como é que eu ensinei teoria da perspectiva ao meu filho – economia comportamental

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24/08/2015 Como é que Eu Ensinei Teoria da Perspectiva ao Meu Filho – Economia Comportamental data:text/html;charset=utf8,%3Cheader%20style%3D%22display%3A%20block%3B%20color%3A%20rgb(51%2C%2051%2C%2051)%3B%20fontfamil… 1/2 Como é que Eu Ensinei Teoria da Perspectiva ao Meu Filho Querido filho, hoje quero falarte da forma como as pessoas tomam decisões. Muitas escolhas nas nossas vidas implicam resultados incertos. Escolher entre duas alternativas frequentemente implica um risco, como decidir se deves gastar o dinheiro do teu aniversário numa nova bicicleta ou numa PlayStation. Cada escolha representa os dois lados de uma moeda: existe o risco de se perder algo (uma perda) e a oportunidade de se obter algo (um ganho). Se gastares o dinheiro do teu aniversário numa nova bicicleta vais perder a oportunidade de gastar o teu dinheiro em outras coisas e ganhar o prazer de ter uma bicicleta e utilizála para passear pelo bairro; se gastares o dinheiro do teu aniversário numa PlayStation vais perder a oportunidade de gastar o teu dinheiro em outras coisas e ganhar o prazer de ter uma PlayStation para jogares com os amigos. Ambas as alternativas implicam ganhos e perdas. Estes tipos de escolhas são determinados por três formas de pensar, que influenciam a forma como avaliamos os resultados esperados das nossas decisões, e consequentemente, as escolhas que fazemos. 1) A primeira é chamada Aversão à Perda Para nós humanos, perder algo magoa mais do que ganhar. Isto acontece porque somos avessos à perda. De facto, a ciência da aversão à perda diznos que perder algo faznos sentir tristes duas vezes mais (imaginemos duas expressões tristes) do que nos sentimos felizes quando ganhamos algo (imaginemos um sorriso). Perder o teu estojo fazte sentir duas vezes pior ( ) do que receber um estojo novo ( ). Isto significa que, se perderes o teu estojo e o encontrares passado algum tempo, vaiste sentir três vezes mais feliz (duas por cancelares a perda e uma do ganho) do que te sentiste quando o recebeste pela primeira vez. 2) A segunda é chamada Sensibilidade Decrescente Eu sei que tu gostas muito de mosse de chocolate. Mas quando eu te faço mousse de chocolate para a sobremesa, a primeira colherada de mousse de chocolate sabe muito melhor que a quinta colherada, e a quinta colherada melhor que a sexta, e assim por diante… Isto significa que a nossasensibilidade às coisas tende a diminuir à medida que somos expostos a elas. Se eu ligar uma luz difusa no teu quarto escuro enquanto dormes, vai ter um grande efeito. Mas a mesma luz difusa pode ser difícil de ver no teu quarto claro durante o dia. De forma semelhante, se eu subtrair 5€ à tua mesada de 20€, vaite custar mais do que custaria se tivesses uma mesada de 30€, mas menos do que te custaria se tivesses uma mesada de 10€, embora a diferença (5€) seja a mesma nas três situações. 3) A terceira é chamada Ponto de Referência Imagina que bebes uma cola com gelo depois de comer uma sopa quente, ou depois de comer um gelado. A cola vaite parecer mais fria depois de comeres a sopa do que depois de comeres o gelado. Isto acontece porque a tua boca se habitua a um ponto de referência (quente com a sopa e frio com o gelado) que determina a forma como experiencias a mesma bebida (cola). Quando as pessoas pensam acerca de dinheiro também usam um ponto de referência, que normalmente corresponde ao valor que esperam, ou a que sentem que têm direito. Resultados que são melhor que o ponto de referência são percebidos como ganhos, os que são pior são percebidos como perdas. Por isso, se te habituares a receber 200€ da tua avó pelo Natal e ela te oferecer apenas 150€ este ano, vais sentir que perdeste algo. Mas se recebias 100€ anteriormente, os 150€ este ano vão fazerte sentir que ganhaste algo. Estes três príncipios revolucionaram uma ciência chamada economia, que lida com a forma como pensamos acerca do dinheiro. Mais recentemente, um novo tipo de economia emergiu, que introduziu a psicologia – a

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Como é Que Eu Ensinei Teoria Da Perspectiva Ao Meu Filho – Economia Comportamental

