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COMENTÁRIO DA PROVA DE PORTUGUÊS As doze questões de Língua Portuguesa deste exame vestibular da UFPR (números 55 a 66) distribuem-se entre oito de Compreensão de Texto e quatro de Gramática. As questões de Compreensão de Texto exploram mecanismos de coesão e coerência fundamentais para realizar inferências e conclusões (questões 55 e 61, por exemplo) e perceber implícitos e relações lógicas (notadamente a relação de oposição, presente na matéria da revista IstoÉ e no artigo de Elio Gaspari). Os textos escolhidos pertencem a tipos e gêneros variados, especialmente jornalísticos (reportagem, coluna de opinião, divulgação científica e infográfico). Destaque para a escolha, inusitada e criativa, das “cláusulas (…) retiradas de um contrato de telefonia/internet” que servem de referências às questões 60 e 61. No tocante à temática, percebe-se o predomínio de textos sobre os ideais de cidadania, democracia e legalidade que pautam grande parte do debate público contemporâneo, como a posição do indivíduo frente ao Estado. Pode-se dizer que esse constitui, até certo ponto, o próprio eixo temático da prova, a que não falta, inclusive, certa dose de intertextualidade. Observe-se, por exemplo, como a “conclusão” que serve de base à questão 55 – segundo a qual a recusa dos homens em fazer teste de DNA implica presunção de paternidade – contrasta com o conteúdo do texto seguinte, que, a respeito dos testes com bafômetros, lembra a “tradição das constituições brasileiras” de que “ninguém é obrigado a produzir provas contra si”. As questões de Gramática igualmente focam aspectos relevantes do conteúdo dessa disciplina, sobretudo aqueles relacionados à semântica. Destaque-se a questão 64, que explora a coerência (ou incoerência) interna decorrente do emprego de conectivos lógicos de valor conclusivo e opositivo; e para a questão 66, sobre construção de períodos compostos, que implica a percepção da distinção entre orações adjetivas restritivas e explicativas). Trata-se, no geral, de uma prova formulada com objetividade e clareza, com base em textos ou fragmentos bem escolhidos, que certamente cumprirá o papel de selecionar os melhores candidatos. Podemos, contudo, ressalvar, a título de contribuição ao trabalho da Banca Examinadora, que ainda se vislumbra certo espaço para que as questões desenvolvam e aprofundem alguns conteúdos e abordagens, sobretudo no que diz respeito ao conhecimento e à exploração da funcionalidade (textual, discursiva, semântica) das categorias gramaticais. Embora parcialmente, o exame ainda transmite ao estudante a impressão de que a Língua Portuguesa é uma disciplina para a qual o estudo e a sistematização não são muitas vezes necessários – o que, a nosso ver, decorre menos das características inerentes a essa área do conhecimento (e de suas muitas aplicações) e mais de algumas das opções pedagógicas que orientam a elaboração da prova. Se houve um tempo em que foi fundamental combater, com certa intransigência, as tendências excessivamente formalistas e conservadoras na Língua Portuguesa, pensamos que já se pode, após tantos anos, propor novas sínteses. Percebe-se que a Banca Examinadora é sensível a esse desafio e que tem feito muito para superá-lo. Estimulamos que o objetivo se mantenha, não só para a boa realização do processo de seleção de candidatos à UFPR, mas a bem do ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa que, sobretudo no Ensino Médio, recebe importante influência dos exames vestibulares das principais universidades públicas. 1 PORTUGUÊS PORTUGUÊS

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Page 1: COMENTÁRIO DA PROVA DE PORTUGUÊS 1 PORTUGUÊS

COMENTÁRIO DA PROVA DE PORTUGUÊS

As doze questões de Língua Portuguesa deste exame vestibular da UFPR (números 55 a 66)distribuem-se entre oito de Compreensão de Texto e quatro de Gramática.

As questões de Compreensão de Texto exploram mecanismos de coesão e coerência fundamentais pararealizar inferências e conclusões (questões 55 e 61, por exemplo) e perceber implícitos e relações lógicas(notadamente a relação de oposição, presente na matéria da revista IstoÉ e no artigo de Elio Gaspari). Ostextos escolhidos pertencem a tipos e gêneros variados, especialmente jornalísticos (reportagem, coluna deopinião, divulgação científica e infográfico). Destaque para a escolha, inusitada e criativa, das “cláusulas (…)retiradas de um contrato de telefonia/internet” que servem de referências às questões 60 e 61.

