como é possível continuar escrevendo história política - rené gertz

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Anos 90, Porto Alegre, v. 13, n. 23/24, p.105-131, jan./dez. 2006 Como é possível continuar escrevendo História Política? René E. Gertz * Resumo: Destacam-se aqui alguns aspectos do embate historiográfico entre a “Ciência Social Histórica” alemã e a [Nova] História Cultural. Num segundo mo- mento, são apresentados alguns exemplos concretos de possibilidade de pesquisa em história política nos quais os posicionamentos da “Ciência Social Histórica” podem ser úteis. Palavras-chave: Ciência Social Histórica - Nova História Cultural - História Políti- ca. A erudição nos protege de descobertas inéditas. Hermann Heimpel (citado por Hans-Ulrich Wehler). Convidado a trazer uma pequena contribuição que represen- tasse a linha de pesquisa “Relações de poder político-institucionais” do Programa de Pós-Graduação em História, neste número * Professor do Departamento de História da UFRGS. Professor-colaborador do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS. Professor do Departamento de História da PUCRS.

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Texto que discute o papel da história política.

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  • Anos 90, Porto Alegre, v. 13, n. 23/24, p.105-131, jan./dez. 2006

    Como possvel continuar

    escrevendo Histria Poltica?Ren E. Gertz*

    Resumo: Destacam-se aqui alguns aspectos do embate historiogrfico entre aCincia Social Histrica alem e a [Nova] Histria Cultural. Num segundo mo-mento, so apresentados alguns exemplos concretos de possibilidade de pesquisaem histria poltica nos quais os posicionamentos da Cincia Social Histricapodem ser teis.Palavras-chave: Cincia Social Histrica - Nova Histria Cultural - Histria Polti-ca.

    A erudio nos protege de descobertas inditas.Hermann Heimpel (citado por Hans-Ulrich Wehler).

    Convidado a trazer uma pequena contribuio que represen-tasse a linha de pesquisa Relaes de poder poltico-institucionaisdo Programa de Ps-Graduao em Histria, neste nmero* Professor do Departamento de Histria da UFRGS. Professor-colaborador doPrograma de Ps-Graduao em Histria da UFRGS. Professor do Departamentode Histria da PUCRS.

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    comemorativo de Anos 90, prontifiquei-me a reescrever um breveartigo publicado em 1999 sob o ttulo Histria poltica. Trata-se, efetivamente, de reescrever esse artigo, pois no sero apre-sentadas muitas idias novas, que no tenham sido arroladas ali em alguns trechos inclusive acontecero transcries daquele tex-to. A justificativa para reescrev-lo est na existncia de algumasfalhas, sobretudo lingsticas, que tentarei corrigir agora (Gertz,1999). O pequeno plus que se apresenta consiste na tentativa aofinal do texto de apontar para algumas poucas situaes, dentroda minha prpria atividade de pesquisa, nas quais penso asconsideraes aqui desenvolvidas podem ter alguma utilidade.

    Por ter estudado na Alemanha e por possuir algum domnioda lngua alem e ainda, por no saber francs , fui influenciadomais pela historiografia alem do que por qualquer outra. E, den-tro da historiografia alem, a influncia maior veio da tendnciaautodenominada Cincia Social Histrica, que est representa-da, institucionalmente, na revista Geschichte und Gesellschaft (Hist-ria e Sociedade) publicada desde 1975.1 Minha exposio tentarreproduzir algumas idias centrais dessa escola que contriburampara a definio de minha compreenso de Histria Poltica.

    Os prprios historiadores alemes tm plena conscincia deque, sob vrios aspectos, esto atrasados no atual debatehistoriogrfico internacional2 sobretudo em relao [Nova]Histria Cultural , mas tambm apontam para o fato de que mui-tas supostas descobertas inditas ou campos apresentados comoinovadores na historiografia da segunda metade do sculo XX, emalguns pases ocidentais, j estiveram presentes em debates ante-riores, e muitos deles podem ser conferidos nos textos clssicosdas Cincias Sociais, cuja atualidade continuaria relativamenteintacta (Wehler, 2001, p. 63 e ss). Assim, para exemplificar, a Re-vista do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul publicou, alguns anos atrs, um artigode Volker Sellin em que ele ironizava, de alguma forma, a Histria

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    das Mentalidades francesa, destacando que um alemo falecidoem 1920 havia escrito j no incio do sculo um famoso livrosobre o esprito do capitalismo, com que, evidentemente, intentaradefinir um tipo de mentalidade no de idias que teria favorecidoa cristalizao do capitalismo moderno (Sellin, 1990, p. 45).

    Duas caractersticas que acompanharam a Histria Polticadesde sempre foram, uma vez, a reivindicao de ser a HistriaGeral, a mais abrangente, a mais importante por assim dizer, aHistria , outra vez, sua natural ateno centrada no Estado.

    Quanto primeira caracterstica, isso significa umahierarquizao das Histrias, na qual a Histria Poltica est notopo e todas as demais se lhe subordinam. Isso tem a ver com ofato de que a escrita da Histria est, tradicionalmente, relaciona-da com povos. E povos tentam escrever sua histria para definir edelimitar sua identidade, direcionando, normalmente, essa escrita formao e ao desenvolvimento do Estado que os acabou con-gregando. Povos que no atingiram o estgio de congregao emum Estado costumam aparecer como problema, podem vir a serconsiderados povos a-histricos.

    Na era moderna, no absolutismo, o Estado era tudo, e mes-mo quando o absolutismo comeou a ser substitudo por sistemasmais liberais e democrticos, a idia dominante no foi a de que oEstado deveria desaparecer em favor do autogoverno da Socieda-de, mas apenas que o Estado deveria ser controlado por repre-sentantes da Sociedade, mantendo-se, de alguma forma, um cer-to estatocentrismo. Mesmo na crtica ao carter burgus desseEstado, por no representar o conjunto da Sociedade, mas apenasuma parcela, a proposta alternativa no pleiteou sua abolio, an-tes seu fortalecimento, ainda que temporrio, para servir, agora, auma boa causa (Sellin, 1995, p. 177). O destaque dado ao Esta-do como objeto central da investigao histrica chegou a talponto que a historiografia assumiu como normal e corriqueira a

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    referncia ao Estado feudal, uma entidade que, a rigor, tem poucoa ver com a concepo e a realidade do Estado moderno.

