coleção aplauso - perfil de luís alberto de abreu
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Lus Alberto de Abre
At a ltima Slaba
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Governador Geraldo AlckminSecretrio Chefe da Casa Civil Arnaldo Madeira
Fundao Padre Anchie
Presidente Marcos MendonaProjetos Especiais Adlia Lombardi
Diretor de Programao Rita Okamura
Imprensa Oficial do Es
Diretor-presidente Hubert Alqures
Diretor Vice-presidente Luiz Carlos FrigerioDiretor Industrial Teiji Tomioka
Diretor Financeiro eAdministrativo Alexandre Alves Schneide
Ncleo de ProjetosInstitucionais Vera Lucia Wey
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Lus Alberto de Abre
At a ltima Slaba
por Adlia Nicolete
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Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca da Impren
Nicolete, Adlia Lus Alberto de Abreu: at a ltima slaba/por AdliaPaulo : Imprensa Oficial do Estado de So Paulo : CulturAnchieta, 2004. --184p. : il. - (Coleo aplauso. Srie teatro Brasil / coorEwald Filho)
ISBN 85-7060-233-2 (obra completa) (Imprensa OfiISBN 85-7060-274-X (Imprensa Oficial)
1. Dramaturgos brasileiros 2. Escritores brasileiros 3histria 4. Teatro Produtores e diretores 5. Abreu, Lu- Biografia l. Ewald Filho, Rubens. ll. Ttulo. lll. Srie.
Foi feito o depsito legal na Biblioteca Nacional (Lei n 1
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Introduo
Conheci Lus Alberto de Abreu no
da de 80, num curso de dramatu
oferecia nas Oficinas Culturais Trs
Paulo. Uma srie de fatores fez co
sistisse das aulas e tornasse a encon
te em 1996, dessa vez em Santo Aaluna por alguns anos e posso di
do que elaborar textos de teatro, s
tornam pessoas melhores. Estudo
gia, mitologia, trajetrias heric
refletir sobre o mundo, sobre a
vida, nosso prprio caminho.
Nas conversas que tivemos para
convenci ainda mais da sua extrem
b d f
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cionamento familiar, para a comproutro e do mundo.
Pode-se dizer que uma pessoa mui
primeira vista parece bravo. Neste de
vamos descobrir que talvez isso se d
timidez ou descendncia de gar
de um lobisomem! No decorrer doporm, ele vai se mostrando afvel
do, embora sempre mantenha a fera
linhas. A mesma fera que o impele a
balhos, a no se deitar sobre os po
ros, a no dar crdito exagerado a
Conforme diz, s ele sabe o quanto p
escrever um texto e nenhum louvor go prximo trabalho ser fcil.
f l b
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depois que comea o preparo. Ntambm no abre mo da inven
tando outros sabores, no se cont
a mera reproduo de uma receit
Abreu coloca amor e capricho em
mete a fazer. Diz que herdou iss
me, brava como o qu, herdououvir e contar histrias reais o
pouco importa. Talvez venha da a
contar enredos de livros, peas e fi
ta riqueza de detalhes que parece
do ou assistindo junto com ele.
Achei que seria fcil conseguir entrfoi. A agenda sempre lotada de
tras, reunies, novos textos direc
l
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livro. Afinal, so quatro filhos cadarando a sua vez de entrar em cena
momentos Abreu se emociona, a me
o com que fala do convvio com
morte da me; com que fala dos am
inmeras experincias agradveis qu
lhe proporcionou ao longo da vida.
Muito me ajudaram outras fontes d
o, tais como notcias de jornais e r
tura de suas peas e a tese de dout
elaborada por Rubens Brito a respe
obra. Amigos e ex-alunos mandaram
guntas via internet Elaine, Ana R
em especial; as reunies constantes cgos ofereciam outras verses de algu
os irmos do entrevistado serviram
b l l
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textos de Lus Alberto de Abreu e diria com ele.
Sim, convivncia diria. Ia me es
dizer! De ex-aluna de dramaturg
formei em esposa h alguns anos
Ad
A
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Captulo I
O Mundo o Territrio do Mistr
Na noite de sexta-feira da quaresm
contava, tinha homem que virava po
Em alguns lugares do Brasil viramem. L no Vau, lugarejo perdido
Diamantina, virava-se porco, mes
peludos, terrveis. E, embora sun
mados de lobisomens. Eles se embre
mato, fuavam o lixo e tinham,
principal, se refestelar com fezes d
preferncia as mais novinhas. Na rro Frio tinha desses, minha me
deles. Um no, dois. O primeiro e
h d f lh
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mato, que era de onde ele voltava. Aa aproximao de algum, ela se tom
ragem, e foi ao seu encontro. Era o m
ao v-la, tentou se esconder. Em vo. D
de ela perceber, pendendo de sua b
vermelhos, como tiras de tecido que
mas que teimavam em permanecer
lher no fez nenhuma pergunta, porque descobriria tudo antes do domin
coa. Saiu pelas redondezas como que
algo que no sabe direito o que . Sab
do achasse.
Ao visitar uma conhecida do outro la
a mulher do Ciraco encontrou a taOs vizinhos ainda estavam aglomerad
te do casebre, comentando o fato es
d d h d
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A me, embora com medo de ser bm, pegou o trabuco que o mar
comeou a atirar, de modo a ass
que fugiu correndo, arrastando co
dao da coberta que conseguira m
lobisomem, no tinham dvida.
Ciraco quis ver o local do acontec
ainda pendia uma parte da cobertde um naco da franja vermelha.
nada. Voltou pra casa e rezou pel
O outro lobisomem que minha mera s de ouvir falar. Nada foi pr
av paterno dela, o meu bisav L
Minhas quaresmas e a de meus filhopre foram tranqilas. Acho que o t
na metrpole, de certa forma, fo
d d d d
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dele. claro que muita gente transnuma violncia indiscriminada e p
nesse animal, nessa fera, ou se compa
Porque, curiosamente, o processo ci
a sociedade de consumo, a excluso
ram tirando de muitos homens e mulh
h de mais humano neles, justament
diferencia da fera.
Ento, at como forma de sobreviv
recobram e mantm vivo isso que e
animal mesmo... Se a gente, ao contrtm o humano atuante e a fera sob
gente ganha com isso.
Os avs maternos de minha me era
lia Baracho. Eles vieram de Portugal p
l d d d l
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Dizia-se que ele era comandante dde africanos, escravos que chegav
e eram enviados para a zona de m
costume naquela poca, quando
ria durante o trajeto, quer nas gra
martimas, quer nas grandes viage
encerrar o defunto num quinto
barril cheio de cachaa, de modo corpo at chegar a alguma cid
dar sepultura crist.
Aconteceu de, numa dessas viagendos companheiros do Baracho Ve
hbito, mergulharam o finado n
pinga. Tempos depois, quando fingaram a uma cidade, ao abrirem
tirar o corpo, espalhou-se fedentin
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te a viagem. No se sabe se foi assimceu a fama de bons bebedores dos B
se foi essa a explicao para a fama.
Quem me contou essa histria foi P
deiro Braga, velho morador do Vau, e
bro de 1998, quando l estive em pes
o roteiro do filme Os Narradores de JPedro Cordeiro foi o mote para a
protagonista Pedro Bia, interpretado
Dumont.
Do incio do sculo XVIII saltamos pa
do sculo XIX, que quando vamos
os Baracho, fixados no distrito diamdo Vau e no lugarejo prximo, Ribe
ferno. O Vau parece ter sido uma cor
d
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ro. O diamantinense conhecido cbravo. A fama, com certeza, vem
garimpo. Os garimpeiros, mesmo
lonial, eram todos bandidos, eram
porque quem podia extrair, oficia
os contratadores quem a coroa
permitia. Os garimpeiros eram in
estavam sempre em luta contra osEnto os Baracho eram assim. U
que no era rica, mas de gente
gente de briga mesmo.
Acho que da desconfiana que diz
neiro tem, tambm vem do garim
era preciso tomar cuidado com quno confiar em ningum. E eles co
coisa at hoje. Aconteceu uma ve
d
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Chegamos. Bom, no porto da casa da a gente bate palma, de casa!, e
atender a porta o meu tio Paulo,
minha tia. Pois bem, de cara ele rec
Clio, cumprimentou efusivo, etc. Q
estiquei a mo, todo animado,Oi, t
ele no correspondeu! Olhou para m
a baixo, demorado, e perguntou: QueFiquei assim, com a mo parada no a
tio! Sou Lus, filho de sua cunhada
ele abriu um sorriso, Como que vai?
mo, me abraou. Mas enquanto nnheceu, ele ficou fechado.
Ento, vamos continuar, que eu tenh
nia de ir e voltar nos assuntos. Po
1850, nasce Jernimo Baracho que
l
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zao portuguesa e, de resto, todzaes, foram extremamente vio
is, apesar do esforo da histria o
cobrir tais fatos. No difcil im
em tempos coloniais como loca
entre mandatrios da coroa portu
peiros e negros quilombolas. O ga
considerado bandido, proscrito, do pelos drages reais. Regies d
tm sido conhecidas historicamen
mundo como palco de conflito.
