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1 *F967A37322* F967A37322 COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO DESTINADA A INVESTIGAR O TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL, SUAS CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E RESPONSÁVEIS NO PERÍODO DE 2003 A 2011, COMPREENDIDO NA VIGÊNCIA DA CONVENÇÃO DE PALERMO. (CPI – TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL) RELATÓRIO PARCIAL Presidente Deputado Arnaldo Jordy Relatora Deputada Flávia Morais Brasília, 2013

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Page 1: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO DESTINADA A … · Crimes Hediondos”); a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997 (que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes

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COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO DESTINADA A

INVESTIGAR O TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL, SUAS

CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E RESPONSÁVEIS NO PERÍODO

DE 2003 A 2011, COMPREENDIDO NA VIGÊNCIA DA

CONVENÇÃO DE PALERMO. (CPI – TRÁFICO DE PESSOAS NO

BRASIL)

RELATÓRIO PARCIAL

Presidente Deputado Arnaldo Jordy

Relatora Deputada Flávia Morais

Brasília, 2013

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INTRODUÇÃO

Nos termos do art. 58, § 3º, da Constituição Federal – CF c/c os arts. 35,

36 e 37, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados – RICD, foi requerida a

instituição de Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, para investigar, pelo

prazo de 120 dias – prazo já prorrogado –, o TRÁFICO DE PESSOAS NO

BRASIL, suas causas, consequências e responsáveis, no período de 2003 a

2011, compreendido na vigência da Convenção de Palermo, na forma do

Requerimento nº 03, de 2011, encabeçado pelo dd. Deputado Arnaldo Jordy, que

ora preside seus trabalhos, com recursos financeiros, administrativos e humanos

necessários ao seu funcionamento providos pela Câmara dos Deputados.

Havidas várias denúncias em jornais do país inteiro sobre a ocorrência de

tráfico de pessoas no Brasil e, considerando a gravidade delas, a Câmara dos

Deputados, sensível a este problema que afeta toda a sociedade brasileira,

decidiu pela criação e instauração dessa Comissão que ora apresenta Relatório

Parcial a fim de dar a sua primeira resposta à questão.

Trata-se de medida legislativa, proposta a partir do marco regulatório da

matéria em vigor no país, em especial a Convenção de Palermo. Conforme já

esclarecido previamente no Requerimento de criação da presente CPI, a

Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional,

conhecida como Convenção de Palermo, é o principal instrumento global de

combate ao crime internacional da espécie.

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A Convenção é complementada pelos protocolos que abordam áreas

específicas: Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas; Combate

ao Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea; e Contra a

Fabricação e o Tráfico Ilícito de Armas de Fogo.

Os Estados Membros, ao ratificaram este instrumento, como cediço,

comprometem-se a adotar uma série de medidas contra o crime organizado

transnacional, incluindo a tipificação criminal na legislação nacional de atos como

a participação em grupos criminosos organizados, lavagem de dinheiro, corrupção

e obstrução da justiça, além do compromisso pela adoção de medidas para

facilitar processos de extradição, assistência legal mútua e cooperação policial.

Conforme dados da Organização das Nações Unidas – ONU, o número de

pessoas traficadas no planeta atinge a casa dos quatro milhões anuais,

justificando os protocolos firmados quanto à matéria. Apontado como uma das

atividades criminosas mais lucrativas do mundo, o tráfico de pessoas faz cerca de

2,5 milhões de vítimas, movimentando, aproximadamente, 32 bilhões de dólares

por ano, segundo dados da ONU sobre Drogas e Crimes – UNODC. Nesse

contexto, o Brasil, infelizmente, é um dos países campeões no mundo em relação

ao fornecimento de seres humanos para o tráfico internacional.

Atualmente, como pudemos constatar no âmbito do funcionamento dessa

Comissão, esse crime está relacionado a outras práticas criminosas e de

violações aos direitos humanos, servindo, não apenas à exploração de mão-de-

obra escrava, mas também a redes internacionais de exploração sexual

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comercial, muitas vezes ligadas a roteiros de turismo sexual e a quadrilhas

transnacionais especializadas em remoção de órgãos.

Por tudo isso, e tendo o Brasil ratificado a Convenção de Palermo, impõe-

se, a cada membro dessa Comissão, dentre outras providências, o dever do

oferecimento de uma proposta legislativa para a disciplina interna da matéria a fim

de proporcionar uma ação estatal mais efetiva no combate dessa espécie de

delito no Brasil. Podemos fazê-lo já, na medida do amadurecimento acerca do

assunto obtido pela Comissão que dispõe de elementos suficientes para tanto,

não obstante termos ainda de esperar o desfecho dos trabalhos em outras

frentes, em especial quanto às investigações de casos ainda em andamento.

É dizer, o que se propõe por meio do presente Relatório Parcial, é que, a

despeito de a Comissão não ter ainda concluído seus trabalhos, possamos

aprovar, neste momento, um anteprojeto de lei que, contemplando todas as ricas

contribuições a nós ofertadas, pelos atores diretos dos processos que envolvem a

prática dos delitos ora em estudo, seja como vítimas ou acusados da prática do

crime, seja como autoridades componentes do Sistema de Justiça Criminal

brasileiro.

