coletânea de contos vários autores - perse.com.br · mente, do seu coração, e de deus nosso...
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Coletânea de contos
Vários autores
Cartas do Pequeno Imperador Vol 1: feito por Elas
©2015 Vários autores Contato: http://cartasdopequenoimperador.blogspot.com http://facebook.com/gloriosoimperiobrasil Edição, Diagramação e Arte: Eber Josué Impressão e acabamento:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Cammarota, Bianca Cidreira et al.
C184c Cartas do pequeno Imperador (Vol 1 - fei-
to por Elas) / Bianca Cidreira Cammarota [et
al.] – Três Corações: Eber Josué Dias de O-
liveira, 2015.
154 p.
ISBN 978-85-8196-956-5
1.Literatura brasileira. 2.Ficção.
3.Contos brasileiros. 4.História do Brasil.
5.Brasil Imperial. 6.Dom Pedro II. I. Eber
Josué, org. II. Série Glorioso Império do
Brasil. III. Título.
CDD: B869.3
CDU: 82-3 / 82-92/94
Índices para catálogos sistemáticos
1.Literatura brasileira: 869.3
2.Ficção : Contos brasileiros: 869.308
Todos os direitos reservados.
É proibida a reprodução deste livro com fins comerciais sem prévia autorização dos respectivos autores.
Coletânea de contos
Vários autores
Cartas do Pequeno Imperador Vol 1: feito por Elas
1ª Edição
Três Corações-MG
Abril de 2015
PREFÁCIO
Ao ser convidada para escrever o prefácio deste
livro, aceitei de pronto. Para mim é uma honra fazer
parte de uma obra organizada por meu grande amigo e
escritor Eber Josué, cujo senso crítico já evidencia o alto
grau de qualidade contida nos contos selecionados e in-
cluídos nesta coletânea. Além disso, chamou-me muito a
atenção, em diversos textos, o teor literário voltado para
o público infanto-juvenil, educadora que sou de um pú-
blico alvo também nessa faixa etária.
Sinto-me lisonjeada em apreciar esta obra, que
reúne várias autoras de portes elevados.
O livro “Cartas do pequeno Imperador” trata-se
de contos fictícios sobre a infância do Dom Pedro II, ór-
fão de mãe com apenas um ano, de pai aos oito, e desti-
nado, desde os cinco anos, a ser o Imperador de um país
gigante como o Brasil. Uma literatura envolvente que
nos levará a conhecer diversas formas de pensamentos e
descrições.
Uma obra direcionada a todo público que deseja
enriquecer seus conhecimentos e viajar no imaginário
mundo Real, que é esta coletânea tão bem escolhida e
desenvolvida com dedicação e carinho.
Acredito que todo escritor tenha sua peculiarida-
de ao descrever suas ideias e pensamentos, e quando
mergulhamos em seus escritos desvendamos a particu-
laridade de cada um.
Como disse a escritora Clarice Lispector, no seu
livro Água viva, “Sou um coração batendo no mundo”.
Você concordará comigo, leitor, que cada uma das escri-
toras desta coletânea é um coração batendo no mundo. E
são esses corações pulsantes que mantém viva a nossa
paixão pelos livros e pela literatura.
IVY JATOBÁ
Educadora
ÍNDICE PREMIADOS
Ana Luiz 9
Sua Majestade, meu pai
Anatieli Fiabane 25
Os pés descalços de Esmeralda
Anna Julia Dannala Franco de Souza 36
Conselho de amigo
Bianca Cidreira Cammarota 41
A mim mesmo
Caroline da Cruz Alias 53
A carta profética
Maria Angelica Ferrasoli 61
Pedro e Julio
Maria José Rodi Passerino 69
As jóias de Rebeca e o Pequeno Imperador
Mirian Rodrigues Aud 78
A última carta de um menino
Nana Rodrigues 91
Protocolo 192: comunicado à Família Real
Neyd Montingelli 97
Um segredo só nosso
MENÇÕES HONROSAS
Ana Lygia 112
Cantiga de leite e de fé
Grasiela Elenice Stoffel 119
Leopoldina e o Imperador
Isa Rita 133
Sou criança e não abro mão disso...