    Crticas posteriores Segunda Guerra Mundial em relao acerto exagero na fixao do Estado como objeto central e nicoda Histria Poltica colocaram em dvida a condio de varivelindependente que ele assume nesse tipo de historiografia, no sen-tido de que tudo parece derivar dele, sem que ele via de regra necessitasse de uma explicao. Em contrapartida, sugeriu-se que,em lugar do Estado, a Sociedade deveria assumir o posto de vari-vel independente, da qual derivaria o restante inclusive o Esta-do. Os argumentos foram variados. O Estado uma abstraoque s ganha concretude atravs dos seres humanos que o consti-tuem, seja como polticos, seja como tcnicos, como burocratas.Nesse sentido, o contedo do Estado seria determinado pela So-ciedade que ele abrange. No mundo polarizado do ps-guerra, his-toriadores marxistas destacavam que o Estado capitalista , porum lado, apenas um epifenmeno de algo mais profundo e essen-cial, a Sociedade; e, por outro, ele ao contrrio de suaautodefinio clssica no representa o interesse geral, mas ape-nas os setores dominantes dessa Sociedade. No campo liberal, apostulao de que a presena e as dimenses do Estado deveriamser cada vez mais reduzidas tambm contribuiu para uma valori-zao da Sociedade. E tudo isso fortaleceu a Histria Social.

    A historiografia alem cuidou, porm, para evitar uma opo-sio, ou at uma excluso recproca, entre Histria Social e His-tria Poltica. Argumentou que os clssicos desde os velhos gre-gos sempre enxergaram alguma forma de influenciao recpro-ca, um caminhar lado a lado, entre as duas instncias, e que aintensidade da dominao vinda da Sociedade e a dominao vin-da do Estado podem variar no decorrer do tempo e do espao. Damesma forma, na anlise de situaes histricas concretas, os in-teresses que orientam o pesquisador podem fazer com que sejaprojetada mais luz sobre a perspectiva que valoriza a Sociedade

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    frente ao Estado e vice-versa. Assim, seria legtimo, por exemplo,concentrar a ateno sobre os efeitos destrutivos que o Estadonazista teve sobre a Sociedade alem situao que favoreceria oargumento da supremacia daquele em relao a esta , mas tam-bm seria totalmente legtimo analisar a constituio do Estadonazista a partir da configurao da Sociedade alem de seu tempo,como resultado de uma correlao de foras sociais e de interesses situao que constituiria argumento em favor da Sociedade comovarivel independente e do Estado como varivel dependente.3

    Dessa forma, mesmo que tambm na historiografia alem aexpresso Histria Social ganhasse cada vez mais espao, deve-sedestacar que isso no significou o abandono do vis poltico ou doEstado e de suas instituies como objetos privilegiados de inves-tigao. Isso talvez possa ser clareado com uma referncia s su-postas diferenas e aos supostos distanciamentos entre ahistoriografia alem da segunda metade do sculo XX e ahistoriografia francesa da assim chamada Escola dos Annales. AHistria Social francesa teria privilegiado a longa durao e obje-tos localizados, cronologicamente, numa distncia maior em rela-o ao presente, concentrando sua ateno na dinmica de trans-formao relativamente lenta da Sociedade, com permannciasao longo do tempo, numa certa independncia em relao ao Es-tado; enquanto isso, a Histria Social alem teria dedicado maiorateno ao processo mais recente de industrializao e de suasconseqncias, que, no geral, denotariam uma maior dinmica,com mudanas mais intensas e com maior presena estatal(Kaelble, 1987). Mesmo que isso tenha levado George Iggers adestacar que a citada orientao da historiografia francesa fez comque ela privilegiasse as estruturas mais fixas e permanentes quecaracterizam a Sociedade francesa, contra as estruturas mais cam-biantes que caracterizam o Estado e a poltica na implantao eno desenvolvimento do processo de industrializao e moderniza-o da Alemanha, tpicas da Cincia Social Histrica (Iggers,

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    1993, p. 59). Hartmut Kaelble acredita que as diferenas no soto profundas e, sobretudo, no representam, de forma alguma,paradigmas mutuamente excludentes de escrever Histria ambasso Histria Social, e ambas no descuidam da poltica e do Esta-do, ainda que a nfase seja diferente (Kaelble, 1987).

    Os historiadores alemes que se identificam com a HistriaSocial autodenominada Cincia Social Histrica partem de umasrie de pressupostos, alguns implcitos outros explcitos, que con-vm resumir. Um desses pressupostos o de que tanto o historia-dor quanto o objeto histrico a que ele se dedica so racionais ouse comportam dentro de uma racionalidade objetivamenteapreensvel.

    Para o historiador, isso significa que sua ao obedece a umaracionalidade material e formal, terica, metodolgica, enfim, queseus atos, sua pesquisa, sua forma de escrever, obedecem a crit-rios e a formas que permitem a outro historiador seguir sua lgica,a percorrer o mesmo caminho, para confirmar ou refutar o resulta-do. Isso significa tambm que a pesquisa histrica permite umaaproximao da essncia do objeto pesquisado. Essa palavra estcolocada entre aspas para sinalizar que no se trata de indicar queno se discuta sobre os limites de o historiador atingir a verdadeem ltima instncia. Se no houvesse outros motivos para umhistoriador, e isso impossvel, em termos absolutos, a partir daconstatao elementar de que a documentao sobre o passado fragmentria. Mas, alm disso, o historiador no tem acesso aodestino ltimo do mundo. J que Max Weber costuma ser apresen-tado como o patrono dessa linha historiogrfica, convm lembrarque ele pensava que o devir do mundo um caudal catico querola atravs do tempo (ainda que em seu pensamento antinmicose referisse tambm a tendncias gerais em direo racionaliza-o e burocratizao do mundo, por exemplo).4

    Isso significa tambm que o objeto a que o historiador sededica possui uma racionalidade. Ela pode estar na estabilidade,

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    no seu carter no-errtico, que hoje est aqui, amanh em lugartotalmente diferente, e pode estar na mudana, sim, mas na mu-dana racional, cujo caminho apreensvel, ao menos a posteriori.Disso resultam as duas tendncias historiogrficas j assinaladas:aquela que destaca com maior nfase as permanncias e as estrutu-ras, e aquela que se preocupa mais com as mudanas e os processos.