Trata-se de proposição legislativa que, de acordo com essas preciosas

contribuições, altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código

Penal Brasileiro); a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do

Adolescente – o ECA); a Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978 (que dispõe sobre a

regulamentação das profissões de Artistas e de técnico em Espetáculos de

Diversões); a Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998 (que institui normas gerais

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sobre desporto – a “Lei Pelé”); a Lei 8.072, de 25 de julho de 1990 (“Lei dos

Crimes Hediondos”); a Lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997 (que dispõe sobre

a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante

e tratamento); e o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de

Processo Penal); além de disposições especiais atinentes a contratos de modelo

ou manequim.

Constitui-se, pois, de medida legislativa de grande envergadura com

enorme potencial para repercutir positivamente no sentido da eficácia que se

pretende obter no controle dessa hedionda espécie delitiva, razão pela qual, em

nome dessa Comissão Parlamentar de Inquérito e de cada um de seus membros,

agradeço, desde já, a contribuição de todos aqueles que participaram na

elaboração do anteprojeto de lei que ora se anuncia, em especial, à Dra. ANÁLIA

BELISA RIBEIRO, grande referência do combate a esse crime e conexos, pelo

importante trabalho realizado, dentre outros, frente a Coordenação do Núcleo de

Enfrentamento do Tráfico de Pessoas da Secretaria de Justiça e da Defesa do

Estado de São Paulo.

Já havendo elementos para a apresentação do anteprojeto, e tendo em

vista a urgência da sociedade em vê-lo transformado em norma jurídica, e, ainda,

considerando a possibilidade de seu aperfeiçoamento a partir das sugestões

advindas principalmente da sociedade civil organizada que terá a oportunidade de

fazê-lo incentivados pela própria CPI, não podemos deixar de conclamar os

membros dessa Comissão para aprovar a proposta constante desse Relatório

Parcial.

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Feitos esses esclarecimentos preliminares, passo, então, a descrever a

proposta legislativa propriamente dita, anotando antes, quais foram os passos

seguidos em sua formulação, para uma melhor compreensão do que iremos,

espero, aprovar hoje.

DA PROPOSTA LEGISLATIVA

Como substrato para a elaboração legislativa ora proposta, fixamo-nos nas

discussões havidas no âmbito do funcionamento dessa Comissão, a partir da

constatação da materialidade de vários fatos investigados, dentre os quais, dentre

outros, casos como o de adoções internacionais supostamente irregulares,

intermediadas pela ONG LIMIAR; as adoções supostamente irregulares de filhos

biológicos de cidadãos residentes na cidade de Monte Santo/BA, colocadas em

lares substitutos de famílias paulistas, sob a suposta intermediação de CARMEM

KIECKHOFER TOPSCHALL.

Também nos indícios de cometimento dos crimes de redução à condição

análoga à de escravo e de aliciamento de trabalhadores de um local para outro do

território nacional, na conduta em apuração do policial militar mineiro “Amâncio”

ou “Almansa”; a concessão indevida de guarda provisória à família substituta da

menor Fernanda Almeida Ramos (ou Jeane Ramos Nascimento – com dois

nomes por duplo registro), à época com dois meses de vida; o das três modelos

brasileiras que saíram do Brasil para seguir carreira de modelo internacional na

Índia, mas que acabaram sendo submetidas a assédio moral e a assédio sexual,

além de cárcere privado e servidão por dívida.

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Na verdade, são diversos os casos sob investigação por essa CPI, todos

distintos entre si, mas com características condizentes com o objeto investigado,

e, por isso, de uma forma ou de outra, contribuindo materialmente para a

delineamento normativo proposto ao final dessa exposição. Atemo-nos aos casos

citados apenas por economia, mas afirmando-os como demonstração da

materialidade já possível de ser constatada por essa Comissão Parlamentar de

Inquérito, no sentido da concretude dos fatos que queremos combater e inibir, e,

ao mesmo tempo, informando com que complexidade e multiplicidade de formas

esse crime pode se realizar na prática.

Como metodologia, observamos, em especial, as diretrizes apontadas nos

Workshops sobre legislação de tráfico de pessoas realizados durante o ano de

2012, promovidos pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e

Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, com a

participação de instituições do poder público federal e estadual, do Poder

Judiciário e do Poder Legislativo Federal, como consensos de vários especialistas

nacionais e internacionais no assunto, que passo a seguir a enumerar,

sistematicamente.