Letícia Magalhães 140
Entre cartas e diários
Cartas do Pequeno Imperador – Vol 1: feito por Elas
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Ana Luiz [Lousa, Loures, Lisboa, Portugal] Nascida em Vendas Novas, Portugal, no ano de 1974, é Licenciada em Psicologia Aplicada e Mestre em Informática, atuando na área bancária. Duas das suas grandes paixões são a leitura e a escrita. Contudo, só em 2012, quando a sua situação profissional e acadêmica o permitiram, dedicou-se mais seriamente a esses hobbies. Fundou o blogue literário “Linked Books”, do qual é coadministradora, publicou um livro a solo, intitulado “O Quebra-Montras” e participou com diversos contos em antologias e revistas. Recentemente, obteve o 2º prémio no IV Concurso Internacional de Contos Vicente Cardoso, na categoria de autor interna-cional.
Sua Majestade, meu pai
Rio de Janeiro, 25 de Fevereiro de 1834
«A Sua Digníssima Majestade, meu querido Rei, meu pai. É
com grande alegria que vos escrevo, sabendo-o de boa saúde em
terras da Europa. São enormes e dolorosas as saudades que de si
guardo, mitigadas, apenas tenuemente, por suas tão aguardadas
epístolas que velo como tesouros.
Apesar de aspirar o momento em que voltarei a estar em
Sua nobre presença, saiba que entendo e reconheço no nosso
afastamento, a sagrada mão de Nosso Senhor. Sua Majestade
certo dia me escreveu: “Os nossos destinos enquanto homens, são
ditados por um destino de força maior, o de sermos reis dos ho-
mens”, e abraço esse propósito de vida, com extrema seriedade.
De olhos postos no futuro, apesar das atribulações e difi-
culdades próprias de minha idade, tenho-me dedicado de corpo e
alma aos estudos, sob a perene supervisão de meu respeitável
tutor D. José Bonifácio. Sobre a natureza dessas dificuldades,
gostaria de lhe solicitar que com elas não se apoquente. São irri-
Vários autores série ‘Glorioso Império do Brasil’
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sórias e residuais, e atribuo-as ao facto de, apesar do grandioso
destino que o futuro me reserva, ser, na presente data, ainda um
infante.
Não me afligem as intrigas palacianas e as disputas políti-
cas, a que meu Pai se referiu na sua prévia carta. Imerso no estu-
do, procurando apreender todas as ferramentas que o glorioso
ofício de imperador me exigirá, essas questões, não me provocam
vigília nas preciosas horas de descanso.
Confesso meu Pai, contudo, que sinto que as horas de des-
canso não me repousam suficientemente, apesar de as cumprir
rigorosamente, como é Seu conselho e ordem. O cansaço acom-
panha-me muitas vezes, impedindo-me a tão necessária concen-
tração que as disciplinas de estudo exigem. Contudo, a ninguém
mais que à minha pessoa poderei atribuir o ónus desta ocorrên-
cia, o que me causa grande angústia. Por tal, por mo terdes per-
guntado, e por desejar seu conselho, lho quero confessar, meu
pai.
Acontece que, uma grande novidade tem ocupado os meus
mais profundos pensamentos, apesar de saber errado, ocupar-me
de tão trívias conjecturas. O Senhor Rafael, nosso estimado amigo
e meu protector, descobriu há poucas semanas, umas grutas,
dentro da nossa propriedade. A entrada agora descoberta, havia
estado camuflada entre árvores doentes que foram abatidas. Ra-
fael tem procedido a averiguações, durante as horas das minhas
lições. Suspeito que terá tido instruções, não sei se suas, para não
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me revelar notícias sobre essa exploração, apesar de lhas solicitar
amiúde.
