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catalogo azores combo

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cessidade em encontrar um termo que represente o conceito do ArtCamp e seja de fácil compreensão por uma população multinacional. O termo encontrado que mais facilmente vai de encontro às directrizes do projecto é o “combinar” que traduzido para inglês resulta em “Combine”, duas palavras que embora separadas por idiomas diferentes, num nível fonético estão bastante próximas.Com a natural evolução do projecto optou-se por uma versão que pudesse ser comum aos dois idiomas, abreviando-se a palavra para “combo” para um mais fácil reconhecimento e divulgação. Do Azores Combo pretende-se que fomente nos Açores, a divulgação das Artes e do Artesanato tendo em conta as suas múltiplas facetas, do foro artístico e tecnológico, enquanto promove o contacto entre os principais intervenientes na concepção e produção.O Azores Combo visa, assim, a divulgação de experiências inovadoras a nível de investigação, concepção, aplicação e ensino das artes no artesanato e vice-versa, tomando como tema central as técnicas artesanais como ferra-menta ao serviço do sonho e criatividade artística.O Azores Combo visa ainda congregar toda uma comunidade de artesãos e jovens artistas e o público em geral consumidor de arte, no sentido de se estabelecer um espaço de reflexão, troca de experiências, de sensibilização e de apoio aos jovens artistas e artesãos na criação, compreensão e aprecia-ção da arte e do artesanato, visando o estabelecimento e fortalecimento de uma rede transfronteiriça, entre os Açores e o Mundo, uma rede de excelên-cia de intercâmbio e colaboração em projectos e iniciativas conjuntas nestas áreas.

A arte pode ser definida como o campo do conhecimento humano rela-cionado à criação e critica de obras que evocam a vivência e interpretação sensorial, emocional e intelectual da vida em todos os seus aspectos.A definição original e abrangente de arte (significa técnica ou habilidade) é o produto ou processo em que o conhecimento é usado para realizar determinadas habilidades.Mas no sentido moderno, também, podemos incluir o termo arte como a actividade artística ou o produto da actividade artística. O que poderá ser o produto final da manipulação humana sobre uma matéria-prima qualquer.Desde sempre que a insularidade das ilhas obrigou os seus habitantes a con-viverem com aquilo que a terra lhes oferecia, como forma de ultrapassarem as dificuldades dos dia-a-dia.Das mãos dotadas dos artesãos tomaram forma maravilhosas peças de ma-teriais e técnicas diversas, que fazem do artesanato dos Açores um conjunto de peças autênticas.Os Açores, com o seu rico passado histórico e cultural tornaram-se refe-rência nas artes e ofícios, em que homens e mulheres, souberam guardar e desenvolver estas técnicas de trabalho artesanal ao longo dos tempos.Com a natural evolução dos tempos, de que resultou numa grande abertura da Região para o exterior, muito do que antes era uma necessidade das suas gentes, representa hoje o Artesanato Açoriano. É com base em toda esta tradição secular do Artesanato açoriano e de um conhecimento artístico adquirido, que surge a ideia de unir estas duas importantes áreas da cultura, o artesanato e a arte, num projecto único.Este projecto é apresentado sob o formato de ARTCAMP, baptizado com o nome de AZORES COMBO. O nome Azores Combo advém de uma ne-

Na sequência de projectos anteriores em que o Centro Regional de Apoio ao Artesanato tomou a iniciativa ou colaborou como entidade parceira, como agora acontece, a inovação e o seu contributo para a revalorização económica e social das empresas artesanais da Região, corresponde a um dos principais objectivos de toda a actividade desenvolvida até aqui. Azorescombo Artcamp foi apresentado, ainda como projecto, no II Simpósio de Artes e Ofícios, em Novembro de 2006, no Teatro Micaelense, e acolheu desde logo a simpatia do público presente ligado ao sector do artesanato.Conhecidas as fragilidades deste sector, é sempre de acarinhar qualquer iniciativa que promova as técnicas de produção artesanal junto dos mais jovens, de forma a dar continuidade e contribuir para a evolução de uma parte significativa do nosso património cultural.Esta parceria técnica e financeira com a Direcção Regional da Juventude e a cooperativa “Mal Amanhados” proporcionou aos jovens concorrentes e aos artesãos convidados um importante momento de formação, na medida em que desencadeou, naturalmente, uma troca de conhecimentos e experiên-cias.Como resultado das duas primeiras etapas, ou seja, do concurso de ideias e do workshop, este projecto culmina com a exposição temporária das peças, com a integração de algumas no nosso património público, construído e pai-sagístico, e com a publicação do respectivo catálogo, cumprindo deste modo a sua função pedagógica, na medida em que ficará patente ao público, e em especial a todos os artesãos, que a criatividade e a inovação poderão ser também uma boa resposta à valorização do produto artesanal e à competiti-vidade do mercado.

A Directora de Serviços do CRAA

Alexandra Andrade

O Azores Combo surge como um projecto inovador, pretendendo criar a convergência entre as artes plásticas contemporâneas e as técnicas tradicio-nais do artesanato açoriano.Apostar na formação artística e cultural permitiu a mobilidade dos jovens de todo o mundo, iniciativa condutora a uma consciencialização colectiva da necessidade de valorizar a criação artística local e regional.O Azores Combo abarca uma série de acções que, por si só, define a essên-cia e necessidade de valorizar as culturas tradicional e contemporânea dos Açores.Enquanto projecto pioneiro, aspirámos catalizar novos comportamentos e mentalidades, promovendo:- a criação de um projecto cultural e educacional.- o apoio da juventude no âmbito da criação artísticaCremos que o Azores Combo ArtCamp consolidou o despertar de uma consciência capaz de elevar o papel da juventude e da criação artística na sociedade açoriana.

