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6 - Uso do Solo no Desenvolvimento Urbano - MBA Construção Sustentável - ArtigosTRANSCRIPT
MÉTODOS DE ANÁLISE DE SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
ALECIO LARA REZENDE
3.1 As certificações verdes
A certificação verde trata-se de um atestado de que algum produto seja ecologicamente
correto de diversas formas através de um selo. Seja por não utilizar matérias primas de origem
animal, ou por não testarem seus produtos em animais antes de colocá-los no mercado, ou minimizar
as emissões danosas à atmosfera ou reduzir o gasto de energia elétrica, enfim, o selo verde é um
rótulo indicativo de que a produção de determinado produto atende a um conjunto de normas pré-
estabelecidas pela instituição que emitiu o selo. Usados voluntariamente pelo fabricante, os selos
atestam que determinados produtos apresentam menor impacto ambiental em relação a outros
similares.
Uma pesquisa de 1992, feita nos Estados Unidos e Canadá, revelou que cerca de 70% dos consumidores declararam-se dispostos a pagar mais por produtos considerados ambientalmente sustentáveis. Outra pesquisa, realizada na Alemanha, em 1993, revela que, de dois mil entrevistados, 88% sabiam o que representava o “Anjo Azul”, dois terços estavam dispostos a pagar mais por produtos que efetivamente protegessem o meio ambiente e 57% preferiam comprar produtos com selo verde. (www.setor1.com.br)
No final dos anos 70, com a pressão do movimento ambientalista surgiram os primeiros selos
verdes. A Alemanha lançou em 1978 o “Anjo Azul” (Blaue Engel), um selo do próprio governo que
certifica produtos por quatro anos e conforme a tecnologia avança, seus critérios ficam mais rígidos.
Seguindo a tendência mundial o Canadá instituiu o selo "Opção Ambiental” (Environmental Choice)
em 1988. Também em 1988 alguns países nórdicos adotaram o "Cisne Branco". O Japão criou o
"Eco-Mark" em 1989, os Estados Unidos o "Selo Verde" (Green Seal) em 1989, e a União Européia,
em 1992, o Ecolabel.
Fig. 4 Selos verdes: Anjo Azul, Opção Ambiental, Cisne Branco, Eco-mark e Selo Verde.
Fonte: http://www.cercindia.org/
Como conseqüência da sua própria regulamentação, muitos países começaram a exigir a
mesma contrapartida para os produtos importados. É nesse contexto e embalado pelo encontro da
ECO-92, que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou a certificação de Gestão
Ambiental, em 1993, uma ratificação nacional do selo ISO 14001 que é uma certificação internacional
que compreende princípios básicos de gestão como cuidados no tratamento de resíduos, controle da
compra de insumos e matérias-primas etc.
Nos anos 2000, houve um forte crescimento dos selos verdes. O Brasil alcançou importantes
avanços na área de certificação ambiental quando em 2001 o decreto 4059 e a lei 10.295/01 (Lei de
Eficiência Energética) prevêem um programa de regulagem do consumo de energia elétrica.
O Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) criou o selo de eficiência
energética que deve estar colado em todos os eletrodomésticos novos à venda. O selo PROCEL,
(Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), informa a faixa de consumo energética dos
eletrodomésticos. Organizado pela Eletrobrás, desde 1993, mas que começou a ter mais importância
para o consumidor depois do apagão.
Fig. 5 Selos PROCEL e selo informativo de consumo médio de energia de aparelhos elétricos.
Fonte: HowStuffWorks
Algumas das certificadoras internacionais já se instalaram no Brasil como a FSC (Forest
Stewardship Council), o maior certificador de manejo florestal do mundo, que aqui se tornou Conselho
Brasileiro de Manejo Florestal. Esse selo pode ser reconhecido internacionalmente pelos
consumidores de madeira e produtores derivados, como móveis e estruturas para a construção civil.
Além disso, muitas empresas têm procurado a certificação internacional diretamente para
suprir a falta de alternativas brasileiras. Por exemplo, o Leed (The Leadership in Energy and
Environmental Design), sistema norte-americano de certificação de construções sustentáveis, já vem
sendo usado no país. Em setembro de 2008, 38 projetos brasileiros haviam se candidatado para
receber o selo da instituição.
Fig. 6 Selo FSC, Forest Stepwardship Council: logomarca e aplicações em produtos de consumo.
Fonte: http://www.fsc.org.br/
Tendo em vista as varias formas de certificação verde para inúmeros tipos de produtos, a
construção civil não ficou para trás. Atualmente existem empresas específicas para certificação dos
chamados green buildings, ou prédios verdes, com padrões e métodos diferentes, porém sempre com
o interesse de manter a preservação ambiental e garantir uma melhoria na sustentabilidade urbana.
Artigo 4º da Lei 10.295 “O Poder Executivo desenvolverá mecanismos que promovam a
eficiência energética nas edificações construídas no País.”
3.1.1 Os selos verdes para construção civil
O termo green building (construção verde) surgiu na década de 1970 por arquitetos e
ecologistas. No contexto da arquitetura, uma construção verde é aquela projetada, construída e
mantida com o mínimo consumo de água e energia, priorizando materiais que não poluem o ambiente
durante sua produção. Com o crescimento dos movimentos ambientalistas e a demanda da legislação
e dos investidores estrangeiros, investir na qualidade e na gestão ambiental passou a ser também um
bom negócio.
Vários países criaram seus selos de certificação para edifícios sustentáveis com o objetivo de
unir projetar e construir gerando menores danos para a natureza e usuários dos prédios. Os selos
mais importantes são o da Inglaterra (BREEM), Japão (CASBEE), África do Sul (SBAT) e França
(HQE).
As opções de certificação sustentável na construção civil mais aceitas atualmente no Brasil
são o Aqua, que é adaptado com base no sistema HQE francês e o LEED, do Green Building Council,
norte americano. As duas propostas apresentam critérios e metodologias um pouco diferentes. Mas
tanto o Aqua quanto o Leed atendem essencialmente aos critérios internacionais de sustentabilidade.
Fig. 7 Selos: HQE (Aqua), o LEED da USGBC.
Fontes: http://karlacunha.com.br/selo-aqua/, GBC Brasil
A questão é: esses critérios podem ser totalmente adaptados às diversas realidades de
diferentes países? Sim, desde que respeitado o conceito de tripé da sustentabilidade. É sustentável o
projeto considerado ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente responsável.