O Vau no teria sido diferente. D
Jernimo e Antonia de Tal na
quantos filhos) entre os quais
Baracho, por volta de 1885. Foi es
que se casou com Egdio, filho do
b
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20Sou o caula de uma famlia de 10 filmens e 3 mulheres. Uma famlia ti
mineira, do nordeste de Minas: Di
Affonso, meu pai, era carpinteiro, u
dos melhores, de ascendncia portug
longnqua mesmo. Violeta, minha m
f
Vau Distrito mineiro onde morava sua me
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No era essa cidade turstica que pois que acabou o perodo do ouro
tes, final do sculo 19 e comeo do
entrou em franca decadncia! Prat
tinha meios de vida l. Tinha s come
deiro e garimpeiro e mesmo esse
pobres. E meu pai sendo carpintei
pedreiro muitas vezes, ele ia pra ondelho. S que na regio todo o traba
pouco. Ele construiu uma escola, dep
e, ento, acabou, no teve mais jeit
colocar uma oficina de carpintaria,no deram muito certo se-
gundo minha me, era puro
mau-olhado e feitio que fi-
zeram... Naquela poca, final
da dcada de 1940, a famlia
f lh
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E minha me era bem capaz de fazer io meu pai tinha a famlia, os amigos
como ... Tentou negociar, propondo
Horizonte, que era mais pertinho, mais
tar. Porm, meus irmos contam, deu-
que fez meu pai aceitar a idia rapidin
Seu Affonso no era uma pessoa l
dula, no. Era catlico praticante
bastava, no era de dar trela pra su
crendices outras. S que o que acon
debaixo do nariz dele fez o homem tbases. Ele ainda estava naquela fase
entre vir ou no para So Paulo, e m
angustiada porque, alm da falta de
ela desconfiava de que estavam fazecontra eles. Pois bem, um dia minha m
de manh e v, num canto do lado
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casa, haviam colocado mais um puA, minha me ficou desesperada.
alguma coisa que esto fazendo
tomar cuidado, tomar providnc
sossegado, continuava com a idia
vam apenas querendo brincar. Var
e pronto. Na terceira manh, a no
tapar o sol com a peneira. Estava loutro monte de sal. noite, meu p
ficou esperando, de tocaia, para ver
cia ele no ia deixar que fechasse
casa. Tudo quieto, l as pessoas iamcedo. E o meu pai l. Tinha passado d
quando ele viu um vulto se aprox
mente do ltimo canto, fechando o
Meu pai gritou, disse que iria atira
d f b d
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Os namoros l no interior de Minas semuito rapidamente. Naquela poca,
gostar e pedir em namoro pros pais. Se
sem, pronto, acabou, estava feito. Se n
vezes, os casaizinhos fugiam. Ento, era
muito rpida eu estou falando do fina
de 1920. Minha me era a oitava de
adolescente, estava para entrar no freiras de Diamantina. No dia em que
Maria Jos estava levando minha me
trcula, elas aproveitaram e foram a um
igreja. E meu pai estava nessa festa. E ficou olhando pra ela. Eles se interessa
guma forma um pelo outro, s que n
conversarem naquele dia, porque era
cil, ainda mais com a me por perto
passou o tempo e promoveram outra f
d
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ela! Minha me contava pra gentea dela, ela pensava: Mas esse rap
rente...Ela olhava e era isso que p
nada. Ento ficaram assim, tirand
se dizia naquela poca, paqueran
meu tio tambm no conseguiu c
ela, mas voltou para casa, todo ga
pro meu pai: Affonso, eu conhemuito bonita hoje, e ela ainda va
migo.A meu tio foi descrevendo
meu pai que, atnito, respondeu
comigo, no, Z Maria! Essa moa
Comeou a discusso porque, afina
tambm no era namorada dele. N
s restou meu pai bater em todas
saber onde morava a moa. No
h
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E que sorte: estava sozinha! Meu pai laro e foi atrs dela, chamou. Minha m
direito quem era, ficou confusa! E a ele
os fatos, falou que tinha gostado de
queria namorar com ele. Minha me
estava entrando no colgio, ia ficar
Ento meu pai disse que esperava. E esp
certeza ficaram se vendo de algumacomunicando. Bom, ela saiu. E meu p
que depressa, foi l e pediu para namor
de pouco tempo se casaram. Meu tio Z
deu muito bem tambm: casou com Mtia Guida, que mulher de valor. Tiver
filhos. Trs deles ainda vivem em Diam
E Diamantina, toda aquela regio,
em histrias! O colgio em que minha
d d l
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to com o mundo, eles construram
uma ponte, toda fechada, por c
lembra um pouco a Ponte dos Su
Veneza, s que por l passavam os E esse passadio guardava histrias
era uma coisa muito rica! Dizia-se
penitente que aparecia por l noit
passava, ia e vinha pelo corredor. dizia que o colgio fora construdo
uma antiga priso de escravos, ent
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Eu me lembro da minha me contandsas histrias, esses causos. Ela no
coisas de um modo corriqueiro, como
ples repetio. Quando ela contava, e
va a emoo do momento, o suspens
lhes. Isso uma caracterstica precio
narrador. Ele no conta simplesmente
revela uma experincia. Toda vez qmesmo acontecimento, ele est eivad
a emoo do momento, de toda
imagtica, de como se deu o fato. M
era uma excelente contadora de hisvia todo um colori
ado pela carga de
que ela tinha nessa
Era uma pessoa que
mesa grande l de
d d
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sas todas do mundo eram possveis do o territrio do mistrio.
Ela sempre foi muito catlica, na
uma questo de misticismo. Isso
cultura, no quer dizer que a pe
ou mais inteligente, que catli
mundo parte do mistrio. Isso ddade de imaginao muito grand
tam as explicaes cientficas, h
outro tipo de explicao. Ento e
nha infncia num ambiente ondefantasia, de liberdade imaginati
comum. Acontecem mistrios no
ns no somos capazes de explica
esto fora do cotidiano. E a gen
no. No questo de crer, de t
d d f d
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conta que o Dumont dele um refindo monte. Olha que interessante.
cheio dessas coisas. Ento l, naque
es, eles tinham muito disso. Dessa
que eles aceitavam como verdade.
histrias, para eles, eram muito palp
Eu tenho certeza de que muito da mxo por contar histrias atravs do
cinema, da literatura vem da, dessa
ouvidas na infncia e juventude e qu
mente, eu fui garimpar l em Minas. nisso, acho que esse caminho que e
trilhar tem, tambm, muito a ver com
po. Essa profisso meio incerta que
com cultura e arte, escrever pra teat
ber de fato se uma pea vai fazer
d
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risco. No sorte. Porque no garno adianta nada.
O garimpeiro um sujeito que p
ele tem que conhecer muito bem
na prtica. Ele tem de saber onde s
o do diamante, onde pode e on
ter diamante; onde j foi lavradofoi; onde j foi lavrado pelos escra
perodo colonial, e at onde os
lavraram. Quer dizer, tudo isso o g
velha tradio, da bateia, sabia. foram garimpeiros e eles sabiam.
mas muito bem planejado, prepa
diminuir um pouco o tal do risco
de rios que tinham, e eram rios de
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Minha me contava que o irmo mais meu tio Silvrio, ia pra bem longe, l p
do Inferno, garimpar. Ficava l um tem
va com diamantes, que ele vendia po
irrisrio, que eram vendidos por um pr
pra Belo Horizonte, depois um preo
So Paulo, que vendia melhor pro c
do. E com o que ele ganhava, poditempo sem trabalhar. E ficava beben
ra, comprava coisas pra comer e, qu
nheiro terminava, voltava a procura
tes. Essa no a minha vida, claro. Ameu pai, com a valorizao do trabal
tinha, de uma atividade sistemtica, m
ciou tambm. Mas o apego ao risco
do garimpo, acho que fiquei com ele
l f l d
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tempo, mandavam notcia pra Disas coisas. J tinham at chamad
antes, mas eles s se decidiram n
como eu falei. Meu pai veio pro
comear a vida e ficou sabendo de
do Campo, onde havia uma nasce
de mveis. Foi para l, conseguiu
e pde chamar a famlia.
Enquanto minha me permanecia
tina, foi tentando vender as coisas,
Ofereceu at pro Juscelino Kubitsconhecido deles, mas acabou ve
outros. Em So Bernardo, eles mora
numa casa alugada, na Vila Baeta
tiveram o filho de nmero 9, minh
Helena a quem minha me deu
d d
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ele um arrabalde, um subrbio bem de So Paulo! A rua principal, a Marech
da minha infncia, era de terra eu ac
o calamento e as ruas em volta co
de cho batido. Eu at que nasci nu
mais tranqila. Mas antes de eu nasce
saram por maus pedaos como na
epidemia de varola.
Ainda moravam na Vila Baeta, por vol
50, quando surgiu uma epidemia de
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regio. Contam que meu pai contque, naquela poca, era muito per
dizer no existia mdico em So
pessoas iam se tratar era com o
mesmo, um tal de doutor Ismael.
medo, minha me foi conversar co
o que estava acontecendo com m
ele estava. O farmacutico falou:no conte nada para ningum!P
me ficou mais assustada ainda. N
dar dele, mas silncio absoluto! A s
pode vir, pegar o seu marido e lePaulo, deixar l. E l, pode contar
nha. Eu no sei at que ponto is
terror ou era fato mesmo. Mas se
brar, as condies sanitrias da
eram muito precrias. Minha me f
d l l d f lh
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nada. O chuchuzeiro deu durante toddo meu pai, e quando ele sarou, a
planta morreu... Minha me diz que f
dncia, que foi algum tipo de milag
De novo, as histrias da minha me.