Foram arrolados como principais consensos dos Workshops e

considerados quando da elaboração da proposta legislativa, as seguintes

conclusões:

1. Bem jurídico a ser protegido : a dignidade da pessoa humana.

2. A questão da transversalidade : as dinâmicas de enfrentamento ao

tráfico de pessoas estão estabelecidas numa lógica transversal de

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implementação da política pública. Por isso, “qualquer proposta de

alteração legislativa deve levar em consideração e respeitar as políticas

setoriais já existentes e potencializá-las ou especificá-las na medida em

que se conectem ao crime do tráfico de pessoas. Por exemplo, as

políticas de combate ao trabalho escravo e à exploração sexual de

crianças e adolescentes devem ser potencializadas, respeitadas e

consideradas, desenhando estratégias específicas para o

enfrentamento ao tráfico de pessoas quando os elementos que o

caracterizam estejam presentes;”

3. Tipologia única de crime “Tráfico de Pessoas” : “superando a

distinção atualmente estabelecida nos arts. 231 e 231-A do Código

Penal Brasileiro, para o contexto interno e o contexto transnacional.

Trata-se de um único crime, que tem elementos de vulnerabilidade

pessoal mais agravantes no contexto transnacional, em razão das

dificuldades de idiomas, dinâmicas migratórias, distâncias e

possibilidades de retorno. Proposta: prever uma causa de aumento de

pena para o contexto transnacional de ocorrência do crime”;

4. Ampliação do escopo do tipo (para além da exploração sexual): o tipo

a ser proposto deve “abarcar outros tipos de exploração, tais como

trabalho em condições análogas à de escravo, servidão por dívida,

casamento servil, adoção ilegal, remoção de órgãos, tecidos ou partes

do corpo, e exploração para o cometimento de crimes”;

5. Evitar a criminalização da prostituição livre (com a adequação do

texto do tipo penal): Proposta: “Retirar a expressão: ‘venha exercer a

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prostituição de outrem’ para adequar o tipo penal e evitar tendências já

identificadas de criminalização da prostituição”;

6. Reforçar a questão da irrelevância do consentimento : “Ressaltando

a definição da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de

Pessoas de que o consentimento dado pela vítima é irrelevante para a

configuração do tráfico de pessoas (§7º, do art. 2º do Decreto nº 5.948,

de2006)”;

7. Ampliação da pena e criação da pena de multa : “Aumentar a pena

para atender recomendações internacionais e demandas internas de

isonomia entre as penas dos crimes de tráfico de drogas, de armas e de

pessoas; acrescentar para que sejam cumulativas novas modalidades

de penas, como multa, a prestação pecuniária, a perda de bens;

8. Responsabilização da pessoa jurídica : “Prever mecanismos de

responsabilização da pessoa jurídica e da “cadeia de valor” –

terceirizados e subcontratados etc”;

9. Apreensão e Confisco : “Prever mecanismos para que as autoridades

competentes tenham o direito de apreender e confiscar produtos do

crime”;

10. Reversão e perdimento de bens : Os bens e produtos apreendidos e

confiscados poderão ser revertidos ou ser declarado o seu perdimento

para utilização pelas autoridades policiais e judiciais para auxiliar nas

ações de repressão ao crime;

11. Garantias legais de Direitos para Vítimas : “Prever direitos das vítimas

estrangeiras identificadas no Brasil para permanecer no país,

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independentemente de colaborar com a persecução penal e da situação

migratória; prever direitos para as vítimas nacionais ou estrangeiras de

assistência e apoio (biopsicossocial e jurídico), independentemente da

condição migratória (documentado ou não); criar mecanismos para

evitar a revitimização, assegurando que as vítimas de tráfico de

pessoas recebam tratamento específico destinado a evitar a vitimização

secundária, de acordo com as condições definidas na legislação

nacional, bem com as regras da discrição investigativa e judicial, prática

ou orientação, tais como evitar repetição desnecessária de entrevistas

durante a investigação, acusação ou julgamento; evitar o contato visual

entre a vítima e arguidos, inclusive durante depoimentos, entrevistas e

interrogatórios, usando outros meios adequados, como, por exemplo, o

uso de tecnologias de comunicação; evitar o depoimento em audiência

pública, e questionamentos desnecessários sobre a vida privada da

vítima; ampliar as garantias e direitos de permanência e apoio para

familiares de vítimas estrangeiras;

12. Fortalecimento da Cooperação Jurídica Internacional em matéria

penal e civil : “de forma a assegurar mecanismos de cumprimentos de

decisões judiciais na extraterritorialidade; garantir cooperação para

investigações, oitivas de testemunhas etc; assegurar direitos de vítimas

entre outros.” Nesse contexto de ocorrência de crimes transnacionais,

“a aprovação de uma Lei sobre Cooperação Jurídica Internacional

torna-se fundamental”.

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Vários outros consensos foram afirmados, mas que estão fora do âmbito

legal ou que estão dentro da esfera da iniciativa privativa de outro Poder. Cita-se

como exemplo disso as medidas destinadas a:

a) indenização de vítimas ou apoio a instituições que trabalham com

vítimas e na prevenção;

b) a garantia de acesso a medidas protetivas ou inclusão em programas

de proteção;

c) orientação acerca do sigilo sobre a condição da vítima para o

referenciamento na rede de atendimento;

d) solicitar, na persecução penal, “segredo de justiça” para evitar

exposição e riscos;

e) criação de fundo específico, o “Fundo Nacional de Justiça”, com linhas

de financiamento para as ações de enfrentamento ao tráfico de pessoas; e

f) a criação de sistema de informações e monitoramento do tráfico de

pessoas no Brasil.

