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    Cdigo de Processo Civil

    Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer processoelectrnico, mecnico ou fotogrfico, incluindo fotocpia, xerocpia ou gravao,sem autorizao prvia do editor.

    Exceptuam-se as transcries de curtas passagens para efeitos de apresentao,crtica ou discusso das ideias e opinies contidas no livro. Esta excepo no pode,no entanto, ser interpretada como permitindo a transcrio de textos em recolhasantolgicas ou similares, da qual possa resultar prejuzo para o interesse pela obra.

    Os infractores so passveis de procedimento judicial, nos termos da lei.

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    Cdigo de Processo Civil

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    LISBOA2007

    GUIN-BISSAU

    Cdigo de Processo Civile

    Legislao Complementar

    FACULDADE DE DIREITO DE BISSAU

    Centro de Estudos e Apoio s Reformas Legislativas

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    Cdigo de Processo Civil

    Ficha Tcnica

    Ttulo:Cdigo de Processo Civil e Legislao Complementar

    Edio:AAFDLAlameda da Universidade 1649-014 LISBOA

    Fotocomposio:

    AAFDL

    Impresso:AAFDL

    Tiragem:750 exs.

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    NDICE GERAL

    Nota Introdutria ................................................................................................. 11

    Nota Prvia .......................................................................................................... 13

    Decreto-Lei n 44.129/1961, de 28 de Dezembro ................................................. 15

    Decreto-Lei 47.690/1967, de 11 de Maio ........................................................... 35

    Cdigo Civil

    Livro I Da aco ............................................................................................... 37

    Livro II Da competncia das garantias da imparcialidade ............................... 51

    Livro III Do processo ........................................................................................ 71

    Livro IV Do tribunal arbitral ............................................................................ 409

    Apndice

    Decreto n 43.809/61, de 20 de Julho Aprova o Cdigo das Custas Judiciaisdo Ultramar 2 Suplemento ao Boletim Oficial n 32, de 18 de Agosto de1961 ..................................................................................................................... 415

    Decreto-Lei n 323/70, de 11 de Julho D nova redaco a vrios artigos doCdigo de Processo Civil Suplemento ao Boletim Oficial n 35, de 2 deSetembro de 1970 ............................................................................................... 467

    Portaria n 402/70, de 17 de Agosto Torna extensivo ao ultramar, continuandoa observar-se o condicionamento estatudo na portaria preambular de aplicaos provncias ultramarinas do Cdigo de Processo Civil e subsequentes alteraes,o Decreto-Lei n 323/70, que d nova redaco a vrios artigos do referido Cdigo Suplemento ao Boletim Oficial n 35, de 2 de Setembro de 1970 ................ 471

    Lei n 1/73, de 24 de Setembro Boletim Oficial n 1, de 4 de Janeiro de 1975 ...... 473

    Decreto n 24/77 Cria, na Guin-Bissau, o Supremo Tribunal de Justia, constitudopelos camaradas que indica Boletim Oficial n 21, de 21 de Maio de 1977 ....... 475

    Decreto-Lei n 5/85, de 23 de Novembro Estrutura o Supremo Tribunal deJustia Suplemento ao Boletim Oficial n 47, de 23 de Novembro de 1985 ...... 477

    Decreto n 18/88, de 23 de Maio Aprova os impostos, taxas e emolumentosconstantes das tabelas que se publicam em anexo e que fazem parte integrantedeste Decreto Suplemento ao Boletim Oficial n 21, de 23 de Maio de 1988 ....... 479

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    Cdigo de Processo Civil

    Resoluo n 7/88, de 17 de Junho Ratifica o Acordo de Cooperao Judiciriaentre a Repblica Popular de Angola, Repblica de Cabo Verde, Repblicada Guin-Bissau, Repblica de Moambique e Repblica Democrtica de S.Tom e Prncipe 3 Suplemento ao Boletim Oficial n 24, de 17 de Junho de1988 ..................................................................................................................... 509

    Resoluo n 5/89, de 7 de Maro Ratifica o Acordo de Cooperao Judiciriaentre a Repblica da Guin-Bissau e a Repblica Portuguesa, assinado a 5 deJulho de 1988, em Bissau, cujo texto em portugus se aplica em anexo presenteResoluo Suplemento ao Boletim Oficial n 10, de 7 de Maro de 1989 ........ 527

    Decreto-Lei n 6/93, de 13 de Outubro Aprova a Lei Orgnica dos Tribunais deSector Suplemento ao Boletim Oficial n 41, de 13 de Outubro de 1993 ....... 565

    Lei n 8/95, de 25 de Julho Aprova os Estatutos dos Magistrados do MinistrioPblico Suplemento ao Boletim Oficial n 30, de 25 de Julho de 1995 ....... 585

    Decreto-Lei n 6/97, de 27 de Maio Reforma dos Servios do Notariado e dosRegistos 3 Suplemento ao Boletim Oficial n 21, de 27 de Maio de 1997 ........ 607

    Regulamento Interno do Conselho Superior da Magistratura Judicial Suplementoao Boletim Oficial n 36, de 9 de Setembro de 1997 ........................................ 621

    Regulamento das Inspeces Judiciais Conselho Superior da Magistratura Boletim Oficial n 11, de 13 de Maro de 2000 ................................................ 629

    Lei n 1/99, de 27 de Setembro Aprova o Estatuto dos Magistrados Judiciais Suplemento ao Boletim Oficial n 39, de 27 de Setembro de 1999 .............. 639

    Regulamento para as Eleies do Presidente e Vice-Presidente do SupremoTribunal de Justia Conselho Superior da Magistratura Boletim Oficialn 11, de 13 de Maro de 2000 ........................................................................... 667

    Decreto-Lei n 9/2000, de 13 de Julho institucionalizada a arbitragemvoluntria Boletim Oficial n 40, de 2 de Outubro de 2000 .......................... 671

    Lei n 3/2002, de 20 de Novembro Aprova a Lei Orgnica dos Tribunais Suplemento ao Boletim Oficial n 47, de 20 de Novembro de 2002 ............... 689

    Despacho n 3/2004 Considerando a necessidade urgente de se proceder actualizao da tabela relativa s taxas do imposto de justia praticadas nostribunais Boletim Oficial n 12, de 22 de Maro de 2004 ............................. 713

    Conveno de Parceria Acordo de Parceria para a Cooperao Jurdica eJudiciria Boletim Oficial n 12, de 22 de Maro de 2004 ............................ 715

    Decreto n 2/2004 aprovado o Acordo de Cooperao Jurdica entre aRepblica de Angola e a Repblica da Guin-Bissau Boletim Oficial n 18,de 3 Maio de 2004 .............................................................................................. 719

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    OHADA Acto Uniforme para a Organizao dos Processos Colectivos deApuramento do Passivo ....................................................................................... 733

    OHADA Acto Uniforme, adoptado em 10 de Abril de 1998, relativo Organizao dos Processos Simplificados de Cobrana e de Execuo ............. 805

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    Cdigo de Processo Civil

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    NOTA INTRODUTRIA

    1 Com a presente colectnea reuniu-se a maior parte das leis que regulam o processocivil com elevado interesse para os operadores do sistema judicial da Guin-Bissau.Nela se incluem vrios diplomas contendo normas do direito civil adjectivo e algumasleis complementares igualmente importantes para os operadores do sistema.