Na minha infncia, o ABC praticament
tia, n? Ainda no existia nem esse teA regio era constituda de cidades mu
nas. As mais desenvolvidas eram San
So Caetano do Sul. So Bernardo e
mente uma vila na dcada de 1950,mais importante do municpio ainda
indstria automobilstica. Eu ainda era
meu pai comprou um terreno num ou
o Nova Petrpolis, e ele e os filhos m
que eram trs, comearam a construir
h d
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casa pequena, apertada. Mas comdivertia todo mundo falando ao
po, criana passando por entre a
adultos, porque no tinha espao
guna! As rodas de bordado das
com as vizinhas, preparando o en
casamento que ainda no tinha n
minha irm Maria Jos, a Zez, cainteirinho os sucessos do rdio
alves, Cauby Peixoto, Cascatin
Dalva de Oliveira, Vilma Bentive
Duran. Aquelas canes ecoam nmria, ainda sei praticamente tod
Tudo aquilo era muito bom. Por o
o irmo caula tinha tambm suas d
Todo mundo achava que podia ma
l lh
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38L em casa o valor do estudo era c
importante, principalmente na cabe
pai. Por questes sociais, educacionais
que mulher no precisa estudar muit
betizada j era suficiente. Os home
Lus e Agostinho
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maioria fez faculdade de Direito, ao curso que tinha em So Berna
poca. Se tivesse uma USP por l, ta
sem feito uma srie de outras cois
Meu pai gostava de ler jornal. Era e
prar pra ele: tinha 6 anos e descia a
Rua Marechal Deodoro. Era um joA Hora. Ele lia revista tambm. Em
do eu era pequeno, tinha muito
vros do Clube do Livro, Tesouro d
At os 9 anos, convivi com meu paiUma porque eu era o filho mais n
porque ele tinha um problema sr
tinha tambm doena de Chagas,
os trs anos finais da vida dele, e
casa e pudemos estar juntos. Os f
lh b lh d d
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mesmo fabricava ou que comprava.pedindo as ferramentas e eu corria a p
pai era uma pessoa muito afvel, mu
Uma lembrana que eu tenho da a
dele. Ele tinha uma autoridade bastansem ser autoritrio. Era uma autori
porque era de respeito, no de violn
o respeitavam muito. Minha me pofalar, xingar, bater e isso era uma c
meu pai xingasse, a j tinha outro pes
no gostava de levar bronca do meu
Porque a gente gostava muito delegostava da minha me tambm. Mas
coisa de me: ela bate, dali a pouco p
no adiantou nada... Sempre me im
a autoridade que ele tinha sobre a fa
l h l f
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Ele sempre falava: Olha o caprichoficou na minha cabea, de tanto q
do. At como palavra mesmo, eu go
capricho.
L em casa, todos os meus irmos e
herdamos isso do meu pai: o gosto
com madeira. E somos todos, dmaneira, construtores. Servio
carpinteiro, eletricista. A famlia in
de meter a mo na massa.
Meus irmos mais velhos contam
teve muito problema de adapta
de mveis. Ele era carpinteiro de f
inteiro, de tirar a madeira no m
madeira com o traador, fazer as t
d f
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que ele tanto prezava. Ele detestava, estava fazendo servio matado, que
tos s pressas. E mesmo o servio apre
era mais lento que o dos outros! Ficava
Hoje em dia, na nossa fase de revaloarteso, meu pai seria devidamente re
mas naquela poca, no. Quando o pr
perna foi ficando mais grave, as dores efortes. Ele trabalhava o quanto podia
ficava insuportvel, contam que ele ti
esconder dentro de algum guarda-
descansar um pouco... Ficava escondidser mandado embora... E acabou mo
54 anos, por causa da doena de Cha
Minha me era bastante brava, rigoro
batia na gente com vara de marmelo.
b
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nos momentos de braveza dela, era continha na palavra. Quando ela es
demais num filho, ele vinha e dizia:
ta, com um tom de voz tranqilo. E
querendo bater, mas no batia maxingava, at se acalmar. Acho que
toda era uma questo de sobreviv
no lugar em que ela nasceu, com aes precrias, gente de pele fina n
ria. E isso, aqui em So Paulo, tamb
srio. Aquele monte de filhos, como
no pelo rigor? E ela tinha aquilo quja: educar corrigir os que erram. E
po a correo ideal era atravs do
Ento, ela aplicava esse princpio da
ro da gente!
f d h
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chegar s 9 horas. s vezes ela cuspiafalava: Voc vai a tal lugar, se chegar
cuspe secar, voc apanha. A gente ia
Uma vez ela fez isso comigo, eu era
Graas a Deus ela cuspiu num lugar coSe cuspisse ao sol eu estava ferrado!
Tinha uma coisa, que preciso reconh
Violeta trabalhava demais. Da madr
a noite. T certo que minhas irms m
ajudavam, mas o mais pesado era pra
tar, limpar a casa, lavar, passar. Fazpra 12 pessoas, em fogo de lenha,
janta, sete dias por semana! Essa foi
at mais ou menos 60 anos! Trabalha
dia todo e noite. Rezava ajoelhada,
todos rezassem com ela, de rdio
d l f f
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devia ter uns 8 ou 9 anos e, naqucircos apresentavam peas de tea
melodramas, em geral. Naque
estavam contando uma histria d
homem casado tinha uma amanteque ele abandonasse a esposa. Ent
matar a mulher, olha que coisa.
complicar, a mulher estava grvid
do circo usou um recurso to inte
ficou impresso na minha retina e a
que me fez decidir, mais tarde,
teatral. Pra mostrar a cena do assusaram sombra chinesa. Ento, o
mulher grvida, iluminados por
branco, lutavam, agigantados
repente, ele pega um punhal e com
ar a esposa na barriga!
-
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amansou completamente nem no lete, aos 90 anos.
Era uma noite de tera-feira, fomos vi
estava muito debilitada, num vai e volttal, aquelas coisas. Estava na casa do pr
Dirceu, assistida por minha irm Zez
na cama ela rezava, como fazia direto j
dias. A reza contnua era entrecortada
ros e gemidos de cansao e arfar de d
Falei a ela, respondeu algumas palavra
sei se me reconheceu. Nos ltimos diestivesse lcida, tinha alguma dific
concentrao. As longas conversas, as
acontecimentos que gostava de c
clareza cristalina eram decididament
passado. A memria, com certeza, ela a
d d
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te. Sem que ningum percebesse, etoda com a gua do copo, para se
ser aconselhada por minha irm
roupa molhada, ela respondeu que
Minha irm insistiu:A Jacira pegosemana passada!Dona Violeta: E d
dela. Eu no sou a Jacira!V se po
tomava conta dela h anos, quis
camisola de minha me revelia.
demais. Minha me perguntou com
autoridade: Quem que manda aq
ter lembrado das broncas levadapequena e se calou. Vocs esto
comigo porque eu no posso falar
sem dentadura. Se eu estivesse com
dia vocs!Isso num fiapo de voz.
d
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48
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Captulo II
Cuidado Com o Que Voc Quer de
Tempos atrs, nas famlias grande
era comum dedicar o filho mais no
que os mais velhos eram dedicado
Mas acho que no foi por isso qu
trar no seminrio. Aconteceu ass
no quarto ano primrio, quando
frei franciscano no meio da aula estava em busca de vocaes sac
seja, ele falou um monte de coisa
perguntou se algum ali queria i
rio. Aquilo bateu em mim, e eu s
desde pequeno, quando as pesso
d
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50
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Com toda essa base religiosa, quaperguntou, eu levantei a mo, or
mais trs colegas. Minha me ad
bvio, e aos 11 anos, fui estudar p
Era domingo. Tomamos o nibus
meu irmo Fernando e eu, com a m
de roupas no colo. Me lembro at
em que cheguei l! Fiquei apavora
vi! Eu tinha uma idia do que seria u
j havia visitado um em So Roqu
de So Paulo - lugar afastado, tranzado, gostoso. Quando passamos
lugar, Fernando falou: aqui. Me
to no corao! Era um prdio enor
to, todo fechado, numa avenida m
Meu Deus do cupensei, agora no
l h
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E ele foi levando a gente l pra dentro,cer. Aquele silncio. Pegamos um cor
ro, comprido. Uma luzinha no final qu
gava nunca! Aquilo pra mim era a i
morte, n? Mas v ouvindo. Voc no que tinha no fim daquele corredor!
vi aquilo, queria que minha me fos
logo porque eu queria mesmo era f
sempre! Aquilo era a vida um lug
um ptio enorme, muita luz, e do ou
minha traduo de paraso: um camp
bol! O seminrio me conquistou pelo
A partir dos 11, 12 anos, a gente vive
n? E l tinha muito moleque, muito m
na rua, com a vantagem de no te
imaginou? Aquela coisa, de todo mu
h d d
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era bastante dedicado ao estudo, mso tambm. Era assim: a gente aco
manh e fazia ginstica logo cedo
banho, nos chuveiros coletivos. Tod
caf da manh tinha missa, onde que casse uma praga que acabass
leite de soja do planeta. Eu detestav
do a tomar! Bem, das oito at o me
aulas. Ao meio-dia almovamos,
recreiozinho de mais ou menos u
depois a gente estudar de novo at
nos as trs. Tudo isso era a obrigavinha depois, quando dividiam-nos e
pequenos, mdios e maiores e cada
seu dia de jogar bola. Segunda-feir
dia. A era tomar banho, jantar l pebrincar um pouco e ir pra cama s n
d d d f f
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Dentre os professores, eu gostava mude Latim e Histria, uma velhinha s
boazinha. Todo mundo tirava sarro
dizendo que eu era o namorado da D
na. Tambm pudera! A nica presenna que tnhamos l tinha de ser pr
Lembro de vrios outros tambm, fra
culares: o primeiro reitor, frei Jern
Orozimbo, professor de religio, co
engraada, cantada, de quem no pr
direito o portugus. O frei Francisc
chamava de Gigio, e admirava o meupadre Jos, que tinha servido como sa
exrcito italiano e nos contava hist
gunda Guerra. Mais tarde entrou o fre
ron, que era o refresco da molecada pmais jovem, mais prximo de ns, co
d d
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nrio ns adotvamos o mtodo Yvamos por um tipo de revistinha,
histria em quadrinhos, toda em p
e cheia de figuras. Acontece que mu
rinhas se passavam em Miami, ou seO frei Vincenzo era famoso por jog
batina, dado o seu acanhamento.
na quando ele viu todas aquelas m
nhadas, de biquni! Deve ter sido
na cabea dele.