A respeito dessa última providência o Workshop propõe que o Ministério da

Justiça crie e gerencie sistema informatizado “para produção de informações e

monitoramento do tráfico de pessoas, visando a coleta de dados que auxiliem na

compreensão do fenômeno no Brasil e suas conexões internacionais, bem como

o desenvolvimento da Poítica Nacional e de ações de prevenção ao tráfico de

pessoas e de apoio às vítimas do referido delito em suas diversas modalidades”.

Trata-se evidentemente de providências afetas ao Poder Executivo. Sugestões

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como essas, por isso, deverão constar do Relatório Final, mas na forma de

Indicação.

Valemo-nos, também, para a elaboração do projeto que ora submeto aos

membros da Comissão, da contribuição de todos aqueles que participaram dos

nossos trabalhos, trazendo para a Comissão suas experiências de vida e seus

respectivos pontos de vista, dos quais cito os depoimentos de JULIANA

FELICIDADE ARMEDE; NELMA MARIA PONTES DE SOUZA; MARTE HELENA

DOS SANTOS; LÍVIA MARI XEREZ DE AZEVEDO; ALESSANDRA PAGE;

JEANNE AGUIAR PINHEIRO DE SOUZA; MARIANA SIQUEIRA DE CARVALHO

OLIVEIRA; ANA LUIZA MORAES PATRÃO; ELA WIECKO WOLKMER DE

CASTILHO; BENEDITO APARECIDO BASTOS; JEFFERSON APARECIDO

DIAS; JOSÉ ARMANDO FRAGA DINIZI GUERRA; JONAS RATIER MORENO;

RENATO BIGNAMI; MARIE HENRIQUETA FERREIRA CAVALCANTE;

RAIMUNDO BRAGA DA CRUZ SOUSA; MARCELO NASCIMENTO BESSA;

WILLIAN CESAR DE ANDRADE; LUIZ CARLOS MARTINS; ERMÓGENES

JACINTO DE SOUZA; VÍTOR MANOEL XAVIER BEZERRA; RAQUEL FELIPE;

MARIA ELIZABETE ABREU ROSA; LEONORA THAÍS STEFFENTODT

PANZETTI; MONIQUE MENEZES DA SILVA; REINALDO LUÍS AKERLEY

CAVALCANTE; ULISSES GONÇALVES DA COSTA; PATRÍCIA LAMEGO; LUÍS

ROBERTO CAPPIO GUEDES; ARIOMAR JOSÉ FIGUEIREDO DA SILVA; RUAN

GUILHERME PASSOS FERREIRA; REGINALDO PINHEIRO DOS ANJOS; LUIZ

GUSTAVO VIEIRA DE CASTRO; AUDELINO DE SOUZA; ULISSES

GONÇALVES DA COSTA.

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Em Goiás, valemo-nos dos depoimentos prestados, durante audiência

realizada pela Comissão, por RINALDO APARECIDO BARROS; ADRIANA

ACCORSI; EDILSON DIVINO DE BRITO; HAMILTON JOSÉ AMORIM REZENDE;

TERESA CRISTINA NASCIMENTO SOUSA; JOÃO FELIPE; NELMA MARINA

PONTES DE SOUZA; ALEXANDRE ALVIM LIMA; EDUARDO DE CARVALHO

MOTA; MARCO AURÉLIO DE SOUSA; LUCIANO LEÃO BERNARDINO DA

COSTA; LUÍS GUILHERME MARTINHÃO GIMENES; DENISE BORGES BARRA

DE AZEVEDO.

Em São Paulo, dos depoimentos de IVANISE ESPERIDIÃO DA SILVA

SANTOS; PAULO ROBERTO FADIGAS CESAR; ELIANA FALEIROS

VENDRAMINI CARNEIRO; MARIA GABRIELA AHUALLI STEINBERG; ANÁLIA

RIBEIRO; ADRIANO DIOGO; CLAUDIA PATRÍCIA DE LUNA SILVA; TELMA

RODRIGUES DO NASCIMENTO; NILZE BAPTISTA SCAPULATIELLO; JULIANA

FELICIDADE ARMEDE; CHRISTIANE FERREIRA DA SILVA LOBATO;

ROSÂNGELA MUNIZ DE ARAÚJO TOMAZ.

No Rio Grande do Sul, dos de ALDACIR OLIBONI; ALEXIA MEURER;

ELIETE MATIAS RODRIGUES; MÁRCIA ELISÂNGELA AMÉRICO SANTANA;

LINDSEY MARILYN DA SILVA LARSON; RUBIA ABS DA CRUZ. Na Bahia,

CARMEM KIECKHOFER TOPSCHALL; DENÍLSON COSTA PEREIRA REIS;

ELIZÂNIA DOS SANTOS EVANGELISTA REIS.

No Pará, de ASSIS OLIVEIRA; ANTÔNIA PEREIRA MARTINS; MÔNICA

BRITO SOARES; LUCENILDA DALCI MONTE; MARIA IVONETE COUTINHO DA

SILVA; MARCELO SOUZA DIAS; CRISTIANO MARCELO DO NASCIMENTO;

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THALITA FEITOZA; ANTONIA MELO; THAIS SANTI CARDOSO DA SILVA;

ANELISE WOLLINGER KOERICH.