Se tal é verdade, desde já me desculpo, meu pai. Acatarei
sua decisão com tranquilidade, e esquecerei o assunto. Mas vejo-
me actualmente absorto no imaginário, sonhando agitadamente
que o acompanho. Não o faço conscientemente, mas como já lhe
referi, meu pai, temo que seja a minha condição de infante, que
me induz nestas divagações.
Peço-lhe pois, conselho sobre este assunto, que é o único
que me atormenta, desculpando-me por ocupar seu tempo com
estas fúteis atribulações.
Seu filho que o respeita e adora,
Infante Pedro.»
Paris, 29 de Abril de 1834
«Meu mui querido e respeitado filho Pedro. Estimo que se
encontre bem de saúde, e a progredir nos seus estudos. Tenho
recebido excelentes notícias de seu estimado e responsável tutor,
e bem vejo em suas cartas como tem evoluído, o que mui me a-
praz. Toda sua conduta tem sido largamente comentada e elogia-
da. Sinto-me abençoado por, apesar da nossa forçada distância,
sabê-lo conduzir-se honradamente nos planos que Deus para si
traçou. Seu pai sente-se deveras orgulhoso de si, e faz votos para
que o tempo e a distância se encurtem, permitindo que estejamos
frente a frente num futuro breve.
Vários autores série ‘Glorioso Império do Brasil’
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Folgo sabê-lo distante das intrigas palacianas, uma vez que
a sua condição entre tantas influências e pressões me preocupa. A
sua mente deve estar livre de mesquinhas intrigas de poder e
influências. Todas as cortes e todos os palácios reais, são invaria-
velmente assaltados por essa praga. É meu conselho para si, meu
filho estimado, para agora e no futuro, se mantenha sempre tão
próximo quanto afastado de tais malefícios. Próximo no conhe-
cimento, pois deverá conhecer tudo, o que de mau e de bom se
move no seio de sua corte, sejam elas pessoas ou ideias. Afastado,
para que delas possa ter uma melhor compreensão e agir sempre
em consonância, sem sofrer influências que não sejam as da sua
mente, do seu coração, e de Deus Nosso Senhor.
Quanto ao assunto que o atormenta meu filho, tomei pro-
vidências para que lhe seja permitido acompanhar Rafael no re-
conhecimento das recentemente descobertas grutas. Acompanha
esta carta, outra, para que ele leia de minha pena, a autorização
necessária. Ficará o documento com o selo real, que poderá apre-
sentar a José Bonifácio, seu tutor, e a Mariana Carlota, sua da-
dama e extremosa aia, caso seja levantada qualquer objecção.
Devo-lhe dizer, meu filho, que não encaro a sua vontade de a-
companhar Rafael, apenas como um capricho infantil. Orgulha-
me que o queria acompanhar, pois nem todos os homens têm a
coragem e a fibra para se aventurarem a locais onde a outros tre-
mem os joelhos. Sinto pois, que essa sua coragem, é mais uma
das suas grandes qualidades, e que virá a revelar-se-lhe valiosa no
futuro. Por outro lado, dar-lhe-á um pouco de actividade ao ar
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livre, o que fortifica qualquer rapaz, seja ele rei ou peão. Aviso-o
contudo de que deverá seguir escrupulosamente todas as indica-
ções de Rafael, sob pena de eu cessar esta autorização.
Esperando que esta decisão vá ao encontro dos seus dese-
jos, os votos sinceros de saúde e paz, seu pai,
Sua Majestade Dom Pedro I»
Paris, 29 de Abril de 1834
«Meu estimado amigo Rafael,
Espero que esta carta o vá encontrar bem de saúde. Escre-
vo-lhe em primeiro lugar para agradecer a sua excelência, en-
quanto amigo e protector do pequeno D. Pedro. Sei que a amizade
que me dedica se estende a nosso infante, e tal tem transparecido
na formação de um carácter instruído e sensato, mas também
nobre e corajoso. A minha gratidão para consigo será eterna.