O Director Regional da Juventude

Engº Bruno Pacheco

O Azores Combo é um projecto ambicioso e relevante pela forma como procura integrar as artes tradicionais com o design e as artes plásticas contemporâneas. O Azores Combo reconhece a urgência de valorizar as culturas locais e de simultaneamente as olhar como entidades dinâmicas, que podem — e devem — ser praticadas de uma forma "glocal", deixando de ser práticas históricas e podendo ser valorizadas muito para além do seu imediato interesse puramente antropológico. Estas foram as razões que me levaram a aceitar o convite para integrar o júri do Azores Combo, uma iniciativa que na minha perspectiva foi logo na primeira edição um sucesso e que espero que se venha a repetir futuramente.

Aliando a tradição com a inovação, a prática com a teoria, a experiência com a criatividade, no prazo de uma semana, jovens artistas nacionais e internacionais juntamente com artesãos Açorianos, partilharam o seu ateliê e as suas ideias.O Azores Combo Artcamp ultrapassou as expectativas de todos os que contribuíram e partilharam dessa experiência. A troca de saberes entre artis-tas e artesão foi uma construção efémera, que pouco a pouco foi ganhando forma, cor e vida.

Telma Silva

A experiência do Azores Combo ArtCamp fortaleceu a minha identidade açoriana, através do contacto próximo com as actividades artesanais ali de-senvolvidas e proporcionou um agradável convívio entre diferentes gerações com pontos de vista diversos acerca da arte e do artesanato.

Cláudia Pacheco

O facto de poder usufruir de um ambiente arquipelágico para desenvolver um projecto cultural como o Azores Combo ArtCamp, proporcionou uma memória colectiva de vivências e situações pessoais bastante enriquecedo-ras.A partilha de saberes culturais distintos, a troca de experiências, o ambiente familiar com que se trabalhou deu à função de monitor o sabor de novas amizades e um carinho muito especial pelos objectos de artesanato quoti-dianos.

Rute Medeiros

Ao olhar para um dos objectos físicos resultantes do projecto Azores Combo Artcamp, tem de considerar-se todo o seu processo de concepção. Essa é a questão fundamental, para que se compreenda a magnitude dessa experiência.

Inspirado na tradição popular brasileira, onde as avós tricotam os “fuxicos” (bolsas de ar pequenas) e elas contam ser os cochinos, ou “fofocas”, as más falas das pessoas, reinterpreto os fuxicos na técnica das rendas, nesta escul-tura interactiva à escala humana sobre a arte de mal falar onde o espectador fica “lapidado” pelas más linguas.

Ainara Golondrina

Terras de mareantes e pescadores, o arquipélago não foge à tradição de ser lugar propício à proliferação de trabalhos de linha, feitos com bilros, agulha e outros utensílios. Rendas e similares reproduzem influências diversas, ou não arribassem aqui as rotas do mundo. Mas, também, afirmam uma criatividade própria através da renda de gancho e do crochet de arte (ou renda do Faial e Pico), variedade autóctone que prestigia o artesanato açoriano. O crochet de arte é uma variante do crochet caseado, com segredo, que pela disposi-ção final, com motivos da flora local e finura como se apresenta mais parece uma renda. Se é surpreendente a renda de gancho, a que as mulheres do Pico e Faial dão forma, não menos o é o modo como é executada, a partir de um simples e feminino gancho de cabelo. São as suas duas hastes paralelas (ou de um ferro com forma similar) que servem de suporte à linha, que vai sendo entrecruzada com auxílio de uma ou várias agulhas de crochet, utiliza-das também para fazer os contornos e pontos variados. Tudo o mais é fruto dos saberes e perfeição de quem dá forma a tão atraente e delicada renda.

CRAA

RendasAinara Golondrina [Artista Plástica]

Ana de Melo Baptista [Artesã]Fuxico, 2008

Vimes, Renda e Especiarias | 70 x 90 cm

Ainara Golondrina, licenciada na faculdade de Belas Artes U.P.V Bilbao (Espanha), frequenta o seu último ano na FBAUP do Porto dentro do programa Erasmus, cidade que continuará a ser sua residência até mudar-se para Lisboa para trabalhar na plataforma de arte contemporânea Carpe Diem Arte e Pesquisa, dentro do programa europeu Leonardo Da vinci. Na actualidade disfruta de uma bolsa da Fundacion Antonio Gala para Jóvenes Creadores 2009-2010 com outros 17 artistas de diversas áreas, em Córdo-ba. Como experiência profissional mais recente, dizer a criação, coordena-ção do Sistema Educativo do Carpe Diem Arte e Pesquisa (Lisboa) 2009; adaptação e interpretação de contos para crianças para Kalandraka Editora (Porto) 2009, e a Direcção Artística de Filminho (Vila Nova de Cerveira) fes-tival de cinema transfronteiriço no audiovisual galego-português 2008. Tendo ganhado concursos variados desde pintura, desenho, cinema e instalação.

Ana de Fátima de Melo Baptista, natural da freguesia da Matriz, concelho da Horta, artesã, inscrita no CRAA na actividade de “Confecção de artigos de Renda” desde 1991. Começou a trabalhar nas rendas típicas do Faial em 1957, aprendeu com a irmã mais velha. Trabalhou por conta da Sra D. Isilberta Peixinho. Em 1998 obtém o selo de garantia de certificação de produtos artesanais nas suas peças artesanais, designadamente, luvas de renda, naperons, viras de lençol, toalhas e colchas. Participa em várias feiras, regionais, nacionais e internacionais e em várias exposições, onde expõe uma variedade de trabalhos de delicada e pura beleza em que afirmam uma criatividade própria através da renda de gancho, e do croché de arte (renda do Faial e Pico).

domésticos através da roda de oleiro; a secagem, feita no interior da tenda e depois no exterior, ao sol; a cocção, processo longo pelo qual se coziam os objectos de barro em forno de pedra de uma só câmara ou em câmaras separadas, com lume directo e temperatura elevada.Da olaria tradicional dos Açores destaca-se o talhão de Santa Maria que era o reservatório de água para toda a casa, o alguidar de Vila Franca que nas suas várias dimensões se adequa às mais diversas tarefas domésticas, a terrina de barro vidrado da Lagoa, de um branco amarelado e com ramagens a azul e a verde, destinada a ir à mesa com os tradicionais caldos e sopas mi-gadas e a sertã com a forma de um disco de barro grosseiro que é utilizada para fins culinários, principalmente como grelhador de pão, sendo mode-lada pelas mesmas mulheres que amassavam, tendiam e coziam o pão. As primeiras olarias fabricavam também a telha que nos séculos XV e XVI era empregue apenas nas casas dos fidalgos e nos templos. A generalização do seu uso remonta a meados do século XIX, altura em que surge a primeira fábrica de telhas e de tijolos nas imediações da cidade de Ponta Delgada. Até essa altura, a telha era proveniente da ilha de Santa Maria, juntamente com o barro em bolas que ia directamente para as olarias de Vila Franca.