    2 Apesar de todas as dificuldades experimentadas na recolha da legislaopertinente para a colectnea, tendo em conta a desorganizao da nossa administraopblica em matria de conservao da sua documentao, designadamente da legislaovigente, publicada no Boletim Oficial e uma falta gritante de bibliotecas organizadasadequadamente, foi possvel adoptar-se uma sistematizao simples e racional.Agruparam-se as cerca de duas dezenas de diplomas da seguinte maneira:

    a) No primeiro grupo (1 e 2) encontram-se dois importantes diplomas a Constituioda Repblica e a lei que serviu para evitar o vazio jurdico no pas com a sucessodo nosso Estado ao Estado colonial;

    b) No segundo grupo (3 a 9), vm todas as leis de cariz processual civil, comeando,como natural, com o cdigo me (Cdigo de Processo Civil) e diplomasposteriores que nele introduziram alteraes ou revogaram algumas das suasdisposies, incluindo um acto uniforme da OHADA, que organiza processossimplificados de cobrana e das vias de execuo e a parte cvel do Estatuto deAssistncia Jurisdicional aos Menores do Ultramar, bem como o Cdigo dasCustas Judiciais no Ultramar;

    c) No terceiro grupo (10 a 12) esto o Cdigo das Custas Judiciais no Ultramar e osdiplomas posteriormente aprovados, introduzindo nele alteraes ou actualizandoas taxas e impostos praticados nos tribunais judiciais;

    d) No quarto grupo (13 a 16) est a legislao que regula o funcionamento dostribunais nacionais cveis, incluindo o Supremo Tribunal de Justia, bem comoo tribunal da OHADA, contendo normas processuais que interessam a todos osoperadores da justia;

    e) No quinto grupo (17 a 21) esto elencados os diplomas que regulam as magistraturasjudiciais e do Ministrio Pblico, que se apresentam, em nossa opinio, comocomplementares legislao processual civil, que , como se sabe, o objectoprincipal desta colectnea;

    f) No sexto e ltimo grupo (22 a 24) foram ordenados os acordos jurdicos e judiciriosinternacionais, quer bilaterais quer multilaterais relevantssimos para a nossacomunidade jurdica, com particular incidncia nos profissionais de foro.

    3 Realce-se, no entanto, o facto de os textos legais nesta colectnea publicadosserem de pocas diferentes, alguns deles anteriores nossa independncia em 24 deSetembro de 1974, o que tambm pode justificar as referncias a instituies ouorganismos estatais que j no existem na nossa ordem jurdica. Saliente-se ainda a

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    Cdigo de Processo Civil

    incluso da legislao da OHADA vigente na nossa ordem jurdica, designadamenteos dois Actos Uniformes, o Regulamento do Tribunal Comum de Justia e Arbitrageme o Regulamento do Processo do Tribunal Comum de Justia e Arbitragem.

    4 Ora, a presente colectnea pretende, de uma forma singela, facultar aos prticosde direito processual civil um instrumento de trabalho cuja utilizao se revista de grandesimplicidade e utilidade, designadamente para magistrados, advogados, professoresde direito, juristas de empresas e estudantes de direito.

    5 Poder, porventura, no estar reunida nesta colectnea toda a legislao processualcivil vigente no pas, mas, seguramente, estar nela a maioria e a mais relevante paraos operadores do sistema jurdico guineense.

    Mamadu Saliu Jal Pires e Fernando Jorge Ribeiro

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    NOTA PRVIA

    Ainda que editada em simultneo com o ndice de Legislao e mais trs ColectneasLegais da Guin-Bissau Direito Administrativo, Direito Penal e Processual Penal a compilao de legislao processual civil foi aquela cujos trabalhos, por razestcnicas, se revelaram mais morosos e por isso terminados em ltimo lugar. Da que,neste lugar, se justifiquem algumas breves consideraes sobre a iniciativa editorial,agora concluda, do Centro de Estudos e Apoio s Reformas Legislativas da Faculdadede Direito de Bissau de organizar uma coleco de colectneas de legislao dosprincipais sectores da ordem jurdica guineense.

    Num pas sem movimento editorial prprio1 e cujo Boletim Oficial, alm de caroe impresso com muito atraso, distribudo de forma extremamente deficiente, sendo,alis, vulgar estarem absolutamente indisponveis vrios exemplares, a utilidadedestas colectneas manifesta, servindo de preciosa ferramenta de trabalho para todosos que lidam regularmente com o sistema jurdico da Guin-Bissau e que por isso sedefrontam com permanentes dificuldades na identificao e consequente aplicaodo Direito em vigor.

    A importncia das presentes edies ultrapassa, contudo, este plano, merecendo serevidenciada por mais duas outras ordens de razes.

    Por um lado, porque a recolha legislativa que lhes subjaz representa um valiosoponto de partida para a constituio de bases de dados informatizadas, com o textointegral dos diplomas que, alis, estaro, acessveis a breve trecho no site da Faculdade(www.fdbissau.com); por outro, representam um instrumento auxiliar de apoio aoprocesso de reforma legal previsto para os prximos anos pelos parceiros da cooperaointernacional.

    Restam duas palavras finais.Uma, de sinceras felicitaes, a todos os organizadores das diversas colectneas,

    Drs. Joo Pedro Alves Campos (Direito Penal e Processual Penal), Mnica Freitas,Cludia Madaleno, Juliano Fernandes, Fod Abulai Man (Direito Civil), MadalenaNora, Ana Cludia Carvalho (Direito Administrativo) Mamad Sali Jal Pires, FernandoJorge Ribeiro (Direito Processual Civil) e Higino Cardoso (ndice de Legislao), pelotrabalho competente e dedicado com que construram esta coleco de colectneaslegais, sem paralelo na histria editorial do pas.

    1 Com efeito e que se saiba, as nicas compilaes legislativas guineenses, anteriores s que agorase do estampa, foram tambm organizadas pela Faculdade de Direito de Bissau na dcada de noventa Cdigo Penal Anotado e Colectnea de Direito Administrativo encontrando-se esgotadas h vriosanos. Depois disso, assinale-se a colectnea de Legislao Econmica da Guin-Bissau, organizadapelos Mestres Emlio Kafft Kosta, da Faculdade de Direito de Bissau, e Ricardo Borges, da Faculdadede Direito de Lisboa, publicada em Coimbra pela Editora Almedina em Setembro de 2005.