Evoluindo o que já ocorre com eletrodomésticos, o Selo Procel Edifica irá certificar projetos
que prevêem redução de consumo e uso de energias alternativas, estimulando a adoção de ações
nesse sentido. Com a criação do selo PROCEL EDIFICA, as ações foram ampliadas e organizadas
com o objetivo de incentivar a conservação e o uso eficiente dos recursos naturais (água, luz,
ventilação etc.) nas edificações, reduzindo os desperdícios e os impactos sobre o meio ambiente.
A etiquetagem das edificações comerciais, públicas e residenciais opera, desde 2007, em
caráter provisório, mas, a partir de 2012, a intenção é que passe a vigorar como lei.
Está previsto para o segundo semestre de 2009 o lançamento de outro selo autenticamente
brasileiro, desenvolvido pela Caixa Econômica Federal, o Selo Casa Azul. O selo será concedido a
empreendimentos que atendam a certos critérios sócio-ambientais que priorizam a economia de
recursos naturais e as práticas sociais. Esses critérios estão agrupados em seis categorias: inserção
urbana, projeto e conforto, eficiência energética, conservação de recursos materiais, uso racional da
água, e práticas sociais. No total são 46 condições a serem cumpridas. Como existem
empreendimentos habitacionais que podem vir a não atender todas elas, a instituição criou a
classificação desses projetos em ouro, prata e bronze. Quem atingir pelo menos 24 critérios receberá
o selo ouro. Se forem cumpridas 19 condições, o empreendimento ganhará o selo prata. Para o
bronze, será necessário cumprir ao menos 14 critérios.
Fig. 8 Selos PROCEL EDIFICA e Casa Azul da CAIXA.
Fontes: http://karlacunha.com.br/selo-aqua/, GBC Brasil, e http://ecohabitat.arq.br
Dentre tantos sistemas e métodos de avaliação da sustentabilidade na construção civil será
aprofundado o LEED por ser o mais difundido no mundo, além de ter a certificação para urbanismo
disponível para estudo, mesmo que ainda em fase de conclusão do seu estágio piloto.
3.2 Leadership in Energy and Environmental Design (LEED)
Leadership in Energy and Environmental Design (Liderança em Energia e Design Ambiental)
foi desenvolvido pela organização USGBC (United States Green Building Council) e trata-se de um
modelo de certificação de edificações por meio de tópicos relacionados à sustentabilidade ambiental
em seis categorias distintas. O LEED determina que para haver o mínimo de aprovação o
empreendimento deve alcançar todos os pré-requisitos obrigatórios, somente então o sistema de
pontuação cumulativo permite às edificações obter um dos quatro diferentes tipos de classificações, a
saber: certificado, prata, ouro e platina, dependendo da pontuação alcançada.
A abordagem do LEED para a sustentabilidade abrange a construção em sua totalidade,
verificando e analisando o desempenho em seis amplas áreas, chamadas critérios: local sustentável,
eficiência da água, energia e atmosfera, materiais e recurso, qualidade interna do ar e inovação de
projeto.
Antes, durante e depois da obra, representantes do GBC avaliam o desempenho do
empreendimento, através de questionários e relatórios técnicos. Ao final, os dados são transformados
em pontos num ranking, que podem ou não resultar na certificação.
O Brasil está prestes a se tornar o quinto país com mais certificações LEED. Atualmente o
país tem quase cem edifícios pré-certificados ou em processo de certificação. Provavelmente por este
fator foi criado recentemente o “Green Building Council Brasil”, uma entidade responsável não apenas
pelos processos de certificação no país, como também terá o papel de nacionalizar o processo, ou
seja, adaptar para a realidade brasileira o procedimento de análise, inclusive com alteração dos
pesos dos pontos, podendo chegar até a criação de novos itens e uma reavaliação de seus temas
centrais.
Em sua página oficial na internet, na área de perguntas freqüentes, está informado que foi
criado um comitê de adaptação do LEED ao cenário brasileiro, formado por especialistas em
construção e em meio ambiente. Serão revistos os aspectos relativos ao sistema métrico, medidas de
desempenho, e da regulamentação do país. O LEED Brasil considerará as peculiaridades do nosso
setor de construção. Por exemplo, a quantidade de pontos por redução de consumo de energia
elétrica pode ser minimizado, já que no Brasil a maior parte da mesma é gerada em usinas
hidroelétricas não poluentes. Por outro lado, será aumentado o número de pontos pela escolha e
recuperação de locais degradados e a inclusão social.
Na perspectiva brasileira, o tema da sustentabilidade está intrinsecamente relacionado às questões sócio-ambientais. Pretendemos criar duas novas categorias, referentes à biodiversidade e o impacto social positivo de uma construção. Ambas reverterão pontos para a certificação LEED Brasil. (www.gbcbrasil.org.br)
Para conseguir um selo LEED devem ser seguidas algumas etapas. Primeiramente a obra
deverá ser cadastrada no GBC. Em seguida haverá uma pré-certificação, que analisará os itens do
projeto. A certificação em si é concedida após o fim da obra, depois de confirmados que as
características do projeto original foram fielmente seguidas, garantindo que os pré-requisitos foram
cumpridos e se ainda haverá pontos a serem adquiridos para eventualmente melhorar a classificação
final do selo a ser concedido.
Porém, o selo conquistado não é eterno, muito pelo contrário, ele tem a validade de apenas
dois anos. Passado este período o empreendedor deverá solicitar uma nova auditoria para renovar a
certificação, onde será avaliada a pós-ocupação, ou seja, se a vida do edifício permanece sustentável
em termos de eficiência energética, produtos utilizados na manutenção predial, etc. Caso não haja
interesse o empreendimento perde o direito de usar o selo. 3
O sistema LEED possui características específicas para avaliar diferentes empreendimentos.
O Leed New Construction (Leed-NC) deve ser usado para novos edifícios de escritórios os quais no
mínimo 51% da ocupação seja do proprietário ou locatário. Para este padrão a certificação considera
a obra como sede de empresa e avalia desde os itens internos como as luminárias e os móveis,
quanto os elementos fundamentais da edificação como a infra-estrutura e os fechamentos. Já nos
casos de prédios de escritórios compartilhados em que não haja mais da metade da ocupação por
uma só empresa, a regra que a ser aplicada é o Leed Core and Shell (Leed-CS), que certifica
exclusivamente o núcleo e o fechamento. Entretanto, neste último caso, as empresas que compões o
condomínio podem obter certificados independentes para o interior de seus escritórios utilizando
como regra o Leed Commercial Interior (Leed-CI).