CRAA

Através de registos historiográficos do século XVII pode-se constatar que eram já numerosos os oleiros existentes nos Açores. A alguns deles era atri-buída a designação de azuladores, provavelmente por aplicarem ao barro os desenhos em azul que caracterizam a louça desta Região. No entanto, não se encontra qualquer referência a louça ornamentada nessa época, mas apenas a algumas peças “almagradas” como panelas com asas, barris e tigelas. As primeiras referências à louça denominada da Vila Franca datam de 1710 mas é a partir do século seguinte que a louça fabricada nas ilhas dos Açores, especialmente a de S.Miguel, adquire a qualidade necessária para concorrer com a louça continental nas mais diversas exposições a nível nacional. São peças de faiança pintadas com flores e outros motivos vegetalistas esmalta-das de branco ou preto e apresentadas na forma de serviços de chá, de café, canecas, jarras e tinteiros.A escassez de matéria-prima nos Açores levou à distinção de dois tipos de louça: a vermelha vidrada, chamada de louça fina que era fabricada com materiais vindos da metrópole e a louça ordinária vermelha, não vidrada, fabricada com o barro de Santa Maria.O trabalho do barro implica o domínio de diversas técnicas: a preparação da pasta, genericamente designada por “amassar o barro”; a modelação, técnica ancestral dominada pelas ceramistas açorianas na produção de alguns utensí-lios domésticos como a sertã e as tampas de panela; a moldagem, tradicio-nalmente aplicada na produção de tijolo e de telha; o torneamento, apanágio do trabalho masculino, que permitia produzir maior variedade de utensílios

OlariaLeonor Brilha [Artista Plástica]

Paula Silva [Artesã]Meteoríto, 2008

Barro e fio Eléctrico | 42 x 42 cm

Já há muito tempo que faço artesanato com missangas e além do mais faço escultura. Encontrei no Azores Combo Art Camp a oportunidade de por em prática um sonho antigo, o de unir aqueles dois campos. Sempre pensei um dia fazer uma das minhas peças de pequeno formato, em grande, como Claes Oldenburg fez com os objectos do quotidiano. O meu projecto consistiu então em reproduzir em olaria as peças ( missangas coloridas ) que utilizo para fazer artesanato as quais foram posteriormente unidas com fio de electricidade.Foi uma experiência artística que se revelou muito enriquecedora. Conhecer a ilha de São Miguel, num ambiente artístico, de criação conjunta e de vivência colectiva diária foi uma experiência única. Poder trabalhar com outros artistas portugueses e estrangeiros, e conhecer as artesãs e artesãos convidados para o projecto, bem como as suas tradições envolvidas. Agra-deço desde já o apoio e troca de conhecimentos com a Paula, a artesã que trabalhou de forma dedicada na minha peça de cerâmica.

Leonor Brilha

Paula Patrícia Rego Silva, natural da Vila de Lagoa, artesã, dedica-se à actividade de olaria desde os 14 anos de idade. Aprendeu a trabalhar em barro na Cerâmica Vieira com os oleiros mais experientes. Exerce a activida-de artesanal à 15 anos.

Leonor Brilha, Licenciada em Artes Plásticas - Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa em 2006. Expõe em vários espaços em Portugal inclusive no Prémio Fidelidade Pintores 2004 na Culturgest Lisboa e Porto. Em 2007 expõe individualmente na Galeria Arte Periférica em Lisboa e na Cooperativa Comunicação e Cultura em Torres Vedras. Mais recentemente trabalha com a Galeria Arthobler no Porto e abra a sua empresa Galeria, Loja e Escola de Arte: Espaço Ponto e Vírgula, em Torres Vedras.

“Por bordado entende-se o lavor da agulha com que, sobre tecido ou ma-téria de fundo penetrável e preexistente, se aplica uma ornamentação com fios têxteis”. A esta definição de Calvet de Magalhães dever-se-ia acrescentar o bordado que emprega fios vegetais, abrangendo desta forma os três tipos do bordado açoriano já certificados: o bordado a palha de trigo da ilha do Faial, classificado como “bordado de fios contados”, o bordado a branco da ilha Terceira e o bordado a matiz da ilha de S. Miguel, classificados como “bordado livre”.Há muitos milhares de mulheres açorianas empregadas na produção de bordados para exportação, o que justifica a protecção da qualidade destes produtos, aos quais foi atribuído um selo de denominação de origem, dignifi-cando a sua presença no mercado nacional e internacional.O bordado a palha de trigo sobre tule negro, característico da ilha do Faial, é curioso e invulgar não tanto pela escolha do tecido, cuja origem remonta às primeiras indústrias europeias do século XVIII, mas pelo emprego de um fio vegetal. Nessa época, na corte de Napoleão, o tule era largamente aplicado em vestidos de baile bordados a ouro e prata. Na Península Ibérica, o tule serve de base aos célebres lenços de cabeça do traje das noivas de Viana do Castelo e às mantilhas espanholas.Segundo o Arquivo dos Açores, a inovação de bordar a palha terá chegado à ilha do Faial, ainda no século XVIII, sob a forma de um chapéu de senhora , de seda preta bordada a palha, proveniente dos E.U.A. mas de fabrico francês.