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    Cdigo de Processo Civil

    2 A pedido dos prprios organizadores das vrias Colectneas, agradece-se que eventuais lacunasde diplomas legais sejam comunicadas para [email protected], a fim de serem tidas em conta nasfuturas edies.

    Outra, de profunda gratido, a todos os patrocinadores, sem cujo contributo financeirono teria sido possvel viabilizar o presente conjunto de edies. Antes de mais, aoInstituto Portugus de Apoio ao Desenvolvimento, alma mater do projecto de cooperaocom a Faculdade de Direito de Bissau e que mais uma vez prestou um apoio decisivoa esta iniciativa do seu Centro de Estudos mas tambm Fundao Calouste Gulbenkian,Banco Santander, Petromar e Gabinete de Relaes Internacionais, Europeias e deCooperao do Ministrio da Justia de Portugal, que asseguraram o necessriofinanciamento remanescente, num gesto de reconhecimento ao impenitente esforoda Faculdade de Direito de Bissau de auxiliar consolidao do Estado de Direitodemocrtico na Guin-Bissau2.

    Bissau, Janeiro de 2007

    CENTRO DE ESTUDOS E APOIO S REFORMAS LEGISLATIVASDA FACULDADE DE DIREITO DE BISSAU

    Rui Paulo Coutinho de Mascarenhas Atade

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    Decreto-Lei n 44.129/1961, de 28 de Dezembro

    1 O processo civil anterior s reformas empreendidas a partir de 1926 assentava,como de todos sabido, sobre uma concepo essencialmente privatstica da relaoprocessual.

    Era s partes que competia, por fora do princpio da livre disponibilidade darelao material levado at s suas derradeiras consequncias, no s a tarefa deimpulsionar a actividade dos tribunais e de definir as pretenses sujeitas apreciaojurisdicional, como o encargo de carrear para o processo todo o material probatriode que ao juiz era lcito conhecer na apreciao da matria de facto por elas delimitada.

    O juiz assistia, numa posio puramente passiva destinada a garantir a imparcialidadedo tribunal, ao desenrolar da luta que os pleiteantes dirimiam entre si.

    O defeito fundamental do sistema, que, alm do mais, impedia a necessria fiscalizaoda actividade instrutria desenvolvida pelas partes, era ainda agravado por outrascircunstncias especiais, como fossem a excessiva relevncia atribuda ao formalismoprocessual, a par das srias restries opostas livre apreciao do tribunal na prpriafase do julgamento.

    O processo era totalmente escrito, recheado de solenidades perfeitamente dispensveis, violao das quais a lei fazia corresponder por vezes sanes inteiramente despro-porcionadas, a fim de melhor garantir a sua observncia.

    E embora os textos admitissem certo nmero de provas livres, tambm verdadeque estas mesmas vinham a ser valoradas de harmonia com as regras consagradas pelouso, que cerceavam em medida aprecivel o poder de apreciao do julgador.

    O valor dos depoimentos no contraditados acabava, assim, por depender mais donmero do que da qualidade das pessoas que os subscreviam.

    Alis, como poderia avaliar correctamente a qualidade dos depoimentos prestadosum juiz que no assistia inquirio e que muitas vezes no chegava sequer a ver osdepoentes?

    O resultado prtico mais saliente da defeituosa estrutura do sistema nessa pocavigente era o de frequentemente perder a aco, quando no perdia definitivamenteo direito que invocara, a parte cuja posio melhor fundada se achava em face da leisubstantiva.

    2 A breve trecho se reconheceu que o antigo direito adjectivo, todo decalcadosobre os postulados fundamentais do liberalismo individualista, j no correspondias exigncias dos tempos modernos, que reclamavam um predomnio mais seguro dajustia material sobre a pura justia formal e, consequentemente, uma interveno maisactiva do juiz no desenvolvimento da relao processual.

    E, na verdade, os princpios proclamados pelos processualistas italianos na sequnciadas novas correntes de ideias e que da Itlia rapidamente se propagaram s restanteslegislaes de tipo continental, do ao processo uma feio marcadamente publicstica;no eliminam, mas reduzem aos seus justos limites o chamado princpio dispositivo,

    Decreto-Lei n 44.129/1961, de 28 de Dezembro

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    Cdigo de Processo Civil

    ao mesmo tempo que ampliam em termos considerveis o domnio de aplicao doprincpio inquisitrio.

    Entre ns o famoso Decreto n 12.353/1926, de 22 de Setembro, que assinala ocomeo da reaco legislativa contra o descrdito da justia a que conduzira o sistemaanterior, atravs de um processo que, alm de ser lento, anacrnico e dispendioso,estava cheio de ardis e subtilezas e era fonte permanente de solues injustas.

    A nova legislao comeou por confiar ao juiz os poderes necessrios para, desdeo ingresso da demanda no tribunal, lhe assegurar o comando efectivo da aco.

    Instituiu o despacho liminar e criou o despacho saneador. Deu efeito cominatrio citao na generalidade das aces. Concentrou os termos do processo, enquantosimultaneamente acelerou o ritmo do seu andamento. Aboliu grande nmero deformalidades inteis. Simplificou incidentes e recursos, limitando consideravelmenteos seus efeitos dilatrios. Disciplinou a produo das provas.

    Posteriormente criou-se o tribunal colectivo, ao mesmo tempo que se assegurou otriunfo pleno da oralidade, quer na instruo, quer na discusso do processo.

    Se quisssemos definir, em sntese, os rasgos essenciais do novo regime, poderamosdestacar as notas seguintes: simplificao do formalismo processual e moderao dasconsequncias da sua inobservncia; possibilidade de o juiz arredar certos obstculoslevantados pelas partes ou pelos auxiliares processuais ao curso normal da aco;ampla consagrao do princpio inquisitrio em matria de instruo do processo;garantia efectiva do princpio da imediao das provas, atravs do sistema da oralidadepura, que permite ao julgador a utilizao plena dalguns coeficientes de valorizaodos diversos depoimentos que escapam por completo ao puro relato escrito das provas;concentrao do processo, atravs do princpio da continuidade da audincia e dafisionomia especial que a audincia de discusso e julgamento passou a revestir.

    3 Todas estas importantes inovaes foram reunidas e sistematizadas no Cdigode 1939 que, completando e aperfeioando muitas das solues anteriores, representaassim o coroamento de toda a obra renovadora iniciada, dentro deste domnio, nosegundo quartel do sculo.

    Quem confrontar desapaixonadamente os resultados da reforma do processo com acatica situao, a que a nova legislao veio pr termo, h-de forosamente concluir queo Cdigo de 1939 marca um avano extraordinrio no campo das instituies processuais.