Na Paraíba, dos depoimentos de FÁBIO JÚNIOR CABRAL DE OLIVEIRA;

HIPERNESTRE CARNEIRO; JOSÉ CARLOS PATRIOTA; VALDÊNIA

APARECIDA PAULINO LANFRANCHI; LUÍS GUSTAVO MAGNATA SILVA;

NOALDO BELO DE MEIRELES; MARIA LUIZA DA SILVA; MARIA MADALENA

DE MEDEIROS; GUIANY CAMPOS COUTINHO; JOANA D’ARC SAMPAIO

NUNES; SADY SIDNEY FAUTH JÚNIOR.

No Paraná, dos de AUDELINO DE SOUZA; TARCILA SANTOS TEIXEIRA;

LUIZ CARLOS MICHELE FABRE; EMANUEL GIUSEPPE GALLO INGRAO;

PAULO ROBERTO FADIGAS CÉSAR; FERNANDO DE OLIVEIRA DOMINGUES

LADEIRA; JULIANA FELICIDADE ARMEDE; DALILA EUGÊNIA MARANHÃO

DIAS FIGUEIREDO; CLÁUDIA PAIXÃO; MARIA GABRIELA AHUALLI

STEINBERG;. MARIA DE FÁTIMA NASSIF; ADÃO PEREIRA BARBOSA;

CLODOALDO SAGUINI JUNIOR; MARISA FEFFERMANN; EDILENE DE SOUZA

E SILVA; CLÁUDIO DERVALDO CONSTANTINO DE MENDONÇA; ROBERTO

DE MENEZES PATRÍCIO; INÊS MARTINS DE MELO; PEDRO IZAR NETO.

Dos depoimentos, ressalvo as doutas observações oferecidas pela dd. Dra.

Ela Wiecko, eminente representante do Ministério Público Federal, que resume

bem as principais preocupações resultantes das incursões sobre o tema feito pela

Comissão, segundo a qual há inegável inadequação da legislação penal brasileira

em relação ao Protocolo de Palermo.

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Para Ela Wiecko, há quatro questões na linha de uma possível adequação

legislativa. Primeiro, a imprecisão de alguns elementos do conceito de tráfico, tal

como posto no Protocolo; segundo, o tratamento jurídico da prostituição; terceiro,

a mutação das formas de exploração humana e desenvolvimento de novas

formas; e, quarto, o princípio da proporcionalidade.

Ainda segundo Wiecko: “o texto do protocolo adicional não define o que se

deve entender por vulnerabilidade, por exploração sexual e outras formas de

coerção. Então, diz-se que uma pessoa não pode dar seu consentimento quando

ela está em situação de vulnerabilidade. Esse tema da situação de

vulnerabilidade é um tema estudado, mas em termos de um conceito legal, e no

próprio Protocolo, não há balizas claras.

Apontou, ainda a Sub-Procuradora Geral, a dificuldade legal em se

distinguir criminalmente a situação da pessoa maior de 18 anos que vai praticar a

prostituição de maneira consentida (lembrando que a prostituição não é ilícita em

nosso país, mas tão somente sua exploração); e a situação da pessoa dita

vulnerável, que não é capaz de consentir validamente nesse tipo de atividade. Até

hoje, segundo Ela Wiecko, não se chegou a um consenso sobre essas definições.

Quanto à prostituição, registrou que “a Presidente da Associação das

Prostitutas da Região Central de Belém, a Sra. Lurdes Barreto, quando foi ouvida

pela CPI do Senado, referiu-se a uma confusão que a sociedade faz entre

prostituição, entre tráfico de pessoas, migração e exploração sexual. Realmente,

hoje em dia, pelo art. 231 do Código Penal, levar alguém para exercer a

prostituição no exterior é crime. Então, a Associação das Prostitutas que defende

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a liberdade da profissão, considera que acaba sendo uma criminalização da

própria prostituição.”

Por fim, Ela Wiecko adverte que “a adequação legislativa constitui um

desafio enorme, porque os bens jurídicos objetos da proteção devem ficar bem

evidenciados para o aplicador da lei, e o conjunto das condutas definidas como

crime devem estar organizadas segundo parâmetros de relevância e de

proporcionalidade”.

Com todas essas premissas e orientações em mente, passou-se, então, à

elaboração do texto propriamente dito. Com base nelas, ao longo das

investigações realizadas, identificado os pontos de fragilidade na legislação que

têm permitido criminosos escaparem de punições levando-os a conseguirem seus

intentos criminosos na atividade de tráfico de pessoas, foram identificadas

diversas modalidades por meio das quais o delito é praticado no Brasil, quer no

âmbito interno, quer para o exterior.

Assim sendo, ofereço ao descortino dos membros dessa Comissão, o texto

anexo, que busca, dentro da perspectiva ora delineada, preencher a lacuna

legislativa amplamente reconhecida por toda a comunidade jurídica e reclamada

pela sociedade brasileira.