    Outro pressuposto de uma tal forma de analisar e escrever aHistria a crena em algum tipo de teleologia. Mais uma vez, orecurso a Max Weber recomendvel para esclarecer o que issosignifica e o que no significa. Mesmo que em sua forma de pensarantinmica possam ser encontrados momentos em que ele, porassim dizer, titubeia, no h dvida quanto sua resistncia inci-siva em formular uma Filosofia da Histria, uma confiana ou atcerteza sobre o destino ltimo do mundo.5 Quando ele refere-se stendncias em direo ao processo de racionalizao, por exem-plo, sempre destaca que esse um processo tipicamente ociden-tal, e sua f na liderana carismtica sinaliza justamente a expec-tativa de que esse processo no seja inevitvel e infinito. Mesmocom meu conhecimento muito limitado sobre o marxismo, costu-mo brincar com meus colegas marxistas perguntando se a famosaobservao de Engels de que a vinda do socialismo to certaquanto o fato de que a Terra um dia despencar no Sol otimistaou pessimista? Com isso quero dizer que mesmo numa viso toteleolgica quanto a de certo marxismo, a idia de que o mundocaminha inexoravelmente em determinada direo (para o socia-lismo) refere-se a um espao temporal finito do devir deste mundo(porque, depois, vem a hecatombe). Talvez a referncia de ThomasMerton a vrios nveis ou alcances de teorias possa nos ajudar,nesse contexto.

    O importante que a Histria Social no abre mo da idiade que a realidade histrica caminha em uma determinada direo ao menos em certa etapa de seu devir. S assim ela apreensvel.s vezes, essa viso pode implicar num certo otimismo, por um

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    lado, e, por outro, numa possvel convico de que um determina-do momento do passado contm germens daquilo que acontecermais adiante, j que a Histria assim concebida s pode ser estu-dada e apreendida mediante o pressuposto de que possui algumtipo de continuidade. Isso tudo pode refletir certa forma ocidentalde pensar, e representar algum tipo de adeso ou beneplcito emrelao ao desenvolvimento ocidental, no s como processo ob-jetivamente acontecido, mas tambm como processo eticamentedesejvel. Neste ltimo sentido, lembro que o historiador socialJrgen Kocka escreveu um artigo intitulado Por favor, no a umanova via peculiar! Qualquer parcela de desocidentalizao repre-sentaria um preo exagerado para a unidade alem, algum tempodepois da queda do muro (1990), implorando para que aAlemanha reunificada no optasse mais uma vez por uma viapeculiar (um Sonderweg), como teria acontecido aps a unificaobismarckiana, e optasse, sem qualquer titubeio, pela integraocada vez mais profunda com o Ocidente (Kocka, 2001, p. 68-77).

    Um ltimo aspecto a ser referido neste arrolamento de al-guns pressupostos da Histria Social alem especificamente aque-la que se apresenta como Cincia Social Histrica o de quedentro das estruturas ou dos processos histricos h elementoscentrais e elementos perifricos. Isso significa que existem objetosmais importantes, objetos nobres, e objetos menos importantes,secundrios; que h vencedores e perdedores no processo histri-co, que a exaltao da contemporaneidade do no-contempor-neo no caracterstica dessa linha historiogrfica. Marx disse-nos que aquilo que interessa no estudo do mundo capitalista, defato, so o desenvolvimento das foras produtivas, as relaes deproduo, a luta de classes o restante so epifenmenos, de va-lor relativo. Weber no discordou dele de forma radical, mas acres-centou que o esprito religioso que domina o cotidiano das pes-soas pode ser to importante quanto os fatores apontados por Marx.Weber, porm, no pensava que o esprito religioso expresso no

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    tipo de pingente com motivos religiosos que as adolescentes cos-tumam usar no pescoo tivesse alguma importncia maior para aanlise histrica a no ser, excepcionalmente, em meio a umaguerra religiosa, quando o uso de uma Hilal, uma lua crescente,em meio a uma populao que s usa a Estrela de Davi, ou vice-versa, pode significar a alternativa entre a vida e a morte.

    Como foi destacado, essa viso da Histria Social alem e asprticas decorrentes s foram atingidas pelas crticas da assim cha-mada [Nova] Histria Cultural em um momento relativamente tar-dio, numa comparao com o restante das principais historiografiasocidentais. Entre as ponderaes e as crticas pelas quais os histo-riadores sociais alemes se sentiram atingidos esto as seguintes.

    A [Nova] Histria Cultural constitui, de fato, uma propostanova, pois a tradio historiogrfica alem caracteriza-se pela in-tensa dedicao Cultura como objeto de pesquisa e anlise. E,assim, aquilo que a nova tendncia prope no deve ser confundi-do com uma possvel Nova Histria da Cultura. Msica, teatro,artes plsticas, cinema, idias, etc. foram abordados com muitafreqncia pela historiografia alem e continuam sendo (Dlmen,1995). Mas aquilo que se costumava fazer nesse campo eram,muitas vezes, anlises sociolgicas, polticas ou econmicas dosfenmenos ou das prticas culturais, do que resultava, por exem-plo, uma Histria Social da Cultura. Aquilo que a [Nova] Hist-ria Cultural, porm, prope seria totalmente diferente, algo comouma Histria da Cultura do Social (Kittsteiner, 1997, p. 19).

    Antes de prosseguir, necessrio inserir aqui um parnteses.Os colchetes colocados em torno da palavra Nova pretendemsinalizar que os historiadores sociais alemes praticamente noutilizam a expresso Nova Histria Cultural no sentido em queela est popularizada no Brasil. Quando colocam o adjetivo nova,o grafam em letra minscula, at entre aspas, para sinalizar que setrata de uma Histria Cultural diferente daquela tradicionalmentepraticada na Alemanha, mas os limites daquilo que eles criticam

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    vai bastante alm daquilo que ns conhecemos por NHC. Algunsdos historiadores por ns classificados nessa categoria, porm, soreconhecidos e valorizados pelos alemes. Infelizmente, no hespao para apresentar detalhes a respeito.