Além dos parâmetros para construções comerciais, o LEED oferece regras para outros cinco
tipos de empreendimentos: Leed-H, para projeto e construção de edifícios residenciais; Leed-LS, para
projetos escolares; Leed- EB, para maximização da operação e da manutenção de edifícios
existentes; Leed-MB, para múltiplas edificações num mesmo sítio, tais como condomínios
corporativos, campi e instalações governamentais; e o recém chegado Leed-ND.
3 A título de curiosidade, uma certificação LEED custa entre U$2.850,00 para edificações com até 5.000m², até U$23.100,00
para empreendimentos com mais de 50.000m², sem contar com a contratação da consultoria de profissionais previamente
habilitados para tal, que gira em torno de 1% do valor já citado. (Informação da homepage GBC-Brasil)
3.2.1 Leed for Neighbourhood Development (LEED-ND)
O Sistema de certificação LEED ND para bairros e desenvolvimento de comunidades urbanas
integra os princípios do crescimento inteligente, urbanismo e construção sustentável para a
concepção de bairros. A certificação LEED ND requisita que o desenvolvimento da localização e
concepção do empreendimento cumpra elevados níveis de responsabilidade ambiental e social.
O U.S. Green Building Council (USGBC), o Congress for the New Urbanism (CNU), e o
Natural Resources Defense Council (NRDC) – três organizações que representam alguns dos líderes
dentre os profissionais em projetos arrojados dos Estados Unidos da America, além de construtores,
desenvolvedores e dos ambientalistas – se uniram para desenvolver um padrão nacional para
alocação e projetos de bairros baseados em princípios de desenvolvimento inteligente, do novo
urbanismo e de prédios verdes. O objetivo desta parceria é estabelecer esses padrões para avaliar e
premiar o desenvolvimento de práticas ambientais superiores dentro do sistema do LEED.
Diferente dos outros produtos LEED que focam principalmente nas práticas de edifícios
verdes, com relativamente poucos créditos destinados para a escolha do sítio e projeto, o Leed for
Neighbourhood Development coloca maior ênfase no design e elementos de construção que atraem
os prédios para próximos um do outro, em um bairro, e relaciona este bairro com seu entorno e
paisagem. O trabalho do comitê é guiado por fontes como os dez princípios de crescimento
sustentável do Smart Growth Network’s, o Charter of the New Urbanism, e os outros sistemas de
avaliação do LEED. O Leed for Neighbourhood Development cria um padrão, assim como diretrizes
para o processo de projetação e tomadas de decisão, para servir como incentivo para melhores
locações, desenhos e finalmente verdadeiras construções de projetos de empreendimentos
residenciais inovadores, comerciais e de uso misto.
A expectativa desta parceria é que o LEED – ND incentive os projetistas a revitalizar áreas
urbanas existentes, reduzir o desgaste da terra, reduzir a dependência do uso do automóvel,
promover a deslocamento de pedestres e bicicletas, melhorar a qualidade do ar, diminuir o despejo
de águas negras e construir comunidades mais sustentáveis e agradáveis para as pessoas de todos
os níveis, que haja nela “habitabilidade”.
Esse sistema de cotação foi planejado para certificar projetos de desenvolvimento urbanos
que dêem bom exemplo das boas práticas de como se faz, em termos de crescimento sustentável
das cidades, através do novo urbanismo aliado a edifícios verdes.
O processo de certificação para empreendimentos urbanos possui um tempo de execução
bem maior se comparado ao de uma edificação, por isso a forma comum de avaliação dos outros
LEEDs teve que passar por uma mudança para se aplicar aos projetos de assentamentos urbanos,
pois o projeto passaria a ser avaliado desde o início, nos primeiros estudos, podendo o comitê de
avaliação acompanhar o desenvolvimento do projeto e sua posterior implantação. Com esses
objetivos em mente, os desenvolvedores do LEED-ND criaram o sistema de certificação em três
estágios:
1º. Pré-revisão do projeto (etapa opcional) se o projeto, em sua fase inicial, obtiver a
pontuação necessária, o Green Building Council fornece uma carta alegando que o empreendimento
é apto à certificação LEED-ND se for construído conforme o projeto;
2º. Certificação do projeto aprovado: o projeto aprovado e liberado para construção pode ser
certificado, caso seja atingida a pontuação necessária;
3º. Certificação de áreas completamente urbanizadas: o bairro é certificado após a
construção finalizada ou em fase de finalização, caso seja obtida a pontuação necessária.
Assim como os outros sistemas Leed, o LEED-ND também funciona por meio de critérios
objetivos que compõe uma série de pré-requisitos e pontos acumuláveis. Os pré-requisitos já
explicam a que vieram: se não obtiver TODOS, não poderá ser certificado. Já os pontos servem para
classificar o nível de sustentabilidade do empreendimento: certified, silver, gold e platinum. Como a
forma de avaliação é bastante simples (checklist), é possível fazer uma análise em muito menos
tempo do que a realização de uma AIA.
Os projetos podem constituir bairros inteiros, partes de bairros ou bairros múltiplos. Projetos
menores e mais densos que são de uso singular, mas fazem parte de um contexto maior de
assentamento urbano podem ser certificados, assim como um empreendimento grande e de uso
misto também poderão ser classificados.
Desta forma, sabemos que existe possibilidade de analisarmos um condomínio horizontal
isoladamente ou até um conjunto inteiro deles, como é o Setor Tororó. Basta saber se é possível se
adequar aos pré-requisitos mínimos exigidos para passar para os próximos tópicos que realmente
contam pontos na avaliação.
O checklist do LEED-ND é composto por 58 questões objetivas (sendo destas 9 pré-
requisitos) subdivididos em quatro amplos tópicos.
Níveis de Certificação: Certificado 40-49 pontos Prata 50-59 pontos Ouro 60-79 pontos Platina 80-106 pontos
Cada tópico do checklist é minuciosamente explanado no Pilot Rating System, o manual de
uso e aplicação do Leed-ND. Ele é dividido em quatro grandes blocos, cada um subdividido pelos
tópicos que são justamente as perguntas do checklist. Alguns tópicos, ou itens, são pré-requisitos,
outros são créditos de pontos para classificação conforme mostrado acima. Estes itens são divididos
em opções distintas, que são condições em que o projeto pode pontuar naquele tópico específico.
Desta forma a aplicação do checklist pode ser feita quando se tem o manual.
A explicação de todos os tópicos é muito extensa para que seja incluída aqui. Portanto, como
forma de exemplo de parte da apresentação do manual pode ser demonstrada sem desperdício de
tempo. O manual completo está disponível na web, por enquanto apenas em inglês conforme
indicado na bibliografia.