Pois no que teve a pachorra de ircom nanquim, revista por revista, a
das as mulheres? E era muito bem de
to que a gente demorou mais ou m
mana pra descobrir a arte dele! E qudescobriu, em vez de estudar ingls
f lh l
-
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comecei a ver as coisas de outra manebato, por exemplo, comeava a ser
do. De um lado foi isso, e de outro ta
por causa do desencanto com rela
tudo, no estava acreditando mais; vdentro com as quais no concordava, a
muitos padres falavam muito, mas p
pouco a sua f. Em 1968 a direo de
nossa turma iria fazer os estudos reg
do seminrio, no mundo, como e
Fomos estudar no Amrico Brasilien
estadual no centro de Santo Andr. classe camos eu e mais um colega, o
Ento, no meio do processo, achei qu
a pena continuar, resolvi cair fora. M
no gostou muito da idia, mas aceit
h d d
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dava no Amrico. Um ano depoipro Joo Ramalho,comecei, lenta
enturmar. Fiquei l dois anos, 1969
curso chamado Clssico, porque n
Matemtica e consegui fugir delfazer algumas amizades: Cludio
Augusta com quem eu viria a m
minha primeira filha, Vanessa. Era u
gostava de teatro, de msica.
showzinho estudantil, at. O Mrio
go, hoje ator, tocava e cantava e eu
um PM que tentava impedir qude auditrio chegassem at os ca
que essa foi minha primeira experi
atro... Na verdade, alguns dos me
nham feito parte do grupo de tPacis, ento eu j sabia mais ou me
h l
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de muito tmido, comecei a gostar drato de representar.
Terminei o colegial e logo depois me
19 anos. Tinha de ganhar a vida, nsustentar a casa fazendo teatro? Arrum
go no faturamento de uma empresa
a Wheaton. Trabalhava o dia inteiro
no final de semana. Eu j tinha trabalh
mas era diferente, eu era solteiro, en
nha todo aquele compromisso. Tinha
boy na Jacuzzi, uma empresa de bopiscina, e no Banco Minas. Depois d
um tempo parado, quis seguir carreira
fui pro festival de msica de Guarapa
tentativa de Woodstock tropical. Tcoisas de moleque ficaram pra trs
d
-
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Mas valia a pena porque era um g
srie, pessoas com quem tenho
hoje. Era o grupo do Centro CulturRosa, em So Bernardo.
Com Vanessa
-
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60
Aprendi capoeira com o Paulo Rober
o Paulinho, irmo do Man, com que
teatro. O Cludio Louceiro, a Alda
Augusta e o Mrio Csar tambm fo
Desde o tempo do colgio (da esq.): Ednaldmo Gerbelli, Calixto de Inhamuns, CludAbreu, Mrio Csar Camargo, Mrio Lrc
Roberto Barbosa
-
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pelo ABC. E eu, recm-sado do seminva sentindo os primeiros ecos do m
grande rebeldia que estava havendo
inteiro e que, agora, repercutia naq
baldes onde vivamos. Queramos fdessa luta com a nossa caravana, insp
Teatro de Arena que, naquele pero
encerrando sua caminhada.
Depois da montagem do Brecht, eme
Revoluo dos Beatos, do Dias Gomes
o do Srgio Rossetti.
L eu acho que comecei a encarar
seriedade e conscincia o trabalho do
o, concentrao, objetivos em cenentre palco e platia, essas coisas. An
d l d
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E tambm tivemos contato com opopular na dcada de 1970: o labor
se lembra daquilo?! Ensaios com
pelado; investigao das emoes
chorasse porque tinha srios probnais gritos, gente se arrastando p
Uma vez, ficamos confinados nu
abandonada no municpio de Boi
Paulo. A proposta era que vivenci
rincias de perseguio, delao e t
ramos fazer prisioneiros, denuncjos, simular situaes de violncia. S
tinham aqueles que faziam a cois
Ento um deles, o Ailton, se escon
que ningum conseguia encontrhoras procurando, chamando e ele
d f d
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Aquilo que era devoo ao papel! Man teve a brilhante idia: fazer u
com jornal e ficar atiando o colega at
No que deu certo? E na hora qu
pulou, fizemos questo de retomar nonagens e o levamos pra sesso de tortu
com um sabor a mais... Engraado, tod
nos reencontramos pra confraterniza
tivemos mais notcia do Ailton. Por qu
Para a montagem de Tempo dos Inoce
po dos Culpadosmudamos o nome do Doces e Salgados, numa referncia ao
Tardeque, durante a ditadura, publica
culinrias no lugar das notcias proi
censura. Perodo muito produtivo aquea pea por dois anos, de 1973 a 1975,
d d d
-
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gostado de um conto meu e convidlhar com ele, como redator e reviso
chamava Plaza Manzon, sei l ond
Foi o primeiro conto que comecei e
Todo existencialista, falava de umperdido numa ditadura e que aca
do fuzilado pela represso! Bem, lo
eu entrei, a Gazeta demitiu todo
vou eu mostrar o meu conto, dessa
Lungaretti. Bingo de novo. O jovem
abriu as portas pra agncia Lemo
trabalhei como redator de promode imprensa. Mudei de emprego e
Sem ter para onde ir e sem querer v
da me, acampei por uns seis m
-
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nete do Celso, na Avenida 9 de Julho.dia retomar o teatro.
O Ednaldo me chamou. Ele, a Maria
Terezinha e o Roberto queriam fazera partir da pesquisa sobre o problem
gem de terras em Itaquaquecetuba
construo da Rodovia dos Imigrantes
mos e escrevemos o texto, chamava-se38. Foi minha primeira experincia de
gia porque todo mundo colaborou,
or parte do texto fui eu que escrevi.
to do engajamento daquele momen
mos animados em dar a nossa contr
Jorge Andrade estava coordenando
mento de Cultura de So Bernardonaca e o nosso diretor, Srgio Rossett
texto pra ele ler. Maniquesta, foi a
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alguns contos e uma nova pea, dnho:A Estranha Lgica de Antonio
mesclava dilogos e poemas. Naqu
estava morando com o Ednaldo,
Cludio Campana no Bairro JardAndr. A gente chamava o luga
porque voc imagine quatro marm
dos dividindo uma casa, com din
dava pro aluguel. Comer? De vez
Uma noite, chegamos em casa mo
e vibramos com a panela de press
em cima do fogo. Preparamos a mmos prato e colher e fizemos fila.
mos a panela, o Ednaldo tirou de
cueca ensopada! O Calixto tinha c
eca na presso pra lavar! Como puviver a tudo aquilo?...
-
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Muito bem. Primeiro jogo: 4 X 0. Prorios. No vamos desanimar! Ainda t
dois jogos pela frente, o importante
Segundo jogo: 4 X 0. Terceiro jogo, id
tivamente, eu jamais ganharia a vinstrutor de xadrez. Mas o que fazer?
de teatro, mas que caminho tomar?
Tem uma frase do Ralph Waldo Emer
gosto muito e que diz, mais ou me
Toma muito cuidado com o que que
o, pois voc est arriscado a conestava com 25 anos e aquela indefi
gou no seu ponto mximo. Ento eu
ultimato: ou eu assumia a carreira p
e sria em teatro, conquistando um trabalho sistemtico, ou eu desistiria
-
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Captulo III
Um Dramaturgo de Verdade
No terminei o curso de Jornalismo
mo semestre, bem na reta final.
dilemas que de vez em quando a v
nossa frente? Foi isso o que aco
meu caso, no foi to difcil decid
Depois que eu abandonara a promra de instrutor de xadrez, me emp
assessor de imprensa na Prefeitur
Pires sem nem imaginar que anos
ria pra l, como morador. Ednalnaquela altura, estavam trabalhan
d b b
ff
-
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nidade: Soffredini tinha se mudado p
o Calixto me chama pra escrever a pr
do Mambembe. Dessa vez seria pra
um dilema... Eu estava mais uma vez
gado e voltara pra casa da minha mma de Jornalismo me daria ao menos p
de um trabalho regular. Concluir a fac
aproveitar a oportunidade de escreve
grupo profissional? O ultimato marte
nha cabea. Respirei fundo e decidi
De vez em quando me arrependo d
concludo o curso superior, princporque gosto muito de lecionar e
ria abrir meu caminho na Universi
acho que foi uma deciso acertada.
guei de corpo e alma para aquelefoi graas a ele que iniciei minha ca
f l d d
-
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O grupo no gostou, achou que n
t b lh b
-
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no trabalhar com base na nossa prpr
Dessa forma, cheguei a uma idia de
infncia, adolescncia e vida adulta. A
a dar certo, eles achavam as cenas en
eu descobri que sabia fazer comdia.
Aprendi muito escrevendo Foi Bom,
Percebi, na prtica, por exemplo, que
tura prvia muito importante. A
escrevendo conforme as idias iam sur
no nada produtivo! Ento eu fui re
os tpicos que queria trabalhar, fui cuniverso, o tema, de modo a ter cont
o resultado. At hoje eu comeo uma
estrutura, pelo enredo, que o co
aes diferente de sinopse e de hQuando queremos fazer uma viagem
d d
E eja bem planejar no q er
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E, veja bem, planejar no quer
completamente! No! Porque v
estrutura as aes apenas. Na hor
as cenas voc pode voar o quanto q
vezes o personagem que te leva brigar com ele porque no devem
nio absoluto dos personagens.
eles querem falar sozinhos, d
confrontar o autor!
