coleta de sedimento e prospecÇÃo - antônio santos, adson benevides e benedito cruz

6
COLETA DE SEDIMENTO NO TANQUE PALEONTOLÓGICO JIRAU I E PROSPECÇÃO AOS MONÓLITOS DE GRANITO NA REGIÃO DO ENTORNO DO TANQUE PALEONTOLÓGICO JIRAU II, MUNICÍPIO DE ITAPIPOCA-CE Antônio Sílvio Teixeira dos Santos – [email protected] ; Adson Soares Benevides – [email protected] ; Benedito Freire Cruz – [email protected] – Museu de Pré-história de Itapipoca – MUPHI O Museu de Pré-história de Itapipoca foi contemplado para o ano de 2012 com um edital do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM – para renovação de museus. Uma das etapas desse projeto será a capacitação de vinte estudantes do curso de biologia da Universidade Estadual do Ceará – UECE/FACEDI – campos de Itapipoca, e da Universidade Vale do Acarau – UVA – através do Instituto Vale do Acarau – IVA. Para tanto tornou-se necessário a retirada de sedimento do Tanque Paleontológico Jirau I, visando utilizar esse sedimento durante o processo de preparação de fósseis, sendo que esse sedimento será utilizado didaticamente para que esses estudantes entendam como se faz a higienização, secagem, identificação, colagem, endurecimento, tombamento, armazenamento e exposição de fósseis e material arqueológico. O Tanque Paleontológico Jirau I foi escolhido devido já estar escavado cientificamente até o nível fossilífero, sendo que este tanque também já está perturbado devido à escavação de cacimbas pelos moradores locais. Consideramos que a retirada de sedimento desse tanque não interferirá nas pesquisas futuras nas áreas de paleontologia e arqueologia, além disso, esse tanque vem servindo de “oficina” para os membros do MUPHI no que diz respeito a técnicas de escavação paleontológica desde o ano de 2005.

Upload: arqueologia-digital

Post on 26-Jul-2015

135 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

COLETA DE SEDIMENTO NO TANQUE PALEONTOLÓGICO JIRAU I E PROSPECÇÃO AOS MONÓLITOS DE GRANITO NA REGIÃO DO ENTORNO DO TANQUE PALEONTOLÓGICO JIRAU II, MUNICÍPIO DE ITAPIPOCA-CE

TRANSCRIPT

Page 1: COLETA DE SEDIMENTO E PROSPECÇÃO  - Antônio Santos, Adson Benevides e Benedito Cruz

COLETA DE SEDIMENTO NO TANQUE PALEONTOLÓGICO JIRAU I E PROSPECÇÃO AOS MONÓLITOS DE GRANITO NA REGIÃO DO ENTORNO DO TANQUE PALEONTOLÓGICO JIRAU II, MUNICÍPIO

DE ITAPIPOCA-CE

Antônio Sílvio Teixeira dos Santos – [email protected]; Adson Soares Benevides – [email protected]; Benedito Freire Cruz – [email protected] – Museu

de Pré-história de Itapipoca – MUPHI

O Museu de Pré-história de Itapipoca foi contemplado para o ano de 2012 com um edital do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM – para renovação de museus. Uma das etapas desse projeto será a capacitação de vinte estudantes do curso de biologia da Universidade Estadual do Ceará – UECE/FACEDI – campos de Itapipoca, e da Universidade Vale do Acarau – UVA – através do Instituto Vale do Acarau – IVA. Para tanto tornou-se necessário a retirada de sedimento do Tanque Paleontológico Jirau I, visando utilizar esse sedimento durante o processo de preparação de fósseis, sendo que esse sedimento será utilizado didaticamente para que esses estudantes entendam como se faz a higienização, secagem, identificação, colagem, endurecimento, tombamento, armazenamento e exposição de fósseis e material arqueológico.

O Tanque Paleontológico Jirau I foi escolhido devido já estar escavado cientificamente até o nível fossilífero, sendo que este tanque também já está perturbado devido à escavação de cacimbas pelos moradores locais. Consideramos que a retirada de sedimento desse tanque não interferirá nas pesquisas futuras nas áreas de paleontologia e arqueologia, além disso, esse tanque vem servindo de “oficina” para os membros do MUPHI no que diz respeito a técnicas de escavação paleontológica desde o ano de 2005.

Foram escolhidos dois pontos diferentes do tanque para a coleta de sedimento:

Porção Central: a escolha deste ponto se deu devido a atual condição em que se encontra o sedimento, estando ele rachado, a maneira característica de lagoas e açudes secos no Nordeste brasileiro. Essas rachaduras na argila facilitam a retirada de pequenos bloco entre três e cinco quilos, tamanho e peso ideais para transporte e armazenamento. Durante a retirada do sedimento foi encontrado um úmero de

Page 2: COLETA DE SEDIMENTO E PROSPECÇÃO  - Antônio Santos, Adson Benevides e Benedito Cruz

Eremotherium laurillardi (preguiça gigante) e, junto a ele, um artefato lítico de quartzo lascado. O que impressiona neste achado é a proximidade das peças, que quase se tocam. Somente um artefato arqueológico foi encontrado nesse local. O úmero foi retirado em fragmentos mas em ótimo estado para a restauração futura.