O primeiro grande bloco de tópicos se chama: Locação Inteligente e Conexões. Possui 6
Pré-requisitos,/ 11 Créditos e 30 Pontos Possíveis:
PRÉ-REQUISITO 1 LOCAÇÃO INTELIGENTE: Incentivar o desenvolvimento de
projetos urbanísticos próximo a áreas já urbanizadas, transporte público,
reduzir o uso do carro e distâncias percorridas, vias para pedestres, incentivo
ao caminhar.
Opção 1: locar o projeto em um lugar preenchido;
Opção 2: Locar o projeto perto de serviço adequado existente ou planejado de
trânsito de modo que pelo menos 50% de unidades de moradia e de acesso ao
comércio esteja contemplado no projeto e estejam dentro da distância de caminhada
de ¼ de milha do ponto de ônibus ou dentro da distância de caminhada de ½ de
milha de outros transportes como balsas e outros. No caso de estar planejado, deve
ser apresentado o planejamento que existe no órgão responsável pelo plano
comprovado que em até um ano de funcionamento, pelo menos 50% das casas
serão atendidas pelo sistema.
Opção 3: Locar o projeto perto das lojas existentes, dos serviços, e das facilidades
da vizinhança de modo que limite do empreendimento esteja dentro da distância da
caminhada de ¼ de milha pelo menos de quatro (ou dentro da distância da cami-
nhada da milha do ½ pelo menos de 6) dos diversos usos definidos no apêndice A.
Os usos não podem ser contados duplicados, por exemplo edifício de escritório pode
ser contado somente uma vez, mesmo que seja um grande centro de empre-gos.
Um edifício de uso misto que contém diversos usos como empresas distintas
contariam cada um como um uso separado, mas não pode ser mais do que a
metade do número mínimo de usos diversos em um único edifício. Uma única loja de
varejo de qualquer tipo (tal como uma lojas de departamento) pode somente ser
contada uma vez mesmo se vender os produtos associados como uso múltiplo.
Opção 4: Locar o projeto dentro de uma região servida por uma “organização
metropolitana de planejamento” (no nosso caso o PDOT) e dentro de uma área com
transporte planejado que demonstre que uma quantidade anual de taxa de distância
média percorrida por capita é mais baixa do que a taxa anual média da região
metropolitana como um todo. A pesquisa deve ser considerada pelos próximos dez
anos da data da submissão para a certificação pelo Leed-ND.
Opção 5: ‘idem à opção 4’, porém garantido por Anotação de Responsabilidade
Técnica de um engenheiro de tráfego.
PRÉ-REQUISITO 2 PROXIMIDADE À INFRA-ESTRUTURA DE ÁGUA E ESGOTO
Opção 1: Incentivar o desenvolvimento urbano próximo de comunidades já
existentes a fim reduzir os impactos ambientais múltiplos causados pelo
espalhamento. Conservar os recursos naturais e financeiros requeridos para a
construção e a manutenção da infra-estrutura.
Opção 2: Locar o projeto dentro de uma área com serviço de tratamento da água e
do esgoto e preveja a infra-estrutura da água e do esgoto para o novo projeto
adequado ao existente.
Da mesma maneira segue por cada tópico, apresentando opções de enquadramento ao
tópico a fim de possibilitar a certificação, sem entretanto engessar demais os projetos e evitar uma
padronização de desenho urbano. Os demais itens para o primeiro grande bloco, igualmente
detalhados no Pilot Rating System completo são:
Locação Inteligente e Conexões (30 Pontos)
Pré-requisito 1 Locação Inteligente -
Pré-requisito 2 Proximidade à Infra-estrutura de Água e Esgoto -
Pré-requisito 3 Espécies Ameaçadas e Comunidades Ecológicas -
Pré-requisito 4 Conservação de Várzeas e Corpos D´água -
Pré-requisito 5 Conservação de Áreas Agricultáveis -
Pré-requisito 6 Afastamento da Cota de Inundação -
Crédito 1 Reurbanização de Áreas Contaminadas (2)
Crédito 2 Reurbanização de Áreas Contaminadas Prioritárias (1)
Crédito 3 Locações Preferenciais (10)
Crédito 4 Redução da Dependência de Automóveis (8)
Crédito 5 Rede Cicloviária (1)
Crédito 6 Proximidade entre Habitação e Trabalhos (3)
Crédito 7 Proximidade de Escolas (1)
Crédito 8 Proteção a Taludes Acentuados (1)
Crédito 9 Concepção de Projeto para Conservação de Habitats ou Várzeas (1)
Crédito 10 Restauração de Habitats ou Várzeas (1)
Crédito 11 Gestão de Conservação de Habitats ou Várzeas (1)
Desenho de Padrão de Vizinhanças (39 Pts)
Pré-requisito 1 Comunidades Abertas -
Pré-requisito 2 Urbanização Compacta (7casas por acre) -
Crédito 1 Urbanização Compacta (7)
Crédito 2 Diversidade de Usos (4)
Crédito 3 Diversidade de Tipos de Habitação (3)
Crédito 4 Disponibilidade de Residências para Aluguel (2)
Crédito 5 Disponibilidade de Residências para Venda (2)
Crédito 6 Redução de Área de Estacionamento (2)
Crédito 7 Vias para Pedestres (8)
Crédito 8 Sistema Viário (2)
Crédito 9 Instalações de Transporte Público (1)
Crédito 10 Gestão da Demanda de Transporte (2)
Crédito 11 Acesso aos Bairros Vizinhos (1)
Crédito 12 Acesso aos Espaços Públicos (1)
Crédito 13 Acesso aos Espaços Públicos Ativos (1)
Crédito 14 Acessibilidade Universal (1)
Crédito 15 Alcance e Envolvimento da Comunidade (1)
Crédito 16 Produção de Alimentos Local (1)
Construção e Tecnologia Verdes (31 Pontos)
Pré-requisito 1 Prevenção da Poluição Gerada pelas Construções -
Crédito 1 Prédios Verdes Certificados (3)
Crédito 2Eficiência Energética nos Edifícios
(3)
Crédito 3 Uso da Água Reduzido (3)
Crédito 4 Reutilização de Edifícios e Adaptabilidade para Reuso (2)
Crédito 5 Reuso de Edifícios Históricos (1)
Crédito 6 Projeto que Minimiza os Transtornos Locais (1)
Crédito 7 Minimização os Transtornos Locais Durante a Construção (1)
Crédito 8 Recuperação e Redução de Contaminação de Terras (1)
Crédito 9 Gestão de Águas Pluviais (5)
Crédito 10 Redução de Ilhas de Calor (1)
Crédito 11 Orientação Solar (1)
Crédito 12 Geração Energia Local (1)
Crédito 13 Fonte Local de Energias Renováveis (1)
Crédito 14 Sistema central de aqueci-mento e resfriamento (1)
Crédito 15 Eficiência Energética da Infra-Estrutura (1)
Crédito 16 Gestão dos Esgotos (1)
Crédito 17 Uso de Reciclados na Infra-estrutura (1)
Crédito 18 Gestão dos Resíduos das Construções (1)
Crédito 19 Gestão Ampla do Lixo (1)
Crédito 20 Redução da Poluição Luminosa (1)
Inovação e Projeto (6 Pontos)
Crédito 1 Inovação de Desenho (5)
Crédito 2 Profissional credenciado Leed (1)
Apesar de denso, o texto que funciona como um manual de aplicação do checklist é bem
detalhado, ajudando o avaliador a enquadrar o projeto ou empreendimento candidato à certificação
dentro dos parâmetros definidos pelo Leed-ND. Isso faz com que o processo de execução da análise
seja um modelo genérico que pode ser usado para diferentes casos de assentamento urbano. Esse
aspecto aparece como uma vantagem do Leed Neighbourhood frente a outros dispositivos menos
objetivos e genéricos como a Análise de Impacto Ambiental, que é feita especificamente para cada
caso e lugar, sendo um documento subjetivo, conforme será explicado a seguir.