    Isso no impediu, porm, que, ao lado de inmeros estudos de ndole predominante-mente exegtica, a publicao do novo estatuto do processo civil suscitasse muitascrticas e reaces de vria ordem: umas, fruto apenas da resistncia que a rotina jamaisdeixa de opor ao progresso das instituies jurdicas, na medida em que progredirsignifica necessariamente certo rompimento com o passado; outras, que se avolumaram medida que o tempo foi correndo, provenientes de reais deficincias de previso dolegislador ou de defeituosa regulamentao dos princpios bsicos estabelecidos.

    Assim se explica que, pouco mais de vinte anos volvidos sobre o comeo da vignciado Cdigo, j hoje se reconhea a necessidade urgente de rever certas solues neleconsagradas, de corrigir algumas das suas imperfeies e de solucionar muitas dasdvidas de interpretao que a aplicao dos novos textos a pouco e pouco temsuscitado.

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    A brevidade com que a necessidade desta reviso se manifestou s pode surpreenderquem no atentar na aplicao prtica excepcionalmente intensa e frequente a queesto sujeitos os textos de natureza processual ou quem desconhecer a profundainovao que o Cdigo de 39 e os diplomas precedentes introduziram nos domniosdo direito adjectivo.

    A reforma a que se procede, e para a qual oportunamente se abriu largo inquritoem todo o Pas, no envolve, contudo, uma substituio dos princpios fundamentaisque a legislao processual vigente abraou, visto que a superioridade das novasconcepes, a despeito da crtica impiedosa a que nalguns pontos tm sido sujeitas,ainda no pde ser validamente contestada. Das numerosas sugestes que o Governopde recolher, no curso do inqurito levado a cabo, nenhuma soluo vivel foiefectivamente apresentada em termos de garantir, com a necessria segurana, apreferncia doutro sistema.

    Ao lado, porm, da simples beneficiao formal dos textos ou da correcosubstancial de algumas solues, cumpre ainda assinalar a inteno que houve napresente reforma de actualizar muitas das disposies do Cdigo, adaptando-as snovas realidades da vida, que j no so positivamente as mesmas de h vinte anosatrs.

    4 A lei preambular do Cdigo de 1939 determinava, semelhana do que tem sidopreceituado em disposies legais congneres, que todas as alteraes futuras emmatria de processo civil fossem feitas nos lugares prprios do Cdigo, mediante asubstituio dos artigos modificados, a supresso dos inteis e o aditamento dos quese mostrassem necessrios.

    E foi nesse sentido que, de incio, se orientaram os trabalhos da Comisso Revisorado Cdigo; cedo se fez sentir, no entanto, perante o volume crescente das alteraesaprovadas, a dificuldade de manter a orientao estabelecida, ao mesmo tempo quese reconheceu a convenincia de dar ao diploma a estrutura formal prevista para o novoCdigo Civil (j utilizada, alis, nos mais importantes diplomas recentemente emanadosdo Ministrio da Justia) e que tem incontestveis vantagens de clareza, de simplificaoe de individualizao dos diferentes preceitos legais.

    Ainda assim, houve a preocupao constante de respeitar, na medida do possvel,a ordenao sistemtica das matrias e a prpria localizao do articulado, sdeslocando os preceitos a que se julgou necessrio ou grandemente vantajoso dar umaoutra arrumao.

    O novo diploma persiste na ideia de simplificar e acelerar os termos das aces, afim de garantir aos interessados, sem prejuzo do necessrio acerto e ponderao dasdecises judiciais, a justia pronta e expedita de que o Pas ainda hoje carece, a despeitode todos os progressos alcanados nesse aspecto.

    Assim que suprime alguns restos mais de frmulas tradicionais que perderamsentido no direito actual. Unifica muitos prazos. Dispensa o juiz de intervenesmeramente burocrticas, deixando ao magistrado mais tempo livre para as absorventesfunes que o novo sistema lhe atribuiu. Supre lacunas de regulamentao e solucionamuitas das dvidas at agora suscitadas no foro. Alarga e aperfeioa o regime daoralidade, enquanto disciplina mais criteriosamente o seu funcionamento, bem como

    Decreto-Lei n 44.129/1961, de 28 de Dezembro

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    Cdigo de Processo Civil

    o do rgo colegial especialmente destinado a servir o sistema. Acelera a execuo dassentenas e outros ttulos, modificando radicalmente em determinados pontos o esquemada aco executiva.

    As modificaes atravs das quais se procurou alcanar semelhantes objectivos smuito sumariamente podem ser descritas neste lugar.

    5 So muitas as alteraes introduzidas no regime da aco em geral, da competnciae das garantias da imparcialidade, dos actos processuais e ainda no captulo do desen-volvimento, crises e incidentes da instncia, mas que no interessa grandemente referirem face da publicidade que foi dada aos trabalhos preparatrios da reforma, nos quaisessas modificaes so no geral devidamente assinaladas.

    Merece todavia ser especialmente destacada, neste sector, a alterao do prazo dededuo dos incidentes que precediam a contestao.

    Esses incidentes tinham de ser suscitados nos cinco dias posteriores citao; maspassam agora a poder ser deduzidos na prpria contestao (caso do chamamento demanda, quando o ru conteste) ou no prazo em que a contestao deve ou deveriaser oferecida (casos da incompetncia relativa, da suspeio, da nomeao aco, dochamamento autoria e do chamamento demanda quando o ru no conteste).

    Assim se atribuem advertncia inicialmente feita ao ru, no acto da citao, todosos efeitos teis e se evitam os graves inconvenientes que para muitos citados advinhamda deduo antecipada de certas formas de defesa indirecta.

    6 O captulo relativo aos chamados processos preventivos e conservatrios tambm sensivelmente remodelado. A prpria designao genrica do instituto passaa ser a de procedimentos cautelares, que se julga mais conforme estrutura efinalidade especfica das providncias por ela abrangidas.

    So excludos deste ncleo de providncias as caues, os depsitos e os protestos,cuja funo no idntica dos procedimentos cautelares.

    A subsistncia das providncias obtidas continua a depender da proposiourgente e do seguimento diligente da aco destinada a apreciar em definitivo o direitoacautelado.

    A primeira condio fica estabelecida com mais rigor do que anteriormente, pois,embora o prazo de propositura da aco tenha sido ampliado, a lei manda cont-lo danotificao do despacho que ordene a providncia, e no, como fazia o Cdigo vigente,a partir da deciso definitiva do recurso ou dos embargos opostos providncia.

    O sistema anterior permitia que subsistissem durante meses, quando no durante anos,medidas extremamente gravosas, decretadas com base em investigaes sumarssimas,e que estas providncias fossem por vezes usadas apenas como um meio de obrigar oadversrio a capitular, antes mesmo de ser accionado.