    Nessa concepo de Histria Cultural, a centralidade de Es-tado e/ou Sociedade, como objetos fundamentais de abordagemda Histria, seria rechaada em favor de Cultura. Estado e Socie-dade seriam elementos geogrfica e cronologicamente limitados,pois, em ltima instncia, caractersticos da sociedade urbano-in-dustrial do ocidente, com todos os seus defeitos e todas as suaslimitaes. Cultura seria uma caracterstica inerente espcie hu-mana, no condicionada pelo tempo nem pelo espao. Cultura se-ria, por assim dizer, o estado natural do ser humano, em todos ostempos, sem condicionamentos estruturais ou conjunturais (Mergel,1996).

    Da derivam algumas caractersticas presentes na forma deencarar e de escrever a Histria. Se os clssicos das CinciasSociais privilegiavam um coletivo de seres humanos como objetode sua anlise (a classe em Marx, o fato social em Durkheim,por exemplo), a [Nova] Histria Cultural centra sua ateno noindivduo e no se trata de um recurso viso de Weber, quesugere que as aes sociais coletivas podem ser explicadas pelamesma lgica da ao de um indivduo, o assim chamado indivi-dualismo metodolgico. Com isso, resgata-se justamente a aoindividual frente s imposies das estruturas. No h dvida deque esse ponto constitui um dos atrativos dessa nova concepo,pois aqui acontece um resgate do voluntarismo. Se nas concep-es criticadas o indivduo era visto como exprimido e oprimidopelas estruturas e pelos processos frente aos quais, muitas vezes,no tinha como se defender, de forma eficaz, ou se em algumasconcepes o prprio quietismo poderia ser incentivado com aconvico de que o processo histrico levaria, menos dia mais dia,a um lugar sabido, a [Nova] Histria Cultural traz implcita, em

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    sua proposta, a convico de que o ser humano deve ser valoriza-do em suas aes subjetivas. Na Histria Social, os homensseriam transformados em ratos de laboratrio, expostos e esmaga-dos pelas circunstncias, pelas estruturas e pelos processos, pelaf no progresso, pela consolao de que esse o preo que se paga(pela globalizao, por exemplo), ou, ainda, que o governante nopodia agir de forma autnoma e soberana, ainda que concordassecom o carter parcial ou totalmente injusto de suas decises (oque acontece, por exemplo, quando sua tica da convico lhediz uma coisa, mas ele se v compelido a recorrer tica da res-ponsabilidade para justificar seus atos efetivos em outra direo).

    Isso traz conseqncias importantes para a escrita da Hist-ria. Se na Histria Social partia-se da racionalidade daquele queescreve e da racionalidade do prprio objeto, aqui ambas sorelegadas a segundo plano. Tanto a subjetividade do historiadorquanto a subjetividade do objeto so glorificadas com que seabre espao a certa irracionalidade. Ao contrrio daquilo que eraprognosticado por Weber o desencantamento progressivo einevitvel, ao menos do mundo ocidental , antev-se e propugna-se aqui por um reencantamento do mundo. Os conflitos decor-rentes da insero dos seres humanos em estruturas e o desenrolardesse processo, um tema central da Histria Social, passam a servistos agora muito mais como confrontos entre representaes.Representaes podem at apresentar certa estruturao, mas aprpria instabilidade do eu pode levar a mudanas bruscas eilgicas. Um exemplo citado nesse contexto e com o qual oshistoriadores sociais admitem dificuldades para lidar o de umaconverso religiosa. Como j foi referido, a Histria Social no dmaior importncia contemporaneidade do no-contemporneo,pois o no-contemporneo um resduo de um mundo que afun-dou, que no deu certo, aquilo que ainda sobrevive, mas est su-perado. Para a [Nova] Histria Cultural, essa conjecturao noexiste, pois no h objetos residuais, marginais. Assim, entre

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    muitos outros, dois objetos ganharam destaque: sociedades noocidentais e grupos marginais dentro das sociedades ocidentais,como a simbolizar que o ocidente no o nico caminho.6

    Frente a uma [Nova] Histria Cultural assim entendida, amaioria dos historiadores sociais alemes reagiu com vrios argu-mentos. Um primeiro argumento o de que se estaria diante doabandono de uma concepo de Cincia que no pode ser aban-donada. A Cincia ocidental foi construda atravs de um proces-so lento e penoso em direo a uma racionalizao cada vezmaior, e irresponsvel querer abandonar tudo isso, para abrir asportas a uma nova alquimia. Um segundo argumento o de que oscondicionamentos socioeconmicos sobre o ser humano, incluin-do sua cultura, no podem ser negados. No mnimo, para agirculturalmente o homem influenciado pelas suas condies ma-teriais, como as de alimentao, e pela sua insero social, polti-ca, educacional, etc. Terceiro, os smbolos aos quais dado grandedestaque na [Nova] Histria Cultural no se esgotam em si mes-mos, eles justamente simbolizam algo, e esse algo, em geral, bemmaterial: o poder, a riqueza, a dominao, etc., fornecendo, sim,dados objetivos sobre o respectivo grupo social, poltico, tnico,religioso, de gnero, em anlise.

    Em quarto lugar, do ponto de vista metodolgico, a aproxi-mao aos textos do passado que o historiador dessa linhahistoriogrfica deve ler no pode ocorrer sem umacontextualizao dentro da qual eles foram produzidos. Quinto, opessimismo cultural com que encarado o contexto do mundoocidental a modernidade ocidental , no qual ele se insere e doqual produto tpico a [Nova] Histria Cultural, foi, no passado, ocontexto em que floresceu o totalitarismo. Se verdade que a So-ciedade e o Estado que caracterizam a modernidade tendem auniversalizar-se, muitas vezes, de forma imperialista, para fora, aCultura aparenta ser, internamente, integradora, mas isso significa,justamente, que ela delimitadora para fora, excludente. E isso

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    costuma levar instigao ao conflito contra quem est suposta-mente do lado de fora, o que produz o fundamentalismo, a nega-o da convivncia racional dos diferentes, a incompatibilidadeentre culturas. No encontrei nenhuma afirmao entre os his-toriadores sociais alemes que o diga de forma explcita, mas pos-sivelmente eles argumentariam que o imperialismo pode ser relati-vamente tolerante, enquanto o fundamentalismo necessariamenteintolerante.