O elemento decorativo predominante neste tipo de bordado é a espiga de trigo, embora outros elementos vegetalistas e até figurativos façam parte dos desenhos escolhidos pelas bordadeiras faialenses.O reconhecido valor dos bordados dos Açores e o consequente volume de produção permitem manter nestas ilhas núcleos de trabalho permanente onde ainda se utilizam os processos tradicionais.

CRAA

Bordado de PalhaManuela Carneiro [Artista Plástica]

Maria Lúcia de Sousa [Artesã]Sweet Dreams, 2008

Tule e Palha | 130 x 102 cm

Maria Lúcia de Sousa, natural da freguesia de Pedro Miguel, concelho da Horta, artesã, inscrita no CRAA na actividade artesanal de “Confecção de Bordados”. Começou a trabalhar no bordado a palha com 13 anos de idade até aos nossos dias, mantendo viva esta tradição. Participa em várias feiras e exposições a nível regional, nacional e internacional. É formadora na área do bordado a palha, ensina a técnica de bordar a palha a todas as pessoas interessadas em aprenderem esta arte tão característica da Ilha do Faial (provavelmente o único local onde existem estes bordados). Tradicionalmente as aplicações do bordado a palha podem ser apreciadas em vestidos de baile, de noiva, xailes, echarpes, bolsas e outras peças. A beleza destes trabalhos e o fascínio, em que o brilho da palha sobressai no tule é reconhecido pela admiração das pessoas que frequentam as feiras e as exposições.

Alcina Manuela Carneiro, Licenciada em Artes Plásticas-Escultura no ano de 2006, pela FBAUP. Em 2004 inicia a sua parceria com a editora disco-gráfica Bor Land, na elaboração de capas das edições e packagings manuais para CD promos. Cria para o designer de moda, Ricardo Andrez, ilustrações para tecidos e recentemente objectos escultóricos para apresentação das colecções em passerele,(p)Lawyers A/W09- Moda Fad/Low Cost Barcelona e DREAMERS S/S10 Cibeles Madrid fashion week. Neste momento encontra-se a frequentar o Mestrado de Desenho e Técnicas de Impressão na FBAUP e desenvonve o seu projecto Caderno Diário.Vive e trabalha no Porto.

Granitos, folhas, espigas,amoras foram os termos que trouxe comigo deste artcamp. Reaprend-ios com a d. Lúcia, artesã com quem trabalhei durante a semana em S. Miguel, no contexto do bordado de palha. A d. Lúcia é uma pessoa extremamente generosa e não se inibiu nunca de se libertar das tradições que envolvem a sua arte, para de uma forma totalmen-te disponível aceitar o desenho estranho que levei para ser bordado. Um desenho fora dos seus padrões habituais,que ela percebeu de imediato e ao qual conseguiu na perfeição adaptar a linguagem tradicional que domina,os tais granitos, folhas, espigas e amoras. Graças a ela pude ver o projecto que me levou ao azores combo artcamp concluído e para ela o meu carinho.E porque foi uma semana recheada de contacto com outros e não aprendi apenas sobre bordado de palha, aqui fica um beijo a todos os outros arte-sãos, mais monitores e artistas que fizeram parte desta família divertida que formamos em S. Miguel.

Manuela Carneiro

dragoeiro, principalmente na ilha do Pico, onde a vegetação endémica é ainda abundante.Os capachos entrançados são normalmente feitos com espadana ou piteira seca e batida com um maço e apresentam-se na sua cor natural. É uma longa trança que lhes dá forma circular, oval ou rectangular, desenhando os mais diversos motivos geométricos, não raras vezes em espiral.A arte da capacharia, tal como muitas outras artes e ofícios tradicionais, seguiu um percurso nem sempre regular, conhecendo mesmo épocas em que a sua sobrevivência esteve em risco. Paralelamente à cestaria, desempe-nhou inicialmente uma função complementar à agricultura e adaptou-se às necessidades domésticas até ser substituída por novos materiais. Actualmente, a revalorização da produção artesanal por imposição dos actuais valores estéticos, culturais e ambientais deu novo vigor a uma arte que em meados do século XX parecia quase extinta. Assumindo uma função essencialmente decorativa e conservando as técnicas tradicionais, a capacharia apresenta algumas inovações: os tradicionais capachos ou esteiras transformam-se em isoladores para levar à mesa, em tapetes de parede, em centros de mesa, em carpetes e outros tantos artefactos que embelezam os tão apreciados ambientes rústicos.

CRAA

A agricultura fornecia indirectamente, mas em grande abundância, matéria-prima para os mais diversos artefactos, uns de natureza funcional como os capachos, as vassouras e os chapéus e, outros, de natureza decorativa como as flores e as bonecas de folhelho. Os capachos, em folha de milho, palha de trigo, espadana, ou até em folha de dragoeiro, representam uma arte tradicional e tipicamente açoriana de trabalhar as fibras vegetais. Apenas entrançados ou cosidos, eram utilizados como esteiras onde secavam os cereais,como carpetes onde as mulheres se sentavam a trabalhar ou como tapetes de ornamentação do interior da casa rural.Os capachos de folha de milho são os mais característicos da ilha de S. Miguel. A folha de milho era escolhida, separando-se a chamada folha branca que era seca e depois ripada, utilizando para o efeito uma tábua larga com cinco ou seis pregos grandes com a ponta virada para cima - o ripanço - com a qual se rasgava a folha em tiras muito fininhas, formando pequenos molhos, amarrados com fio de espadana para serem tingidos. Através de um processo caseiro que empregava anilinas adquiridas no mercado, tingiam-se as folhas com as cores garridas que sempre marcaram a tradição popular nos Açores: o cor-de-rosa, o verde e o amarelo.A folha de milho mais escura ou folha preta, era molhada para fazer a trança na qual se cosiam, com fio de espadana, as folhas brancas ou coloridas, dese-nhando motivos geométricos simples, mas muito coloridos.Pelo mesmo processo se confeccionam os originais capachos de folha de

CapachariaViktor Valášek [Artista Plástico]

João Andrade Jr [Artesão]Alvo, 2008

Espadana, Tinta Acrílica e Gesso Cartonado 140 x 157 cm

O meu ante-projecto procurava combinar as minhas pinturas de murais que executei recentemente no México e transformá-las utilizando a técnica da capacharia açoriana. Quando cheguei a São Miguel e tive um contacto mais próximo com a técnica decidi reformular o meu projecto inicial. Ao aperceber-me de que predomina a realização de capachos com forma cir-cular, pensei em criar um alvo grande. Pretendi exprimir o contraste entre a delicadeza do trabalho artesanal e a violência provocada com base no uso das armas, representada pelo alvo. No fim fiz uma grande cruz como sinal de negação de tudo.

