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COLECÇÃO PRAZERES POÉTICOS

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COLECÇÃO

P R A Z E R E S P O É T I C O S

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Um livro vai para além de um objeto. É um encontro entre duas pessoas através da palavra escrita. É esse encontro entre autores e leitores que a Chiado Books procura todos os dias, trabalhando cada livro com a dedicação de uma obra única e derradeira, seguindo a máxima pessoana “põe quanto és no mínimo que fazes”. Queremos que este livro seja um desafio para si. O nosso desafio é merecer que este livro faça parte da sua vida.

Portugal | Brasil | Angola | Cabo VerdeEdifício Chiado – Rua de Cascais, 57, Alcântara – 1300-260 Lisboa, Portugal

Conjunto Nacional, cj. 205 e 206, Avenida Paulista 2073, Edifício Horsa 1, CEP 01311-300 São Paulo, Brasil

Espanha | América LatinaPaseo de la Castellana, 95, planta 16 – 28046 MadridPasseig de Gràcia, 12, 1.ª planta – 08007 Barcelona

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ItáliaVia Sistina 121 – 00187 Roma

www.chiadobooks.com

© 2019, Vários Autores e Chiado BooksE-mail: [email protected]

Título: Liberdade - Antologia da Poesia LivreEditor: Florival Gonçalves

Capa: Isa AfonsoComposição gráfica: Isa Afonso

Revisão: Florival Gonçalves

Impressão e acabamento: Chiado

P r i n t

1.ª edição: Abril, 2019ISBN: 978-989-52-5649-5

Depósito Legal n.º 454180/19

B O O K S

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Portugal | Brasil | Angola | Cabo Verde

V O L U M E I

A N T O L O G I A D A P O E S I A L I V R E

Liberdadeed ição portuguesa

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A

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7l i b e r d a d e | V o l i

Das liberdades a maiorBati asastornei a batê-lasnuma infinidade de movimento.E, alto, bem altovi a Liberdade Maior de todas,o Pensamento que, às vezes, move montanhasoutras, quase paralisa o mundo que roda livre.A passos diferentes, eu e ele. Se devagar não o entendo, Mas, depressa empurro-o para a frente,para trás e também para os lados,complico o simples e simplifico o complexo.Sempre em liberdade.

ADELAIDE CARVALHO

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8antologia da poesia livre

LiberdadeSe pudesses ser mais que uma palavra do dicionário;mais que esta vontade imensa a brotar do pensamentoe desses aos meus passos, aos meus atos,asas como o vento...

Se pudesses ser mais que uma palavra bonitaum ramo de cravos encarnados nas mãos de uma florista;e fosses também gaivota,barco e mar,um grito de força que pudesses derrubar a injustiça,o punhal do falsário...Então...Cada olhar,cada abraçonão teria grades nem muros a me aprisionar.

Se fosses muito mais que canção e flordesse Abril esmagado,eu poderia ser ave rasgando o azulabraçando a liberdade!

ADELINA SANTOS

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9l i b e r d a d e | V o l i

As paredes eu encaro, são quatroEu as sinto, as vejoLiberdade eu desejo

As correntes estão fixas E ouço o grito da minha alma Por dentro reina a agoniaPor fora reina a calma

A prisão de uma mente De todos os cantos do meu ser Os pensamentos enjaulados Os sentimentos quebrados E se contorcem violentamente Pedindo a emancipação Implorando o socorro Para correr daquela prisão

Tão de repente as correntes se rompemE um grito de alívio ecoaA luz surge no fim do túnel Eu vejoIndependência, autonomiaLibertação, soberaniaEstou livre para pensar, ser e sentir

O significado do que é a liberdade divergeE somente nós podemos descobrir.

ADRIANA A. C. MONTEIRO

A prisão da mente

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10antologia da poesia livre

Eu, pobre coitada,fortemente desejadaEu, miserável,mais ou menos apresentável,cobiçada por ter uma beleza invejável,tenho uma vida pouquíssimo considerável.

Eu, faminta,não como nada.Eu, sedenta,não bebo nada.Eu, cansada,não descanso nada.Sou, enfim,uma desesperada escrava.

Quero poder voar,quero poder sonhar,saltar, brincar,sem nunca ter de me curvarperante crueldade maléfica e desumanidade frenética.

Saí em liberdade.A pomba da pazQue por aqui passouMostrou-me a mulher forraQue eu agora sou.

Nas minhas costas,ganhei asas,no meu coraçãosurgiu um trovão,e na minha comoção,existe a salvação.

ADRIANA SCHOFIELD

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11l i b e r d a d e | V o l i

FINALMENTE EM FINS DE ABRIL

Liberdade é a da florQue floresceSó quando lhe apetece.

Por mais que lhe diga O ditador “Floresce, flor!”Se lhe não doiraO solAs folhasE a terra não lhe Beija HúmidaAs raízes…

Não vai ser porque lhe dizesOu lhe apontas a espingardaQue vermelha sua corA cobardia fará parda.

Nem porque alguémA censuraOu lhe dá voz de prisãoSe não sente a primaveraDe fins de abril que cheira a verão…

Se não lhe der a vontadeNem a tortura a amolece Mas quando vier a idadeNum grito de liberdadeElaFinalmenteFloresce!

AFONSO BRITO

Finalmente...

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12antologia da poesia livre

Nada me pode impedirDe me expressarE quem ousar me amordaçarSaiba que em mim há o gritoDa revolta inacabadaPor algo em que acredito...

Mesmo que em mim se mantenhaUm absurdo silêncioDirei muito mais que muitosAos outros aquilo que pensoPorque em silêncio não caloA minha grande vontadeDe sempre poder falarE sentir recompensadoVivendo em liberdadePor nunca me ter calado...

AGNELO FERREIRA

A mordaça( (

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13l i b e r d a d e | V o l i

Seria lobo de olhar redondooblíquo na imensidão da montanhadomínio de uivos e de garras.

[Eu sei que a liberdadecontinua a ser a mesma aparênciaque me consomenos espaços quadradosem que se confina a vertigem dos dias]

Enquanto o silêncio das penediase dos regatosacolhesse os gritos das águiase a voz sibilina do ventosuspenderia o olhar calado e fixolavando-o em horizontesbrancos e nus.

Vestido de escuridãoerguido provocadorsócolheria o eco multiplicadodo uivo que me confirmaque é no vazioque mais bem se suportao perpétuo equívoco de serlivre.

AGOSTINHO SANTA

Equívoco

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14antologia da poesia livre

Vestia uma farda,era quase criança,nos braços seguravauma espingarda… caladae na cabeça, usava uma boinaque era verde, de esperança.Era só um, entre mil,no largo de uma praça de primaveranaquela cidade capital.Pela manhã, os raios de solcomo a esperança, penetravam,por entre os espaços da mantatecida de cravos vermelhos e verde cauleda cor da bandeira que juramos.Abrimos os portões das prisõese as lágrimas que lavaram rostos de espanto escorreram livres de olhos quase sem brilho solidários e solitários.Libertamos a esperança das garras do medoe as pessoas dançaram e abraçaram-seem danças e abraços de abrilcomo se não houvesse amanhã,as ruas encheram-se de cor e risos infantisporque o Homem deixara de existirao libertar a criançaque vivia prisioneira no coração de cada um.E nesse dia... o meu país floriu.

ALBERT VINUMAR

Liberdade em flor

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15l i b e r d a d e | V o l i

LiberdadeQuem a tem! Quem a temChama-lhe sua. Diz a canção!Será que a liberdade é poder cantar?Canta amigo canta que a liberdade é apenasUma canção.Uma canção de amor humano à existência.Quem seria eu se não fosse livre?Livre seria na mesma,Mas serei eu livre?Claro que sim! Claro que não!Mas o que interessa isso!Se o facto de o ser ao não em nadaAfecta a minha liberdade.Porque eu posso cantar se quiser,Também posso cantar se puderE depois?O que acontece?Tudo e nada!A liberdade aconteceu neste intervaloE eu nem sequer me apercebi,Porque por algum motivo alheio a mimEla deve existir!

ALBERTO SILVA

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16antologia da poesia livre

àqueles que recolhem no mundoa ansiedade máscula da seiva endiabradada revolta das flores pinceladas na tela da vida

àquelas que sorvem sons graves no paísde orlas enfileiradas de angústia marchetadade gaivotas da desgraça que acenaàs pombas e andorinhas fugitivasno lume do absoluto ocaso avermelhado opaco

a todos que resistem à opressão cosmopolita na cidadeque gritam à sociedade sanguessuga o desprezo a elitização a covardia o isolamentoenvoltos na mortalha da coação pútridados lobos famintos pelos restos da podridão

a todas que enfrentam o circuito pálido da miséria na aldeia nos clãs na hipocrisiaarrastando a Bandeira o Hino o Corpo a Vozmanterão pela luta sem tréguasa Chama Vermelha da LIBERDADE

ALBINO BAPTISTA

Na raiz da memória

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17l i b e r d a d e | V o l i

LiberdadeNa vontade única de beijar, abraçar e tocarno devaneio feito na razão perdida por enlouquecidaaí se encontra a suposta verdade de amarliberdade do sentir pensada adormecidamas em breve, por nuvens pretas de vento e de ar será simples e redundantemente esquecida;No desejo único de defender meu irmãona praça vou e apregoo o seu humano direitomas logo outros,mais políticos, outros argumentos dãoe me fazem calar a liberdade de ser escorreito;De ambas as situações e no meu sentir profundopenso o que penso e o que julgo não digo assimguardo para mim os segredos do mundoPorque apenas do pensamento se é livre, sim!

ALCINA PORTUGAL DIAS

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18antologia da poesia livre

Tão genuíno povo que tu és.Tanta glória deste à tua amada pátria. Venceste ondas gigantes por esses tenebrosos mares.A tua demanda foi procurar outros povos para que pudesses enraizar a tua genuidade À custa de tanto sofrimento, tanta façanha, tanta intrepidez, foste abençoado por Deus e te tornaste um dos mensageiros dele, boa nova expandiste. Por esses mundos também tu encontraste todos os mistérios da terra e da vida, enraizaste-te, como poucos neste mundo o fizeram. Que espanto! Tempos esses, sermos honrados por um povo tão temerário, perpetuando e escrevendo com brasas acesas num livro de fogo os teus feitos gloriosos. Que grande panteão terá de ser construído para lá caberesTempos esses que todos teriam direito a essa “honrosidade”.

ALCINO PÓVOAS CUNHA

Genuíno povo

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19l i b e r d a d e | V o l i

Quem disser que não sou livreAmará uma certa liberdadeComo se ama um livro De páginas abertas e sem títuloDos mais lidos pelos teus olhosInsípidos mas com saborPelos caminhos da vidaConduzindo-me à liberdadeA mesma liberdadeQue à minha pousada se agarraE maltrata sem vontadeSaboreando um belo passeioCom desmedido anseioAnsiosa por encontrar a tal liberdadeMotivando e fazendo palpitarO lado oculto do meu ser movendo-se para se ajeitar.

ALDA BARROS

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20antologia da poesia livre

Liberdade!? Não sei o que é.As amarras que me prendem o pensamentoNão me deixam raciocinar! Sou prisioneira de mim mesmaImpedida de poder abrir asas e, como as gaivotas, voar, por cima do mar.Ser livre, não pode ser simplesmente acordar e respirarE sentir as algemas apertando-me o sorriso, o sonhar!Sei lá o que é liberdade!?É correr na areia da praia, despir toda a roupagem, talhada na [hipocrisia e no preconceitoE mergulhar nas profundas e cristalinas águas que por mim chamam!?Como se a alma quisesse lavar!?Não consigo pensar!Deixo-me asfixiar num dicionário de sinónimos por encontrarTento desatar a mordaça que me prende o grito que se quer soltarEm vão, porém. Jamais sentirei o sopro do vento afagando-me [os cabelosO quente do sol invadindo-me o corpo, enfim desnudado de [regras e mesquinhez.Descrente!? Sem norte!? Sim, talvez!Liberdade! Sei lá o que é…Essa tal Liberdade!

ALDINA MATIAS

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21l i b e r d a d e | V o l i

Corro, corro, corro em fuga na madrugada,Quando o mais ínfimo animal repousa.Com a tormenta à espreita,O desassossego ao meu encontro,Salto em busca da bonança.Bonança que me acorda de um sonho tardio, De um eu translúcido que se funde,Mas que não se confunde com o real.E assim desperto para o mundo,Para a terra livre e solta onde enterro os pésE sinto a sua frescura.Chego ao destino e vejo que sou pássaro, árvore, flor, terra.Sou o que me liberta, floresço em plenitude e livre.

ALEXANDRA MOTA

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22antologia da poesia livre

Não são as rédeas a agarrarNão é o ruído que me silenciaNão é o círculo a encerrarÉs tu, melancolia

A incerteza do que há de vir O meio sem meio e outra vontadeOu a ausência de um porvir Sob o pé que me pisa a liberdade

O contar dos dias livresE esses dias que não chegam A vontade presa, dizesÀ existência vencida não negam

Sempre à espera de poder voar Novas estações de pensamentoE levar nas asas o direito a sonharIr além e ser a voz do vento

ALEXANDRA TORRES

Ser a voz do vento

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23l i b e r d a d e | V o l i

Liberté, égalité, fraternitéE eu pergunto-me – “o quê?”Sendo o ser humano boçalPerverso e horrendo animalNão percebes que quase tudo está mal?Miséria tornou-se banal?De que serve a liberdadeSe quase todos a usam para instigar maldadeLivres de dizer, para os incautos convencerE no nosso país, nunca mudanças de raizIa ser tudo tão puro e como tem sido tão duroNo entanto, obrigada, está claroA quem me deu liberdade de expressãoPara soltar as amarras da emoçãoPoder escrever este poema canção

ALEXANDRA WALLIS

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24antologia da poesia livre

Desenho pintado em tons de pouca luzFuturo incerto que prescreve um capuzPassado sombrio e nunca terminadoBeijo insensível e mar algemado.

Já entoei os vocábulos, as memórias e as filosofias da calçadaPelas ruas esguias transaccionei a inteligência esmiuçadaTambém te contei inúmeras histórias que não adorei escreverTalvez fossem ruídos que nunca tive capacidade de compreender.

Entre as sombras das ruas costumo meditar sozinhoSobre o mundo e sobre o meu intrincado caminhoEntro em casa e nunca é tarde para começar a escreverSomente assim poderei vencer e um muro antever.

As minhas mãos são asas e sinto a brisa no meu rostoPerto do mundo consigo perceber qual é o meu postoVoo de olhos abertos num espaço de tempo que é só meuPretendo fugir do fundo e ouvir um poema que nunca me corroeu.

Os pensamentos cristalinos desabrigam a ambiguidadeAo caminhar pela cidade, desejo ver rostos de utopia e escutar [cantigas de liberdadeProcuro dar passos com sensatez, acalmar a raiva e mergulhar [na claridadeNa superfície do medo apenas desfilam os derrotados e as teias [da vulnerabilidade.

ALEXANDRE MANUEL NUNES GONÇALVES

Rostos

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25l i b e r d a d e | V o l i

A vida é um abismo silencioso,Com milhares de palavras escritas no ar.E, se não fosse do ruído ruidoso,Quase que as ouvia falar.

Mas a vida é um abismo silencioso, Que não tolera quem queira ter voz. E, se nos catalogam “criminoso”, Que mais podemos ser nós?

Porque a vida é um abismo silencioso, Com sentimentos enjaulados na garganta.E, se alguém lhes desse repouso, Veriam que a dor que sentem, é tanta, tanta.

E, se a vida não fosse um abismo silencioso?E, se eu pudesse voar?Quebrar este ciclo vicioso?Libertar-me destas algemas e me sui…

Mas, a vida continua a ser um abismo silencioso,Já não há tempo nem vontade de gritar. E, mesmo sabendo que é doloroso, Resta-me dar um passo em frente e aceitar.

ALICE NETO DE SOUSA

Abismo silencioso

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26antologia da poesia livre

Hoje queria ser Entrudo Baco, Dionísio, Saturno Arrancar a máscara e gargalhar Soltar o cabelo e rebelar-me Cintar-me de chocalhos e girar Deter as rugas que me cansam Perder as tiras que me calçam Desatar os sonhos, ficar nua E sempre a rir Virar costas ao espelho e partir Arrostar a rua Fazer do ruído música e cantar Com os pés doidos de terra, dançar Ficar rouca, ficar louca, amar Seguir em frente Sem ser gente nem lugar E lá para o fim da estrada Aquela que passa na mata Acender uma fogueira E deitar-me ali à beiraEmbalando a solidão

AMÉLIA QUEIROZ

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27l i b e r d a d e | V o l i

Regressas esta noiteVens na madrugada, enlutado pela desventura Desfiguras o medo, ainda assim, cheio de ti Desvirtuas o ser(sabes lá o que é a vida – já dizia a tua mãe)Mas vens. Teimoso, audaz. A mim falta a ganânciaA ti falta a paz.Só que preferia antes ser tu Que não tens receio de desnudar o peitoArrogante até, mas que importa?Sabes que não se mendiga o essencialE perdes mais do que aquilo que ganhasMas tens o troféu maior de todos –És livre.

Livre, livre, livre.Como só é quem não o sonha ser.

ANA BATISTA MARQUES

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28antologia da poesia livre

Ouvem-se os tambores... Solta-se o vento...Não há cravos nem rosas,que curem este desalento...Estamos presos...Perturbados...Não fugimos,nem somos resgatados.Nada cura esta desumanidade!Não vale a pena gritar: liberdade!Estamos presos,no tempo,no passado,na solidão...Estamos presos!Enclausurados! Mas hoje pomos o cravo ao peito,como se uma flor nos trouxesse humanidade...

ANA BEATRIZ CRUZ

Clausura

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29l i b e r d a d e | V o l i

Minha vida, minhas escolhas, minhas decisõesMeus erros, minhas falhas, minhas deceções. Mas mais importante minha liberdadeDe escolha, de vida, de ser eu mesma na sociedade.

Sem arrependimentos, sem julgamentos Seguir a vida e aprender com os momentos,Maus, bons mas com sentimento e expressãoPoder contar ao mundo como se sente o meu coração.

Liberdade de ser quem souLiberdade de amar e ser amada.Talvez uma pessoa que nunca se cansouDe percorrer uma jornada.

Não tendo tempo para viver corretamente,Quero liberdade para sentir, escrever e cantar.Liberdade de voar, no mundo e na mente,Antes que o meu tempo aqui acabe definitivamente.

ANA CARVALHO

Liberdade de sentir

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30antologia da poesia livre

LiberdadeTer asas para voar,insanamente procurar aquele espírito de viver que tanto me fustiga.Uns dizem fome, outros ânsia de expansão;eu digo “Vida, porque me não deixas tu cativa?”Há com cada veneno e coragem de brasãomas eu só enxergo mágoas num’alma inquieta de perdição.

Viver ou morrer? Ter liberdade de escolhaé uma teoria incólume, uma caixa de fósforos semiapagada.Quero espaço de liberdade onde a prisão não reina nada.Quero vontade de persistir na vastidão da madrugada.Vejo pirilampos no escuro a compor um mar de iluminação,mas eu não vejo a luz que concede à libertação.

Quero ser livre!Quero viver nas masmorras da liberdade e voar até onde o céu [não acaba!- A receita é simples. - Qual é a receita?Ai, livrem-me desta maleita, desta esperança inócua não resoluta…- Pega numa chávena inglesa e numa bifurcação de folhas,escolhe o teu melhor caminho e as tuas melhores históriase transforma pó de fada em letras soltas.

ANA CATARINO

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31l i b e r d a d e | V o l i

Nunca haverá liberdadeNão passa de uma utopiaAssim como o amanhãQue ao raiar de um novo dia Logo deixa de o serTransfigurando-se em hojeSem que existisse sequer Para de novo se tornar Numa esperança amarga e vãEternamente adiadaDe um vindouro amanhã Condenado a não chegar

Como um amor platónicoQue inflama e aqueceO coração de quem amaMas depressa desvaneceQuando resvala da mentePara se tornar realFindando o desejo crónicoOutrora fogoso, ardenteNesse momento fatalEm que, sem razão de ser,Todo esse amor se destrói Porque o tentámos viver

A liberdade é verdade Apenas no campo hipotéticoE seria até patéticoQuerer, de facto, consumá-laSob pena de matá-laPara dar lugar à prisãoDe vivermos em liberdadeSem termos outra opção.

ANA CORREIA

Nunca haverá liberdade

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32antologia da poesia livre

A poesia nos gestos de um diaQue muda as linhas do livro de uma sociedade.A liberdade no poemaQue se escreve nos cravos e silencia as armas não disparadas.A conquista de um sentimento perdidoDesconhecido para muitosE na saudade de outros tantos.A prosa poética nos abraços De um novo futuro que se abre na primeira página.Descobre-se neste novo poemaQue os líderes poetas esboçam no ar que os envolveUma nova realidade. Um novo sonho.Uma alegria renascida na fénix da esperança da vida.A sensatez na sensibilidade de todos aqueles Que desenharam um novo PortugalQue conheci quando nasci.As tristes palavras dos escritores de entãoSão uma história nunca esquecidaPara relembrar ano após anoPorque liberdade não é apenas uma palavraMas sim um modo de vidaQue jamais deve ser perdido nas incertezas existentes.A poesia, o poema, a liberdade.A poesia que escreve no seu poemaA beleza desta liberdade.

ANA CRISTINA GOMES

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33l i b e r d a d e | V o l i

farta de tanta mínguadesabrida de tanta ternuracheia de tanto vaziofaminta de tanta fartura

empanturrada de tanta fomelouca de tanto discernimentoderrubada de tanto sucessonéscia de tanto conhecimento

desesperada de tanta paciênciapobre de tanta riquezaexausta de tanta preguiçafeia de tanta beleza

morta de tanta vidaenferma de tanta sanidadecarente de tanto amorencarcerada de tanta liberdade.

ANA DE FREITAS

Estado d’alma

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34antologia da poesia livre

Liberdade...

Liberdade para escolher ficar

Que seja livre o brilho do teu olharQue seja livre o abrir do teu sorrirQue seja livre o som do teu cantarQue seja livre o teu coração a sentir!

Que seja livreo toque guiado da tua mãoO abraço dado na solidãoO amor aprisionado no coraçãoa lágrima que cai até ao chão

Que seja livreA onda perdida no marA luz que brilha a partir do farolO pescador que vai pescarE o peixe apanhado no anzol!

Que sejam livresOs sentimentos, a partir e a chegarque se aprisionem apenas…E só apenas… quando querem ficar…

Que seja livre para escolher ficar!

ANA FIGUEIREDO

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35l i b e r d a d e | V o l i

Acordaram inundadosde liberdadeos anos condensadosde opressãocriadora de medosmorriamas cidades ganhavamagitaçãoas praças apinhavam-sede genteliberta e redentoramisturavam-se as alegrias tardiasos gritos sufocadosde revoltacontida e vigiadae o sangue floriaem cada armaem cada espadaem cada palavranas palavrasde ânimo novona vontade reveladorado despertar de um povo

ANA JOSÉ FERREIRA

Manhã de abril

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36antologia da poesia livre

LiberdadeTem forma?E tamanho,peso,cheiroou cor?

Depende,de quem a viveou sente.

Vive numa caixa, que não é de cartão, mas que muitas vezesé a sua prisão.

ANA LUCÍNIA DE FREITAS

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37l i b e r d a d e | V o l i

LiberdadeEis, a cidade do PortoOnde há somenteUma mole de genteQue ininterruptamenteLuta apaixonadamenteCom alma e coração,Levando pela sua mãoComandada pela menteAs palavras “gratidão”E a “liberdade da população”Que sofre e sente,Diz não há exploraçãoPovo que meramenteFaz parte de uma NaçãoQue com a liberdade em menteFez de cravos uma revolução,E no Porto sempre presenteE cumprida pela sua genteA palavra honrosa irmanação.

ANA MARIA ALVES GONÇALVES

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38antologia da poesia livre

Perdi a réstia de tudo, a percorrer o mundoLiberdade que eras minha,E esvoaças pelos ares do vento num mísero segundoEscorres-me pelos dedos, eu desespero com a minha triste sina

Vens e foges-me como florQue desabrocha, com a naturalidade que lhe é permitidaTrazendo ao mundo a sua esbelta cor, Deixando pelo ar, a sua mágoa já tão sentida

E eu continuo perdida Com a minha obscura liberdadeQue faz sofrer, viverE voltar simplesmente a renascer

E o que custa mais, É simplesmente agarrá-la Esventrá-la para que fosse só minhaPara sempre comigo, escondida

Na minha mente, somente Para me fazer rir, chorar Ao esvaecer do diaJuntamente com a minha mera fantasia…

ANA MARIA MONTEIRO NOGUEIRA

A lágrima da liberdade

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39l i b e r d a d e | V o l i

LiberdadeLiberdade , liberdade!O que é a liberdade?Um estado de espírito,vivido por tie em ti mesmo.

Liberdade é um aprendizado,desde a nascençaaté à morte.

Procuras a liberdadenos primeiros passos que dás, na infância,no ar veloz com que vences as distâncias com a bicicleta, na juventude,na segurança das tuas escolhas amorosas nos adultos,ou até,na independência que desejas, na velhice.

Mas, é tua, a liberdade ?É de cada umdesde que não interfirana sociedadeda época em que vives,onde te exprimessem choques nem contrastespela tua liberdadeencontrada no prazer da independência,e sempre na procura de um mundo mais livre,e coerente na liberdade do progresso.

ANA MARIANO DE CARVALHO

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40antologia da poesia livre

Eu esperei, esperei. Esperei e dei a minha Liberdade ao Tempo.Uma Liberdade que esperou a Inspiração. E a mesma tardou.Tardou, tardou e não apareceu.Esperava eu, que a Inspiração revelasse um segredo.O segredo de como viver a Liberdade.A Inspiração diria: “Esta é a fórmula!”Não veio.Nem Inspiração.Nem segredo revelado. Nem fórmula alguma.Liberdade ficou de resguardo!Passou.Não sabia que fazer fazer com essa “meia sensação”.Decidi, decidir eu mesma, sem esperar Inspiração alguma ou [segredo revelado.Não sabia. Desconhecia.Na decisão de decidir, acabei, em boa verdade, com a minha Liberdade.Perdi o livre e prazeroso Tempo gasto na inconsequência do [“Nada decidir”.Não escolher, assim, livremente.Com a Liberdade dada ao luxo do Nada.A Liberdade dada ao incontável Tempo.O tempo que passa o quanto lhe apetece, quer estejamos ou não.O Tempo sim que é livre porque não escolhe.Deixa essa Liberdade para nós.E nessa escolha acaba ela, a nossa Liberdade.Liberdade ao Tempo!Ela e Ele passarão por nós,De século em século,Mais livres do que alguma vez seremos.Em qualquer palavra, em qual acto, em qualquer silêncio...

ANA MARTINS VENTURA

Liberdade ao tempo

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41l i b e r d a d e | V o l i

Há um local... de liberdade poética…

Há um localEm que o poeta se encontra com o mundo.Onde a sua alma se liberta,Onde o vento traz novos sonhos.

Há um local,Onde o poeta se liberta…Liberta de responsabilidades, de fardos nos ombros.É livre de pensar o que quer, sobre o que quiser.

Há um local,Onde o poeta se aproxima de si mesmo,Onde se deixa penetrar pela brisa que passa,Onde pousa a caneta e o papel… e sente!

Há um local,Onde os outros comunicam com o poeta,Por mera telepatia ou talvez imaginação,Mas as conversas são longas e produtivas.

É naquele local,Que o poeta está fisicamente, só!Que se deixa levar pelo vento.Onde de despe de pensamentos e sente...É aquele local de reflexão...Que o poeta liberta toda a sua liberdade poética…

ANA PAULA SAMPAIO PEREIRA

Há um local...

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42antologia da poesia livre

Vivo de momentos explosivosDe verdadeiros furacões de emoçõesExperiencio sensações eternas.Alimento esta minha almaVoraz e faminta de ilusões e metas.Renasce das cinzas,Por momentos, sinto o prazer nu,A primazia da alegria de uma criança.Dançar sob chuva,Cantando a melodia da água,A natureza grita a sua essência.Sente-se um desejo ininterrupto e efusivo.Dá vontade de ser o momentoDe ter como dono a liberdade.De amar, rir, chorar,De gritar ao infinito,De ter sede do desejo,De ter sede do infinito...

ANA SAIAGO

O aconchego da alma

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43l i b e r d a d e | V o l i

Grita-se liberdade a todo o instanteNum estado melancólico asfixiante!Relembram-se memórias de tempos passados…Criticando um mundo limitadoDe uma pequenez medonhaQue condenava todo aqueleQue ousasse seguir em frenteE que do sonho se fizesse gente.

Curiosamente, ou não, assim continuamos,agrilhoados ao passado no presente,fustigados pelas memórias de um tempo dementenão nos apercebendo que a verdadeira liberdadeestá e sempre esteve, na alma e no coração da gente!

ANA SOUSA

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44antologia da poesia livre

Os gansos selvagens atravessam o céu sobre a minha cabeça mudaE enlouquecem em mim desejos absurdosAsas embandeiradas ao vento da liberdadeGrito finalmente solto da minha garganta-bicoNa insolência bela de quem decideOnde o cansaço o fará viver o sono apetecidoQue com ou sem sonhos lhe abrirá no peitoA vontade de prosseguir a viagem

Entretanto o meu olhar estremece à memória dos versos deleTriste de quem vive em casaContente com o seu lar

ANA WIESENBERGER

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45l i b e r d a d e | V o l i

A liberdadeA “liberdade” de não te escolher

Serei livre?Penso que não.Livres são aqueles sem coração.

Sou prisioneiro do teu amor,Dos teus gestos sem pudorQue rasgaram a minha liberdade.

Nem nos meus sonhos sou livre,Porque tu reinas na minha mente,De um jeito tão imprudente.

Tenho ciúmes sem os desejar,Uma vontade inexplicável de te beijar.Por ti tenho tudo, menos liberdade para não te escolher.

Mas se eu o pudesse fazer,Ora entre o teu amor ou a liberdade,Escolheria amar-te para sempre, de verdade.

E é nesta bonita escolha de não te escolher,Onde me dispo da liberdade,Que sei que se não for amor, será saudade.

ANABELA DIAS

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46antologia da poesia livre

Liberdadeno teu sorrisono teu olharna tua palavrano teu eco infinitona tua essênciano teu caminhona tua lutana tua coragemno teu apelono teu silêncio…

Liberdadeem ti, abrilflorescendo nos dias presentes e futuros não regressando ao passado.

Liberdade à porta do tempoem cada passo da vida.

Liberdadeno fluir dos cravos vermelhosem cada mão cravejada de históriaterminando a opressãopromovendo a paz.

ANABELA GASPAR SILVESTRE

Para sempre!

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47l i b e r d a d e | V o l i

Liberdade é uma pérola raraque caminha na felicidadedas pessoas.

Ter responsabilidade de poderexpressar as palavras que nosvêm na alma,

Caminhar em segurança,sem ter medo de quem passaao nosso lado.

Sonhar, também é outrapalavra do poder expressar“Liberdade”.

Liberdade é o lugar sagrado,onde podemos dançar e voar.

ANDRÉ MORGADO

A pérola rara

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48antologia da poesia livre

Sonhei ser livre por um diaUm dia onde a alma estava vaziaSem medo ou receio De uma vida sem anseioGritei bem alto ao vento Para me retornar o talento Da grávida liberdade Que um dia caiu na vaidade De se perder na ditadura E nas desonras que incorreram Os bravos que por ela morreramNo inverno prolongadoDe tanto sangue derramadoPela incúria da prepotência Que na primavera da independência As suas portas voltou a abrir E o sou povo fez discernir Que a liberdade de abril Seria a pura inocência em estado juvenil

ANDRÉ SIMÃO

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49l i b e r d a d e | V o l i

LiberdadeSe fosse eu a liberdade que te canta,Na pele,As rimas que só o coração em voosabe fazer,E o beijo de brincar que os lábios espanta,As cordas que não prendem, mas fazem doer…

Tremo só de pensarComo seria,Nesse grito, correndo o sorriso alado,Trote de pássaro-cavalo sonhado, subindo as encostas das lágrimas da maresia.

Mas nada nem ninguém aqui me espera,Nesse infinito a que me prometi sábia e sombria, Sou o imperador e o reino onde imperaA noite rebeldemente rebelde, sem dia!

ANDREIA CORREIA

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50antologia da poesia livre

Liberdade gravadaLiberdade gravada no tempo

Cravos vermelhosPintados a óleo na História.Grande vitória… agora quase esquecidaNuma aguarela esbatida.

Vamos pegar nas palavrasVamos erguer os pincéis e os cinzéisVamos dar vida às paredes tortuosasQue a voz da liberdade tentaram calar, abafarNo silêncio da covardia, da opressão Da agressãoCelebrar as conquistas da cidade que me viu nascerAo lutar, resistir e gritar pela libertação.Pelo fim da prisão!

Vamos dar cor à liberdadeSem saudade e pela igualdade.Mostrar o quanto foi preciso lutarPara agora podermos falar.Criticar, escrever, pintar, amar.Sem medos,Sem segredosE com esperança num futuro livre.

ANDREIA MANJOLINHA

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51l i b e r d a d e | V o l i

Na sensação do vazioPerante a emoção do serExalta o desejo vividoDo ter mais que querer.Na procura infinitaDo alheio descobridorAguardam-se ânsias vividasDe um pequeno explorador.Passo a passo na conquistaPelo caminho da verdadeVence-se a grande batalhaDe seu nome Liberdade.

ANDREIA TAVARES

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52antologia da poesia livre

Um dia criei asas,vesti-me com atrevimentopassei entre ventos e tempestadesbanhei-me com as gotas da chuvae fui em busca de um amor perfeito!

Levava no corpo cicatrizesfeitas pela saudade e desilusão.Um lamento que me ardia no peito.Chagas de um amor desfeitoque por vezes ainda pareciam um vulcão.

Voei livre, nas asas do sonho.Quebrei medos, lutei com fantasmas.Descobri segredos, de que eu própria duvidava.Pensei que o teu amor seria uma miragemque me levava na rota de um futuro risonho.

Vi-me ave sem penas.Pássaros com garras de fogo.Agarrei-me à vida como se fosse um jogoPintei o destino de cor-de-rosa(eu que até não gostava dessa cor)

Deixei-me levar pelo que o destino me oferecia...

ÂNGELA CABOZ

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53l i b e r d a d e | V o l i

Liberdade é...

Liberdade de amarLiberdade de pensar Liberdade de cantar...

Liberdade de crescerLiberdade de comerLiberdade de adormecer...

Liberdade de sentirLiberdade de vestirLiberdade de sorrir...

Liberdade é muito mais do que tudo istoLiberdade é poder encontrar a pazÉ tudo o que a alma satisfaz!

ÂNGELA REGAL

Liberdade?

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54antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade palavra doce e bela...Ambicionada por Todos, Todos a querem terLeviana por vezes, mas sempre Idónea e de rara Beleza Racional quanto basta e Dada a quem não a mereceAmada como ninguém, mas Débil quando a atacamE como a atacam, atacam, sem dó nem piedadeMas, ela, ela resiste sempre, sempre com EloquênciaSempre com Elegância, a nossa Excelente LIBERDADE.

ANGELINA ROSA PASSOS VIEIRA

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55l i b e r d a d e | V o l i

As palavras...

AS PALAVRAS ESTÃO A MONTE

Às vezes as estrelas são tão poucas...Não ocupam o espaço que há no céuDe alegria que é o nosso amor.

Às vezes os navios são escassosPara navegarem em todas as rotasDo mar oceano das nossas emoções.

Às vezes os arados são tão parcosQue não abrem os sulcos necessáriosNa terra virgem do nosso encantamento.

Às vezes não se encontram as sementes P’ra semearmos em húmus criadorA esperança do futuro que sonhámos.

Às vezes procuramos palavras fugidias.Andam a monte por amor à liberdade.Não cedem à prisão que é o poema.

ANÍBAL RAPOSO

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56antologia da poesia livre

Pouco; muito pouco será feitoSe a alma não se libertar.E o que é a alma?

O Princípio da identidade ou uma questão.

Sempre que se pensa, existe uma questão,Então, a alma é o princípio Ou a respostaÀ pergunta quem sou, ou, o que sou.

Como sou, pode ser entendido e até medido;Mas quem sou e o que sou,Não pode ser, sequer, referido.

Se tudo são átomos; tudo é matéria,Logo, a natureza e o corpo são matéria,Mas se tudo nasce do vazioA alma não é a identidade material agregada ao corpo,Segundo a razão.

Segundo as sensações, tudo são opiniões,Não existe a verdade,Mas a Verdade é a Paz.

Então, não se pode dizer que o que sou é uma almaPorque eu não sei.

Eu/não/sei. As três dimensõesQue são pura consciência, liberdade e mistério.

ÂNIMO

Liberdade vs acaso

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Somos poetas do advento e profetas do desalento,Desde muito cedo, escrevemos nas pedras do tempo, escritas [que desvanecem no vento.Vivemos presos a certezas que a vida nos tenta projetar,Certos que tais prisões são parte do que nos traz a rastejar.

Tristes somos, partes e o todo,Mas alegres vivemos todo e partes.Desse tempo que apenas nos remete ao lodo,Que da vida, nos resta a todos, tudo em partes.

Livres esperamos ser quando surgimos,Mas já no mundo percebemos ter,Não aquilo para o que existimos,Mas apenas o que permanecemos ser.

Resta-nos assim voltar ao querer,Que à morte nos é apresentada como desejo.De ser livres após viver,Mas apenas podemos ser, mortos que em vida, rejeitamos tudo, [até o morrer.

ANTERO CARVALHO

Liberdade?!

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58antologia da poesia livre

No âmago do meu ser,Na amplitude do meu carinho,Liberdade eu te quero ver,Eu quero ser de novo pequenino.

Mas, numa eterna solidão, as tuas graças,Não quero ser homem nem mulher nem menino,Mas, quero ser de novo pequenino,E ser o homem que tu abraças.

Mas, ainda querendo ser de novo criança,Que brinca com a liberdade, como com as flores,E joga à bola,Quero ainda ir à escola,E de não ver essa liberdade morrer de nenhuma doença.

A consciência de ter liberdade é fútil e descrença,Que morre com a crença da distância,Que sou doente por ter a esperança,De ver essa distância na crença de ter paciência.

ANTÓNI(M)O

Liberdade...

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Em Asas Livres... Voar... Voar...

Assim sou asas de voarSobre os tempos do teu olharRosas dos ventos soprados no MarOndas vão em brisas sentidasSão luas por estrelas altas vidasAo som de uma folha na imensidãoVoai gaivotas livres em asas de DragãoNo corpo deitado leve rosto pelo chão

Vós vos Dais em HumanidadeGritos silêncio trompetes em ansiedadeVós vos dizeis sois reis da mocidadeLivre como Anjos navegais de verdadePequenos e grandes gritais LiberdadeLiberdade liberta-se liberdade em NósHomens de toda geração sois de VósCânticos de uma canção em tom de voz

Cresceu cresci do verde em corAmante das eras em pétalas de florRaiando sobre o universo e o esplendorVai da Terra ao Espaço em laço de amorAí que se entregam e mais se darão Fluídos soltos loucos se alegam à razão Bate livre. Livre bate quem tem coração Batente compasso abraça braço e mão

Liberdade... Ó Liberdade Liberta Paixão A tem quem tem ó Liberdade pura ilusão

ANTÓNIO ÂNGELO AZEVEDO FILIPE

Em asas livres...

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60antologia da poesia livre

O “brilho”...

O “brilho” dos teus talheres

Amarrar-te-ei, liberdade, e a qualquer a hora,para que possa correr contigo, mandar-te embora,sempre que tentares aliciar-me… com a tua passividade obsoleta!

Porque conservas ainda no teu poeirento manual o provérbio ancestral “entre marido e mulher não metas a colher”?Porque não o fechas, tu, a sete chaves, e sem reservas, na tua gaveta?

Definhas, opaca… a tua carne é fraca?agora que esvoaça por aí à solta um vento, e que, de desgraça [em desgraça,arrasta consigo o propósito venenoso de um vilipendioso aditamento: “entre marido e mulher não metas a colher…mete a faca?”

Arregala os olhos!… aspira o cheiro fétido da tua condescendência…troca a tua inércia tacanha pelo uso transparente da montanha [da tua inteligência…ou acabarás onde já estás… em liberdade condicional, ou em [modo mais radical…e, por mim… isso sim... em iminente prisão preventiva!

E que no teu paradigma, a bem ou aos trambolhões,se mudem então sílabas, acentos, troquem letras aos quatro ventos…para que se apaguem em ti, e de ti, as tuas tretas…e se esfumem, de vez, as tuas malquistas contradições! A cor sangrada de tantas mulheres não altera o “brilho” dos teus talheres?...

…Que renasçam as premissas das tuas mais puras e tão [deliciosas convicçõese passes a ser, de verdade… a liberdade… viva… nos nossos corações!

ANTÓNIO AUGUSTO RODRIGUES

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61l i b e r d a d e | V o l i

A opressão, por natureza,não suporta a Liberdade, sinónimo que é de Verdade,avessa a medos e pobreza.

É a busca da cultura que alimenta a Razão.

Na Informação, a censuracausa desconhecimentoe favorece a indigênciapor privar de alimentoa Humana Inteligência.Empobrece a Educação.

São para cumprir, os deveresE os direitos para esquecer!

Infrene, a exploração!

Afirmar discernimento,requerer por mais Culturanão denotará loucuranem crise de crescimento!

Sem valores de Igualdadee acesso ao Conhecimento,são Ecos de Falsidade,o que nos queiram dizerou se venha a Escrever.

ANTÓNIO COELHO FERREIRA

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62antologia da poesia livre

LiberdadeNa mais leve folha, vaiPelo vento conduzidaO silêncio mais forçado,O rumo da minha vida.Passa por montes e vales,Em velocidades diferentes,Como se curasse os males,Dos olhares mais indiferentes.Chegado à cidade, caiNa calçada do rossio,Espezinhada, mas não sai,O seu destino é o rio.Espera alcançar o mar,Há anos que o deseja,Sem conseguir lá chegar,Diz sempre que o almeja. Não sabe o que é ser livreMas já viu a liberdade,Pese embora não a tenha,Está ardente de saudade.Mas como é persistente,E quer dar vida à sua voz,Subiu ao monte mais altoPra gritar por todos nós:Liberdade.

ANTÓNIO FADIGAS

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63l i b e r d a d e | V o l i

O 25 de Abril murchou.Muitos O expurgaram,Espoliaram,As Suas entranhas rasgaram,Dia-a-dia O vilipendiaram.Os mitos e os ritos,Que O inspiraram,Nas facas da noite queimaram,E na fogueiraDe vicissitudes tamanhas.Às mãos de mentirosos ditos,Às armas de promessas vãs,A Madrugada já é de proscritos,Qual noite tenebrosa de titãs.Corrupção, pobreza e actos de vilão,Mancharam os cravos do meu coração.O TEMPO ENVELHECEU DEPRESSA,Essa é a minha inquietação.

ANTÓNIO INÁCIO CORREIA NOGUEIRA

Abril já foi liberdade

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64antologia da poesia livre

Sorriso que estimula a loucuraEons da criação- fértil estradaEsperança nas palavras ditas por quem te amaBravura selvagem que ancoraSol de espuma, brisa adoradaEspirito livre que alcança a saudade.Corre a água pura para o caminho dos esclarecidos.Lisura!Transparência! A chama inspiradora que te guia…

ANTONIO M. RODRIGUES

Emoção vítrea

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Liberdade...

Liberdade, dom e compromisso

Luz que permite ver Imaginar e intensamente viver.Bem maior e ponto de partida Entre o nascer e o plenamente existir. Real poder isto poder experimentarDe com autonomia me construir. A liberdade é tudo isto e muito mais Depois da paz e da saúde Este dom é fundamental.

De dentro para fora se experimentaO princípio da liberdadeMas sem confundir com libertinagem.

Essência basilar, a liberdade!

Compromisso para todosOs Homens de boa fé.Mãe das maiores realizações Ponto de partida de todos os sonhos.Real segredo da existência serenaO princípio da autonomia pessoal.Maior graça e melhor raizIsto de ser livre.Só limitada pela liberdade do outro!Serena paz e alegria nos dáO dom e o compromisso da liberdade.

ANTÓNIO MARTINS

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66antologia da poesia livre

Como tenho o dever de permanecer caladoNão me atrevo a levantar a mão,E a palavra nunca me é dada enquanto nos bolsosPerscruto a nudez do estômago.Não tenho troco para as migalhas que não troco por esperança!Mandam-me caminhar depressa, sem olhar para trás,E eu descalço arrepio caminho, curvo-me,Oferecendo as mãos gretadas ao chão.Com quatro membros andantes sou o mais íntegro dos escravos!Recebo um copo de água escaldada,E como quem não desperdiça vida, Calo com a sede dos meus companheiros.Acaricio os sete cães que farejaram o meu esqueleto descarnadoE ao entregar as costas ao chicote desadormecidoAinda não me apetece a morte pela madrugada.Ontem uma greve geral foi desconvocada e já hojeO país bate o recorde de produção de homens surdomudos!Das mulheres nem se ouve falar!Perguntem pelos versos que se conjugam neste país do faz de conta!Dir-vos-ão que para compreender é preciso criar distância.O tempo ainda chama a isso de História!Quando se aprende o medo de acreditarJá é tarde para cerrar os pulsos algemados.Por entre cadáveres e vísceras sem cadáver de poetas anónimosInscrevo os meus passos sem remissão.Se os meus irmãos de armas já desertaram todosNão me peçam para gastar a última bala na câmaraEnquanto não se escutar o meu grito de liberdade!

ANTÓNIO MIGUEL FERREIRA

Boa -língua

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LiberdadeLIBERDADE!...- Ó quanto me dói o teu amor!Quão sedutor o teu deslumbramento!Por momentos, sinto que te abraço, que te abarco, que te retenho,que te possuo, com acrisolada paixão,mas logo partes e te repartes por outros ambientes e lugares,deixando em mim uma saudade intensa!Quando te afastas, por incúria própria ou imposição alheia,é como se perdesse a alma, da qual depende a minha identidade.Nessa aleteia1 te procuro e me busco, enfim,até que venhas e permaneças no meu ser:- Em corpo, alma, espírito e verdade:Até que sejas, em mim: una, eterna, realidade…

ANTÓNIO POÇAS

1Aleteia é um termo grego que significa virtude suprema… estilo de vida, plenitude de

valores que permanecem como anelo profundo em nós.

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68antologia da poesia livre

O meu conceito de liberdadeé ousar sempre falar verdade.Por isso digo sempre o que pensoem qualquer ocasião,no exercício de qualquer funçãopública ou particular,em ambiente estranho ou familiar,sem nunca perder o senso.

Nunca ousei dizer sim,quando devia dizer não;nunca me atrevi a dizer não,quando devia dizer sim.

Podem minha palavra rasgar,podem minha boca amordaçar,podem meter-me na prisão,na mais profunda solidão,ninguém me impedirá de pensar.

Dizer sempre a verdadede olhos postos nos olhos,mesmo colhendo abrolhos,recusando privilégios,ignorando sortilégios,é o meu hino à liberdade.

ANTÓNIO SALAZAR SEMBLANO GALHARDO

Hino à minha liberdade

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Esvoaça me pelas mãos o suspiro, as imagens no rosto desmedido, sem dianteira nem marchas, nas minhas costas as crostas das contracostas sem rochas O tempo lamenta pelo som incessante do grito vermelho, que leva sonhos impingindo a caligrafia dos anónimos, e os candeeiros sem dianteira e sem marchas

O vento assobia no meu rosto e reacende a leveza calma e plana, buscando forças para libertar me, de mim, dos meus medos, dos meus anseios, do que me aprisiona e do que me liberta demais.

Pensamento transcendente, olhar proeminente, de quem mais quer é voar, poder com a chuva dançar, sem que nada me oprima, nas ruas, ou nos cabarés, com prostitutas ou com santas.

No meu pé de meia? sim no meu pé de meia, os registos categóricos do sofrimento turvo, onde as cores viraram cinza, e se por ventura tiver que me apagar, marcarei o meu passo, apanharei as minhas forças, como se de cacos se tratasse

Elevarei o meu maior grito de liberdade ao mais alto nível, desenhando em quadros a extensão das minhas veia, empunhando flores, arrebatando amor, triunfado sobre a dor, que me aprisiona, que me que me diminui, pois eu sou mais forte do que a força que tenho, sem saber de onde venho, vou a caminho da prosperidade, sem maldade abraço a liberdade e desafio o tempo da caligrafia dos anónimos.

Sentado numa cadeira de cordas novas, derretendo o que acorrenta, levitando como nos contos de fadas, com uma roupa de cor.

Não consigo conter esta cara que faço, compondo as ideias e vagueando no espaço cognitivo, por ser um elemento empedernido que carimba com sangue pela sua liberdade.

ARMINDO PAIM

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70antologia da poesia livre

Talvez a liberdade seja apenas a coleção de dias a descobrir a beleza das flores, das rochas, da poesia, da música, a admirar o céu e mar, impossíveis de serem melhores do que já são.Mas lembra-te que em todas noites que dormes, estás a oferecer a luz do sol aos que vivem do outro lado da mundo. Por isso, confia aos astros a liberdade alheia.

Eu?Eu apenas quero a liberdade de atirar gaiolas ao ar. Quero lançar aquários no mar. Quero soltar todas as jaulas e colocá-las numa prisão. Quero plantar um vaso numa floresta. Quero gritar que estou morto. Quero usar uma máscara de oxigénio no ar puro das madrugadas. Quero acordar toda a gente, e pedir que se calem. Quero acender um fósforo na cratera de um vulcão de lavas. Quero queimar o oceano até só haver água derretida. Quero congelar uma chama no frigorífico. Quero ter um aeroporto só para os pássaros. Quero ter um caixão que não me sirva. Quero lembrar-me que tudo esqueço e não tenho memória. Quero tanta coisa.Só não quero fazer sentido.