    Sexto, a [Nova] Histria Cultural d enorme destaque com-preenso do objeto a partir dele mesmo, sem a aplicao de valo-res ou pressupostos externos, supostamente universais. Vrios his-toriadores sociais alemes chamam a ateno para o fato de que,nesse sentido, se aceita compreensivelmente (em sentido lato)os atos de um sacerdote de uma sociedade que realiza sacrifcioshumanos (no Brasil, o exemplo mais corriqueiro o do antropfa-go, que, ao deglutir seu adversrio, o faria sem qualquer maldadeem mente, antes, estaria homenageando a bravura do sacrificado).Segundo esses historiadores, o procedimento mental que est por trsdesse tipo de compreenso, porm, no possui nenhum empeci-lho, nenhuma trava, para no compreender ali adiante o co-mandante de um campo de concentrao nazista, j que a [Nova]Histria Cultural no admitiria parmetros externos, universais paraavaliar qualquer manifestao cultural. Paralelo tolernciatrazida pela modernidade, ela tambm nos trouxe a convico deque existem coisas que no existem, ou melhor: que no podemnem devem existir!

    Talvez caiba aqui mais um parnteses, para lembrar um as-pecto apresentado por um dos mais ferrenhos crticos alemesdaquilo que ele considera como [Nova] Histria Cultural, Hans-Ulrich Wehler. Trata-se do apolitismo. Wehler lembra que os his-toriadores alemes dessa orientao, crticos da Cincia SocialHistrica, no se manifestaram em nenhuma das grandes dispu-tas pblicas que caracterizam a historiografia alem, no mnimo,

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    desde o Lamprechtstreit, l no final do sculo XIX. Segundo ele, nasvrias discusses dos ltimos anos, em que, s vezes, estava emjogo o prprio destino da sociedade alem, nenhum membro danova escola historiogrfica teve qualquer participao. Cita, entreoutros casos, a discusso em torno da interpretao algo com-preensiva do historiador Ernst Nolte em relao ao nazismo. Tal-vez os prprios novos historiadores no participassem porque,no fundo, tendem a compreender os nazistas (Wehler, 2001).

    Fechando o parnteses, cabe destacar, em stimo lugar, acrtica dos historiadores sociais de que no possvel negar asconquistas da modernidade. O processo de libertao do homem parcial e limitado, sim no puro discurso, mas sim realidade,e constitui uma irresponsabilidade querer negar as conquistas nes-se sentido.

    Na mesma linha em oitavo lugar , so problemticas asinvestidas contra qualquer teleologia. Se a teleologia damodernidade ocidental prometia um mundo que no foi atingido,e mesmo que Goya tenha pretendido dizer que o sonho (e no osono) da razo produz monstros, no menos verdade que certaojeriza modernidade propalada pelos historiadores da [Nova]Histria Cultural traz implcita a utopia de uma outra boa socie-dade, indefinida, e por isso mais utpica, e perigosa, que asutopias modernas.7

    Desafiados pela [Nova] Histria Cultural, os historiadoressociais alemes cederam, porm, em alguma medida, mesmo querechaassem de forma categrica a suposta incompatibilidade en-tre Estado/Sociedade, de um lado, e Cultura, de outro. Apesar datradicional tematizao relativamente intensa de assuntos cultu-rais, como arte, literatura, cincia, admite-se que a Cincia SocialHistrica talvez tenha dado, no incio, pouca importncia vari-vel cultural em suas anlises, esquecendo, nesse sentido, inclusivea tradio de alguns dos seus patronos Weber frente de todos , e,por isso, passaram, mais recentemente, a propor uma Histria

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    Social Ampliada (Daniel, 1993; Sieder, 1994; Kaschuba, 1995;Oexle, 1996). Numa reviso dos clssicos das Cincias Sociais doincio do sculo XX, redescobriu-se que, para muitos deles, Cultu-ra tinha sido um elemento-chave de anlise (Oexle, 1996, p. 15).Trata-se, basicamente, de Max Weber e de seus contemporneos(Mommsen e Schwenktner, 1988).

    Na verdade, l na dcada de 1970, a ento auto-avaliadanova Histria Social tinha recorrido a Weber, mas, sobretudo, aoWeber preocupado com o Estado, a Sociedade, a Economia, oWeber do processo de racionalizao. Agora, redescobre-se o Weberque ao falar daquilo que conhecemos como Cincias Sociais cos-tumava utilizar a expresso Cincias da Cultura (Mergel, 1996,p. 50). Otto Gerhard Oexle diz que, para Weber, Cultura no aquele resto que sobra aps uma anlise de dominao e eco-nomia. Cultura antes o todo, a totalidade, isto , o conjuntodaquilo que tem origem no homem em todos os setores de suavida, aquilo que sempre de novo transformado e reinterpretado,entendido e mal-entendido, apropriado e recusado. O reconhe-cimento de Weber de que o sentido subjetivamente atribudo um fator constitutivo para o surgimento de realidades sociais,corresponde, simultaneamente, ao reconhecimento fundamentalde mile Durkheim de que a realidade pensada no menosverdadeira que a real (Oexle, 1996, p. 25). Friedrich Jaeger,por sua vez, escreveu, em 1992, que as concepes de Weber po-dem ajudar para que a Histria Social e a [Nova] Histria Cultu-ral no precisassem mais ser entendidas como antpodas dentro daprtica da pesquisa historiogrfica, mas, em vez disso, pudessemser abrigadas sob o teto de uma nica concepo terica da pes-quisa histrica (Jaeger, 1992, p. 393). Antes disso, Hans-UlrichWehler, um dos fundadores da Cincia Social Histrica, afirma-ra que s uma viso integrada sobre estrutura social, mais a confi-gurao poltica e mais uma determinada configurao cultural (atica protestante) conseguem explicar de forma satisfatria a

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    emergncia do capitalismo moderno (Wehler, 1986, p. 40). E JrgenKocka, criticando de forma veemente um certo culturalismo a-reo, props, no incio da dcada de 1990, como alternativa, umaHistria Social Poltica, que dar maior importncia dimen-so cultural, ao saber cultural e social, s formas de vida e s inter-pretaes dos homens como momentos que condicionam e influen-ciam a poltica e, de maneira geral, abrir maior espao para a his-tria das vivncias e expectativas (Kocka, 1994, p. 35).

