, Inc., 2008.

MAGNANI, Juliana Mattos. Análise Comparativa do Selo Casa Azul e do Sistema de Certificação

LEED FOR HOME. 2011. 77p. Monografia apresentada ao curso de Especialização em Construção

Civil – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte – MG.

PIMENTEL, Gabriel Meliga. Análise comparativa da certificação de construção sustentável

LEED-NC e do Selo Casa Azul da Caixa. 2013. 56p. Monografia de Graduação do curso de

Engenharia de Recursos Hidricos e dos Meio Ambiente – Universidade Federal Fluminense, Niterói –

RJ.

PONTES, Victor. Estudo sobre a Adequação de um Edifício Residencial à Certificação LEED.

2010. 58 p. Monografia de Graduação do curso de Engenharia Civil – Universidade Federal do Ceará,

Fortaleza – CE.

VALENTE, Josie; Certificações na Construção Civil: Comparativo entre LEED e HQE. 2009. 71 p.

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil - UFRJ, Rio de Janeiro - RJ.

Sites:

http://www.gbcbrasil.org.br/sobre-certificado.php

http://www.gbcbrasil.org.br/

http://www.labeee.ufsc.br/sites/default/files/projetos/Selo_Casa_Azul_CAIXA_versao_web.pdf