No tocante à temática, percebe-se o predomínio de textos sobre os ideais de cidadania, democracia elegalidade que pautam grande parte do debate público contemporâneo, como a posição do indivíduo frente aoEstado. Pode-se dizer que esse constitui, até certo ponto, o próprio eixo temático da prova, a que não falta,inclusive, certa dose de intertextualidade. Observe-se, por exemplo, como a “conclusão” que serve de base àquestão 55 – segundo a qual a recusa dos homens em fazer teste de DNA implica presunção de paternidade –contrasta com o conteúdo do texto seguinte, que, a respeito dos testes com bafômetros, lembra a “tradição dasconstituições brasileiras” de que “ninguém é obrigado a produzir provas contra si”.

As questões de Gramática igualmente focam aspectos relevantes do conteúdo dessa disciplina,sobretudo aqueles relacionados à semântica. Destaque-se a questão 64, que explora a coerência (ouincoerência) interna decorrente do emprego de conectivos lógicos de valor conclusivo e opositivo; e para aquestão 66, sobre construção de períodos compostos, que implica a percepção da distinção entre oraçõesadjetivas restritivas e explicativas).

Trata-se, no geral, de uma prova formulada com objetividade e clareza, com base em textos oufragmentos bem escolhidos, que certamente cumprirá o papel de selecionar os melhores candidatos.

Podemos, contudo, ressalvar, a título de contribuição ao trabalho da Banca Examinadora, que ainda sevislumbra certo espaço para que as questões desenvolvam e aprofundem alguns conteúdos e abordagens,sobretudo no que diz respeito ao conhecimento e à exploração da funcionalidade (textual, discursiva,semântica) das categorias gramaticais. Embora parcialmente, o exame ainda transmite ao estudante aimpressão de que a Língua Portuguesa é uma disciplina para a qual o estudo e a sistematização não são muitasvezes necessários – o que, a nosso ver, decorre menos das características inerentes a essa área doconhecimento (e de suas muitas aplicações) e mais de algumas das opções pedagógicas que orientam aelaboração da prova.

Se houve um tempo em que foi fundamental combater, com certa intransigência, as tendênciasexcessivamente formalistas e conservadoras na Língua Portuguesa, pensamos que já se pode, após tantosanos, propor novas sínteses. Percebe-se que a Banca Examinadora é sensível a esse desafio e que tem feitomuito para superá-lo. Estimulamos que o objetivo se mantenha, não só para a boa realização do processo deseleção de candidatos à UFPR, mas a bem do ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa que, sobretudo noEnsino Médio, recebe importante influência dos exames vestibulares das principais universidades públicas.

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Comentário:

Com base em um tema interessante – presunção de paternidade –, a questão pede a aplicação de um texto legal auma situação vivencial. A questão é clara, pois a única situação prática a que se pode aplicar a conclusão dada pelotexto legal é aquela em que o suposto pai nega-se à realização do exame de DNA.

Comentário:

O paradoxo a que se refere o título do texto consiste em se utilizar o bafômetro para materializar a culpa de quemdirige embriagado em oposição à tradição jurídica brasileira que não obriga a submissão ao bafômetro já que“ninguém é obrigado a produzir provas contra si.”

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Comentário:

A alternativa correta é paráfrase do trecho: “o ordenamento constitucional tem de ser respeitado sob o risco de sejogar na linha de tiro o Estado de Direito.”

Comentário:

1. Falsa. Os dados apresentados referem-se exclusivamente ao uso da pirataria no BR e no mundo, e não ao seucombate.

2. Falsa. Os dados alertam para a distinção entre informalidade (ilegalidade) e formalidade (legalidade).

3. Verdadeira. No caso dos filmes, a distribuição da receita no mercado é equânime.

4. Falsa. A partir das informações apresentadas, fica evidente que a preferência é por músicas, não por filmes; alémdisso, não há qualquer informação atinente aos valores praticados pelos cinemas nos ingressos.