Espera! Talvez queira ser chuva. Viver entre as nuvens e terra húmida, aquela que nutre os jardins. Mas raios... Agora corro o risco de todos os caracóis fazerem chichi em cima de mim. Afinal de contas, também são livres de o fazer.

ARTUR DA CONCEIÇÃO VENTURA

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Num dia de Abril. fez-se frente a um Regime Absoluto. fez-se Históriade Cravo na mão. acabou-se com a PIDEnuma única voz aclamou-se um País. aclamou-se Portugalum Estado de Direito. Um Estado Livre e Democráticouma espingarda inativa. caída no chãoum manjerico. com uma mensagem de Paz e de Futuro “marchava” aliassim se fez uma revolução. num dia de Abrilas castanhas estalam no Outono. as folhas caem e voammas em Abril. vi voarem num céu aberto Pombas das árvoresPombas. cheias e nutridas de Liberdadevi Homens e Mulheres unidos nas ruas. numa luta sem armas e [sem idadeouvi vozes sem medo naquele dia. no inicio de uma nova Era...antes caladas. antes censuradas. antes oprimidas. antes perseguidashavia um “trono cansado”. e nós. nós exaustosos militares foram abraçados entre a multidão. foram heróis de [verdadee a rádio deu força e voz. a mim. a ti. a todos nós - os de [coragem. os de liberdadePortugal ergueu-se das cinzas. num dia de Abril

AUGUSTO DOMINGOS DE PALMA MORGADO

25 Abril 1974

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72antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade, é Abril,É o cravo vermelho na lapela,É força, é garra,Liberdade, pode ser pintar aguarela.Liberdade é vermelha,Liberdade é encarnada,É uma cor com força arrebatadora,Contra a liberdade, nada.Liberdade é verde,Verde é esperança,Que o mundo melhore de verdade,Num clima de mudança.Liberdade é branca,Liberdade é paz,É uma força que se arranca,Liberdade é ser capaz.

AUGUSTO FILIPE GONÇALVES

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LiberdadeCriança que fui, ontem, hoje, sempre.Fui no passado, no presente.Escondo o que não quero mostrar.Faço o que não posso fazer.Ai a liberdade que permanece em mim.Faço vezes sem conta.Escondo o riso para chorar.Escondo as lágrimas do meu sorriso.Liberto tudo que há em mim.Lágrimas que contam segredos.Risos que escondem tristezas.Alegrias que transbordam o meu ser.Quero tudo que tive, liberdade Coisas que ficam junto da criança.Criança que fui e serei sempre, livreQuero acordar contigo amanhã, liberdadeQuero adormecer comigo.Queria tudo, tudo mesmo, tudo, liberdade Dou-te e não quero o que tens.Não quero o que me dás.Quero ser quem sou hoje, livre Porque amanhã não sei…Quero Liberdade…

PS: A LIBERDADE CONQUISTA-SE… A CADA SEGUNDO.

AURORA MADUREIRA

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B

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Grito de liberdadeO crepúsculo testemunha uma cumplicidadeDe poucas palavras, mas de muita emoção.Tempo esse, em que almas vaziasDeixam transbordar uma sensação de alívio.

Prazeres impuros aos olhos dos outros,Mas haverá algo mais puroQue partilhar sentimentos?Não, quando não é mútuo.

A dança dos amantes Representa a libertação de uma vontadeTalvez contida, talvez desejada!Isso será sempre invisível Aos olhos de quem não dança…

Mas para dançarÉ preciso que um conceda A liberdade do outro para,Em conjunto, dançarem em sintonia.E esse é o único momento emQue o crepúsculo deveria testemunharUm grito de liberdade!

BÁRBARA SANTOS

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78antologia da poesia livre

Somos livres desde quando rebentos.Quando finda o estado fetal,Quebramos o silêncio com o grito.Por fim, legitimando a liberdadeMediante o corte umbilical.

O nosso cérebro é um redutoOnde nada invade o pensamento.Considerando o fenómeno, vemos(em simples percepções sensoriais,em mera observância rotineira)Que há tanta sabedoria no ventoEnsinando a frágil folha a voar.Quem vê a massa cinzenta operar?A liberdade está dentro de nós.

Entretanto, o desmando dos poderesAmordaça o grito, pisa valores,Repudia o pensamento ideológicoRelacionado às causas humanasEm desfavor dos fracos oprimidos.Ao revogar os direitos legítimos,Nos sangra a liberdade de pensarNo teatro do absurdo e dos horrores.

Ressuscita, Ícaro delirante!Apanha as asas demais seguras,Segue o destino da felicidade.Não temas turbulência nas alturas.Faze renascer essa liberdade!

BEATRIZ DE MORAES

Liberdade ultrajada

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Liberdade, onde andas?Vejo-te escrita por todo o ladoMas as pessoas estão presas e tu já não mandas

Liberdade, desapareceste?Uns morrem por ti, outros lutamMas ninguém te encontra, onde estiveste?

Tu não vês cor, não vês religiãoA situação muda, mas as pessoas nãoÉ preciso mudança, é preciso liberdadeNão interessa a idade

Não interessa a política, a economiaOs países chamam por tiNão podes ter já a tua autonomiaPrecisamos de liberdade, aqui escrevi!

BEATRIZ FRADOCA

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80antologia da poesia livre

LiberdadeNão tem idade.A todos concerne.E a liberdadeMistérios encerra!Ser livreÉ ser responsável.

Quem viveSem vícios seja de que tipo for;Quem não se queixa desnecessariamente;Quem vela pelos mais frágeis e fracos,Na medida de suas posses;Quem tem em mente A defesa da vida;Quem tem Amor,Primeiramente,Ao Poder Superior,Que toda a Natureza cria;Quem não toma para siO que pertence a outrem;Quem é bondoso,Até com toda a parcela da natureza:Esse ser é com certezaDigno de Maior louvor!

Livre, livre,Para mim só é assimQuem assim vive!

BELINHA BAPTISTA

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LiberdadeTudo no universo é provaDe quanto a liberdade é utopia:As plantas, que se prendem à terra,Os animais circunscritos aos espaços da sua manutenção,As próprias ondas que no areal se espraiamEm alegre fuga ao mar dominador,Retomando o mar logo a seguir,Tudo isso testemunhaQue há regras e prisão em toda a condição.E os próprios rochedos inflexíveis na sua coesão contestamO fervilhar de liberdadeQue move o homem com ironia,Enquanto o universo vai girandoNas suas atracções e repulsasGravitacionais,Na rigidez do seu trajecto a cumprirSem fantasia.Só mesmo as nuvens e os ventos são livres de prosseguir,Em volteios ou mesuras que acabarão por perder.Se o homem transgredirAs premissas da postura- Premissas da compostura -Na ambição dos desvios,Na ficção da liberdade,Tudo dará confusão,Tudo será convulsão, de retorno ao caos primeiro.Liberdade que se preze só existe a racional:Só pode ser livre o Homem que a si se respeitar- Apesar das contingências fataisDo seu cais.

BERTA HENRIQUES BRÁS

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82antologia da poesia livre

Liberto de amarras, paixões e daImensidão de teias opressoras…Bebendo dos “códigos” a condutaEm equilíbrio entre o querer e o dever.Razão discernida em absolutaDivergência, do arrogante poder.Agindo na concórdia assumida, Da necessidade e da verdade,E, no respeito pelo outro, também.

Lisonjeira é a busca incessante;Ilimitado é o caminho a percorrer,Batendo muita vez a mesma tecla,E fazendo a liberdade acontecer.Razão do ser Homem assumido,Da acção responsável em seus actosAmando sem limites e com paixão,Dando ao outro todo o seu espaço,Em perfeita harmonia entre o Tu e o Eu.

Limites são a sua identidade…Imergentes, ilimitados, permanentes.Bastando para tal, reconhecer o outroE também, sem restrições, a Natureza.Respondendo aos seus apelos urgentes;Dando-lhes, de coração, algum tempo.Amor que regenera o Homem livreDotando-o de carácter e generosa elevação,E, de espírito criativo, solidário, sublime e livre…

BERTINA LOPES

Ser livre

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Neste caminho que percorremos,as flores absorvem todo o calor e nostalgia de um dia gratificante,e agora que o passado se foi embora, o nosso toque torna-se constante,dando a força necessária às palavras que escrevo debaixo da tua magia.

Neste caminho que percorremos,desenhamos asas na fuga,saltamos de sombra em sombra ao serviço da seda e do mele desafiamos o sol com a coragem dos nossos braços.

Neste caminho que percorremos,abrimos uma pequena porta à sorte,fazemos da vida o nosso fortee descobrimos que ser livre é ser feliz.

BRUNO PORTA NOVA

O teu limite és tu

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84antologia da poesia livre

Convivi com justiceiros,Que cresceram vendedores sorrateiros.Causas passaram a instituições.Pouco importa fazer o que é correto.A prioridade agora é permanecer certo.Dantes julgava-se pessoas pelas ações.Hoje vejo vidas destruídas por meras opiniões.Nos teclados de aspirantes a mártires.Orquestra-se discursos teatrais da tua situação.Questionas a realidade da convicção.Perdes a credibilidade de existires.

Sou avisado do ódio que consome.Embora seja em prol de paz, amor e união,Que pelo sorriso errado morrerei à fome.Procura-se a luz na escuridão.E reza-se as trevas a quem brilha com o coração.Peço desculpa por parecer errático,Ou se der impressão de algum sentimento de amargura.Fiquei surdo após tanta história de reivindicação.De quem me fez cego ao modo autodidata,Que em nome da liberdade, se justifica censura.

BRUNO RODRIGUES

Convivi com justiceiros

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Permitam-me que cresça em cada cantoNuma esquina qualquer da cidadeUm punhado de cravos em mantoComo se se deitasse, ali, a liberdade.

Não teçam os cravos entre eles.Não deixem que se coliguem forçosamente.Se à liberdade são dados aqueles,Juntem antes as rosas de vermelho quente.

Permitam-me que lance um cravo aindaAo rio que cruza as terras que passa,E que leve a outras margens onde o mar findaA liberdade onde a mesma não se abraça.

Pudesse eu ter de cravos um mundo inteiroE faria, sem dúvida, um mundo perfeito.Enquanto não tiver terra para o meu craveiro,Deixo-o, pelo menos, vingar-se no meu peito!

BRUNO TORRÃO

Craveiro

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C

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Liberdade...

Liberdade desconhecida

Estive bastante tempo aprisionadoAo tempo que passou,Mas a tua alma é um mapa para a liberdade que me libertou.Desde que te conheci que guardo o teu corpo em pedaços de papel,Ele carrega a sabedoria e liberta-me da melancolia.És o aconchego de todas as realidades E a fantasia em todos os meus sonhos.Escrevo novas linhas sobre o teu corpoDe histórias fortes que desvaneceram ao ritmo do momento,Descubro o sabor da tua pele que ficou embebido em mim,É com esta meia luz que vejo as linhas da liberdadeQue se movimentam em ti.Sou só eu e tu.

CAMPOS FERNANDEZ

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90antologia da poesia livre

LiberdadeBasta!Quero ser livre,Basta de guerras, amarras e mordaçasQue nos prendem a uma vida sem sentido,Quero ser livreE poder voarSem medo de cair,Quero poder falarSem fingir,Sem ter medo de ser maltratada,Quero acordar com um sorriso no rostoE não com lágrimas escondidas no olhar,Quero poder amar sem culpa Beijando teus lábios até que os meus me doam,Quero gritar ao ventoAs palavras que te sussurro em momentos de amor.Quero ser livreE viver sem medo de ser perseguidaQuero sentir o Sol sem temer a escuridãoE escutar o mar sem medo de me afogar,Quero ouvir o som de uma guitarra e poder dançarSem medo do que vão pensar,Por isso basta!Basta de guerras inúteisE vamos viver em Liberdade.

CARLA GOMES

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AmorNão me faças amargarApetece-me viver Não me podes segurarDeixa-me crescerSem nunca desistirDesejo amarNão tentes impedirDeixa-me voarA cada amanhecerSonho sorrirNão me deves prenderDeixa-me irDeixa me irAdoçarA nossa esperançaQuero alimentarSegredos e segurançaNo nosso cantinhoApetece-me muito te amarE o nosso ninhoSobrevoar Sem mais sofrerAlongar o meu sorrirDesejo em ti me prenderE ser livre para nunca partir

CARLA ISABEL SILVA

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92antologia da poesia livre

LiberdadeAbri-te a portaE deixei-te entrarNo mais recônditoDe mim.Dei-te liberdadeNum espaço fechadoOnde o vazio era sem fim.Peço-te que fiquesNesse mesmo lugarOnde o tempo não expiraPorque só existe o verbo amar.Na plenitude da inquietaçãoNão te esqueças:Abri-te a porta Deixei-te entrar... não me a faças fechar.

CARLA MATOS

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93l i b e r d a d e | V o l i

A cada segundo, vejo-me a voarSem asas… só com o pensamento…Outros ideais vou experienciarNum inesquecível, mas fugaz momento.

Esta sensação enche o meu coração,Que tudo quer conhecer!Esta liberdade dá-me a mão,Leva-me e eu vou,Deixa-me escreverTudo o que me apetecer!

A minha mãe já me revelouQue, antes, não era assim…A expressão de ideiasNunca tinha hora…A vontade de falarNão era vista como agora…

Liberdade deve rimarCom verdade e sociedade,Com oportunidade e humildade,Com diversidade e integridade…Até com ociosidadeSe nada me apetecer fazer!

Preciso que esta liberdadeEsteja sempre comigo,Que me acompanhe de verdadeComo um verdadeiro amigo!

CARLA TERESA COSTA LEITÃO

Voar sem asas

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94antologia da poesia livre

Livre, livre de mimDe pensamentos e conceções, criadas e incutidasDe valores e seus credores, importâncias, desavenças e crenças Livre de acreditar, verdade, falsa ou manipuladaAtropelado por tua informação, reformuladaLivre de sentir, se conseguires, ninguém é esquecido, incluirOu egoísta, indiferente ao nosso presente pertinenteLivre de escolher, entre opções dadas, concebidas para eu progredirOs caminhos que escolho para me conduziresSeja qualquer cor, era para me serviresA liberdade de ser livre, sem depender ou perder, confiarMas não quero saber se a saúde e a educação são a valerSe a impunidade chega à justiça, governada e esquecidaSou livre de decidir, não sei participar

CARLOS ABREU

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Sou livre no cimo de uma montanha.Solitário.Despejado de preconceitos que me importunem o ego.Só.Só com os meus pensamentos,com os meus devaneios,com as minhas inquietudes.Nem os inesgotáveis olhos da memória do ventoconseguem incomodar a minha inabalável alma.…Sou livre no cimo de uma montanha.

CARLOS ABRUNHOSA

Imperturbável

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96antologia da poesia livre

LiberdadeLIBERDADE, se vai pronunciar,Com a esperança, d’a guardar,Ter-se o talento d’a conhecer.Ai!... que alegria de tal viver:- «Ter a felicidade e o condão,De a carregar em nosso coração!...»Gritar, pela Liberdade, que não vemos,Em Mundo Alegre, que não temos,É triste pensar em mudar,Com um choro ou um gritar,A Liberdade, que se roubou,A Vida, que se finou!…A Liberdade, já não se gritou,Todo o nosso falar, se calou,Só o nosso Fado… ficou.

CARLOS ALBERTO SEQUEIRA VARELA

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LiberdadeChamam por ti, liberdade!Procuram no tempo esses tristes mortais,Como buscam a mocidade,Escondida entre muraisOnde a história revela a sua verdade.

Nessa real irrealidade,Rubro cravo morto em plena primavera,Esperança sem ter idade,De um povo que desespera,No aguardar sereno pela liberdade.

E assim cantam em seu louvor,Na esperança de ver surgir nesse horizonte,O brilho do seu fervor,Erguendo a velha ponte,Plantando pelo caminho o seu amor.

CARLOS CEBOLO

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98antologia da poesia livre

Quando os teus lábios visitam os meussinto o toque doce que enfeita uma ternura que se solta como a curva da estrada que escorreganuma noite qualquer de nevoeirotrespassado pelo faróis ligados dos automóveis que se movem na pressa das horasfogem sem fugir daqui para outro lugar…

mais uma vez bebemos em goles pequenospasseamos e flutuamos na cidade que nos aguardaouvimos a música que chegou sem convitetocamo-noscheiramo-nos junto ao pescoço entre fios de cabeloe falamos neste pequeno espaçode coisas banais que alimentam a conversa

a ferida continua aberta e fere como um pássaro que voaque corta o vento e sopra um doce desejoum murmúrio anónimo que deixa passarlevantando a poeira e deixa-nos mudos

as palavras foram escritas sobre um manto de liberdadeque nos faz sentir bem e tira-nos o sono

só permite o olhar…

CARLOS FARIA COSTA

Um murmúrio anónimo

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P’ra ti, só um cântico ao meu jeito,Um poema que hoje, tanto me oprime,O melhor entre os melhores... o sublime,Guardado neste cofre junto ao peito.

Não tive coragem! Com meus dedos,Rabisquei na terra os mais amados,Na lama pelo chão ficam guardadosDesdita de criança com seus medos!

Agora que me pedes já não seiLá na refrega onde os declamei,Cravos murcham contra a minha vontade!

Folhas soltas rimadas que escrevi,No coração perdura este para ti,Epopeia que clama a liberdade!

CARLOS J. PEREIRA

O derradeiro

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100antologia da poesia livre

Brilha em mim com fulgor a identidadeSou a roupa que assenta em toda a genteA língua que se afina de estridenteLutei e conquistei e sem vaidade.

Gosto de olhar a seara em que se agitam As multidões em onda tentadoraNão sou mais que qualquer, sou guardadoraDa palavra bem funda dos que gritam.

Que ninguém se aproprie do que é de outremPois que irá destruir o que é de todosHoje usarei a garra que é de ontem.

Liberdade é a manta de brocadoQue traz alegria, cobre o mundo a rodos,Até o mais pequeno tem bocado.

CARLOS JORGE AZEVEDO

Para todos

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Prometi à liberdadeque a ia libertar,disse-me que uns homens malandrosa tentaram enganar.

Falaram-lhe de mansinhoe com jeito sedutor,prometeram adorá-lamas com intuito enganador.

Eram políticos modernos,homens sem muita garra,para eles, a liberdadeera apenas uma mera palavra.

Talvez a grande diferença fosseque não a tiveram que conquistar,era já um dado adquirido,um direito, do qual podiam abusar.

A liberdade estava muito tristee até ameaçada se estava a sentir.O punho fechado e o pé em riste,estavam prontos para a agredir.

Agarrei-a junto ao peito,fiz-me forte, bravo e soldado de novo.Resgatei-a das teias do poder e dos políticose entreguei-a a quem mais precisa dela: O POVO.

CARLOS LOPES

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102antologia da poesia livre

Des liberdade...( (

(DES)LIBERDADE DESTE TEMPO

Grades que detêm o passado Portas que se abrem no presente Janelas dum futuro vidente

Encarcerado no tempoNum tempo que não é meu Que não me permite apogeuVivo na ditadura das horasSociedade de regras castradorasDa humana natureza contrariadoras

Estupidifico na rotina dos diasSaltam do relógio os ponteiros como setasCravadas feridas no coração Matam ao poeta a inspiração

Ao relógio sentenciada condenação Ao tempo perpétua prisão

CARLOS VICTORINO

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Vamos falar de Liberdade‘Terra da fraternidade’Hoje podemos falar, podemos escrever...Mas, nem sempre foi assim...Era eu pequena, alguém lutou por essa vozSoldados, poetas, heróis‘O povo é quem mais ordena’!Nunca esquecerei aquele diaNo recreio da escola vi-os passar‘Dentro de ti ó cidade’Saí para a rua também!Carros de guerra que eram de paz,Armas disparavam flores, choviam cravos...Os militares desfilavam na estrada,‘Em cada esquina um amigo’,Nunca tinha visto festa assim‘Em cada rosto a igualdade’A multidão abraçava os seus guerreirosSó mais tarde percebi a alegria‘Dentro de ti ó cidade’Só mais tarde entendi os hinos que canteiLetras disfarçadas, medo da tinta azulFinalmente cantadas numa voz aberta‘Que já não sabia a idade’Como quem abre uma gaiola, Parte as grades da prisão, e voa!O rádio secreto acabou por se calarO país todo já cantava a verdade E eu ‘jurei ter por companheira’Esta canção da liberdade!

CAROLINA CARVALHO DE SOUSA

Voz da liberdade

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Tomar a liberdade de atentar contra a personalidade jurídica, física e moral de outrem;Estar e continuar em liberdade, ou em condicional; até com pulseira eletrónicaPor ter exercido força física, ameaça ou intenção de constrangimento da vossa vontade e dos vossos direitos e referências de cidadania;Não é poesia.

Toda a violência que decorre de prepotência explicada por falsos juízesManipuladores de textos bíblicos e de lacunas inadmissíveis da LeiDe casos omissos, por resolver em Assembleia LegislativaBocejante e em Estado de ManicureRealidades infelizes, menos punidas que as contra o património;Porque as coisas continuam a ser mais valorizadas que as pessoas.

Esta enfermidade não é culpa vossa; não se restringe ao vosso meio; não escolhe raça, idade, ou condição social.A culpa não é da mulher estuprada, vítima de violência doméstica ou familiar, do assédio sexual, da coerção reprodutiva ou outra, mas do Criminoso.O aborto seletivo, a violência obstétrica, o infanticídio feminino, os crimes de honra, o femicídio relacionado com o dote, a mutilação genital feminina, o casamento por rapto ou forçado, a escravidão sexual, a esterilização ou aborto forçados, o apedrejamento e flagelação são a definição do que é o oposto de um conceito que se diz abstrato e difícil – o da Liberdade!

Não é poesiaEsta tradição cultural machista, instrumentalizada por homens no poleiro das suas casas, empresas e instituições; contra a igualdade no livre arbítrio, na expressão individual da vontade, no grau de independência legítimo de cada um.O ataque com ácido, aceite de modo plácido! É abstrato?

CAROLINA HÖFER

Mulheres livres

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Sabe Deus o que é a liberdade! Já perguntei a toda a gente…Perguntei à minha avó,E ela nem senti-la!Perguntei à minha mãe,E ela nem ouvi-la!E com isto, a resposta nem vê-la!

Até aos anjinhos eu rezei,Mas estes não quiseram ajudar.A única coisa que mandaramFoi uma pomba,Para até à luz ela me guiar!

CAROLINA OLIVEIRA

Liberdade...

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106antologia da poesia livre

Sonhei Liberdade quando me deram um pincel e tintasE desenhei cravos vermelhos e pombas brancasSonhei Liberdade quando escrevi a palavraCom letras redondas e sonhadorasNo papel de cenário que eles me deramSonhei Liberdade quando eu e os outros meninosDesenhámos e pintámos e colorimosOs Sonhos que nos deram para sonharE no mural ficaram cravos e pombas e palavrasE um povo que cantava o futuro a uma só vozSonhei Liberdade quando eles me falavamDe um País em que se podia sonhar e falarE viver em igualdade e justiça e sem tiraniaSonhei Liberdade quando me deram um diplomaO pacto que aninhei num ninho de pombaEm que eu era uma pomba que ia crescerCom coração de cravo vermelho vibranteO Tempo deu-me um País de cravos desbotadosE as pombas perderam as penas à espera de voarEles falam em Liberdade mas a palavra ficou ocaO meu ninho secou e o sonho perdeu a corO canto dos cravos ainda ecoa no meu ninhoComo um hino longínquo àqueles que lutaramTrabalho e luto todos os dias pelo meu PaísAquele que ainda sonho em tons de cravo viçosoO povo do meu País parece ter esquecido a lutaA fome de justiça que nos uniu e nos fez sonhar Adormeceu embalado pelas sereias do poderMascaradas de valores que ficaram com as pombasPrisioneiros de um voo que desbotou no mural

CATARINA TEIXEIRA

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Liberdade é ter asas? Liberdade é voar,Com ou sem asas.

Ir além do infinito,Através de um pensamento!Deixar de lado o sofrimento,Procurar viver cada momento.

Livre, leve Ou solto e felizLiberdade não é felicidadeMas ajuda, não é verdade?

Corpo presente,Mente ausente, Livres não podemos serDeliberadamente.

Desperta a tua alma,Contempla o horizonte,Mantém a calma,Numa ilusão de liberdade.

CÁTIA ANASTÁCIO

Livre sem asas

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108antologia da poesia livre

És livre!És livre e não sabes,És livre e não te importas,És livre e não queres saber. Mas és livre!Sabes lá o que sofreram aqueles que em tempos passados,Ansiavam por gritar o que lhes ia na alma, mas não podiam!A dor, a tortura, a morte eram certos. Sabes lá!O sangue escorre-te nas veias, os pensamentos vagueiam na tua menteMas, TU, se quiseres podes gritar, podes lutar pela mudança. Eles NÃO!Não aches que tens tudo nas mãos, que está tudo conquistado. [Não aches!Mantém-te atento às mudanças, olha em teu redor. Há quem [queira mais do que deve!Há quem queira tirar-te aquilo que ELES nos deixaram com tanta [audácia, com tanto suor.Levanta-te! Orgulha-te por fazeres algo por TI e por ELES. Não te escondas por detrás das sombras dos outros que nada [querem fazer.Acredita em ti! Grita! Grita com todas as tuas forças.Liberdade! Liberdade!És livre! És livre e não sabes!

CÁTIA GAUDÊNCIO

És livre livre!’

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Abre as grilhetas e solta as amarras,Não sou mais tua, já não te pertenço.Tanto juraste, um amor tão intenso,No entanto só mentes, só enganas.

Quero ar, quero céu, quero correrPara longe de ti, para viver.

Abre-me essa porta, quero sair,Aqui sufoco, definho, morro;Se fico mais tempo só grito e choro,Tenho de abrir as asas e fugir.

Não, não te quero nem ouvir, nem ver,Não há nada que me possas dizer.

Trataste-me mal, rasgaste-me a pele,Quebraste-me os ossos só por prazer.Só quando no chão me vês a jazer,Páras e pensas no que te impele.

É ódio? Maldade? Como saber?A vida a teu lado sabe a morrer.

Vergaste-me as costas, não a vontade,Essa não se verga, essa é indomável.Vou seguir em frente, só, imparável,O meu caminho é o da liberdade.

CELESTE SOUSA

Vontade indomável

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110antologia da poesia livre

Sou aquela Menina/Mulher que quer alcançar a Liberdade.Quem sou eu?Sou aquela que chora quando está feliz e sorri mesmo quando está triste.Quem sou eu? Sou aquela que anda descalça em dias de chuva e calça ténis para ir à praia.Quem sou eu?Sou aquela que implora: - Não me obriguem a caminhar, quando o que quero mesmo é Voar!?!Quem sou eu?Sou aquela que desafia a vida, sabendo que a qualquer momento pode morrer.Quem sou eu?Sou aquela que toma decisões!... boas!... decisões…Quem sou eu?Sou aquela que vive ”Um dia de cada vez”.Sou aquela que devagar, devagarinho, passo a passoAlcança a Liberdade!Finalmente…Estou a voar!Quem sou eu?Sou uma bela borboleta que acaba de nascerE com a leveza das suas asasAlcança a Liberdade!Mas…Afinal!?!?... Quem sou eu?

CÉLIA GUERRA

Quem sou eu?

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Na alta instância remetida,A absorção instigava o pensamento ao devaneio sem rumo,Onde o conhecimento perseguia a liberdade esquecida,Para além das planícies douradas da sabedoria.

Intruso traço do óbvio, Onde o sentimento de evasão,Remeteu à criação, Do fruto da sua própria essência.

Sabor disforme, contudo constante!Sumo disperso do ser,Onde o conhecimento ainda ausente,Instigou à evasão de si mesmo,Pelo salto rumo ao desconhecido,Agora presente,Num estado de pura catatonia evasiva,Onde os símbolos são reis e o saber,Um mero reflexo latente,Da acção condicionada do dia-a-dia constante.

CÉLIA MIGUEL

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112antologia da poesia livre

LiberdadeSe eu fosse livre, como é livre o pensamentoQue corre mais veloz do que o ventoNão jorraria no meu peito esta torrenteDe larva de vulcão incandescente.

Se eu fosse livre, como é livre o pensamentoQue corre mais veloz do que o ventoNum abraço, fraterno, envolventeDe amor abrangeria toda a gente.

Se eu fosse livre, como é livre o pensamentoErgueria um canto ao firmamentoLembrando meu amor eternamente. E como tudo seria diferente!

CELINA SOL

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Sou livre, sou mulherSou quem sou, quem eu escolherNa liberdade de falarNa liberdade de amarVivo felizSou dona do meu nariz.Sou livre, sou esposaSou mãe, sou criadoraE é nesta liberdadeQue vivo minha felicidade.Livre para ouvir, livre para decidirAmo a minha vidaE nada preciso de fingir.Sou amada e respeitadaDo lar sou a fadaE nas asas do teu amorLiberto a minha dor.A minha família é tudo para mimÉ a minha liberdade sem fimSorrio por ser assimTer liberdade até ao fim.

CELINE CAMPOS

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114antologia da poesia livre

Liberdade – disseram-me um dia em segredoNo escuro por detrás de uma inquietação e temor.Tanta incerteza em contar ao mundo um desejo.Usem as palavras! Usem-nas sem medo de as dizer,Sem medo de as escrever nas paredes das cidades, Sem medo de as gritar das varandas.É tempo das palavras! Vamos urdi-las em hastes!Em hastes longas,Em varas rijas,Em armas invisíveis,Em lanças aguçadas nas pontas.E depois, com tais lanças mortíferas de discursos,Desfiramos ao medo golpes concisos.Rasguemos o silêncio em todas as direcções,Desfazendo as celas negras onde nos encerrámos,Sem piedade, apenas com palavras,Para que no fim possamos finalmente colher a mensagem;Banhar-nos no sangue tépido do medo moribundoQue possa escorrer pela lança de texto,Desfazendo-lhe os nós,Decompondo-o de volta às palavras,E depois às letras, aos sinais de pontuação,Para que com essas letras e esses sinais se possa uma vez maisSer livre de voltar a escrever poesia.

CELSO BRAGA ROSA

Recordar o poema

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Rara raridade que em raros âmagos se encontraParticularidade que à sociedade contemporânea muito incomodaQue, para os mais céticos, é como exceder-se aos limites da arbitrariedadeSim, eu falo da tamanha preciosidade que é a liberdade

Ao mundo de maneira privilegiada contemplarDar asas a tudo que de mais esplêndido se possa imaginarEmbarcar…, para um lugar em que consiga ser, sem precisar se explicarViajar… sentir o corpo partir em digressão sem mesmo sair do lugar

O seu valor é inestimávelE seriam-me precisos incontáveis vocábulos para descrever como é senti-la percorrer o meu mais profundo interiorPois, difícil seria explicar o que me é inexplicávelEstar às escuras e, ainda assim, observá-la como a mais luzente cor

Sem qualquer dor, somente vero fulgorIntrínseca euforia, um lugar desprovido de qualquer modéstia ou pudor…Ininteligível como às aves as suas migrações,Que percorrem variações latitudinais em busca de todas e quaisquer beneficiações que lhes são proporcionadas à época de calor

Solto como o mar,Descomedido como o ar,Devaneando longínquos hemisférios sem remorsos de sequer vir a dispersar…Liberdade é viver a vida sem medo de algum dia vir a naufragar

Poder pigmentar o que parece ser acromático,E desprender tudo que clama por ser liberto…É ser livre e, como um pássaro, sem rumo poder - para longe - voar.

CÉSAR MARCELINO

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116antologia da poesia livre

Abril…Noites frias, dias quentes.Areias secas sem fim...Atravessei o deserto, para então aqui chegar.Cheguei seco, extravasado, minha sede tinha morto.Descansei, estava cansado...Passou algum tempo...Minha boca não está seca, mas a sede continua...E a magia se perdeu...Outras sedes, que secam, outras bocas, que não a minha.Essa água que não bebes, também a mim me dá sede.Voltamos a passar, perto, frios e distantes, em universos diferentes,Como se a água não fossemos, à mesma fonte beber,Não nos separa o medo, mas a estranha vontade de não querer.Como apátridas, da nação humana, na vontade de não querer,Sem bandeira, guião ou estandarte, e da mente, o colectivo abolido,Como se o mundo, fosse o indivíduo, e o destino a sorte.A indiferença dos donos, que da água querem ser…Se veraneiam, chafurdando como sapos, na água que não deveriam terÉ preciso reverter, a água que é de todos, tua água deve ser.Há muita gente com sede, sem água para beber, e dessa sede, tua sede.Minha sede deve ser...

CÉSAR SALGUEIRO

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Dizer uma vez por todas a todos os horizontesÀs montanhas de dúvidas, aos mares e aos seus peixesApresentar perante o mundo um vasto espelhoO forçar a olhar-se, o mergulhar nas suas próprias sombrasDizer, e dizer de novo cada diaDiluir-se nos versos afim que os versos sejamFazer erguer as cabeças, fazer renascer a esperançaDizer, e qualquer coisa dita na frente da verdade e nascida em liberdadeNo fundo de um ser único que está aqui por ocasoE por causa do seu caminho e da sua pequena músicaQualquer coisa dita assim, na frente da verdade, nascida em liberdade,Devolve no infinito, perante o mundo a imagem dele,Perspetiva em espelho onde estar visto é verApesar da tempestade que ressoa e o gritoO primeiro grito do primeiro dia do todo todo primeiroLembrando-se vivo, apercebendo-se que é. O grito –Dizer a liberdade sem receio nem susto, sem medo de o repetirVarrer as ameaças e as horas de terrorDizer, do alto de uma verdadeira coragemNa cara dos assassinos e dos sequestradoresRidiculiza-los, fazê-los insignificantes, fazê-los lamentáveisDizer a liberdade e morrer a fazê-lo em vez de se calarDizer e gritar e berrar “Liberdade!” Dizer, dizer a beleza, a simplicidade do olhar duma criança, do [vento e da rochaMandar fugir a fealdade, despedi-la para o nada, mandar calar os [trapalhões de horas

Dizer

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118antologia da poesia livre

Com os seus escárnios –Dizer, e não ter medo de o fazer, dizer e dizer ainda e cada dia [mais forteToda a beleza de um mundo que alguns gostariam ver mortoDizer uma oração profunda, comum as todas as línguasUma oração da qual deus seria ausente: não está envolvidoUma oração de homens perante o nadaDizer a LiberdadeQuando a noite desce sob esta terra sombraQue não há resposta ao informuladoDesde a primeira noite da humanidadeA pergunta está colocada sem nunca ser conhecida

Dizer, dizer a liberdade –

CHRISTOPHE SIMS

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Nesses recantos da essência,em que se faz o pensamento,criam-se momentos e memórias,fracções do interior sentimento.Nesses recantos escondidos,do que se preenche constantemente,guarda-se o sonho, a tesoura e a vontade.Marca-se encontro com a vida e a mente,Pára-se ou age-se como deixa a idade. E nas parcelas da estações de dentro,escuta-se, escreve-se e desenha-se continuidade.Larga-se o sentido do que foi,Avança-se para além da dificuldade.E nos galhos secos de outrora,sempre podem crescer os rebentos da novidade.Moldam-se as asas de um futuro,traçam-se novos fios de mais pura verdade.Então nesses recantos protegidos,nessa energia que te pode afastar a saudade,se fazem renascer os sorrisos,Pois a essência, também é Atitude e Liberdade.

CI BARROS

Nos recantos da essência

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120antologia da poesia livre

Liberdade doce e quenteTerra, cio, meu chãoMeu grito atlântico Minha cabeça quenteMinha floresta amazónicaNos teus cabelos me percoNo teu desejo me acho Corri o mundo em busca de ti Não te achei por acasoLutei muito, chorei bastante As estrelas são o meu norte Mas valeu a pena não ter mátria Começava tudo outra vez liberdade!

CIDÁLIA CORREIA

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A minha pele transpira de saudadesaudade de marítimas vontadesvontades de correr a toda a horaa toda a hora buscar imensidadesimensidades como imensa a minha pelea minha pele que expira liberdadesa liberdade é toda a minha pelea minha pele mergulha, já, no corpono corpo sente frio de si mesmade si mesma, a minha pele liberta fogoum fogo de vontades por edificaredificar alturas, mesmo baixasbaixas por entre a derme de nós própriosnós próprios envolvidos pelas lançaslanças que te devolvo, minha pele, a toda a horahora de gozo, amor e devaneiosdevaneios entre aurora e meias-luzespenumbra onde a minha pele se escondeesconde máculas… nódoas… e cruzescruzes feitas dedos entre a pele molhadamolhada a boca de tanto praguejarpraguejar não é comigo… é com o mundoo mundo que se encobre ao fraquejarao fraquejar o corpo de cansaçocansaço que procura ameno abraçoabraço que se dá sem se abraçar!

CIDÁLIO CASTRO

Liberdades...

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122antologia da poesia livre

Pássaro livreAo sentires que alguém te chamaRegressam imagens turbulentas,Cenários vistos pela rama,Mas por curto prazo te alentas…

Foges agitadoAo sofrimento que sobreviveE em voo apressado Foges como um pássaro livre!

Resgatam-se as saudadesAo te ver partirEm tão grandes adversidades E sempre a sorrir…

Acanha ao meu peito e inflamaUm abraço que entre nós recolheste E que a mim devolvesteAinda em voo de flama.

Agora, a plena liberdade de ti alcançaTudo o que de ti embarca em mimE eis que abrigo em segurança, Chorando em te perder até ao fim.

Soltam-se as amarras da chalanaE o voo em ti aplana …Mas, mesmo livre de te ter, Me alentas a liberdade de crescer!

CLARA BOAVISTA

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Que me caia em cima A sorte de ser livre!Porque estarei de péE cabeça apontada para o chão,E num ato de pura fé,Que quieta estática sobrevive,Farei das tripas coração À vista de todos e esquiva,Para que o sono me acordeE um sorriso me desabeEm lágrimas secas feitas de vida.

Que me caia em baixoO azar de ser livre,Porque estarei aos pésE apontada para as mãos!E na preguiça de acreditarFarei quieta com os meus órgãosA arte de conhecer e cegar,Para que a energia me adormeçaE num choque eu me esqueçaQue para andar preciso levantar.

Mas o quê?Que nada seja preciso!E que seja preciso tudo…Para vencer este jogoQue eu me caia em cimaE me doa dançar e ser sortudo!Sem ser preciso, eu acerto. Porque ser livre é escapar de pertoE tocar ao longe o mundo.

CLARA GODINHO

Livre

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124antologia da poesia livre

Tudo o que queroÉ ser livre como o pensamento,Correr ao sabor do vento,Voar, voar, voar.

Libertem-me desta gaiolaNão nasci para estar aqui.E que crime cometi?Foi o de saber cantar?

Por favor, por favor,Se me querem ouvir cantarDeixem-me sair, deixem-me voar,

Prometo que voltarei,E no parapeito das janelas,Do nascer ao por do sol,Com alegria chilrearei.Baladas, trovas e fados,Tudo conseguirei entoar,0Mas para poder fazer isso,Tenho mesmo de voar.

CLARISSE PATRÍCIO

Liberdade de voar

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LiberdadePor vezes,Sobrevalorizamos-te.

Nascemos na tua era.

Não sabemos o que éNão escrever, Não ler,Não ir,Não conversar...

Simplesmente,Porque alguém o decidiu assim.

Temos-te tanto,Que só vamos valorizar-te,No dia em que te perdermos....

Que sejas eterna,E global.

CLÁUDIA DIAS

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126antologia da poesia livre

Voas?

Não por asas pagasou viagens injectadas...

Se voas assim,Como eu aqui no chão:Serena, fora de tensão,Amena em cada respiraçãoE abraçada entre mim?

Assim,Projectando e sendo paz,Transmutando-me em compaixãoAo compasso da minha AlmaDe ninguém, só de mim.

Desapegada…Livre!

Mesmo se entre paredes lançadaOu de tecto retirada,Que a alma delivre!Que haja chão!Este chão.Para o Ser voar e serNa Liberdade que lhe é inata.

Voas?

CLÁUDIA MELO

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Com o tempo fui aprendendo…Aprendendo a amar a liberdade,Essa lucidez que me assolou, se transformouDe respeito e realidade.

Gero em mim sonhos com tanta exuberância,Descubro surpresas vida afora…Tanto suor derramado em lágrimas de tolerância,Fé fortalecida no ontem e no agora.

Tal pedúnculo amparando e segurando o seu fruto, Este liberta sua essência na sua criação,Nele confere toda a sua beleza e sabor.Um saber Ser como o de um umbilical cordão.

Crescer em verdade e vida, desabrochando sua cor,Originalidade no seu desenvolvimento, Realce belo brotando sabor, Venham tempestades é chegado o grande momento.

Deste-me a possibilidade de meus sonhos realizar, Querer… viver… querer mais…Me encanto e liberto ao criar,Aprendizado adquirido tal como tudo mais.

Grata meu pedúnculo, por me dares tudo isto,Meu chão, meu cume, minha casa, meu céu…Grata por dares eco à minha vozGrata por seres um pedúnculo só meu.

CLÁUDIA RODRIGUES

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128antologia da poesia livre

Abril chora…São lágrimas de Abril,a chuva que cai lá fora!

Abril parece dizer…-“Porquê?Porque me querem esquecer?”

Abril parece gritar…-“Parem… parem por favor.Têm que me respeitar!”

Mas Abril,não parece, diz…-“Não foi isto que eu quis!”

-“Sou do povo.” Diz ainda.-“Vim trazer a liberdade,e os vossos pais ajudaram!

Pela sua memória,pelo vosso presente,pelo futuro de cada criança…Respeitem a vossa história,e mesmo num tempo diferente,não matem a própria esperança!

Não desgovernem agora,O que os vossos pais conquistaram!”

É Abril que o diz,que todos o escutemos!

Se hoje chora de tristeza,que amanhã esteja feliz…… sinal de que vencemos!

CLÁUDIO SEMBLANO DE OLIVEIRA

Abril chora

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LiberdadeLiberdade palavra tão desejada e tão comprometida.Palavra abençoada e palavra temida. Ah, quem me dera tê-la tido há muitos anos atrás. Mas não a podia ter, porque não! Ah, liberdade se te tivesse conhecido antes.Nunca passaria o que passeiNunca fora o que fui,- Tímida,- Submissa,- Introvertida, - Insegura.

Por que lutei tanto por ti?Por que demoraste tanto tempo a chegar?Os dezoito anos estavam tão longe.Como chegaram tão depressaE com eles a minha autoafirmação, a minha presença, O meu querer, porque sabendo o que não queriaTinha liberdade para saber o que queria.

CONCEIÇÃO FERNANDES

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130antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade,É o que eu sintoDepois da hora de expediente.É o que me aconchega quando estou em casa.São as horas que não tenho que cumprir.É sempre que não tenho que me levantar com o despertador.É sempre que não tenho ninguém que me espera.LiberdadeÉ sentir o respeito dos outros.É não perturbar a vida do próximo.É partilhar conhecimento.É auxiliar o companheiro.É cooperar com os colegas.É contribuir para objetivos comuns.Liberdade!Nutro quando me desligo do mundo.Experimento quando conduzo sem destino.Me abstenho da realidade.Voo pelos sonhos.Acordo sem hora para levantar.Deambulo pelas cidades.Liberdade!São os meus direitos!É a minha independência.É a minha autonomia.É a minha saúde e a paz.

CONCEIÇÃO GONÇALVES

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131l i b e r d a d e | V o l i

Liberto-me dos anseios. Entrego-me no teu corpo. Nele a Liberdade nasce, a paz prevalece .O arco íris mora no teu olhar. Vivemos um amor intenso. Assim como a onda enrola na areia, tu beijas o meu corpo tornando-me num mar calmo. Lá fora a lua espreita o nosso amor em Liberdade, as estrelas cantam uma suave melodia para todos os casais que vivem um grande amor. Somos únicos, únicos neste amor sem fim e se um dia eu partir antes de ti, lembra-te meu amor, que na Liberdade do teu corpo me fizeste feliz e lá em cima nos céus te guardarei, amando-te eternamente, esperando por ti nas asas de um anjo.

CONCEIÇÃO LOPES

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132antologia da poesia livre

ReivindicaçãoAfinal não escrevemos E a interrogação continua Há um longo corpo em glória ardente À espera de ressuscitar E o barco não larga o cais sem que eu estenda as mãos E sinta os contornos desse corpo Não escrevemos nem sequer tentámos Nem a voz que era de todos em uníssono soou Palavras contra o vento em matilha Oh palavras que se enrodilhassem no destino e o obrigassem a [mudar de rumo Nada Afinal não escrevemos Sugámos o sangue tão refinadamente Parasitámos tanto o silêncio Que mais valia aceitar que das nossas mãos a vida sairia vencida Não escrevemos nem nos rendemos nem nos salvámos Bosta de vida de essência Tanta palavra oca à solta Tanta resposta para nenhuma interrogação Tanta sofisticação E afinal rebaixámo-nos à altura de vermes Agarrados ao lastro do barco para lado nenhum Nem escrevemos nem vivemos e a liberdade mudou de morada

CONCEIÇÃO MANAIA COIMBRA

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LiberdadeNão sou cativa de nada,Nem sequer de mim o sou. Sigo com a alma enlevadaAonde quer que eu vou.

Sonhei com a terra inteiraQue começa à minha rua, Sou minha própria bandeira,Sem pensar em ser a tua.

Não sou cativa de nada,Nem sequer de mim o sou. Ando livre pela estradaQue a vida então me traçou.

Os meus sonhos? Que ideia,No mar alto naufragaram.Os meus castelos de areia,As ondas também levaram!

CONCEIÇÃO TOMÉ

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Abril...

Abril Sinónimo de Liberdade

Salazar era sinónimo de medo e a PIDE da morteO povo ouvia e via, mas tinha de ser calarO que a guerra não levou, Salazar estava a condenarAté o General Sem Medo o sistema quis apagarEntre fomes e medos, segredos e fugasFoi planeado o dia, o dia que tudo iria mudarA hora de dizer Basta! Basta! Basta!Basta de mães, mulheres e filhos sem filhos, irmãos, maridosBasta de meninos e homens obrigados a ir para guerraBasta de medo, de lágrimas, de fome, de crueldade, de violênciaBasta! Basta! Basta!

Aquele dia... Aquele dia que mudou o povo, a nação, o paísAquele dia que soldados e o povo lutaram lado a ladoAquele dia que os maus pagaram por todo o mal que fizeramAquele dia que se ergueu um país inteiro contra o ditadorSIM! Aquele dia é o 25 de Abril!

Cravo vermelho e tingido do sangue dos que morreram pela liberdadeTão frágil como a nação houveras destruídaNos olhos de quem sofreu, veem-se as lágrimas de felicidadeNa boca da fome, estão agora os sorrisos da alegriaE nas mãos de todos, carregam o peso da mudança e da esperançaÀs novas gerações, cabe agora manter a liberdade e a democraciaAbril para sempre recordado, Abril sinónimo de liberdade.

CRISTIANA TEODORO

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Livre de serSentado na areia aos com os pés molhados,Sou livre de pensar em tudo com grandiosidade.Imagino que sou uma pérola dentro de casa,Pronto para ser livre,Mas pronto, ainda, para dançar com os peixesÀ beira de um belíssimo coral.

Sinto que estou tão livre que até me deixo apanharPara fazer parte de um lindo colar.E se não conseguir?E se acabar esquecido?

Sei que não posso pensar assim!Há quem tenha de o recear.Tantos com tanto de tudo,Outros sem uma palavra a dar.

Não me consigo expressar!Penso,Porque posso eu fazer parte de um lindo colarEnquanto outros, as conchas não podem abandonar?Sou livre de ser.

CRISTIANO DIAS

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136antologia da poesia livre

Papel, caneta, pensamento… activar liberdade

Falar é pouco e é por isso que escrevo.Escrevendo tenho total liberdade. Falando, nem sempre.

Não escrevo bem. Sei que penso bem.Posso parecer prepotente quando escrevo, mas só pareço.Não quero pouco, quero muito, quero tudo. Trata-se da minha liberdade. Que me importa se não me entendem…Gosto do carinho da expressão de quem me lê e sente que sou ousada, Sente a minha liberdade.

Fiz o que tinha de fazer. Fui jornalista, locutora, limpei o que havia para limpar E hoje como operária, sou o que sempre fui, a liberdade.Tudo o que vivi até à hora da revolução que trazia liberdade para todosFez-me acreditar, que somos o que quisermos.

Continuo a ser livre no que sinto, no que penso e sobretudo no que escrevo.Só pus de parte os que como ovelhas seguem modas e não são capazes de olhar para além do umbigo.Mesmo assim assino com orgulho o meu nome e carimbo o envelope com liberdade para o enviar à tal liberdade que está ao alcance de todos.

CRISTINA ALVES

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Olhem bem para ela.Que coisa mais bela!Um sonho de mulherQue qualquer homem quer.

Uma filha atenciosa.Uma mãe muito carinhosa. Uma esposa dedicadaMas tão mal cuidada pelo seu marido.

Ela trata-o com todo o seu amorNo entanto só ele não lhe dá valor.Ele impede a sua felicidadePorque tirou-lhe a sua liberdade.

CRISTINA ASCENSO

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138antologia da poesia livre

Do casulo de onde saí, guardo a vaga memóriaRecordo o cheiro, o calor, o aperto sufocanteQue me mantinha equidistanteEm relação à nossa história.

Não lhe sinto a falta, não guardo saudadePode até parecer vaidade, mas na verdade,Ao admirar a liberdade revigorante,Sinto apenas uma grande vontadeDe seguir adiante.