    O procedimento criado pelo Cdigo de 39 com o nome de providncias cautelaressubsiste ainda, mas com a designao de providncias cautelares no especificadas,visto que providncias cautelares so todas as que resultam dos restantes meiosregulados no mesmo captulo. Diz-se, entretanto, de forma bem explcita, que se tratade prevenir o chamado periculum in mora nos casos no abrangidos pelos procedimentoscautelares clssicos ou nominados.

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    Ao mesmo tempo, o desenho esquemtico das providncias adoptadas adquire aextenso bastante para compreender todo o vazio que a disposio se destina a preencher.

    Regulam-se ainda os termos do procedimento que a lei anterior confiava, quase porinteiro, ao arbtrio judicial. Impe-se como regra a audincia prvia do requerido, ques dispensada quando possa comprometer o xito da providncia. Permitem-seembargos a esta e sujeita-se o procedimento, de um modo geral, disciplina do arresto.

    O arresto preventivo, que a legislao anterior condicionava estreitamente, declara-seagora aplicvel sempre que, por qualquer meio, se prove a verosimilhana da dvidae o justo receio de insolvncia ou ocultao de bens por parte do devedor que no sejacomerciante. Abandona-se, para tanto, a referncia imprpria certeza da dvida,bem como a indicao limitada e casustica das condies em que a dvida se tem porverosmil.

    Era um condicionalismo que mal se compreendia dentro de um sistema que toamplamente permitia a adopo de medidas to ou mais severas, mediante outroprocesso.

    O arresto fica deste modo colocado no mesmo plano dos outros procedimentoscautelares e os tribunais passam a gozar de maior liberdade para o adaptarem aos vrioscasos concretos.

    7 Dado o carcter paradigmtico do processo comum de declarao, as modificaesconcernentes a esse vasto captulo do Cdigo atingem reflexamente outras zonas doprocesso e s por isso, independentemente de outras razes que no caso possam confluir,se devem considerar as mais importantes da reforma levada a cabo.

    O Cdigo abria o ttulo consagrado a esta matria com as disposies relativas obsoleta conciliao preliminar, tradicionalmente confiada aos tribunais de paz.Declarou-a, no entanto, absolutamente facultativa, e da que tenha sido absoluto, oupouco menos, o desuso em que a instituio veio a cair.

    De resto, logo a primeira reforma de 1926 transferiu para o juiz da causa a funode conciliar as partes na pendncia da aco, o que supriria, em qualquer caso, a faltada tentativa preliminar de conciliao.

    Entendeu-se, assim, que a matria poderia ser eliminada do Cdigo, sem nenhuminconveniente srio. Mantm-se entretanto a funo conciliatria do juiz da causa,mas estabelecem-se para o efeito determinadas limitaes, com vista a coibir abusosem que alguns recaram.

    A audincia preparatria, embora continue a principiar, em regra, por uma tentativade conciliao, no adiada por falta de qualquer das partes ou do seu mandatrioespecial. A falta , no fundo, tomada como sintoma de que a parte no est interessadana conciliao.

    Alm disso, a convocao das partes para o fim nico de se tentar concili-las nopode ter lugar mais de uma vez.

    8 Em matria de articulados, merecem especial meno duas das mltiplasinovaes adoptadas.

    Uma a da notificao, feita ao autor, da apresentao da contestao, para que danotificao se conte o prazo de apresentao do articulado subsequente. A outra

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    Cdigo de Processo Civil

    consiste em alargar ao autor a faculdade, que j era unilateralmente reconhecida ao ru,de articular factos supervenientes fora dos prazos normais.

    bvia a utilidade da primeira medida. No regime precedente, dependia de datasempre incerta o incio da contagem do prazo facultado para a rplica ou resposta, cujafalta passa, alis, a revestir graves consequncias para o autor, se que as no tinha j,em to alto grau, na vigncia do Cdigo de 39.

    O autor s atravs de informaes verbais, desprovidas muitas vezes de garantiasuficiente, podia saber que o ru contestara.

    Quanto aos factos supervenientes, cumpre notar que o prprio oferecimento dedefesa superveniente por parte do ru estava deficientemente regulado na lei, que nadadispunha sobre a resposta correspondente e os termos posteriores.

    Cria-se agora a figura geral dos articulados supervenientes e regulam-se minuciosa-mente os termos subsequentes sua deduo.

    Torna-se desta forma praticvel a utilssima disposio que manda ter em conta, nadeciso da causa, os factos produzidos at ao encerramento da discusso, ao mesmotempo que se harmoniza esse salutar princpio de economia processual com a regra deque s podem ser atendidos na aco os factos articulados.

    9 No Cdigo em vigor, o despacho saneador precedido obrigatoriamente de umaaudincia de discusso, sempre que o juiz se proponha conhecer do pedido ou dequalquer excepo que no seja a nulidade do processo.

    Na prtica, a audincia preparatria do saneador converteu-se, na quase totalidadedos casos, numa simples tentativa de conciliao, possvel em qualquer estado dacausa, mas obrigatria sempre que a audincia se realizasse. Rarissimamente haviaalegaes.

    A razo do fenmeno est em ter a audincia ficado reservada para a discusso oraldas questes j discutidas por escrito nos articulados.

    Modifica-se este regime.A audincia preparatria s indispensvel no caso de se pretender conhecer, no

    saneador, de algum pedido ou de qualquer excepo peremptria. Para discusso deoutras excepes facultativa: o juiz s a ordenar quando a considere conveniente.

    As duas peas essenciais da segunda fase do processo declaratrio saneador equestionrio , que at aqui constituam objecto de despachos separados, fundem-senuma pea processual nica, embora com objectos distintos.

    Mais do que a no despicienda acelerao do processo, justificativa da excepoj anteriormente aberta para a aco de despejo, o que conta nesta inovao a intenode garantir uma perfeita harmonia entre saneador e questionrio, atravs da anliseconjunta ou simultnea das questes de direito e das questes de facto que interessama um e a outro.

    10 No captulo das provas, vale a pena referir que foi reforado o valor probatriodas fotocpias, que foi admitida e regulada a segunda avaliao de prdios cujaprimeira avaliao tenha sido efectuada pela secretaria e que foi, finalmente, ampliadoo mbito da inspeco judicial.

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    As fotocpias a que leis especiais no confiram maior fora passam a gozar domesmo valor probatrio que tm os documentos particulares.

    A avaliao feita pela secretaria judicial com base no rendimento colectvel deprdios inscritos na matriz pode ser corrigida mediante segunda avaliao efectuadapor trs peritos.

    A inspeco judicial poder recair sobre todas as coisas imveis ou mveis, e atsobre pessoas. Poder, inclusivamente, ter por objecto a reconstituio de factos.

    Desnecessrio se torna encarecer a utilidade de qualquer destas inovaes.Acrescenta-se ao rol das provas livres a confisso no reduzida a escrito. Trata-se

    da confisso que feita em depoimento de parte prestado em audincia e, por con-seguinte, no registado.