Aprendi tambm que a gente e
ouve. Teatro oralidade e no litecoisa: aprendi realmente a trabalh
Escrever sozinho, no gabinete, co
uma coisa voc demora o tempo
na maioria das vezes, no tem pmontagem. Com um grupo difere
O apoio dos amigos foi muito importa
-
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O apoio dos amigos foi muito importa
la fase. E no foi s apoio de tapinha
no! Eu era um cara que estava apost
trabalho, sem remunerao, e ficava
do naquilo 24 horas por dia como irdinheiro? Ento os amigos me alimenta
um tempo na casa do Roberto e da
Dona Santa, me da Maria do Carm
grupo, cansou de me fazer frango com
angu; o Calixto de vez em quando ia
quer pra conseguir dinheiro e susten
gos! Mas acho que consegui recompdos quando a pea estreou foi um
sucesso. As primeiras sesses, com casa
pagaram a produo e garantiram no
rada em So Paulo. O pblico adoravadas peas de minha autoria que mais s
l d d d
de ns ramos do ABC tnhamos tr
-
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de ns ramos do ABC, tnhamos tr
fbrica pelo menos uma vez e, se
era um assunto do momento por ca
catos, das greves. Fizemos uma pes
te aprofundada, estudamos toda amovimento anarquista, muit
documentos. E fomos falar com as
bm, quem tinha vivido os fatos. E
antigos operrios e sindicalistas
encontros vai ficar marcado pra sem
Calixto e eu fomos conversar com umdo em 1917, um dos fundadores do
Metalrgicos de So Bernardo. Ele n
vida de migrante nordestino, suas di
a situao difcil em que se encontravro, morando num barraco. A esposa
d
vista dela da esposa da me que perd
-
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vista dela, da esposa, da me que perd
lhos, que tentara criar os outros sem
mendigando comida, porque o marido
metido em poltica. Ela detestava polti
tava contra o marido, mas, ao mesmo ttia um orgulho to grande daquele ho
hoje me emociono quando lembro daq
isso que eu chamo de imagem fo
experincia, uma imagem que nos toc
move, isso que devemos transportar
tro. E devemos tambm trabalhar a hu
mais do que a pesquisa terica.
Ns tnhamos material sobre operrio
nordestinos e mineiros; nossa pesqu
va o perodo de 1900 a 1980. Foi difco universo da prxima pea. Depois
d l d d
e o Calixto saiu do grupo Pronto p
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e o Calixto saiu do grupo. Pronto, p
segunda pea profissional vai pra
a aconteceu uma daquelas coisas
lantes e eu tive de escrever um o
toque de caixa. Foi assim:
O grupo recebeu uma verba ofic
montar um espetculo em 60 dia
devolver o dinheiro. Queriam u
no tinham texto, resolveram me
que era um projeto pra ontem,
usar parte da pesquisa sobre ooperrio? timo. Dessa vez fala
a migrao interna um moo do
chega na cidade grande, So Pa
gente de tudo quanto tipo e, abarrancos, torna-se operrio. De
b
No comeo eu ia dando as idias e o gr
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No comeo, eu ia dando as idias e o gr
visava. No final, com o tempo se esg
Ednaldo ficava ensaiando os atores e
o texto, sozinho, e ia mandando pra e
tantos personagens, meu Deus! E s sChegava uma hora que eu mesmo m
dia. Quando fui ver o ensaio geral, l
de Arena, disseram que eu precisav
final! Mudei naquele mesmo dia! Ca
Morreu!estreou na marca do pnalt
estava apitando o encerramento da
foi to bom, porque foi um desafio e mos. Em vez de ficarmos lamentando
tempo, fomos luta. Aprendemos q
de sofrer pelo que no havamos cons
zer, devamos comemorar o resultadlhor resultado que fora possvel alcan
grupo e construindo, com eles, a
-
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grupo e construindo, com eles, a
Proponho, o grupo encena, eu vej
mos. O grupo sugere coisas, eu co
e reescrevo. Esse processo pode d
se perto da estria. Nesses momsempre sou chamado pra assistir aos
e, diante do espetculo quase pron
som, figurino, cenrio , interferir
mente. s vezes, alteram-se ape
Porm h casos em que, depois da
junto, percebe-se a necessidade
drsticas. Ento eu tenho de, no pmas horas, refletir, escrever e pro
ao grupo. A experincia contra
Cala Boca j Morreu! estava an
meu futuro...
ll b d d
pblico uma delas. A cena no pr
-
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p p
acontecendo na frente do espectado
todo. O ator pode levar o pblico a
cenas, acontecimentos. Sua emoo
pode emocionar tambm quem o elibera o dramaturgo de cenas muito g
difceis, com muita gente; uma grev
talha, uma morte, por exemplo o
trgicos e Shakespeare faziam issoacontecimento, em si, o que meno
dramaturgia. Os gregos colocavam
fora de cena, porque o ato meprocesso, menor que a imaginao. A
aquela em que o espectador fecha
mas no se distrai do espetculo,
imaginando. Nesse caso, penso tambdeva valorizar as imagens, as metfor
d f l d d l
A crtica tambm elogiou os traba
-
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g
meira vez eu me sentia realment
turgo. Ou seja, o ultimato que ha
valera a pena.
Mais uma fase produtiva e nada con
-
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p
Eu sara da casa da minha me e fora
casaro na Rua dos Ingleses com, no m
pessoas porque era um lugar grand
svamos de muita gente pra rachar Havia um entra e sai constante cad
que abandonava a casa deveria traze
lugar. A baguna era menor do que n
favelo pois tnhamos uma empregfreqncia, namoradas que apareciam
quando ou que moravam l. Uma de
foi a Ester. Ela trabalhava com pesquirava o Edu, um mdico da Convergnc
ta. Os dois brigaram, ele saiu da casa
Comeamos a namorar. Ela viria a ser
gunda esposa.
l h f lh
pagaio sabia rezar! Os primos, tod
-
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idade, intensificaram o contato,
mada de juventude, de alegria.
Vanessa mora nos Estados Unidos
e filhos, e a nossa tima relao squele perodo que passamos junt
dos fundos da Rua Teresa Crist
Bernardo. Perodo que me deu f
pra encarar o fracasso do meu qu
Como j havia escrito trs peas, du
ticas, baseadas em pesquisa de fatcom vontade de fazer agora uma
linguagem. Queria experimentar a
ca, a palavra, a eloqncia. Mais
viria a conseguir um bom resultadpeas, mas Crculo de Cristalficou
d d h
como um projeto de experimentao, u
-
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ra de outros caminhos. E como oportu
aprender algo difcil, mas necessrio
pre d certo.
Vanessa terminara o estgio com
tara pra casa da me. Ento fui mo
Ester num apartamento na Vila Mar
Ciaoestava em cartaz no Rio de Jaelaborava o texto de Sai da Frente
vem Gente, que estreou em 1984, co
do Mrio Masetti.
Novamente uma comdia: a nica m
homem enfrentar o fim da existncia
do riso. O riso ajuda a quebrar com que se possa nascer de novo, nesse s
d
gico. E tem metateatro, o recurso
-
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tro da pea, que o pblico aceita
diverte, apesar da confuso toda q
Sai da Frentefoi um timo treino
que eu escreveria logo em seguidveria encenado dez anos depois:
ao Terceiro Dia. um dos trabalho
gosto, mas falo dele depois.
Agora estou com vontade de fa
Rodrigues Cruz, que saudade. Osm
dor e maior diretor do Teatro PopFalavam mal da poltica de atua
teatro, que era um cabide de emp
coisa toda. Os atores tinham remu
seguro-sade; a platia estava seem temporadas normalmente lon
f l l d d
Na verdade no optei, o prprio perso
-
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conduziu a isso. Vasques era um im
nato, que no respeitava o texto nem
naquele tempo chamado de ensaiad
muito bom, tanto que, quando a pea emal das pernas, pediam pra ele faze
das, improvisar pra valer. Foi difcil
material sobre a vida dele, achei pou
o que no achei, inventei.
Nesse texto explorei novamente o me
trabalhei diferentes planos de ao.
plo: havia a pea, real, que estava send
pelo pblico. Essa pea falava do V
jeito que ele era e trabalhava. Mas
bm a pea que o Vasques representterceiro plano, toda a improvisao
bl b d l
geradas pelos acontecimentos de 1
-
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terra e as pessoas comeavam a
pequenas e possveis transforma
O filme trata disso, pessoas que se
garantir um mundo melhor a umvai nascer. Resolvemos colocar no
nome Jonas. Tambm por causa de
simbologia do personagem bbli
na barriga da baleia e conseguiraPara ns, jovens da dcada de 60,
cia, em seus vrios nveis, era um t
te aos 33 anos eu podia dizer q
brevivido a toda uma fase de incer
trara o meu caminho, trabalhav
dava prazer e, embora a carreira
Brasil nunca tenha sido muito segura me firmar como dramaturgo
f
No pode ser incomodado por nada
-
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88
ter seu espao criativo invadido pelas
saicas, pelos problemas mundanos. Sa
tabuleta: Silncio: gnio pensando?