CRISTINA FARIAS

Lagarta

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A lenda asseguraQue uma vez desembaraçados dos ferros que prendemSe ouve um longo lamentoCantado por uma voz que não se sabia antesVinda duma Pátria prenhe de desígniosGuardados entre o obscuro e o transitório

Na reviravolta que aconteceQuando o fardo se torna o refúgioE o labor se torna a salvaguarda e a graçaAtestando a força e a segurança de existir,Nasce a esperança

Nesse espaço tempo Onde o amor éBem como alguns claros-escuros, Alguns jogos de luz cinematográficosOu efeitos fade out que se reproduzemExiste a possibilidade,Símbolo de uma misteriosa penetraçãoNo interior das coisas

No momento eternoSem passado nem futuroComo fragmentos de uma composição nunca realizadaDe uma epifania tardiamente sãHabita o sonho do mundoOnde as lendas se tornam lendas de sonho

CRISTINA LOPES

Momento eterno

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140antologia da poesia livre

LiberdadeGritos de liberdadeEm silêncios Permanentes, cativeirosOnde se cala a sinceridadeRebentam-se correntesInvisíveis…E ficamos presosEm muros aparentemente IntransponíveisOnde afinal nos tornamosInvisíveisMas quando tudo estava perdidoEsticam-se os braçosEncontrando umas mãosQue nos seguramE finalmente nos conduzemÀ liberdadeNeste labirinto na sobrevivênciaEm que presos nos encontramosE disso finalmenteTomamos consciência

CRISTINA MARTINS

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Abril sonho Abril esperançaAbril de sol Abril de chuvaAbril é um turbilhão paixão e emoçãoÀ solta na razãoAbril na rua O cravo na arma o cravo na mão Abril no coração Abril é um jovem Capitão e toda a nossa gratidão Abril conquista a transformação Abril é uma liçãoO mundo vê a revolução e canta também a nossa canção Maio chega com união e solta as palavras libertação Chega Novembro traz brutidãoMuita tensão desfaz esperançasAbril parece desilusãoO rico retoma tudo na mão, o pobre que pague a sua escravidão O povo na rua o cravo no chãoAssim se constrói mais servidão O povo paga a corrupção e vê o mundo em ebulição Tanta desgraça tanta pobreza tanta poluição e cada vez mais [exploração Gritos e lutas vêm dar razão, a gente do bem a dar a mãoRenasce a esperança renasce a ilusãoRenova a paixão e Abril é paz, é pão, educação, saúde, habitação Se o cravo murchar vai plantá-lo outra geração Assim se constrói esta naçãoAbril a brilharSe o cravo murchar ele floresce no coração Abril é sempre a solução Gente sem paz gente sem pãoÉ preciso outra revolução Assim se faz esta canção

CRISTINA ROSA COSTA GOMES

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D

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POVO ELEGE EM ABRIL E FLOREAR EM FUZIL(As primeiras eleições para todos - 25/4/75)

Que fui ver... As eleições...E, eram multidões!...Fiquei estarrecidoe de vez convencidode que valeu a pena um tal Abril,foi impressionante, floreou em fuzil!Eu não pude votar,por isso vim a chorar;a Lei não me deixava,porém o Povo aproveitava.Viera do extremo orientea tempo de ver tanta gente.Foi quanto me bastou;não votei mas chegou.Portugal estava todo,a Liberdade e o Povo;por isso venho dizera chorar e a escreverque fui ver as eleiçõese, eram multidões!Fiquei estarrecidoe convencidode que valeu a pena um tal Abril,foi impressionante, floreou em fuzil!

D´AL

Povo elege em abril

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146antologia da poesia livre

Espírito caprichosoPalavra nunca antes ditaE jamais descritaVem no regaço da saudadePor quem pereceu na eternidadeE vibra por quem nunca ouviuDeveras existiuNum olhar profundo e sombrioQue renasce com um calafrioDa incerteza da juventudeEspera-se viva e que perdure.

DANIEL ANTÓNIO SANTOS DE SOUSA

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O homem com nome de utensílio de cozinha

Ouço ao longe um Grito, de revolta imensa.Será fogo, será gelo?Só quem por lá passou sabeO que é temê-lo.

E o grito continua,Cada vez mais forte.Juntam-se armas, cravos e muitosRostos que encorajam o Povo, tamanha é a vontade de Falar de boca aberta ao invés deTerem sempre a boca cerrada.

Como formigas atrás dum pedaço dePão, gritam todos em sintonia:Liberdade, liberdade, liberdade!

As tropas foi quem começou aGritar, juntando-se o povoQue é quem mais ordena, e o homemCom nome de utensílio de cozinha corouDe vergonha, dentro do túmulo.

Ouve-se liberdade, liberdade, liberdadeEm toda a cidade, em todo o país.A liberdade que hoje nos fazFeliz.

DANIEL SANTOS

O homem...

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148antologia da poesia livre

Já não conseguimos viver por inteiro a essência dos dias,nem cortar as amarras da escravidão da própria menteque, de forma inconsciente, reduz os nossos corpos a cinzas.

Aos poucos, andamos a deitar fora a liberdade que custou vidas outrora.

Todos padecemos desse mal:uma incurável moléstia viralprovocada por uma irrealidade que nos prende e nos arrasa.

Ninguém consegue ser verdadeiramente livre sem primeiro abrir as portas da sua casa!

DANIEL SILVA PEREIRA

Moléstia viral

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A nossa liberdadeA liberdade é um bem da vidaTalvez a nossa única saída,Para a felicidade.Vivemos num mundoEm que temos de ter cuidadoPois num segundoTudo pode estar acabadoE onde podemos perderUm dos bens mais preciososQue a vida pode oferecer.Mas também temos de ser corajososPara enfrentar cada lutaQue nos vai aparecer,E precisamos também saberComo podemos resolver…Cada dilema, cada situaçãoPor mais difícil que seja,Fazendo com queO mundo inteiro vejaQue só somos felizesSe tivermos a nossa liberdadePor inteiro e por completoEste mundo é repleto De alturas, nas nossas vidas Onde só se formos livres Temos a possibilidadeDe escolher o caminhoQue queremos seguir.Isto é ser livre, ter liberdade!

DANIELA PEREIRA

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É esta a minha liberdadeNa vazia mão da cartomante meu paralisado destinoEm cartas já antes tiradas, o trilho de fim definido.«Que esta é a tua liberdade, é este o teu sentido,Terra queimada, frutos que morrem ao arderQue é esta a tua verdade, que será este o teu saberNunca nada mais foi, nada mais poderá ser.»

E voltei a caminhar, sombra futura de sombras passadas,pelo conhecido ermo terreno onde vi sonhos que já sonheirepetirem-se e repetirem-se e repetirem-se.Esta é a minha liberdade, esta bússola que apenas aponta o Norte,Esta pisada ponte sobre negras águas paradas.Esta é a minha vida, esta vida onde não há horas,Este cemitério dos anos, estes minutos dos séculos espelhos,sombra futura de sombras passadas.

Viajante com rumo, suspiro que passa,Um respirar como bocejo, um andar como marcha,Um ponto sem peso no enorme borrão pretoSem amanhecer bravio, nem anoitecer discreto,Nem crepúsculo nem entardecer nem sequer a alvorada,Apenas um tépido meio-dia, lua no escuro parada.É este o meu futuro, é esta a minha sorte erradaCriado a poder tudo, condenado a não ser nada.

DAVID ALEXANDRE SILVA

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Os ladrões da liberdadeCambada de ranhosos,pandilha de malvados,escumalha de venenosos,vilões desbocados.Liberdade não é brincadeiraó doutorados na treta,só enchem a algibeirada esquerda à direita. Mas que vil juramento, que pregão hediondo,o povo vive tormentose os safados estão redondos.Mas um dia os jumentosacabam com o negócio,cansados do adultério pedem o divórcio.E logo vêm os galdérioscom astúcia, os nojentos,dizer-se vítimas de invenção,é um chorrilho de lamentos.Mas ninguém lhes deita a mão,têm o mal da corrupção,pior que lepra e peste são,só geram infestação.Deixem os infames expirar,quem usurpa a liberdadee o povo anda a confiscarnão merece perdão nem piedade.

DAVID CÉSAR ALMEIDA OLIVEIRA

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152antologia da poesia livre

Liberdade, não sei que digaPalavra forte, poucos a usamCom um significado intensoMuito tenso.

Liberdade traz bondadeGenerosidade que arde.Não existe liberdadeSomos cruéis, pouco fiéis.

Só tem direito à liberdadeQuem nela acredita e ficaSó tem direito quem a respeitaQuem não a respeita, não a aceita.

Mas também não é humanoÉ um veneno que mataUm veneno que permaneceQue afeta as outras pessoasQue as enlouquece.

Mas que as faz desistir desta palavra tão lindatão única e maravilhosaMas forte.

DAVID CORREIA

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Mas que pátria esta!!! Jazem corpos na batalha, Onde brancas areias paradisíacasDe vermelho se tornam tingidas.

Cai o último homem do conflito,José Andrade. No lar, a mulher e os dois filhos,Um deles ainda pequenito,Desejam-lhe em vão sorte nos gatilhos,Mas eterna será a saudade.

Lutava Andrade Na frente, Para resguardar a sua pátria.Pobre moço, Que o injusto Destino Apenas te deu 33 anos de caminho.

Agora descansasE sabes melhor que ninguém, Com a sabedoria que alcanças,Que a ordem vem além.

Mas que pátria esta!!! A quem servis?!À ordem ou ao caos?!A quais dos teus fiéis?!Hoje o inimigo bate em retirada. Amanhã só Deus será a salvação.

DAVID GUSTAV TEIARES

Mas que pátria esta

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154antologia da poesia livre

A liberdade...

A Liberdade é Uma Mulher

A liberdade é uma mulher...Doce e delicada,Tem flores pelo cabelo,Sabe que é amada.

A liberdade é uma mulher...Com o sol no seu sorriso,Uma força que vem do mar,Que sabe sempre o que é preciso.

A liberdade é uma mulher...Poderosa e despachada,Que contagia o coraçãoE nunca se sente acabada.

A liberdade é uma mulher…Alegre e independente,Não precisa de ninguém,Fica apenas com quem a sente!

DÉBORA DENISE

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Chamam -lhe liberdadeChamam-lhe liberdadeMas bombardeiam as mulheres e os seus filhos inocentesChamam-lhe liberdadeMas molestam a prol dos crentesChamam-lhe liberdadeMas há censura até do meu pensamentoChamam-lhe liberdadeMas acham um beijo do mesmo sexo nojentoMas vende portanto também é rendimentoChamam-lhe liberdadeMas a cor do homem é carta de recomendaçãoO homem nasce livre mas de algema na mão?Chamam-lhe liberdadeMas por mais que ela se oponha, ela nunca disse que nãoChamam-lhe liberdade Mas se ela ganha mais, é porque usa a sexualidadeChamam-lhe liberdadeMas se o governo faz merda, culpam a sociedadeChamam-lhe liberdadeMas o polícia caça a riqueza do mais pobre,Os minutos a mais do parquímetro Chamam-lhe liberdadeDizem que os homens não se medem aos palmosMas são alvo de chacota se tiverem menos centímetrosChamam-lhe liberdadeMas são presos pelo capitalismoChamam-lhe liberdadeMas os olhos estão fixos no ecrã, o novo “realismo”Chamam-lhe liberdadeMas eu sinto as correntes nos tornozelosChamam-lhe liberdade Mas homens livres, nem vê-los.

DIANA REIS

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156antologia da poesia livre

Revolta-te!Revolta-te, se quiseres.Revolta-te, por favor.Revolta-te, se viveres.

Sai!Sai de casa.Sai de ti, saio!

Sê livre.Livre do que te prende,Do que não te deixa ser--Sê livre de ti.

A liberdade revoltaDesperta o incómodoE deixa para trás o impuro.

Escuta o teu coraçãoEsquece o pântanoMergulha até onde A água é cristalina.

Mergulha onde a liberdadeNão tem fim,Por estar dentro de ti.

DIANA SILVA

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Não te perder...

Não te perder é ser livre

Tenho a Liberdade de te querer.De te amarE de te ter.Jamais de te perder.No pensamento nada é proibidoNem no fazerNem no sentirEm tudo que a vontade me der.Prometo não vacilar.Lutar por uma brisa de ar livreE amar-te até querer.Se algum dia por mim procuraresSabes onde me encontrarNum ninho de aves livresEm que o tempo é ilimitado.Porque não precisas olhar para o relógioNada conta, só voarTudo mais é darViva a liberdadeSó depois te posso amar.

DINA LAVRADOR

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158antologia da poesia livre

Raios vos partam a todos!Senhores do poderque de poder, possuem apenas,o materialismo mentale o conformismo populacional.

DESPERTEM!É tempo de rua. É tempo de vida,se já não era antes;tomem agora as rédeas!“Acordai” escravos que já soise não vos sentis.Tomai como saúde Fernando Lopes Graça.Vós sois o poder.Não vos podem ofender.Não os deixem ofender-vos.Parem-lhes a ostentação.Não lhes perdoem o perdão,pois de perdão em perdão(não pedido)continua a extorsão.

Sejamos mais seres a sermais. Sejamos seres de viver.

DIOGO DIVAGAÇÕES

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Liberdade? Tens pátria, tens bandeirae esse pequeno viver de funcionárioque levas ao ombro agreste - com essa insolvência de Sísifo a latejar na fronte,com as noites que estão depois dos ossos

e outros tantos queixumes convexosque muges aos pederastas sagradose jorras nos quartos de ninguém.Liberdade? Ao menos não tens de passarrecibo por essa agonia tão portuguesa

de pensar que D. Sebastião ainda vem.E Lázaro? Será que ainda volta?Nem que seja por um Pastel de Belém?(esquece: ao fim de quatro dias deve querer é solonde menino veste azul e menina veste rosa...)

Sobe a Bica, diz Saramago para a selfiea contragolpe do tédio e da bazófiade teres um país de turistas e postais!Porque esperavas melhor daqui, se atéCastália secou e Rodes foi saqueada?

Liberdade? Só se fores um pássarorecortado ao atropelo fatal para errar outro caminho que não o do lusitano,tão livre que ele é com o seu fado,com saudades de lhe chamar Ponte Salazar.

DIOGO RIBEIRO

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160antologia da poesia livre

Para além...

Para além da liberdade mas não indo além do que me liberta.

Além do que pensava, estava eu, por engano e por desconhecimento do que a vida reservava.Não tinha um recinto, nem tinha uma vedação, ia daqui para ali sem procurar uma razão.

Como o vento que sopra em todas as direções e o ar que se envolve em várias propagações.Esta era a liberdade que me diziam justificar os imprevistos que a vida nos pode dar.

Cansado do aperto que esta liberdade me dava, comecei a procurar o que dela me libertava.Explorei então além da sua extremidade, e descobri que ir ao de lá era só uma vaidade.

Onde iniciou a sua difusão? Perguntei eu, talvez ali se pode encontrar uma justificação.E ali me dirigi, prosseguindo com uma reação quase teimosa, para me livrar de uma liberdade enganosa.

Percebi que a verdadeira liberdade não é sem limitação, e que mesmo assim não me priva do que é bom.Ela me dá firmeza durante a navegação, e me mantém em segurança mesmo estando no porão.

Esta liberdade ajuda-me a voar em ar privo de contaminação, e ilumina os meus passos da escuridão.Tornou-se um som de águas cristalinas, borbulhando desde a sua nascente e correndo desde o oriente.

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Livre como o pólen de uma flor de primavera, e levado por uma brisa para ver um tramonto que me espera.Lá vou eu; além do horizonte posso chegar, sobrevoando paisagens que até aqui não conseguia alcançar.É uma liberdade preciosa, que não se pode comprar, nada pode pagar o valor que essa liberdade pode dar.Mesmo assim ela me foi oferecida, como um copo de água junto a uma fonte bem abastecida.

Agora sou livre como uma luz que se expande, livre como o leão, livre como a águia, livre como o tubarão. Sim, agora posso correr, agora posso voar, agora posso mergulhar, agora posso ver!

Finalmente livre, sem nada que me aperta, posso ir além da liberdade não indo além do que me liberta!

DUARTE PINTO DIAS

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162antologia da poesia livre

Das amarras que teci ao longo da vidatentei libertar-me dos limites impostos.Pura ilusão que me afastou da solução dourada que liberta.A cada novo passo conquistadonovas prisões assinaladas.A cada novo caminho percorridonovas cordas me aprisionavam.Do grito “Liberdade” que ecoou no peito,reflexo da consciência que se ligou à minha Alma,assim se grita nas ruas,reflexo da nossa Alma grupal.Queremos e sabemos que só somos livresquando, de dentro para fora, nossa dignidade se respeita.Juntos libertamos cordas e amarras.Juntos cumprimos nossa missãoLibertamos a Humanidade!

DULCE CELESTE GONÇALVES

Ecos

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Liberta -te...

Liberta-te… E que sejas feliz!

Nem mais um choro ou um lamento,Não adianta fugir para não encarar.A ninguém se pode roubar o sentimento;Que nunca te impeçam de viver e de amar!Basta de humilhação, dor e sofrimento,Mulher presa indefesa, que vives subjugada.Quebra as correntes, as amarras de ficar,Foge da noite escura, entra na madrugada.Onde te espera o colo de mãe - a luz da alvorada,Que te vai acompanhar até teres a coragem,De te reconstruires como pessoa amada,Olha para ti, pensa, acredita e faz a viragem,Não perdoes mais, não te deixes cair em tentação,Nunca mais haja outra voz, que fale por ti, na tua vida.Guarda as boas memórias, num canto do coração.Presenteia-te com a importância devida.Decide-te sem medo, age, ousa à vontade,Se olhares em frente, respiras a Liberdade.Nâo há mais nada a fazer, nem mais tempo a perder,O caminho é para frente rumo à Felicidade!

DULCE MOURATO

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164antologia da poesia livre

Quando eu for grandeQuando eu for grande, quero ser como o papá e a mamãE como o mano e como todas as pessoas que são grandesE assim… como a torre da igreja e os sinos Que repicam aos domingos de manhã.Quero subir à estátua de marfim, onde a pomba branca fez o ninho.

A mamã disse que um dia eu ia ser assim… Tão grande como os sonhos que crescem dentro de mimTer asas como os pássaros E rebentos como as plantas e as árvores do nosso jardimMas que tinha de fazer por isso.

A mamã também disse que este mundo é cruelQue as pessoas são, por vezes, aparênciaE carência de afetos, amor, e de alegria pela vidaMas que em minhas mãos está a possibilidade de ser e fazer diferença

Disse ainda, que posso ser tão grande como uma floresta inteiraE ser o sol, a lua e as estrelasE as lágrimas secas no rosto do JoãoPor vezes, zango-me com ele e dou-lhe uns murros à maneiraDepois, fico triste e me acho pequeno e feio E a mamã também se entristece por eu ser desta maneiraUm mundo grande e pequeno, tão cheio de defeitos e contradiçãoMas que posso ser um Outro se fizer por isso.

A mamã disse e eu quero de verdadeFazer por isso e ser, enfimA cor vermelha da flor, símbolo da Liberdade!

DULCÍ FERREIRA

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Nasce a Liberdade Na noite mais fria, na manhã mais quente No dia em que do nada entre Nos suspiros de uma pomba, no uivar de um lobo Néctar precioso, da alma elixir Venho do norte sul, de onde provir No seu vento tiranos temem Na sua passagem sociedades tremem Diante do sismo que esta faz as suas estruturas No entanto vem com branduras No sopro de uma ideia, no germinar de um pensamento Cujo o fruto de acção a desencadeia As forças opostas do poder arreia Mãe de poetas, inspiradora de prosas Despida em sinceridade Transparência que ela é Mas empunhando em si a espada da verdade Com ela ela trespassa a mente Fere o entendimento abre o intermitente Conceito a florescer De uma ideia de uma palavra, de uma marcha de um soneto Ei-la! Prestes a nascer Nas brumas do homem, nasce a liberdade

EDGAR TELES

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A Liberdade é PoesiaÉ o renascer, a revoluçãoDo Poeta que grita a vidaQue canta com o coração

É a liberdade de expressãoComo uma palavra cantadaQue se funde em cada notaQue no fim se dilui em cada refrão

É a liberdade de viver em pleno e intensamenteApagando do dicionário a palavra “não”

Seja a rir ou a chorarO poeta revoluciona a vida a cantar

Seja imaginação ou fantasiaO poeta renasce sempre das cinzas para voltar a cantar

Liberdade é ser um poeta da vidaO porta-voz do Mundo ou de uma naçãoUm poeta canta, grita e escreve libertando-se com toda a suaforça e garraVindo de todo o seu coração

EDUARDO M. FABIAN

A liberdade é poesia

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Mesmo tolhido na razãomesmo oprimidoainda que violadomesmo torturadoserei sempre canção.Serei poeta...até profeta...serei rio e mar serei ventoserei verdadesaberei sempre amarEspalharei meus versosmesmo que amordaçadoserei pensamentocantarei minha razão.Ainda que me cortem a verdadeapaguem a imagemmesmo que seja utopiaainda que na voragemdo meu longo diacorrendo na libertinagemdo meu pensamento...serei sempre razãoserei livre pensamentoserei eterna coragemserei Liberdade!!!

EDUARDO PINA

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Sonhei que era livre como os pássaros que voamsem hora nem destino e no sonhoquis ser poeta e divagar silenciosamenteao som do tempo que passa sem pressa,sob a brisa serenada tinta que pende sobre a folha despida,à medida que os olhos penetram o mar em busca da ousadia desse povo aguerrido que um dia também [se atreveu a sonhar.

Um leve despertar levou o sonho e com ele veioum tumulto que me mortifica como terreno pantanoso,absorve as entranhas e leva as flores que me serenam. Quero tão-só romper as rédeas do abismo que me consomee ser canto de um olhar por entre um mar em tormenta.Necessito indagar pelo coração da memóriae soltar o lento sibilar do ermo que sulca os dias transparentes. Preciso de ser feliz sonhando com as palavras

e assim cantar perenemente a ousadia das fragrâncias que rimam com o ar que respiras e tangem a pele que reveste os céus, galgando margens e fronteiras que quebram os muros da indiferença,diante desta audácia traquina da menina de coração com paladar apurado que, delicadamente, solta a voz que baloiça o rúbeo perfume da poesiae cala a soturna escuridão. ELISABETE BRITO

Liberdade poética

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LiberdadeGanhei coragem, finalmente!Dei ouvidos ao meu coração.Porque até ao momentoDeixei a razão falar mais alto.E fui me perdendo com o tempoLevando-me em palavrasProferidas sem sentimento.Meramente iludidaSenti-me, dia após diaPrisioneira de mim mesma.Rodeada de falsas emoçõesOnde nada fazia sentido.E só o vazio me abraçava.Mas agoraTenho orgulho de mim própria!Deixei a razão acorrentadaE libertei o meu coraçãoPara dar asas à felicidade.E aí, o sorriso voltou.O vazio, deixou-me livre.Meu olhar iluminou-se.E hoje... sim, hoje,Sinto-me completaPorque devolvi a mim mesmaA tão ansiada liberdade para viver.

ELISABETE NÓBREGA

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172antologia da poesia livre

Neste meu grito de liberdade

Não quero ser aquela mulher que te vai preencher o silêncio,um silêncio que me assusta, pois não grita a verdade.Não quero ser aquela mulher em quem pensas apenas quando te sentes vazio!Não quero ser aquela mulher para quem olhas,apenas porque é aquela que fala mais alto!Não quero ser aquela mulher a quem ligas, simplesmente porque não tens mais ninguém a quem ligar!Não quero ser aquela mulher que te ocupa o pensamento, nos momentos em que não tens mais nada em que pensar!Não quero ser aquela mulher que te alimenta o corpo,tão somente, porque o teu corpo precisa de se alimentar!Não quero ser aquela mulher a quem dizes palavras meigas, apenas porque não tens mais ninguém a quem as sussurrar!Não quero ser aquela mulher a quem chamas “amor”, apenas porque quem amas não te sabe amar.Neste meu pobre poema deixo a mente vaguear, Neste meu pobre poema encontrei… a minha forma de me libertar!

ELISABETE PINHO

Neste meu grito...

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Lá anda a gaivota voando,Rodopiando,Volteando,Enamorou-se das ondas do mar,É feita de espuma e leve como ar.Cheira a sal e a maresia,É pura liberdade,Pura fantasia,É um mundo de faz-de-conta cheio de magia.Ao aterrar, como é lento o seu pousar…Um sopro, uma aragem, um suave restolhar,Dir-se-ia que não nos quer acordar,Num vai e vem constante, mendiga as migalhas do chão.Não há peixe no mar,E debica tudo o que lhe dão com sofreguidão.Um dia, por pura ironia,Vi-a boiar nas águas ao sabor das ondas,Asas abertas, parecendo abraçar o mar,Ou num último alento em voo levantar,E voar rumo aos céus no seu eterno voltear.

ELISABETE SERRA

A gaivota azul

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174antologia da poesia livre

LiberdadePor ela eu faço guerras, eu faço leisMatam e morrem, por ela, os nossosRoemos as carnes, roemos os ossosJulgando-nos, a ela, sempre leais, fiéis Executo maravilhas, escrevo tratadosInvoco deuses, demónios e santosGrito aos ventos, gritos em prantosE depois o nada deixa-nos prostrados Quando chego, enfim, ao portoDepois de longa e penosa viagemNão parti. Fiquei, só, na margem E pergunto indignado e mortoO porquê para tanta maldadeAfinal, para que quero Liberdade?

ELISIO A. J. MOREIRA

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O mundo atropela-nos e pressiona-noscom avanços titubeantes, e a liberdade vem à rojode atitudes de gente sem espinha, vacilantes.

Título de poemas e músicas, pobre Liberdade tão pontapeadaem amores, lutas e nobres causas quando, depois,é a primeira a ser dilacerada

Cada um tem a sua Liberdadee vive-a sem nela pensar, Usa e dela abusa sem noção do valorBrada-a aos céus e aos infernos sem a decomporSem perceber que nela pisa de tanto a esvoaçar

Sou eu livre? De pensamento simE essa Liberdade não há quem tolde o que dentro de mim vai é lacreDa minha Liberdade de ser eu, sem cópias, decalques ou moldes

Tantas Liberdades tripudiadasTantas extravagâncias cometidasTantas atrocidades badaladasTantas Liberdades perdidas

Liberdade egoísta

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176antologia da poesia livre

E o mundo passa à frenteSem choro, mágoa ou feridaComo se nada fosse Sem sono perdido ou noite fugida

Que liberdade tenho eu? Apenas a que em mim borbulhaAquela que é pura e genuína, minha só minha, dentro do meu pensarQue ninguém rouba ou consegue trapacear

ELSA BICHO

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Asas… Perfeitamente Imperfeitas…

E quem não as tem?! E quem será que as detém?! Sinto-as, não somente por mim, como também torneadas e embalsamadas em ti, Absolutamente desiguais, aos referenciados Bem-Quereres, mais que Sensuais. Mesmo de pés imundos e desmontados, carimbo eu paredes abeiradas aos ares pardos. Ainda, costurada ao meu coração, sobrevive uma baga negra tingida de inspiração, Enfeitando um puro ninho, harmoniosamente estrondoso, explosivamente bondoso. Afligindo eu essa tal coisa apelada de liberdade - uma fraca idade que em mim se poisa, Calo a forte amarga voz gaga, retratada na garganta e transpirada pela seiva da planta. Embora, estimo que todos me digam que sou livre, que da mansa lição eu delivre. Ou, talvez, acredito numa página molhada solta ao vento, invejada por um casamento. Ateimo, e digo que não! E como digo não ao cognome do não?… Ter liberdade! Falta de expressão! Oca de fraternidade e de pouca compreensão! Mais exatamente uns alinhavos! Linhas encravadas, que nos fazem de escravos! Não! obrigada, mas não! Por cá, elejo ser Mal-Amada, do que estar Mal--Acompanhada. Um voto estupidamente emporcalhado, de olhares fixos num rosto Meio-Encalhado. Que me violentam com gritos de Cabritos! Zombadas fragatas em unhadas de Gatas! Fod@-se! Cansei de tudo e de tudo me cansei, porque o tudo se cansou de mim! Uma metáfora sem Injúria, nem Restrição. Hálitos de Fúria sem Absolvição! Não me acorrentes mais à excitada dor, à louca solidão, à fraca emoção do pecador. Porra! Quero que te trames! Tresloucada independência. Que reclames, que proclames, Por uma vida Mediana, destinada às minhas flóridas Papoilas: Mariana e Ana. Embora, admita que sou escrava de mim mesma, rastejada pelos frios suores da lesma! Sacio-me de alma e de pensamento, que me acalma a Merda cagada do Abalroamento! Uma alegria que só eu sinto, exatamente como eu a queria! Como eu a pinto, a repinto. Então voa! Voa, voa, Car@lho! Cospe, Engole e Morde na saliva Salgada do Orvalho! Severamente intoxicada pelo Espírito e esmagachada nas pelugens peludas do Pirulito! Que mais parece uma fadiga cadela, oleosa canela! Uma mula teimosa deveras vaidosa. Não largues o teu próximo transporte. A Puta, a Cabra e a Vaca da tua Boa e Má-Sorte! Porque, cá eu… Apenas quero ser Livre, Livre, livremente Livre…

ELSA MARCOS

Asas...

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178antologia da poesia livre

LiberdadeEu danço até a cabeça andar à rodaDanço porque me quero esquecer da vida Quero dançar como uma loucaCom trajes coloridos, tão coloridos e tão alegresQue quem olhar para mim a dançarqueira dançar comigo também.Assim seremos muitos, seremos loucos, seremos muito loucos, seremos muitos loucos, e muitos loucos não são loucos.São só pessoas livresRodopiam na loucura da dança da vidapara se livrarem das amarras dela.

ELSA PIRES

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Eu sou livre!

Com a minha perseverançaanimo os fracos.

Com a minha diligênciacorto asas ao astucioso.

Com a minha humildadeabalo o alicerce do orgulhoso.

Com a minha independênciarasgo as teias da corrupção.

Com a minha confiançaderrubo o complexo de superioridade.

Com a minha sabedoriaquebro as correntes do ódioe sinto-me mais livreque as aves do céu!

EPIFÂNIA FONSECA

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180antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade de ser num horizonte qualquerLiberdade de ser flor rosa ou malmequerLiberdade de pousar onde o coração quiserLiberdade de ser homem ou mulher Liberdade de ser criança e sonhar Liberdade de colorir e pintarLiberdade de crescer e de pensarLiberdade de ser igual ou diferenteLiberdade de ser povo e de ser gente Liberdade de sorrir e abraçar Liberdade de ter de partir e deixar Liberdade de abrir portas e dançar Liberdade de ser pássaro e voar Liberdade de ser rocha e de ser ar Liberdade de ser fogo e de queimar Liberdade de fundir oiro e dourar Liberdade de ser chuva e de ser vento Liberdade de escrever símbolos no tempo Liberdade de ser rio e de ser fonte Liberdade de contemplar o horizonte Liberdade de ser feliz e amar Liberdade de seres tu e eu a navegarNum barco à vela, sereno, em alto mar!

ERMELINDA SILVA

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Cravos vermelhos de Abril

São laços que libertamamarras que se desprendemgrades que se abrembarcos que chegamvozes caladas que gritampunhos cerrados que se erguemlábios unidos num beijo

Cravos vermelhos de Abril

São mãos dadas de vontadePrimaveras que florescemruas desertas que se enchemterra fecunda que dá florsearas que dançam ao ventorisos de crianças milcorpos que fazem amorabraços ternos de Abril

Cravos vermelhos de Abril

São poemas de Ary Com desenhos de Cunhalque nasceram na prisãosempre à espera doutro alguémcanções do Zeca trás outro amigo também livros que estavam escondidoslidos agora na ruabandeiras rubras guardadasdançando na nova lua

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182antologia da poesia livre

Cravos vermelhos de Abril

São o hino de Caxiasolhar doce de ternuracamaradas que partiramem tempo de ditaduraesperanças e alegriassol brilhante da manhãsoldados marinheirosmineiros camponeses estivadores e pedreiros

Cravos vermelhos de Abril erguidos em cada mãoguardiões da liberdadedefensores da Revolução

ESTER CID

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Maio/1974

Bom dia, Liberdade!Grita o rapaz, segurando o cordel do papagaio de papel coloridoQue exibe com vaidade. Os teus braços amarram-me, na responsabilidade de ser livre!A tua cor, verde, explode nos campos de lírios, como quadros [expostos no Louvre.No âmago da minha vontade, corre nas minhas veias o sangue [velho dos avós,Na conquista de mim mesmo e, em busca de independência. Deslindo-te no longe, na miragem do delinquente e, no eco rouco [da sua voz. No anseio da minha liberdade, Cumpro a vontade da tua!Como a rosa selvagem que desponta no deserto, em jeito de carícia.Na perfeita imperfeição de simples ser humano, que sou.Pobre coração, no meu sonho de menino. Voo nas asas da igualdade e, Na imagem, luminosa de azul.Da imensidão do mar, que deslumbra o navioRumo ao futuro, ainda que seja no Sul!A minha palavra, coerente, liberta-me a saudade, Da planta que floresce entre as pedras da rua, Empenhando a sua vontade de crescer em liberdade

EUGÉNIA MARTINS

Poema à liberdade

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F

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LiberdadePaís que não me encaixo,Filhos de escravidões antigasContavam caixões,Não mais alguém esfumace.Abre as asas,Brisa que toca na faceVida que respiro,Sonho perfeito.Homens marcham avenida abaixo,Entoando cantigasContra todos os canhões,Cravo vermelho na mãoArrancado do peito.Oh Liberdade, liberdade!Pulsa o coração.A música chegará ao fim,Vou a caminho de casaAté ao último suspiro.

FÁTIMA ALVES GONÇALVES

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188antologia da poesia livre

Quero oferecer-te algo meu, só meu,do mais fundo de mim.Um poema.

Nuvem, lágrima, arSonho, fogo, calmaÁgua, paixão, tardeBonança, inferno, olvidarFicar, ir e voltar.

Este poema é para ti.E não te atrevas a dizer-me que não é um poema,porque eu sei que o é.Um poema livre de formas e espartilhosque o apertem e condicione.Um poema que estrebucha e salta.Um poema feito de palavras soltas e à solta.

FÁTIMA D’OLIVEIRA

Palavras à solta

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LiberdadeÉ na asa dum pássarono movimento das ondasque te vejo,liberdade.

É na esquina do ventona sementeira do solque te vejo,liberdade.

É na voz do povono desejo dum olharque te vejo,liberdade.

E é na essência de serna consciência de estarque te sonho,liberdade.

FÁTIMA NASCIMENTO

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190antologia da poesia livre

Alguns me contrariamProssigo sem olhar para trás um dia após outro - em Paz!Tempos difíceis com silêncios e indecisõesNão julgo o outro...Sou de paixões.Fico absorto! Caminho a par com o meu irmão, sem preconceitos mas com determinação - com ganas de ser livrefico a descoberto. Ignoro a futilidade o diz que diz a falsa inocência a ditadura, meretriz. Não temo o lápis azul ou a prisãoConquisto o mundo inteiro com um cravo na mão!

FÁTIMA VEIGA

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Abril dos trinta diasNo calendário da era em que vivemosOcorre há uns bons séculos, ano a anoE assim continuará, bem o sabemos.Porque é mês de PrimaveraTem mais Música, mais PoesiaE esperanças renovadasEm desveladas jornadasDo sempre esperado VerãoQue também sempre contémFortes ventos e enxurradasMas assegura sementesQue à Terra darão mais Pão.Perdurará, por entre as águas mil,De tanto saber e crerNa História de tempos idos, repetidosDe lucros e tantos danos sofridosMas de bandeira hasteada,Na democracia erguidaDireccionada ao FuturoEsperançosamente exibida!Abril das flores que os frutos dão,Não morrerá, não cederáA não ser que o Sol da UniversalidadeO Sol da Justiça e da VerdadeO Sol que fala por nosso coraçãoNos seja arrancado, esmagadoE jaza, inerte, esvaído em qualquer mão,Incapaz de crer, incapaz de mais lutarE se deixe, mesmo que sem paz… morrer!

FERNANDA BEATRIZ

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192antologia da poesia livre

LiberdadeNeste País,Onde reinava a proibiçãoE a resposta que o povo recebiaPara quase tudo, era um “NÃO”

Neste País, Onde não havia escolhas,Nem poder de criticarE a população dia a dia Corria o risco de à prisão ir parar

Neste País, Tudo o que o povo Lia, via ou ouviaEstava sujeito a censuraE falar nem podia

Eis que numa manhã de abrilO Sol voltou a brilharO povo veio à rua e pôde sorrirE a liberdade conquistar

Em defesa da LiberdadeO povo nas ruas cantou Com vozes rubras de cravosA canção de Zeca Afonso Grândola, Vila Morena, Terra da fraternidade

FERNANDA FANTASIA

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LiberdadeCondição das asas Alma do vento Movimento de todo MarOnde o calar não existe em silêncio Sede do grito de gritar O AMOR É A ALMA DO MUNDO

Ar que transpira nas lágrimas Emoção quando aberta A janela O Sol canta a cor livre Absoluta da LUZRainha da VIDA

LIBERDADE É O ESPÍRITO ALIMENTO DOS SONHOS

E tudo mais que faz o Homem Nunca parar de sonhar

A Mãe do útero primeiro do Mundo Quando a eternidade Escrita em versos livresTransforma o tempo em som Música sem fim Memórias passadas numa lembrança Onde o único esquecimento É a só palavraESCRAVO

A ROSA LIBERTA DA ESCRAVIDÃO

FERNANDO CASTRO

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194antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade é um direitoE por efeito um dever.Liberdade de ser,Liberdade de estar,Liberdade...

Liberdade de ver,Liberdade de ouvir,Liberdade de compreender,Liberdade de sentir,

Liberdade de pensar,Liberdade de falar,Liberdade de se mover,Liberdade de fazer acontecer.

A poesia é por si liberdade...Liberdade de expressão!De requerer igualdadeDar voz à inspiração.

Liberdade... Liberdade...Liberdade de se libertar.

Liberdade...Uma ave que voa de mão em mão,Sobrevoando a escolha, a expressão,O saber respeitar a liberdade de outrem.

FERNANDO NETO

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LiberdadeComo é bom olhare ver todas estas cores,todas estas formase todas estas hipóteses de ser.

Como é bom sentira brisa do pôr do sol,a melancolia num dia de chuva,ou o cheiro do mar.

Como é bom ouvirum avião a descolar,a melodia dos pássaros,ou o riso contagiante de alguém.

Como é bom saborearum doce preferido,o cloro da piscina ou a água salgada do mar,e algo mais que me faça recordar.

Como é bom tocarno próprio conforto,numa memória esquecida,nas páginas de um livro antigo,ou na pessoa preferida.

Como é bom ser eu,poder escolher o que fazer e onde ir,abraçando a liberdade,amando o que tiver de vir.

FILIPA GONÇALVES

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196antologia da poesia livre

LiberdadeLúcia acordou deslocadaDizia-se agrilhoadaFarta de vida macabra.Desenredou-se por issoDo horrível feitiçoE partiu para outra ilhargaDizem línguas viperinas Que nas noites mal dormidasSonhava em tudo fazerDesde sonhar ao lazerCom medo de adormecerTornou-se, pois, incorretoCulpá-la desse projetoDe remar contra a maréE nadar fora de péEm completa comunhãoPorque ganhou intençãoDiz-se liberta, com vidaDesses anos de exaustãoApesar de combalidaRecuperada, banidaVê que a ferida não é ferida E que o som camaleão Que seus ouvidos atentamJá não é precariedadePorque os olhos implementam O sabor a liberdade

FILIPA VALDEZ WILSON

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LiberdadeQuando a perdemos sentimos que não poderá voltar,Algo tão precioso que por garantido temos tendência de tomar,Nunca nos devemos esquecer de por ela lutar,Pois se não o fizermos então em depressão podemos acabar.

Liberdade, não te posso perder,Liberdade, não te quero esquecer,Liberdade, te irei enriquecer.

Vens cada dia sem eu sequer notar,E a cada altura poderás acabar,Também sem eu sequer notar,Tantas formas existem de te perder que até me está a assustar.

Liberdade, és uma bênção,Liberdade, és uma linda canção,Liberdade, és a deusa da inspiração.

Quando tu vens eu sinto superação,Quanto tu vais eu caio em desesperação,Muitos se calhar não sabem isto que vou partilhar,Portanto peço que me venham escutar.

Medo é a maior prisão,Esperança é a maior libertação.

FILIPE DE LIMA COELHO

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LiberdadeLiberdade,velha novidade.Liberdade,banir a maldade.Liberdade,gentil humildade.Liberdade,única vaidade.Liberdade,viver a saudade.Liberdade, não sentir idade.Liberdade,estar à vontade.Liberdade,a minha amizade.Liberdade,na tua claridade.Liberdade,ver a igualdade.Liberdade,a nossa verdade.

FILIPE GOMES DA SILVA

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Liberdade é ser, agir, calar, ou nãoÉ procurar o que se querOnde e quando se querSem ter que pensarSe é permitido ou proibidoSe é ou não convenienteSem espartilhos nem limitesSó aqueles que cada um deve impôr a si mesmoPorque é importante não humilharPorque tem que ser impensável fazer sofrerPorque é obrigatório ser genteE gente, minha genteÉ ter consciência que há outrosQue também têm que ter a liberdade de ser, agir e calar, ou nãoQuando quiserem

FILOMENA BRITO COSTA

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LiberdadePerdendo-se na luz do sola gaivotagoza a plenitude de voarao sabor de ventos e sãs glóriase eu fico-me a contemplar-lhe a liberdade de alma...Suo de marérolando no dorso da ondaaté se fazer poentepara com ela partilhara doce voz de oirodo canto liberdade...E cá vounum quebrar de asasaber o que custasonhar o amor, sonhar a liberdade...

FILOMENA CARY

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LiberdadeCansei e cortei amarrasE sem destino fui rio abaixoNa minha jangada,Sem direção, ao sabor do ventoDe paus toscos talhada,Mas livre, o pensamento.E nas águas mais turvasDesse rio que corre apressadoEm chegar ao mar,Ela navega e corre,Sem vontade de voltar.A corda era rija,O nó, bem apertado,Mas não resistiuA este meu estado.Só quem não tem força,Sonho, ou vontade,Não corta as amarrasE vai rio abaixoRumo à liberdade!

FILOMENA FADIGAS

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202antologia da poesia livre

Um fio de Vida persiste.Frágil, inquieto… incerto, ao ritmo do coração.Umas vezes, acelerado, outras mais compassado.Respiração ruidosa. Alarmes que apitam…Gestos cautelosos…É o fim que se aproxima masque ninguém adivinha.Mãos que se entrelaçam.Olhos fechados. Lágrimas ausentes.Memórias presentes e, por entre palavras sussurradas ouvem-se historias… aventuras passadas.A respiração acalma-se.Olham-se longamente, profundamente… num diálogo de emoções.A súplica presente atormenta.O Egoísmo e a Compaixãolutam por um lugar no coração.Nesta cumplicidade de afectos,Um sorriso tímido aflora os seus lábios.Com os olhos marejados de lágrimas,consente silenciosamente.Lentamente a separação acontece.Sentidos esvaídos entre suspiros e batidas de um coração que se recusa a continuar. Calmamente há uma Vida que se extingue…Rumo à Liberdade…

FILOMENA MARTINS

Rumo à liberdade

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O homem é entre todosos restantes animaiso único não escravodos instintos naturais.

A condição de ser livreé que lhe dá dignidadee permite que superea sua animalidade.

Mas a liberdade exigeque não se ultrapasse a linhaonde começa a tuae onde termina a minha.

Quando no seu procedernão se detém nessa margem,o homem deixa de o ser,torna-se animal selvagem.

E a história da humanidadeé a ilustração cabaldo uso da liberdadepara o bem e para o mal.

FLÁVIO VARA

Exigente liberdade

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204antologia da poesia livre

LiberdadeOlho-me num espelho que não existeVejo-me perfeita, borboleta feitaAbro as minhas asas coloridasCom as cores de arco-íris, e brilhoEstico o meu corpo esguioManchado de riscas perfeitasDesenhadas com o colorido do pensamentoLevanto a cabecita com olhos esbugalhadosVerdes como alface acabada de nascerE fixo o horizonte…Estou no topo de um qualquer arranha-céus Lanço-me num voo perfeitoNum céu azul sem fim…Não quero saber onde vou pousarQuero apenas voar…

FLOR YALEO

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Soltem as amarras, libertem-se das prisões.Mundo cruel que vos prende sem grades,Seres frágeis, humilhados… desprovidos de vontade própria.Quando perderam a vossa razão de lutar?Como vos convenceram de que nada valem?Como permitis que vistam vosso corpo de roxo?O mundo também é vosso e lá fora há um mundo.A liberdade é um direito de todo o ser humano.Tu és um ser humano… tens direitos…Tens deveres também…Tens o dever de lutar e de te libertar.Abre as janelas e respira… sente o aroma da liberdade.Sai, foge sem olhar para trás…Se, por acaso olhares, que seja para dizer até nunca.Livra-te da tua prisão… solta as amarras…Alimenta o teu ego e ri, grita, chora…Promete que para sempre serás livre,Promete procurar a felicidade, o amor… a autoestima...Se te voltarem a tentar encarcerar grita por ajuda,Luta com todas as armas que puderes…Promete a ti próprio(a)… liberdade.Solta-te para sempre das amarras e… vive livre.

FORTUNATA FIALHO

Soltem as amarras

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206antologia da poesia livre

Agora não acordes os prepotentes, estão entretidos na cultura dos recordes.Um dia, talvez alguém queira questionartanta Terra desocupada, mas sem os contemplar.

Olha, a malvada Terra, ainda tem tremuras!Está velha, mas capaz de desarrumar qualquer entretém. A tenebrosa encanta, mas não se deixa dominar. Dizem que é a contribuinte mais activa, mas quando chega a hora de pagar, assobia para o ar.

Oferece períodos de sol a uma pequena parte do mundo, a restante passa os dias a fabricar bolas para brincar.Noite e dia, produz milhões delas, aprendendo a conjugar o consumido jogo do poder.

Neste mundo há bolas miúdascapazes de passar a grade das regras da liberdade,enquanto a exuberância de outras fica retida pela aparência em todos os lados.

Não há bola como a nossa Terra, livre e abandonada, onde todos brincam. Esta Terra liberta-se e, despercebida, sem dizer palavra alguma aos que lá estão,não bate com um pau no chão para controlar a população.

FRANCISCO CALEIA

Ora bolas Terra!’

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Liberdade… neste mundo? É ser escravoDos desejos, dos ódios, das paixões,Da determinação, das hesitações,De tudo o que se diz e do seu contrário. É ter por escolha o mesmo resultadoDo indivíduo morto pelas convicções:Um lugar à mesa das negociações,Dois talheres postos e um guardanapo.

À noite, ser livre é dormir como todosOs que acordaram de manhã. Ou de tarde.Ou, numa directa, é pôr em dia os sonhos.

É escolher entre o campo ou a cidadeSem sair da Terra. É ser igual aos outros,É não ter opções… além da liberdade.

FRANCISCO FREIMA

Soneto da liberdade

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208antologia da poesia livre

Entre oiro e água fluem teus cabelos.E és tão linda! Ilha de Avalon,nórdico mar, longínquo galeão,cartas de marear que levam selos. És talvez Nimue, Dama do Lagoaquela por quem vivo, oro e lutoa mulher de cristal que eu disputode olhar de fogo sobre que divago...És a própria lenda, e o teu braçoemerge em liberdade como um laçoe restitui-me intacta, Excalibur, A espada do meu corpo junto ao teu!O cálice de ti que junto ao meute faz ser Guinevere e eu , Artur!

FRANCISCO LIMPO

Liberdade é feminina

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Liberdade é ter saúdeQue potencie atitudeDe bem-estar relaxado,Sem que ao bem-estar alheioSe impeça o recreioDesse bem tão desejado....Liberdade é ir em frente,Com disposição contente,Podendo o caminhanteVoltar sempre que quiserOnde queira reviverO que lhe ficou distante....Liberdade é cada um,Sem empecilho nenhumDe natureza arbitrária,Defender sua verdade,Respeitando a dignidadeDe justa ideia contrária....A liberdade é valorQue favorece o amor,Enquanto libertinagem,Com que é muito confundida,Para a “Terra Prometida”Bloqueia qualquer passagem...

FRANCISCO MACHADO PRATAS

Liberdade é...

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210antologia da poesia livre

Quantas são as pessoas que sofremE dizem que estão bem?E durante a noite esse sentimento Entra em seu pensamento

Foi a liberdade que trouxe o mais desejadoPoder de sonhar, E com ele do seu lado Todos poderiam voar.

Todos queriam ter liberdadeEm vez de responsabilidade Todos queriam o melhor Sem derramar suor

Hoje podemos aprender Com o nosso passado Que muitos tiveram que sofrer Para estarmos, hoje, lado a lado.

Em meu coração guardo gratidãoPor aqueles que se esforçaram Para mudar este nosso mundãoQue tantos desejaram

Esse desejo se espalhou E vejam bem onde chegouHoje carregamos a felicidadeDos que antes carregavam a responsabilidade

FRANCISCO PEREIRA

A liberdade

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G

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213l i b e r d a d e | V o l i

Tem todo o ar que respiraTem as estrelas por teto.Sacode a voz da memória,Desmembrou-se do afeto.

Passa à margem, do presente Interessado!No desinteresse.Riscou da alma as saudades,Como se nunca as tivesse.

Veste a vontade, ao silêncioE a solidão aos minutos.Inala o sabor da míngua;Na abundância da Liberdade.