    A idia de uma Histria Social Ampliada ou de uma His-tria Social Poltica, porm, no cede quilo que so considera-das reivindicaes bsicas da [Nova] Histria Cultural. A adesoao paradigma desta linha historiogrfica inegocivel para os his-toriadores sociais. Talvez por ter sido apresentado originalmentecomo uma palestra e no ser um sbrio texto de gabinete, o livrode Wehler intitulado Pensamento histrico no final do sculo XX, publi-cado num passado no muito distante (2001), constitui umacatilinria raivosa contra a [Nova] Histria Cultural e mostra oposicionamento inflexvel de um dos mais destacados historiado-res sociais alemes. Otto Gerhard Oexle j havia definido as bali-zas intransponveis num artigo de 1996: a Histria Social Amplia-da pretende ficar onde sempre esteve e no aceita o desafio deter de decidir entre os extremos que pensam que as nicas alterna-tivas so a tentativa de desvendar aquilo que realmente aconte-ceu e aqueles que afirmam que a Histria no nada mais queum texto (Oexle, 1996, p. 36).

    O volume de bibliografia arrolada no final deste artigo suge-re que a discusso deve ser mais ampla do que meu pequeno resu-mo possa fazer crer. Imagino tambm que muitos leitores diroque essas questes foram debatidas e resolvidas pela historiografiade outros pases na dcada de 1980, enquanto na Alemanha elass aparecem com maior intensidade nos anos 1990. Mas, seHans-Ulrich Wehler e sua citada palestra podem ser considerados

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    representativos, o calor dos debates, na Alemanha, continua in-tenso no incio do sculo XXI (Wehler, 2001, p. 61 e ss).

    Meu objetivo no era entrar em detalhes dessa discusso assim, por exemplo, foram propositalmente omitidas refernciasao debate em torno da civic/political culture, desencadeado nos anos1970 a partir da obra de Gabriel Almond e Sidney Verba (Lipp,1997, p. 82 e ss; Mergel, 2003, p. 24 e ss), alm de vrios outrosaspectos. Tentei resumir aqueles pontos que despertaram minhaateno na leitura dos debates entre os historiadores sociais ale-mes.

    Dito isso, quero referir algumas poucas situaes nas quaisas observaes dos historiadores sociais alemes podem ter tidoalguma utilidade em meus prprios trabalhos dedicados a temasde histria poltica e podem ter ajudado a descortinar perspectivasum pouco diferentes das usuais.

    Uma das minhas linhas de pesquisa volta-se para a histriapoltica das regies de colonizao alem no Rio Grande do Sul.H um grande nmero de trabalhos de boa qualidade escritos den-tro de parmetros tradicionais de histria social e histria econ-mica sobre essas regies, mas a histria poltica permanece, athoje, mais ou menos relegada quilo que o senso comum divulgoua respeito. Infelizmente, muitas vezes, historiadores profissionaistm se apropriado, de forma totalmente acrtica, do discurso e dasopinies do senso comum. Alm disso, quando um historiador pro-fissional dedica-se ao tema, centra sua ateno basicamente noperodo dos anos 1930/1940, sobre germanismo, nazismo eintegralismo, do que, em geral, resulta um quadro mais ou menossombrio, com destaque para a presena de preconceitos, doautoritarismo ou at do totalitarismo viso que acaba se es-praiando, como se fosse um destino inevitvel, para outros pero-dos histricos. H muitos anos, comecei estudando esse mesmotema de forma totalmente tradicional, com anlises clssicas deresultados eleitorais, partidos polticos, discursos, estrutura social,

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    contexto econmico, etc. Descobri que a historiografia existentesimplificava a situao e que tudo era um pouco mais complexo ediferente. Incentivado por alguns resultados distintos daqueles dosenso comum sobre esse perodo, acabei estudando outros mo-mentos, recorrendo a algumas inspiraes sugeridas pela Hist-ria Social Ampliada ou pela Histria Social Poltica. Por isso,para finalizar, apresento alguns exemplos que pretendem ilustraras possibilidades abertas pelas consideraes sobre a historiografiaalem.

    Cerca de 50 quilmetros ao norte de Porto Alegre, Capitaldo Rio Grande do Sul, no incio da serra, encontra-se o pequenomunicpio de Ivoti. Ali tudo muito simples, as pessoas podemdar sinais de estranheza frente a uma visita desconhecida, traosculturais da origem alem de uma parte da populao como alngua ainda esto presentes, e quando se fala portugus, elepode caracterizar-se por certo sotaque. Para o senso comum, hcem anos atrs, evidentemente, deve ter sido muito pior. Osanais de Ivoti, porm, registram um episdio poltico interessante.Estava em andamento a campanha eleitoral de 1907 ao governodo estado. O candidato governista era Carlos Barbosa e o candi-dato oposicionista, Fernando Abbott.8 Ao chegar a Ivoti (que, napoca, se chamava Bom Jardim), na tentativa de conquistar votos,Abbott recebeu a visita de um emissrio do chefe local do partidogovernista, Jacob Knierim, convidando-o para o almoo daqueledia. No dia seguinte, os jornais de So Leopoldo e de Porto Alegremanchetaram que Knierim havia aderido oposio. Em respos-ta, a 12 de novembro de 1907, Knierim publicou um a pedidono jornal A Federao, do Partido Republicano Rio-grandense, noqual comunicava que no aderira oposio coisa alguma! Disseque no estranhava a reao dos jornais, pois sabia ser prticacorriqueira no Rio Grande do Sul que polticos de oposio sejamrecebidos bala quando chegam a alguma localidade. Lembrou,porm, que isso lamentvel e que, apesar da sua aparente

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    singeleza, Ivoti era uma localidade politicamente avanada, ondeos polticos sentam mesa para comer com os oposicionistas, afim de saber das crticas que so feitas sua administrao, paratentar consertar os eventuais erros apontados.

    Claro, algum poderia dizer que isso foi pura demagogia, ain-da que, eventualmente, falada em alemo! Mas talvez no tenhasido s demagogia! Cem anos depois, em 2004, corria a campanhaeleitoral para a Prefeitura de Ivoti. Desta vez, o fato merecedor deregistro no foi a visita de um oposicionista, mas o lanamento sde mulheres ao cargo de prefeita trs ao todo. Isso pareceu sus-peito imprensa supostamente iluminista da Capital, e o jornalZero Hora mandou um reprter averiguar o que estava acontecen-do. Talvez suspeitasse de alguma interferncia da situao polticana Alemanha, onde Angela Merkel j despontava como desafiantedo chanceler Gerhard Schrder. Quem sabe, alguma conexo bra-sileira da luta pelo poder naquele pas envolvendo uma mulher?