Extremidade Oeste: o segundo ponto foi escolhido devido apresentar vários fósseis expostos e material lítico também exposto e descontextualizados. Ali foram coletados fósseis que já estavam expostos ha seis anos, sendo que os mesmos já vinham sofrendo ação de pisoteio e por isso se encontravam bastante fragmentados e deteriorados, ainda assim os fragmentos

foram retirados em bom estado para a restauração futura. Nesse ponto também foram encontrados 51 artefatos líticos de quartzo lascado, que vão de bifaces (machadinhas de mão) a pequenos cortadores

(instrumentos de corte de precisão) de meia polegada, além de 06 líticos de sílex lascado, a maioria cortadores.

Ao todo foi retirado do Tanque Paleontológico Jirau I aproximadamente 100kg de sedimento, incluindo-se nesse peso total os fósseis individuais e líticos.

Na segunda etapa desta pesquisa procuramos fazer uma prospecção nas circunvizinhanças do Tanque Paleontológico Jirau II, dentro da mesma área e do mesmo contexto paleontológico e arqueológico. Essa prospecção foi intencionada pelo interesse de identificar novos sítios arqueológicos com pintura ou inscrição rupestre, além de nosso compromisso de manter uma constante e periódica vigilância sobre esse raro, frágil e indefeso patrimônio científico (costumamos fazer essas vistorias nas três regiões geográficas de Itapipoca: serra, sertão e praia, para evitar depredações, saques e contrabando desse material, é uma obrigação que já veio embutida em um artigo da Lei Municipal 52/2005 que criou o MUPHI). Identificamos enormes fraturas em um grande monólito de granito a Oeste do Tanque Fossilífero Jirau II, essas fendas certamente serviram de abrigo para as antigas populações que deixaram os vestígios de sua passagem dentro dos taques da área. Junto a estas fendas estão espalhados alguns artefatos líticos de quartzo lascado, indicando uma oficina lítica.

Seguimos até o entulho do tanque Bãinha, a Oeste do Jirau II. Lá encontramos, no sedimento retirado daquele tanque, 03 fragmentos de cerâmica indígena Tapuia, sendo que são fragmentos de objetos diferentes, pois a textura, cor e espessura se diferem uns dos outros, além de 08 líticos de quartzo lascado, que vão de bifaces a

Page 3: COLETA DE SEDIMENTO E PROSPECÇÃO  - Antônio Santos, Adson Benevides e Benedito Cruz

pequenos cortadores. Esse tanque foi desentulhado na intenção de acumular mais água para uso dos

sertanejos, não sabemos quando e nem por quem foi feito esse trabalho. Esse achado aumenta para sete o número de tanques com presença de material arqueológico (os outros seis são: João Cativo, Jirau I, Jirau II, Zamba, Pedra D’água e Taboca-Lajinhas Tanque 8). Não foram encontrados vestígios fósseis neste tanque, o que torna ele exclusivamente arqueológico, o primeiro a ser registrado assim dentro das pesquisas realizadas no perímetro do Vale da Megafauna.

Seguimos em direção Noroeste, onde cruzamos um córrego e logo avistamos uma área com um afloramento de quartzo, onde localizamos uma grande indústria lítica, tendo ali, inclusive, um grande bloco de quartzo silicificado de onde foram retiradas lascas possivelmente para a confecção de ferramentas.

Continuamos seguindo em direção Noroeste, onde chegamos a uma cidade de pedra composta por dezenas de matacões de granito, certamente esses monólitos serviram de abrigo ás

antigas sociedades que por ali viveram. Não encontramos no entanto nenhuma pintura ou inscrição rupestre, tão pouco foi vista alguma ferramenta lítica junto a esses matacões, o que não impossibilita de o material estar enterrado por ali.

CONCLUSÕES

Em relação ao sedimento coletado no Tanque Fossilífero Jirau I, concluímos que ainda não é o suficiente para o processo de aprendizagem durante o curso de capacitação dos monitores, assim, será necessário uma nova retirada de material antes da chegada das chuvas, sendo que um terceiro ponto será analisado e posteriormente escavado. O sedimento coletado deve apresentar fósseis de médio porte como fragmentos de costelas e vértebras e pequenos fósseis como osteodermos de carapaça e ossículos dérmicos, além de possíveis líticos. Já o úmero retirado será utilizado principalmente para ensinar o método de colagem e endurecimento de fósseis de grande porte, já o artefato lítico, foi retirado em um bloco de sedimento que será endurecido e, junto com o úmero, servirão para exposições itinerantes que serão realizadas ao longo de 2012, mais uma etapa do projeto de renovação de museus.

Page 4: COLETA DE SEDIMENTO E PROSPECÇÃO  - Antônio Santos, Adson Benevides e Benedito Cruz

Em relação à prospecção, concluímos que existia um grupo humano bastante numeroso de ceramistas caçadores-coletores habitando e se aproveitando dos recursos naturais daquela área de tanques e lagoas, sendo que esses homens pré-históricos podem

ter convivido com os últimos animais da megafauna, antes de sua extinção total. Concluímos que novas prospecções devem ser feitas, já que a área apresenta muitos inselbergs e matacões de granito, além das margens do rio Juá e pequenas lagoas sazonais espalhadas por toda a localidade de Lagoa do Juá.