Desabrigado!... desOBRIGADO.Que se despediu de siE não quer…Ser encontrado.

GABRIELA ALMEIDA

Opção

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214antologia da poesia livre

Não quero armas,Quero floresQue unem pessoasOlhando-se nos olhosE sorrindo enquanto choram.

Não mais ditadura nem paternalismo.Queremos liberdade, queremos escolher,Queremos viver,Queremos!Temos quereres!Vontade de inscrever,Escrever, dizer, gritarAos quatro ventos que estamos aprisionadose que não mais lutamos!Não mais armas,Mas sim flores e música...

Após uma ditadura vem outra.De uma prisão nasce a seguinte.Da não liberdade vem a sensação de demasiada liberdadesem a chegarmos, sequer, a tocar.Da pobreza vem o demasiado.Às sardinhas e vegetais sucede a comida de plástico.Do não se ter vem o ter-se demais ou, de novo, o não assim tanto...Do não falar vem o falar demasiado...Sem nada se dizer...

Liberquê?

GABRIELA CUNHA

Liberquê?

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Escorrega o livro da prateleira,Desamparado cai no chão.Soltam-se as palavras,Enfim, livres da opressão.

Apanharam-se em liberdade,De nada querem saber,Chocam umas com as outras,Não se conseguem ler.

Entretanto perderam-se letras,Da sua raiz,Nem mesmo a soletrarVai fazer sentido o que se diz.

Com as letras perdidasOrdenadas de forma aleatória,Mas com as mesmas medidas,Vamos fazer uma sopa de vitórias.

Das palavras que restamSeparemos as que não prestam,Mudemos a trajetória,Vamos começar outras histórias.

Arranquemos a capa de pano cru,Alteremos o menu,E com uma nova, de papel de fantasia,Vamos por aí espalhar magia!

GABRIELA FERREIRA

Livro... livre

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216antologia da poesia livre

Fui ver o mar!

Nas rochas erguidas como agulhas,Poisavam gaivotas alvoraçadas,Levantando-se em voo harmonioso,As penas brancas, brilhantes, revoltadas.

Em liberdade sentiram o vento furioso,Deste Inverno tão frio e tão agreste.Com o peito dos verdadeiros heróisLições de consciência escrava, então me deste.

Dando-me mais horizonte para olhar,Este azul elevado do mais puro,Que zangado, nem já parece marMas sim tortuosas manchas, de ódio escuro.

Tão livres este mar, estas gaivotas,Que bem presa à sociedade me senti.Ter fama de liberdade e ser escravaÉ a hipocrisia maior que eu já vi.

GEORGINA CAÇADOR

Tomada de consciência

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LiberdadeAquela sensação, de missão cumpridaQuando abres a gaiola, e devolves a liberdadeA um ser que está preso.O querer para sempre, pura maldade!Quem gosta, não prendeDeixa em liberdadeDeixa que solte as asas, ser livre e definirSem gaiolas ou amarrasEscolher e decidirPara que ele sintaQue é livre de ficar, ou partir!

GERTRUDES FERNANDES

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218antologia da poesia livre

Cravos de abrilMote

Eu tinha um cravo encarnado,era uma flor como tantas!...Hoje esse cravo é o bradodas nossas livres gargantas!

Glosa

Eu tinha um cravo encarnado,era um cravo sem história!Veio Abril e foi amado,foi o grito da vitória!

O meu cravo que antes era...Era uma flor como tantas!...Só lembrava a Primaveraa pintar de cor as plantas!...

Ele era um deus encantado!...O deus da felicidade!Hoje esse cravo é o bradoque deu voz à liberdade!

Este CRAVO É DE ABRIL,simboliza balas santas!São as balas do fuzil,das nossas livres gargantas!

GISELA SINFRÓNIO

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LiberdadeUm alicerce,nunca antes sentidoque habita dentro de nósInfelizmente, adormecido Uma palavra completaPalavra cheia de fantasiaÉ pena haver mentes perversasque fazem dela uma utopia Fazem dela uma metaimpossível de concretizarcom um ódio e rancorque parecem ter vindo para ficar Zombam da palavrapor não saberem o significado;não a deixam nascerfazem dela um sonho terminado Onde não ligam ao coração,a já uma velha profeciaum alicerce ambicionadoonde não existe hierarquia Acredito em coraçõesque mudaram o curso da históriaque pegaram na liberdadee fizeram dela um palco para a vitória

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220antologia da poesia livre

Falando de coraçõespois é onde reside a liberdadeonde todos estes anterioresatingiram a imortalidade Pois fizeram delaa sua força de vontadee contra tudo e todos...mudaram a realidade.

GONÇALO ALMEIDA

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Vens-me libertar?Adorado dono meu! sabes que não há riqueza ou luxo que valha um afago teu?Só em liberdade te poderei ser útil, proteger e amar.Dos teus amigos, sou o mais fiel.E os pontapés que me dás, doem mais na alma que na pele.Sem correntes ou prisãopoderia guiar-te pelos caminhos que não vês,guardar o rebanho, o carro, e família com muita devoção.Quero ser teu detective, descobrir pessoas, objectos e droga para te agradar e servir.Nos incêndios, escombros, poços, e neve, te posso descobrir.Mas quantas vezes não pude ser útil e agradarpor me teres acorrentado, noite e dia sem poder correr ou saltar.Meu Deus, como tremo de emoção quando me afagas, me passeias ou me dás atenção.Aqui preso, sempre preso,na ânsia da liberdadeEspero desesperadoo meu dono tão amado.

Com amor, (por mais que doa)daquele que te ama e perdoa

Boby

GOUVEIA MARTO

Liberdade com amor

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222antologia da poesia livre

O dia é infinito, o céu cinzentoA vida vacilante, instável e ferozO bem é momentâneo, o mal é lentoE tudo acaba num final atroz. Que triste é esta condição, ó vento,Marioneta presa em cordéis e nósDas montanhas não se ouve o firmamentoE os deuses calaram sua voz. Ser livre como águia é meu ensejoVoar nos altos cumes por magiaFazer-me das nuvens uma irmã Mas suspeito que este meu desejoDo destino ser dona por um diaÉ quimera fatal, é esperança vã.

GRAÇA ALVES

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Rosto exploradotesta animalescasangrandodo servir, do darcorpo e almaaos sem coraçãoÁguas sangrentas dos riosvelozes corremquilómetros percorremsofrimentos, gritos levamcorrente sangrenta aumentaO rosto exploradojá não tem diamantejá não tem terrajá não tem marfim pérolaExplorado o rostosangra tantoencurvado ficaem coro grita bem alto, tão alto que láno fundo, bem fundoalguém ouviu:Liberdadepor todos os corpos sangrentosdo servir, do darO grito ecoou, ecoou, ecoouOs corpos cansados de gritarcurvados da dorpararam.Um silêncio profundo se fez.Agora, ouve-se as correntes das águastransportando muitos, longos, pesados, silêncios.

GRAÇA VILELA

Rosto explorado

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224antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade é uma janela aberta sobre o mundo É ver para além do olharQual toque divinal e profundoÉ um derrubar de barreiras entre os povos Sem discriminação de raça ou cor É a vontade de ter asas e voarOnde for necessário estarÉ o sonho de uma vida melhor para todos É ser capaz de criar espaço de aceitação do outroDe tolerância e de compreensãoLiberdade é um céu coberto de luminosas estrelas É o Sol nascente de cada manhãQue renova a alma, apazigua e acalmaQue a preenche de energia, espaço a espaço como se fora magiaÉ um tempo de libertação de amarrasDa ganância, do egoísmo e da discriminaçãoÉ ser capaz de dizer sim à verdade E à injustiça dizer não É ir ao encontro de si Em serena viagem interiorE ouvir e sentir no mais fundo de siO canto do incondicional Amor.

GRACINDA SOUSA

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LiberdadeLiberdade onde é que estás? Onde está a cor preferida?Não sei se és boa se és má, de quem enches a barriga.Liberdade prisioneira das Leis que fazem os homens:Ora sob uma bandeira, ora sob outra te comem.Liberdade não és livre, todos, todos, te acorrentam.Cada qual te cunha um timbre; partem uns e outros entram.Liberdade, só te querem, como lassa e prostituta,Todos no teu ventre inserem, todos te sugam a fruta.De Liberdade enchem bocas, quando estão na mó de baixo,Mas nada disso é o que importa, se metem a mão no tacho.Liberdade, se é que existes, tens duas cores diferentes:Com uma, amarras os tristes, até prendes inocentes.Se fores da cor oposta, nem tens em conta os facínorasQue saqueiam toda a costa, roubam mais do que imaginas!Liberdade és poesia, malquista dos governantes.Mudam leis, gozam a tia, fazem tudo como dantes.Oh Liberdades comuns!... Nem cavalos são, nem potros!Se fazem livres alguns, enchem as prisões com os outros.Prisões não são só cadeias, são processos pestilentos,Que moldam nossas ideias, se estivermos pouco atentos.Liberdade és utopia, vendida aos bons dos incautos,Serves de engodo e de guia, para eleger os teus arautos.Ditadura cheira a peste!... É uma das coisas piores!...Liberdade!... Não nos deste uns governantes melhores.A noite da ditadura bem perto foi do inferno.Deu lugar à dita pura: sem rei, sem lei, sem governo.Enquanto estiver aqui, nunca terei Liberdade,Pois se eu quisera ser livre, abolira a gravidade.Livre!... Somente sem leis!... Mais livre se tiver sorte,Se fugir para Outros Reis, logo após a minha morte.

GUILHERME COSTA GANANÇA

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226antologia da poesia livre

Dever -seEu pensava que liberdade era um deverQue eu devia a mimCom um fim de pensar e de agirE de sonhar com o que devo serE seguir o que devo e que a vida era assim Como pensei errado Porque atrasado percebi que devo nadaQue minha dívida não era com o que acreditavaMas com o que deixava de pensarEu era poesia presa, mal julgadaFazia-me realeza e executorSem realizar a dor que me cercava Hoje penso em amanhã e a noite me libertaPenso assim porque assim não ligoSe me prendo ao que digo ou ao que me caloTanto faz, sim, tanto fazO que me faz o que sou é livreO que me faz e o que eu sou são os iníciosSem meiosSem inteirosSem um fim

GUILHERME L. A. PIMENTA

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227l i b e r d a d e | V o l i

Parti, saí, fui-me embora.Teria que o fazer,já que não queria mais sofrer.Quero ser livre,sair sem rumo e sem medo.Devo pensar e transformaro meu futuroem alguns pensamentos.Vou procurando os meus sonhos,com enorme liberdade.Nada deixo para trás,nem sequera dita saudade.Apenas quero pensar,podendo mesmo gritar,a algum lado quero chegar.Vou caminhando,deixo minhas pegadas,não olhando mais para trás,agora saberei como se faz.Quero viver cada momento,aliviar meu pensamento.Para onde eu irei,só eu mesmo saberei.Se é livre que quero ser,será isto que vou fazer.É lá que quero estar,para mim, melhor lugar.A liberdade eu vou ter,pois será melhor viver.

GUILHERME MARTINS TEIXEIRA

Ser livre

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H

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Livre para viver.Livre para crescer.Livre para esquecer.Livre para sonhar.Livre para amar.Livre para olhar.Livre para ter liberdadee poder escolher o amorsem medo de viver com a dor.Abrir os braços e gritar,o céu e o infinito rasgar,não ter asas e voar,e o medo poder perdoar.Ausência de submissão.Emancipação de coração.

HÁLIA SEIXAS

Livre liberdade

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232antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade, dizem que te chamas,clamam por ti com vozes vorazese nas costas soa a palmada.Contudo,entre o que dizeme o que se sentemuito se mente, pois há um mar que se abree areias que se desconhecem.Dizem que longe vai o tempo do medo e da opressão,mas na calçada jaz o mendigoe por detrás da janelauma avó envolta num mantodo passadoanseia o retorno de quem não volta.Liberdade, tu que vociferas que as prisões do medo e da falta de voz são tempos idos,onde estás tu,na mulher açoitada,na criança esquecida,no homem debilitado,na nação adiada? Liberdade?!?Liberdadeé a asa que se estendeno rasgar do céupleno em si rumo ao infinito.

HELEN COSTA

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233l i b e r d a d e | V o l i

Hoje vou semear cravos.Podia semear ervas aromáticasou jacintosou margaridas…Mas não.Vou semear cravos.E vou semear de formaa que cada sementerepresente aquilo que o mundo carece.Honestidade…Paz…Fraternidade…Justiça…Igualdade…Simplicidade…Liberdade…Apenas palavrasMas que fazem levantar e seguir em frente.E quando as flores brotaremAnunciarei em voz bem altaQue o velho mundo se foiE o homem novo está aqui.

Hoje podia semear girassóis,mas vou semear cravos…

HELENA BAPTISTA RODRIGUES

Cravos

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234antologia da poesia livre

LiberdadeO delírioEscorre imparávelP´las paredes-mestras, Como um fioViscoso, invisível,Preparando o colapso das estruturas.

A demênciaAbre as pernas ao desejoE sorve suavemente O sémen febril dos loucos,Engolindo, gota a gota, A sociedade caduca.

A barbárieMostra os dentesComo uma fera imóvelPreparando o ataque À beira dos caminhos sinuososNo espectro largo de todas as Cruzadas.

Os valores submersosDa dialética das coisasVão emergir Na crista branca da ondaAvassalando as cidadesEm ondas gigantes de liberdade.

HELENA BELMONTE

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235l i b e r d a d e | V o l i

No azul do céuVejo o marCom ondas Espuma brancaE a melodiaQue me faz sempre sonhar...

No azul do marVejo o céuCom nuvensPássarosE sonhosLugares fantásticosOnde amar...

E aquiAo pé de tiVejo-me a mimFelizRadiantePlenaPreparada LivrePara a vida conquistar...

E nessa liberdadeCorre o tempoUma vidaUm olhar...

HELENA CARDOSO

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236antologia da poesia livre

Em brincadeiras inocentes.Na infância,Conheci-te.

Cresci.Desvaneceste.Repetidamente.

Cruzo-me hoje contigo. Fugazmente.Encontras-me quando te julgo até sempre perdida.Desencantas-me quanto te sinto para sempre segura.

Procuro-te e não te encontroNas palavras caladas.Nas decisões oprimidas.Nos desejos abafados.Nos pensamentos reprimidos.

Quem hoje seduzes com discursos inflamados?

Talvez só sejas em mim. Na minha mente distorcida que te crê onde não existes.E te nega nas ilusões da tua presença.

Estou presa a ti. Livremente.

LiberdadeEm excessoEm faltaEm fuga

HELENA INÊS

Lieb verdade

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237l i b e r d a d e | V o l i

Tantos tempos há na vida Que nos deixam tão confusos, Sem saber se os queremos, Ou se nos são destinados.

Porque existem bem e mal Num tempo que se eterniza Com o melhor sempre tão breve Que se escapa sem saída.

Eu só quero galgar fases Terrenas lunares solares Sem que elas me corrompam Num estado mais profundo.

Vivo o período dos sonhos Se calhar de crescimento… E outros mais de aquisição Com gesto de letras soltas. Mas quando olho do cume O caminho destrona a pique E segue em sentido contrário Com vertigens figurado Sem prever a liberdade.

Que pena não viver num fio De prumo graça verdade!

HELENA OSÓRIO

Sem saída

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238antologia da poesia livre

A liberdadeA LIBERDADE DO MEU BAIRRO

No cimo sinuoso do meu bairro Há uma rapariga de olhar longoNo silêncio do cimo do meu bairro Há um profundo olhar de raparigaUm longo e grande olhar de LiberdadeE nesse globo enorme há uma rainhaBrilhante de mistério e neblinaQuem lê no olhar de LiberdadeDa longa rapariga do meu bairroConsegue soletrar essa verdade E rever-se na imagem cristalina.

Quem entra no olhar de LiberdadeDa longa rapariga do meu bairroPenetra no mundo e na EternidadeIntemporalmente perdoadoPela profunda rapariga libertadoDe todas as amarras e fronteirasDeste mundo e das coisas feiasCom que a ele se vem já amarradoÉ que a livre rapariga do meu bairroDe olhar silencioso e de verdadeÉ uma compilação de Liberdade.

HELENA ROMÃO

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239l i b e r d a d e | V o l i

E até em horas mortasLeio, escuto e vejoEste brado milenarLIBERDADE para as gentes, para o mundo!Mas ando na contramão;Apesar do grande apelovivo presa em seus braços, sua serva,a cativa dos seus olhos.E assim, alegre escrava, permaneço livrementena masmorra da paixão.

HELENA SEBBA

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240antologia da poesia livre

Dançando...

Dançando com a diferença

Eu? Sou livre quando danço e ouço harpaEnquanto tu tocas no rufar de um tambor.Ao sabor do vento está calor e pelo SolDe Junho um baile desce o monte numRitmo de três tempos e escolho um balancé.Respiro e agito-me descalço-me e danço ultrapassoO negro desequilibro-me e caio no chão volteioE colho cerejas que ponho num cesto e aproximo-meAlongo deslizo traço um arabesque escolho o equilíbrioE com a harpa rodo cruzamo-nos e amamos a triplaPirueta que imagino e insisto em pas de chat saltoO muro em crescendo enfrento e recuo e colhoA estrelícia que ponho no cesto com as cerejas.Para que vejas que amo o vento e ultrapassoOs escombros que são longos e nós livres. SeguimosNum diferendo em corpo de baile até ao fundoDo monte ao por do Sol de Junho volteioEm três tempos diferentes e enfrentamosO destino bem devagarinho. Ouço harpaNo rufar de um tambor ao sabor do ventoDescemos ao ritmo de um hino e danço contigoEm crescendo enquanto eles tocam violino.

HENRIQUE AMADEU

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Filho de um Deus...

Filhos de um Deus complicado

Era um universo fechadoNinguém olhava para o ladoNem perguntava porquê

Filhos de um Deus complicadoE de pais acomodadosAonde só o Cego é quem vê

Leis sem razão ou sentidoNum espaço oprimidoComo um navio à mercê

Mãos invisíveis controlamE todas as coisas rolamComo se fossem banais

Vieram burocratas de pretoArmados com simetriasE percentagens fatais...

Grasnavam como corvos sagradosDebicando os bocadosDos restos mortais

Era uma história aborrecidaSem paixão e sem vidaAonde o cinzento faz lei

E os Deuses viviam saciadosCom histórias inventadasPara pessoas cansadasE obedientes ao Rei!?...

HERNÂNI CARQUEJA

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242antologia da poesia livre

Pensando em ti!

Liberdade!Perdoa-me o desrespeitoe, não me leves a peito,mas eu não me conheçoquando não estavas aqui!

Murmuraram-me ao ouvidoe, até eu fiquei sentidopor saber o que sei hojeao ouvir o que eu ouvi!

Mas abstenho-me de viva almaperante tantas consideraçõesquantos eu ouvi sofreram,outros até morreramaclamando por ti!

Preocupo-me contigopor te sentires impotentequando te entregas a alguéme esse alguém não te entende!

HERNÂNI COSTA

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Abril de 2014

AbrilÉ uma luz extasiante! É barco Que transporta liberdade,É ideal…É um símbolo importante,É a vontadeDe um povo de verdade!

AbrilÉ primavera, é colorido!Depois de longo inverno impiedoso,É revolta de um povo bem dorido,É esperança num futuro radioso!

Abril Foi ontem, hoje e será sempre,Uma luta contra uns tais de prepotentes,Que teimam que o dinheiro sempre compre,Ideais e valores tão conscientes!

Abril Não mente, sim semente!Abril Presente, nunca ausente!AbrilÉ hoje e será sempre!

HORÁCIO GRAÇA

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244antologia da poesia livre

Liberdade eu te queroLiberdade eu te procuroLiberdade dá-me o brancoQue está por detrás do escuro

Oh liberdade!Onde andas tu?Dá-me liberdadeDe andar nu

Neste mundo sem liberdadeEm que nada posso fazerDeixa-me ter o poderDe te escolher

Deixa-me ser livreDeixa-me ser euTudo o que eu queroUm dia será meu

HUGO COELHO

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I

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No meu pensar eras só uma florDe cor viva, de aroma perfumado.Pelo teu significado,Embelezavas a lapela dos noivos,Homenageavas as mães,Davas cor aos ambientes,Mas o meu pensar iludiu-me.Cravo! Flor dos Deuses!Homenageaste-os na Grécia Antiga E eles te retribuíram,Deram-te um significado Maior - Símbolo de uma Revolução!No cano de uma espingarda, substituíste as balas,E deste voz aos oprimidos,E rasgaste a mordaça cultural,E contigo a Liberdade tomou o seu lugar!

ILDA GONÇALVES

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248antologia da poesia livre

Liberdade...

Quatro silabas e nove letrasPalavra de amplo significado Espontânea na Natureza Liberdade! É o “fruto” mais desejado.

Todo o homem nasce livre?Não! Cresce e vive rodeado de convençõesÉ livre de pensar, de amar e de agirContudo prisioneiro das suas decisões.

Respeita ordens e leis ImpostasNuma Democracia “camuflada”Despida de preconceitos Liberdade é tudo, Liberdade é nada

Ninguém é verdadeiramente livre Na vontade e na razãoSem quebrar todas as barreiras A Liberdade é apenas submissão…

No despertar de consciências Tanta mentira e tanta verdadeNo silêncio da voz do povo Apenas é palavra, a palavra Liberdade.

Poder voar sem destino Respirar a brisa do mar sem fimSerá assim a Liberdade? Não sei! Mas sinto que sim.

ILDA MARIA OLIVEIRA SILVA

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Liberdade, quem nos deraCom ela saber viver;Liberdade trava guerraPara a liberdade obter

Não quero que a minhaVá colidir com a tuaPor querer sozinhaApoderar-me da lua

É um balão cintilanteNo horizonte uma estrelaNo firmamento distanteSem nuvens a envolvê-laPresa com fortes grilhetasPara os seus elos quebrarNossos sonhos, alimentasDando forças para lutar

Para em liberdade viverEscolher e decidirFazer o que lhe aprouverSem com a de outros colidir

ILDA ROSA

Quem nos dera

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250antologia da poesia livre

Àquele quarto...

ÀQUELE QUARTO EM LIBERDADEAno 1974

Dando rédeas à imaginação, deixava...Navegar meu olhar pelas manchas das paredesDescobrindo ilhas e continentes, portos d’abrigo e montanhasFiguras misteriosas que me olhavam invejosas do meu inventarQue se esforçavam por revelar seus segredosSeguia atento o caminhar lento e rafeiro d’uma barataTentando adivinhar onde ia e que buscarPelo buraco escuro do canto do rodapéDo tecto de madeira caiada, pendia um floco de calCai que não cai na ponta de uma teiaBalança que balança por cima da minha cabeçaTive medo que caísse e me cegasse- Amanhã vou tirar aquela teia!Brincava às imagens. Olhava com demora a lâmpada,Depois fechava os olhos. Que lindo!Lá longe, no infinito da escuridãoVia quadrados, losangos que pouco a poucoSe iam virando, virando...Gostava muito daquele buraco escuro do rodapéSentir-se Conde de Monte Cristo em busca de GaleãoQue misérias por elas já cá estão e estarão.Aquela quietude e paz, cobicei-a para sempreE quando morrer, tranquilo, irá comigoToda a liberdade de ter podido imaginarSem ninguém me não dar por proíbido.

ILDEFONSO ALVES

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Liberdade de ser mulher

Ser,livre,livro,escolhafolha em branco,pranto sem vergonha,sexo,certezabeleza em cada cor,Amor,conexo,mulher sem medo,enredo por escrever,mão a acenar,abraço,laço por enlaçar...Ser,arbítrio,sítio sem fronteira,vida inteira,sorriso,gargalhada sem julgamento,juízo de coração,emoção embargada,sentimento!Orgulho de chorar,de sentir,de florir e desabrochar,segurança,criança,simplicidade,Liberdade!

INÊS DUNAS

Liberdade...

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252antologia da poesia livre

Se fosse livreEstaria aqui?Se livre fosseO que faria?

Nove caminhos por percorrerNove paisagens que ainda quero verNove jardins onde quero correrNove saídas para fugir

Liberdade para ir

INÊS MAIATO

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Havia muito, muito tempo em terras muito distantesQue um povo sem alento, escrevia dias e dias errantes.Encontrava esse povo uma barreira quando queria ir mais adianteUma grande linha terreira proibia caminho ou andante.E nesse limite ficava, sem entender na sua solidãoQue aquilo que o separava, era apenas o muro de ilusão.Pensava este povo ainda, ser a vida para lá da muralhaEsquecia de olhar chama bem-vinda, que acendia a imensa mortalha.Na sua ilusão porém , pensou o povo sem razãoO que faltava era um Rei, para dirigir tal nação!E pensou e fez tal alarido, que de terras longe chegouHomem grande e presumido, que logo se apoderou.Sentiu-se o povo apaixonado, por ter a quem adorarEnquanto o Rei assoberbado, fazia o povo trabalhar.Mas por ter quem os guardava, gente desiludida ficou confianteEntregando muro que os limitava a alguém mais experiente.E trabalhando toda a gente, o muro ainda mais alargouE ao ver obra tão imponente, de júbilo o povo se exaltou.Sem poder mais contemplar, nessa terra todos ficaram felizesHavia alguém a ensinar, a eles… pobres aprendizes!Esquecido o Poder dentro deles, entregaram de melhor vontadeA quem mandasse neles para não haver responsabilidade.Afinal o muro era tão largo que escondia a liberdade.

INKA DE LOTUS

Uma história de reis

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254antologia da poesia livre

Foi na loucura das vestes do teu nascer,que dei à minha alma o sentir profundodum desejo carnal que me trespassavao coração e adormecia nos meus sentidosnuma letargia dolorosa, contudo sentia virtude de saber que te amava.Era; e é assim! É contigo sempre presenteque adormeço e me levanto nas manhãs,és o orvalho fresco pendurado em mimque goteja na terra ainda bafienta dosprimeiros raios de sol, servem tambémpara lavar o meu rosto ainda penduradonos olhos do sono, mas que me parecemo suor dos desejos desenfreados dumanoite vã e inglória que pelos sonhos ficou…e se algo me ri na alma é saber que te amo liberdade

INOCÊNCIO MATOS

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Nasceste bem devagarinho, anunciada sem balelasCresceste bem devagarinho, apaziguando sentinelas Foste desejada, tão planeadaAgora já ninguém te calaCom respeito segues na balança Vem Liberdade!Cada vez mais te pões à vontadeEu já desconfiavaQue por tua causa o mar quando revolta, toca nas rochas Com tanta segurançaAssunto nenhum te travaAinda assim, há quem confunda tua seriedadeOh liberdade!Nunca te afastes da tua originalidade Numa cantigaÉs criança tão reguila, transpirando moda e esperançaJá és de tradição, tu falas com liçãoNão buscas o sermão, celebrada em cada região Vem liberdade!Cada vez te pões mais à soltaEu te canto feito louca, a verdade já tem donaFazendo a inverdade morrer tão moça.

INY CRISTY LIMA

Vem liberdade

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256antologia da poesia livre

Abril de 1994Um país livre despertavaEm cada rua, um filho seuEm cada canto uma alvorada!

Um dia, uma manhã, um mundo novoDa janela me foi dado perscrutarDentro a rádio me chamava e eu ouviaE lá fora eras tu a caminhar.

Em cada rua, outros e outros se juntavamDe mãos dadas, despertando do passadoE ainda indefinido, tu assomavasA cada esquina deste país cansado.

Gritos de alegria e passos firmesUm português não esquece quem o ultrajaContigo, o ontem perdeu formaE o muito que nos marcou nos encoraja.

A esperança renasce e cada um existeEm casa, na rua, no trabalho, no mundoNão é mais um entre tantos a aceitarÉs tu, sou eu e somos todosMas agora para a frente a caminhar!

Valeu a pena, porque o mar é portuguêsValeu a pena, Abril teres nascidoVejo-te e revejo-te confianteEm cada espaço, a cada esquina,Mas também perdido!

IRENE CARDONA

Poema de Abril

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LiberdadeLiberdade significa o direito de agirExpressar palavras, cantar melodiasO direito de amar e sentir…Andar pela rua à noite, sem fobias!

Abraçar o vento mais forteNuma noite escura de lua cheiaviver feliz até à minha morteGritar “sou livre” até que a manhã clareia!

É andar descalço por prazerÉ falar e estar com quem me apeteçaAbraçar os meus sonhos e crescerÉ namorar contigo... sem pressa

Partilhar os corpos sem segredosEntregar-me sem cortesiaVoltar para casa sem medosQuando se clareia o dia...

IRONDINA LOPES

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258antologia da poesia livre

Sou tanto e tão pouco,Tão grande ou tão pequena,Tantas qualidades, um ou outro defeito,Vivendo a minha própria vidaComo se tudo e nada fosse perfeito.

Um e outro diaPassam apenas,Uma prisão que dura,Um amanhã igual,Uma vida de censura.

O tempo escasseia.Poderia eu ser maisOu poderia eu ser diferente,Se no meu passadoConhecesse o meu presente.

Sou tanto e tão pouco,Provavelmente mais do que fui,Possivelmente menos do que posso ser,Mas sou eu agoraE agora sou livre de assim viver.

ISA AFONSO

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Incerto anseioOndulante como o ventoAssim vai a minha almaAnsiando por liberdadeAncorada num abraço. Sentir dúbio e ilógicoDe querer e não quererDe amor e desamor,Desejando caber num regaçoQue me acalenteSem minhas asas tolher.

ISA NASCIMENTO

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260antologia da poesia livre

Liberdade! Uma cor discreta sobre a unhas 140 chicotadas Ler, o mulah não deixouBela, na prisão que criaram para ela O mundo através da burkaA guerra como refém Criança e porta nos braços aquela que vem de terAbandonada, porque estragadaPergunto-lhe se a vida é poesiaEla não sabe. Mas declama o seu próprio poema.

Liberdade aonde ? aqui?Liberdade quando ? agora?Liberdade de quem ? minha?Liberdade de quê ? abrir a janela e um livro, ouvir música, levantar o olhar,ser criança, ser mulher e mãe quando quiser, e poder dizer não.Sozinha? eles serão lá. Juntas? Quando?

ISABEL DROUYER

Ela

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Descalços caminham sobre o chão frio e barulhentoSeus rostos carregados de profundos dissaboresLevam o sustento para mais um dia Defessos escurecem na fria janela de suas mentes

Acorda um novo dia que se adivinha cansadoNa correria desenfreada das sua vidasAprisionados a um sistema que reclama Lutam, lado a lado sem a existência do outro

Largados, tristes e sós dentro da sua própria consciência Reclamam em desespero por um olhar atentoConsumidos e devassados pela imensidão do nada, Sua mentes gritam, reclamam, suplicam!

Consomem-se sonhos inacabados Entre a realidade e o fingimento Soltam sorrisos que entoam bem altoElevados à potência de glória que os entorpece

A todo o custo, há uma mão interrupta que se estende Tentando alcançar aquele coração despedaçado e só,Numa apetência ardente de sair daquele lugar cinzento Onde não pertencem, onde não querem estar

Num ímpeto a escuridão alcança a luz Uma mão se estende e toca outra mãoUm choro compulsivo exige a sua existênciaO fingimento, dá por fim, lugar à lucidez E, num grito entoam: Estou livre e tu também estás livre!

ISABEL ESPERANÇA

Liberdade num grito!’

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LiberdadeDeixem-me voar.A terra impõe-se-me como as quatro paredesDe uma sala fechadaOnde, por sítios invisíveis, todos espreitamA minha privacidade.Voar permite libertar-meDas amarras curiosas dos voyeursE até dos que não me vêm mas por mim passam.Voar leva-me a atingir o céuCujo azul me evoca a eternidade,Lugar sem grilhões, conversas frouxas,Ataques pessoais.Ali não existe nada nem ninguém.Por isso ali posso voar sem amarras. …

Alcançar o céu e mergulhar no seu azulFoi a meta que estabeleciPara atingir o grau máximoDa minha liberdade.

ISABEL LAGO

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LiberdadeSomos livres quando sonhamos

transpomos barreirassoltamos amarrasultrapassamos obstáculos

Quando acreditamosque podemos mover montanhastrazer paz ao mundoe aliviar a sua dor

somos livres quando somos justoscom o nosso semelhantee o tratamoscom dignidade

somos livresquando respeitamosa diferença

somos livresquando amamoso nosso planetao protegemose cuidamos dele o melhor que sabemos

somos livres quando não impedimos que os outroso sejam.

ISABEL MARIA PINHEIRO

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LiberdadeEu amo a liberdadeComo gosto do tempoAmeniza a ansiedadeEm qualquer momento.

A liberdade na vidaAumenta o nosso amorSem estar arrependidaE sem sentir qualquer dor.

A liberdade é um bemQue o ser humano estimaÉ o melhor que a vida contémQuem a tem não desanima.

A liberdade é um bemQue não se pode ignorarTanta gente que a não temNão obstante a procurar.

Liberdade, liberdadeQue nunca seja negadaQuem dela tem necessidadeVive a vida amargurada.

Viver em liberdadeE com determinaçãoSatisfaz-se a necessidadeSem limites e gratidão.

ISABEL MARTINS

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LiberdadeA única liberdade possívelNeste mundo É a liberdade De poder escolherA nossa própria prisãoNada me libertaTudo nesta vida é escravidãoTudo nesta vida é servidãoTudo nesta vida é mentiraTudo nesta vida é hipocrisiaTudo nesta vida é comodismoTudo nesta vida é tiraniaTudo nesta vida é prisãoTudo nesta vida tem resoluçãoNem todas as verdades São para serem ouvidasNem todas as mentirasSão verdadeirasNem todas as feridasSão de saudadeNem toda a fomeÉ de pão, mas de amor.

ISABEL MORAIS RIBEIRO FONSECA

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266antologia da poesia livre

LiberdadeNo silêncio da noiteAmarro - me à tua solidão.Ouço sussurros e sei que não estou só.Entro na tua cabeça vaziaE vejo biliões de pensamentos Que não decifro,Emoções que não sinto.Somos dois?Somos um?Sinto - me dentro e fora de ticomo num labirinto de esperança e doçura.De repente adormeçoE no sonho liberto-me Não de ti…mas de mim…

ISABEL RAMA

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LiberdadeCânticos de um povo sublimeDe uma esperança que por vezes não redimeMas que a possibilidade nos ainda nos dizFaz melhor na nova liberdade… e vinde…

São linhas do pensamento inovadorDo obscuro procura-se uma luzPorque a estratégia é a palavra de louvorDe um passado de erros que já… não seduz…

São versos de uma pensada liberdadeDe passados turbulentos e novos presentesNascem entre mentiras e gritam por verdadeQueremos políticas certas e… coerentes…

Da memória resta o que se pode ou não fazer…E simplesmente entender…

Essas estrofes de outrora são de futuroDe uma honra que ainda não morre,Chama-se ser a eterna saudadeQue o povo sente e pede…A transformação para uma nova… liberdade...

ISABEL RODRIGUES

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268antologia da poesia livre

Liberdade!

Há um grito de liberdadeQue ecoa pelas ruelasNas esquinas e nas vielasEstremecem… Madrugadas.

Que ecoam nas gargantasAs palavras mais sonhadas Já não estão amordaçadasE nos pulsos… não há grilhetas.

A liberdade saiu à ruaE passeou-se formosaTem um perfume de rosaE a magia da lua…

O sonho concretizadoO anseio mais esperadoA madrugada sonhadaO grito, a esperança,A felicidade…

Para sempre, Para sempre,Liberdade!

ISABEL TAVARES

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LiberdadeVai, segue em frente, lutaMulher guerreira, mulher florOs espinhos já há muito que deixaram de doerNas gargantas emudecem os vagidos do prazerO tempo agora é de luta, não de amorVai, vai à lutaMulher guerreira, mulher flor.

Vai, pega em armas, lutaEnche as ruas e as praças com hinos à liberdadeExpulsa das almas atormentadas a diabólica trindade Engrossa com a tua voz este rio que galga as margensE grita basta!Vai, vai à lutaMulher flor, mulher coragem!

ISAÍAS

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270antologia da poesia livre

A liberdadeNasci no meio da liberdade,A qual me fugiu.

Tinha uma ditadura,Da qual me livrei,Mas recebi um diagnóstico,Que na minha vida foi rei.

Hoje, olho para trás,Mas não me importei.

Dependi da minha família,Mas graças a ela, À liberdade voltei.

Foi Feliz a vida toda,Liberdade era o meu nome,Graças a ela nunca me acomodei,Nem passei fome.

Hoje sou rainha,Da minha vida sozinha.

O mundo que conheci,For por ser livre.Livre da ditadura,Da dependência da doença,Da luta,Do sentimento de poder voar,Com as minhas asas,Não ficar presa a hospitais e casa!

ISAURA MATOS

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LiberdadeA terra mãe desmaiaDe conflitos e guerras De batalhas inúteis De ambição desmedidaMorremos de fomeO amor é infértil Em terreno poluído As máquinas vencemSomos prisioneiros Deste tempo cruelA terra mãe ávida Da liberdade perdidaClama a siCânticos de amorNos bicos dos pássaros No balanço das asas No vasto azul do céuInfinito é o desejoDe galgar o horizontePousar em silêncio No colo da pazA terra é mãe A liberdade é divinaÉ um suspiro de amor Nos ventos da mudança.

ISILDA MARQUES

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Hoje ontem e amanhãHoje, ontem e amanhã, sempre...

Ontem, fomos vozes caladas Vezes sem conta amordaçadasQue em Abril se libertaramPelo mar, pela terra, pelo ar ecoou Somos livres, somos livresSomos livres de falar,Somos livres de cantar,Somos livres de sonhar,Somos livres de ousar, Somos livres de manifestar,Somos livres de escrever.Na pátria minha, agora crescida e amadurecida Cheira a terra queimada E a semente, sem ser lançadaGermina e cresce enlodaçada. No húmus fértil, vamos plantar sonhos e futuro Com trabalhadores, poetas e cantoresDo fruto generoso colhido, nasce paz, saúde, educaçãoQue corvos e abutres devoram sem compaixão.Na pátria minha, agora crescida e amadurecidaHá vozes que se levantam Pela liberdade, pela justiça, pela solidariedade Com ecos de consciente esperançaVamos mudar Vamos juntos acreditar Vamos as ervas daninhas arrancarE na seara da pátria minha, a liberdade semear.

ISILDA PAIXÃO VALENTE MONTEIRO

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J

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num último golpe de asaa ave abaladaconsegue poisarno florido primaverilda árvoresem destino.

na serra ermainóspita apenas pedraso lobo acossado e fracochega à sua toca num último jogo de patasfrágeis e trementes.

mas colocar a mãosobre o ventrede uma mulher grávidae ouvir o primeirochoro do recém nascidohá lá maior liberdade que a desse gesto terno e simples?

JAIME CRESPO

Talvez liberdade

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276antologia da poesia livre

LiberdadeLibertei-me das minhas amarrasTudo ficou para trásNada me falta, estou em pazRespiro fundo, deixo o ar entrarSopro de vida que me satisfaz

Não, não tenho medos,Tenho a tranquilidade interiorResgatada depois de tanta dorVenham ventos e ar, chuva e solTudo quero sentir, afinal sobrevivi

A minha alma não sangra mais,Os meus dias são pintados de luzComo os Arcos iris no céuColorindo a minha vida,Nessa imensa paz que sempre quis

Aqui fora tudo me seduz,Olho ao redor, e sinto o prazerde reconhecer que venci,Oxalá, eu não desistiDeixei as amarras e sobrevivi

Dentro do meu compasso,Nesse mundo a me seduzirEu consigo enxergar fora de mimlibertei-me do prantoE vivo todo o meu encanto.

Liberdade, liberdade, dá licença por favor,Me deixa ir ao longe, sem nada perguntarLiberdade, liberdade, viva a felicidadeDe quem nunca soube aproveitar,Liberdade, liberdade me acompanhe por onde eu andar.

JANE REVET

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Vivo na margem suadaDo Tejo que não tem fim.Daqui zarparam naviosRasgando mares revoltos,Descobrindo novos mundosNos reinos de Bombaim.

Homens de brava rijeza,Com vigor e valentia,Aqui moldaram o aço,Como quem retorce a esperançaDe fincar o pé bem firme E alcançar um Novo Dia.

Nas fábricas tu labutaste,Com sangue, suor e dor.Para quem te oprimia,Levantaste bem rijo o punhoE com força preparasteDa liberdade o alvor!

Margem sul, margem suada:O silvo de um estaleiro,Martelo de calafateSão os sons do nosso dia.Oh liberdade cantada,No convés de um cacilheiro!

JERÓNIMO JARMELO

Margem sul

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278antologia da poesia livre

Posso não ser nadaposso ser algo de imóvelposso olhar o mundo a preto e brancomas faço parte da natureza.Posso ser indiferente,posso estar estático,posso não saber voar, posso nem saber andar.Podem passar a meu lado,podem nem me ver,invisível ao olhar,insensível aos sentimentos.Os dias podem passar, demoradamente...mas há sempre aquele dia, o dia especialo dia em que o solou a lua podem fazer despontaruma metamorfose mágica...o dia em que todos vão notarque ganho asasque posso voarque posso viajaresse dia em que posso sorrir!

JERÓNIMO JORGE

Voar

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para Manuel António Pina

não é por delicadeza que te escrevo somente agora que a morte [nos apartaguardei o silêncio possível feito de palavras derradeirase li os teus poemas mesmo sentindo-os sempre atrasadose ainda assim descosendo e acertando de memória o mundohoje olho pousado na mesa do pequeno-almoçoum dos teus poucos e relutantes pequenos livrosadivinho tão só as migalhas e o café a meiosuspeitando de um dos teus gatos a cirandar a liberdade

JF SEBASTIÃO

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280antologia da poesia livre

Leve, leve, leve, como a leve pena,Voa o pensamento, que me faz penar;Trazendo à memória uma cantilena,Que a rádio passava na velha galena,Caixinha tão tosca, tão rudimentar…

À luz do petróleo, na torcida acesa,O pai se sentava, com seu ar cansado!A mãe, punha a toalha e os pratos na mesa,Com açorda de alhos, manjar de pobreza,Que os filhos comiam com fome e agrado…

Crepitava o lume, no madeiro a arder,Inundando a casa de luz e calor,Nas noites de inverno, frias de morrer,Juntos à lareira iam-se aquecer,Os pais e os filhos unidos no amor!

Faltava de tudo: dos livros ao pão!Mas o pai contava bonitas histórias,Que os filhos, atentos, à noite ao serão,Ouviam e riam com satisfaçãoE até as gravavam nas suas memórias!

Era por altura dos anos cinquenta,Que assim se passava uma tal realidade!Era a ditadura, cruel, violenta,Que mantinha o povo numa morte lenta,Sem pão, sem direitos, sem ter liberdade!

JM CABRITA NEVES

Anos cinquenta

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Liberdade...

Liberdade Aprisionada

Aprisionada ao teu pensamento tu estás,Procurando, infinitamente, consolo para continuar.Ouves o teu instinto a dizer: “não vás”,E sentes-te livre para parar!Respiras fundo e queres desistir,O infortúnio do momento persegue-te.És incapaz de prosseguir.Pedes a alguém que te leve.Atiras a culpa para atitudes alheias.Sentes-te entregue às suas vontades.Choras porque não colhes o que semeias,És vítima de todas as suas maldades.

E persegues o porquê de tal injustiça.Não foi para isso que batalhaste toda a vida.Não foste de todo precisa,Mas esta inglória não te foi merecida!

Respiras fundo e olhas o céu.És condor no vento em saudade.Injurias a vida por nela ser réuQuando apenas suplicas por liberdade!

JOAN SCARLATTI

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Fiz da morte...

Fiz da morte a liberdade

Sufocada nas correntesDesta sociedade coimbrinhaEspancada por dementesAo longo da vidaCorto os pulsos por revoltaPela família humilhadaOutras vezes espancadaConto as horas pra me ver mortaDe que me serve o sucesso, inútilAs boas notas se sou diferenteSe não sou uma barbie fútilPor ser conscienteCada vez mais fraca e doenteO sofrimento cada vez mais intenso Arrasta me às portas da morteTalvez seja essa minha sorteArrastada para o suicídioEncoberto homicídio Com paz e serenidade No último segundo gritarei liberdade

JOANA SAMPAIO

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Amar- te- ei...

Amar-te-ei em cada fragmento de tempo

Este amor que vive numa liberdade ingénua do sentimentoQue me faz voar por entre corações... O teu e o meu, que de tão livres, se amam pela eternidadeVoamos e descansamos no conforto do encontro das nossas almasQue juntas se sentem em casa, na mais elevada vibração que abraça esta união.

A inocência de ser criança é recordada e sentida, quando sintonizo com a beleza deste encontroE toda a pressão absurda de ser adulta, nesta assombrosa sociedade, esvai-se pela força desta pureza de Amar

Tocas-me e a minha personalidade desintegra-se das teias sociaisPerdendo a noção do tempo, da responsabilidade, da exigência, da loucura de ser humana, num mundo de egos totalmente desvirtuados...

Construindo, entregando, confiando, amar-te-ei em cada nascer e pôr de sol, em cada ciclo lunar, em cada fragmento de tempo, em cada suspiro, em cada pautar do meu coração

Tu que me despojaste de todo e qualquer bloqueio Me fizeste libertar desde o núcleo dos átomos que me fazem carne...Passei a translúcida, a ser virgem no sentimento,

Livre, leve e solto é o soletrar do nosso AmorAssim se fazem cegas, surdas e mudas as nossas personalidades E só as almas se sentem pelo compromisso cósmico e angélico de, simplesmente se Amarem

JOANA TOMÁS PEREIRA

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284antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade é gritar bem altoa injustiça presa na gargantaLiberdade é mandar bugiara opressão que nos mata lentamenteLiberdade é sermos fieis a nós mesmossem medo das consequênciassem temor dos castigossem pensar no julgamento de terceiros.Liberdade é ir contra o que faz doeragarrar o touro pelos cornospartir a loiça toda se for precisomas nunca, em momento algum, deixar que nos tirem o que Abril conquistou.Liberdade é um cravo vermelhoerguido pelas nossas mãose uma canção de Abril cantada a plenos pulmões.

JOANA VERÍSSIMO

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Persegues sombras e espantosBuscas a liberdade no divagar das ondasFerozes são os dias em que estremecesLongas são as horas em que te perdesVês no perfil da luz a tua imensidãoEmerges desse tropel de algemasComo uma ave que não vê o chãoPorque voas na corrente que se ergue nos tons de azulE nesse oceano vasto e mudoA tua liberdade encontrou o minúsculo grãoQue te percorre em correntezas de alegriaOnde se esvai todo o peso da solidãoE é ali... junto ao mar...Que se erguem os rastos que te guiamEm direcção ao infinitoEm direcção ao teu labirintoOnde não perdes de vista a verdadePorque só tu és tu... porque só tu és liberdade...

JOÃO BAPTISTA

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286antologia da poesia livre

Eu era livre enquanto não te amava,Quando te amei, percebi que de ti precisava.Finalmente correspondeste ao meu amor,Tornei-me um verdadeiro sonhador.Sonhei que contigo casava,E uma bela família formava.

Mas o teu amor por mim terminou,E o meu sonho acabou.O meu coração tive que bloquear,Pois sofria de uma dor, que não conseguia aguentar

Tornei-me frio,E com as minha lagrimas, criei um rio.Foi nesse local que me afundei,Mas não me afoguei.Pois submergi,Foi então que percebi.Tinha que voltar a lutar,E voltar a amar.

Hoje digo sem qualquer pudor,Que sinto um grande amor.Por um verdadeiro lutador,Que já não sente dor.De mim estou a falar,E podem acreditar.A verdadeira liberdade.É quando reencontramos a nossa identidade

JOÃO DIAS

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A Liberdade é um Tesouro

A Liberdade é tão queridapara quem foi oprimidoé como centelha de vidacom verdadeiro sentido.

Se Amas a Liberdadenão deves abusar delavive sempre com dignidadee a vida será mais bela.

A tua Liberdade terminaquando a do outro começapor isso aos mais novos ensinaa melhor aprendizagem é essa.

Liberdade é regra de ouropara toda a humanidadepode ser mesmo um tesouroda mais bela qualidade.

Sê livre e Ama a Vidadesde o início à partidae procura sempre Ser.

Pois quando chegar a mortevais entender esse cortede nada te valeu o Ter. JOÃO DOMINGOS JORGE

A liberdade...

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288antologia da poesia livre

Foi-se o vento, Ficou a jovialidade, O pensamento, É de liberdade,Tão leve, que o poder da mente,É de uma verdade,Que se diz, livre,E é no pensamento, Que se encontra uma tranquilidade,E voa, voa, livre, tão livreQue provoca a felicidade.Os homens do livre pensar,Encontram na sua mente,Um grande pensar, Pela posse da verdade, Com grande força e simplicidade,O poder da mente,É livre como o vento,Tendo a capacidade, De voar pela liberdade.

JOÃO INIMIGO

O poder da mente

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LiberdadePelas ruas de lisboa passeando,Gosto de tomar esta liberdade,De ver os outros e na verdade,Ver os que aqui vão “trotinetando”.

Gosto de ver as coisas fluírem, ando,Percorro solitário os becos da cidade,Ficou para trás o tempo e a vaidade,Sou uma ave que perdeu seu bando.

E há turistas que vão “tucktuckiando”,Muitos que passam com velocidade,Uns são mais velhos, outros mocidade,Alguns em carrinhos vão esperneando.

E há os que se estão borrifando,Aqueles que já perderam a vontade,Os que continuam cativos da maldade,E que a todos continuam maltratando.

Por estes lugares vou deambulando,Pelos cantos onde gerei esta saudade,Onde ganhei a paz, o amor e a amizade,Onde, da lei da morte vou-me libertando.