    O resultado da visita do reprter a Ivoti foi relatado na edi-o de 19 de julho de 2004. Interessante a leitura das falas daspessoas entrevistadas, entre as quais se destacou um cidado ne-gro. Ao contrrio daquilo que o reprter possivelmente esperava,ningum tematizou o ineditismo das candidaturas exclusivamentefemininas. Os entrevistados fizeram anlises a partir de variveisuniversais para explicar o quadro sucessrio local constelaopartidria estadual e local, acordos feitos na eleio anterior, trai-es pessoais e partidrias durante a gesto em fim de mandato, eoutras consideraes do gnero. Ningum se lembrou de fazer re-ferncia a um possvel resultado de uma luta feminista. O contras-te com a Capital gritante. Aqui, conjecturaes e intensas lutasfeministas conseguiram elevar ao menos uma mulher condiode candidata ao cargo de vice-prefeita. Em Ivoti, ningum pensouem levantar bandeiras feministas e, mesmo assim, trs mulheressaram candidatas ao cargo principal.

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    A situao s pode ser explicada a partir da tradio, da cul-tura de Ivoti, internalizada ao longo dos ltimos 180 anos de his-tria do lugar. Comunidade originria de camponeses pequenosproprietrios, vivendo numa situao de assimetrias sociais relati-vamente pequenas no decorrer de sua histria, com homens, mu-lheres e filhos envolvidos de igual para igual no sustento das fam-lias, ali no se conheceu nem a maldade de massacrar pessoas quepensavam diferente (a oposio poltica) e as mulheres sempretiveram papel importante nas decises em todos os mbitos davida. Por que passaria pela cabea de algum a idia de estranharque trs delas se candidatassem ao cargo de prefeitas da mesmaforma que ningum estranhar se na prxima eleio forem nova-mente trs homens?

    No muito distante de Ivoti, mas mais encravado na serra e,portanto, aparentando ser ainda mais fechado, encontra-se SantaMaria do Herval. Em 20 de outubro de 2002, o jornal Zero Horapublicou uma reportagem sobre esse lugar motivada pelo resulta-do das eleies estaduais daquele ms. Segundo o reprter, nohavia nas zonas rural e urbana do municpio qualquer sinal decampanha eleitoral: no havia faixas, postes lambuzados, picha-es nada. Mas a conversa com os cidados revelou seu profun-do envolvimento no processo eleitoral: tinham opinies muito cla-ras sobre seu voto, sobre as razes de votar nos candidatos A ouB, sobre a imperiosa necessidade de comparecer s urnas. E essediscurso fora confirmado pelos dados estatsticos Santa Mariado Herval havia sido o municpio com a menor absteno eleitoralem todo o estado. Em 2003, a ONU atestou ao mesmo municpioa condio de primeiro lugar, em todo o Brasil, no item distribuiode renda. Esse novo dado conferia ao pequeno e aparentementeacanhado, isolado municpio a condio objetiva de um dos maismodernos do pas.

    Isso mostra mais uma vez que uma histria poltica escritacom critrios tradicionais de mobilizao, de avaliao dos

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    discursos pelo seu contedo explcito, de classificao por ten-dncias ideolgicas, pode no conduzir quilo que essencial nocontedo da poltica de um lugar ou de uma regio nem quilo que essencial na forma de faz-la. Somente uma anlise das condu-tas de vida dos cidados, das suas vivncias, combinadas com asituao socioeconmica do conjunto da populao fornece umaexplicao mais consistente.

    Nas ltimas eleies estaduais (2002) a distncia entre ospercentuais dos votos recebidos por Tarso Genro (PT) e porGermano Rigotto (PMDB), no segundo turno, ficou em apenas0,4 pontos no conjunto dos 20 municpios que compem a Gran-de Santa Rosa, no extremo oeste do estado. Isso significa um em-pate perfeito, denota uma distribuio absolutamente eqitativado eleitorado pelo espectro poltico e sugere uma concentrao doeleitorado em torno do centro poltico. Uma explicao consis-tente desse fenmeno dever recorrer a muitos fatores, mas entreeles, com certeza, no poder ser omitida a configurao religiosada regio. Desde o incio do sculo XX, quando comeou a colo-nizao, uma das caractersticas marcantes foi o enorme pluralismoreligioso. Como a religio em tese a instncia mais importan-te da vida das pessoas, pois ela no s define a vida aqui e agora,mas a prpria eternidade, a necessidade das pessoas de convivercotidianamente com o pluralismo religioso e a conseqente tole-rncia, j que se obrigado a conviver de forma minimamenteharmnica com o vizinho que pertence a uma outra confisso re-ligiosa, configura a mentalidade das pessoas de tal forma que, paraelas, a tolerncia poltica tambm se torna algo natural,inquestionvel.

    s vezes, isso se torna difcil de ser entendido pelo sensocomum. Nesse sentido, assisti, no incio de 2006, a um programade fofocas numa televiso do Rio de Janeiro que ilustra a situao.Estava sendo entrevistada uma modelo natural de Santa Rosa arespeito de supostas declaraes escandalosas que havia feito a

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    uma revista. Entre essas declaraes, estava a de que adora prati-car seu esporte preferido em meio s plantaes de soja que soabundantes no entorno da cidade. Os entrevistadores manifesta-ram temor por aquilo que poderia acontecer jovem quandoretornasse a Santa Rosa. Como se trata de uma cidade pequena einteriorana por isso, evidentemente conservadora para osentrevistadores , manifestaram o temor de que o padre poderiadesencadear uma campanha que inviabilizaria sua vida na locali-dade. A moa riu e disse que no tinha qualquer receio do padre.Os entrevistadores no sabiam e a moa no tem qualquer cons-cincia de que, desde a fundao de Santa Rosa, o padre catlico obrigado a concorrer, de igual para igual, pelo poder poltico-religioso local com, no mnimo, uma dzia de clrigos de outrasconfisses religiosas. E, por isso, o medo que as pessoas tm dopadre infinitamente menor do que numa localidade em que vigo-ra o monolitismo religioso.

    importante destacar aqui que boa parte das confisses re-ligiosas e dos pastores de Santa Rosa no exatamente liberal oupermissiva at, pelo contrrio. Mas a configurao religiosa lo-cal fez com que a situao seja revelia das vontades subjetivas bastante tolerante. Conhecemos essa situao. Quando diziam aWeber que Calvino era um idelogo da burguesia, ele protestavade forma veemente e insistia que era apenas um telogo, que ha-via mirado no cu, mas, como resultado no previsto nem intenta-do de sua ao, acabou acertando no capitalismo aqui na terramesmo.