Sala das Comissões, 22 de outubro de 2013.

Deputada FLÁVIA MORAIS

RELATORA

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PROJETO DE LEI Nº , DE 2013

(Da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar o tráfico de pessoas no Brasil, suas causas, consequências e responsáveis no período de 2003 a 2011, compreendido na vigência da Convenção de Palermo. – CPITRAPE)

Dispõe sobre o combate ao tráfico internacional e interno de pessoas.

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O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Esta Lei tem por objetivo combater o tráfico internacional e interno

de pessoas em todas as suas modalidades.

Art. 2º Os arts. 7º, 149, 206, 207, 231 e 231-A do Decreto Lei nº 2.848, de

7 de dezembro de 1940, passam a vigorar com as seguintes alterações:

“Art.7º..................................................................................................

..........................................................................................

III – os crimes praticados contra brasileiro, que tenham origem no

tráfico de pessoas, bastando para tanto que o agente ingresse no território

nacional.

§1º Nos casos dos incisos I e III, o agente é punido segundo a lei

brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.”

.............................................................................................” (NR)

“Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo,

submetendo-o a trabalhos forçados, a jornada exaustiva, a condições

degradantes de trabalho, restringindo, por qualquer meio, seu direito de ir,

vir e permanecer, forçando-o a contrair dívidas com o empregador ou

preposto, comprometendo o seu salário além do valor permitido pela

legislação trabalhista, ou impedindo o desfazimento do vínculo contratual.

Pena - reclusão, de quatro a oito anos, e multa, além da pena

correspondente à violência.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

.......................................................................................................

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III – alicia e recruta trabalhadores, ciente de que serão explorados

em trabalho análogo ao de escravo;

IV – tendo o dever de investigar, reprimir e punir tais crimes, por

dever funcional, omite-se no cumprimento de sua função pública.

§ 2o ..........................................................................................

.......................................................................................................

II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem

ou orientação sexual.” (NR)

“Art. 206 ....................................................................................

Pena - detenção de três a cinco anos e multa.” (NR)

“Art. 207 ....................................................................................

Pena - detenção de três a cinco anos e multa.

.................................................................................................

§ 2º A pena é aumentada de um terço até metade se a vítima é

menor de dezoito anos, idosa, gestante, indígena ou portadora de

deficiência física ou mental.” (NR)

“Art. 231. Transportar, transferir, recrutar, alojar ou acolher pessoas

vindas do exterior para o território nacional, recorrendo à ameaça, violência

ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de

autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de

pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que

tenha autoridade sobre outra para fins de exploração da prostituição ou

outras formas de exploração sexual, de trabalho ou serviços forçados, de

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escravatura ou práticas similares à escravatura, de servidão ou a remoção

de órgãos.

Pena - reclusão, de cinco a oito anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena:

I – aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada,

assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la

ou alojá-la;

II – o agente público que, tendo o dever de investigar, reprimir e

punir tais crimes, por dever funcional, omite-se no cumprimento de sua

função pública.

§ 2o .........................................................................................

I - a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos;

.......................................................................................................

§ 3º A pena é aumentada em dobro se a idade da vítima for igual

ou menor que 14 (quatorze) anos.

§ 4º A pena é aumentada em dobro, se o crime for cometido por

servidor público no exercício da função.” (NR)

“Art. 231-A. Transportar, transferir, recrutar, alojar ou acolher

pessoas dentro do território nacional, recorrendo à ameaça ou uso da força

ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de

autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de

pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que

tenha autoridade sobre outra para fins de exploração da prostituição ou

outras formas de exploração sexual, de trabalho ou serviços forçados, de

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escravatura ou práticas similares à escravatura, de servidão ou a remoção

de órgãos.

Pena - reclusão, de cinco a oito anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena:

I – aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada,

assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la

ou alojá-la;

II – o agente público que, tendo o dever de investigar, reprimir e

punir tais crimes, por dever funcional, omite-se no cumprimento de sua

função pública.

§ 2o ...............................................................................................

I - a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (quatorze) anos;

.......................................................................................................

§ 3o A pena é aumentada em dobro se a idade da vítima for igual

ou menor que 14 (quatorze) anos.

§ 4º A pena é aumentada em dobro, se o crime for cometido por

servidor público, no exercício da função.” (NR)

Art. 3º Fica acrescido o seguinte art. 284-A ao Decreto-Lei nº 2.848, de 7

de dezembro de 1940:

“Art. 284-A. Realizar modificações corporais clandestinas no corpo

de alguém:

Pena – reclusão, de cinco a oito anos.

§ 1º A pena é aumentada de um terço:

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I - se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão

de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.

II – se do fato resulta lesão corporal grave.

III – se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze)

anos.