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Comentário:

A “esquizofrenia política” que Gaspari define consiste em dubiedade ideológica no que se refere a respeito aosdireitos humanos. George Bush se notabilizou pela defesa da tortura, especialmente na prisão de Guantánamo, àmoda das cenas protagonizadas pelo personagem Capitão Nascimento no filme “Tropa de Elite”. Já Barack Obamaassumiu o governo condenando a tortura. O tal “esquizofrênico” defende Obama nos Estados Unidos e, no Brasil,ao defender o Capitão Nascimento, por extensão defende George Bush, paradoxalmente.

Comentário:

a) Falsa. A claúsula 1 explicita a data de início de vigência do contrato; no caso, “mais de 7(sete) dias, contados dadata de instalação ...”.

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b) Falsa. Segundo a cláusula 2, o assinante que “rescindir o contrato antes do período mínimo preestabelecido,estará obrigado ao pagamento do valor correspondente ao benefício que lhe foi concedido e efetivamente utili-zado ...”.

c) Falsa. A opção fidelidade permite aos assinantes usufruir dos serviços a partir do “compromisso de permanênciana base de assinantes da operadora”.

d) Verdadeira. A cláusula 1 legitima essa afirmação.

e) Falsa. A opção Fidelidade concede benefícios e/ou ofertas especiais, em caráter temporário. A rescisão impli-cará a cobrança pelos serviços efetivamente utilizados (cláusula 2.

Comentário:

1) Verdadeira. O valor a ser cobrado de Pedro deve ser proporcional ao tempo de uso; neste caso, um mês e meio.É o que prevê o segundo período da cláusula 2.

2) Falsa. A cláusula 3 ampara a OPERADORA, invalidando a reclamação da cliente.

3) Falsa. André deve pagar pelos serviços utilizados e na justa medida, conforme a cláusula 2.

4) Falsa. Gustavo se enquadra em situação similar a de André, tendo, portanto, que realizar o pagamento pelos ser-viços utilizados.

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Comentário:

Embora os textos apresentem uma gama bem variada de temas, há a insistência em aspectos voltados a legislação.Nesse caso, o texto patenteia ser a exploração e o uso do espaço lunar matéria de direito internacional.

Comentário:

Questão de léxico, que explora com simplicidade e clareza a sinonímia de termos e expressões dentro de umcontexto específico.

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Comentário:

“Ainda que” (= embora, apesar de) é uma locução de valor concessivo, indicando uma oposiçãoargumentativamente fraca.

Em 1), não há uma relação coerente entre as orações, pois simplesmente não ocorre oposição entre as ideiasde os salários estarem defasados e o aumento dos preços diminuir seu poder de compra. Ora, se os salários estãodefasados, é natural que seu poder de compra esteja diminuído, sem que haja oposição nisso.

Em 2), “desse modo” estabelece uma relação coerente de conclusão: uma vez que o governo não secompromete com ninguém, todos ficam à vontade para negociar as possíveis saídas.

Em 3)¸novamente ocorre o uso equivocado da concessiva. Não cabe o conector de oposição “embora”. Paraque a frase apresentasse o sentido desejado, deveria haver uma negação no segundo membro (isso não conseguiuatenuar rapidamente o problema da fome).

Em 4), “entretanto” (= mas, porém, contudo, entretanto, todavia, contudo), como conector adversativo, deveestabelecer uma relação de oposição argumentativamente forte. É o que ocorre no contexto: as chuvas ocorreramno inverno, mas ainda assim novos projetos de irrigação foram necessários.

Comentário:

No Português do Brasil realmente existe uma tendência à forma composta do pretérito mais-que-perfeito: “haviarecebido” e “tinha recebido” são equivalentes a “recebera”. Todas formas cultas, a construção mais formal(recebera) pede então ser substituída por outras mais próprias do cotidiano (havia recebido, tinha recebido).

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Comentário:

Uma pista para a reunião correta das ideias está na última informação – todos os efeitos são arrasadores. Anoção de inteireza, completude – que também está na terceira informação, sobre os juros –, exige uma oraçãoadjetiva sem restrição (explicativa), portanto, marcada por sinal de pontuação. Só isso, já eliminaria trêsalternativas: b), c) e d).

A redação do item a), negando o que pede o enunciado, suscita uma ambiguidade, pois o adjetivoarrasadores, da oração adjetiva, parece se referir a efeitos ou juros.

A resposta correta, assim, é E), com a intercalação do adjetivo arrasadores entre os termos “efeitos” e “juros” eposterior oração adjetiva explicativa (que são altos).

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