JOÃO LEÃO

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LiberdadeQUIS CANTAR A LIBERDADE…SÓ ME VINHA A MELODIA.NÃO SABIA O QUE DIZER.PROCUREI NA ANTOLOGIA PARA NÃO FUGIR À VERDADE.MAS EM TUDO QUANTO LIA… LIA SEM ME REVER

DECIDI IR PARA A RUAPERGUNTAR A TODA A GENTE SE A TINHAM VISTO PASSAR.QUAL ? A MINHA… OU A TUA?MAS SERÁ QUE É DIFERENTE…NÃO É UM VALOR, INDEPENDENTE, DE CADA FORMA DE PENSAR?

ENCONTREI-A SOZINHA, ATÉ ME PARECEU PERDIDA.NÃO SABIA DE ONDE VINHA…FALOU-ME COM SINCERIDADEDE SONHOS, PESSOAS, DA VIDA… A ESSÊNCIA DA LIBERDADE!

DIZIA QUE NÃO A OUVIAMQUE A EVITAVAM, COM GRUNHIDOSALGUNS ATÉ DELA FUGIAM POR RECEIO OU OPÇÃOTALVEZ FOSSE A SITUAÇÃO…E… POR ESTAREM EM PARTIDOS.

PERGUNTEI-LHE ONDE DORMIASE TINHA ONDE DESCANSAR.RESPONDEU, COM EUFORIA, QUE DORMIR NÃO PODIASOB PENA DE… UM DIANEM SEQUER VIR A ACORDAR!

JOÃO LEITE

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FORTE DE PENICHE - CELA DO SEGREDO

Talvez toda a história da humanidade possa ser resumida em uma única frase “a eterna busca dos homens por sua liberdade”. Longe está a minha! Aqui onde estou, até os sonhos são debotados e frios como pedras e a vontade esvaída, já não é fardo pesado…

Apago o sonho de liberdadeempurrando os ponteiros da vida

para o despertar frio da cruel realidade.Sou preso político, que perdura isolado,com o corpo ultrajado e a mente ferida.

Moro com o silêncio, vivo com a saudade,nas ondas do mar revolto, esvazio o passado.

Neste corpo dorido entre a noite e a noite, os dias se afastam e as mágoas retornam ao coração do poeta. De rosto voltado, fujo de mim e das palavras. Sem forças sinto-me como uma velha gaivota, suspirando o prenúncio de um grito amortalhado…

Gélida mensageira da noite aqui repousa o sonho,onde cada coisa sem luz, corre por aí em desnorte.

O deus do silêncio aponta a marca da vidae esta sofrida, fina-se na roleta da sorte.Sou corpo etérico brilhando em liberdade

asas velhas e nuas, ungidas na mortelevam segredos, valores e dignidade.

A chuva vai caindo mansamente como se o céu dos mártires obedecesse à missão disciplinada de chorar sobre a terra o desaparecimento do poeta. O deus do silêncio finalmente parou a chuva e o sol da fraternidade é essência doce, que recebe o voo da alma em liberdade…

JOÃO MURTY

Forte de Peniche...

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292antologia da poesia livre

Desmontámos Deus quando apontámos a luneta para o Céue vimos a harmonia das esferas.Abandonámo-nos à dedução e à descobertavivemos a doçura, o êxtase e a angústia da experimentação e da [conjecturaaté ao ponto do Universo nos devolver a perplexidadede mundos maravilhosos e impensados.

JOÃO RANGEL DE LIMA

Mecanismo

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LiberdadeNão sabia, lidar com as palavras nunca fora o seu forte. O neto perscrutava nos seus lábios a resposta que tardava e não saía. Os olhares iam e vinham por cima da velha mesa de jantar. Caíam sobretudo no corpo cansado e sem voz. Parecia um rio parado a transbordar pelas margens que se afastavam. Vinham-lhe à ideia outras coisas que também sabia e não conseguia explicar.Porque nunca me disseste que me amavas? Ouvia dentro de si a saudosa mulher também sem resposta. Era uma maldição sentir e não saber dizer. Aquele petiz aguardava: O que é a liberdade?Olha para as minhas mãos, vês estes calos?Sim avô, doem-te?Não, não me doem.Olha, à tua volta, o que vês?A sala, a cozinha, livros, alimentos.Alimentos, dizes bem, e a mim vês-me?Claro que te vejo, eu gosto muito de ti.A liberdade é poderes dizer o que vês e o que não vês e fazeres o que tem de ser feito, olha fecha os olhos e toca-me nas mãos.Parecem pedras e montes, com altos e baixos ásperos e duros, trabalhaste muito com elasÀs vezes é preciso fechar os olhos para vermos melhor. A liberdade abre-nos os olhos para vermos coisas que os olhos não veem. A liberdade é gostar de ti. A liberdade é vermo-nos nos outros. E o que é que tem de ser feito?Só tu o saberás.

JOÃO SEVIVAS

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294antologia da poesia livre

Rasgaram, esquartejaramAs entranhas de minha mãe.Arrancaram-me de seu ventre.Arrastaram-me num suplício De condenado ao fim da vida.Minha tez, num sabor brutoDe máquina, foi moldadaA seu contento.Meu cordão umbilicalTomou a cor do sol,Da chuva, do vento.Viagem às origens me aguarda.Efémera vida que não tarda.David e Golias na memória.Fiz história.Talvez os olhos da criatividadeTeçam de meu corpo a belezaQue minha rude realidade oculta.Oh, volúpias deliciosas!Que as mãos me desfaçam em contornos, Me explorem E os olhos me devorem.Que o sol, a chuva, o vento,Dentro do seu tempo,Atinjam o orgasmoNo espaço da minha existência.

JOÃO URBANO CORREIA

Beleza oculta

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LiberdadeQuanta gente por ti corre,olhos tantos te procuram;Povo que se alevanta, no degredo morre,Entr´outros que auguram,heróico esforço, nessa labuta;

Derramam sangue e dor p´lo caminho;Por ti reclamam, abrem feridas;São sinais de vida, são pergaminho.Escrevem histórias muito sofridas,após travarem esforçada luta;

A tua vitória é a minha fortuna,barro, que moldará todo o Amor;Qualquer conquista é uma oportunapágina - templo de luz e de cor.Um Tempo de sonho, ao sul e norte;- Grito Liberdade! Sopro, fénix, flor,que voa além, mais que a morte!

JOAQUIM A. MOURA

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296antologia da poesia livre

Nasci livre, ninguém mais do que eu,Merece reclamar tal condição;Logo ao chegar a luta me prendeu,Da vida sorvi fel, seiva, paixão.

Quem, com verdade, alguma vez mereceuDizer-se gente livre, com razão,Que tenha sangue-livre, mais que o meu,Que seja, mais do que eu, do vento irmão?

Sou livre (grito ao mundo) não me prendem!!!Exerço, a cada passo, o meu pulsar E mostro à gente fé, querer, vontade;

Detesto os que se calam, que se vendemE estou aqui, impante, a proclamarQue é livre quem não teme a liberdade.

JOAQUIM BARÃO RATO

Sou livre

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Tem cuidado!... Não fales sem razão!...Que sabes tu para falares assim?Uns são felizes, outros não o são.Do mesmo sangue há bom e há ruim.

O ser humano merece simpatiaEnvolve-o em carinho, em teu amor.Não procures desrespeitar num diaUm percurso de sofrimento e dor!...

Tem a palavra, uma palavra sóPara quem a espera há tantos anos.Uma palavra que transforme em póUm rosário de erros e de enganos.

A boa palavra e nunca a má que é gumePenetrando na alma até sangrar.Feita de chama, que não seja lume.

A palavra - luz -, mas di-la, di-la certa,Que seja um caminho, ou um alertaPara que alguém se possa libertar.

JOAQUIM CARREIRA TAPADINHAS

A palavra perfeita

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298antologia da poesia livre

Liberdade?

já não sinto o perfume da liberdadeo vermelho de um dia sem sangueo som de mil passos por ti marchandoe de tudo um pouco sinto saudade

sinto saudade de todos os movimentosdas lágrimas que moldaram o meu paísdas batalhas que a palavra sempre quisda noite que se perdeu em sentimentos

marcha por mim novamente fiel soldadoa glória de outro tempo já foi esquecidaacorda a noite para outra nova vidarecorda ao povo a força do teu passado

vem de novo ó liberdade verdadeiraexpulsar do teu nome toda a opressãotodos os homens que envenenam a razão vencer a penumbra de uma vida inteira

venham de lá esses novos conquistadoresde punho em riste pela sede de vencerpela bandeira que sangra de tanto sofrervenham de lá de nobre povo os salvadores

JOAQUIM DE ALMEIDA

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LiberdadeVoar sobre os cumes mais altos das montanhas, como uma ave voa, sem ter asas.Sentir o prazer da solidão no meio de uma multidão, que se atropela numa rua agitada de uma cidade qualquer. Sorrir quando as lágrimas teimam em despedaçar as faces que retratam o sofrimento enraizado na alma.Sonhar, quando correntes avermelhadas cercam as feridas dos tornozelos rasgados pelo vigor do aço.Olhar o tocar macio das ondas do mar nas areias de uma praia, quando muros sublimes nos abraçam.Descerrar os braços e provar a brisa aquecida pelos ventos que chegam do sul, quando algemas firmes os cravam nas costas.Vaguear pelo universo, apesar de se encontrar ligado ao chão. Gritar bem no meio de um silêncio, antes nunca atormentado.Meditar desprendido de limitações, onde os preceitos são moldados.Observar a luz da lua a absorver o orvalho que cai sob a folhagem de uma árvore. Saborear o momento, sem passado nem futuro.

JOAQUIM DIREITINHO

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300antologia da poesia livre

Só, não se pode serCom os demais ganha jeitoSer livre é soltar o sonho como seres alados que campos e urbes sobrevoam em busca de outros que não voam.Livre é não haver outras ideias aprisionadasnem palavras em azul riscadasnem expressões algumas agrilhoadasnem palavras caladas por botas cardadas. Ninguém pode ser livre se outros o não são.Ninguém será livre se na terra não houver justiçanem pãonem educação.Não se pode ser livre Quando matam o camarada e o irmãonem quando as armas sufocam a razão.Liberdade é um ser alado que voa sobre searas e avenidas.Que solta a voz e fala.A todos levando ao sonho lindo de um dia cada vez mais feliz.

JOAQUIM ESCOVAL

Livre

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LiberdadeVesti-me de liberdadeDespedi-me da saudadeBailei então…Carregada de emoção…Abri sombras carregadasQue vinham da madrugadaRasguei o sol num abraçoQuando entrei no espaçoToda eu, vibrei a compasso…Quando senti a liberdadeMergulhei na sua vastidãoOnde ocupou meu coração…Bailei ao som de uma melodiaAo som da alma que me assiste…Liberdade, a forma que em mim se instalou!Liberdade, um raio que alguém libertouLiberdade a promessa que alguém festejouInstalada em meu peitoNão sei por onde andouNem que anjo a alcançou…Veio do tempo que faz tempoDo tempo que veio para ficarDentro de qualquer jardimEm cima de qualquer altar.

JOAQUINA VIEIRA

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302antologia da poesia livre

Da minha Pátria querida, de outrora,Recordo o quanto vivi, em ansiedade,Porque não existia, o que agora,Se pode, intitular de Liberdade.

A policia da PIDE, corria sem demora,Para deter, os que diziam a verdade,Por isso, quem sabe disso não ignora,O valor que é, o de viver com dignidade.

Porém, recordo, os que de amuados arrufos,Acusavam em belo prazer, dessa altura,Para serem, oportunos senhores pantufos,

Não importava quem e sem qualquer doçura,Eles eram conhecidos, de ignorantes “bufos”,Demolidores da Liberdade e da Cultura!

JOMARIA SALGUEIRO JORGE

A bela liberdade

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Liberdade...

Sou um mero mortal,Numa vida tão cheia de prisões.Nada é o acaso,Tudo é vivido.O amanhã que chegou hoje,O ontem que...As palavras não descrevem mais.Sinto saudades,Da minha Liberdade.Aquela que o tempo,A idade,Os sentimentos,Cobraram forte.Sou tão livre…Mas tão preso,Que no fundoSim! No fundo já não sei o que é a Liberdade!Sei apenas,Sou um mero mortal,Na luta do dia a dia,Procurando a minha Liberdade!Liberdade hoje!Liberdade amanhã!

JONAS FLUÍS

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304antologia da poesia livre

LiberdadeAs amarras invisíveis da incúria humanaenchem os pulmões de insatisfação ocultagrita o espírito na impessoalidade do corpo,abandona-se às sobras da integridade e esperança.Pulsa a consciência imortal da liberdadeexprime-se na intimidade do Ser inteiro.

O sonoro silêncio aquece a reflexão ardente das expressões que dançamao som da censura amortalhada sob as instâncias dos cobardes e dos opacos.Não há vida dentro deste bolorento invólucroapenas existe a calma morte torturada.Não obstante, ergue-se a invencível Liberdadevestida de povo e com voz de desobediênciaque corre em direcção ao evaporável despotismo.

JONI BALTAR

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305l i b e r d a d e | V o l i

Hoje, como a décima segunda fatiaDo bolo que me foi oferecidoComo prenda de aniversárioNo ano passado…

Sei que a minha liberdadeFoi sempre alicerçadaNas fortes muralhasDa responsabilidadeQue me têm cercado.

Aprendi que a felicidadeNunca pode ser adiadaNem as velas da esperançaPodem ser apagadasPelos sopros das ventaniasQue a vida nos traz.

Não posso adiar sonhos,Pois já passa da horaDe deitar mãos à obra!Os apressados ponteiros do relógio,Hélices do tempo movidas pelo vento, Já passaram do meio-diaE os sinos tocam a rebate.

A fixa ampulheta da vidaVai pingando os grãos de areia,Que envelhecem o corpo,Mas não podemos deixar Que também envelheçamA esperança e o amor.

JORGE ALMEIDA

Aniversário

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306antologia da poesia livre

A minha vida rodouComo um filme secundário. Arquitectei falsidadesSem me tornar um falsário,

Guerreei campos opostosSem me alistar mercenário,

Fui dono de muitas coisas,Mas não fui proprietário,

Biscateiro, fiz biscates,Não me chamaram operário,

Cumpri funções suspeitasImpróprias de um funcionário,

Baralhei as contas todas,Não cheguei a escriturário,

Escrevi metade dum livroQue não passou de um diário,

Amei só uma mulherSem ter visto o mostruário.

Depois o filme partiu-se,Fiquei só, sou solitário.Quero viver outra vidaPra fazer tudo ao contrário. Por isso, quando morrer,Não me metam num caixão,Fechem-me só num armário.

JORGE ARRIAGA

Poema libertário

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LiberdadeAndava eu por aí, vagueando a mente, sentado no meu trono de aço puro que amarra a carne frágil e dorida, de saudade da Liberdade.De olhos fechados, vazios de coisas belas, procuro maravilhas no crepúsculo, em velocidade descontrolada, milhões de vezes mais rápido do que um raio de luz, percorrendo galáxias, sem encontrar o porto de abrigo, que diz, ”és livre“. Recordações, muitas. Algumas, obstáculos perversos, que descontrolam com tiros de canhão a mente, que precisa esquecer esta galáxia infestada de raios e trovões. Turbulência infinita, maldição que não facilita a aterragem da imaginável nave, num lugar pequenino, no espaço infinito da minha imaginação. Pura ilusão procurar luz e Liberdade onde só há escuridão! Assim estou, sei que vou, não fico, mas procuro Liberdade e Amor nem que seja no infinito. Procuro, procuro a tentar encontrar a razão para tudo isto. Mas porquê, se eu sei que vou, não fico. Repito e repito, esta ação de confronto, ao recordar a minha existência, desde que me lembro ser gente. Da frente para trás e de trás para a frente, acorrentado a uma liberdade dilacerante.Procuro e não encontro, mas que tormento, não à linha recta, vou para parte incerta, cheguei ao cruzamento. Aguardo. Oh, que tremenda inquietação que corta a respiração, nem tão pouco estou louco, mas sim inocente, como tanta gente. Descobertas as necessidades, fugir das falsidades, são o isco para o apetite da discórdia. Ó santa misericórdia trava esta ansiedade que me está moldando, como se eu fosse gesso, numa figura que desconheço. Ó raiva maldita que me grita, e dá alucinações nos sonhos que não vejo realizar, são como estrelas cadentes, que ninguém sabe onde vão parar. Ó cruel existência de um ser discriminado, que foi posto de lado, como objeto estourado possuído pela ferrugem e na falência dos sentidos, que fazer ao que está feito, procurar e dar um jeito, até parar de respirar, sem a liberdade encontrar.

JORGE ESPÍRITO SANTO

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Diz -me liberdadeDiz-me, diz-lhes agora como te chamasDiz-me a tua cor, eu nada sei de tiDiz apenas se me queres e se me amasSe eu de ti já tanto me preenchi.

Bela e etérea donzela, d’alma cheiaConstantemente vilipendiadaTão disputada que o mundo incendeiaEsquecida na orla da madrugada.

Quem quis ser trespassado pela bala?Ou sucumbir ao fio de um punhal?Fenecer num abrigo ou numa vala?

Vês desigualdades? O bem e o mal? Vês a miséria e os abusos de poder?Liberdade como?... Será normal?

JOSÉ ANTÓNIO DE CARVALHO

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Sou proprietário dos meus dias,dos afetos que distribuo e recebo,da planície verdejante que imaginopara o meu pensamentoaonde germinam a brotam as minhas ideias.Sou um faz-tudo e um faz-de-conta inveterado,cientista, génio, impostor,malabarista, acrobata, estupor,que quer secar a chuva e parar o ventopara os meter numa garrafa à deriva oceano adentro,que tem como seu desejo último a utopia do horizontee como seu espaço pretendidoum cantinho reservado na imensidão da palavra…

JOSÉ ANTÓNIO PINTO

Da minha liberdade

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310antologia da poesia livre

Liberdade...

LIBERDADE QUE NÃO SE ESGOTA Liberdade,Avisto-a diante dos meus olhosE não me canso de a defender,Instintiva e com todas as minhas forças,Até à morte.Cuidar dos sonhosRetemperar as quimerasNessa liberdade que nos brinda sem retorno.Obstruir a larga estrada do meu entendimentoVer a luz que se anuncia à liberdadeAvistar as sombras que se escondem no meio delaEvocar, assombrar-me, com os homens que morreram, e morrem, por elaVislumbrar as aves que anualmente,Em nome da liberdade,Percorrem longas distâncias.A liberdade é saudosaA liberdade é compreensivaA liberdade não se esgota jamaisPorque a nossa condição de humanosTem na liberdade, a sua liberdade, para a poder escolher!

JOSÉ ARMANDO AMORIM

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OS SENTIDOS DA LIBERDADE De fragância violáceaSabor adocicadoPromontório erguido no meio do oceanoBátegas ameaçadoras ladeiam as suas margens.Quero-te,Ó liberdade,Candura de um ilimitado poderPericlitante se vai assumindoEm cada ano, em cada dia, em cada instanteLiberdade não é uma batalha, apenas,É uma guerra permanente e eterna…Liberdade é saudosaLiberdade é uma forma de vidaLadeada pelo medo da escuridão,Das trevas.

JOSÉ ARMANDO DE ALMEIDA

Os sentidos

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312antologia da poesia livre

LiberdadeA liberdade abriu as asas sobre nós?Ou se fechou como sempre faz?A liberdade é do mundo, de todos!Dos que sonham e realizam como lhe apraz.Liberdade é a chama que não arrefeceÉ o olhar de quem ama e nunca esmorece, jamais!Liberdade é poder seguir por qualquer caminho...É estar com multidões ou estar sozinho.Liberdade é o que é, se sentir livre, viver!É lutar sem medo, pois o grande segredo de verdadeÉ a incessante busca dessa tal liberdade!

JOSÉ BENÍCIO

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Alvejam velas ao vento,Por esses mares infindosE a água, em contentamento,Nos salga e clama: Bem-vindos! Vejam navios de outroraNavegando, à descoberta,Com portugueses de agoraA sonhar de mente aberta, Mas, nestes rostos com sal,– Como diria Pessoa –Há um novo PortugalA construir coisa boa!

JOSÉ CALEMA

Visão

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314antologia da poesia livre

LiberdadeDo campo sinto saudade Do meu Alentejo verdejanteOnde as flores nascem à vontadeLembro momentos de felicidadeDos campos de encantamentoOnde eu brincava em liberdadeAo sol, à chuva e ao vento.

JOSÉ CARLOS RAMOS

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Há um dom universal Que a todos é comum Objectivo pessoalExpresso em cada umÉ o valor do homemQue se eleva mais altoOnde o sol nasce a cantar

Todos merecem sonharO puro valor humanoDeve estar sempre a brilharTodos merecem sonhar Um pouco de sonho para todosNunca deve acabar

É um direito assim obtido Por cada ser humanoNunca deve ser proibidoMesmo por enganoLiberta toda a HumanidadeE a transmite para a eternidade

Uma vigem de projectos Percurso individual Mostra os trajectos Para uma meta excepcional

JOSÉ DUARTE BEATRIZ

Todos merecem sonhar

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316antologia da poesia livre

LiberdadeTenho no pensamento um sonho de voar,Num papagaio de papel, até àquele lugar,Empurrado pelo vento de inverno.Desde pequenino que lhe chamam céu, De onde um dia vim, antes de ser eu, Por cima das nuvens, mais longe que o sol.É a Terra da Liberdade onde nunca existe dor,Onde moram as estrelas feitas de berlindes.As casas são girassóis plantados num jardim,As pessoas são feitas apenas de coração,A saudade e paixão são vizinhas da esperança,Os rios e o mar são correntes de liberdade,As montanhas arco-íris com cores de amizade,E a verdade é água límpida e pura das fontes.Há castelos pintados com guaches de mel,Guardados por anjos vestidos de fadas,Com varinhas de condão em vez de espadas.E por magia fazem da tristeza, alegria,E transformam em amor o que é cruel,E a guerra, a fome e a morte, em sorte.E Deus é o grande mestre da ilusão,Que nos faz aparecer e desaparecer,E às vezes choramos de tanta alegria,Ao fazer de palhaço para nos entreter.E deixa-nos brincar sem nunca ralhar,E quando já cansados de sorrir,Adormece-nos para sempre,Com uma canção de rezar.

JOSÉ EUGÉNIO MOURÃO DA SILVA

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Diz-me tu que sabes tudo… o que é a liberdade?É olhar em frente e ter a linha do horizonte como limite.É pássaro fora da gaiola; na tua mão decidires o seu futuro: Morte? Vida?É poder...Passar pontes entre os rios sem que elas caiam!Percorrer estradas viçosas sem que elas colapsem... rumo ao abismo. Fim!Desbravar trilhos… deixando pégadas.E sabes que mais?São cravos… é Abril!E tanto por dizer, tanto por fazer!É votar… Acorda Portugal!É um rabisco de criança! É uma folha, é um lápis! É escrever e escrever muito!É amar incondicionalmente!É fazer o que quiser... com responsabilidade!É um alinhar desalinhado! É liderar em vez de chefiar.Mais que achar… é pensar!É saber parar... quando tudo já é mais do mesmo!É não ter destino… original desatino!É dar o murro na mesa… e gritar bem alto: chega!É ostentar cartazes… Basta!É um estado de alma… um estado de sítio num Estado de direito!É fazer bem! É fazer melhor!Sobretudo tu… é que a minha liberdade acaba; e agora começa a tua!Agora: sê tu mesmo!

JOSÉ FRANCISCO SILVA SANTIAGO

É de ser

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(Dedicado a Ti, minha grande companheira Liberdade.Liberdade: de poder ser livre para pensar-meditar-imaginar. A única coisa que ninguém neste mundo alguma vez nos conseguirá tirar cá de dentro!)

Entre as paredes desta casa:Sou um pássaro, na gaiola. Sou um prisioneiro na celaSó mais um homem sem destino e sem esperançaobservando o mundo aqui deste solarengo quinto andar.E lá fora, corre a vida (consigo vê-la). Ainda se observam pessoas a irem às compras, conversando, lendo jornais.A vida corre. Até voam pássaros no céu.Há gritos de crianças contentes. Lamentos de gente que vive mal.Lá fora no asfalto e no passeio andam humanos vestidos cada um com a sua decoração própria.E eu aqui, entre as paredes desta casaSou como um passarinho na cela.E já não me apetece voar mais, pois já estragaram o ar.Mas ainda não me roubaram (e nunca o vão fazer) a minha Liberdade!

JOSÉ LUÍS MARQUES

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LiberdadeLiberdadeFaz-me sentir Abril florido,Pétalas rubras de cravos olorosos,A alegria de olhos chorosos,Na emoção sentida,Das amarras liberta.

Poder agir sem motivo,Personalizar a minha vontade,Oh, ousadia deliberada,Oh, atrevimento desmedido!

LiberdadeNos versos do poeta,Cantados por heróis,Nas horas incertas.Gargantas enrouquecidasPelas mágoas sentidasE não esquecidas.

LiberdadeTrágica e bela.Por vezes, efémera!

JOSÉ M. MAGALHÃES

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Liberdade?!O que é a Liberdade? Penso que nem o sabemos!Oiço falar muito dela, mas eu nunca a encontrei.Onde ela existe, eu não sei.Quem a tenha?!... Muito menos!Não conheço a Liberdade neste mundo em que vivemos!O passarinho que imagina voar em Liberdade lá nos Céus,vive a vida no engano, pois outro, ou o ser humano, o perseguem e lhe tiram a Liberdade que lhe foi dada por Deus!Na imensidão da selva deste mundo, não há Liberdade também.Todos que ali habitam, desde o mosquito ao gigante, em toda a hora e instante, a Liberdade não têm!O animal preso no curral nunca teve Liberdade. É prisioneiro de alguém.Não conhece o seu destino.seja grande ou pequenino,não tem Liberdade. É escravo de quem o ali, tem!O passarinho na gaiola é um prisioneiro constante. Prisioneiro sem cometer qualquer crime, vive ali sem Liberdade por ser lindo, ou por um cantar sublime!O ser humano que grita Liberdade aos quatro ventos,não sabe o que é Liberdade, só se vale do seu nome para obter seus intentos.Quantas vezes pede mais, sem saber que Liberdade não tem.Envolto em capa de orgulhos gritando a sua ganância,fazendo voz de arrogância,acabando por perder alguma da Liberdade que ainda tem!Liberdade?!... Eu não conheço!Aos poucos, mesmo me esqueço o que é a liberdade!

JOSÉ MANUEL

O que é a liberdade?

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A liberdadeConfia na liberdade que quiseres confiar.Faz o que tens a fazer e leva-a para outro lugar. Há mais terra para lá deste infinito mar Não é o tempo que nada traz Nem é o tempo que vai esquecer o que se passou lá atrás. Sou eu, e apenas eu, e só eu,Que te viu partir para depois voltar,Onde a liberdade presa, não sabe o que faz.Não é o tempo que te liberta Nem é a liberdade que mantém a porta abertaÉs tu, e só tu, que me abandonaste numa dádiva sem oferta.Sou vento, e tu, oh liberdade és o arAbre as asas e finge que sabes voar,E hoje, logo hoje desapareço na hora certa.

JOSÉ MANUEL MARQUES PINTO

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LiberdadeOs tempos tão difíceis de contenda, já lá vão,há que apurar agora o enquadrar do povo,livre, senhor de si e da sua opinião;é tempo de reconcílio, de construir tudo de novo.

É chegada a altura sensata do cumprimento,das promessas evocadas, em orações tão sentidas,bonança a todos prometida, justa, após tanto sofrimentopela falta da liberdade, repondo-se a esperança nas ações obtidas.

Foi um trabalho heróico; planeado, pensando no bem geral,para nunca mais faltar o pão farto à nossa mesaque juntando à liberdade, tem um sabor bem real.

O povo agora ri e chora, contente numa certeza;Já morreu a Ditadura; a Liberdade é um bem comum,é de todos, para todos, há que a reter com firmeza.

JOSÉ MARQUES MIRA

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Guiados pelo luarAvançámos sem receioEra chegado o momentoNão podíamos hesitarDeixar as coisas a meio,Fechámos o medo na gavetaRespirámos só esperançaDentro em pouco seríamosO fiel de uma balança,A passada era largaConfiante a alegriaA rádio deu a notíciaFoi um voo de cotovia,Desinquietas as autoridades,Fecharam-se no último redutoE entregaram-nos as rédeasDeram-nos o salvo-conduto,Só se dispararam cravosDeliciando-nos o narizE com um sopro de liberdadeDesencravámos um país.

JOSÉ MARTINHO GASPAR

Sopro de liberdade

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324antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade é tudoLiberdade não é nadaPara quem serve a liberdadeQuando a vida está ameaçada

Tudo funciona como uma gaiolaPara quem está preso e tem tudoQue depois de soltoNão tem onde pedir esmola

Foi no passado e será no presenteHá quem pensa que nunca morreE mais que todos é inteligenteTirando a outros a liberdadePara impor a sua vontade

Um sentimento erradoCondenar sem ser julgadoLiberdade não é assimA sua expressãoTem um outro fim

Liberdade é vidaLiberdade é amorDesde que o mundo é mundoExiste essa dor.

JOSÉ MENDES

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LiberdadeSe eu pudesse soprar como o ventoTanta gente para fora do meu caminhoTalvez fosse maior o contentamentoSe continuasse amiúde mais sozinho.

Tenho os meus momentos de liberdadeE tê-los sem os poder deveras possuirÉ como se não fosse livre de verdadeE o que tivesse fosse falso, a fingir.

Se eu pudesse fazer uso de um apagador,O quadro preto de xisto com giz às cores,Ficaria mais preto e sem nenhuma cor,Preparado para receber outros atores.

Mas todas as possibilidades da fantasiaSão tantas que, no fundo, fico indeciso,Mais vale ir escrevendo a minha poesiaE disfarçar tanta coisa com um sorriso.

JOSÉ NICOLAU

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326antologia da poesia livre

Os poetas fazem revoluções Cantam paixões salvam ilusõesRasgam suspiros no fundo da terraPlantam canções na raíz do mundoEscrevem encantos nas nuvens Com fios de chuva e tintas de luzDesenham arcos na íris da vozFalam de silêncio e são ecosEm fogo na pele da esperança De um outrora na espera do agoraDe um depois que nunca fora

Os poetas fazem revoluções Soltam borboletas nas tempestades Desferem golpes de sabre nos aresDa imaginação antes do anoitecer Hibernam no olhar de quem chora Na fome e na sede da primaveraRegam as folhas de nevoeiro Com aromas de vento marinheiro Trazem nos mastros a alegria Da chegada ao porto onde um diaSeremos juntos liberdade e folia.

JOSÉ PAULO SANTOS

Poema 11:11

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25 de Abril 2016

A indigestão traz-me à memória o meu paiAs suas terríveis indigestões os sais de frutosO bicarbonato inglês Baker & Sons e o leite de MagnésiaMemórias. Simples memórias como os velhos sais de Kruchen E as pastilhas Dalva do meu avô e o seu Herptol para os calosE a pasta medicinal Couto para os dentes depois da epopeia das [áfricas…Estou cansado desta torpe indigestão que me faz perder o [sentido metafísicoDas coisas a sua ontologia funda muito kantianaEsta torpe indigestão que me faz descrer em Shakespeare e na poesiaBebi água das pedras tomei chá de Lúcia-lima e olho agora o céuOnde a lua cheia parece o meu estômago prestes a rebentarAlgures festeja-se o 25 de Abril.Onde estava eu nesse tempo? Acordado como hoje mas de arma [em punhoA caminho da perdição ou da liberdade…Não havia indigestões nem metafísicas Apenas uma G3 e uma ditadura indistinta para derrubarAh, o Outono da vida dói apesar de ser primaveraO Outono cheio maduro latejando nas adegasComo um estômago cheio no pico das madrugadas redentoras…Ao que eu cheguei, ao que nós chegamos meu paiTu definitivamente morto, eu às voltas com uma indigestão [reaccionária…

JOSÉ SOARES MARTINS

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328antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdadeSou eu e tuNa dança do amor. Rodopio, RodopioE Rodopio.Caio nos teus braços.Perco-me no teu olhar.Nada mais à nossa volta.Só o ar, A água, A terra E o fogo.Nós e o Universo.Perfeita simbiose.

JOSÉ VIEIRA

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Do pássaro transparente

Abalem, pássaros do meu peitoVoem na vossa pena com direito à vossa carnePlaneiem no céu um regresso que tanto apressoPara ser alguém, desperto nas trevas e no mudo mundo.Arrasta-me ó corpo impostoPelos escombros de todas as almas vadiasLeva-me de novo ao ventre da mãeGuarda-me um candelabro no fim da tormenta.Eis as corujas e as serpentesQue tanto lamento sorvendo destas entranhasArauto da desgraça que esguia e carrancudaAcorda manhã eterna que te peço o que resta da vida.Leva-me mãe, ao sonho cosmonautaÀ sede de voar que tão pungente não saberTer tempo, ainda dentro do mero tempoPara ser livre, como os que se foram do meu peito.

JP FREIRE

Do pássaro

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Procurar validaçãono olhar do outro,sempre que a ficha caino sobrolho carregado da tua angústia,nas rugas distraídasao canto da bocaQuando já não dá maisp’ra engolirde sorriso aberto e almalavada.Eu teria querido amar-teem plena LiberdadeEngano meu,pois na posse do meu desassossego, tu me quiseste em cativeiroE, ao despojares-me de mim em azeda sucata de dores,Ao possuir-meme devolvesses um medomuito maior de ainda vivê-la.

Ju Andrade

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Nada existe de mais tristeQue não poder expressar-seTudo quanto vai na alma.Eu sinto a ideia brotarComo água de qualquer mina,Surge rápida e persisteMas a palavra concretaContinua em vão a buscar-se:

Mas o esforço não me animaE caio na vida vulgar:- Como querem que me exprimaSe não me deixam falar?!

JÚLIO GARCIA

A mordaça

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L

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Com os teus sapatinhos brancos marcharás pelo céu,Com teu riso roubado, tuas mãos sujas de terra,Por esconderes com mentiras, enterrares no jardim,Pedires, implorares por um rápido fim,A teu pai, eterno senhor da guerra. E tu, pequeno soldadinho, feito de teu pai, marcharás pelo céu,Pelo céu,Pelo céu,Pelo breu. Soldadinho com cânticos feitos sem voz,Menino, diz ao demónio que não posso esperar por vê-lo a sós,Menino, diz a Deus que não posso esperar por vê-lo a sós,Soldadinho, mal posso esperar para estarmos a sós… Todas as rosas vermelhas como sangue para mim,De galões se fazem heróis, de um pão se faz o ladrão,Menino, não sei muito, quase nada, mas e do que se faz um assassino?Talvez seja cedo demais, para um menino - soldado e para mim…Talvez mais uma guerra para aprender, mais uma velha liçãoMenino, não sei muito, quase nada mas foi a brincar a Deus que [te fez um assassino?

LA FREAK

Menino -soldado

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336antologia da poesia livre

Ah! Liberdade, liberdadeOnde estás tu?Estás em mimEstás em tiEstás em todos nósEstás na luz do diaE na amargura sem ousadiaÉs o ar que nos inspiraA sermos fortes para mais um diaA ensinar-nos a viver um dia de cada vezCom os altos e baixos e muita lucidezDás-nos esperanças com um novo amanhecerPara esquecer o mal que paira no ar e enaltecerContigo aprendemos a amar Sem medo nem preconceitosSomos livres para sermos quem somos E agir conforme o [coração mandarPara nenhuma lágrima derramarA liberdade é nossa por direitoVem da nossa almaDeixa-nos livres para pensar e agir o que por dentro sempre [sentimos existirQue a vida é um abrir e fechar de olhos mas o que mais conta é viver consoante a nossa consciência e sermos livres!

LARA ANTUNES

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A liberdadeA liberdade é algo instável, inconstante...Tanto é nossa como nos escapa das mãos.Ela é frágil e singela,Não é qualquer pessoa que toma conta dela

Cai na graça de quem a desejaOu naqueles que tanto a desprezamÉ arrancada de nós e afastada,Tão frágil e delicada

Perdê-la é como perder nós mesmos,A nossa essência,Esta é a nossa liberdade, nossa e dos outros.

LEA NIGHT

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338antologia da poesia livre

Somos viajantes de um tempo,Que não tem tempo, que nada espera,Perdidos por um momento,Numa liberdade que desespera.

Vivemos com pressa de tudo,Fartos de nada esperar,Ser livre neste mundo,Sem sentir a vida passar.

Na caneta levo a alma,Em tempos que muito se diz,Fazer escolhas com calma,Voar com feitiço de aprendiz.

Somos prisioneiros da verdade,E lutamos para acreditar,Que o tempo é liberdade,Que em segundos nos faz sonhar.

LEOCÁDIA QUARESMA

Liberdade do tempo

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Motim do orgulhoQuerem-me pôr comoUma certa Pessoa,Um tal Carneiro?Pintarem-me de Verde?Jamais! Não sou prisioneiro! Mas que escuridão!Nunca se submeteUm poeta, a juizDa sua emoção! Quem sou, é o que sai!O que sai, é o que escrevo!O que escrevo, é o que passou,Do seio para o relevo! Nasci livre!

LEONARDO FARIA

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À CONQUISTA DA LIBERDADE

Somos habitantes deste mundo,ainda que diferentes, somos todos iguais,lutamos pelo mesmo, lutamos por sonhos,pela estabilidade, liberdade e paz no mundo.

Ainda por curas impossíveis, vamos orando e por novos recomeços, vamos pedindo e acreditando.Mas ó Justiça, onde pairas tu?Ouve as nossas orações, as nossas razões, nesta luta, à conquista da liberdade!

Oiçam as nossas vozes, não nos deixem sozinhos, juntem-se a nós nesta luta contra as injustiçasfaçam se ouvir, unam os vossos corações,sintam a batida de cada um, sintam o vosso calor.

Vamos fazer justiça, juntos derrubaremos barreiras, ultrapassaremos fronteiras, venceremos a guerra, obteremos a paz, concretizaremos as nossas ambições,lutando à conquista da liberdade!

No final, quando olharmos ao nosso redor,veremos rostos de felicidade e,teremos um milhão de razões para gritarrmos,o tão desejado: “Conquistámos a liberdade”.

LEONARDO TORRES PEREIRA

À conquista...

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Estarei a voltar a mim? À minha essência?Nestes dias de simplicidade e longe das rotinas que nos consomem, distanciei-me da azáfama do mundo mas aproximei-me do que mais importa, do que realmente importa...A vida, as vidas preciosas que nos rodeiam e o viver!

Tenho constatado em mim o sentimento de que estamos tão errados como sociedade...Progredimos e evoluímos tanto, em inúmeros aspetos, mas perdemos valores, tempo de qualidade e momentos irrepetíveis...O estar com as pessoas, conseguirmos criar mais os nossos filhos e contrariar a distância do dia-a-dia, a falta de tempo e o ter de produzir,respeitarmos e vivermos em harmonia com a natureza,ajudarmos os mais próximos com entrega, disponibilidade e coração aberto.

Enfim, acho que cheguei a um ponto da minha vida em que senti que “cheguei” e o quanto isso é bom!Mas, ao mesmo tempo, sinto que “não cheguei”, em tantos outros aspetos, e que há muito mais que posso e devo fazer mas que nem sei por onde começar quando, ainda para mais, o meu dia-a-dia é um rodopio, consumido pelo ter de fazer e que nem me tem permitido simplesmente sentir, pensar, refletir e estar em mim, na minha essência...

LEONOR LOPES

Por onde começo?

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LiberdadeÉ algo sem densidadeque nos toca não se prende…desejamos, abraçamos,rejeitamos, afastamos, em ondas de contradiçãoda nobreza à ambição…

instrumento do podernão se deixa amordaçarao sabor da fantasiado vazio de quem promete…promove ondas de esperançanos sonhos que alimenta,vai dando sentido à vidada alegria à tormenta…

LEOPOLDO GUIMARÃES

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LiberdadeSonho-te liberdadeChamo-te em cada amanhecerProclamo o teu nome em cada anoitecerEspreito no horizonte o teu vulto, quase ausente, disformeProcuro-te na água da chuva que corre sem nomeSonho-me despida do tempo, de fardos e defeitosSonho-me descalça de conceitos nefastos e do medoQueria acordar num dia qualquer e roubar…Roubar a alegria do sol, para pendurar em cada estrela da noiteRoubar um sorriso para brotar na auroraRoubar uma flor para colorir o meu crepúsculo Queimar o meu fel numa fogueira de mel – e seguir…Seguir livre Sem medoSem pressaSonho-te liberdade.

LI KOSMUS

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Liberdade!

Liberdade, deixa que fale de ti aos que não te conhecem ou ouviram falar. Deixa que abra as portas da memória, dos muitos que por ti lutaram, para que hoje pudesse estar aqui… livre!

Deixa que fale de ti. Dos que viveram na escuridão dos tempos, dentro de portas de um País medonho, bisonho, autoritário.

Liberdade deixa que fale de ti. De cada “Ser” insubmisso, indomável, resistente, que nos libertaram das amarras que nos oprimiam, fazendo despertar as brumas matinais. Rompendo o véu da ignorância na noite adormecida.

Do dia que se vestiu de sorrisos porque Tu deixaste tatuado na penumbra de cada cela de pedra a marca do peso das lágrimas de tortura, abandono e solidão, comprimidas no espartilho de um tempo.

A tua semente, Liberdade, que foi lançada no solo da esperança, não foi em vão. Hoje, brota por entre o verde dos campos e já a noite beija a madrugada, tão esperada, embalada no sonho de cravos vermelhos a florir, soltando o som que acende o sorriso livre e desperta o silêncio da memória. Devolvendo as chaves aferrolhadas nos oceanos do tempo de orlas lavradas da memória.

Liberdade, Deixa que fale de ti, que transmutaste a dor em sorriso, o deserto em paraíso, o sonho em realidade!.

LIBÂNIA MADUREIRA

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Difícil é sermos livres quando a prisão que nos mantémEstá dentro de nósDifícil é termos voz quando as palavras são as algemasQue nos mantêm aprisionadosPresos às ideias que nos foram colocadas na menteSem que nos tenhamos apercebido o quão doenteNos estávamos a tornarAgora tudo o que nos resta é a dúvida e a fúriaCausadas por esse mal-estarQue, aos poucos, nos está a aniquilar Pois não há nada de mais mortíferoDo que um pensamento sofridoPreso onde não quer estarCom vontade de voar

LÍDIA OLIVEIRA

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346antologia da poesia livre

Os cravos de abrilEra a noite triste, cinzenta e fria demaisHavia poeira negra caminhando pelo arEram gritos lancinantes, lamentos e aisNas cidades e aldeias, na terra e no mar

Então a madrugada surgiu de repenteTrazendo uma enorme luz de esperançaE um brilho tão belo e resplandecenteComo o olhar e a alma de uma criança

Chegou aquele dia que nos deu a LiberdadeTodas as mãos erguidas com cravos a florirA alegria era imensa e tão grande a emoção

Foi a Revolução de Abril a trazer a felicidadeCom a esperança de um Portugal a sorrirSempre com alegria e afastando a escuridão

LILIANA GUERREIRO DE BRITO

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347l i b e r d a d e | V o l i

Sou livre!

Sou mãe, esposa, filha, irmã, funcionária, dona de casa, poeta,Mas tenho a liberdade, de continuar a ser Mulher.Tenho a liberdade de me cuidar, de me amar,De vestir o que quero, fazer o que quero,Tenho a liberdade de ser Mulher.Sou livre para ser quem sou,Sou livre para admirar a noite resplandecente que espreita lá fora,Sou livre para contemplar o sol que me ilumina os dias.Sou livre para observar cada detalhe da vida.Sou livre para ser EU.Quero ser lembrada, como a mulher elétrica que sou, E não como muitas mulheres que estão fechadas na sua concha,E que nunca conseguem sair.Se o amanhã não for o que sonhei, pinto outra aguarela e sigo em frente,Pois sou livre, para ser EU…

LILIANA SILVÉRIO

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348antologia da poesia livre

Liberdade,é deixar a Alma os sonhos encontrar,pegar nos seus braços,com eles dançar.É Sol e Lua,no mesmo céu brilhar, não haver noite ou dia, apenas a magia de ali estar. Liberdade, É ser adulto sem nunca crescer, sentir com o coração acreditar que tudo pode acontecer. É sentir a Vida, como um suave toque de mão, que não se esquece, fica no coração. Liberdade, É crer, que entre altos e baixos, estamos aqui para vencer.

LU M PAZ

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349l i b e r d a d e | V o l i

Foi pela nossa liberdade Ação de nobres soldadosNão houve tiro de canhãoHouve cravos encarnados.

Para o regime derrotarFizeram tudo bem feitoPara liberdade alcançar Deram o golpe perfeito.

E esse dia foi diferenteHouve medo e felicidadePara o povo importantePor alcançar a liberdade

E esse dia hoje é popularSomos livre livres a voar Sem asas se tentar subirNão se vê voar sim a cair

Porque agora liberdadeTem dias atormentadosQue cultivar já não sabeEsses cravos encarnados

Foi por esse dia de Abril Que se fez tanta loucuraPor deixar partir o cantilJá não se rega a cultura.

LUBÉLIA DA CONCEIÇÃO SOUSA

A liberdade

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350antologia da poesia livre

Grande Senhora de pés descalços,A distribuir sonhos nos horizontes,Dança, voa e corre,Saltita por entre pontes.

Vai descalça, a Grande Senhora,À espreita para semear,Nas terras pobres e incultas,Pérolas raras de sonhar.

Por tão rara ser a semente,Todos a querem beijar,A Grande Senhora descalça,Com seu regaço de encantar.

- Que diz ela, a Grande Senhora,Que não a consigo ouvir?- Traz novas, contos de fadas,Palavras soltas de porvir.

Aqui e além a cercam,Não a deixam semear;Temem a sua bondade,A força do seu calcar.

- Como se chama a Mulher?- Quem é a Semeadora?- Ela chama-se LIBERDADE,Dos Homens é protetora.

LÚCIA BANDEIRA

A semeadora

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LiberdadeNasceste em abrilRealizando projetos mil.Sem ti, Nada faz sentido.Fica o sonho perdido.Nasceste na primaveraDeixando de ser quimera,E trazendo contigo,De cada um,A verdade.O teu nome? Liberdade!

LÚCIA LOURENÇO GONÇALVES

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352antologia da poesia livre

Acreditar na paz e no amoracrescentando o grande louvordo sentimento de estabilidadetudo em prol da liberdade.

Acreditar num fio condutorconstantemente assertorque crie cumplicidadee garanta a liberdade.

Acreditar que há sucesso,que é possível o progresso,usar de sensibilidadee fortificar a liberdade

Acreditar na vicissitudee apostar na juventude.Partilhar em comunidadeindo de encontro à liberdade.

Acreditar que se é capaze fazer o que nos aprazconseguindo cumplicidadee sentindo a liberdade.

Acreditar que os tempos mudarame saber que eles não param;crescer com a realidadee dar mais força à liberdade.

LÚCIA MATOS

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Eu desejo liberdade,Minhas vontades expressar.Ser livre é uma raridade,Enquanto o mal governar! Leis, ânsia do poder, regras!Do que é nosso. pagar imposto.Tem as leis severas, mas,Não para todos como seria suposto! Ninguém é livre hoje em diaAo dinheiro estão presos.Vivem através da cobardia!Pensamentos preconceituosos. Liberdade é mera ilusão.Pobre tudo tem de cumprir,Rico até pode armar confusão,Que pena na pele não irá sentir! Pelas leis livres são,Presos são pelos pensamentos.Pela obsessão...Que é o pior dos sentimentos!

LUCY MENDES

Haverá liberdade?

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354antologia da poesia livre

24 de Abril de 2014

Sou filha de Abril,De um cravo parida!Não me peçam, pois, que vivaComo se apenas houvesse março e maio…Onde está Abril?Abril faz-se em casa, dentro de portas!Abril faz-se hoje e ontem para se repetir amanhã!Abril é não ter muros no pensamento,É não ter muros nas pontas dos dedos!Abril sou eu,Abril és tu!Abril é uma papoila num mar de verde,É poder lutar por aquilo em que acredito,É poder transmiti-lo aos meus filhos…É voar em contramão,É cantarolar alto uma música que só eu e tu ouvimos…Tudo isto é Abril.Deixem-me, portanto sozinha,Isolada numa ilha e, ainda assim,Celebrarei Abril!Enquanto houver uma árvore,Enquanto houver uma florUma nuvem ou um raio de sol,Terei Abril só para mim!

LUDOVINA MARGARIDO

Abril

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Qual é o preço da LiberdadeSerá o do dinheiroSerá o da sanidadeQue a busca pela verdadeTe consumiu por inteiro?Qual o sabor da LiberdadeSerá um banquete de finas iguariasSerá ver a insaciedadePor o que te oferece a sociedadeCom “comidas” insípidas e frias?Qual é a cor da LiberdadeSerá preta ou será brancaSerá a cor da desigualdadeEntre toda a variedadeDe pessoa sem esperança?O que é para mim a LiberdadePara mim, Liberdade não é nada distoLiberdade é a bondadeO amor e a vontadePela qual morreu o Cristo.

LUÍS DE BRITO GUERREIRO

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356antologia da poesia livre

Era um tempo...