§ 2º A pena é aumentada no dobro:

I – se do fato resulta morte;

II – se o crime é praticado para fins de exploração sexual de vítima

de tráfico humano;

III – se a vítima é menor de 14 (catorze) anos.” (NR)

Art. 4º Os arts. 28, 39, 46, 51, 52, 60, 83, 141 e 149 da Lei nº 8.069, de

13 de julho de 1990, passam a vigorar com as seguintes modificações:

“Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante

guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da

criança ou adolescente, nos termos desta Lei, respeitada a ordem

estabelecida no cadastro nacional de adotantes, ouvidos os pais ou

responsáveis e o Ministério Público.

§ 1o A criança ou o adolescente será obrigatoriamente ouvido por

equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau

de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião

devidamente considerada.

............................................................................................” (NR)

“Art. 39. ...................................................................................

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.................................................................................................

§ 3º É vedada qualquer forma de intermediação por pessoa física,

nos processos de adoção internacional.” (NR)

“Art. 46................................................................................

..............................................................................................

§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou

domiciliado fora do País, o estágio de convivência, cumprido no território

nacional, será de, no mínimo, 45 (quarenta e cinco) dias.

.....................................................................................” (NR)

“Art. 51................................................................................

§ 1o......................................................................................

...........................................................................................

IV- que o país do adotante é signatário da Convenção de Haia, de

29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em

Matéria de Adoção Internacional;

V – que o país do adotante possui mecanismos de concessão

automática da cidadania ao adotado;

VI – que o adotante assinou termo de compromisso de providenciar

a imediata aquisição da nova cidadania pelo adotado, após a prolação da

sentença de adoção.

.............................................................................................

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§ 3o Para a adoção internacional, é obrigatória a intervenção da

Autoridade Central Federal, sendo nula a adoção feita sem sua

participação.” (NR)

“Art. 52.................................................................................

............................................................................................

§4º.......................................................................................

.............................................................................................

V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a Autoridade Central

Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira, durante

os dois primeiros anos da adoção e, posteriormente, para o Consulado

brasileiro no país do adotante, a cada dois anos, até que o adotado

complete (18) dezoito anos.

................................................................................................

§16. Todos os casos de adoção internacional serão comunicados à

Autoridade Central Federal brasileira.” (NR)

“Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos

de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos.

§1º A vedação contida no caput deste artigo estende-se ao contrato

de modelo, artista e atleta.

§ 2º O menor de dezoito e maior de dezesseis anos só poderá ser

contratado para prestar serviços fora do País com autorização dos pais ou

responsáveis e do juiz, ouvido o Ministério Público.

§ 3º O menor de dezesseis e maior de quatorze anos, na qualidade

de aprendiz, não poderá exercer essas atividades fora do País.

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§ 4º A contratação a que se refere este artigo só poderá ser feita

por empresa devidamente constituída, com registro nos órgãos

competentes.

§ 5º Sem prejuízo das medidas penais e civis cabíveis, o

desrespeito ao disposto neste artigo acarreta as seguintes sanções:

I - multa de dez a cem vezes o valor do contrato;

II - suspensão da atividade dos responsáveis pelo prazo de trinta a

noventa dias;

III – proibição para o exercício das mesmas atividades ou outras

semelhantes, pelo prazo de cinco anos, em caso de reincidência.” (NR)

“Art. 83. Nenhum menor de 14 (catorze) anos poderá viajar para

fora da comarca onde reside, desacompanhado dos pais ou responsável,

sem expressa autorização judicial.

§ 1º...........................................................................................

a) tratar-se de comarca contígua à da residência do menor de 14

(catorze) anos, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma

região metropolitana;

b) o menor de 14 (catorze) anos estiver acompanhado:

.............................................................................................” (NR)

“Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à

Defensoria Pública, ao Ministério Público, aos órgãos do Poder Judiciário e,

no exterior, aos consulados brasileiros.

......................................................................................”(NR)

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“Art. 149. ..........................................................................

.................................................................................................

III – a saída de menor de dezoito e maior de dezesseis anos para

trabalhar no exterior, ouvido o Ministério Público.

........................................................................................” (NR)

Art. 5º O parágrafo único do art. 3º da Lei nº 6.533, de 24 de maio de

1978, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 3º.....................................................................................

“Parágrafo único. A contratação a que se refere este artigo só

poderá ser feita por empresa devidamente constituída, com registro nos

órgãos competentes.” (NR)

Art. 6º Fica acrescido o seguinte §º 11 ao art. 28 da Lei nº 9.615, de 24 de

março de 1998:

“Art. 28...................................................................................

.............................................................................................

§11. A contratação a que se refere este artigo só poderá ser feita

por empresa devidamente constituída, com registro nos órgãos

competentes.” (NR)

Art. 7º O Art. 1º, da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar

acrescido dos seguintes incisos:

“Art. 1º ................................................................................

............................................................................................

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VIII - os crimes de redução a condição análoga à de escravo e

tráfico de pessoas (arts. 149, 231 e 231-A). (NR)”

Art. 8º Os art. 14 a 18 da Lei nº 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, passa

vigorar com as seguintes modificações:

“Art. 14. Remover células, tecidos, órgãos ou partes do corpo de

pessoa ou cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei:

.........................................................................................

§ 1º.........................................................................................

Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa, de 100 a 150 dias-

multa.