3.3 Análise de Impacto Ambiental (AIA)
Existem no Brasil algumas ferramentas preventivas para ajudar na gestão urbana ambiental.
Uma delas, a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é baseada numa política de gestão urbana do
governo norte americano criada em 1969: o Environment Impact Assessment (EIA), que é a exata
tradução para o inglês da AIA brasileiro. Desta forma, portanto existe uma coincidência de siglas, pois
este EIA americano é diferente (e precedente) do EIA brasileiro, que significa Estudo de Impacto
Ambiental e é parte integrante da AIA.
Ela auxilia o processo de desenvolvimento de projetos de crescimento urbano, analisando e
identificando os impactos nas esferas ambiental, social e cultural, propondo respostas a curto, médio
e longo prazos. A AIA deve identificar os processos socioeconômicos, conhecer os ecossistemas,
definir os tópicos ambientais que sejam relevantes a um determinado empreendimento e gerar
informações que possibilitem a tomada de decisões considerando a participação da sociedade.
“Métodos de AIA são mecanismos estruturados para identificação, coleção e organização de dados
sobre impactos ambientais”. (ERICKSON Apud RODRIGUES, 2003).
A AIA é um conjunto de procedimentos concatenados de maneira lógica, com a finalidade de
analisar a viabilidade ambiental de projetos, planos e programas, e fundamentar uma decisão a
respeito. As etapas a serem seguidas para confecção da AIA são: apresentação da proposta com
memorial descritivo do projeto incluindo o levantamento de dados; plano de trabalho com definição da
abrangência e conteúdo do EIA que será o que foi identificado como provável impacto pelo
empreendimento na etapa anterior; elaboração do EIA com a previsão dos impactos identificados
anteriormente; publicação do relatório com as conclusões alcançadas (RIMA); decisão da aprovação
ou não do empreendimento em questão; caso positivo, execução da obra com o devido programa de
acompanhamento, monitoramento e auditorias.
Os impactos ambientais causados pela implantação e operação do empreendimento, identificado nos meios físico, biótico e antrópico, é qualificado e hierarquizado, segundo critérios que devem ser combinados e ponderados, tais como: magnitude do impacto, probabilidade de ocorrência do impacto, extensão espacial e temporal, possibilidade de recuperação do ambiente afetado, importância do ambiente afetado, nível de preocupação pública, repercussões políticas, etc. (NEGREIROS e ABIKO, 2007)
Em suma a AIA é o processo de identificar as conseqüências futuras de uma ação presente
ou proposta e possui um caráter prévio e preventivo.
A norma de brasileira para EIA foi implantada pela Resolução Conama Nº 001, de 23/01/86,
que apresenta uma lista de empreendimentos com potencial de degradação ou poluição passam a
ser sujeitos a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como condição para licenciamento ambiental.
“O EIA consiste na elaboração de um documento resultante do desenvolvimento de uma Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) que, por sua vez, corresponde ao processo de identificar, prever, avaliar e mitigar os efeitos relevantes de ordem biofísica, social ou outros de projetos ou atividades antes que decisões importantes sejam tomadas.” (IAIA, 1999)
3.3.1 Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental
O EIA e o RIMA são documentos integrantes do processo de AIA, portanto não são métodos
de classificação de empreendimentos, mas apenas de avaliação.
Existe um Termo de Referência para preparação de Estudo de Impacto Ambiental (EIA), que
deve ser seguido por equipe multidisciplinar independente do empreendedor e custeado pelo mesmo.
Neste documento existe uma série de tópicos que devem ser pesquisadas e levantadas muitas
informações a respeito do projeto e o local onde o mesmo será implantado. É tão particular para cada
caso que se torna um trabalho complexo único, não havendo um questionário objetivo que se possa
preencher e se possa comparar efetivamente um empreendimento de outro.
Na lista de atividades em que é exigida a licença ambiental para instalar e operar, projetos
urbanísticos aparecem no final, sem muito destaque e com restrições para aplicabilidade, tais como
área mínima de 100 hectares e ser áreas de relevante interesse social. Isso indica que o sistema de
avaliação é de fato voltado para o meio ambiente e sua preservação. O foco está sempre nos
impactos ambientais em si, independente do tipo de empreendimento, seja um assentamento urbano,
seja uma indústria petroquímica.
Outrossim, tanto o EIA quanto o RIMA, e até mesmo a AIA não possuem logomarca ou selo
que os identifiquem em um empreendimento, tem sua necessidade de aplicação exigida por lei e,
portanto, é uma obrigação que não tem retorno para o investidor, que arcará com altos custos durante
a elaboração dos estudos. Desta maneira, os estudos exigidos, apesar de obrigatórios fazem com
que o processo de licenciamento ambiental seja algo mal visto pela sociedade enquanto contrapartida
de investimento, pois não oferecem nada em troco ao empreendedor, podendo ainda gerar mais
custos para o montante da obra com exigências projetuais ou atitudes mitigadoras e compensatórias.