    O Cdigo vigente, embora inculcasse que o depoimento de parte era de livreapreciao do julgador, visto que s o mandava registar quando no fosse prestadoperante o tribunal colectivo, no deixava entretanto de excluir, indiscriminadamente,da competncia deste a valorao da confisso.

    Praticamente, porm, a convico final do colectivo no poderia deixar de serformada tambm sobre as confisses que ouvira.

    pelo menos intil impor que as considere separadamente o juiz singular, quandoas confisses no tenham sido to claras que justifiquem registo especial.

    11 A apreciao livre das provas pessoais, para ser perfeita, exige o contactodirecto do julgador com as pessoas que as prestam.

    Mas a imediao s plenamente praticvel na 1 instncia.E no estaria certo adopt-la na 1 instncia para permitir depois que o julgamento

    imediato pudesse ser substitudo por outro, mediato, em via de recurso. Consideradadispensvel a imediao para o segundo julgamento, supostamente mais correcto,dispensvel se deveria considerar ento para o primeiro. Quer isto dizer que o sistemas seria coerente se ambos os julgamentos partissem da mesma base, digamos do meroregisto das provas.

    Era este, alis, o nosso antigo regime e , praticamente, o que ainda hoje funciona,com uma ou outra variante, no essencial sob o aspecto que est em causa, nalgunspases estrangeiros.

    O regime foi abandonado na legislao nacional, j antes de 1939, para o processoordinrio, quando se aboliu o registo das provas produzidas em audincia.

    Esta modificao do formalismo processual necessitou de ser acompanhada de umaalterao orgnica profunda, tendente a evitar os perigos da apreciao livre das provaspor um nico juiz. A criao do tribunal colectivo permitiu, efectivamente, conjugaro princpio da imediao com as vantagens da colegialidade na livre apreciao dasprovas.

    Em lugar de se deixar a liberdade de apreciao da matria de facto entregue ao juizsingular, com recurso para um colgio, como se fazia no sistema antigo, transportou-seo colgio para a 1 instncia, pondo-o em contacto directo, imediato, com as provasa ponderar.

    A apelao, profundamente enraizada na nossa tradio processual, que ficouautomaticamente prejudicada na grande massa dos casos. E da nasceu uma srie

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    Cdigo de Processo Civil

    numerosa de crticas contra o colectivo, nem sempre apoiadas num conhecimentoexacto dos fundamentos e dos objectivos do novo sistema.

    No que tm de pertinente, as crticas suscitadas dirigem-se menos instituio doque a certos aspectos, realmente deficientes, do funcionamento do colectivo.

    Raros so, alis, os que pedem a abolio do tribunal colegial, embora sejam muitosos que reclamam a apelao das suas decises atravs do registo das provas produzidasperante o colectivo.

    H-de, no entanto, reconhecer-se que o meio proposto equivale a tornar o colectivopraticamente intil, na medida em que despreza em larga medida a razo de ser dacolegializao do julgamento da matria de facto na 1 instncia.

    12 E a verdade que, mau grado todas as crticas que lhe tm sido movidas, otribunal colectivo constitui ainda o meio mais idneo de averiguao dos factos cujarealidade s pode ser alcanada atravs de provas sem valor legalmente tabelado. Ocolectivo permite conciliar as preciosas vantagens da imediao das provas com asgarantias da colegialidade, que anteriormente apenas existia em grau de recurso e numjulgamento mediato.

    O menos que, por conseguinte, se julga lcito asseverar que so de tal mododuvidosas e precrias as vantagens do sistema do juiz-instrutor, como base de um regimede oralidade mitigada, adoptado nalguns pases estrangeiros, sobre o esquema daoralidade pura alicerado na interveno sistemtica e imediata do colectivo, como estconsagrado na legislao portuguesa, que de nenhuma forma se justifica neste momentoo abandono das solues vigentes, com os graves inconvenientes e as dificuldades deordem vria que uma alterao de semelhante amplitude necessariamente arrastariaconsigo.

    O que importa, desde que o colectivo se deva manter, ampliar logicamente a suaesfera de aco e corrigir, por outro lado, as causas das reais deficincias que tm sidoapontadas ao seu funcionamento.

    O tribunal colectivo passa deste modo a intervir no prprio processo sumrio,quando a causa esteja fora da alada do tribunal de comarca, permitindo a aboliodos demorados e, neste caso, injustificados depoimentos escritos. As partes ficamtodavia com a faculdade de prescindir da interveno do rgo colegial, como at aquilhes era lcito renunciar ao recurso.

    Mas a circunstncia de se sujeitarem ao veredicto do juiz singular sobre a matriade facto no as impede de recorrer da deciso de direito, o que importa melhoriaconsidervel em comparao com o regime anterior.

    13 A acusao que mais frequentemente se faz ao colectivo a de nem semprejulgar em rigorosa harmonia com a prova produzida, por querer muitas vezes amoldaras suas respostas soluo que considera a justa deciso da causa.

    Descontando embora os excessos ou a carncia total de fundamento de algumas dascrticas formuladas, bem possvel que certos defeitos do sistema tenham concorridopara a verificao de semelhante anomalia.

    O primeiro consiste logo na forma como o Cdigo de 1939 definia o poder de livreapreciao das provas confiado ao colectivo.

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    A apreciao das provas livres dizia o artigo 655 do Cdigo que haveria de ser feitapelo tribunal segundo a sua convico, de modo a chegar deciso que lhe parecessejusta.

    Os dizeres da lei podiam, efectivamente, inculcar a ideia de que, ao decidir a matriade facto, o tribunal colectivo deveria ter em conta no apenas o resultado imediato dasprovas, mas tambm as consequncias jurdicas da deciso, a sorte final da demanda.

    Mas no essa, de qualquer modo, a boa doutrina.Ao apreciar as provas, o juiz s tem de se pronunciar sobre a veracidade das

    afirmaes de facto sujeitas sua deciso, sem curar em princpio das consequnciasjurdicas que os factos arrastam consigo.

    Estas consequncias so, por definio, as fixadas na lei, qual se no podemsobrepor critrios pessoais de equidade ou de justia pura. De contrrio, o colectivoinvadiria indirectamente terreno que da exclusiva jurisdio do magistrado a quemincumbe elaborar a sentena final.

    A nova redaco dada lei procura definir, neste aspecto, os justos limites daactividade do colectivo.

    14 Outra das causas que podem ter concorrido em medida aprecivel para a inversode funes censurada ao colectivo assenta no regime estabelecido para a discusso dopleito na audincia final do processo comum, segundo o qual o julgamento da matriade facto era precedido da discusso da prpria matria de direito.

    Produzidas algumas provas e reconstitudas outras na audincia, logo se entravana discusso conjunta dos respectivos resultados e da soluo jurdica da causa.