§ 2.º ........................................................................................

................................................................................................

Pena - reclusão, de seis a dez anos, e multa, de 100 a 200 dias-

multa.

§ 3º..........................................................................................

I – incapacidade permanente para o trabalho;

.................................................................................................

Pena - reclusão, de oito a doze anos, e multa, de 150 a 300 dias-

multa.

§ 4º .........................................................................................

Pena - reclusão, de doze a vinte anos, e multa de 200 a 360 dias-

multa.

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§ 5º Se o crime é praticado por meio do tráfico de seres humanos:

Pena – reclusão, de quinze a vinte e dois anos, e multa de 200 a

360 dias-multa.

§ 6º Incorre nas mesmas penas quem recolhe, transporta, guarda,

compra, vende, distribui ou transplanta órgãos ou partes do corpo humano

ciente de que foram obtidos por meio do tráfico de seres humanos.”(NR)

“Art. 15. Comprar ou vender células, tecidos, órgãos ou partes do

corpo humano:

Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-

multa.

........................................................................................”(NR)

“Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando células, tecidos,

órgãos ou partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido

obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:

Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa, de 150 a 300 dias-

multa.”(NR)

“Art. 17 Recolher, transportar, guardar ou distribuir células, tecidos,

órgãos ou partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido

obtidos em desacordo com os dispositivos desta Lei:

Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa, de 100 a 250 dias-

multa.”(NR)

“Art. 18. ....................................................................................

Pena - detenção, de cinco a oito anos.”(NR)

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Art. 9º O Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941, passa a vigorar

acrescido dos seguintes arts. 13-A a 13-F:

“Art. 13-A. Nos crimes previstos nos arts. 148, 158, § 3°, 159, 231 e

231-A do Código Penal e 239 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o

delegado de polícia poderá requisitar dados e informações cadastrais da

vítima ou de suspeitos, de quaisquer órgãos do poder público ou de

empresas da iniciativa privada.

Parágrafo único. A requisição deverá ser atendida no prazo

máximo de 24 (vinte e quatro) horas e dela deverá constar:

I - o nome da autoridade policial requisitante;

II - o número do inquérito policial; e

III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela

investigação.

Art. 13-B. As empresas de transporte possibilitarão, pelo prazo de 5

(cinco) anos, acesso direto e permanente do juiz, do Ministério Público ou

do delegado de polícia, aos bancos de dados de reservas e registro de

viagens, para fins de investigação criminal.

Art. 13-C. As concessionárias de telefonia fixa ou móvel manterão,

pelo prazo de cinco anos, à disposição do juiz, do Ministério Público ou do

delegado de polícia registros de identificação dos números dos terminais

de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas

e locais, para fins de investigação criminal.

Art. 13-D. Se necessária à prevenção e repressão dos crimes

mencionados no artigo anterior, o delegado de polícia responsável pela

apuração dos fatos poderá requisitar às empresas prestadoras de serviço

de telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os

sinais que permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em

curso, com indicação dos meios a serem empregados.

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§ 1° O sinal de que trata esta lei significa o posicionamento da

estação de cobertura, setorização e intensidade de rádio frequência.

§ 2° Nas hipóteses de que trata o caput, o sinal:

I - não permitirá o acesso ao conteúdo da comunicação de

qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme

disposto em lei;

II - não poderá ser interrompido até a conclusão das investigações

policiais e dependerá, ainda, da aquiescência da autoridade requisitante.

§ 3° Na hipótese deste artigo, o inquérito policial deverá ser

instaurado no prazo máximo de setenta e duas horas, contado do registro

da respectiva ocorrência policial.

Art. 13-E. Os provedores da rede mundial de computadores -

Internet - manterão, pelo prazo mínimo de 01 (um) ano, à disposição das

autoridades mencionadas no art. 2°, os dados de endereçamento eletrônico

da origem, hora, data e a referência GMT da conexão efetuada por meio de

rede de equipamentos informáticos ou telemáticos, para fins de

investigação criminal.

Parágrafo único. O prazo a que se refere o caput poderá ser

prorrogado por determinação judicial fundamentada.

Art. 13-F. É vedada a difusão de conteúdo e a divulgação dos

meios tecnológicos utilizados na investigação criminal.” (NR)

Art. 10. Os contratos de modelo e manequim só poderão ser feitos por

pessoa jurídica devidamente constituída, com registro nos órgãos competentes,

vedado o agenciamento.

§ 1º A empresa que contratar modelo ou manequim no Brasil ficará

responsável pelo cumprimento do contrato no exterior e pela assistência

necessária ao profissional contratado, incluindo as despesas com o retorno.

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§ 2º É vedado o contrato de risco, em que o profissional contratado tenha

de arcar com os prejuízos decorrentes da não execução contratual a que não deu

causa.

§ 3º Em caso de desfazimento ou impossibilidade de execução do

contrato, as despesas com viagens, alimentação, moradia e gastos médicos

correrão por conta exclusiva do contratante.

Art. 11. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Sala das Comissões, 22 de outubro de 2013.

Deputada FLÁVIA MORAIS RELATORA