Para que o tratamento dos possíveis impactos causados pelo projeto proposto seja eficaz, o
EIA propõe medidas de adequação ao princípio da sustentabilidade ambiental, divididas em três tipos
básicos: medidas valorizadoras dos impactos positivos; medidas mitigadoras que buscam a
diminuição e a proporção dos impactos ambientais negativos; e medidas compensatórias para os
impactos ambientais negativos cuja mitigação é impossível ou insuficiente.
O EIA-RIMA é um instrumento fundamental aos órgãos de meio-ambiente competentes a
conceder licenças ambientais, porém é insuficiente para proporcionar desafios no processo de
criação de novos projetos, assim como para gestão ambiental no geral. Neste aspecto um sistema de
certificação ambiental através de um selo que lhe confira credibilidade perante o mercado, pode
propor uma revolução no desenvolvimento de projetos para assentamentos urbanos, como também
“puxar para cima” os assentamentos existentes que tenham interesse em serem certificados através
de profundos retrofites em suas instalações para se adequarem ao checklist proposto pela empresa
auditora do processo.
Porém, apesar de o processo de certificação ser muito conveniente, talvez se mostrem um
tanto superficiais, e neste caso um estudo aprofundado da sustentabilidade ambiental do
empreendimento se torne mais importante para o meio ambiente do que para o mercado. Neste ponto
de vista se enquadra melhor uma análise do projeto (ou assentamento constituído) por meio dos
Princípios de Sustentabilidade propostos por Andrade (2005).
3.4 Os Princípios de Sustentabilidade Ambiental
O estudo de tais princípios foi desenvolvido por Andrade (2005) realizando um apanhado dos
conceitos desenvolvidos em separado por vários autores de diversos países que trabalharam a idéia
do eco-urbanisco integrando estes conceitos de forma a orientar na prática o desenho de novos
assentamentos urbanos ou até mesmo a recuperação de assentamentos existentes transformando-os
em ocupações urbanas mais sustentáveis.
A aliança entre estes padrões com o estudo da legislação brasileira traz à luz um método de
recuperação de áreas urbanas de escalas variadas, além de colaborar para o processo de
regularização fundiária de forma sustentável adequando o que inicialmente foi feito sem o devido
planejamento à lei, sem prejudicar (ou prejudicar menos) o meio ambiente.
Os princípios são: proteção ecológica (biodiversidade), adensamento urbano, revitalização
urbana, implantação de centros de bairro e desenvolvimento da economia local, implementação de
transporte sustentável e moradias economicamente viáveis, comunidades com sentido de vizinhança,
tratamento de esgoto alternativo, drenagem natural, gestão integrada da água, energias alternativas
e, finalmente, as políticas baseadas nos 3R’s (reduzir, reusar e reciclar).
A partir do estudo dos princípios de sustentabilidade ambiental estabeleceu-se um método, que consiste em traduzir os princípios em estratégias e técnicas para o processo de desenho, com o objetivo de proporcionar assentamentos humanos em equilíbrio com a natureza, economicamente viáveis e lugares agradáveis para se viver. (ANDRADE, 2005)
Segundo Andrade, as cidades dos países desenvolvidos já conseguiram superar seus
problemas sócio-econômicos que eram baseados no modelo poluidor, desta forma puderam se
dedicar a solucionar os impactos ambientais em uma escala bem maior, se estendendo ao planeta
como um todo. Estas cidades atravessaram os dois últimos séculos praticando várias teorias
urbanísticas até conseguirem aplicar os princípios de sustentabilidade no espaço urbano.
Estas experiências urbanísticas normalmente chegaram aos países menos desenvolvidos de
forma distorcida, como o movimento das Cidades-Jardins de Ebenezer Howard (1898), traduzido na
prática para Subúrbio-Jardim, que é um conceito de bairro-dormitório muito usado para a classe
média, que tem como apoio apenas os serviços essenciais, sem preocupação alguma com o
desenvolvimento econômico.
A proposta de Howard foi solucionar os problemas urbanos através do desenho de cidades
com um contato direto com o campo. A idéia era unir o conforto da vida urbana à produtividade e o
contato com a natureza. Eram estratégias para segurar o crescimento urbano, traduzidas hoje como
desenvolvimento urbano sustentável, tais como: acesso aos espaços verdes, vias para os pedestres,
transporte público adequado, zoneamento de uso misto e mistura de classes sociais,
reaproveitamento de resíduos sólidos em terras agrícolas e centros comerciais com economia local.
Obviamente para a época a questão ecológica era muito incipiente e, portanto o excesso no uso do
automóvel não era um problema. Desta maneira, essas idéias precisam ser reformuladas ou
completadas.
O ponto em que o modelo de cidade-jardim confronta o desenvolvimento urbano sustentável
é a expansão com baixas densidades que ocupam terras agricultáveis. Este efeito é bastante
percebido na questão dos condomínios irregulares, criados em lugares sem qualquer infra-estrutura
ou preocupações ecológicas. Isso pode ser facilmente exemplificado com práticas no Distrito Federal,
não apenas em parcelamentos irregulares, mas também em bairros planejados desde sua origem
como os Lagos Sul e Norte. O Setor de Mansões Parkway que é exatamente isto, sem qualquer
centro comercial que o atenda, força os moradores a utilizar-se de carros para as tarefas mais
simples como ir a uma padaria ou a uma farmácia. E o extremo da situação obviamente é o que
vemos nos condomínios espalhados pelo DF como os localizados no Setor Jardim Botânico, entre
outros.
Um exemplo bem sucedido das principais idéias de Howard é o Condomínio Village Homes
na cidade de Davis na Califórnia. Este modelo de desenho urbano sustentável será usado como ideal
na elaboração da planilha de aplicação dos Princípios no estudo de caso.
Foram considerados também para o desenvolvimento dos Princípios de Sustentabilidade
para Reabilitação de Assentamentos Urbanos os conceitos do Novo Urbanismo. Trata-se de um
grupo Norte Americano que propõe importantes mudanças de estratégias para o desenvolvimento
urbano que possibilitem cidades mais saudáveis para o terceiro milênio.