cai por terra quando se tem filhos. Emo! Aprendi a interromper sem tra
cena pra poder trocar fraldas, dar m
ir ao supermercado porque a papinh
A Ester era me em tempo integradifcil dar conta de tudo sozinha. Ent
dava e voltava pra minha cena. Cost
pros meus alunos: elabore uma estru
te as idias, e cumpra-as. Dessa man
mo que voc tenha de interrompe
lho, voc consegue retom-lo. Porq
lado criativo continua funcionandocabea enquanto lavamos roupa, fa
d d b b
Em meados da dcada de 1980 rec
-
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te que foi decisivo na minha carrei
Filho, diretor do CPT (Centro de P
trais) do Sesc, me chamou pra orga
cleo de dramaturgia l. Tinha um pbom: o Antonio Arajo, diretor co
balharia mais tarde nO Livro de
Vianna, que se firma como um do
tivos dramaturgos atuais; entre vtrabalhei com o Antunes, o que fo
e resultou em duas montagens: Ros
e Xica da Silva. Na primeira eu in
verso do Guimares Rosa, fiz um
com linguagem que retomaria m
outras peas. Na segunda, perdi
teso de escrever, sofri e o resultmuito como eu queria. Ento o te
l f d d
Dar um tempo, pensar, redefinir um
i d idi
-
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90
coisas porque eu decidi que no qu
mais sofrer pra escrever! Me candida
Vitae com um projeto e fiquei espe
ver no que dava. Enquanto isso aprocurtir a famlia e colocar a cabea em
Captulo IV
-
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Se a Vida Sonho,
os Meus So da Melhor Espcie
Gosto de trabalhar de manh, p
acho que rendo mais. Conforme
sando, vou ficando com menos dispto de reservar as noites pras minh
adoro fim de semana e feriado, q
posso trabalhar mais sossegado
telefone fica mudo e a vida fica e
Levanto cedo, fao a minha ginst
nal, tomo caf e sento em frente a um computador que utilizo so
d
cava meio porco. E as cpias com ca
il ?! Mi f
-
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92
que era aquilo?! Mimegrafo, voc
Acho que no havia fotocpia naque
Calixto e eu passamos dias preparan
trizes de Foi Bom, Meu Bem? pramimegrafo a tinta! Aquilo dava um
sanato ao trabalho, mais do que hoje
micro corrige, apaga, armazena e im
um modo muito limpo. Mas no tende. Essa praticidade resultou em mais
a criao.
No consigo escrever duas peas ao m
po. J tentei, no comeo da carreira, m
se misturam e acaba no rendendo c
ria. No mximo, o que posso fazer, muito bem um cannovacio a ponto
d l d l d
s vezes me sinto cansado, exaurid
trabalho do artista exige uma d
-
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trabalho do artista exige uma d
grande. Parece que a gente leva u
mulando informaes, emoes e
nalizar na nossa obra. De modo quhora, preciso repor todas essas co
caso, reponho indo ao cinema, ou
e lendo. De todas essas coisas a qu
de ler. E em geral leio coisas que ncom o trabalho que estou realizan
desanuviar a cabea mesmo!
Dentre meus autores preferidos es
Rosa. Considero a leitura de suas
mental para quem quer escrever
livro Tutamia, por exemplo. Cad
tratado sobre a forma, suas palavdias e teatro sonoridade, ora
f l b d
-
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e outro. Se no, s ficar com a a
que voltamos pra casa com o arse
-
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que voltamos pra casa com o arse
personagens, frases, histrias. E ne
muito longe. Dentro de casa, mesm
Quantos personagens interessantessas relaes? Como rico obser
crescendo, disputando seu espao
um ao outro, brigando, chorando
engraado! A maioria dos personatem um esprito semelhante ao d
modo que preciso estar sempre a
to. Conheci muitos sbios nessas o
famlia, das ruas e dos trilhos, gen
la sabedoria sem elaborao,
aprendida dentro de si mesma. Fo
esse o caso do sujeito que me inspiO Homem Imortal.
Me afundei pelo Vale do Jequitinho
interior nordestino em busca de vestg
-
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96
interior nordestino em busca de vestg
maes sobre a passagem da Coluna
l, durante a Revoluo de 1930.
pesquisei, entrevistei, escarafuncheNingum nem tinha ouvido falar d
Quando estava achando que a via
dado em nada, me mandaram entr
tal Tenente Faria, um senhor de 90havia participado da Revoluo de 32
mineiro. E foi pssimo do ponto de vist
maes. No entanto, aconteceu uma
me intrigou e, ao mesmo tempo, foi
fundamental pro meu trabalho e pra m
Acontece que, a cada pergunta que velho respondia a mesma coisa! A tud
d
nada na vida, s aquela lembra
grandioso e de bravura! Ele repet
-
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grandioso e de bravura! Ele repet
que no podia esquecer! Se esque
de ser ele mesmo, deixava de existi
morresse! Eu o coloco na minha penagem Isidro. A certa altura o Isid
mem s morre quando esquece, n
lhoso isso?
Tinha recuperado o prazer de escrev
parece aumentar a cada projeto qu
quanto ao tema e quanto form
Imortalfoi um divisor de guas na m
embora, at o momento, ainda n
encenado. Nesse texto eu me perm
a inveno uma coisa prpria da lar o que no se sabe, se invent
h
dali pra frente. Usei muito isso nO Re
por exemplo, que escrevi tempos depo
-
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98
por exemplo, que escrevi tempos depo
Mas entre uma pea e outra, uma mud
construo e um filho. Foi assim:
Estvamos mais ou menos em 1986
de muita economia, tnhamos um d
guardado. Inflao, voc sabe. Alis, lembranas da dcada de 1980 esto
abertura poltica e inflao... Ento
mos esse dinheiro aplicado no lem
open marketou no overnight, que ren
mais do que a poupana porque tinham
rios ou semanais. Eu estava com vonta
prar um videocassete, que era uma febca e que seria til pro meu trabalho.
h
antigo, em que a gente joga algum
ou moedas e, dependendo do resu
-
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ou moedas e, dependendo do resu
temos uma resposta, dentre 52 disp
mos. No lembro do nmero que sa
resposta veio ntida. Compramos o teso, eu nunca mais consultei o I Chin
Mudamos pra Ribeiro e morvam
enquanto acompanhvamos a constJonas estava com uns dois anos;
16, nos visitava sempre. De repente
outro filho estava a caminho. Eu no
vendo nada. Meu projeto girava em
lo, pedra e cimento. At meus irm
mo na massa assoalho, azulejo
eletricidade foram obra conjuntaAntonio, Fernando e Z Geraldo. T
b d d
Ester no estava tendo leite e o beb
tolerando nem leite em p! Fomos a m
-
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100
p
cos, tentamos vrias sadas, at que se
o leite de soja, raro e carssimo na poc
fase muito tensa pra todos ns, mas o menino se recuperou, esperto e intel
nome foi inspirado no telogo e fils
de Aquino e, hoje um rapaz, meu fi
demonstrar tendncia pra rea de Gosta de msica e um leitor voraz
alergia a nada!
Nos mudamos para a casa nova. Me
meu sobrinho Jos Lus, um timo de
editamos uma histria em quadrinho
O Entrincheirado Hans Ribbentrop. gostoso porque eu sempre fui leito
d d d b
de dramaturgos que agora est a,
alguns alunos formei o Ncleo do
-
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g
gente passou por l: o Mrio Viann
a Marici Salomo, Bia Gonalves; a
Filastor Brega, Nelson BaskervFernandes, Fernando Castione
vieram a Solange Dias, o Antonio R
Nicolete. Quando se fazia necess
assessoria dramatrgica a seus encontrvamos periodicamente
discutir. Era um pessoal inteligen
tipo que deixa saudade. Em 1990,
trabalho na recm-criada Escola Li
de Santo Andr. Esse projeto mere
tulo parte.
Na primeira gesto do PT naquela
d l l l
gia, cenografia e tudo o mais que foss
te. Sem vnculo com os programas ofic
-
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102
p g
no, e por isso mesmo livre, a escola po
em constante reflexo e transforma
ra de teatro Maria Thas Lima Santos projeto e um motivo de orgulho mu
para mim ter feito parte da primeira g
professores. Com novas eleies mu
escola foi paralisada, depois de doatividade risco que todos corremos
muda uma simples legenda e a Cultu
ser vista como algo irrelevante. Mas o C
voltou e, em 1997, as atividades fora
das ao menos por mais duas geste
Voltei Escola Livre ressuscitada covolta para casa depois de um feriado
l d l l d
acontecendo com a melhor das inte
l se arriscam novos caminhos, no
-
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ressados to-somente na reprodu
que deram certo. Somos profes
compartilhamos com os alunos as ngaes e as deles, e assim nos tornam
Ganham eles, mas ganhamos ns, t
do que, educar tambm violent
processo educativo tem pouco a vertismo que d ao aluno a primazia do
d um peso determinante ao aluno
o permissiva que coloca o aluno c
do processo educacional. Numa re
centro no est em nenhuma das
cacional o processo e, se assim
fessor quanto o aluno esto se edto os alunos quanto os professore
d l d
transformo-a de acordo com os meus p
artsticos. E devolvo essa criao a eles
-
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de texto que pode ser re-processado p
eu fosse escrever os textos dramatrg
cola sozinho, eu os faria completamentes e, dessa forma, eu tambm violen
viso esttica pessoal ao inserir o trabal
res dentro da minha redao final. Alun
sor so violentados em benefcio de umfinal que significativamente mais q
Teatro um trabalho de equipe, o c
essncia dessa arte. E, por mais que u
artstico seja solitrio, ele pressupe, a
pblico e, assim, submete-se s leis da
o e geometria da forma. E isso imp
subjetividade.
d d d
tive o privilgio de acompanhar seus
sos; admirar atento seus primeiros v
-
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sua caminhada solo e, hoje, olhar p
colegas de profisso! Isso no h
pague desculpe o lugar-comum...