Era um tempo… Sem liberdade

(2016-09-11)

Era um tempo de angústia na vida de cada mancebo,um tempo em que o tempo marcava o ritmo da liberdade.Era um tempo em que as mães choravam em silêncio,se faziam fortes na presença dos filhos, soçobrando de seguida.Era um tempo em que tudo era negado a quem não tinha do tempoo tempo certo para ter a liberdade de ser livre e nessa liberdadelimitada pelo tempo se encerrava em masmorras sem alma.Era o tempo em que o sonho era negado e a vida parava no tempo,até que o tempo certo os recolhesse entre muros e casamatasrecheadas da nata da juventude parada no tempo e em que a vidatinha um único objectivo que o tempo se encarregava de marcare permitir viver ou morrer nos intervalos de cada explosão.Era um tempo que o tempo não apagou da memória de todosos que viveram o tempo carcereiro, e acabrunhados por esse tempo,vagueiam pelas ruas de uma amargura sem cura, vergam-se ao pesodo tempo que lhes tolhe os movimentos e lhes tolheu a vida.Era um tempo em que as mães choravam baixinho e rezavampelos filhos perdidos num tempo madrasto sangrando da alma.Era um tempo em que a Liberdade foi excluída desta juventude.

LUÍS FILIPE CARVALHO

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Como se nada tivesse feito sentido.Nem as canções!Largado o sinal de partida,nem as gargantas pelejadas de dizeres.Nem o tempo passado sem darmos conta.

Como se aceitássemosque agora,ainda a Primavera vai a meioe já nos fazem engolir Outonos.

Como se Maio tivessesido uma promessamas nunca tivéssemos realmentedeixado aquele dia.

Como se a sombra daquela Azinheirativesse adormecidotodos os nossos músculose a vontade que foi nossade não voltar a cantar metáforassaltasse das nossas meias palavras.

Como se aquele diaainda estivesse à espera.À nossa esperaE de todos os futuros que começámos!

LUÍS GARCIA

Abril

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358antologia da poesia livre

Amor e liberdadeQue bom sentir nas veias,o correr do sangueda nossa juventude…Sentirmo-nos afectos a alguém,e ouvir o palpitar,do nosso coração. Que bom viver a construção,dos nossos sonhos em pensamento…Acordar com a alma quente,como sol que nasce,livre como vento,fresca e pura, como a água da nascente!

LUÍS GONZAGA MONTEIRO

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A poesia é o meu suicídio escrito a única forma de vida em que acreditoletras que são gotas, palavras que são lágrimaso meu sangue, um escuro rio de águasonde o teu corpo se esvai de mime eu me esvaio em frases assimque pela noite profunda me levame do mais fundo abismo me chegamtorrenciais, como a monção essa tempestade contra o coração quando escrevo na pureza branca de tentarpela poesia me libertar desta tua presença, desta barragem aqui em tudo - a memória que não me sorride tudo - a certeza que assumi de que a única forma de viver é por tisuicidando-me no correr da folha pela tintaque me escorre lentaenquanto respiro e nisso sinto e prevejoque com a poesia me mato de desejo!

LUÍS ISIDRO GUARITA

Liberdade II

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360antologia da poesia livre

Naquele abril de sonhos mil Despertei trémula e livre Presa ao delírio da liberdade.

Hoje escorro na idade, transparente de sonhos destroçadosCom estilhaços de cravos enlutados pela ânsia do poder.

Neste abril de sonhos mil, desperto apenas cansadaPresa à poeira dos meus versos, escassos e dispersos.

Quando eu morrer Atirem poemas ao mar Num grito De liberdade Adiada.

LUÍSA LIMA

Abril de sonhos mil

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Naquela manhã, naquele dia, A esperança surgia!Não era Verde, não era utopia.Era Vermelha, era magia.O povo acredita, que a alegria,Da luta vencia.Todos unidos, em harmonia,A uma só voz, um grito nascia!Liberdade, Liberdade, Liberdade!Para trás ficava a agonia,De querer dizer em sintonia, O que a alma sentia.O tempo era novo, tudo sabia.Um cravo vermelho, trazia O sonho, a alquimia,De ter, por companhia,A força, a ousadia, Para vencer, com energia,O silêncio que emergia.Os anos passaram,Os tempos mudaram,E hoje afinal,Onde está Abril em Portugal?!

LUIZ ANTÓNIO CORREIA SEMBLANO

Abril em Portugal

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362antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade...Vem comigo eu te defendo.Passeemos lado a ladoFugindo de um vil passado.Liberdade...Soltei-te do cárcere das memóriasQuero ter tuas conquistasNão tuas fracas vitórias.Liberdade...De ti vou sentir saudadeComo de um amor primeiro Não te quero por metade.Liberdade...Quero ter-te por inteiroEnvelhecer a teu ladoComo um amor verdadeiro.Liberdade... Não é libertinagemÉ o livre pensamentoÉ o empenho e a coragem.

LURDES BERNARDO

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M

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Liberdade...

LIBERDADE EM CONSCIÊNCIA

Encontrar o teu próprio caminho,Sem constrangimento de alguém;

Poderes ser dono do teu cantinho,Partilhares ou não com quem vem;

Tens livre arbítrio para o teu destino,Não precisas da anuência de ninguém;

Deves, contudo, seleccionar com tino,É tua a responsabilidade do que advém;

Todos temos um contrato a acatar,Não podemos nem devemos fugir,Se pretendemos a autonomia usar;

Ser livre é ter um mundo inteiro por descobrir,Ter a coragem e a sabedoria para o enfrentarE ser consciencioso no momento de partir!...

M. PIÇARRA

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366antologia da poesia livre

A minha relação poderia ter sidopacífica, inofensiva, acomodada.Quiçá insípida, monótona, breve…Ou quente, apaixonada e libidinosacomo o fogo que aquece um corpoinsensível, arrefecido e inertenuma frígida noite invernal.Mas não!Foi um relacionamento duradouro,carregado de agressividade, violência e submissão.Após lutas, conflitos, disputas e desvarios,determinada a ser livre e desimpedida,decidi pôr termo a uma relaçãodoentia, insalubre e prejudicial. Saturada das humilhações que nenhumamulher moderna pode tolerar,acabei com o duro e rijo naco de carneque me magoava a cada dentada e, para seu desgosto machista, troquei-opor um sumarento, doce e jovem abacaxi.

M. ROSÁRIO COSTA

Opções...

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Lateja a emoção do apetecido dia.

Beliscam-se as gentes na Liberdade apaixonada conquistada; afoitos no saber da flor,já que conhecem o jeito de colher no peitoa carruagem do novo alvor.

Abrem-se janelas, almas do insuspeito,a escutar notícias de inusitado sabor.Houve grilhetas quebradas,correntes indivisíveis do trivial da importância, no quotidiano de todas as vontades, não mais algemadas.Vencem escaramuças, pequenos nadas,rasgando tabus e discordância.

Tremeluz um outro respirar!A felicidade exulta e não se finge,recordando o antes que agora finda,que acaba de acabar.

A liberdade matura nos genes, namorando a licença alcançada, encantando, dentro e fora, a beleza da dádiva.

MACIEL DA COSTA

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368antologia da poesia livre

LiberdadeLembra-te daquele sentimento Que todos queremos ter Todos queremos sentir Mas quem o tem?Quem o consegue sentir, ver, pensar E no fim do dia gritar EU SOU LIVRE! Ninguém consegue pois Ninguém o tem, o vê, o sente… Mesmo que o tivéssemos o que faríamos dele?Se nós nos prendemos a nós próprios Nos medos, nas inseguranças e acima de tudo em nós… Todos nós a poderíamos ter, só não a alcançamos.Se pegarmos nas nossas qualidades Em vez dos nossos pontos fracos, Se acreditarmos em nós acima de tudo Aí sim, podemos alcançar a liberdade! A liberdade interior que nos deixa ter os melhores pensamentos Que nos deixa à noite fechar os olhos e pensar: eu sou livreEu sou capaz de tudo… Sinto-me são pois sou livre!Mas o que somos capazes de dar em troca da liberdade? O que fazemos por algo Algo que nunca vamos ter na totalidade Por algo a que damos significado Mas não sentimos por simples coisas, Coisas que tomam conta de nós Dos nossos pensamentos e ações… Mas um dia hei-de descobrir o que é a liberdade O que sentimos quando a temos. Por agora pergunto: o que para ti é a liberdade?

MAFALDA AMADO

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LiberdadeNascemos leigosPresos à escolha do livre arbítrio delesNo fundo não somos livresNem para escolher respirar a vida

Quando finalmente a sentimosJulgamos que tudo podemos Com fulgor esquecemos quem ela éQuando começa e quando acabaVemos o espaço do outro desvanecer no tempoComo o vento que beija a sua tormenta

O mundo conhece a sua liberdade Gosta de nos falar delaDo princípio ao fimAprendemos a agradecer-lheE um dia no espelho estará a ilusãoDesta que é a grande falácia da vida Que a desintegra peça por peça

Por fim morremosSem data e hora definidaA liberdade que um dia desconhecemosE no tempo seguinte construímos Desaparecerá como fumaça Naquele último suspiroDa morte a esmagar a vida

MAFALDA G. MOUTINHO

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370antologia da poesia livre

LiberdadeAo alto daquela montanha eu quero subirPara ver o que existe láOlhar de lá para aqui e ver se tudo é igualAo alto daquela montanha eu quero chegarPorque lá fico mais perto do céuPorque láPosso agarrar aquela nuvemE viajar no espaço e no tempoVou ter com o solVou ter com a luaVou visitar a minha estrelaVou ao tecto do mundoE o mundo é, uma bola de algodão que gira na minha mãoVou ver onde começa o marVou ver onde o sol se põeVou ver onde se escondem as estrelas e a luaE onde a minha nuvem vai buscar águaVou ver quem sopra tão fortePara fazer andar a minha nuvem comigo lá em cimaVou ver... sei lá... Porque razão a minha nuvem É tão branca e outras tão escurasVou ver... não sei o quê mais... Porque às vezes, é tão bom ficar em liberdade

MAFALDA PASCOAL

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À mercê...

À mercê dos “calças sujas”

Oh, Liberdade...Longínqua realidade, oceano de ternuraTerra de integridade, deserto de frescura.

Jóias verdes, brancas e violetas.“Estão aborrecidas!” diziam eles. Feias, solitárias e masculinas demais.

Mary Wollstonecraft, Alice PaulInez Boissevain, Ida B. BarnettCaladas, queimadas, apedrejadas.

Aforismo inegável.Todos os dias... mais uma e outra. Calcula-se faltar ainda seis geraçõesPara o fim desta era de descriminações.

Ele disse: “Amai-vos uns aos outros”.Será amor quando se impede de viver?Será amor cada uma das marcas nos nossos corpos?Será amor quando libertarmos o nosso último suspiro às mãos deles?

A liberdade está ao nosso alcanceSe nos deixarem lhe chegar. Sem mais quedas, sem mais demoras.Pelas nossas irmãs que já cá não estão, votemos pela nossa libertação.

MAH RS SILVA

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372antologia da poesia livre

Ouve-se um grito!!!De alguém que se sente aflito,Alguém que se encontra aprisionada,Entre folhas num livro fechada.Abra-se o livro,Acabe-se com o castigo,Abram alas,Soltem as amarras,Abram as algemas,Deem à POESIA, todos os temas.Com o livro aberto,A POESIA, fica agora a descoberto,Toquem-se as trombetas,Juntem-se as letras,Mandem-se as palavras formar,Chamem os Poetas para declamar.A POESIA, não fez voto de clausura,Nem é de ninguém reclusa,Nem faz parte de qualquer usura,É uma musa, que do direito à sua liberdade usa.A POESIA, não tem dono, nem se deixa ao abandono,Tem na liberdade do Poeta, o seu patrono.A POESIA, não cometeu nenhum crime,Tem um valor de nobreza sublime,Não a queiram meter numa cela,Ao Poeta, cabe-lhe dar-lhe liberdade e cuidar dela,Não a queiram condenar,Soltem-lhe as asas, deixem-na livremente VOAR…

MANUEL A. RODRIGUES

Libertem a poesia...

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Lib(v)erdadePassei por um rostoVoava na vidaE li verdadeNa cara tisnadaQueimada do solE liberdadeNos braços cansadosÀ luz do farolDo ser da fervuraDos corpos da terraDos olhos ternuraPassou e deixouNo ar da vontadeUm rasto de luzE de liberdade

MANUEL BATOCA

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374antologia da poesia livre

Onde está a liberdade?

Se a liberdade falassediria que a tinham matado,maltratado,acorrentado,e talvez me chamasse.Se a liberdade falassee não fosse muda,pediria ajuda,em voz alta e aguda,até que eu chegasse.Se a liberdade falasse,não escrevia este poema,nem um fonema,porque só valeria a penase ela se soltasse.

MANUEL BOLOTINHA

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LiberdadeNão controlo a minha menteCondicionada por estereótiposDe liberdade estou carenteSubjugado por diversos mitos

Inúmeras Estrelas cintilam no céuÀ terra prende-me a gravidadeSou prisioneiro em liberdadeLivre neste local escuro como breu

Livre mas só, caminho pela veredaPensamentos surgem sem conviteLevam-me da Terra a AndrómedaViajando pelo leito da bela Afrodite

Liberdade é uma palavra abrangenteDefinida por um sentir individualPara uns, ter alimento diariamentePara outros, diversão no carnaval

MANUEL CLARO OLIVEIRA

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376antologia da poesia livre

Encontro...

ENCONTRO COM A LIBERDADE

Meto-me à estradaP’ra lugar incertoMas hei-de chegar:Já me sinto perto.

Por montes e vales,Vou junto no ventoTenho que vencerEste meu intento.

E nesta cruzadaNo mesmo caminhoEu fico contente:Já não vou sozinho

Lá vamos os doisSempre em liberdade,Com esta certezaRumo à cidade.

Temos que ser fortesNão esmorecer;Não falta quem queiraVer-te fenecer.

E tu, liberdade,Não hás-de acabarEnquanto no mundoO homem por ti, lutar.

MANUEL DUARTE

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Os meus olhos não têm espaçoSão o céu da tua bocaJardim do teu abraçoNo azul da tua cinturaDesejo ser-te o marArder no teu vestidoPor entre algas e salVisitar-te o paraísoNão me faças refémDo mundo que é e não éDe uma criança que choraNo sussurro de uma maréDerruba-me os murosSoldados e combatentesNo laço dos teus lábiosPapoilas choram sementesTu despes-me o corpoVento que vai e vemQue não encontra o rumoE o teu luar conhece bemAs tuas mãos apátridasLinhas no infinitoSou estranha criaturaNo fogo do teu grito.

MANUEL FELICIANO

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378antologia da poesia livre

Liberdadeindependência, alternativacorpo em movimento, opçãomadrugada clareada pela lutaespaço aberto, tempo espontâneo, responsável, fraternorazão colhida na verdade, buraco por onde espreita o ódiopedra, ferro, aço, arco iris

Tu, assim te fizeste em dor e sofrimentoagasalhada no livre arbítrio, furastee teus limites estabeleces em sensoés a palma estendida pela utopia, a busca da igualdadepalimpsesto primeiro que permanece desde do dia da criação

Em hinos te construíste, em estátuas te edificastesem ofertas te refizeste, em guerras te pronunciastede sangue brotaste, de temor ressurgiste, escondida te encontroem discursos andaste, em retóricas te esmagaram, em marchas [te prepuserampor sagas te querem, em conceitos te elegem, a murmurar te traemés desprezo de déspotas, paixão de abnegados, palavrório de instaladosverde é tua cor, em castanho te abrigaste, à chuva e ao sol, ao [frio te protegeso vento te trouxe, o ar te recolhe, a todo o ensejo te prestas

Num canto te metem, num albergue te encerram, no parlamento te anunciama falar te acenam, no restaurante te gargalham, no regulamento te enfiamno doirado te acariciam, em viagens te negoceiam, em impostos te suportamem esperanças te alimentam, no limite permaneces, em limites te esperamtua vontade impõe-se, elegem-te em evo e tu, sorte a minha, andasno caminho encontras compromisso e desencontro, estás alertavem, vamos além, tua resistência é eterna

MANUEL JOSÉ

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LiberdadeNasci durante a ditaduraProcurando a liberdade

Que nunca passes por talEscrevo com sinceridadeA ausência de humanidadePode-se tornar fatalNão julgues que é banalEsta acentuada ternuraForam muitos prá sepulturaAcusados de criminalidadeNum país sem identidadeNasci durante a ditadura

Este regime de escravaturaNão protege os seus valoresChama aos cidadãos traidoresÉ um modelo sem culturaEle também usa a torturaCom enorme facilidade Pela sua enorme veleidadeMe obrigou a fazer à estradaNuma longa caminhadaProcurando a liberdade

MANUEL LAPÃO

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380antologia da poesia livre

SilenteÉ na noite silente que te procuro à espera que me venhas em sonhos e me tragas a quimera de um sorriso

É no escuro que escuto sussurros de amor quando dizes que o futuro não conta na certeza de que o que somos é hoje

É pela noite dentro que te saboreio em pedaços de loucuras que memorizo num livro de mil páginas encantadas

É na noite silente que te encontro à minha espera num beijo de língua que nos alimente até ao amanhã de ontem

É na liberdade do querer e do sentirque a poesia nos faz caminhar subindo o precipício do teu abraço

MANUEL MIRRA

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AmigoCanta com tua voz livreE não deixes que ninguém apague os sonhosQue tu escreves nas estrelas e nas ondas do mar Canta e riE dança em cima dos barcosOnde embarcas no sonho de navegarE que ninguém possa calarO teu canto felizNem quebrar o ritmo das tuas danças Constrói castelosMesmo que sejam de areiaPorque é sempre tristeQuerer um mundo sem utopiasSem Quixotes e RocinantesÀ conquista de Ilhas inventadas Vive livreSoltando no vento os teus poemasPorque nada há mais beloQue cantar as madrugadas de AbrilCom cravos de liberdade

MANUEL SANTOS

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382antologia da poesia livre

A consciência da liberdade

Eu conquistei a minha Liberdade!Não a de um Maio qualquerOu de um Abril de falsidadeOnde o “salve-se quem puder”Era igual a medo, pavor e indignidade. Não! Não é essa a minha Liberdade!É aquela outra que ninguém comandaMas que a alma sente com integridadeE que, com muito recato, comigo anda. Tem de ser sagrada, bem guardadaChorando e sorrindo em consciência.E, se por acaso, é desvendadaJamais será liberdade, mas dependência. Liberdade é palavra quase vãSe vivida em comunidadeQualquer pessoa de mente sãSabe o que há nisso de verdade. A “Liberdade acaba onde começa a do outro”Frase feita, gasta e mal usada.Utilizada, e muito, por aquele outroApenas e sóPara usufruir e mais nada.

MANUELA MENSURADO

A consciência...

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LiberdadeUm ideal do passadoVivido atualmenteSem perspectivas de futuroUm poema cantadoRepetidamentePor um povo imaturoQue vota quase obrigado em ditadores dos diasMascarados com falsas promessas de melhoriasComo se a sua essência Fosse a escolha do aroma da sua ausência

Liberdade é uma estátua no país do muroGelado em altura de aquecimento globalPara negar que ninguém está seguro Nesse destino fatal

Liberdade é um estalo,Um tiro, facada ou estrangulamentoNuma mulher que não vê num acéfaloO seu ideal de relacionamento

Essa Liberdade que nos fazem crer existir É pouco mais que aceitar anomalias sem resistir!

A Verdadeira Liberdade, é um estado de espiritoQue poucos conhecem, Menos ainda vivem Quase nenhum respeita...E se com o que digo irritoÉ porque conheço a receita!

MARA SANTOS

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384antologia da poesia livre

Simplesmente sou um sonhadorNunca entenderás, não senhorQuando se governa a liberdade E o poder de domar a saudade

Vivo, porque assim alguém o quisNão serei da árvore sua raizDeixem-me ser o que sou e não souO que de mim se desencontrou

Não é fácil decidir sonharComo pássaro sair a voarTalvez pássaro outrora tenha sidoPois pareço ter asas sempre comigo.

Então a partir te digo adeusE não impeças os sonhos meusJá é tarde, vou partir e assim seráPodes pedir, não estarei mais cá.

MARCELINA BITTENCOURT

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O desejo de ser livre e de confundir a liberdade num prato qualquer que sei ser eu a comer.O meu prato come-se largoE a queimarO meu prato sou euNua e sangrarPendurada para o céuNas cordas a voarEuSó EuEu sóQuem me dera

MÁRCIA AIRES AUGUSTO

Quem me dera

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386antologia da poesia livre

Como um pássaro sem asas não sei voarPergunto-me onde está a vontade de acreditarSem rima, sem forma tudo à volta giraE o mundo sem parar a respiração me tira

Escrevo, canto as vontades que sintoSem que alguma delas acabe sem lamentoCada riso parece sempre acompanhado de tormentoCorro, afundo mais um pouco e o ressinto

Dizem que sem sonhar nada se pode alcançarNos sonhos sou atacada e recolho ao meu lugarFecho as portas, tranco janelas, lá fora jorra a teimaOs que creem no sol esquecem-se que ele queima

De caneta na mão finjo ser mais livreTal é a ilusão que perco toda a consideraçãoCrio, destruo, vales com cadeias de montanhasMas liberdade ei-la, é feita de artimanhas.

A toda a hora penso em quando se dará o solavancoFalam em liberdade mas mais fronteiras levantamPor cada mal que arrancam mais voltam e plantamPerco então as estribeiras e paro e me abanco

Sós nada se consegue, juntos ninguém querMas pedra a pedra podemos uma cidade erguerResponsáveis somos pela liberdade que háPintado a cinza de uma forma ou outra o mundo um dia acabará

MARCYA LEAH G.

Pintado de cinza

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No coração...

No coração da Liberdade

Nessa madrugada destemida,em que o Sonho foi maiorque o medo da vida,brotou um cravovermelho de cor…

E, passo a passo, aconteceuque a Liberdade do Amor nasceu.

MARGARIDA AZÊDO

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388antologia da poesia livre

LiberdadeSigo só, só comigo, Vadio e errante…Não piso o carreiro para seguir adiante!De frente pra miragem,Que esconde uma pista,Vou caindo na lama,Sem ter quem me assista.E se caio, levanto Teimoso e forte…Não pego na bússola à procura do Norte!De frente pra miragem,Feita de ilusão,Levo o passo largo,Sem pedir permissão.

Digo não à regraLivre e tresloucado…Não vou usar trela, não estou formatado!De frente pra miragem,Em busca da verdade,Afundo o pé na lama,Vivo esta vontade!Tenho o corpo desfeitoFrio e magoado…Não sou de amarras, fujo do cercado!De frente pra miragem,Chamada liberdade,Vai este Dom Quixote,Que não tem idade!

MARGARIDA SEIXAS

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Grito de liberdadeNão escolhi nascer.Não nasci gritando liberdadeNão escolhi de quem nascer, não tive liberdade de escolha.Aprisionada num ventre, nas entranhas de minha mãeDependendo desta, a minha condição…Num ápice, liberta para a vida, num ápice enclausurada por esta.Caí nua nos braços da vida, nua de todo o preconceito, nua de tudoVida que me acolheu e me embalou numa falsa liberdadeNão nasci livre, do outro dependeu a minha sobrevivênciaVivo aprisionada num tempo, liberdade só no pensamentoPensamento dádiva que a vida me ofertou.Um mundo no qual posso viver e ser tudo aquilo que quero.Onde posso exprimir o meu grito de liberdade, na surdez do pensamentoApenas o eco mudo de liberdade, liberdade, liberdade.Não pronuncio palavras apenas as gesticulo num grito mudoTemo que me roubem a liberdade do pensamentoQue nele se embrenham e surripiem a única liberdade que tenhoCom ela posso voar como um pássaro, correr como o vento, deslizar como a água.Posso ser o sorriso da criança, o Sol, a Lua, as Estrelas, ou a pequena formiga Posso ser tudo aquilo que não sou na realidade.Mas não quero viver somente no sonho, quero senti-la.Vida liberta-me por favor, não do sonho, do pensamento, da minha vontade.Liberta-me sim dos ideais, das vontades, dos preconceitos do outroÉ tempo de despir esta roupagem de liberdade ilusóriaUma roupagem com a qual me vestiu esta sociedade em que vivoÉ chegada a hora de subir ao palco, de afastar os panos, de entrar em cena.É o momento de se ouvir o meu grito de liberdade.Não existe teatro, não existe artista, não existe liberdade, não existe VidaO Palco está vazio...

MARGARIDA TANQUE

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Liberdade?Liberdade é poder escolher.E o resto…O resto são tretas.

MARIA AFONSO SANCHO

Liberdade é...

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Liberdade?

Liberdade de voar, sonhar, pensar, fazer ou não fazer,de ir e de ficar, de amar e desamar.Liberdade de dizer ou não dizer o que se quer dizer.Liberdade de poder ser... ou não, o que se quer... ou se pensa que se poderia querer ser.Liberdade dos pássaros, descendo, subindo, rodando, brincando no ar, Encantamento, inveja por não ter asas, por não ser livre de poder voar.Liberdade de ser diferente ou igual,de ser amarelo, branco ou preto... como os pássaros... e não fazer mal.E até azul, verde ou vermelho, também se poder ser.Como a cor do nascer da manhã, sempre a mesma, mas cada dia diferente, infinitamente livre, mas igual, desde o primeiro dia de Sol nascente. Liberdade é sonho sem memórias, realidade inatingível, sem fim que seja seu. É luta de querer, de poder, de estar ou não estar,de conseguir chegar... por não querer ficar.Liberdade de respeitar, de viver e deixar viver,de escolher quem se quer ser, quem se é! Liberdade de ser ou não ser livre...Liberdade de ser.

MARIA ALICE PESTANA SERRANO E SILVA

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392antologia da poesia livre

A LIBERDADE é o caminho da paz,Coisa sublime da vidaE da morte,Quando sabemos que estás ao fundo do túnel!

LIBERDADE é sonhar acordado,É imaginação e inovação,É criação em plenitude.

É concordância com a harmoniaDe um direito humanoQuando respeita o outro e o mundo.

LIBERDADE é poderVer o sol e a lua Aonde se querCom quem se quer.

LIBERDADE é o horizonte infinito Da verdade.

LIBERDADE é a mãe de todas as outras palavras…Um dicionário inteiro!

MARIA ARLETE BARREIRA

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Da liberdadeEstá perto. Desfocadamente perto. Gesticulo em desgoverno. Quero chegar.Quero chegar ao porto das minhas dúvidas: Incerta, cambaleio, vacilo.Mas está perto. Tão próximo! Mesmo íntimo!Assustadora e inelutavelmente adentrando o que julgo Essência.E se aqui está, se imbui as palavras, embebe o olhar das coisas, transformando-as porque sim e apesar;Como a domina o Poder, sobrepujando em excesso e dominando o querer; se é assim: esmagando, preponderando… Então o que resta?

Não está liberto, quem assim se sujeita. Livre arbítrio com jugo onerado?Liberdade para? Alforria como? Imunidade de?Não.Poderá ela estar perto. Desfocadamente em. E todavia…Eu por mim, eu comigo e é só.O resto é inelutavelmente Destino.

MARIA BEATRIZ JURADO

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394antologia da poesia livre

Desfiz-me das palavras vãs que me abeiraram.E libertei-me de vozes que me chamaram.Desenleei o meu sono de encruzilhadas sem rumoe encovei a negrura do céu das auroras que não amanheceram.E assim germinaram vendavais de esperança em meu redor.

Hoje defronto a quietude entre as paredes esbranquiçadas do meu quarto.E adormeço em lençóis de tons serenos,em delírios de mansidão e liberdade.

Minha essência nada reclama do passadoNem do porvir, nem do agora.

Escolho o toque do vento no meu rosto,entre as cerejeiras perfumadas de abril,onde os pássaros me visitam na mesma condição: livres!

MARIA CELESTE MARQUES OLIVEIRA

Cerejeiras em flor

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LiberdadeGaivota cinzenta de rara beleza,A todos cumprimentava com muita gentileza.Ágil e eficiente, os alimentos, tiravaÀs aves, suas vizinhas.Senhora do seu nariz, riqueza que nem se diz,Riso maléfico, assim cantava: - Liberdade, jovem galhardaVens furiosa, com palavras silabadas,Para mim gaivota cinzenta, ainda tão desejada!É minha intenção, usar a Liberdade,Para cantar sem estorvar: Verás, línguas de fogo que estalam,Peixes com asas que falam, dragões encantados,Que deitam fogo pelas narinas.Hoje tenho pena de ti, Liberdade sonhada.És tão traiçoeira te digo eu,Gaivota cinzenta, do alto do meu poleiro.

MARIA CELESTE VALENTE

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Sob um magnífico céu azulMúltiplos ramos entrelaçadosPor entre um dia luminosoSerenamente abraçadosAcolhem na quietude do arEste nosso olhar…

São os filhos daquelas Árvores-MãesQue se erguem com firmezaE em uníssonoClamam livrementeDefender a Vida, o AmbienteE celebrar os mistérios da Natureza.

MARIA DO CÉU PIRES COSTA

Este nosso olhar

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Liberdade?

Adormeceu e sonhou. Sonhou que era livre como o vento. Podia sentir e ser como quisesse, sem medo de ser julgado ou perseguido.

Mas, no meio do seu sonho surge um Anjo vestido de negro, que lhe revela que a liberdade é apenas uma ilusão.

Formatam o teu cérebro, desde o nascimento, com a ideia de que és livre. E esta mentira pode durar uma vida inteira.

Como podes pensar que és livre se és julgado pelas tuas acções e perseguido por revelares os teus pensamentos?

Como podes pensar que és livre quando a tua voz é constantemente ignorada ou silenciada?

Como podes pensar que és livre se trabalhas como um escravo e vives para tornar os ricos ainda mais ricos?

O único lugar onde és realmente livre é dentro da tua mente.Lá, és mais do que apenas uma ferramenta, uma estatística ou um link. Sem limites, sem barreiras, livre para amar ou odiar, ignorar ou lutar. Livre para chegares até ao outro lado do arco-íris.

MARIA DO ROSÁRIO SANTOS

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398antologia da poesia livre

LiberdadeA liberdade é um salgueiro-chorãoa chorar de alegriaÉ o Sol a deitar-seA liberdade é a nossa vida

MARIA DUQUE FRAZÃO

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Amanhã é sábadoJá se adivinha um Sábado com solFim de semana a pedir liberdadeJá no jardim desperta um girassolUma flor que fala de felicidade. Mas se finalmente as férias chegaramSábado é igual a qualquer outro diaAté os Domingos já se igualaramJá se não distingue a sua magia. Até a sexta-feira se torna diferenteSonhar liberdade já não se consentePois os dias se tornam todos iguais O prazer das férias torna-me sorridenteMas Sábado ou Domingo já é indiferentePois dos outros dias já não são rivais.

MARIA EDUARDA GALHOZ

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400antologia da poesia livre

Noite escuraA noite tudo desvaneceA bravura entorpeceTudo, por nós sem prece

Noite escuraO pensamento desapareceO mundo desenlaceTudo, por nós sem prece

Noite escuraA ruína permaneceE se rebelião entoasseTudo, por nós sem prece

Mas se a ruína não saiExigimos liberdade à noite que caiTudo, por nossa mão aconteceSomos livres e a noite se esmorece

MARIA EUNICE

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Queres liberdade?

Queres liberdade?Pois bem…Dou-te toda, e de bandeja.De maneira desinteressadaA liberdade é tudo, e nada.É a melodia doce,Um batuque desenfreado,O dedilhar no teclado dum piano encantado. Com certeza é faca de dois gumes!Para se ir subindo às estrelas,Ou para se descer às profundezas,Depende do que dela fizeres,De como a vives, de como a sentes.

A verdadeira liberdade é bem inestimável.Choro os que sem culpa, da liberdade foram despojadosRetirada a identidade própria, sem liberdade, torturados.Oiço-lhes o triste choro, e da subserviência, a revolta justaTenho repulsa pela opressão… Oh, como isso me custa!Repudio sim, a vil desumanidade é inaceitável.

MARIA FALCÃO

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402antologia da poesia livre

... “LIBERDADE” é o amor a tudo que somos e vivemos. Na realidade por vezes nos passa despercebida a verdadeira liberdade do que somos. Vou falar da pureza da liberdade. A que não pede licença para entrar, já que ela sendo liberdade, nada precisa além de em nós entrar. Tudo o que falo não pede licença. Nós somos amor, o amor do qual fomos feitos. Seja por a essência de DEUS, seja por o amor da relação dos pais que nos fazem chegar aqui, neste universo que nos ama e acolhe com o mais livre, puro e divino amor.Vamos formalizar mais um pouco a liberdade:Iniciamos por respirar algo tão livre e único, sem o qual não teremos como viver, mas nem nos damos conta de o usar. Já que é tão livre que só nos surpreende quando sentimos a falta dele. Ou seja, a falta dessa mesma liberdade que é o ar que respiramos. Mas nós temos os olhos que alcançam tudo com a mais pura e digna liberdade. Vemos o que queremos e não queremos. Existe o olfato que traz tão livremente todos os cheiros até nosso nariz. Existe também a liberdade dos sabores que chegam até nosso paladar. E ainda os nossos ouvidos que ouvem, escutam tudo que chega até eles tão livremente. Mas ainda temos o pensamento que é tão livre do mais puro da liberdade em tudo que somos.

MARIA FERREIRA

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Grito sem fim...

Escrevo o teu nomee chamo por tiImploro pra que venhasJuntar-te a mim

Grito sem voznum grito sem fimE fica a esperançade ouvir um sim

O eco não voltanem mesmo o passadoCaminho sozinhasem te ter a meu lado

Arrasto a vidanum ritmo cansadoSem nada ter ganhonum desfecho parado

Presa me sintoLiberta-me de mimDas escolhas que fiznão tenho as que pedi

Pedi: ser livreDaí ter-te chamadoMas ficaram as amarrasneste presente fechado

Depois… Espera… ouvi!Será que és tu a chamar por mim?

MARIA GERÊZ

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404antologia da poesia livre

LIBERTE-SE A LIBERDADE

Liberte-se a liberdadeQue vigore libertaPela voz de quem sabePela voz do poeta.

Liberte-se a liberdadeDe preconceitos e mitosIdeais de castidadeE choros d’aflitos.

Liberdade não se prendeNão se aprende, não se vendeNão se compra, não se trocaNão se impõe, não se imploraSente-se e pratica-se na medida certaSem vãos artifícios, como diz o poeta:Sem pensar somente nos seus benefíciosAbre-se a um irmão, como porta sem chaveComo quilha de nave, que tem rota certaRespeitando o mar, seja brando ou bravioEnfrenta o desafio, sem que a ele se submeta.Como voz de poeta, liberte-se a liberdadeDe frases em panfletos, de poderes d’amuletos.

Liberte-se a liberdadeQue vigore libertaPela voz de quem sabePela voz do poeta!

MARIA GRAÇA MELO

Liberte -se...

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Liberdade que te encontras dentro de mim,neste dia de inverno em que não vislumbro o fim,leva-me até ti,já que me encontro cansada desta terra sem confim,das suas lutas e agruras sem fim,almejo pois descansar em ti.

Concede-me a liberdade de partir,já que muito aqui sofri,o sol brilha, as flores possuem um cheiro inebriante,tudo luz qual noiva feliz à procura do seu amado,mas nada faz sentido sem ti.

Ainda que o luar de uma noite repleta de estrelas,ilumine o meu caminho qual archote aconchegante,neste inverno com lua cheia extasiante, mas nada faz sentido sem ti meu amor eterno, meu doce amante.

E ao ter a liberdade de te amar sem fim,serei feliz enfim,qual noiva eterna, amada sem fim,neste amor infinito,que me conduziu até ti,nada mesmo fazendo sentido sem ti.

E feliz perto de ti por fim,amarei os outros em ti,numa liberdade interior,repleta de paz e de amor,que me conduziu até ti,meu eterno amor.

MARIA HELENA PAES

Liberdade sem fim

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LiberdadeA liberdade é um direitoConcedido a todos os seres humanos.Ninguém o deve tirarPor interesses mundanos.

Liberdade de pensamento,Liberdade de expressão.Qualquer um pode revelarA sua opinião.

A diversidade de sentimentosEnriquece os encontros.Mas nunca esquecendo O respeito pelos outros.

MARIA INÊS ANDRADE

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Projecto-me no UniversoExpando-me em liberdade totalNa beleza do infinitoMe inspiroCrioVagueioSempre ao som da música das estrelas Voo na ausência do tempo e do espaço Presa por um fino cordão RetornoRetorno à consentida imposição terrenaSofro na densidade humana Sofro e no meu sofrimento questionoRespostas contidas no meu percursoNa ausência da respostaA pergunta é inexistenteNa inexistência do meu questionarPartoParto para a viagem de regresso Na origem Brilho intensamenteSou um ponto do infinitoPertenço à beleza infinita

MARIA JOÃO HILLE

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408antologia da poesia livre

LiberdadeTrimmm... Trimmm... está na hora.Esfrego os olhos, salto da cama, abro a janela e começo a viver o dia... tenho liberdade!Tomo café, vou trabalhar, abro a gaveta, ligo o computador, pego na caneta... de repente, olho para o chefe e penso que gajo estúpido, parvalhão e convencido... tenho liberdade!Hora de almoço, que lindo dia, sento-me numa esplanada e penso... que mulher tão mal vestida, e o marido tão mal humorado, credo e os filhos que mal educados. Mais ao lado, uma senhora tão distinta, que sorriso feliz, mas, aqui ao meu lado, alguém pede uma sopa, só mesmo uma sopa porque o dinheiro não dá para mais. Eu vou pagar, apetece-me, sou livre de o fazer, tenho liberdade!Levanto-me, deixo todos estes pensamentos, um copo de vinho e um cigarro mal apagado, quero ir embora, sou livre e quero ir viver a minha liberdade!Fui...

MARIA JOÃO MARQUES

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LiberdadeComo um sopro do ventoO voo de uma gaivotaO remoinho dançante das folhassecas e gastas dos tempos outonaisComo uma papoila vermelhaque grita num campo baldioUma espiga de trigodoirada pelo Sol erranteComo uma lufada de ar frescosequioso de encontraralguém que sintae lute por falarComo um grito de dornum lugar qualquerOu um gemido de prazerna escuridão mais doceComo a água de um riocom corrente forte e braviacontornando os obstáculossem nunca pararA liberdade é ForçaÉ o poder SerViverOu simplesmente Estar…

MARIA JOÃO ROSÁRIO

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DesviverNinguém devia morrerAdoecer, sem um abraço sentidoPela espinha correr.Sem um beijo correspondidoNum amor comprometidoSem medo,Ser livre.Ninguém devia esquecerO cheiro da relva molhada,Do encosto num coração a bater.Do sabor de um café na esplanadaDa ingenuidade de uma mão dada.De ver o seu filho nascer.Esquece ou tenta esquecerOs que se regozijam com o teu esmorecerOs que não te permitem sonhar,Com asas cortadas, não consegues voar!Se as cortarem, pega no lápis, volta-as a desenharCom traço grosso e profundoDesenha-as bem grandes!O risco de cair vai diminuir.E volta a tentar.Volta a voar!

MARIA JOSÉ ESTEVES CARDOSO

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Serei livre quando levantar a pedra que me esmaga o peito e dele vir sair, uma após outra, todas as emoções, pela sua ordem natural.

Serei livre quando, ao lado do meu pensamento, fluir a minha vontade, num consciente pára e arranca, marcado pelo meu bom senso e a minha melhor loucura.

MARIA JOSÉ FONTELO CARRANCA

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LiberdadeEu não nasci para ser livre. Eu nasci livre.Livre para escrever sonhos em papel.Livre para expressar ideais talvez inatingíveis. Mas meus!Muitos tiranizaram os nossos sonhos com o pesadelo de dias mais negros: guerra, fome, dor, violência, morte.Mas tu e eu sabemos que nada disso vinga. Construímos palácios de pedra indestrutíveis.Somos pássaros de plumagem de mil cores. Não temos etnia, não temos raça nem géneros.Criámos o nosso mundo na liberdade plena. Tu sabes que não há muros para o sonho. Somos seres pensantes e livres. Infinitamente.Liberdade, ninguém jamais a rouba porque vive dentro de nós…Ama-te. Porque a Liberdade és tu!

MARIA LEONOR BORGES

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Liberdade liberdadeHoje vou vestir-me de papoilaEnfeitar-me de sonhos acordadosVou abraçar rostos sorridentesE percorrer descalça as ruas da cidadeJá não tenho frio nem medo de palavras segredadasPorque hoje vou viver como amanhãLiberdade Liberdade

Hoje vou resgatar o verbo torturadoSentir a melodia da palavra clandestinaVou aprender no canto proibidoA plantar árvores de fraternidadeJá não tenho frio nem medo do tormento Porque hoje vou gritar aos quatro cantosLiberdade Liberdade Hoje vou abrir todas as gradesEntregar os pássaros ao ventoVou seguir os poemas a esvoaçarNuma orquestra de violinos e vontadeJá não tenho frio nem medo de acordarPorque hoje vou chamar-me bem altoLiberdade Liberdade

MARIA LLOYD DUARTE

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414antologia da poesia livre

Sob um céu ainda cinzentona margem, antes do temposilêncios queimavam por dentrocalavam, vendavam a mente Palavras interditascravadas no pensamentoolhares inexpressivos, apagadosolhares cegos pelo medo Na orla fria, rumando para a margemcom as mãos abertastocaste, no limbo, o ventorevelou-se outra paisagem De cor envolta, tão perfeitatransbordando de luz e brilhocomo se nascesse agoracomo se parisse um filho Ganhaste asas, voasteo que era negro luziuÓ Liberdade, voltasteatravessaste o rio É mais leve, assim, a vidasem barreiras e tormentosde liberdade, vestidadando voz aos pensamentos

MARIA MANUELA MIRANDA FERNANDES

Rumo à liberdade

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Como és precisa e preciosa! Contudo, quanto adulterada!Quantos em teu nome enganam, oprimem, falseiam…Praticam as mais terríveis barbáries!…Usam de ti somente a capa completamente despida de [responsabilidade.Que saibamos ler o que mora por detrás de tais comportamentosE não deixemos que tais violações à liberdade de pleno direito [para todosContinuem a grassar as nossas vidas, a vida do mundo Urgentes de liberdade com dignidade. Haja o travão da cidadania activa conjunta face a poderes obscurosQue falseiam a liberdade aos mais variados níveis. Sabemos por exemplo das terríveis consequências das [designadas “fake news” E de decisões judiciais assentes intencionalmente nos erros [mais graves e ilegalidades!Dão-se ao direito uns e outros de violar, destruir completamente [a vida dos outrosDe acordo com os próprios apetites. Em nome da liberdade que dizem ter para noticiar ou decidir,Uns e outros, fazem do seu dever tábua rasa.Fazem questão de ignorar que a liberdade tem de ser [congregada comlucidez, responsabilidade, escolhas conscientes, decisões justas…Só assim, poderá haver posturas verdadeiramente livres.Urge percorrer com amor, lucidez, raciocínio, justiça, [responsabilidade…As estradas, as pontes construtoras da liberdade!...

MARIA RIBEIRO

Liberdade conjuga -se

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Gaza foi terra de mártiresOs meninos homens vão morrerMuitos são ainda criançasMas vivem com o desgosto e a raiva contra os que os fazem sofrer.Ainda há pouco brincavam à bola, Nos solares e nas escadas de suas casasDepois ficaram às escuras e reclusos nos seus espaçosÀ volta rebentavam petardos, mais de cemHavia do outro lado ainda a morte de três israelitasMas quem não sabe fazer as contas é assim.Cresceu o muro quase de sete metros…Mas ficaram as feridas e as fendas por fechar.Até quando uns e outros vão chorar. Haja esperança e liberdade.

MARIA TERESA FRANCO OLIVEIRA

Atrocidades 2

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Voar bem alto juntinho às estrelase de espírito aberto tocar o Universoprocurando alcançar uma paz duradoraacima de todos os interesses e conflitos,é encontrar o poder da liberdade.No entanto, esta condição de cada umpoderá estar sujeita a reservas,se intervierem factores emocionaisnas suas relações. Porém, a liberdade tem a particularidadede conceder o direito de privarmoscom os designados “amigos únicos”,sendo um apoio naturalque nos poderá sempre embalar docementenesta sociedade incoerente onde estamos inseridos.

MARIA TERESA RUA

Ser livre...

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Liberdade de dar opinião,mas jamais sacralizá-laou torná-la a única certae ficar feliz enquanto se dialoga na diferençana esperança de um mundo melhor.Liberdade de dar espaço,de dar tempo,de ter paciência,de não interferir na vontadedos que nos rodeiam.Liberdade de aceitar as decisões dos outros,mesmo que elas nos aniquilem,em palavras baixinhasou silêncios gritantesa expectativa e o coração.Liberdade de agir ou reagir,ou silenciar,de fazer ou não fazer,por compulsão ou intuiçãoo que o coração não deixa calar.Liberdade de ser espontâneaem um mundo castrado pela razão.E sorrir,como o girassolque se fecha à escuridãoe se abre para a luz.

MARIA VAZ

Liberdade de sorrir

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LiberdadeSerá mesmo que ela existeA liberdade total?Não será apenas mitoOu algo um tanto irreal?Um escravo sonha com ela,Até mesmo um prisioneiro…Mas depois, quando a conquistam,Não sabem o que fazer primeiro.Liberdade de expressão.Ser livre para falar…Certos países condenamQuem se atreva a discordar.Nunca devia existirA obediência brutalA falar nos entendemosPara evitarmos o mal.A liberdade dos outrosDevemos nós respeitar…Nem tudo o que nós queremosPodemos sempre alcançar.

MARIAÍNDIA

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Asas da “liberdade”Quero ser livre como um pássaro, voar pelos céus,ao anoitecer, voltar ao ninho, ao meu aconchego,trazendo um sorriso aberto, liberto.Quero adormecer, ter um novo sonho,um novo sono e profundo,olhar todas as cores e promover as flores, todas como prediletas,ouvir as abelhas zumbindo nas flores da cerejeira sem parar,numa afeição fiel, dentro de mim a vibrar.Quero ver as crianças, tranquilamente, brincando e se divertindo,num céu azulão e, eu me apego, então, em ficar ao solrepousando numa tarde de verão.A “Liberdade” é um sopro imprevisível, um ventoque faz renascer uma chama sobre o mundo, uma áurea,onde, encontramos a paz e a felicidade.Ser livre é querer, é ter vontade de ser, é ir sem medo trilharo caminho, mesmo quando tudo parece impossível, intangível, em vão.É seguir erguendo o sonho do pensamento, regendo o que nos vemde dentro, por uma profícua razão. “Liberdade” é ter a coragem de dizer basta à repressão como umlírio branco se ergue majestoso na negra paisagem.Nas asas da “Liberdade” oiço o sublime cantar da passarada, a vidaabriu em flor perfumada naquela madrugada, flor que desabrochouem cores de Abril, cravo vermelho cor da paixão, canta irmão,a canção “Grândola Vila Morena”, doce luz que acena,num frémito desejo, de esperança e felicidade,valeu a pena o “Grito” de “LIBERDADE”!!!

MARIANA ASPER

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Quero!Ser caneta, palavras soltas,poesia,e escrever sem destino!Ser, ter, fazer, estar, amar!No querer ou não querer,ser como é e como quer ser!Igual a si próprio, nos desejos, nas vontades, nas ideias, nas escolhas,no rumo…Sem prisões, amarras, submissões,sem grilhões ou grades, até no pensamento!Sim! Liberdade no viver, no pensar, no querer, na moral, na alegria e no porvir!Sentir o que vai na alma,por simples razão de ser!Como a brisa do vento,Como as nuvens do céu,Como a água que corre,Como as cores dos campos,Como os pássaros que cantam soltos,musicando trinados,Como as crianças a dar risadas…Sim!Ser livre é saber o tudo que se pode ter!Um filho da Liberdadeé tudo o que eu quero ser!

MARIETA PEIXOTO

Pela liberdade!

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422antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade é correr descalça pela ruaNuma manhã de vento!

Liberdade é dançar à luz da luaE deixar voar o pensamento!

Liberdade é uma tela sem corOnde o arco iris se aninha!

Liberdade é criar amorE querer estar sozinha!

Liberdade é ouvir a chuva A cair na fraga!

Liberdade é sentir o calorDo coração que nos afaga!

Liberdade é uma praia Onde as ondas se abraçam!

Liberdade é uma folha branca Em que as palavras se entrelaçam!

MARÍLIA SOUSA ROCHA

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Será sentir o Sol ao amanhecerSerá sentir a brisa ao entardecerSerá ver o mar mansinhoSerá ver o sol ir devagarinhoSerá ver a lua emergindo

É o abrir dos braços e gritarSou livre por estar a viverSou livre por poder decidirSou livre por poder pensarSou livre por estar a sentirSou livre por estar a aprenderSou livre por estar a crescer

É sentir paixão pela vida É amar a Família, os Amigos É amar a natureza e os AnimaisÉ sentirmo-nos diferentes É sentirmo-nos iguais

MARISA DE ALMEIDA

O que é a liberdade?

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Tempo em liberdadeA cada dia que acordo sinto na pele o ar que respiro,esse ar de Liberdade…

O tempo passa implacavelmente…A vida segue o seu curso atrozcomo o rio que vai da nascente à foz.

Hoje, esqueço-me do tempo das mães despedaçadas,das esposas dilaceradas…

Mas, lembro-me do dia, envolto em sublime calma militar,em que o povo viu abrir-se um novo céu, um novo acordar.

Hoje sou livre. Penso Liberdade.Posso escolher o solo que piso, o mar que quero tocar, o campo que não pára de me chamar...

Hoje sou livre. Vivo Liberdade. Posso dizer sim ou não…posso optar com alma e coração.

MARISA LUCIANA ALVES

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Como agir num mundo inseguro e injustoEntre um olhar desconfiado e um pensamento cruelSem dúvida que somente o mais astutoConseguirá decifrar quem vem carregado de fel.

Eu escolhi viver livre com o amorSim, só o amor cura e dá vida.Mais nada importa ou terá valorDo que uma página escrita para ser lida.

A minha liberdade como mulherNo meio desta sociedade atrozÉ poder ser Eu, sonhar, é poder escolher.