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24/08/2015 Como é que Eu Ensinei Teoria da Perspectiva ao Meu Filho – Economia Comportamental

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Como é que Eu Ensinei Teoria da Perspectiva ao Meu FilhoQuerido filho, hoje quero falar­te da forma como as pessoas tomam decisões. Muitas escolhas nas nossasvidas implicam resultados incertos. Escolher entre duas alternativas frequentemente implica um risco, comodecidir se deves gastar o dinheiro do teu aniversário numa nova bicicleta ou numa PlayStation. Cada escolharepresenta os dois lados de uma moeda: existe o risco de se perder algo (uma perda) e a oportunidade dese obter algo (um ganho). Se gastares o dinheiro do teu aniversário numa nova bicicleta vais perder aoportunidade de gastar o teu dinheiro em outras coisas e ganhar o prazer de ter uma bicicleta e utilizá­lapara passear pelo bairro; se gastares o dinheiro do teu aniversário numa PlayStation vais perder aoportunidade de gastar o teu dinheiro em outras coisas e ganhar o prazer de ter uma PlayStation parajogares com os amigos. Ambas as alternativas implicam ganhos e perdas.

Estes tipos de escolhas são determinados por três formas de pensar, que influenciam a forma comoavaliamos os resultados esperados das nossas decisões, e consequentemente, as escolhas que fazemos.

1) A primeira é chamada Aversão à Perda Para nós humanos, perder algo magoa mais do que ganhar. Isto acontece porque somos avessos à perda.De facto, a ciência da aversão à perda diz­nos que perder algo faz­nos sentir tristes duas vezes mais(imaginemos duas expressões tristes) do que nos sentimos felizes quando ganhamos algo (imaginemos umsorriso). Perder o teu estojo faz­te sentir duas vezes pior ( ) do que receber um estojo novo ( ). Istosignifica que, se perderes o teu estojo e o encontrares passado algum tempo, vais­te sentir três vezes maisfeliz (duas por cancelares a perda e uma do ganho) do que te sentiste quando o recebeste pela primeira vez.

2) A segunda é chamada Sensibilidade Decrescente Eu sei que tu gostas muito de mosse de chocolate. Mas quando eu te faço mousse de chocolate para asobremesa, a primeira colherada de mousse de chocolate sabe muito melhor que a quinta colherada, e aquinta colherada melhor que a sexta, e assim por diante… Isto significa que a nossasensibilidade às coisastende a diminuir à medida que somos expostos a elas. Se eu ligar uma luz difusa no teu quarto escuroenquanto dormes, vai ter um grande efeito. Mas a mesma luz difusa pode ser difícil de ver no teu quartoclaro durante o dia. De forma semelhante, se eu subtrair 5€ à tua mesada de 20€, vai­te custar mais do quecustaria se tivesses uma mesada de 30€, mas menos do que te custaria se tivesses uma mesada de 10€,embora a diferença (5€) seja a mesma nas três situações. 3) A terceira é chamada Ponto de Referência Imagina que bebes uma cola com gelo depois de comer uma sopa quente, ou depois de comer um gelado. Acola vai­te parecer mais fria depois de comeres a sopa do que depois de comeres o gelado. Isto aconteceporque a tua boca se habitua a um ponto de referência (quente com a sopa e frio com o gelado) quedetermina a forma como experiencias a mesma bebida (cola). Quando as pessoas pensam acerca dedinheiro também usam um ponto de referência, que normalmente corresponde ao valor que esperam, ou aque sentem que têm direito. Resultados que são melhor que o ponto de referência são percebidos comoganhos, os que são pior são percebidos como perdas. Por isso, se te habituares a receber 200€ da tua avópelo Natal e ela te oferecer apenas 150€ este ano, vais sentir que perdeste algo. Mas se recebias 100€anteriormente, os 150€ este ano vão fazer­te sentir que ganhaste algo.

Estes três príncipios revolucionaram uma ciência chamada economia, que lida com a forma como pensamosacerca do dinheiro. Mais recentemente, um novo tipo de economia emergiu, que introduziu a psicologia – a

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24/08/2015 Como é que Eu Ensinei Teoria da Perspectiva ao Meu Filho – Economia Comportamental

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ciência da mente – na economia. Este campo de investigação chama­se economia comportamental.Compreender as suas ideias pode ajudar as pessoas, incluindo tu próprio, a tomar melhores decisões.