Serve esta carta em especial, para lhe autorizar que meu fi-
lho Pedro o acompanhe nos trabalhos que tem desenvolvido nas
recentes grutas descobertas, sobre as quais já me havia feito rela-
tório. Agradeço-lhe essa sua preocupação em relação à segurança
palaciana, tão fundamental, para que a paz de espírito reine sobre
todos. Concordo com o conteúdo da sua última carta, em que
expõe a ameaça que representa a existência antes ignorada, de
cavernas nos domínios. Poderia, por certo, ser uma circunstância
infeliz, que sendo descobertos por ladrões ou assassinos, a vida de
todos, mas em especial do pequeno rei, poderia correr grande
perigo.
Vários autores série ‘Glorioso Império do Brasil’
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Esses trabalhos contudo, têm suscitado a imaginação do
pequeno Infante, o que louvo, pois prova tratar-se de um rapaz
vigoroso, e de coragem. Também demonstrou a sua persistência e
determinação ao fazer-me tal pedido, apesar, de segundo me foi
informado, terem-lhe sido proibidas tais actividades por parte de
seu tutor.
Sei que Rafael não aprecia o tutor do menino Pedro, mas é
inegável que Bonifácio tem feito um trabalho notável e magnífico,
e isso bem se demonstra pela qualidade de vocabulário e de pen-
samento nas cartas que meu pequeno Rei me escreve. Porém,
conter uma criança sempre no estudo, poderá ter resultados ne-
fastos, na sua vida futura. Assim, e no sentido de incutir peso no
outro prato da balança, permito que Pedro o acompanhe não
mais que uma hora, todos os dias. Nosso infante recebeu instru-
ções para lhe obedecer cegamente, pelo que não prevejo proble-
mas, dado tratar-te de um rapaz íntegro, cuja palavra sempre tem
cumprido.
Prevejo grandes benefícios para o pequeno, em acompa-
nhá-lo. Não só de ordem recreativa e de actividade fora das salas
palacianas, mas também de reforço de seu carácter. Qual o rei
que não retira benefícios em se deixar ensinar por um valente e
corajoso soldado, como é o meu mui amigo Rafael?
Despeço-me, agradecendo-lhe, seu Rei e eterno amigo,
Sua Majestade Dom Pedro I»
Rio de Janeiro, 2 de Junho de 1834
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«A Vossa Digníssima Majestade,
Escrevo-lhe na esperança de se encontrar bem, e com o co-
ração condoído de não o poder acompanhar nas suas andanças
por terras da Europa. Sou seu soldado e amigo, e o senhor, é mi-
nha majestade e meu rei. É pois o meu lugar, ao seu lado, e la-
mento esta forçada distância a que estou obrigado, não mo per-
mitir ocupar. Não hesite em mandar-me chamar, caso lhe possa
ser útil.
No entanto, saiba que adopto o dever que me imputou com
aprazimento, e lhe dedico de bom grado, todos os minutos das
minhas horas. Juro-lhe meu Rei, que não abandonarei a beira do
menino Infante, enquanto eu deixar entrar o ar neste peito bati-
do, nem que ele próprio mo ordene. Também eu me orgulho do
homem em que o menino se transforma dia-a-dia, e tenho fé que
se tornará em breve no grande Imperador que o nosso Brasil tan-
to carece. Quanto ao menino acompanhar-me nas grutas, será um
privilégio tomá-lo ao meu cuidado. Não vejo inconveniente na sua
presença, pois é já seguro que as cavernas não escondiam qual-
quer intenção de malfazer às gentes do palácio.
As cavernas são muito profundas, mas não são construções
humanas, nem existem nelas ligações para fora dos limites da
propriedade real, que pudessem servir de brecha para qualquer
invasão premeditada. São verdadeiramente magníficas e dignas
de exploração cuidada. Tenho-me deslumbrado com várias mara-
vilhas naturais, algumas de não fácil acesso, e estou certo que o
nosso futuro rei, encontrará nelas diversão, e terá um campo de