Viktor Valášek João Andrade Júnior, natural da Vila de Água de Pau, trabalha em cestaria desde muito novo, aprendeu o ofício com o pai, João António Araújo Andrade, artesão inscrito no CRAA desde 1983. Já participou em diversas feiras, a nível regional e nas feiras do mercado da “Saudade”, Estados Unidos e Canadá.

Viktor Valášek 2004- Academy of Fine Arts, Prague2007- Academy of Arts, Architecture and Design in Prague2008- Faculdade de Belas Artes do Porto2009- Cooper Union, New York

O meu projecto tem como objectivo, trabalhar sobre as inequívocas belezas paisagísticas dos Açores, de celebrar o que é nosso, meditar sobre o seu valor e a sua preservação, algo que nos dias actuais é mais difícil do que possa parecer. Toda e qualquer beleza natural deve ser chamada aos pro-cessos criativos, sejam eles considerados “artes maiores ou menores”, pois considero que esta distinção não faz sentido contemporaneamente. Desde o modernismo que as artes populares são uma fonte de imensa inspira-ção e criação, nas ditas “artes maiores”. Exemplos da possibilidade dessa combinação são o casal Delaunay, que esteve refugiado em Portugal durante a I Guerra Mundial e que se deixou influenciar pelas nossas artes populares, ou hoje em dia o caso de alguns artistas como Joana Vasconcelos, ou Carla Cruz.Os caminhos são por isso variados e extremamente enriquecedores, quando combinados. É neste sentido que uso as fotografias que tirei em 2005, aquando da minha estadia em São Miguel, em que me senti verdadeiramente fascinado com a riqueza natural açoriana.Como a minha formação provem do Curso de Artes Plásticas – Pintura, da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, senti-me no dever de trabalhar plasticamente as imagens como faço com as minhas pinturas, mas ajustado ao trabalho em patchwork .

Luís Santos

Patchwork é uma palavra de origem inglesa que significa trabalho em reta-lhos. É uma arte muito antiga que consiste no corte de bocados de tecidos, em formas geométricas, ligando-as depois para formar uma superfície de mosaico. O trabalho mais antigo deste tipo foi encontrado na Índia e data de entre os séculos VI e IX.Mais tarde o patchwork estendeu-se a todos os países da bacia do Mediter-râneo, e através da Europa até à Inglaterra.Na América do Norte, esta arte fazia parte da vida doméstica e social desde que os colonos estabeleceram as suas casas na costa oriental da América. As condições de vida e os Invernos rigorosos contribuíram para o desenvolvi-mento do patchwork como forma de fornecer roupa de vestir e de cama, quente. Tradicionalmente as raparigas aprendiam a coser com 3 anos de ida-de e deveriam fazer 12 colchas para o seu enxoval. A 13ª era naturalmente a mais especial, a do casamento. Porém a superstição não permitia que uma rapariga trabalhasse na sua colcha de casamento, de modo que as amigas da noiva contribuíam com as diversas partes, ligavam-nas e ofereciam a colcha já pronta como prenda. Hoje em dia continua a ser uma forma de ocupar os tempos livres e de exercitar o talento artístico.

CRAA

PatchworkLuís Santos [Artista]

Gilberta Varão [artesã]Lagoa das Sete cidades, 2008

77,5 x 120 cm

Gilberta Varão Costa, natural da Vila de Lagoa, artesã inscrita no CRAA na actividade de “Confecção de Artigos para o Lar”, dedica-se essencialmen-te aos trabalhos de Patchwork. Aprendeu a actividade com a mãe quando apenas tinha 15 anos de idade. Faz trabalhos diversos, designadamente, colchas, pegas, abafadores, tapetes, saquetas de pão e outros. Participa em feiras regionais e em exposições.

Luís Filipe Santos, nasceu em Valongo, em 1981. Licenciado pela Faculdade Belas Artes da Universidade do Porto, em Artes Plásticas Pintura em 2006.Esteve ao abrigo do Programa de Erasmus na École Supérieure des Arts Décoratifs de Strasbourg – França, em 2003.Frequentou o curso de Produtor Multimédia na Alquimia da Cor em 2008/09. É desde 2005 docente de Pintura na Escola de Artes Utopia, Porto. Em 2003 trabalhou como assistente do Artista Plástico, Baltazar Torres.Desde 2004 tem trabalhado por diversas vezes como assistente do Artista Plástico, Domingos Loureiro.

O projecto a que me propus surge na continuação de um trabalho que tenho vindo a desenvolver na área do desenho e da escultura. Nestes trabalhos abordo a temática da família, do retrato colectivo, das memórias fragmentadas pelo instantâneo das fotografias. No desenho as composições, fortuitas ou intencionais, muitas vezes relegavam para fora do enquadramen-to algumas figuras; na escultura trabalhei com retalhos de bonecos cujas po-tencialidades plásticas conduziram à criação de figuras mais bizarras. O que nos desenhos expressa malícia nas esculturas torna-se violência, destruição.Em “Relicário” pretendi construir uma série de pequenas figuras em cerâ-mica, onde o universo das reuniões de família nos casamentos, as poses e cenários escolhidos para a fotografia, o clima de folia e as diferentes tensões mudas e latentes entre as personagens, servem de fundo conceptual ao trabalho. Queria que cada figura evocasse o carácter de culto, a aura dos brinquedos antigos, distantes ainda da produção em série. Brinquedos que, pelo seu cunho artesanal, se revestiam de uma importante forma de perpe-tuação de identidade cultural e tradicional.Escolhi a cerâmica figurativa porque me permite a fusão de dois processos essenciais ao meu trabalho, o carácter escultórico da matéria em transfor-mação, onde poderei aliar a modelação e a técnica cerâmica a outras maté-rias ( retalhos de bonecos, brinquedos, etc. ) e o sentido gráfico e minucioso do desenho.