Os projetistas do Novo Urbanismo, ou Urbanismo Sustentável, buscam comunidades
menores e densas (diferentemente dos subúrbios tradicionais), com limites definidos e onde haja uma
adequada mistura de usos sociais quais sejam espaços de recreação, comerciais, institucionais e de
serviço, em estreita vinculação com residências de vários tipos e classes sócio-econômicos. As
viagens para fora da vizinhança devem ser minimizadas, reduzindo a dependência do carro. Dentro
da comunidade as distâncias podem ser percorridas a pé, inclusive o acesso ao transporte público,
que a liguem a outras comunidades similares. Essas características darão às pessoas que nele
habitarem a sensação de pertencimento à comunidade, e conseqüentemente haverá um maior
cuidado e valorização do local.
Segundo IRAZÁBAL (2001), “a carta do Novo Urbanismo enfatiza a necessidade de
diversidade social, mescla de atividades e tipos de circulação, acessibilidade pedestre, participação
democrática e respeito à expressão da cultura local”.
O Novo Urbanismo defende uma visão mais realista do papel do projeto urbano dentro da
complexidade de fatores que influenciam o destino das cidades. Um postulado do urbanismo
moderno como modelo para resgatar e reordenar as cidades e propiciar saúde e felicidade ao
indivíduo.
Considera-se também o urbanismo sustentável europeu que aborda os aspectos sociais,
urbanos, arquitetônicos, comunitários e ambientais de forma integrada juntamente com tecnologias
sustentáveis. Entretanto os resultados econômicos são obtidos em longo prazo, baseados numa
visão de impactos de longo alcance. Isso dificulta a sua aplicação direta nos países em
desenvolvimento.
Desde os anos 90, na Europa os projetos de renovação urbana ecológica trabalham com oito enfoques básicos: 1. ética e respeito pelo ser humano; 2. participação e democratização; 3. organização de um sistema de redes; 4. retorno à natureza e às experiências sensoriais; 5. diversidade funcional e densidade urbana controlada; 6. respeito pelo lugar; 7. ecologia e economia e 8. cooperação internacional. (MÜLLER, 2001, Apud ANDRADE, 2005)
Os princípios da Permacultura de Mollisson (1998) são baseados na criação de ambientes
onde são aplicados fundamentos de ética e ecologia. Esses lugares devem ser equilibradamente
ricos em alimentos, energia, abrigo, produtivos e outras necessidades, incluindo infra-estrutura social
e econômica. Partindo dos padrões da natureza surge então uma nova forma de desenvolver padrões
de vida e convivência humana e está sendo aplicada por várias comunidades que vivem de maneira
sustentável: as Ecovilas.
Mas apesar de contribuírem para o estabelecimento de princípios sustentáveis para
assentamentos humanos, as Ecovilas se estabelecem em ambientes rurais, onde os problemas e
desafios divergem muito daqueles do espaço urbano.
O modelo urbano de cidade-compacta e com diversidade de usos é indicado por
Rogers (2001) como o mais apropriado para o uso racional de energia e preservação dos recursos
naturais.
As vantagens desse desenho são: menores distâncias de viagens, redução da emissão de
poluentes; melhor uso da infra-estrutura; a proteção das áreas agrícolas rural-urbanas; e a
diversidade cultural e social.
Também existem desvantagens no modelo. O adensamento urbano causa uma redução de
áreas verdes podendo criar ilhas de calor, aumento da poluição (do ar, da água e sonora), aumenta-
se a possibilidade de congestionamentos se não houver rede de transporte público eficiente.
A concentração urbana não pode prescindir de outras medidas como tratamento ecológico
dos espaços públicos, agricultura urbana, aproveitamento de água da chuva, reuso das águas
residuais, tratamento de esgoto com sistemas biológicos e mobilidade, de forma a não causar mais
impactos na capacidade de suporte dos ecossistemas do entorno.
Os parâmetros europeus de planejamento urbano que estão sendo utilizados nos últimos
anos são o equilíbrio entre desenvolvimento urbano e conservação do solo dedicado à atividade
agrícola e florestal, assim como às zonas verdes destinadas ao ócio; conservação dos ecossistemas
e dos entornos naturais; mescla de funções urbanas e equilíbrio entre habitação e trabalho;
diversidade social nos bairros e nos próprios edifícios; controle dos deslocamentos e do tráfego
rodado; proteção da qualidade do ar e da água; redução das moléstias causadas pelo ruído; gestão
dos resíduos e a preservação dos conjuntos urbanos de interesse e do patrimônio histórico e
imobiliário.
Os princípios de sustentabilidade associados à morfologia urbana formam uma estrutura
sistêmica e integrada que nos ajuda a entender o potencial para implantar (ou recuperar)
assentamentos urbanos sustentáveis. Esses estudos foram realizados no Canadá por volta de 2002
por Peck e Dauncey e apresentam resultados interessantes, podendo orientar a recuperação de
comunidades já implantadas, assim como projetos em desenvolvimento, provocando em longo prazo
impactos positivos na sociedade e no meio ambiente.
Proteção ecológica (biodiversidade) – fazer um diagnóstico ambiental e um levantamento da legislação ambiental da região e verificar se há aplicação da lei, bem como planos de recuperação de nascentes ou florestas.
Adensamento urbano – evitar a expansão urbana de modo a conter: a ocupação urbana de terras agrícolas, o enfraquecimento do sentido de comunidade e o aumento de emissões de dióxido de carbono com viagens locais.
Revitalização urbana – recuperar áreas urbanas, para reaproveitar uma infra-estrutura existente (sustentabilidade). Essa iniciativa celebra a cidade
viva, trazendo novos moradores, comércio e atividades para a vizinhança em áreas abandonadas.
Implantação de centros de bairro – centralizar a região de comércios dentro de distâncias caminháveis da maioria das casas do empreendimento. A ausência de um centro comercial, dentro dos empreendimentos ou nas proximidades, é um dos incentivos para as pessoas usarem carros, o que tem efeito negativo na interação social com a vizinhança devido à ausência de oportunidades para as pessoas se encontrarem.
Desenvolvimento da economia local – estabelecer estratégias práticas para o empreendimento da economia local nos planejamentos em sintonia com o planejamento de transportes (moradia-trabalho).
Implementação de transporte sustentável – estabelecer estratégias de desenho incluindo a provisão de caminhos para bicicleta, com vegetação e interconectados com as ruas ou redes de transporte público. Sugere-se a existência de conexões atrativas para pedestres, redutores de velocidade para a travessia de indivíduos de modo a incentivar as pessoas a caminharem ou andarem de bicicleta, o que promove a redução de CO2. Ruas mais estreitas em oposição às ruas largas, típicas da expansão suburbana, reduzem a área de superfície pavimentada, diminuindo os efeitos de ilhas de calor.