Ser mãe foi o completar de almaFoi dar um turbilhão de emoçõesA um coração que jamais terá calma.

MARTA FERREIRA

Ser livre, ser mulher

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LiberdadeÉ urgente a Liberdade…Porque inventaria um pensamento livre a palavra Liberdade?Porque aspiraria um mundo livre a força Liberdade?Porque levantaria um povo livre a estaca Liberdade?Porque choraria uma mãe livre o filho Liberdade?Porque lutaria uma terra livre a fronteira Liberdade?Porque gritaria uma presa livre a utopia Liberdade?Porque escreveria uma carta livre a promessa Liberdade?Porque sussurraria uma boca livre o trovão Liberdade?Porque cantaria uma gaivota livre o segredo Liberdade?Porque deveria uma pessoa livre defender a Liberdade?Porque saberia até um cego descrever a Liberdade?Enquanto houver uma escolha censurada levantadaEnquanto houver um mundo fraco e ébrioEnquanto houver um povo disperso e perversoEnquanto houver uma mãe infértil e infelizEnquanto houver uma terra aberta e desertaEnquanto houver um sonho fechado e sufocadoEnquanto houver uma lei traída e destemidaEnquanto houver surdos e mudos e absurdosEnquanto houver preconceito do que é a liberdadeEnquanto houver miséria e fome Duma urgência maior do que nas gentes, Nas mentes e nos corações Não há liberdade

MARTA LUÍSA

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Lisboa, Março 2014 Sempre se olhaSempre se constrói Sempre se amaNem que seja o mar e as estrelas por serem exactamente assim

Chora se, ri se maisBebem se copos e cafésLançam se cartas numa mesa como se a vida fosse um jogoMesmo sabendo que não o é

Vêem se pores do sol até ser noiteE mergulha se fundo nas ondas como quando queremos [mergulhar fundo na vidaE pensa se, mesmo quando pensar dóiReflecte se, porque a realidade nunca nos basta

E depois sente se, porque sem sentir não se viveSó mais tarde, já quase no fim, seja fim ou aparência desteOlha se novamente e entende seQue valeu a pena olhar

Valeu a pena construir e amarChorar, rir e até por vezes jogarVer, mergulhar e pensarSentir, reflectir

Porque se não valesse a penaNão se vivia, nem que fosse da mesma formaNão se vivia intensamenteNada quase se seria.

MATILDE ZAGALO OLIVEIRA

Partidas

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Falemos do futuro!Daquilo que quero abraçar contigo,Com os olhos de ver e tocar,Com beijos de prazeres e de noites ao luar.Conheço a tua sombra,Conheço a tua luz,Só não conheço os teus passos de liberdade que dás nas ruas [da minha vida.

Peço-te liberdade para voarCom ânsia, desejo e timidez de te falar.O teu olhar doce e maduro faz-me ficarPor aqui, para não me apresentar.

Na prisão da noite encontro o teu silencio,Que em mim brisa todos os sonhos.No fundo choro por não te ter, por não te dares.Choro por ser, um Ser, de pequenas palavras Por não te ter, por não te abraçar.Por seres um Cravo que em mim está,E que espinhos me deixou.Escrevo-te sem saberes, enquanto dormes ePor vezes desisto de ti.Mas não de nós. Porque tenho essa liberdade de pensar em ti.Sempre que quero.

MAURÍCIO JESUS

Liberdade em mim

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Grito de liberdadeVamos juntar forças Vamos juntar vontades de credos e raçasVamos juntar consciências e inconsciências Vamos juntar os opressores e os oprimidosGrito de liberdade, grito de liberdade

A revolução venceuMas não me libertei das vontades de credos e raçasMas não me libertei das escolhas dos libertosMas não me libertei das ideologias dos libertadoresGrito de liberdade, grito de liberdade

A vontade dos outros venceuNão sou livre de deliberar sobre a minha vontadeNão sou livre de deliberar sobre os meus próprios desejosNão sou livre de deliberar sobre o ato de ser livreGrito de liberdade, grito de liberdade

Liberdade que se revela na angústiaNa angústia de ter de obedecerNa angústia de ter de mandarNa angústia de ter de estar condenado à liberdadeGrito de liberdade, grito de liberdade

Liberdade que se revela no paradigmaDa velhiceDa doençaDa solidãoE por fim, da morte Grito de liberdade, grito de liberdade

MAURÍCIO MEIRELES

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430antologia da poesia livre

Liberdade...

Liberdade ou ausência de grade

Estou preso, acorrentado às horasMas o sol sopra-me enquanto esperoEstou preso, acorrentado à salamas de informação, tenho a que quero.

Estou preso, acorrentado ao pão que devorasMas só recebo as mensais migalhasEstou preso, boa vida é no sonho acorrentá-laPorque a realidade não preenche o que trabalhas.

Disse-me um dia um rico que o destino mal iaQue não lhe compensava o que recebiaNão falava de dinheiro, de sonhos nobresE pois, então, quem são os pobres…?

Liberta a vida escrava de nascençaque te impuseram um triste diaDeram-te na liberdade uma crençaNão te disseram para onde ela iria...

MAX LUZIA

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Olho para tijá que não me vês.Não me escondo ao chegar equero que aconteçasem mim.Estás como que raiz,pronta a florir.Adivinho-techegar,colorir e florir.Chamam-te luz de vida,és minha liberdade.Faço-te cama de sonhos,quimera de ouroe banho-me no teu leito.Aninho-te na partida equero-te na chegada.No ninho te encontropara outro caminho.Parto contigosigo-te os passos e,morrerei semprede pé.És o sonhodo largo destinoque trilho.

MELISSA LOPES

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É um som arrojado e intenso que embate como o vento...A vontade jorra pela justiça que vibra na nossa consciência...As decisões manifestam-se face à opressão e ao desalento...A esperança ressurge como uma luz ténue de sobrevivência!

Quisera eu que o Mundo fosse livre e sem tanta violência,O Homem descravizado dos ditadores sem argumentos,Senhores das guerras infundadas e enorme prepotência,Cujas vítimas padecem na miséria e em perene sofrimento!

A nossa luso liberdade foi conquistada após um asfixiante freio,Revolucionada por um jardim armado de cravos vermelhos,Símbolo do fim de décadas de ditadura e de enorme bloqueio...

Liberdade para vivermos sem represálias e constantes medos,E voltarmos a expressar os pensamentos sem nenhum receio,Sentir sem imposições e amar sem restrições e sem segredos!

MELISSA MAIA

O som da liberdade

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Queria ser um Narcisista e nem olhar para o lado,trucidar os outros sem pingo de consideração.Queria ser um Anti Social e contar mentiras e fado,de encanto na noite, bebido, com gosto de traição.

Queria ser um Histriónico e comandar os teatros da vida,em manipulação das boas vontades de outros incertos.Um Mentiroso Compulsivo e mentir em tecla premida,constante com a sempre igual promessa de desertos.

Mas para ser tudo isto, ter um Distúrbio de Personalidade,fico-me pela verdade nua e crua daquilo que posso ser.Também! Os partidos estão cheios de novos e em idade,que contemplam estas necessidades e outras do viver.

Alterações Climáticas, Extinção em Massa, Inteligência Artificial… pensemos o Futuro e Liberdade, dos em idade Pré-Natal.

MIGUEL ALMEIDA RODRIGUES

Queria ser!

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Liberdade, PossibilidadeCaminho e alternativaÉ a escolha, é a verdadeÉ o correr de uma roda viva.

São pontos dispersosDe uma costura sem nóCaminhos travessosSinuosos e complexosMuitas vezes desconexosQue nos ligam em reflexosE nos levam de volta ao pó.

Liberdade não é então a realidade. É uma mera apresentação da possibilidade, Que nos leva na necessidade Através da escolha da maior verdade, E que nos ensina ao longo da nossa idade, Da ocasião e da disponibilidade. A optar pela amabilidade,Rudeza ou ferocidade, Para gozar dentro da validadeDo direito de qualidade Que é a liberdade.

MIGUEL GONÇALVES

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N´- uma -a taça- gota rasa - de vidro:Bela, dócil. Mal possa, a vida ataca (malograda) a asa da ImaginaçãoO deleite (vivido). A cautela (eficiente). A alegria. A saudade (dor ausente). A idade (aceite).Delícias, sim…e a liberdade? Puro devaneio? Devaneio meu, teu, nosso? Dádiva? Direito?Sobrevoa, agora, néon, os cubos de açúcar. Gaivotas voluteando. Um pôr-do-Sol escoa no mar:Que é do amanhã, por chegar? (O vento a assobiar, mudo. A cheirar a malvasia. Sei, desconhecendo; sorrio). “Quem?”, quem disse, disse-o a sombra Higar. “Ninguém, para libertar?”(Eu) “Quem?”, sem ficar, escoando no manto de ninguém, faz/fez sã a sua rocha. Desaparece!, ela disse. Na brevidade de um beijo, na paz do sono, num piscar d´olhos: treme; não és! Sobre a rocha, medito. “Matutando, nada tenho, meu. Tudo e nada. A lei do reino sem rei.” Reverberando, retorna, “Quem?”, não sei…………………………………………………………Silêncio…………..A chuva cai, Sol adiante, sem luz. Antes, nunca fito. Agora, nunca soube. “Calma” (soluçando, criança velha) “Calma no mar. Vê-lo aberto, enfim, sempre o fez mar. Encontra-o. Basta a dor!”Suspirei, num verde prado d´alma: “Qual?” Cessou a busca. “Calma”, e partiu, repartindo, ressoando, imergindo neste mal. Silêncio. Declaro surpresa no fado, no sonho, na ideia. Nunca sentiu, Higar, a arte de amar. (Pausa- vou pensar).

Voei, no chão, encontrando um coração.Era de estanho e mel. (Ventura, que bem se viu!)E despertando aquém do mar, reteve-se- branda, soberana- a vontade.Ressoaram sinos: era a Liberdade!

MIGUEL PALMA

O sorriso do escravo

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LIBERDADE de ser e de sonhar…Indiferente às críticas de quem ousa apontarBebendo todas as palavras como quem tem sedeE depois derrubar muros, quando encostado à paredeReconstruir pontes, sem mais medos ou mentirasTrabalhar arduamente sem ser indiferenteÉ assim a LIBERDADE, quando aos outros não a tiras…

É esse caminho que nos conduz à IGUALDADEGanhando-se em satisfação e felicidadeApregoando a todos os que passamLivres para pensar, livres de ser e de sonharIGUALDADE que se vive nas ruas, Avenidas e praçasTodos os nomes são teus, todos os desejos…É assim que cumprimentas todos os irmãos sem pejos…

FRATERNIDADE concretizada quando estendes a mãoRecordação agradecida de quem para a boca não tem pãoAmizade verdadeira sem segundas intençõesTodos são teus irmãos, companheiros e paresEnfrentando desafios, rompendo ondas volantesRemando contra correntes e marés fortes constantesNum mundo que se quer mais justo, unido e verdadeiroIndiferente, tu não és, de todos os teus, companheiroTens um mundo inteiro que te espera ansioso…É assim a FRATERNIDADE:

Quando abraças esse mundo misterioso…

MIGUEL SILVESTRE

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Será que...

Será que a Liberdade é uma questão de Poesia?

Proclama-se a Liberdadena forma e nas coisas,acorrentando o próprio pensamento!

Há uma interacção de abertura,fechando a própria compreensão...espera-se que os outros sejam o que não são...

Então, o que é a Liberdade?

É estar em constante mudança.É soltar as amarras.É renascer de novo.É sermos nós.

E assim...Alcançar a plenitude!

MILÚ CASTILHO MARQUES

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438antologia da poesia livre

LivreÉ ser-se quem se éE não quem se pode serÉ abraçar o imensoE não ter medo de se perderÉ andar devagarE não ganhar ao tempoÉ reconhecer o valor do detalheE não generalizar o mínimo É a coragem na diferença E não alimentar tendências É ter tamanha fé em siE não esperar dos outrosÉ permitir-se ser fracoE não forçado a ser forteÉ a felicidade à chuvaE não depender do solÉ o comando do coraçãoE não a constância da razãoÉ uma calma sãE não uma ansiedade enfermaÉ o imperativo da vontadeE não o apelo à conveniênciaÉ o sonho da imaginação E não o criar de expetativas É um privilégioE não um ato inconscienteÉ uma responsabilidadeE não um bem adquiridoÉ poder ficarE não ser obrigado a partir.

MISARA

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O meu infinitosomente o infinito para me guiarsem margens paragens e descompassosum caminho sem estradas para cruzarnos abraços que teimei em não darnos beijos que transformei em laçoscertezas que ficaram para me guiartudo se esvaiu por essa terra soltasinto que os poros se fecharam nada mais me faz lembrar de mimsou apenas poeira decantada pelo arrestos desse ser dão-me a última voznum sibilar rente às nuvens brancasinfinitamente nutrido e só esvoaço parcas partículas agregadas ao pónão consigo mais olhar para trássinto-me suspirar infinito e incertoé tarde para não querer voarsou agora o mito da minha naturezapertenço às regiões desabitadasonde os abismos acolhem os deusesperegrino de toda uma fé tamanhavejo água e luz por toda a partepor cima do sol nessa montanha

MONGIARDIMSARAIVA

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Minha alma...

Minha Alma Passou Pelo Tempo

Tenho de escrever, mas careço de tempo e capacidade. Não quero morrer, careço de momentum e agilidade. Estou cansada de sofrer, ad infinitum, ansiedade. Meu cérebro faz doer, factotum, calamidade.Acordo de noite sozinha, apenas minha alma se vê, minhas vozes se ouvem, enquanto as vossas ecoam. A escuridão dos pesadelos dos quais não se acorda, esses nunca perdoam.E lá se foi a luz dos meus olhos; tenho calos nos meus dedos. Para mim flores viraram folhos; tenho falos nos meus medos. E lá se foi a luz dos meus olhos; reflicto demónios que eu hospedo. Luzem resistentes e orgulhosos, menos poemas e mais enredos. E lá se foi a luz dos meus olhos; sou poços e minhas lágrimas meus segredos. Apago a luz e fecho os olhos, finalmente há luz no arvoredo.Sou mera palavra gritada ao vento: Ninguém lhe ligou, ninguém a tomou, mas ela ecoou e foi correndo sempre lento. Liberdade é a esperança que amanhã traga não só o dia mas o meu tempo.

NATACHA

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444antologia da poesia livre

LiberdandoTangenciar o círculoTriangular por aíElipsada de medoSem dele fugir

Recuperar o impulsoAntes do atoCom pinças imagináriasNo segundo exato

Fintar o euÀ malabaristaRefazendo o vazioCom ares de artista

NATACHA MOTA

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Liberdade...

Liberdade (Com)prometida

Décadas de progresso intangível…Liberdade, Igualdade, Fraternidade, palavras no momento hoje irrealidade.O mundo assiste impassível ao sacrifíciodesta, daquela, daqueloutra, filha, irmã, mãe bondade,que a mão do mal com ganas colhe!Nem este, nem aquele, nem o outro, Não há Homem senão o que encolhe!Cobarde, distraído, insensível ou só só, ele não age, nem reage, deixa.Que a mão invisível de Deus mexa!No castigo derrotado pela impunidade, Caminho abre assim a humanidade, nos sulcos de violência, indiferença, impiedade, de tanta sepultura já cavados.Nas décadas de danos intangíveis, procura-se sinais dessa liberdade (com)prometida, do mundo não sereno, não indiferente, o mesmo que, fraterno, estenda a mão visível ao sofrimento.Liberdade, Igualdade, Fraternidade, quando será também nosso o vosso momento?

NOÉLIA DUARTE

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446antologia da poesia livre

Não sou a liberdade que esperas de mim. Enfim. Nem um ser aprisionado a esse teu sentimento.Tenho amor próprio cá dentro. De memórias prazerosas viveste sem mim.Quem sou eu? Não sei.Não sei viver assim.Preciso de ti. Preciso de mim. Preciso de nós. Sim! De nós. Daquele amor. Daquele ardor, de paixão. Daquele amor que vivíamos intensamente. De corações e almas perturbantes. Éramos amantes. Felizes por sentirmos o amor verdadeiro. De todo era o primeiro. Mas era para ser vivido e não aprisionado. Jamais não te queria ao meu lado. Tu eras o meu todo e o meu nada.Não te queria como passado. Mas como presente na minha estrada. E de repente, perdi-te de mim.Perdi o teu rumo. Enfim. Perdemo-nos. Ai que dor não te ter aqui. Foste tudo aquilo que eu vivi. Mas nada sobrou de ti em mim. E morri.

NUNO GUIMARÃES

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Liberdade?

Ah, conceito nascido da violência!Da prisão de almas!Do cárcere hediondo que o mal do homem impõe…Serias necessária não existisse o demónio e a sua demência?

Chamam-te Liberdade…Celebram-te em revoluções de esperança,Erguem-te estátuas, Tudo no feminino, não fora urgente renascer em toda idade.

E renasces, até nova queda,Até novas trevas…E aí clamam por ti os de sempre e tu cega…Vens. E virás sempre. Apenas porque te chamas…LIBERDADE!

NUNO RISCADO

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448antologia da poesia livre

Estado de graça,De quem não tem terra,Mas não é desterrado.

Desprendido de correntes,Tortura e opressão,Desponta na união.Fonte de uma individualidade,Sem preconceito nem idade,

Ser livre é ombrear o infinito.Ser livre é evitar qualquer conflito.É viver em paz sem sombra de mito.

NUNO SOUSA

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O

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LiberdadeLiberdade, devaneio sem limites;Desejos à deriva, mar revolto; Loucura, prazer, paixão;Nada me prende, ninguém me entende;Só a minha alma, compreende;Pousa, onde o coração ordenar;Cabelos esvoejando ao vento;Liberdade, tudo que a tempestade arrasta;E o mar aconchega, à voz do silêncio;Esvoejar nas asas de uma borboleta.Remansear nas ondas do mar.

OLIVEIRA SANTOS

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452antologia da poesia livre

LiberdadeSe o sentido verdadeiro, Do que é a LiberdadePusesse o Mundo inteiroA agir com lealdade,Haveria mais Amor,Em toda a Humanidade.Atrocidades se fazem,Confundem a Liberdade,Praticam libertinagem,Desprovidos de Bondade!!!Aqui eu vou apelar,Que reine a Fraternidade!Para o Mundo assim mudar,E’haver Paz e Liberdade.

ONDINA BORDALO

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Só por ti darei a vidaÓ Liberdade, Liberdade, que seja sempre eterna,Tenhas contigo a singeleza das magras palavras,O estímulo de procurar na tua luz, sempre fraterna,Mesmo utilizando as duras lições às vezes raras!

À tua sombra, se escondem as letras das intenções,Travamos lutas para te manter sempre em alerta,Em qualquer esquina uma faca, suspeita mutilações,Todos te querem, mas só meu coração em ti desperta!

O que em ti valorizo Liberdade, é coisa misteriosa,Sem ti nasci, para te conquistar e ter a tua companhia, Só eu sei porque para a rua ia, nem dormia nem comia!

Nunca serás diferente, mas sempre a minha ditosa,Serva, do bem comum, da palavra proclamada e sentida,Só por ti lutei, só por ti darei a minha própria vida!

ORLANDO NESPERAL

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P

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No momento presente, tudo é.Algemas desaparecem,Obstáculos são apenas ideias.Aqui, onde tudo é livre, no agoraQue não tem, em si, passado.A mente é livre de fluirO corpo é fácil de entenderAs emoções estão memórias quietas.No agora, não há lugar para exercícios futuristasNem sofrimentos antecipados.Neste meu presente, tudo é lúcido e infinito.O ar que entre e sai de mim, desperta.Visito o futuro e o passado, a bel-prazerSem ser condenada pelos pensamentos,Sem julgar, sem apegar.Vivo aqui, no meu eu do já,Consciente e conectado, pois no aqui, no agora, jaz a verdadeira liberdade.

PATRÍCIA ARAÚJO

Aqui agora’

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458antologia da poesia livre

Liberdade abstrataTenho tentado escapar.Tenho tentado me libertar.Procuro a liberdade de viver,sem ninguém que me diga o que pensar ou o que fazer.Não me imponham opiniões.Respeitem as minhas decisões.Tento fugir aos fixos padrões.Quero-me libertar de falsas razões.Libertar-me de falsas palavras.Quero ser livre da liberdade abstrata.Que não me tirem a consciência,e não me acusem de falsa decência.Tirem-me as algemas, quero apenasviver.Quero ser livre até no dia em que morrer.Que na minha memória não resida a escuridão.Apenas quero viver com todo oMeu coração.

PATRÍCIA MARQUES VICENTE

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Ode à liberdadeLivre é uma ave sem grades;é um animal na floresta;é o que recusa horários,o patrão e a profissão que detesta.Livres são os missionários;as ociosas e obesas comadres,que dedicam horas à vida alheia.Livres são os que quebram regrasna sociedade oposta à colmeia,lançando desordem à força de pedras.Livres são os que escolhem ser padres. Liberdade, tiveram os cravos da revolução;teve a audaz Maria da Fonte;liberdade, provocou um impetuoso general,que partiu da scalabitana ponte;teve abril através da canção,que decretou à ditadura o final.Depois desta enumeração,quem quer definir liberdade?Terá sido em vão?Haverá num futuro horizonte,condição para a vida liberta?Haverá liberdade para o nosso coração,que de boas ações desperta?Será livre como o vento?Será livre como o mar?Será livre de pensamento?Imagina-te na asa abertade uma ave, para te liberare grita bem alto esse momento!

PAULA ARAÚJO

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460antologia da poesia livre

Voar...

Como um pássaro voando em céu abertoo Ser é livre de voar quando quiserRasgo as correntes que me prendem ao presentevoando livre, p’ra fugir a toda a gente

Sair mais alto e correr por todo o céufugir ao tempo que me prende eternamentepassar p’las nuvens sem saber onde pararolhar o Sol e a ele me abraçar

E vou mais alto nesta minha fantasiafugindo aos dias que ainda me perseguemOlho a Lua, que me saúda com magiaque quer voar e voar…talvez um dia

PAULA BAÚTO

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Liberdade és!

Liberdade é olhar as estrelas e acreditar que só estão no céu para te encantar!É passar a mão no cabelo e pensar que as estrelas também o fizeram!É amar sem pudor! É cair no precipício da fantasia sem tirar os pés do chão!É acreditar em tudo o que não é credível e ainda assim ter a certeza que sim!Liberdade é soprar um balão que não enche e subir no ar em direcção ao sol sorrindo como se de um sopro se tratasse!Liberdade é a desobediência dos dissabores!É ser infinito e assim viver com a felicidade de quem é imortal!É amar e amar e amar e amar! Incauto e distraído como um anjo sem asas!Liberdade é estar ao teu lado sem precisar de soletrar uma palavra!Liberdade é dizer que te amo sem esperar que tenhas ouvido. Ou não!Liberdade és!

PAULA DE CASTRO FREIRE

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Sou livre...

SOU LIVRE PARA ERRAR, PORQUE NÃO SEI

Sou livre para errar, porque não sei…As regras escritas da vidaOnde começa o sentir do realOnde termina o abraço de um loucoE o carinho de uma mãe desiludidaO prazer de estar com o meu amorQuando ele não quer estar comigoO sonho que o futuro me levouO pranto em que para sempre me prostreiÀ beira de um bosque deitadaAgora rezo e me inclino Sem medo do choro da criançaEla que também chora para me consolarEla que também grita para me acordarEla que me empurra para a vida E me conduz ao erro constanteDe uma adolescência perdidaQue cria amarras sem nósQue dá e tira sem reporQue joga um jogo devagarOnde primeiro sentes a dorDepois o suor a latejarNeste emaranhado que é a vidaDa qual sou livre para errarErro porque não sei…

PAULA JORGE

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LiberdadeLiberdade para seguir um rio sem rumo,percorrer estradas sem fim,correr, andar, ou simplesmente parar.

Liberdade para não ter,de ler um livro obrigatório,de saber a tabuada.

Liberdade para questionar,Jesus Cristo, Buda, Krishna,Sócrates, Freud, Nietzsche,

Liberdade para não ter,de atravessar aquela porta,de ficar dependente do consciente.

Liberdade para errar,de aprender com esses mesmos erros,e de poder emendá-los.

Liberdade para poder dizer,Não sei para onde vou,Mas sei que por aí não vou.

PAULA PESSANHA LANÇA

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464antologia da poesia livre

LiberdadeSei que o calor do sonhoEm que os poetas navegamNasceu das musas as estrelasQue no cosmos os fecundaram. Sei que o canto dos pássarosEntontece os namoradosQue na paz do risonho ventoSe vão refugiar. Sei que os homens geraramSentimentos visDe onde provêm as trevas Que, não chegam a morrer! Sei dos miseráveisQue em louvor das guerras que eu não fizDestruíram os verdes camposAs tórridas planícies. Sei que na noiteOs amantes juram loucuras!Os suburbanos roubam a verdadeOs escravos sonham a morte dos patrõesOs homens podremente deliciadosSaboreiam os beijos das esposasTao dedicadas tão púdicas.

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Mas nos becos noturnosEscondem-se os rostos seiosOs machucados ventres pela dorDe terem gerado crianças vendidas. Nas carícias do ventoEstão as lagrimas dos que precisamDos que desejam um abraço diferenteOnde cheire a vida!

PAULA SOFIA ROSA

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466antologia da poesia livre

LiberdadeQuero a Liberdade,Do arDas gaivotasE do mar

Quero a Liberdade,Das palavras dos profetasE dos versos dos poetas

Quero a Liberdade,De uma chuva de VerãoDe um amor irrequietoE de uma qualquer canção

Quero a LiberdadeHoje amanhã e sempreQuero a Liberdade presente!

PAULA TRIGO

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Prisioneiro livreTem por território o todo E por nação a utopiaNum espaço sem fronteiras…É ente vivente apenas no sonhoDe olhar a alcançar o infinitoE as ideias sem repressão…De pensamento sem limiteE a voz de incontidos decibéis…De movimento sem regraE o comportamento ditame…De imaginário sem doutrinaE o saber espartilho…De religião sem catecismoE a conduta cartilha…De mãos plenas de criaçãoE o amor singelo e imaculado…Aprazada para o dia do nuncaA morte será o fecho da esferaPara este recluso da liberdade.

PAULO ALZAMORA

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468antologia da poesia livre

Quero -te presaQuero que não sejas tu Quero que tu sejas euQuero o teu modo de vida Quero a tua liberdadeQuero-te presa a mim Como se eu fosse a tua cadeia e a tua cela sentidaNão te quero livre Quero-te algemada maltratada e acorrentadaQuero tudo o que tens para não poderes ser livreTodo esse teu mundo em que vagueias, eu quero-o destruirNão quero que penses, não quero os teus sonhos realizados Quero-te como amante, quero que sejas fraca para fazer de ti um jogueteQuero isso tudo porque te amo, também quero o teu sentirQuero que me mintas e me transformes em correntes entrelaçadasNão te quero ver livre, quero-te nos meus sonhos mais perfumadosNão vou deixar que uses as liberdades que te deramNão te quero ver livre como um pássaro sem gaiolaQuero-te presa. Presa na minha cadeia onde só eu tenho as chavesNão me dês liberdade porque com ela eu não sei acorrentar o teu amor

PAULO COLAÇO

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MulherBaixou a cabeçaCalou os desejosAbortou liberdadeE seguiu-os

Tem casaHomemE conta histórias aos netos

MasRepara no seu olharTriste e vazio

PAULO DIAS

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470antologia da poesia livre

a cabeça a energia deposta em espelhosem renúnciasem lugares onde se escreve nada ou poucopalavras dobradas com o movimento do calor poderosos gestos semelhantes às noites sem espólios o lugar onde vivemos o sítio o abismo de sermos nósna vastidão ínfima do poema a liberdade.

PAULO MATOS

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Gostava de ser livreSer livre como um pássaroQue voa sobre o imenso azul Através do sonho consigo voarOnde a imaginaçãoFlutua e me deixo levar.Se voasse como um pássaroAlcançaria a minha felicidadeSem deixar rastoNa areia, na terra, na verde relvaOnde quer que tocasseVoava para bem longeVoava para onde não existisseDor, jamais sofrimentoOnde não se ouvisseUm ai ou um lamentoLamento de dor e tristezaÉ a vida neste momentoTraiçoeira e com destrezaVida de sofrimentoVida de tristeza e de dorQueria ser livre como um pássaroE mesmo que alguém me matasseDesaparecia sem deixar rastoE vivia a sonharMorria a cantarCom o sorriso da minha idadeSão sonhos meusQuerer ser livre como um pássaroE amar a liberdade!

PAULO OLIVEIRA

Ser livre

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472antologia da poesia livre

Abril de 2017

Em cada poema - mesmo que breve -Há cidades esventradas Repletas de gentes Carregadas de silêncio nos ombros

Dir-te-ia :Breve nasce a madrugada!Não que antes, em suas conchas acordem ansiadas flores!

E o poema cresce, tomando o marEm suas margensPor entre o cais dos cravos adormecidos

PAULO SANTOS

Um poema para abril

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O vento levou-me, por engano.Pedi-lhe que o fizesse devagar.Vagueou-se, por um mundo mundano,Sobre o pretexto de me poder libertar.

Disse-lhe, não quero ser ninguém, não se pensa.Não quero ser alguém que sinta, veja e ouça.Não sou ninguém, calo a cegueira.E sendo insensível, como quem ousa,transformo-me numa fogueira,num incessante fogo vil e frio,que com labaredas me consumo,que me torna o coração macio.

Não sou ninguém, não fui ninguém,mas ninguém serei.Ao menos sou qualquer sonho.Eu também sou nadaque se inflama e esconde atrás:De uma vida, sozinho, mas risonho.

Porque prefiro sozinho que com alguémque me torne sóbrio e sadio,Porque viver assim, como ninguém,é ser louco mas livre, como um rio.

E o vento, agrilhoado, como já era,Deixou-me livre aos devaneios do passar.E eu, descontente, ainda fico a espera,Que ele venha e me consiga para lá soprar.

PAULO SILVA LAMELAS

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474antologia da poesia livre

Talvez andes por aíNo vento que passa sobre a copa das árvoresSe mistura nas coisasRio corrente incessanteCéu pintado de cores criativas infinitasRenovam-se formas impressas na tela vivaSempre que expiras profundamenteSerás também matéria Quando lanças esse punhado de areia no oceanoEm jeito de libertaçãoNenhuma existência será redutora neste universo de possibilidadesNa origem do movimento encontras energia Seja como forSabes em grande parte do tempo que a alma se expande IndeterminadamenteMas vais adiandoPermitindo que o imediato determine as regrasAinda que te desloques sem verÉs em liberdadeNão existem planos para celebrar a vidaSobre a noite vai nascendo o diaA roda não paraContinuas a pisar o pó primordialTudo o que sempre foi permaneceExtensa vacuidade Para que se realize a experiênciaSoam vozes de onde o vento faz a curvaAndarás por aí

PAULO SIMÕES

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A respiraçãoÉ a vida mesma.Agarro o tempoNo seu instante.Na folha de ervaBeijo-lhe o mar.

O rio circulaNessa corrente,Líquida falta,Onde uma casaNão tem assentoNem anjo ou rede.

Está em irO jogo verde.Mãos de limos,Astros de sempre,Risos na praiaQue vão no vento.

Prumo da pedraDe contra a noite,Dia verticalÀ luz da chuva,Despacho astral,Vento mistral.

PEDRO ANDRADE MOTA

Respiração livre

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476antologia da poesia livre

É uma saudade Saudade de viver sozinhoSem sair do ninho.

Vou sonhar em liberdade Lembra um riacho sem fim.Vivendo numa saudade numa lendaPor conta da verdade…

Houve uma fonte de alegria Que cantava uma bela harmonia…“Não há liberdade sem saudadeNão há saudade sem liberdade”

Passaram meses e anos Nos oceanos a tentar sobreviverE a escrever sobre uma velhinha fonte.

Pois essa liberdade Deixou de existir, tentaram Corrigir essa paixão que a fonte Nos demostrou a saudade

A fonte secouSecou em plena liberdade

PEDRO CACHAPA ALMEIDA

A liberdade

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Chamar-te-ia asaem voo raso

Dir-te-ia vento

De uma fugaz presençavulto, ou pensamento

Chamar-te-ia... nada?

Nada é pouco. Tudo é nada

Em paulatinos passos,que a presença deixou marca

pouco é tudo...tudo ou nada

E nada te prende,porque tens tudo!ou... porque não tens nada?

Dir-te-ia... louca!Dir-te-ia, sábia!

Chamava-te então: LivreSerias assim, aveDir-te-ia vidaSerias a liberdade!

PEDRO CARRAMÃO

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478antologia da poesia livre

Liberta -teLeva as coisas com calma.Contempla o que te rodeia.Sem pressa, sente com a almaSê livre, sai da cadeia.

Sereno e tranquilo,Não há pressa.Como o fluir do rio NiloNum deserto que seca.

Sê tu mesmo,Pensa na vida,Goza o momento.Sê eremita.

Não há complicaçõesApenas há distração.Desperta a emoção,Sem dizer que não.

PEDRO DOS SANTOS

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479l i b e r d a d e | V o l i

Liberdade...

Liberdade Para Ser Triste

A liberdade é uma chaticemas é preciso perdê-la para lhe dar valor.Hoje quando estivea ver televisãofoi porque utilizei a liberdade.Ontem quando te beijei foi por causa da liberdade.E amanhã farei outra coisa qualquerpor causa da liberdade.Mas a liberdade para mim é uma prisão perpétua de tristeza.Para mim a liberdade só me traz tristezas.Embora haja alguns Verõesem que na praia me sinto feliz.Mas estruturalmente a liberdade faz-me mal talvez porque não sei as instruçõesemocionais para a construir e para a desconstruir.Mas (vamos ser sérios) entre a liberdade e a prisão das grades- concedo -escolhia a liberdade.

PEDRO LEITÃO COUTO

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480antologia da poesia livre

Nós... liberdadeInspiro e Expiro a minha Verdade,no ar que não importa meu ou teu.Percorre os alvéolos da fraternidade,permitindo a hematose da Liberdadeque no sangue flui a certeza de um céu.

Na certeza do que em cada um é incerto,aceito a beleza da variedade!Só assim o meu espirito se mantém despertoe encontra a paz no meio do deserto,refrescando o sentido com a Liberdade.

Olho no espelho o reflexo que me és!Percebo que em ti o meu sentido revejo.Se conseguir andar lado a lado com os teus pés,saberei que de mim jamais serás revése a Liberdade se entoa no nosso solfejo!

O mundo que é nosso se torna maiorno momento em que o nunca se torna num há de,e partilhamos da meta o maior sabor,sabendo que afinal o Amoré a pauta onde se escreve a Liberdade!

PEDRO MELLO

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Sentidos livresPodem cegar-me o olhar Que eu, preso na escuridão Pintarei o mundo que imaginar Podem tirar-me a audiçãoE eu, preso nesse silêncio Criarei música com a pulsação Podem cerrar-me os lábios Que preso aos sons que não dão Eu dou os gritos que sempre calei Podem deitar-me de vez ao chão Que rasgo o corpo e ganho asasE voarei livre da minha prisão.

PEDRO MIGUEL MARQUES

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482antologia da poesia livre

Livre!

Sinto a liberdade somente na liberdadeDe não fazer nada. Tudo o resto podiaFazer e não faço, pois aí deixava de serLiberdade. Livre, sem pensar ou sentir.

Não és livre de viver sem mim, poisNão podes escolher o que sentes.Entranhada em ti, sou a âncora quePrende e te arrasta para o abismo.

Livre sou eu, que não penso. Afundo-teQuando quero, e estou só, sem ninguémQue me venere, me adore, me ame,Arrependida de ser livre sem querer.

PEDRO MOREIRA

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A verdadeira...

A Verdadeira Liberdade

A verdadeira liberdadeé bem difícil de alcançarpois para isso é precisoaprender a humanizar.

Se tiveres plena consciênciade ti próprio...e fores capaz de exigiro que achas que mereces,apenasdepois de pagartudo o que devese de cumpriro que prometes...

Se conseguires fazertudo o que querese te apetece,sem magoar ou ferir ninguémnas voltas que a vida tece...

Poderás,então,considerar-te um homem de verdade,alcançando,assim,a verdadeira liberdade.

PEDRO TAVARES MADEIRA

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484antologia da poesia livre

Da liberdade...

DA LIBERDADE. DA TUA E DA MINHA

Sei que me fizeste livreBem sei que em tal permaneço

Sei que me fizeste assim livre De tiBem sei em que estado permaneçoem mim

Sei que me fizeste livreBem sei e tal não esqueço

Não esqueço que desse teu propalado actoTransvestido de extremo altruísmoVeio o gosto amargo dessa tua altruísta liberdadePesada e tristeNa qual se me arrastam os pésE me cansam os olhos de lágrimas

Sei que me fizeste livreBem sei que tal não mereço

Da liberdade da minha escolha veioAs grades dessa doce prisãoPrisão que tem o teu rostoE que responde ao chamamento do teu nome

E desta doce prisão em tiNão quero eu sair livre.

PINTO BAPTISTA

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R

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25 de abril de 2017

Abril é ontem, hoje e amanhãAbril não é só meu e nem é só teuAbril é de quem o prometeuAbril é a brisa da manhã.

Abril nas mãos de uma criançaAbril do cravo vermelho desfolhadoAbril no verde orvalho molhadoAbril nos deixaram como herança.

Abril não foi só política em movimentoAbril é a coragem de ser mais forteAbril nos ideais sem sofrimento

Abril de paz e democracia sem morteAbril sem guerra e com desenvolvimentoAbril é retomar um caminho sem norte.

RAFAEL M. COELHO

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488antologia da poesia livre

Que és tu afinal?

Criança que começa a caminhar.Flor que só o amor consegue brotar.Um sonho tão lindo que nos quer acarinhar.Uma alegria mais forte do que quem a quer derrotar.

Alguém diz lá de longe…

Foste a ilusão mais bela de conquistar!A guerra mais difícil de vencer.Tantas vezes sonhada, para nos libertar.Adeus à servidão! Somos livres e com direito a ser!

Os deuses te criaram e os Homens te batizaram… Liberdade.

RAQUEL CETRA

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LiberdadeLiberdade é poder dizer sim,Quando do não se discorda.Liberdade é algo precioso,Quando livre se acorda.

Liberdade é fogo intenso,Que a água não apaga.É poder refletir,Sobre algo que se indaga.

Viver sem liberdade,É viver na noite cerrada.Desprezar a liberdade,É uma opção errada.

Feliz aquele,Que em liberdade nasceu.Porque, em ditadura,Nunca viveu.

RAUL MÁXIMO DA SILVA

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490antologia da poesia livre

Dança...

Dança com a Liberdade

Se ela perguntarMeu nomeE no meu jeitoEu digo-lhe baixinhoAo seu ouvido.

Pego-na sua mãoA dança vai começarNão perco tempoA dar uns passos de kizombaVou fazer aquecer o seu coração.

Penso em ti.Nos meus lençóisVais compreenderQue és a minha diabinha.

Sonho a noite inteiraNuma noite de verãoMeu coraçãoNinguém me tramaNesta cama.

RICARDO BERNARDES

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Aldeia de calçadas pobresQuando as começou a terApós Abril descobre Esperança, ouvi dizerDe ser livreEntão vou eu Desde pequeninoNo dia da RevoluçãoLembrarQue soldados Heróis sem medoFizeram-me correrTodos os anos nesse diaCom outros pela liberdadeDe cravo na mãoPercorro assimO pavimento gastoRecordo então o nadaQue já foiCaminhar antes de Abril.

RICARDO DA COSTA BARBOSA

Parada deTodeia

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Liberdade mundialLiberdade, liberdade!O poder de conquistarDe mão dada com a verdade,E sem sangue derramar.

Liberdade, poder de anciãoArma honesta, sem vaidade.Papel, caneta e a mãoDão mais frutos com a idadeE convencem a multidão.

Liberdade, no presente e no futuroFoi conquistada pela genteE derruba qualquer muro.

Liberdade, a qualquer preçoPela qualquer um lutariaBoa arma de arremessoQue o mais inocente gritaria.

Liberdade, finalmente conquistada!Já nada resta do mural;A multidão festeja, deleitada,A Primeira Paz Mundial.

RICARDO FERREIRA JORGE

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IlusãoVivemos na correria da VidaSem muito pensar, sem nunca pararAfogamo-nos na ilusãoNa ilusão de tudo fazer, de tudo conquistarAcorrentados ao tempo, por grilhõesInvisíveis, etéreos, amorfosAté a morte chegar e nos mostrarMostrar que nunca fomos livresMas pouco importa a duração da ilusãoSeremos sempre livres enquanto a ilusão Existir, enquanto ela perdurarTemos sempre oportunidadeNas nossas escolhas, nos nossos passos,Sonhos, fantasias e amoresA nossa liberdade fazer brilhar

RICARDO HAYES

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Um avesso...

Um avesso para ser lido do poema

Alguém melhor para se ocupar do dilema:«O que é a liberdade?»,se não quem está à berma da mórbida e aflitivamente vivacrise de meia idade?

Quem sabe que a perderá,certamente se afincará a discuti-lade cá oscilará para lá eoxalá ao desabrochar o juízo perceberá que lá nada cabe,se não o infortúnio que a todos horripila:a crise que vem depois da crise de meia idade.

Liberdade nada mais é do que poder grafar liebrdadesem que a grafia atrofie o léxico,ou sem que a garfia artofie o lécixo.Há, no entanto, um dogma aprisionado que fere:a de que o entendimento é limitado,deixando o Homem, coitado, condenado ao mero caractere.

Liberdade é,para além disto, poder compor uma estrofe não-rimática, isenta de sentido rítmico, o que na poesia faz muito pouco sentido, e, quando se atinge este patamar, o desconforto apodera-se do leitor, que, enganado pela sua própria liberdade, desejaria que este poema tivesse terminado algures antes de ter sequer começado.

RICARDO NUNES SIMÕES

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LiberdadeHoje... Eu quero correr pelos camposPor entre arbustosSentir o perfume das flores Verdes prados, singela naturezaDe rara beleza

Hoje... Quero saltar Na areia,Onde o sonho se inventaMas nada se planeia

Hoje... Quero escrever um poemaSer livre também no pensamentoDar asas à imaginação Colaborar com a Chiado A Editora que preenche o nosso coração

Ser livre, É ver, sentir, É fazer Sem nada planear É ter o mundo para descobrir É viver... Sonhar.

RICARDO PACHECO

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Ai que saudadeDa minha liberdadeDe correr sem pensarSe um dia terei de voltar

Ai que saudadeDa minha felicidadeDe chorar a rirE de não rir para não chorar

Ai que saudadeDa minha liberdadeDe olhar o mundoE de aproveitar cada segundo

Ai que saudadeDe ter coraçãoE de acreditarQue a liberdadeVinha com a idade

RITA FERRÃO

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LiberdadeLiberto as emoções nas lágrimas salgadas, quando a nostalgia do tempo me liberta de mágoas sentidas em noites de luas infinitas, quando o amor se liberta nas ondas orgásmicas de quem vive para viver.Liberto a saudade no pranto doce do mar, trajada de mágoa e melancolia, emancipada da vida em palcos efémeros.E quando o canto das gaivotas clamar liberdade fazendo-me escrever aquela poesia, que penso ser poesia porque está para além da lógica, e depois me faz calar com medo da incompreensão dos homens, aí, desprendo a minha alma de encontro à luz, fora das fronteiras da mente.

RITA FREITAS

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LivreNão sou livre,Vivo amarrada a este emaranhado de ilusões Que me prendem de dia, Solto no limite do sonho.Não sou livre,Se fosse livre, seria loucoEm um abismo incoerente,Toda a corrente seria asa,Não sou livre.

RITA NEVES

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Quando as manhãs, as tardes,e as noites escondiam,desesperados esperámos,não chegavas, e de ti nada sabíamos... Foram tão longas as noitesdo tamanho dos dias,que nos esquecemos do solna esperança que vinhas. Foi por ti que chamámos,e de luto, lutando, morreríamos.Foi por ti que gritaram,aos que antes da morte a morte pediram... E depois de tanto tempo,em que o tempo silenciado e o desânimo quase vencia,tu vieste de novo, com mais idade,aos olhos do dia. Nossos olhos abertos quase cegos ficaram,quando as portas cerradase os cimentos caíram... Era tarde e tardastequando finalmente chegastena mais linda primaveraque me recordo que vira...É por ti que de felicidadete chamo sem ira...LIBERDADE!

ROGÉRIO MARTINS SIMÕES

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Poética da libertaçãoUm pássaro precisa de asas para voarSenão faltar-lhe-á a liberdade de ser o que é…Os peixes precisam de água para nadarSem água, depressa morrerão…O escritor precisa de palavras vivasPara criar sentidos à vida em construção…E é na liberdade de expressão que ele tem um poético encontroCom a fonte genuína da libertação…Muitos povos lutaram em busca de liberdade!Muitos sonhos foram realizados em meio a tantas catástrofesE tudo só foi possível porque uma estrada foi escavadaUm discurso foi construído aonde o silêncio habitava…Novos signos se emergiram da força ideológica revolucionáriaQue dissolve, com a potência da vontade, a opressão dos oprimidos…E num grito pela paz, muitos “nós” foram desatadosMuralhas da separação caíram por terra…Por meio do poder operante da Poesia da LibertaçãoQue faz deste mundo um lugar penetrado por livres versosFormando, nas fronteiras da fecundação dos sobreviventes signos,A concreta realização do milagre da espécie humana:O “dom” que interpela a vida de todos os seres vivosPotencializando-os a controlar seu próprio destinoNas margens de um grande e infinito oceano de ideiasQue nasce de uma eterna fonte de busca pelo saber-poderQue aqui chamamos de Poética da Libertação.

ROMILTON BATISTA DE OLIVEIRA

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LiberdadeLiberdade,O que era eu sem ti!Um pássaro sem asas quietinho no seu ninho.Um barco à vela sem vento.Um girassol sem cor.Uns olhos cegos sem cegueira.Uns ouvidos surdos.Uma boca serrada ao mundo.Um coração apertadinho onde o amor não entra.Uma cela numa masmorra onde a humidade e o ferro corroído pelo tempo me levaria à morte pela tortura e pelo isolamento.Ai liberdade, liberdade!Que bom poder escrever assim… Sem opressões e sem medos.

ROSA CRAVO

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502antologia da poesia livre

Livres, ou sem liberdade?

Não é livre o barco que sulca as águas dos oceanosMas são livres as ondas que ondulam sob o seu casco...Não é livre o falcão que voa para o braço do seu falcoeiroPorque se prendeu a uma liberdade fictícia...Não é livre o rio que está represado naquela albufeiraMas a natureza tem a liberdade de o poder soltarNão é livre a flor que decora o jardimMas é livre o aroma que solta para a vidaNão é livre a sombra, presa que está ao elemento que a produzMas é livre a luz, capaz de se projectar nos lugares mais inóspitosNão é livre a árvore, agarrada à terra onde foi crescendoMas é livre a folha que se solta e esvoaça no tempo de outonoNão são livres as letras, dependentes constantes do cérebro que [as usaMas são livres os pensamentos de quem delas gosta e as escreveNão é livre a vela do moinho que gira sem parar sempre que o [vento a agiteMas é livre o vento que percorre o planeta sem comando de patrãoNão é livre a paisagem, sujeita que está a mudanças decididas [pelo homemMas é livre o tempo que num ínfimo espaço tudo pode destruirNão é livre a semente levada pelo vento ou no bico de uma aveMas é livre a terra que a acolhe e a torna planta viçosaNão é livre o lápis que obedece à mão que o envolveMas são livres os traços feitos sem lei nem ordemNão são totalmente livres as pessoas obedecendo a ordens, [regras e leisMas são livres os corações que dentro de si albergam todos os [sentimentos do mundo.

ROSA DUARTE

Livres, ou...

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LiberdadeSão jovens,Cabelos ao vento,Sem medos nem desilusõesSonhos livres, esvoaçandoEm todas as direções.São fortes,Não temem da vidaAs contrariedades,Nem do mundo conhecemAs falsidades.Juntos, capazes de tudo,Sonham com a forçaDe mudar o mundo.Ninguém os pode deterJamais alguém os irá parar,Serão o que cada um quiserTêm muito amor para dar.São livres, num mundo livre,É isso, o seu tesouro maiorQuerem espalhar a sementeE fazer um mundo melhor.

ROSA MARIA

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504antologia da poesia livre

LiberdadeSomos livres!Seremos?Que liberdade é esta que nos liberta e nos retrai?Queremos falar, exprimir sentimentos,Mas a nossa liberdade termina para não ferir o próximo, seremos então livres?Ou então somos atrozes, algozes ávidos de soltar palavras da boca para fora e aí sim somos livres, mas a que preço?!Desejamos ser livres para decidir o nosso futuro…Ohhh!!! Tristes que o pensais ser quando na verdade…Na verdade sois só e apenas um boneco na mão do destino e do infortúnioLiberdade Sim. Queremos correr por a areia, mergulhar no mar, sonhar, nem que seja por instantes.Liberdade é poder sonhar de olhos abertos…

ROSA PAULO

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Liberdade que eu sinto e me procura,É aquela que em meus olhos perduraE me faz voar…Voar bem longe sem pressa de voltar.Saber que existe em mim,Uma esperança longa e sem fim,Que procura terra firme para pisar.Não tenho medo de voar.Longos os tempos que em mim,Vivia presa num breu carmim,Será que um dia tudo isto irá passar?O medo do escuro poderá algum dia voltar?Liberdade que eu sinto e me procura,Vive em mim, em cada sol, que madruga.

ROSA PEREIRA

A liberdade em mim

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506antologia da poesia livre

LiberdadeSentir a liberdade é ser capaz de traçar a aventura de ser espontâneo,possuir o conhecimento de saber pintar a arte da vida que conduz à descoberta de a cada diaser mais forte.