    O aspecto jurdico da aco era assim discutido sobre bases puramente hipotticas,tornando-se, por outro lado, muito fcil que a resposta mais adiante dada pelos juzes matria de facto fosse, em muitos casos, inelutavelmente dominada pelas consequnciasjurdicas que as alegaes dos advogados punham amplamente em relevo.

    Tambm neste ponto as coisas sofrem radical modificao. A discusso da matriade direito separada da discusso da matria de facto. E s tem lugar, como convmao rendimento til da discusso, depois de fixados os factos que interessam decisoda causa.

    Alm disso, s a discusso dos resultados da prova feita perante o colectivo; a doaspecto jurdico da causa tem lugar perante o juiz que h-de lavrar a sentena final eser geralmente escrita, no processo ordinrio. Julga-se que a forma escrita tornar adiscusso da matria de direito mais til, mas admite-se a forma oral quando ambas aspartes a prefiram, o que suceder certamente nos casos de maior simplicidade.

    15 Props ainda a Comisso Revisora, como medida destinada a aperfeioarindirectamente as respostas do colectivo, que ao juiz vencido em qualquer dasrespostas aos quesitos fosse permitido tornar pblico o seu voto.

    O problema das declaraes de vencido, mormente em matria de facto, revestesempre a maior delicadeza.

    Diz-se, com alguma razo, que o voto de vencido afecta o prestgio da deciso judicial.Por esse motivo o aboliu o Cdigo de 1939 nos tribunais superiores, sem exceptuaros puros julgamentos de direito, como so os do Supremo Tribunal de Justia.

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    Cdigo de Processo Civil

    Cedo se reconheceu, porm, serem maiores os inconvenientes do que as vantagensda abolio, no que se refere aos arestos dos tribunais superiores.

    E, por isso, logo no Estatuto Judicirio de 1944 se restabeleceu o voto de vencidonesses tribunais, onde a soluo at agora se tem mantido.

    A questo mais delicada e o acerto da soluo mais duvidoso no que concerne aotribunal colegial de 1 instncia. Mas desde que a admisso do voto de vencido podecontribuir de alguma forma para a melhoria das decises do rgo colegial, no se temdvida em perfilhar a sugesto da Comisso Revisora num momento em que tantoconvm fortalecer o prestgio do colectivo, aperfeioando os resultados da suaactividade.

    16 Outra inovao importante que a reforma consagra ainda neste captulo a queobriga os juzes a fundamentarem as respostas aos quesitos.

    H duas razes ponderosas que podem ser, e foram realmente, invocadas contra afundamentao do acrdo do colectivo.

    Uma assenta na extrema dificuldade de enunciar, com preciso, as razes que,muitas vezes por simples via intuitiva, influem justamente no esprito do julgador aoemitir determinada resposta. A outra provm da aparente inutilidade da motivao,desde que se no conceda e parece que no deve ser efectivamente concedida aotribunal de 2 instncia a faculdade de alterar, com base nela, as respostas dadas pelocolectivo matria do questionrio.

    Estas razes so indiscutivelmente srias, mas no parecem decisivas.Com ser difcil, num ou noutro caso, no se julga impossvel a tarefa de concretizar

    as razes em que se fundam as respostas ao questionrio. E a perfeio dessas respostass tem a lucrar com a substituio dos puros impulsos, tantas vezes desordenados eenganadores, da simples intuio pela anlise serena e reflectida dos factos que s arazo capaz de iluminar e controlar com a necessria segurana.

    S h vantagem em estimular os juzes a seguir atentamente o desenrolar de todaa instruo do processo, assim como h toda a convenincia em obrig-los a anotaroportunamente os resultados dos diferentes procedimentos probatrios, a recapitular,no momento da deciso, as impresses colhidas atravs da produo das vrias provase a conferir, sobretudo, os efeitos aparentemente contraditrios dos elementos que lhescumpre utilizar na formao da sua convico.

    A resposta segunda objeco est implicitamente contida no que se afirma emrelao primeira.

    A possibilidade de alterao das decises do colectivo no , como se v, a nicafinalidade capaz de justificar o dever de fundamentao das respostas aos quesitos.

    A necessidade de justificar a deciso, substituindo as respostas secas, dogmticas,autoritrias do colectivo por uma fundamentao esclarecedora do raciocnio dosjuzes, pode contribuir de tal modo no s para a maior ponderao e acerto da prpriaresposta, como para o maior prestgio da deciso e do rgo donde ela emana, que estasrazes bem legitimam, por si s, ou seja, independentemente da modificabilidade ouanulabilidade das respostas, a novidade da soluo perfilhada pelo diploma.

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    17 No captulo relativo sentena, se abstrairmos da modificao introduzida emmatria de competncia para fiscalizar a observncia da lei e a actuao dos funcionriosque intervm no processo, as alteraes mais importantes so as que respeitam aosvcios e reforma da sentena.

    O Cdigo tornava o conhecimento das nulidades da sentena dependente da arguiodirecta no tribunal que a proferira. O recurso da deciso continuou, porm, a poder tercomo fundamento qualquer dessas nulidades, desde que tivessem sido previamentereclamadas no tribunal recorrido.

    Quis-se estabelecer, por este meio, um processo que se sups mais econmico eexpedito de obter a reforma da sentena, mas a prtica veio a demonstrar que a soluoadoptada tinha mais inconvenientes do que vantagens.

    A arguio directa serve a cada passo como um fcil meio dilatrio; e, quando tenhaum fundamento srio, no o facto de ser desatendida que impedir normalmente ainterposio do recurso.

    Abandona-se, por isso, o sistema.Salvo o que especialmente fica disposto para a falta de assinatura do juiz, a nulidade

    s poder ser arguida no tribunal que proferiu a sentena no caso de esta no admitirrecurso ordinrio; de contrrio, a nulidade tem de ser invocada em via de recurso.

    18 No captulo seguinte comea-se por retirar a categoria de recurso ao meio deimpugnao que o Cdigo criara, com o nome de recurso de queixa, em substituioda antiga carta testemunhvel.

    Este meio nem sequer dirigido a nenhum dos tribunais que em outro lugar sedeclaram exclusivamente competentes para conhecer dos recursos. uma simples fasedos recursos propriamente ditos.

    Alm disso, tendo lugar apenas quando os recursos no so admitidos ou so retidos,no resolve em definitivo a questo da admissibilidade ou da reteno: se atendido,somente torna possvel que essa questo seja resolvida pelo tribunal destinatrio dorecurso.

    Atribui-se-lhe, por isso, a categoria de simples reclamao, mais conforme com asua natureza funcional.

    Os seus termos continuam, no entanto, a ser sensivelmente os mesmos, salvo quandorespeita a recursos interpostos na Relao. Neste caso, dispensa-se a intil duplicaode reclamaes do recorrente e de acrdos de conferncia, que o Cdigo exigia. Areclamao endereada ao presidente do Supremo formulada logo contra o despachodo relator que no admita ou que retenha o recurso. O processo s vai confernciauma vez, para ser proferido acrdo que confirme aquele despacho, sustentando a noadmissibilidade do recurso ou a reteno do agravo, ou que o revogue, mandandoadmitir o recurso ou subir imediatamente o agravo.