Moradias economicamente viáveis – as estratégias precisam vir acompanhadas do desenho urbano como zoneamento inclusivo, bônus de densidade e fundos para terra, incentivando habitações econômicas. Uma comunidade sustentável necessita de diversidade e mistura de classes com variedade de moradias e custos diferentes.
Comunidades com sentido de vizinhança (habitáveis) – proporcionar espaços que gerem oportunidades para a sociabilidade e desenvolvimento pessoal por meio de instalações comunitárias e do tratamento dos espaços públicos. Ex: Village Homes.
Tratamento de esgoto alternativo e drenagem natural – a abordagem sustentável caminha em duas escalas: sistemas de tratamentos de águas residuais com plantas para as casas (zona de raízes) ou para o empreendimento como um todo (wetlands).
Gestão integrada da água – os empreendimentos de natureza mais compacta podem utilizar menos água, se preparados tecnicamente, que loteamentos suburbanos com densidades mais baixas. Tecnologias como coberturas ajardinadas, estacionamentos e vias com pisos permeáveis, além de tanques ou cisternas para reaproveitamento de água da chuva ou águas servidas, podem reduzir o consumo de água.
Energias alternativas – a eficiência energética pode ser colocada sob dois aspectos. Primeiramente, para as moradias, sob a ótica de uso da energia utilizada, vinda de fontes renováveis como o sol, o vento e a biomassa . Em segundo lugar, sob o viés da redução de combustíveis fósseis utilizados nas moradias, carros e indústrias.
Políticas baseadas nos 3R’s (Reduzir, Reusar, Reciclar) – para o desenho de empreendimentos sustentáveis, os 3R’s incluem redução do gasto de energia, reuso das edificações e reciclagem de resíduos de construção.
(ANDRADE, 2005)
A aplicação destes princípios torna-se uma prática viável e descomplicada para a realidade e
o cotidiano de escritórios de arquitetura e urbanismo, além de estudos e pesquisas que possam vir a
ser encomendadas por empreendedores que procurem investir e valorizar seu empreendimento de
forma sustentável, podendo usar os resultados obtidos como fonte de marketing, apesar de não haver
um selo que certifique tecnicamente que o empreendimento é “verde”.
Os princípios serão analisados de modo a permitir que sejam traçados os planos estratégicos
e a partir destes surgirão as recomendações específicas, traduzidas em técnicas usadas para que se
possa alcançar o objetivo final: atender aos princípios de sustentabilidade ambiental.
O começo de tudo se dá a partir de uma Análise de Impacto ambiental do objeto analisado,
seja qual for sua escala. Depois de identificar a capacidade de suporte de cada micro-bacia: levantar
os dados, qualificá-los, levantar os impactos e conflitos socioambientais possíveis e, só então, partir
para as diretrizes propositivas que se transformarão em estratégias e técnicas de desenho.
Para a primeira etapa é necessário que sejam levantados os dados sobre a região para
realizar um diagnóstico ambiental do local: um estudo de impacto ambiental para a área de
intervenção e seu entorno. Após a execução do estudo ambiental da região, entra a fase de definição
das estratégias ecológicas baseadas em Capra (2002). Somente então, numa etapa seguinte é que
os princípios de sustentabilidade são transformados em técnicas de desenho de acordo com Dauncey
e Peck (2002), de forma a mitigar (ou resolver) os impactos mais importantes nos aspectos
econômico, social e ambiental. Utiliza-se como base a tabela específica contendo os princípios
gerais, os problemas detectados com fotos, as estratégias a serem utilizadas para mitigar ou resolver
o problema com fotos de boas práticas das técnicas sugeridas. Essa tabela está apresentada no
capítulo sobre o estudo de caso.
O resultado final é um “manual” aplicável ao empreendimento estudado de modo a torná-lo
mais sustentável, com minimização dos impactos negativos ao meio ambiente e procurando dar mais
conforto às pessoas que nele viverão.
3.5 Conclusão do capítulo
Dentre os diferentes tipos de enfoques e métodos de análise do ambiente urbano foram
apresentados três formas: a Análise do Impacto Ambiental, os Princípios de Sustentabilidade e a
Certificação Verde para Desenvolvimento Urbano.
Percebe-se claramente que todos eles têm seus pontos fortes e fracos quando comparados
uns com os outros.
Enquanto a AIA é um importante instrumento de levantamento de dados referentes ao
impacto ambiental dos projetos urbanísticos, é um tanto quanto limitado no que diz respeito a
propostas de soluções, mesmo porque sua análise é feita posteriormente ao desenvolvimento do
projeto, o que se torna um método tardio no processo.
O processo de certificação verde é muito interessante do ponto de vista do incentivo
mercadológico, já que a onda verde atualmente valoriza produtos com características ecologicamente
favoráveis. Desta forma torna-se uma ferramenta buscada, pois o retorno financeiro é praticamente
certo para o investidor. Porém, em contra partida, o processo é engessado e simplista, baseando-se
como um todo no preenchimento de um checklist padrão. Desta maneira, apesar de ser uma maneira
simples de avaliação (diferente da AIA) os próprios tópicos exigidos já são de certa forma as
propostas de melhoria do projeto a ser implantado ou do empreendimento existente, que tenham
como objetivo certificar-se perante a entidade responsável pelo selo.
Já os princípios de sustentabilidade buscam as soluções para os problemas ambientais
detectados em estudo prévio e propõe de forma bastante embasada respostas estratégicas para
melhoria do espaço vivido. O lugar que se propor a ser mais sustentável baseado nestes princípios
certamente o serão, e melhor ainda se tornará um ambiente agradável de viver socialmente. A
desvantagem do método parece ser justamente o que é vantagem para as certificações: o incentivo
para os empreendedores investirem seu dinheiro sem perspectiva de retorno no mercado. Uma
ferramenta poderosa do ponto de vista de utilidade, aplicabilidade, simplicidade e embasamento
teórico, deixa a desejar apenas na questão de posicionamento de mercado.
Isto posto, percebe-se que nenhum modelo é definitivo, sendo que se complementam
mutuamente: a investigação dos problemas, as estratégias para soluções e o incentivo de uso para
os investidores.
Desta maneira será realizado o estudo de caso. Primeiramente identificando o objeto de
estudo, em seguida apresentando o EIA-RIMA existente para o local. O estudo dos Princípios de
Sustentabilidade com suas estratégias e o checklist do Leed-ND aparecerão como tabelas.
Culminando em uma conclusão geral dos três métodos utilizados para a investigação das
possibilidades de “sustentabilização” do condomínio horizontal irregular existente.