Ana Torrie

“Esta é talvez a expressão mais popular e mais significativa nos Açores. São objectos para brinquedos, principalmente, personagens dos presépios e lapi-nhas, de tão profunda tradição no arquipélago. Pintados ou vidrados, repro-duzindo figuras de culto, bíblicas ou de quotidiano local, todas espelham uma ingénua e pura autenticidade, onde aflora a maneira de ser destas gentes. Deste figurado popular, que tem a particularidade de retratar várias épocas e situações diversas, deriva directamente o que, com carácter mais evoluído se tem vindo a afirmar, reproduzindo costumes açorianos, ou evidenciando toda a capacidade criadora dos ceramistas-escultores”

CRAA

Cerâmica FigurativaAna Torrie [Artista]

Eduardo Medeiros [Artesão]Relicário, Álbum de Família, 2008

Várias dimensões

Eduardo Manuel de Medeiros, natural da freguesia de S. Roque, concelho de Ponta Delgada, artesão, inscrito no CRAA desde 2005 na actividade artesanal de “Cerâmica Figurativa”. Bancário de profissão, após aposentação dedicou-se à cerâmica figurativa, executando figuras de culto, bíblicas ou do quotidiano de tamanho reduzido, espelhando uma ingénua e pura autenticidade. Participa em feiras e exposições regionais.

A arte de confeccionar flores artificiais, tal como outras artes e ofícios tradicionais dos Açores, foi implementada por religiosos vin-dos do Continente, sendo desde logo acolhida nos conventos onde floresceu graças à dedicação e minúcia das freiras que cultivavam o trabalho manual com o mesmo empenho com que desempenhavam as suas obrigações religiosas.As primeiras referências históricas fazem remontar a origem desta arte ao século XVII, altura em que, no convento de Santo André, na ilha de S.Miguel, se podiam apreciar as primeiras flores artificiais feitas com penas brancas dos patos reais. Já no século XIX, outros conventos da Ilha como o da Esperança em Ponta Delgada e o de Jesus na Ribeira Grande, cultivavam a arte de produzir flores artificiais a partir dos mais diversos materiais, atingindo larga projecção em várias exposições de Artes e Indústrias e até mesmo na Corte Régia, designadamente no reinado de D.João VI. Na Exposição de 1848, da iniciativa da Sociedade dos Amigos de Letras e Artes de Ponta Delgada, foram muitas as floristas concor-rentes, entre elas religiosas dos conventos, que apresentaram os seus trabalhos em ramos, flores isoladas, grinaldas e vasos floridos, segundo o que consta no catálogo da referida exposição.A produção de flores artificiais destinava-se principalmente à Igreja, para ornamentação de andores e altares. Na origem do seu uso

profano, estão pequenos cestos de miolo de figueira repletos de flo-res de penas, diversificando-se depois os materiais e a sua aplicação.Os materiais utilizados na confecção destas flores vão dos mais comuns como a lã, o pano, a seda, o papel e a folha de milho, aos menos vulgares como a cera, as conchas marinhas, o miolo de figueira, as penas, as escamas de peixe e até os cabelos.

Quando me apercebi, que havia uma técnica a concurso, com o nome “Flores Artificiais” fiquei surpreso e entusiasmado, isto porque desenvolvo um trabalho relacionado com plantas. E um pro-jecto para esta técnica seria um prolongamento a esse trabalho. A prinicipal premissa do meu projecto, foi representar plantas endémicas dos Açores. Uma área sobre a qual tinha pouco conhe-cimento. Comecei por fazer alguma pesquisa antes de partir, mas a bibliografia que encontrei resumiu-se a um livro. E assim senti a necessidade de encontrar alguém em Ponta Delgada que me orien-tasse na investigação, de maneira a que quando chegasse pudesse reunir o mais depressa possível, o material necessário para dar íni-cio á execução do projecto. Foi no Museu Carlos Machado através do Dr. João Paulo Constância, ao qual deixo desde já os meus agra-

Flores ArtificiaisNuno Santos [Artista]Olga Pontes [Artesã]

Herbário, 200842,5 x10 cm

decimentos, que encontrei a informação necessária, quer através de bibliografia, quer através da consulta ao Herbário do Museu. Pena que o tempo curto que tivemos para a execução dos projectos, não me tenha permetido organizar todo o material resultante da pesqui-sa, e exposto-o juntamente com o resultado final. Passando á execu-ção dos projectos, surgem os artesãos, e no meu caso a Dona Olga Pontes, á qual agradeço e mando um grande beijo pela sua imensa genorosidade, que compreendeu desde o ínicio o meu projecto, e que através do seu espírito didáctico, próprio da professora primá-ria que foi, me ensinava a técnica das escamas de peixe, escolhida para ser abordada em detrimento de outras técnicas. Entre várias discussões, sempre cordiais e em jeito de brincadeira, eu e a Dona Olga, fomos levando as nossas Flores a bom porto. O projecto inicial seria o de representar o maior número possível de espécies, mas desde o ínicio deparei-me com uma técnica de enorme minúcia e de alguma demora na execução. Daí que tenha limitado o projecto a três espécies, BELLIS AZORICA, TOLPIS AZORICA e VERONICA DABNEY. As interpretações destas três plantas são o resultado final da minha proposta, que para mim foi apenas um ínicio.