Por volta de 1991 resolvemos faze
ma na casa! Ela tinha sido mal plan
ficando pequena, com problemas dlao. Respiramos fundo e encar
empreitada. Com a gente dent
morando na cozinha, na sala, enq
da casa virava de cabea pra ba
que s uma reforma no bastar
toda a nossa rotina... O que acont
mo tempo? Ficamos esperando umEu estava com 40 anos e fiz as con
d
Bo Bardi. A nossa menina no encon
lhor acolhida e sua infncia, junto co
-
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irmos, foi jogando futebol na rua, s
rvores, jogando fubeca, soltando pip
j estava moa e fora pros Estados Unvs de intercmbio. Gostou tanto q
dessa vez pra ficar. Conseguiu trabalho
dade, casou e me deu netos. De vez e
eles vm pro Brasil e a vontade qaqui pra sempre...
Casa reformada, mais um filho, em
vez de outra pea: O Rei do Brasil, q
com financiamento da Secretaria Mu
Cultura de So Paulo. Foi aberto um
para projetos relacionados vida e Oswald de Andrade, o meu foi sele
b b d l
-
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Pois bem, O Rei do Brasiltinha aquela
da inveno dos fatos, da fico da
-
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enredo calcado no movimento antr
Eu estava numa fase indignada, bra
porque estava surgindo toda uma ondo da palavra! E eu tomei as dore
resolvi escrever um texto onde as pala
sem um peso decisivo. No programa
culo eu bradava a favor do dramatuEsta pea no um roteiro, to ao go
ta tendncia que tem ojeriza ao tex
Mandava que morressem de urticria e
So quarenta e duas pginas cheias de p
texto denso povoando a aridez do s
uma espcie de desabafo.
Foi muito gostoso escrever e eu ach
h d d
cumprimentar dizendo que gostar
texto! Numa encenao o que dej Q d d d
-
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o conjunto! Quando se d destaqu
mento porque est havendo um
Pelo menos o que eu acho... E esse trabalho, especificamente, fiq
que era todo um contexto que o t
ficar apenas dois meses em cart
tema, mais adequado dcada deo prprio teatro estivesse se transfo
radicalmente, ou o papel do encen
De repente, comecei a perceber q
sao do pblico que estava mud
eu, como dramaturgo, deveria esta
ou me perderia, ficaria estagnado
O pblico est sempre mudando. A
bl
-
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ma conseguia traduzir o homem oc
do esse perodo, com a industrializaid d d j d i
-
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nidade, o drama j no deu mais co
duo. Surgiu ento, com maior de
ma pica, por exemplo. Enfim, eu isso pra dizer que, na dcada de 19
plo, o discurso era muito importa
gem, a idia, o ideal. Hoje talvez n
tempos para c, a ao tornou-se mte no teatro. E ao no ausncia
uma histria bem elaborada, mas t
ser uma emoo, uma imagem qu
pectador e, lgico, uma idia que
isso, seno o oco, o vazio. Pois b
fervilhava na minha cabea. Eu fic
encontrar uma maneira de identifpulsao e uma intuio me indicav
l
balhar mais a fundo a sonoridade esc
Guerra Santa. De certa forma foi meultimato: se no der certo no sei mais
-
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ultimato: se no der certo, no sei mais
comerciante! E dessa vez nem me dei
A aposta foi alta. Eu tinha um projeto
e lancei mo dele: os dezoito anos dos
tos de 1968. Para onde tinham ido as
luta valera a pena? Os mtodos foramQuem sobreviveu? E como? Inspirado
te (e sempre!) pela Divina Comdia
dois personagens, Dante e Virglio. E
sido companheiros de idias e de a
certa altura, seus caminhos se divergi
anos depois se reencontram e Dante
o amigo no sem antes fazerem umativa e um ajuste de contas sobre seu
d l f f
mente. Gabriel Villela dirigiu um b
tculo e eu no mudei de profiss
-
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Falo pros meus alunos que no ex
mtodo pra escrever. Acho que ca
go desenvolve meio que seu mtod
sistemtica de trabalho, porm, cad
vai pedir um mtodo especfico, qu
ele. A gente pode ficar meio perdido trabalho demora a engatar, n
primeira cena, a gente percebe q
ma coisa errada isso acontece,
que tentamos impor ao novo text
anterior. Nesse caso preciso se pe
essa nova idia est pedindo, qual
melhor abriga a proposta? Por eidia que fica melhor na forma de
d d
que o teatro j no era mais suficient
Seja como meio de expresso, seja cde vida A certa altura surgiu a vo
-
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de vida. A certa altura surgiu a vo
voltar aos contos. Tenho uma srie d
ta para o pblico adolescente, a part
rncias mticas. Depois vieram as cr
jornais, os roteiros de cinema, de vd
coisa acaba alimentando a outra, su
cessidades criativas.
Sinto que a cada novo texto aprofun
go as experincias anteriores. Logo e
Guerra Santaescrevi O Livro de J,
atro da Vertigem, com direo do An
jo (T). Nesse trabalho creio ter integ
uma pesquisa de enredo, poesia, soeloqncia, heris, mitos e arqutipo
seria um heri: obsessivo, determin
com absoluta sinceridade de propria trabalhar o conflito desse perso
-
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ria trabalhar o conflito desse perso
volta dele, principalmente a revolt
chegar Revelao.
Vanderlei Bernardino e Srgio Siviero em
No iria travar luta com os outros, m
prprio. Quis dar destaque tambm lher de J que no texto bblico s
-
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lher de J, que no texto bblico s
ta, como se costuma dizer em teatro
ela ganha uma importncia fundame
sentando a terra, o instinto, o atesmo,
lismo e, portanto, aquela que se enfu
cria um contraponto com J. No ace
destino lhe impe, e essa tambm terstica herica: a vontade de transce
contra as profecias, romper os limites
E, no caso, seria difcil tomar partido
quanto sua mulher teriam pesos eq
cada um com suas razes.
Retomei, com essa montagem, o trabalhar em grupo. Escrevi umas tr
d d d
colaborativo, que hoje em dia
mum. A pea estreou em 1995Umberto I, em So Paulo, e pode
-
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Umberto I, em So Paulo, e pode
foi um outro marco na minha car
Naquele mesmo ano ganhou o pa
Janeiro um texto pelo qual tenh
carinho: Lima Barreto ao Terceiro
caso muito interessante porque eua pea h dez anos e s naquele mo
resolveram montar. Era um projet
soal. Queria escrever um texto que
to da vida do Lima quanto de su
bem abrangente. A biografia dele
negro, nascido apenas alguns a
abolio da escravatura, perdeu a me o pai, pouco depois, enlouqueceu
f d
Tendo feito um estudo sobre o Lima
um estgio no hospital psiquitricoMenezes, em So Bernardo. Durant
-
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118
Menezes, em So Bernardo. Durant
ses, eu ia duas vezes por semana visit
nos. Nos primeiros dias fiquei abso
apavorado, pois os internos ficavam c
aproximavam, queriam me tocar. Eles
vam coisas pessoais e buscavam uma
que me assustava. Mas depois de upassei a esperar com ansiedade os dia
sempre to ricos de emoo, de si
Percebi que os internos eram inteiram
a mim, e que apenas um conjunto de
cias mnimas me havia colocado do la
dos portes e a eles, do lado de dent
mas eram os mesmos, humanos.
l d
mio. Essa delimitao foi fundamen
ncia da Potica, do Aristteles. Limuma trajetria herica, trgica, uma
-
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j , g ,
mo. Definidos os limites, me senti m
para ir e vir nos diferentes planos.
queria construir uma obra que perm
tador escolher qual dos planos segu
Assim, cada um dos planos teria co
fim prprios, que se mesclariam nacomo se mesclavam na cabea do p
Aderbal Freire-Filho dirigiu um be
protagonizado por Milton Gonalv
Cultural Banco do Brasil. Estava sendo
o centenrio de nascimento do escri
cia (e parece) mais atual do que nucrtica intransigente marginalidad
b l d
-
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120
A Vida o Exerccio do Possvel
-
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Aristteles, Eric Bentley, Josep
Mikhail Bakhtin. Esses tericos f
da minha formao em teatro. M
autores estiveram presentes e
importncia, mas no como esse
do primeiro, considero imprescinse dedicam a essa carreira. Pr
dramaturgia, nem se fala. Os f
que Aristteles determina para
da tragdia servem, ainda hoje, ccia anlise e elaborao
dramatrgicos. Bentley me apo
caminhos, Campbell sempre pontudos sobre as trajetrias mtica
d d kh
nham montado vrios espetculos qua
vemos enveredar pelo caminho da copular brasileira. O grupo ganhou um n
-
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Fraternal Companhia de Arte e Mal
como aluso a um personagem basta
lar, o Pedro Malasartes. E era sobre e
nagens que queramos falar. Eles est
sentes em vrias peas, sempre em av
ferentes como fizeram Carlitos, Mpor exemplo. Fixar os personagens p
coloc-los em diversas situaes. Ent
dos de Bakhtin sobre a Idade Mdia e
mento nos abriram todo um unCommdia DellArte italiana tamb
heris brasileiros seriam: Joo Teit, M
Matesa, Boracia e muitos outroscom suas caractersticas prprias, se
f d fl
uma pesquisa do que chamamos d
cultura e montamos Iepee Till So personagens de outras nacio
-
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Iepe dinamarqus e o Till alem
duas trajetrias, inserindo os eleme
dia popular e investigando novos
contar uma histria. Por exemplo,
lhos o grupo comeou a tomar
com a narrativa, com o personagta uma histria, que descreve u
Cada vez mais a Fraternal aprofun
so da narrativa. No Iepe, por exem
sonagem narra o outro. quase tonarrativa, pica. Tem toda uma par
dialogada, mas o personagem nar
e aos outros, naturalmente. E o ppanha, numa boa. A narrativa foi
f l b d d
-
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Srgio Rosa e Nelson Belintani em O Parturi
Elenco de O Anel de Malago
-
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Srgio Rosa e Ali Saleh em O Anel de Mal
Cartaz de Burundanga
Cartaz de
Sacra Folia
-
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126
Edgar Campos, Ali Saleh, Nelson Belintani e M
ra em Iepe
Os atores que permaneceram (o
incorporados ao grupo) tinham demuitos personagens e, nesses caso
-
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a salvadora da ptria, alm de
poder de atrao sobre o pblico.