    Nas referncias ao comportamento poltico-eleitoral das po-pulaes de origem alem do Rio Grande do Sul costuma ser des-tacada a tendncia conservadora, supostamente evidenciada, aomenos no perodo ps-1945, por uma certa debilidade do PTB euma certa fora do PRP. Uma anlise estatstica mostra que essano uma tendncia linear e absoluta, mas, mesmo que fosse,essa no toda a verdade. Nas eleies estaduais de 2002, o

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    municpio de Arroio do Padre, tpico de colonizao alem,desmembrado de Pelotas, apresentou o maior percentual de votosa favor de Germano Rigotto.9 Ainda que seja evidente que nemtodos os votos dados a Rigotto foram produto de mentes conser-vadoras, no h dvida de que os eleitores de Tarso Genro consi-deram-se mais esquerda, mais democrticos, mais prximos dasaspiraes populares. Mas exatamente nesse sentido, Zero Hora de24 de abril de 2006 publicou uma reportagem de duas pginassobre uma pesquisa feita pela Confederao Nacional dos Munic-pios classificando todos os municpios brasileiros de acordo comsua capacidade de equilibrar uma equao delicada: manter ascontas em dia e oferecer educao, sade e melhorias estruturaisaos moradores. Para nossos propsitos, importa a informao deque o supostamente conservador Arroio do Padre classificou-seem 14o lugar, para todo o Brasil, dado que evidentemente torna ne-cessrio repensar e nuanar o suposto carter politicamente con-servador da situao no municpio, pois muitos municpios comgovernos pertencentes a outros quadrantes polticos ficaram mui-to distantes dessa posio.

    Nesse mesmo sentido, cabe resgatar o passado mais distan-te. Na dcada de 1980, prvias eleitorais e oramento participativoforam apresentados como elementos-chave de uma poltica de-mocrtica e participativa. Nos principais municpios de coloniza-o alem, essas prticas mesmo que, evidentemente, no aten-dessem por esses nomes eram corriqueiras na dcada de 1920,como mostrei em meu livro O aviador e o carroceiro. Claro, a grandediferena est no fato de que nos anos 1980 elas decorrem de umaelaborao terica sobre as vantagens da participao popular, danecessidade de mudar ou aperfeioar a democracia representati-va. Na dcada de 1920 da mesma forma que em 2004 ningumrecorreu a argumentos feministas para lanar as mulheres comocandidatas em Ivoti , ningum teorizou sobre a prtica das pr-vias ou do oramento, essas coisas simplesmente aconteciam,

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    porque faziam parte das vivncias e das convivncias da popula-o, enfim, da sua cultura, no s, e talvez nem tanto, das vivnciascom instituies polticas, mas sim das vivncias em suas institui-es religiosas, educacionais, recreativas.10

    Jrgen Kocka escreveu que a motivao dos historiadoresque desencadearam, na dcada de 1970, o movimento da Cin-cia Social Histrica veio da convico de que a Histria no seesgota naquilo que as pessoas intentam, e que o que interessa compreender os processos e as estruturas que no estavam pre-sentes nas motivaes, nas concepes e nas vivncias dos con-temporneos, mas que foram importantes como condicionantes econseqncias de vivncias e aes (Kocka, 2001, p. 161).Recebido em 29/06/2006.Autor convidado.How is it possible to write Political History today?Abstract: This article emphasizes some aspects of the confrontation between theGerman Historical Social Science, and the New Cultural History. In a secondmoment, there are presented some examples of political history in which it seamsto be useful to apply principles of the Historical Social Science.Keywords: Historical Social Science - New Cultural History - Political History.

    Notas

    1 Algumas avaliaes e reavaliaes dessa tendncia historiogrfica podem ser vistasem Welskopp (1998); Kocka (2000); Kocka (2001).2 Hans-Ulrich Wehler escreveu que na Alemanha essa controvrsia [entre a CinciaSocial Histrica e a (Nova) Histria Cultural], no fundo, s se desenrola de umadzia de anos para c, j que na comparao com os avanos na Frana, nosEstados Unidos e na Inglaterra, mais antigos havia e continua havendo uma certaimunizao contra grandes demandas de mudana. Essa imunizao tem a vercom a tradio hermenutica e a orientao em teorias presentes na Cincia Histricaalem (Wehler, 2001, p. 64).

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    3 Cabe lembrar que justamente nos anos 1970 quando na Alemanha constitua-seo grupo da Cincia Social Histrica desencadeou-se no Brasil um intenso deba-te sobre a relao entre Sociedade e Estado em nosso pas. Cf. Reis (1974); Cerqueirae Boschi (1977).4 Sobre a valorizao de Max Weber para a Histria, cf. Kocka (1986).5 Sobre as concepes de Histria Universal em Weber, cf. o captuloUniversalgeschichtliches und politisches Denken (Pensamento histrico-univer-sal e poltico), em Mommsen (1974, p. 97-143).6 Iggers, 1993; Sieder, 1994; Dlmen, 1995; Kaschuba, 1995; Mergel, 1996;Kittsteiner, 1997.7 Iggers, 1993; Sieder, 1994; Dlmen, 1995; Kaschuba, 1995; Mergel, 1996;Kittsteiner, 1997.8 Para evitar erros cometidos por alguns autores, cabe destacar que Abbott no eradescendente de alemes. Seus antepassados eram ingleses que tinham vindo daBahia para o Rio Grande do Sul.9 Em contrapartida, em Cerro Largo, um municpio to tpico de colonizao alemquanto Arroio do Padre, o espectro poltico localizado mais esquerda vem regis-trando os mais altos ndices de votao do estado h muitos anos.10 Outro dado interessante: enquanto nas eleies municipais de 1928, na Capital,4% da populao participaram do processo, em alguns municpios de colonizaoalem esse ndice chegou prximo aos 40%.

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