Liberdade é o vento, o mar,nascer, crescer, pensar,sorrir e sonhar.É ter coragem de sercapaz de voar como as cotovias que levantam voo em direção ao céu com o seu cantar alegre.

Liberdade é ser justo, verídico,autêntico, sentir com o coração, trabalhar com a mesmahabilidade do escultor, com paixão,em cada toque seu dá belezatransmitindo aquilo que lhe abunda na alma.

Liberdadeé o querer saber, é o gostar de ir mais alémé o prazer da descoberta.

ROSA SANTOS

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Ordeiramente feliz, volátil quanto baste, voas tu ó Liberdade,sem nunca me levar a sério.Brincas com o Tempo: Passado, Presente e Futuro.Com beijos de sonhos confesso: adoro esse teu jeito infantil! Desejo meu, tão velho: parar de querer…Liberdade,neste mundo nosso, tudo que te dou é teu.

Tocam sinos aqui bem perto.

Incansavelmente,sussurras-me ao ouvido silêncios mudos.Queima-se-me o coração em lume brando.Fazem-me sombra as árvores, semi-nuas.Acordo para ti. Abraço-te pela manhã ó Liberdade!

Tocam sinos aqui bem perto.

Liberdade,criação artística, no final partilhada,ferida aberta.Infeliz no nada que sou,segredo-te que gosto de ti.Sem nunca te ter sentido, toco a tua face.Apalpo o Futuro contigo a meu ladoApetece-me abraçar-te.Realidade, aparente, de um gosto treinado.Liberdade,a culpa não é tua se te sou indiferente.

ROSÁLIA LOPES

No nada do tempo

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508antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade tão evocadaEra um sonho mas fugiuAnda pelo mundo enganadaBuscando quem a traiu

Voltam as revoluçõesLiberta-se mais uma vez o povoNovas promessas e ilusõesEsperanças num mundo novo

Mas a memória dura poucoQuem não sentiu na peleA ditadura do homem loucoNão conhece o travo do fel

Volta a eleger, incautoAquele que o acorrentaNavega no mar altoO inferno da velha tormenta

Foge a liberdade novamentePeregrina e sem entenderPorque insiste o homem erradamenteNesta forma de viver

ROSALINA VAQUEIRO

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Quero ser livre...

Quero ser livre contigo

Quero ser livre, sim.Ah, deixa-me livre, só por hoje.Livre destas amarras do mundo modernocom os seus loucos encontros virtuais,que me fazem sentir tão só, mesmo online.

Não quero mais SMS!Apenas desejo ouvir a tua voz.Fala-me… vem cá ter comigo e fala-me.

Não, não me envies um like.E nem quero saber de ti pelas redes sociais.Vem cá e conta-me do que vives e passas.

Não quero mais a mediação fria do ecrã do computador.Vem, bate-me à porta e entra na minha casa.Quero ver-te, ouvir o que sentes, partilhar contigo o coração.

Preciso sentir que estás cá, Que és alguém na minha vida,Preciso sentir que és real,Que existes, assim como eu existo.

Ah, como desejo ser livre contigo!

ROSÁRIA GRÁCIO

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510antologia da poesia livre

Sonhei com teus pés descalços pelo jardim, com a voz da Rosalía a adornar-nos em flores. Sonhei com malmequeres, melgas e cães a latir durante a madrugada. Sonhei com curvas de despiste ao meu coração, com muros muito altos por onde me deixas pular. Com a barragem de São Domingos, com poesia de encantar. Sonhei com o teu nome, e com o teu beijo que agora me falta ao acordar. Hortelã, lua cheia, laranjeira e rosmaninho. Um novo vaso no meu quintal, um novo pranto no meu peito. Traz-me a bifana no pão, os traços de avião, os teus ombros para minha proteção. Traz-me um pouco mais de história, um pouco mais para a memória, um pouco mais dos teus olhos a adormecer. Eu fico contigo, sou teu amigo até o quereres. Partilho coisas bonitas, partilho batatas fritas e canto-te ao anoitecer. Bem junto do teu ouvidinho, num jeito meiguinho: “fica comigo até amanhecer.” É tão bom sermos livres, sem nada a temer.

RÚBEN NÓBREGA

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LiberdadeA liberdade de ir ou ficar. Dela querer aqui estar e ele partir. A liberdade dele amar quem quiser, e ela livre, para beijar outra mulher. A liberdade sem ser forçada, a liberdade sem mentiras, e sem murros em ponta de faca. A liberdade de ficar por perto, ou se perder pelo mundo, sentir-se livre ao vagar pelo deserto. A liberdade da rima e das velhas canções. A liberdade de acreditar na sua fé e nas suas orações. Poder escolher onde quer deixar o novo móvel, e se não quiser dar mais um passo com alguém, ficar apenas pensando na vida, que passa e você fica lá, imóvel.

A liberdade termina quando lágrimas estão a rolar, a liberdade tem fim, quando crianças inocentes estão a gritar. Deixe livre o pássaro que só quer voar, sem gaiola, sem grade, sem prisão. Deixe livre aquele que fala de saudade, luxúria e paixão. A liberdade nada mais é do que ter igualdade. A liberdade é fazer o bem, jamais a maldade. A liberdade é ficar longe do falso e se agarrar na verdade.

Livre-se do que for imoral. Eu espero que a liberdade esteja ao seu lado, para o bem ou para o mal. Livre-se daquilo que não lhe faz bem, sorria sempre e da solidão se afaste. Seja livre, se sinta livre, mesmo estando ao lado de alguém.

E onde quer que a liberdade a possa levar, entre o que a faz ficar ou ir, que se sinta livre e queira velejar, no rio ou no mar. Aproveite cada segundo como se fosse único, não deixe sua vida ser algo banal. Seja coerente e escolha seu caminho, seja livre para decidir qual será seu próprio final.

RUDSON XAULIN

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512antologia da poesia livre

25 de abril...

25 de Abril 40 anos depois

25 de Abril vibrante,A liberdade que trouxeste,Já se vislumbra tão distante:Não cumpriste o que prometeste!

Talvez não sejas o culpado!Quem te usou a belo prazer,Será sim, o grande acusadoE perdão jamais irá ter!

Sei que foste mal recebidoPor certa gente “bem formada”,Mas de fraca mentalidade!

Para quem nunca fez sentidoDeixar de ter vida abastadaOu a palavra “liberdade”!

RUI ALBERTO FERREIRA

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Sólida e confusa...

Sólida e confusa liberdade

Ser livre é ser verdadeiro, cordeiro e mosqueteiro,Para a vida aconselhar, a ser bom conselheiro. Neste mundo onde os pobres são pobres e os ricos milionáriosSó pensam em Fortunas e empresáriosNão dão nada nem nada e pelo nada mentem.Àqueles que na rua mendigam, nada oferecem nada sentem,Animais famintos para eles tudo querem.Mas - Quem tudo quer tudo perdeO capitalista vive do capitalismo, absolutismo.Somos instrumentos de economia capitalista, fraudistaSeremos comida e alimentaremos a nossa própria derrota.Malucos certos numa sociedade errada,Imobilizados em alto mar, perdendo a rota de uma vida calculista,O passado foi glorioso e hoje a vida é suprimida,Cristos incapazes de lutar, só nós os derrotaremosEsses infelizes que se divertem a destruir famílias,Troicas e troicanos, entroicaram o mundo todo...São bons a meter qualquer país no pior do lodo.

Para quê e porquê massacrar, roubar liderar?Andar por aí a malucar, estragar, gritar, falar, comentarO que fiz, o que disse, o que escrevo, o que penso o que movo?Permaneço nas últimas, quase explodo quase morro.Mesmo morto o morto não é livre, e vivo, mesmo o vivo não tem calibre,Como eu seguido por elites, quer mentiras quer verdades é a realidade.Quero liberdade, basta! Que mentalidade… não há liberdade!

RUI DAMAS

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514antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade é o sonhoDo pássaro aprisionadoNuma gaiola bordadaCom linhas de censuraDo homem que vive Parado em sofrimentoSem acto, sem movimentoEncarcerado no seu aconchegoCom medo de avançarDe seguir em frenteDe gritar De dizer a toda agenteQue as palavrasNão têm donoE as ideiasNascem, crescem, emprenhamE fecundamEm vontades de voarEm acção e pensamento…

RUI FERRA

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515l i b e r d a d e | V o l i

Em teus braços esperareitranquilopelo lugar que incendeia o alumiar da esperança Em teus olhos brincareifrenéticoao tempo que rodopia pelos devaneios de criança

Em tuas mãos ficareiestáticoem inerte prisão que liberta golfadas de paixão Em tua voz velareifluídonas epopeias que apregoa aos mares de aguarela Em teus lábios mergulhareifamintopelo abismo que desnorteia teu inóspito coração

Em teu peito bebereisaciadodo ébrio perfume que matiza teu ar de donzela Não esperes. Sim, por ti desespero.Vem depressa. Fica, em mim, no vagar devagar.Prende-me para sempre. Nunca me deixes solto. Prende-me ao amor da tua sempre Liberdade.

RUI LOPES

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516antologia da poesia livre

Liberdade...

A sementeira de abril foi ilusão… Onde a palavra liberdade perdeu a dignidaderepetida até à exaustão!

A sementeira de abril foi ilusão… Ainda vimos nascer um ou outro grãoDaquilo que prometia ser o trigo do nosso pão Mas o vermelho dos cravos não passou de uma ilusãoFoi estéril esse campo semeado no calor da revolução e toda a semente morreu na secura desse chão Em que velhos vampiros sugaram o sangue da naçãoPor palhinhas descartáveis chamadas corrupçãoE a sementeira de abril foi atraiçoada por retóricas criaturinhas E não produziu mais que um imenso campo de ervas daninhas

RUI MANUEL NEVES DA SILVA

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Abril passadoAquilo que sinto e vejo!Olho à minha voltaE lanço p’ró arO escarro da minha revolta.

Tudo em mim se revolta!Revolta sim, revolta sincera.Tudo mudou p’ra piorNada é como era.

De Abril conceitos puros,Democracia, liberdadeQue a muitos servem hoje Para faltar à verdade.

Os ricos mais ricosOs pobres mais pobres!Àqueles pouco importa Aquilo que tu sofres.

Abril, primavera em festaTempo de esperança, liberdadeContigo estou, contigo ficoPreso nessa saudade.

Escarro sim!Deito fora a minha revolta!Abril primavera em flor, Sonho que já não volta.

RUI MELANCIA

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518antologia da poesia livre

LiberdadeLiberdade, um querer fazer tudo,Mentalmente sonhando,Ou fisicamente falando…

Saber ser livre também é importante.Há quem seja livre de corpo,Mas de alma, está preso na escuridão,Sozinho, na multidão…

Várias vezes me pergunto,Para quê ser livre pela metade,Se no final,A verdadeira felicidade está pelo inteiro…

RUI OLIVEIRA

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LiberdadeEu estava sózinho, abandonado ao acaso do vazio,na minha vida já não existiam mais sonhos, nada fazia sentido.Desisti de tudo porque tornei-me um homem bravio,antes da tua aparição, eu sentimentalmente estava esquecido.

Com o teu olhar quebras-te os elos da corrente,que ao passado ainda mantinha-me acorrentado.Com a tua voz cantante libertaste a minha mente,e agora sei sem dúvida que por ti fui libertado.

Exterminaste os dias que mais pareciam noites tenebrosas,deste-me esperanças e uma nova vontade de querer viver.Curaste-me as feridas sem ferimentos que são mais dolorosas.Se amor é LIBERDADE? Então livre eternamente quero ser.

No ar fluíram novos sentimentos entre nós,o amor açambarcou nossas almas apaixonadas.O fruto, Raquel com choro de bebé ao nosso amor deu voz,e com tal nossas eternas preocupações e alegrias por ela foram [libertadas.

As nossas vidas transformaram-se com a sua vinda,um verdadeiro anjo que DEUS nos concedeu.Se existem belezas divinais de todas ela é a mais linda.Ah! Que maravilhosos anos de vida a gente viveu.

Desde então dias negros e assombrosos jamais em mim [deixarão saudade,porque Tu e a nossa Filha a mim souberam ensinar,que o amor é sinónimo de LIBERDADE.Assim todos os dias para livres sermos com amor temos de lutar.

RUI PEDROSO

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S

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PlatónicaLiberdade, é não ter idade mas ter tempo. Liberdade, é aura que cura o limite. Liberdade é o respeito entre a distância e a proximidade. LIBERDADE a companheira da responsabilidade. L I M P A S a E S T R A D AFazes o teu caminho!Só vai contigo quem sabe mudar de(a) folhaLiberdade, és parte da minha Onde estás? - no teu silêncio Ninguém é livre! É seres quem ÉS

SANANDA

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524antologia da poesia livre

Esperei por ti deitada sobre o marnas nuvens e ao luarEsperei por ti nas linhas infinitas dos nossos corpos disformes ao ventonas curvas largas das nossas fantasiase encontrei-te no profundoar com que respiro e te suspiroE fiz-me a caminho sedenta da ousadiaCaminhei nos desertos dos pensamentos Com a boca húmida e o coração levee senti-me de novo ancorada nos odores que me alimentavam e numa promessadivina quebrei a barreira do meu fim.Ergui-me! Consegui levantar as minhas asas de novo desfiz-me das lágrimas que me sopravam das ilusões que me alimentei e de que me fiz.

SANDRA ARAÚJO

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525l i b e r d a d e | V o l i

Liberdade,Quem a desejou sem medida,Sem conhecer a contrapartida,Que a liberdade traz.Autrora amordaçados e todos em modo calados,Sem podermos pronunciar o que nos apetecia falar.Hoje liberdade desmedida, Utilizada na verdade e na mentira,Só para conseguirem seus fins.Usada e abusada,Esta liberdade tão solta,Das garras dos ditadores,Faz-me por vezes desejar,Ou apenas voltar,Antes de ela estar,Assim ao nosso dispôr.Não vivi, nem reconheço o tempo em que não era permitido,Dizer o que agora penso e digo.Que frustante devia ser Ter mil coisas a dizer,E apenas a seco engolir,Frases e expressões que ninguém podia ouvir.

SANDRA FÉ FERNANDES

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526antologia da poesia livre

Liberdade é indelevelmente a do pensamento.Porque nenhuma outra é maior, tão resistente,Estóica, depurada e transcendente.E se as palavras são sussurradas, leva-as o vento,

A verdade que amanhece dentro,Não tem amarras, grilhões Censura, vontade que a rasgue,Antes, vida inteira que desafia o tempo.

Não conhece fronteira,É identidade primeira,Força motriz que se agiganta,Que nos diz de tão verdadeira.

Sabe a chuva de verão,A abraço apertado em dias não,A livros, viagens, lugares,A trapézio sem chão.

E quem arrisca o salto no escuro,De a pensar, cantar, escrever,Vive nas asas de um pássaro,Não fosse a liberdade um voo para lá do muro

SANDRA JANUÁRIO

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Desamarra-me, prende-me a ti Quero-te nesse abraço só nossoEsse porto de abrigo onde me afagas as cicatrizes da Alma e me [libertas de mimOnde aceitas a minha imperfeição de Mulher, Amante, Mãe e AmigaPorque somos feitos de escolhas, caminhos, com ou sem rumoDe amores, achados e perdidos, que nos enchem a Alma e a [deixam vaziaDesamarra-me, prende-me a ti Na liberdade de amar sem porquês Presos no silêncio de um olhar, voamos com os pés no chão

SANDRA SALGUEIRO

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528antologia da poesia livre

LiberdadeQuanto te conheci, Ao te abraçar,SentiQue encontrei o que antes perdi.

Não sei descrever o que me deste,Mas algo em mimdevolveste,há décadas perdido.

Parte importante de mim,Eu sei,ReconhecesteQuem eu tinha esquecido ser.

Em ti, me encontroEm ti, repousoEm ti, me liberto.

SANDRA VARELA

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Homem de Deus...

Homem de Deus na Terra Debaixo dos céus,Nas pradarias,Nos pântanos,Nos algodoeiros…Reina a beleza… impera a dor… Ai, eu que queimo nos campos de algodão,Debaixo do poente cor de fogo,Eu ardo nos prados do inferno.Ai, eu homem de Deus na terra. Terra cega que me engole,Terra raivosa que me rasga as asas,De algodão é o leito dos anjos,De algodão é feita a minha morte. Sufocado pelos céus,Prisioneiro das pradarias,Dos pântanos,Dos campos de algodão… Terra à mercê da brancura,De algodão é o peso da minha morte.

SARA DE LIS

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530antologia da poesia livre

Liberdade,A ti te procuro na prisão UniversalOnde as palavras são puras E as asas não são cortadas,Porquê? Porque a mente está a milCom coisas inesperadas e negadasNum mundo onde dizem que o céu é o limite,Eu nego, e continuo a negar.A minha imaginação inventou o infinitoE é nesse mundo que vivo.Não me digam que não vale a pena, porque na verdade,Eu sempre fui fã da confusão,Das mentes insanas e da estranheza.Eu assumo, é nesta rica liberdade que vivoE sem dúvidaÉ nela que encontro a felicidade que sempre procurei.

SARA PEREIRA

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Liberdade do medoEsse medo que nos prende,Constantemente tudo nos tiraLevando-nos à ira,Onde ninguém nos entende.

Espinhos, troncos contorcidos nos rodeiam,Quando nesse medo se semeiam,Sentimentos controlados por receios,Não sabemos por que meios…Mas ainda assim eles nos envolvem.

O quente pôr-do-Sol A Liberdade nos devolve,Esses raios que nos envolvem,Libertando-nos desse jovem.

A liberdade do medo,Não nos vence neste enredo,Pois no fim deste tormento,Apenas nos libertamos no momento.

SARA SOUSA

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532antologia da poesia livre

Cântico da vida furada

Orgulhai-vos das erectas descomposturas ouvidasAo longo da estrada sem fimDotai-vos de sapatos resistentes, e por isto entenda-seSapatos com a capacidade de manter a corEmbora o cheiro se vos torne insuportávelApós meses a calcorrear povoaçõesDe mãos estendidas e logo lançadas ao soloE os bolsos cheios de coisa nenhuma.

Ah! Enfileirai-vos em ordenadas sequênciasDe códigos alfanuméricos mui fáceis de despedirE maltratar; pontapeiem as agruras da vidaCom os vossos risos e agredi as mulheresPor quem vos apaixonais à esquina de cada sonhoPerdido.

Sois a nova geração de velhos sem préstimoÉ útil – portanto, bom – o sorriso que esboçaisAté serdes processados pela morteMediante o preenchimento de uma ficha de inscriçãoPara desobrigardes o planeta já tão povoadoDa vossa presença.Que assim seja!

SARA TIMÓTEO

Cântico da vida...

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Quero que me nasçam asas.Quero ser livre ao ponto de não voltar,E sentir o quão leve o vento me transforma.Ter coragem. Quero que o peito deixe de doer,E que o sono venha tranquilamente.Parar de viciar a posição na cama,E de levar a imaginação ao extremo.Quero apertar a minha pele sem lembrar outras mãos,Esquecer o cheiro, a forma e a textura.

Aceitar a mudança.Aceitar a morte.

Saber encaixar as memórias sem tristeza.Despir a cobarde carência.Ser mais e melhor. Sair, e deixar entrar. Assumir. Amar.Perder-me na natureza e deixar o sol queimar-me a cara. Quero ser, longe daqui.Sorrir só porque sim.

Apaixonar-me pelas letras e pelos sons,Pelos sabores e pelas vistas.Voar. Expandir. Ser livre ao ponto da minha própria existência ser um ato de [rebeldia, plenitude e felicidade.

SARA VIEIRA TEIXEIRA

Sarar

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534antologia da poesia livre

Não vale a pena fazer-se ao soldado um memorialSe ser soldado é até uma coisa banalNão vale a pena escrever a paz num tratadoSe isso não devolve o sangue derramadoNão vale a pena recordar-te numa cantigaSe só me lembrar de ti na despedidaNão vale a pena chorar mais pela liberdadeSe não a trouxermos ao peito como um estandarteNão vale a pena tanta labutaSe ninguém vai à lutaE não vale a pena cantar vitóriaSe não se souber contar a históriaA história de como do soldado só restou um nome numa lápideA história de como a paz custou lágrimas e sangueA história de como só nos recordamos dos versos que estão na cantigaE aquilo que ficou por cantarÉ um barco à deriva no marA história de como a liberdade não se choraPois quem é livre não tem motivos para chorarA história de como a luta é um cravo que se traz ao peitoPelo qual valeu toda a pena lutar!

SÍLVIA RAPOSEIRA

Se vale a pena!

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Nestes breves instantes,nestas notas vibrantes, de breve leveza,solta a voz na garganta,é a alma que canta,a verdade liberta!São os pensamentos,todos os momentos,a paz entre as guerras…Livre é o que sente,que se eleva e não mente,assume-se diferente,mostra a sua essência!Caminha entre moldados,cinzentos,castrados,vestido de cor…Furacão de mudança,uma voz que não se cansa,acorda e desperta,é uma porta aberta,um pedaço de amor,não há masmorra que prenda,a LIBERDADE interior!

SÍLVIA TORRES

A verdade liberta!

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RespiraManténs a guerra, quando deverias procurar a pazDesejas mortes vitoriosas, quando te falta satisfação plenaNão lutes, não te encorajesReforça-te na calmaCaminha, não fujas Combates contigo mesmo, com armas ultrapassadasÉs a pessoa equivocada, maltrapilha e com sapatos de culpaDescalça-te, sente a areia rugosaEsmaga o chão com o corpoPisa seguro Ficas de vigília o dia inteiro, a noite toda, sem confiançaO sono não mais se atreve a visitar-te sequerDeixa a saciação embalar-teAlimenta a almaRespira fundo Pacifica o teu ser com o oxigénio que o teu sangue te pedeAbsolve-te das histórias que o teu cérebro não quer mais ouvirDá folga a essa vontade triste e escolhe o teu próprio sentirE se for para matar, que morra o desassossego

SOFIA MARQUES SILVA

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Sais da casa que é tua, entras na rua que é nossaolhares invadem a liberdade que só a ti te pertencevozes tentam intimidar-temas a liberdade só tua não permitee tu descalças os sapatos altostiras o batom vermelhosegues em frenteentras na rua que é nossa saíste da casa que é tualivre, alegre e solta, sem preconceitosos cabelos ondulam ao vento na liberdade que tão bem conhecemos trejeitos do teu corpo livreque com libertinagem os confundem:- enganos tamanhos!segues em frente, na rua que é nossacom a liberdade que é tuacalça os sapatos altospinta os lábios de batom vermelhousa o cabelo soltosaíste da tua casa para a rua que é nossa, com a liberdade só tua!

SÓNIA FEIJÓ

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538antologia da poesia livre

AutodeterminaçãoLibertação torpe de um corpo combalidoIndependência fugaz de um ser preteridoBenefício almejado por cada alma no mundo existenteEntendimento difuso do imenso universo latenteRegalia por muitos com bravura conquistadaDescanso eterno após cada encruzilhadaAtrevimento de ir mais longe que os demaisDesrespeito pelas injustiças infernaisEmancipação total, calabouço jamais

Permissão qual alforria concedidaAutorização para desfrutar da vidaRutura com a falta de equidadeAudácia em defesa da liberdade

Soberania sobre a confiança em si depositadaEncarcerado da maldade enjeitadaMenosprezo pela ausência do que poderia ter sidoPausa, repouso, sossego merecidoRazão, soltura sem necessidade de argumentoEssência, mérito em absoluto discernimento

SÓNIA MAIO

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Olhos que choramNuma terra destruídaPelo fogo que incendeiaQue ilumina a noite escuraE sombria fria… friaCrianças que perderamTudo o que lhes era mais sagradoOs que mais amavam no mundoQue se foram e nunca mais voltarãoE tudo o que falta no mundoNão é apenas um favorE nem apenas gratidãoÉ apenas paz e liberdadePara Timor Lorosae!

SÓNIA NUNES

Timor

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A liberdadeTenho sede da liberdade,preciso de beber água daverdade.A liberdade de amar a vida,que é preciso ser vivida.

De vastos pensamentos,bebi o teu cálice.E o que me resta apenas,são as firmezas e convicçõespara seguir o caminho daverdadeira liberdade.

SÓNIA OLIVEIRA

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LiberdadeLiberdade é ser tua Flor,num jardim de amor.Livre como dois passarinhos a voar,num eterno paraíso de puro amor.

Fecho os meus olhos sentem-me a sonhar,meu Amor ao meu lado a beijar.Ser doida faz-me vibrar,e o meu verdadeiro coração gritar.

Ser poeta é a caneta a escrever,o que a alma pretende ao mundo dizer.Ser livre é um livro poder ler,viver a adrenalina e sem uma única dor ter.

Se voares, serei teu anjo a proteger,Se chorares, o meu ombro amigo vai-te aconchegar,Se sofreres, estou aqui para te curar,Se eu morrer, serás Tu a dar-me a vida para eu viver.

Ser livre é na pele sentir,todos os momentos com puro amor.Sem julgamentos oferecer,com muito amor para dar e vender.

SÓNIA RODRIGUES

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542antologia da poesia livre

LiberdadeA liberdade é um estado...Quando me, tocas,Quando te dás,Quando te soltas, e eu te desejoA liberdade do sentimentoQuando te gritoE tu, me sussurrasQuando te faloE tu, me escutasA liberdadeDe quando me procurasQuando te vejoQuando me vislumbrasQuando te sinto,E tu te entregasA liberdade do (des)apegoDo estar mesmo ausenteDe te deixar ir, mesmo na dorA liberdadeDe quando somosUm só, e nos (r)encontramosA liberdadeDe aceitar,Perdoar,Doar(mo-nos)Desapegar,A liberdade é...Desejar... mesmo que em silêncio.

SÓNIA SANTOS

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LiberdadeA liberdade é um poder,Liberdade é a nossa força.É essencial para sobreviver.

Ser livre de verdade Traz paz ao coração.Viver em fraternidade,Com amor e união.

Liberdade não tem idade.Liberdade é uma situação. Liberdade, liberdade Devia ser uma opção.

Liberdade não tem idade. Liberdade é uma situação.Viver em igualdade, Com amor no coração.

SUELLEN GOULART

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544antologia da poesia livre

A vida é leve...

A vida é leve e arrendada Sobre a réstia de espuma da água da chuva,sob o arco trémulo do arco-íris,estou sentado no muro de transiçãoqual homem especado para o mundo.Um após outro,tão embruxados,carregam às costas a cruz do quotidiano.São antigas crianças com asas queimadas,bailarinos que dilaceram os pés nos espinhos,pedintes da doença e da desgraça.Quem eu sigo?Não vendo o tempo que me foi cedidoà Ambição nem à Vaidade.Dou-o de bom gradoà causa impossível e ao céu estrelado.

SUPINO LATINO

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A ti que me salvasteFoi por isto que o povo marchou? Gritou?Foi por isto que junto dos bravos lutou?

Uma sociedade desprovida de humanidade,que usa da liberdade sem perceber o seu valor?

Onde se perdeu a seriedade, a busca pela lealdade?Conceitos estranhos aos que agora gritam liberdade.

Talvez o que esta sociedade precise, é de aprender a amar.E a amar, vai perceber o esplendor,daquele dia em que o povo português, se juntoue unido calou, aqueles que lhe infligiam dor.

Naquele dia, tudo o que se queria era poder sonhar.E foi, com melodia no coração, que o povo português se ergueu [e venceu.Uma nação que numa só voz gritou! Numa só voz cantou!

E o que ficou, foi uma linda fantasia de que a liberdade nos salvou.

Não foi a hipocrisia nem a arrogância.Não foi ao egoísmo nem a ganância.Não foi o poder nem o saber.Não foi o dinheiro nem o opressor.

Não foi uma flor! Foi o AMOR!Foi o amor que nos (me) salvou!

SUSANA COSTA

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Varrer as ondas do pensamentoTravar lutas ou ser Ulisses para partir e voltarAo mesmo, no ser de cada um.

Não julgar e ter capacidade de amar,De ver, por entre corpos opacos, água. E golpear aquele que já não sou.

Dizer sim ao presente descontínuo.Correr sem passado nem futuro,Inebriado para a foz - borrasca no mar.

Acreditar que o ser são átomos,Nanossegundos, compassados de fome deNão estar, em momentos de vazio.

E ser em liberdade aquele que nunca fui nem nunca serei. SUSANA CUNHA CERQUEIRA

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A palavra em silêncioVivemos de realidades, de premissas...Quantas vezes tomamo-la como nossa em vãos de escadas e mesas de cafésSomos Liberdade, dizemos!Avaliamos os nossos pensamentos e falamosFalamos como se Liberdade fosse só falarE porque não calar, meditar intransigentemente, ocupar o olharNão procuramos mais, porque não nos cabeCabe aos demais o efectivo fazerE assim, vivemos liberdades caladas e pensamentos escondidosSó entramos nesta batalha Liberdade quando de nossos pensamentos conseguimos que alguém os transforme em feitosComo que a medo de não serem eleitos!Somos subjugados à nossa impavidez,ao nosso silêncio que toma forma quando o Homem o torna eleito, conciso e realmente capaz.Buscamos a resposta que os outros não temem em dar e... sentimo-nos assim reconhecidos por pensamento.Haja pensamento, mas acção.Haja relutâncias mas decisões dentro de cada um de nós.

SUSANA OLIVEIRA

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548antologia da poesia livre

Deixa-te ir…Deixa-te sugar pela espiral de dor.Não tentes combatê-laAceita que já a conheces de cor!

Sente a pele a rasgar-seA entrar em combustãoCada músculo, cada órgão a desintegrar-se…Entrega-te! Assume a tua condição!

E então grita…Desespera… Contorce-te… Chora…Lamenta todas as perdas De todos os dias e desta mesma hora.

Pragueja, amaldiçoa, duvida…Perde a voz, fraqueja e cai!Mas não contenhas nadaNão te agarres à pele que agora sai!

Mergulha no âmago dessa dorEnvolve-a, como cobra à sua presaFunde-te com ela e incendeia-te…Sê a fénix que renasce em beleza.

Transcende a ilusão do limiteAscende na espiral da vidaResgata todo o teu poderLiberta a essência até hoje contida!

SUSANA RANGEL CERDEIRA

Alquimia da liberdade

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Que liberdade é esta que ao se manifestar deixa tudo e todos violar?(Não diz o que sabe nem sabe o que diz.)Que liberdade é esta que não enche o peito para se dar ao respeito?(Dela me quero afastar...)Que liberdade é esta que se esconde com vergonha?(Liberdade sem voz, esta.)E tu de que liberdade és feito ?Desta, daquela pouco sabes a respeito.(Antes me quero aprisionar)Só nos resta atuar!O que dizes a Liberdade mudar?

SUZANA REIS

Liberdade esta...

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Vivi a minha infância pensandoQue teria liberdade quando eu crescesse,Pura ignorância, puro engano, tenho a idade que tenho,E não consigo fazer o que me apetece.

Uma análise intrínseca se faz urgente Por uma questão de escolher ao que dar valor Ter carro, sucesso e diamantes é-me indiferente,O que eu gostaria, era sentir nas minhas asas algum calor.

O tempo é repartido ao segundo pelas inúmeras maratonas de afazeres,mas presa na tua cama num abraço profundoÉ essa a liberdade que ambiciono ter.

O tempo corre, o tempo voa Num vasto labirinto que parece não ter solução,Salpico letras em palavras cruzadas Para ludibriar o meu coração.

Embrenho-me em sonhos tresloucadosResponsáveis por desperdiçar tantas alvoradasTransmutados em contos de fadas amaldiçoados,De livros seculares de páginas rasgadas.

Lírios brancos, lírios do ValeBorboletas multicolores ao meu redorLibertem-me deste torpor, desta dor infernalDeixem-me voar como um condor.

T. M. GRACE

Ilusória liberdade

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Há quem sonhe de tudo um pouco.Há quem queira lutar com todas as forças.Há quem queira agarrar numa simples pedra e atirar ao mar.Com o efeito de a fazer saltar.Mas nem toda a gente tem essa liberdade.

Liberdade não tem cor, não tem cheiro.Ela não tem preço.Não queiram agarrar uma borboleta, quando ela só quer voar.

Sim, ela também tem liberdade para isso.Assim como todos nós temos liberdade para sonhar.

Também temos liberdade.Para tudo poder realizar.

TÂNIA CONCEIÇÃO

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LiberdadeNão chores mais, Mãe. Eu não estou zangado contigo. Tu serás sempre a minha mamã. Demorei algum tempo a perceber porquê, mas em cada lágrima tua vejo o reflexo dum mundo que não nos merece. Foi difícil perceber que diferença faria mais um ser, ainda por cima, tão pequenino, num espaço tão grande. Só depois entendi que corria um sério risco de crescer e, então, a tua vida ficaria seriamente em perigo. O teu espaço, os teus braços, os teus lábios, passariam a ser meus também e quando tivesses de fugir de quem te maltrata, terias de me carregar no nosso colo… e tudo seria mais agreste. Não chores mais, Mãe. A minha ausência é uma parte da tua liberdade. A outra parte só tu a podes conquistar. É só olhar nos olhos quem te rouba de mim, como fizeste no dia em que traçaste o avesso da minha vida.Não chores mais, Mãe.O não dares à luz não faz de ti menos mulher, apenas faz do mundo menos mundo. O não ser, não cansa. Um coração que não bate, não inquieta. Um rosto que não sorri, não aprisiona.Corre Mãe, corre atrás da tua liberdade. Ignora quem não te vê e beija cada flor que encontres no caminho. Não foste tu que não me quiseste, foi o mundo que não me mereceu.Não chores mais, Mãe.Se te faltarem as forças, eu estou aqui. Feito de amor e consciência. De medos e de coragem. É disso que são feitos todos aqueles que o mundo não quer, mas que, ainda que não cheguem a nascer, tiveram sempre uma Mãe.Não chores mais, Mãe…Cada lágrima tua é uma gota de chuva e o mundo cinzento precisa de mais raios de sol, como tu, Mãe.

TERESA BARRANHA

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556antologia da poesia livre

Sim, enquanto sussurro-te, enquanto encosto os meus lábios suavemente no teu pescoço ouço-os a conspurcartodos os nossos gestos,- Beijavam-se desenfreadasaquelas cabras com o cio. Putas!Toco-te com gentileza, tenho medo que desapareças no meio de tanto ódio,tenho medo do medo que tens.Dizem, sois livres,tendes o vosso arco-íris,a vossa bandeira, o casamento.Não amor, dá-me a mão, não chores, não, não passearemos de mão dada pela rua nem apregoarás a nossa união.Não teremos filhos mas caminharemos nas vielas secretas de todas as cidades onde te poderei beijar, respirar e estar.

TERESA DURÃES

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LiberdadeCanto oculto a efervescer,Palavra ,de por dizer, não dita,Reverso de um verso antes de ser, A liberdade.Sempre uma emergência Às primeiras horas,De um dia qualquer, A liberdade.O poder de um grito,Um corpo por nascerPrimeira página ainda por escrever, A liberdade.- Que vai acontecer, a

Li - ber - da - de

TERESA GOMES

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LegadoLiberta - te da tua zona de conforto e escuta o meu apelo:Irmão, não sejas conivente! Age!

Bane as teias do preconceito; Ergue a tua voz contra a repressão.Reage à indiferença e à apatia:Defende a Verdade, o Direito à diferença e a Dignidade.

Atenta nos falsos profetas e nos seus dons visionários: Desmascara as suas mensagens manipuladoras; Estilhaça as grilhetas da ignorância e do fanatismo que elas encerram.

Assim, farás a mudança:Brandirás o pendão da razão contra os excessos da emoção;Ratificarás o poder da Fraternidade e da Igualdade na preservação da Liberdade.

Serás amado por unsE temido por outros.Mas a memória da tua luta Prevalecerá e o teu nome ecoará para sempre,Relembrado por todos os que anseiam seguir-te no teu Exemplo de coragem e de tenacidade na defesa da LIBERDADE.

TERESA LUCAS

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Sonhado és…Confesso sempre: aí habita Deus.Liberdade, doce, medusante…

Visto aos dezassete, sonhado por vinte e nove.Meu doce e querido espaço.Espaço sonhado ou vivido?

Aí, estou livre,Longe desse génio maligno,Dessa disrupção intermitente,uma liberdade perene.

Ao pé de ti, meu amor telúrico,vivo a liberdade,canto a Pedra Bela, as cascatas.Nado, livremente, na água da vida.

Deixa-me viver aí, Livre só de te contemplar, meu amor, meu Gerês.

TIAGO LUIZ

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Já fui livre um diaE morto a liberdade me deixouQuando só a ti eu viaE a solidão me afogou!

Mas fiquei aqui presoQuando ingénuo te perdiE agora triste esmoreçoSonhando o que não vivi!

Já não sei se é saudadeOu apenas dor,Hábito ou ansiedade

Se é sofrimento ou ainda amorOu se é apenas a verdadeDeste meu anseio de eternidade!

ULISSES ANTÓNIO DA CRUZ PEREIRA

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564antologia da poesia livre

Queria ser livre...

Queria ser livre como um galo

Se eu fosse como um galo… é claro que Cantaria a qualquer momento Em qualquer lugar da terra Cantaria sem precisar de permissão humana,Cantaria qualquer cantiga do meu agrado Com o cantar melódico que só pessoasComo eu poderiam saber o significado.

Se fosse como um galo, seria igual a todos…Não escolheria lugar para cantar E nem para as convivências Viveria com todos no mesmo conventoComo fazem os galos e as galinhas De todos os tamanhos e cores.

Todos os homens e mulheres seriamMeus companheiros, meus amigos de verdadeNão daria importância aos lugares de preferênciasPois não haveria tanta preocupaçãoCom estes lugares que para mimSão iguais a todos os outros.

Se fosse como um galo… é claro que Falaria sempre a língua que todos Os meus irmãos entendessem.

UREM COSTA

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Viver em agoniaempenhado por várias vidasexplorado todos os dias,sem esperança de quebrar o triste destinofilho de escravopai de escravopeça de uma engrenagem substituível,máquina para produzir.

Isto é não viver,não sentir,é sobreviver com o sonhoe agarrar-se à ilusão que afinal tens livre escolha, que tens direitos, que és homem!

Fugaz brilho nos olhos do moribundo!

Mas um dia tudo muda…

VALDEMAR S. DIAS

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568antologia da poesia livre

No teu abraçosou larva protegidade todo o perigoe agrura da vida.

Esconde-me.Deixa-me ficar aquià espera da mudançaque tem de acontecerpara eu viver.Abriga-me.Quero sair de mimtransformar-me…reinventar-me…Sê o meu casulo.Guarda nos teus braçosde seda maciaeste ser frágilcansado de rastejarqual lagarta perdidanum qualquer lugar.Quero mudar…Quero renascer…Deixa-me ser crisálidaagarrada a ti

até expandir as minhas asas coloridas e voar em liberdade…

VANDA CAMACHO

Metamorfose

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Amor livreTemos cartas de amor em nós tatuadasE mãos que ainda sôfregas nos não mentem.Temos poemas e músicas encore gravadas,Nos olhares que sempre cúmplices nos traem.Temos um ocioso e indolente entendimento,Que transcende a palavra e o discurso racional.Quero-te no mais impuro e fero sentimento,Incessante, impaciente, ávido e carnal.Que a vida nos afete sempre o discernimento,Que demência foi não encontrar este sentimento,E a prudência nunca antes me trouxe até ti.Que o desvario norteie sempre o nosso futuro,Com rugas, excêntrico, insensato e maduro,Que eu antes quero ser cega a ver o que já vi. Amo-te sob a pele que cobre a tua essência,Quero-te mais que a força que nos move.Se é loucura, ingenuidade ou inocência?Creio somente que é amor, não se resolve.Não há sobriedade nesta nossa relação.Tudo é excesso, extravagância e imprudência.Não há modéstia, comedimento ou contenção,Que a nossa carne é dada a esta urgência.E eu sei em ti que tudo é meu e vice-versa,E que esta unidade sendo volátil foi impressa,Naquilo que eu e tu nunca dissemos.Mas sei que sabes como eu sei que esta promessa,Foi selada há muito num pacto mudo feito à pressa,E que sem falar eternamente o prometemos.

VANESSA CASAIS

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570antologia da poesia livre

Liberdade é pouco.

LIBERDADE é pouco.O que eu desejo ainda não tem nome

Desejo a liberdadeDe pensarDe agirDe ir e virDe ser assim

Desejo a vidaCom altos e baixosCom trilhos e asfaltosCom sol e chuvaCom amor na madruga

Desejo amarCom simplicidadeCom fraternidadeCom atraçãoCom paixãoDesejo a liberdadeDas formasDas coresDos saboresDos amores

É a minha essência, não posso mudar. Se um dia for diferente, não serei mais eu...

VERA MENDES

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Um bando de gaivotas voandoCortam o infinito do céu,Rodopiando.No seu voo elas definem a pazE o amor reina nos céus.

E o maravilhoso azul do céuContempla tudo com a sua alegria.Mostrando aos humanos comoÉ bom ser livre.Possuirmos a liberdade e poder de escolha.No seu voo livre e beloNós estamos diante de uma belaOrquestra angelical.

Louvando e dizendo salmosEntendo a paz no mundo.Espalhando amorPor cada viagem.

Cantando em prol da libertação,O homem veste as roupagensDa gaivota.Tenta voar bem altoNo imenso céu azulCheio de coresDo arco-íris.

As gaivotas

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572antologia da poesia livre

Deseja encontrar a pazTão desejada.Mas as asas partem-se e eleCai na terra.

Terra cheia de caminhosDesconhecidos.Onde vai poder aprenderE evoluir.

VERA ROCHA

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Dura, e sem uma solução certa

é a angústia do pobre.

Que sem norte, a fome aperta

Falta de dinheiro, doença, ou droga de vida!A mera impressão, de viver numa prisão, onde se vive de opressão. Vida de mísero, salário, parece esmola,Que de pena, em nosso cenário mora. E o governo, que é um exemplo de modelo desgovernado, canta como um canário. e nos faz cidadãos a moda da fome no calvário Sim, os filhos mendigos que nunca foram a escola.

A outra face da moeda sem escolhaque vê políticos tiranos, que acham se com razão, em sua justificação, de nos tirarem o pão!

VINO SILVA

Vida de pobre

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574antologia da poesia livre

Tomo a liberdade De tudo escrever,Pensar e dizer Com verdade.Seja ela explícita,Confusa ou omissa,Toda sua premissaÉ simples e lícita,Fielmente entendidaSe atentamente lida.

Cada um é livreDe ser quem é.Por nada se priveDo que sente Como gente.Sem reprimir Sua real fé,Nem omitirSua identidade Com falsidade.

Ninguém é igual A ninguém.Como tal,Deve assumir Sua diferença,Em prol da vontade Num rol de acuidade.Sem ofensa, Deve transmitir O que pensa,Pois mal ou bemSerá aceite por quemO entenda,E talvez alguémSe surpreenda!

VIRGÍNIA PAULA RODRIGUES

Com verdade

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O que é a liberdade?O vento a espalhar no ar sementes das árvores e das flores que estão presas ao chãoA luz que ilumina a escuridão dos dias tristesA corrida presa de quem não pode caminhar Então ser livre é sonhar?Não, ser livre é poder realizar!

“ Era uma vez um menino que não tinha paz.Não sabia o que era a paz.Nunca tinha vivido um dia de paz e pensava que viver era fugir dos disparos e da morte.E, no entanto, era livre esse menino, porque mesmo sem lá ter vivido, ouvira falar de lugares onde era permitido estar e pensar, sem medo. Dissera-lho a sua avó antes de morrer.O menino gostava tanto de sonhar que vivia num lugar assim que começou a voar na sua liberdade:Um dia acordou perdido no meio da morte e do cheiro a peixe do mar E alguém lhe deu colo luzes e vida.E era a paz ali… Foi assim que descobriu que só é verdadeiramente livre quem procura um voo para a sua liberdade.”

VIRGÍNIA VALENTE DE CASTRO

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LiberdadeEu quero voltar para casa.Quero voltar para a felicidade,Mas o sentimento atrasa.Tem força, intensidade.

A liberdade é um atoPraticado por todo o poetaQue grita a cada sentimento,Cada palavra, escondida, liberta.

O sentimento almas racha,Não tem espaço para a saudade.Por enquanto vou continuar a minha marchaEm busca da liberdade.

VÍTOR CARVALHO

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Depois de pilhas de vidasVividas com falta dela,Já há pilhas sob liberdade belaSob o peso do passadoE de tanto não passado da semente.

Já é tempo de avanço calmoe não de corrida perdida urgente;O perigo já não é faltaDe conversa fora da caladaMas de só nas cadeirasDe S. Bento haver liberdade vera.

Há urgência agora em quemNão tem nada e quemSó tem algo com vida paradaNuma gaiola dourada.

Só há liberdade a sérioQuando se der a cada umA paz e o poder de fazerSeu pão, habitação e vida.

Princípio e fim são de todos sãoA liberdade, hoje requintadaNo quão condicionada.

Dai ao povo o que o povo produzir,Poder de decidir. Não se sorva livrementePara Uns o que a todos se destina.

VÍTOR GROSVENOR

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Sinto-te a alma ó lusa gente quando espelhoMeus olhos no salgado do teu orvalhoInquieto-me na grandeza dos feitos que te invejoPovo tamanho que te canto sempre que almejoA memória dos anseios que com coragem mareasteE se da história o que falta não contasteSe nos segredos escondeste aventuras que flamejoNão é difícil descobrir por onde caminhasteSe na coragem de uma liberdade ameaçadaFoste nobre em pouca gente acostumada A heroicos mandos de aventura ousadaE se o sangue que os teus olhos viram era carmimAcredita que uma parte dele era também de mim

VITOR ROBALO

Gente lusa

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LiberdadePara quê a LiberdadeQuando um país morfinaO barco mete águaPor todos os ladosOs rumores da guerraPairam sobre a nossa terra.

Para quê a LiberdadeQuando o perfume se esvaiOnde reina a discórdiaA sorte é deitada foraO gosto de viver enfraquece O corpo é dilacerado.

Para quê a LiberdadeNa hora do conflitoO homem procura em vãoTudo está desestruturado Por todo o ladoVivemos em charcos.

Para quê a LiberdadeQuando os novos profetasSe fazem cortar a cabeçaQuando tudo o que contaÉ nada fazerE contar à mãe e ao pai.

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580antologia da poesia livre

Para quê a LiberdadeSe nada mudaNem o gostoEstamos de joelhosUma bandeira que voaQue se escapa pelos dedos.

Portanto, a LiberdadeQue é a virtude suprema– e é por isso que eu gosto dela –É a nossa dignidadeSe ela sofre,Perdemos toda a esperança.

VITOR ROSA

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Amarrado a um Amor!Desprendimento de capas,de faz de conta, rasgar como “será melhor” qualquer cena!Liberdade é estar agarrado a um Amor,e estarmos nas tintas para o controlodo que dizemos!Liberdade é esperar por ti todo odia sentado no sofá, e desejarver-te, nem que cinco minutos sejam!Liberdade não é ver o mundo pelosmeus olhos, se nos anichamos debaixodo mesmo teto, quando demando sozinhopelo mundo! Mas liberdade ésó querer ver mundo lá por fora desde queseja pelo nosso olhar!Liberdade é só querer sentir o que aalma grita, nem que seja o grito de tudoem ti fazer!Liberdade é procurar o orgasmo em cadacanto de todas as cores, sempre demão dada a ti!Liberdade é galantear toda a belezaque se exprime pelo universo, se elase resume toda no teu sorriso!Liberdade!E bateram-me à porta! És tu, liberdade?E eras!

VÍTOR VAZ

Quem és, liberdade?

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O sol de Abril brilha tantoQue mais que luz traz encantoÉ um regalo de ver

Que até a linda gerberaDando vivas à PrimaveraVirou-se toda p’ra eleDando a cor a conhecer

E também eu que andava murchaCom tanta coisa que embuchaResolvi delas dar de frosquesTomar a vida e viver

Que o imbróglio somos a genteQue a pensar no nosso umbigoEsquecemos que o sol amigoQuando brilha é para TodosE que há Gente sem mioloQue atesta o Povo de toloSemeando a miséria a rodosE que urge fazer mudanças...

Por isso viva a LiberdadeCom a conquista de pensarQue se não houvesse AbrilEu não tinha oportunidadeDeste poema escreverE nem sequer de o sonhar

Pelo Futuro do MundoE por todas as criançasVIVA A LIBERDADE!

ZAIRITA HORTA

Um poema de abril

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Sou uma ilha aberta para os outros.Mas há que abrir as cabeças ainda mais para arejar as ilhotas que nos fecham nesta terra afagada pelo mar.

Tenho a mente a ferver de pássarosque voam livres sobre as montanhas, os lagos e as ribeiras, que são lugares de paz que exaltam a vida de um ilhéu.

Entendo tão bem a linguagem dos pássaros.E isso basta-me!

Sorrio desalmadamente, porque o sorriso é um gesto livre que envolve toda a ilha.

Não penso só numa linha, penso livrementee sempre através de linhas cruzadasque mapeiam até a face basáltica da ilha.

Nesta ínsula, a matéria da mente é a liberdade.Pois sem liberdadenão me encontro fora de mime dentro de mim há um desencontro.

ZÉ ABREU

Ilha aberta

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Um Conceito de Liberdade

Liberdade é poder serAutêntico e verdadeiroE em tudo poder crescerDe modo pleno e inteiro

É ver no outro um irmãoSempre pronto p’ra ajudarEm tudo com prontidãoE liberdade p’ra amar

A liberdade é viverSendo em tudo responsávelE de sua vida fazerConduta incontestável

Não esqueças que a liberdadeÉ agir com a razãoE responsabilidadeNo mundo ter por missão.

ZÉLIA CHAMUSCA

Um conceito...

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