O primeiro trabalho com a Frate
em 1994. Estamos em 2004, e fo
dez espetculos, grande parte dacom casa lotada no Teatro Ruth
Eugnio Kusnet, no Paulo Eir.
cante ver o pblico se divertir c
peas; perceber o silncio nos mograves e reflexivos.
Acho que o objetivo principal do
arte em geral deve ser o pblico. C
l d lh
tretenimento pobre e desimportante
reclama-se da crise e de que o pblicdo teatro...
-
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Concomitantemente ao projeto de
Popular, com a Fraternal, desenvo
trabalhos. Ainda em 1995, mesmo a
do Lima Barreto, estreou um outro
bastante interessante pelo qual fui rpela dramaturgia:A Grande Viagem
Eu estava falando do pblico, n? Poi
Karman, que dirigiu, pensou em alg
diferente do convencional em relao cnico e ao trato com o pblico. S
ter uma idia, os interessados comp
ingresso e entravam num caminho
fechados, e rumavam pra Jundia. A
f d
Sou do tipo que no deixa nada
vido na cena, acho que a parte dgo tem que ser fechada, resolvi
it f il i i d
-
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muito fcil sugerir coisas, dar
gar propostas e deixar os atore
se virarem. Isso pode ser cabve
tipo de processo, e no era ess
estava contratado pra resolver as
dramaturgia, tinha de chegar l luo concreta. Pensei, matutei
cada ator falaria diretamente co
no ouvido delas, uma a uma. O p
trando no clima da pea, que dnuava num aterro sanitrio e te
Jundia, num teatro em runas e n
muito rico prum (pode deixar
maturgo: como dar conta dessa
d
fazendo isso em alguma fase da vida.
utilitrios, pra passar determinadas infazer campanha, essa coisa toda. E eu e
i d d d t t b
-
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130
a mesma seriedade dos outros traba
pre. Independente do contedo que
no artstico, o recurso utilizado
Ento sempre procurei escrever coisa
sem divertidas, emocionantes porque
que haja um objetivo didtico por trtro que est conduzindo tudo. E um
desse tipo no quer dizer que seja fc
Ele oferece as mesmas dificuldades do
Quantas vezes o trabalho empaca? A
est montada, os personagens esto
tudo parece que vai correr s mil m
mas a coisa no anda. Nesses casos e
l
ficar lamentando o que foi feito. C
que o melhor texto aquele que fno o grande projeto que ficou n
hiptese Um resultado simples
-
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hiptese. Um resultado simples
lhor do que a grande obra-prima i
Tenho trabalhado muito, felizmen
diversos locais me convidam para
seus projetos e sempre, to genaceitam que meu projeto pessoa
encaixe no deles. Foi assim com o
da Cidade de So Jos dos Campos,
Tinham planos de encenar um espuma figura famosa da cidade: a M
uma andarilha do bairro de Sant
bou criando fama de milagreira de
te. No pensei duas vezes. Tenho
l d l d b
bm. Eles toparam e o resultado foi M
grina, uma pea de que gosto muito.
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Programa de Maria Peregrina
Entre eles, por exemplo, est uma
Francisco de Assis Pereira, o manaMe vem mente o desafio de
apostou que escreveria um perso
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apostou que escreveria um perso
mamente negativo e que o pblico
xo de sua sorte. Escreveu Fedra.
que Fritz Lang encarou ao filmar M
de Dusseldorf. Lembro-me de
Brecht, sobre a infanticida Maria do lamenta a sorte da personagem
tncias que a levaram ao crime: V
no vos escandalizeis. Toda pesso
ajuda dos outros.Sobre o tema doguei a trabalhar um pequeno te
Ato Sem Histria, para um proje
Agora, mas sei que toquei s de le
Quem sabe um dia...
Era o momento dos amigos se encont
dos casados e com filhos gritando e cdia inteiro. At que veio a notcia: E
com cncer Foi um choque muito gra
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com cncer. Foi um choque muito gra
primeira vez que esse problema oc
famlia e todos procuramos cerc-la de
tentando fazer seu sofrimento meno
tvel. Qualquer sugesto de terapia
era aceita, todo remdio natural foi teque no foi mais possvel fugir da q
princpio ela tentava superar da mel
esclarecendo o problema pras crian
do piada, assumindo publicamconseqncias fsicas do tratament
conforme as sesses foram se inten
chegou-se a um ponto em que foi n
internao. Ela foi realmente muito
f l
virar sozinhos, sem professor. Fo
bastante delicado. Contei com a ae cunhadas pra cuidar das crian
empregada Giselda que faz a casa
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empregada, Giselda, que faz a casa
voltei pro trabalho textos e cu
forma de superar e de tocar a vida
Naquela poca eu trabalhava na E
Teatroe estava escrevendo Iepe, nal. Em seguida emendei o Till E
finalizei o roteiro do meu primeiro
ma, em parceria com a Eliane (Lili
cinema era um sonho pra mim. Umtor Ivo Branco me chamou pra
num roteiro dele. A Lili era mulhe
le tempo, estudava psicologia. Se
tinha reunio com o Ivo ela dava su
f d d
A Lili muito determinada, sabe o q
noset, apesar do tamanhico dela, impto porque muito boa diretora.
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No perodo de pesquisa pro segun
Narradores de Jav, l fui eu numa no
pelo Jequitinhonha. A Lili reuniu um
fomos explorar aquela regio, em bus
o e histrias. Foi uma viagem riqussmos com muito material pro filme e e
novo projeto na cabea. Escuta s.
Na equipe estava o Cao Guimares, um asta recm-chegado da Inglaterra e que
uma novidade, pelo menos pra mim: u
digital. Ele registrou toda a viagem e,
papos, falava das facilidades tanto tcn
d d
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Sempre achei que o ensino do cine
extremamente elitizado, da poca emsar em fazer cinema era um sonho
acessvel apenas aos grandes centros e
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p g
de excelente situao econmica. Da
que os equipamentos custava
altssimos. E no final dos anos 90, e
equipamentos estivessem mais barat
fazia cinema barato.
Por que no comear a fazer cinem
bvio? Do roteiro? Da dramaturgia? P
se pegar uma pequena cmera e, comroteiro, fazer um filme? No para o
mundial, no para o Festival de Ca
para mostras, pro bairro, pra galera
no se instituir a prtica do cinema co
d d
Por que o cinema do ABC no pod
mesma forma? Por que o cinemanascer como o teatro amador?
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Com todas essas idias fervilhand
redigi o tal projeto e levei Prefei
Andr. O prprio Celso Daniel n
Celso (!) quis tratar do assunto co
vou prontamente a iniciativa. Pagde um trabalho pioneiro: quase n
o ncleo de direo, somente ao
aceitando a idia de trabalhar com
no s com uma cmera na mo ecabea. Mas a cidade conta hoje
Livres de Teatro, Dana e Cinema
me orgulho de fazer parte de tod
d f d d
me oferecia. Mas acho que no que
corao. Alis, foi justamente o coracabea, que me apontou, determinad
aluna de dramaturgia. Pensei nos m
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na minha casa, na minha vida. Achei
camos algum que gostasse de ns,
novamente uma presena feminina
caminho. Meus filhos agora nossos
as muito especiais.
Rveillon de 2000, em famlia: Vanessa, Shea,
Abreu, Thoms e Jonas
Receberam-na de braos abertos
que volta e meia ocorrem no sdaqueles que se tm com as m
Minha vida ganhou mais qualidad
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a Adlia chegou. A vida dela, eu sei
trabalho. S que ela brava tamb
eu, de pai e me. Pode no ser de
lobisomem ou de garimpeiro, mas
no! E vamos tocando em frente, ncotidiano do possvel que a vida
Grupo Galpo e o processo colabo
Bem, eu j falei que acredito mesm
querer uma coisa de corao, n
contar outro caso. Eu sempre adm
o Grupo Galpo, de Belo Horizontetrabalho e o pessoal de l Ficava pe
rincia de criao que a Escola Livrede
Ento a Maria Thas e o Cac Carvalhova dirigindo o espetculo Partido, me
Aceitei sem pestanejar, n? Fiquei fel
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que o trabalho que realizamos em Sa
comeava a frutificar em outros luga
Bem, eu iria iniciar um ncleo de dra
que ficaria responsvel pelo texto dolo a ser criado pela turma daquele a
o seria do Jlio Maciel, ator do grup
giraria em torno dos 500 anos do des
to do Brasil. Um olhar crtico, nada rides. A equipe com que eu iria traba
iniciantes na rea da dramaturgia, ma
ceu um grupo muito interessante, pr
maduro. Houve uma srie de percal
b lh h d
rante um ano a gente foi trabalha
l umas sete ou oito vezes. Recebiaeles escreviam pela internet, discut
te construiu um espetculo chama
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1500, que foi muito legal.
A partir da, comecei a desenvolve
contnuo junto com esse ncleo de
que se abriu para novos interessadmais trs anos elaboraram textos
mente no Oficino. Alguns come
lhar fora, quer dizer, comeou-se
dramaturgia em Belo Horizonte dmuito interessante. Que era uma c
to o grupo quanto eu queramos.