Olga Maria Cabral Ferreira Pontes, natural da freguesia da Matriz, con-celho da Ribeira Grande, artesã, inscrita no CRAA desde 1998 na actividade “Fabrico de Registos e Similares” e “Arte de Trabalhar Escamas de Peixe”. Exerceu o Magistério Primário. Após a sua aposentação dedicou-se exclusi-vamente à arte de registos e de trabalhos em escama de peixe e à cerâmica, executando trabalhos que enriquecem o património do artesanato açoriano. Participa em exposições e em concursos regionais.

Nuno Henrique dos Santos, nasceu no Funchal em 1982. É licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Foi assis-tente de produção da Porta 33 em 2008 e participou na exposição colectiva intitulada “Linha de Partida”, comissariada por Alexandre Melo, no Centro das Artes Casa das Mudas em 2009.Através da Bolsa de Estudo da “Porta 33” está inscrito, desde Março de 2009, no Programa de Projecto Individual do Ar.Co.- Centro de Arte eComunicação Visual, em Lisboa.

A variada vegetação que cobre todo o arquipélago, além de o colorir de um verde intenso, proporciona, abundante e diversa matéria prima, com que se fazem um conjunto vasto de artefactos.As arbustivas, as gramíneas e outras espécies de pequeno porte colaboram no enriquecimento do artesanato açoriano, já que utilizando as suas fibras se fazem artefactos, utilitários ou decorativos, de grande importância para o quotidiano local. Engenho e arte não faltam aos artesãos ilhéus para as transformarem em produtos de qualidade e grande atracção. Os artefactos feitos com estes materiais são alguns dos mais belos testemunhos dos ines-gotáveis dotes de que estão possuídos os artesãos açorianos.É o caso das bonecas de folha de milho. Enlevo das crianças pouco abastadas, fazer estas bonecas requeria, apenas, um pouco de folhedo e barba de milho e a habilidade bastante para lhes dar forma imitativa de pequenos seres.O natural gosto dos açorianos pela perfeição haveria de, progressivamente, as transformar, introduzindo-lhes novos pormenores de enriquecimento, feitos com auxílio da tesoura, cola, agulha e tingimento.Hoje, apresentam-se como figurinhas de grande perfeição, vestindo a precei-to roupagens coloridas que, aliando a tradição e modernidade, as transfor-mam em artefactos decorativos de atractiva apresentação.

CRAA

Não... não se trata de uma afirmação, mas sim, de uma simples questão im-

Folha de milhoFernando Almeida [Artista]

Belmira Barbosa [Artesã]Ícaro, 2008

300 x180 x 50 cm

pertinente: quantos de nós querem ver o mundo do ar, ou talvez de pernas para o ar?O trabalho tinha uma necessidade antropológica de ver o artista relacionado com os habitantes micaelenses, de modo a perceber até que ponto as velhas mitologias gregas ainda desafiam os nossos dias.Um simpósio, na verdadeira ascensão da palavra, que reuniu novos e velhos, artistas e artesãos, indígenas e forasteiros, ideias, discussões e actos.

Fernando AlmeidaBelmira Isabel Barbosa, natural da freguesia da Relva, concelho de Ponta Delgada, artesã, inscrita neste Centro Regional desde 1983, na actividade de “Confecção de Bonecos de Pano”, “Confecção de Artigos para o Lar”. Aprendeu estas actividades com a sua mãe, quando tinha apenas 7 anos de idade. Participa em feiras regionais e exposições. Elabora vários artigos artesanais, designadamente, bonecos de pano, pegas, abafadores, trabalhos em folha de milho e outros.

Fernando Almeida, nascido em Braga em 1984, curso de História da Ar-quitectura em 2005 no Museu Nogueira Silva, Universidade do Minho (não corresponde a licenciatura), Licenciado em Artes Plásticas – Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2007. Desenvolve trabalho como artista plástico, expondo colectiva e individual-mente desde 2006. Vive e trabalha em S. Víctor, Porto.

Sempre considerei a proposta como forma de divulgação do artesanato das ilhas a par das possibilidades de renovação desse mesmo processo. A simbiose laboral entre os “artesãos” e os “jovens artistas” (como decidiram denominar os campos) tornou-se, portanto, algo exequível.Então, esse interessante conjunto de pessoas foi descobrir ou rever os meandros escondidos de São Miguel; parabéns ao Jorge Mal-Amanhado que tão bem nos recebeu. Após tal jornada começou o trabalho:Trabalhei com a Aurélia, que se mostrou atenta à proposta, tentando sempre que possível elucidar-me sobre a técnica. Houve alguns percalços durante a elaboração da pintura sobre azulejo; ocorreram adaptações no projecto de-vido a impossibilidades temporais, outras relativas à escassez dos pigmentos. Considero que tal desvalorizou a peça final.Estando actualmente a trabalhar com pintura em azulejos na cadeira de cerâmica da faculdade, apercebi-me que as possibilidades do mesmo vão muito além do que realizei no Azores ArtCamp. Acrescento que, contudo, se não fosse esse primeiro contacto, talvez não me tivesse lançado a este novo projecto. Interessante o diálogo entre diferentes gerações, com o mesmo gosto pela manipulação da matéria, com sensibilidades aprimoradas e, por vezes, com-plementares. Também interessante a capacidade de manter a curiosidade por certas pessoas que participaram no Concurso.

A azulejaria no arquipélago é de aparecimento recente mas, nem por isso, de menor interesse, tanto mais que evidencia a aproximação ao Brasil, gerada pela imigração.Utilizando a estampagem manual ou o molde, as primeiras unidades produ-tivas de São Miguel criaram azulejos relevados, onde a flor de lis era motivo de eleição, tal como o azul e amarelo eram as cores preferidas para os azulejos de estampilha. Herdeira desta tradição, a actual azulejaria artesanal açoriana é um produto de qualidade, resultante do grau de apuramento de técnicas e aptidões, que transparecem nos azulejos de marcado bom gosto e equilíbrio, saídos das mãos hábeis dos artesãos ilhéus.

Tive conhecimento do concurso no jardim da Faculdade que frequento, Belas-Artes do Porto. Fiquei desde logo entusiasmada com a possibilidade de poder explorar a técnica de azulejaria, bem como revisitar a ilha de São Miguel. Sendo assim, aliando as impressões transformadoras da Natureza nessa ilha a um projecto de azulejaria, fundamentei o ante-projecto. Surgiu após investigação das figuras de convite da azulejaria barroca portuguesa. O “Homem-Verde” convida-nos a penetrar na Natureza, conhecer os seus segredos, para assim renovarmos a nossa consciência como seres vivos. Espanto ao receber notícia da minha selecção, espanto ao voar no aviãozito ao encontro de uma Ponta Delgada com seus habitantes.

Pintura em AzulejoMariana Barrote [Artista]

Aurélia Rocha [Artesã]Homem Verde, 2008

105 x 165 x 2 cm

Maria Aurélia Ribeiro Rocha, natural das Cinco Ribeiras, concelho de Angra do Heroísmo, artesã inscrita no CRAA desde 1985 na actividade de cerâmica. Após a frequência de acções de formação em olaria e azulejaria no ano de 2000, dedicou-se a tempo inteiro nas três actividade, nomeadamente, cerâmica, azulejaria e olaria. Constituiu a sua Unidade Produtiva Artesanal, trabalha por conta própria, onde fabrica e comercializa os seus produtos de cerâmica utilitária. Participa em diversas formações profissionais relaciona-das com a sua área. Participa em feiras regionais, nacionais e internacionais e em diversas exposições onde promove a sua actividade artesanal numa perspectiva de recuperação da produção artesanal da louça da Terceira.

Mariana Ribeiro Barrote, nasceu a 19 de Fevereiro de 1986 em Fão, no Minho. Finalista do curso de artes-plásticas, ramo pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Projectos futuros: construir cabana para o filho que aí vem.

A técnica de “armar”um cesto passa por várias fases: o fundo, feito a partir de uma cruz de dezasseis vimes; a rodilha do fundo, que se faz com trinta e dois vimes e serve para aguentar as “costas”ou “trinchões”; o andaime,em que se puxam as “costas” ligeiramente para fora e , assim, ir alargando o cesto; a rodilha do cesto com que se remata a obra. Difícil é estabelecer uma tipologia para a cestaria açoriana, já que cada ilha do Arquipélago apresenta as suas diversidades regionais. Comum a todas as ilhas e testemunho valioso da cestaria tradicional dos Açores, do ponto de vista histórico, é a “sebe”do carro de bois.De entre os cestos mais comuns, contam-se o “cesto da leiva”ou “cesto de vindima”, redondo, grande e grosseiro, de bordadura reforçada para transporte em carroça; o “cesto de acarrear”, baixo, largo e forte, com duas asas no bordo, usado nos trabalhos agrícolas; o “seirão”, cilíndrico, grosseiro e alto que, aos pares, é transporta-do por animais com produtos agrícolas;o “balaio”,cesto para roupa ou pão em dias de matança, típico do Faial e da Graciosa;o cesto oval e comprido com asa,característico de S.Miguel; cesta rectangular com tampa e asa; cesti-nho redondo com asa.

CRAA

VimesVicent Mátamoros [Artista]

Alcino Andrade [Artesão]Escultura Sonora, 2008

180 x 200 x 144cm

As fibras vegetais constituiram, tal como a madeira, um dos primeiros recursos naturais ao alcance dos povoadores do Arquipélago dos Açores. Facilmente se obtinham fios a partir dos ramos ou da casca de árvores e arbustos, com os quais se confeccionavam cestos e esteiras que iriam auxiliar as actividades agrícolas que faziam parte do quotidiano nestas ilhas. De entre as fibras endógenas, contam-se o junco, a cana bambu, a espadana e o vime. De entre os variados objectos produzidos a partir das fibras vegetais, os cestos assumem o principal papel, quer por razões históricas, quer por razões culturais. Diversas são as formas dos cestos, as técnicas de confecção, os materiais empregues e as utilizações que deles se fazem. Se inicialmente se associava a forma à finalidade para a qual era criado o cesto, a função predominantemente decorativa que hoje assume, deu origem à diversifi-cação dos modelos. Podemos, no entanto, identificar dois aspectos que se mantêm inalteráveis: a técnica de começar por definir o fundo do cesto e as características do meio ambiente que permitem distinguir, neste caso, a cestaria tradicional dos Açores.Aqui, predomina a técnica do vergado em que o vime é entretecido manu-almente (a palha flexível pode ser tecida no tear) em espinha, em cruz, em diagonal ou na horizontal. As principais ferramentas utilizadas são a vulgar tesoura de podar; a fouce, que é uma lamina com a ponta curva para rachar troncos; o furador; o maço e a cunha com que se abrem espaços para ajudar a entretecer ou a introduzir as asas.

Azores Combo ART CAMP, é muito difícil expressar o que senti durante este evento, já que a minha forma de expressão mostra-se com volume e não com palavras. O que não tenho certeza é se marcou antes ou depois do trabalho que foi realizado, uma vez que, já que apliquei uma nova técnica ao meu leque de possibilidades.Esta técnica foi desenvolvida no decurso de um ano e adaptada à fundição com bronze criando a base a partir de vime.Nunca havia chorado ao ir embora de um lugar mas, não sei se de alegria pelo que havia passado ou tristeza por não saber se um dia voltarei.

Vicent MatamorosAlcino Andrade, natural da Vila de Água de Pau, trabalha em cestaria des-de muito novo, aprendeu o ofício com o pai, João António Araújo Andrade, artesão inscrito no CRAA desde 1983. Tal como o irmão já participou em diversas feiras, a nível regional e nas feiras do mercado da “Saudade”, Esta-dos Unidos e Canadá.

Vicent Mátamoros