    19 Relativamente apelao, o que h de mais interesse a destacar o novo traadodo seu domnio de aplicao.

    O Cdigo vigente reservava a apelao para impugnar as sentenas que conhecessemdo mrito da causa ou que conhecessem do objecto, quer dos incidentes de falsidadee habilitao (deduzida em dados termos), quer dos embargos opostos a arresto,arrolamento ou embargo de obra nova.

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    Cdigo de Processo Civil

    Estavam excludas do mbito do recurso as sentenas que conhecessem de qualquerexcepo peremptria e bem assim, segundo se entendia, as prprias decises dosincidentes e dos embargos opostos a procedimentos cautelares que no dependessemde aco ordinria.

    Ora, no parece que esta diversidade de tratamento se justifique.Por um lado, a sentena que conhece de uma excepo peremptria no envolve,

    no geral, menor complexidade nem reveste para as partes menor importncia prticado que a deciso que conhea directamente do pedido: e por isso se no compreendeque a sua apreciao, em via de recurso, se faa com menores garantias.

    Por outro lado, tambm se no compreende que a natureza do recurso se no relacioneapenas com a matria do processo no qual directamente se enxerta, para atendertambm ndole da aco com a qual esse processo se relaciona.

    Declaram-se, por conseguinte, susceptveis de apelao, tanto as sentenas queconheam directamente do pedido, como as que conheam de qualquer excepoperemptria que no seja o caso julgado. A excluso deste j se justifica pelo seucarcter especial e pela simplicidade da sua prova.

    Alm disso, sujeitam-se a recurso de agravo todas as sentenas proferidas emincidentes e procedimentos cautelares, quer dependam de aco sumria, quer deaco ordinria.

    No se abre excepo para o incidente de falsidade, apesar de a sua forma de processodepender da forma correspondente aco. que, geralmente, o incidente julgadona prpria sentena que decide a aco. A raridade dos casos em que julgado emseparado e depende de aco ordinria no justifica a prescrio de um regime especial.

    20 O recurso de revista fica, por sua vez, limitado impugnao de acrdos daRelao.

    O Cdigo em vigor admitia tambm a revista das sentenas do tribunal de comarcaque conhecessem do recurso de apelao interposto no tribunal municipal. No seatendia a que estas sentenas s eram recorrveis por incompetncia absoluta ou porofensa de caso julgado e que estes fundamentos no legitimavam a revista quandofossem opostos a acrdos da Relao.

    Corrige-se o lapso, passando a ser de agravo o recurso prprio para a impugnaodaquelas sentenas.

    21 As disposies reguladoras dos efeitos e do regime de subida dos agravosinterpostos em 1 instncia tiveram de ser adaptadas unificao que se estabeleceuentre o despacho saneador e o questionrio e ao novo regime de deduo da incompetnciarelativa.

    Estes preceitos, que estavam formulados em termos incompletos e estreitamentecasusticos, so agora completados e subordinados a um esquema que se julga maisracional e flexvel.

    No se podia ir, todavia, muito longe nesta matria, sem correr o risco de ressuscitarproblemas doutrinalmente arrumados ou criar novas dvidas de interpretao eaplicao dos textos.

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    Cumpre a este propsito esclarecer que no houve a inteno de reduzir o nmerodos casos de subida imediata nem os casos de subida nos prprios autos: os que estavamespecificadamente previstos na lei, sob uma ou outra soluo, continuam a ter o mesmoregime.

    Omitiu-se a referncia, que parece deslocada, s decises de conflitos que tmprocesso prprio e autnomo; outras foram substitudas pelas regras gerais estabelecidaspara o agravo de deciso que, por qualquer motivo e em qualquer altura, ponha termoao processo.

    22 O recurso para o tribunal pleno mantido como recurso ordinrio. que o recursos pode atingir plenamente os seus fins se for facultado s partes e os seus efeitos seprojectarem sobre o processo donde nasce. S a iniciativa interessada das partes evitar,noutros termos, que o recurso se converta numa instituio puramente platnica, comooutras experincias legislativas tendentes uniformizao da jurisprudncia que oprecederam.

    certo que a simples iniciativa do Ministrio Pblico tem dado resultados teisno processo penal, mas importa no esquecer a diferente posio que o MinistrioPblico tem no processo cvel e no processo penal.

    Mas embora no haja assim razes srias para modificar a fisionomia do recurso,o que se torna indispensvel regul-lo de forma a impedir que o recurso para o tribunalpleno continue a ser usado como um simples meio dilatrio da execuo da sentena.Basta dizer que no regime vigente apenas uma mdia de 5% dos assentos requeridosvinham a ser efectivamente tirados no Supremo.

    Para tentar obviar aos abusos que se tm verificado, o recurso processado emseparado e sem efeito suspensivo.

    Por outro lado, quanto ao fundamento do recurso, a lei determina com maioramplitude, e principalmente com maior preciso, as condies necessrias de oposioentre o acrdo recorrido e o acrdo anterior.

    Finalmente, o recurso para o tribunal pleno passa a ser admitido tambm como meiode uniformizao da jurisprudncia relativa a matrias em que a Relao funcionacomo ltimo tribunal de recurso. Pr-se- cobro, desta forma, a certos casos gritantesde divergncia entre os julgados das vrias Relaes ou entre as seces da mesmaRelao.

    23 Os recursos extraordinrios de reviso e de oposio de terceiro adquirem umaconfigurao processual inteiramente nova.

    Pelo sistema em vigor, o recurso extraordinrio era um misto de aco e de recurso,o que complicava bastante os seus termos. No que especialmente se refere reviso,o regime tinha grandes inconvenientes.

    A reviso devia ser requerida no tribunal que proferira a deciso a rever. Essetribunal podia bem ser o Supremo. Todavia, a reviso dependia de prova cuja produose tornava sempre difcil num tribunal de revista.

    para delimitar as coisas com maior rigor que se estabelece agora, tanto para areviso como para a oposio de terceiro, a precedncia de sentena que, em acoprpria, declare verificado o fundamento do recurso.

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    Cdigo de Processo Civil

    Exceptuam-se, entretanto, para a reviso, os casos em que o fundamento do recursopode ser provado documentalmente.

    24 No que especialmente se refere ao julgamento dos recursos, h duas alteraesque merecem ser destacadas.

    Uma a da abolio da obsoleta discusso oral.Tem sido praticamente letra morta a disposio legal que a permite. O absoluto

    desuso da soluo basta para justificar a eliminao.A segunda, de muito maior alcance, respeita exclusivamente ao recurso de revista.O Cdigo de 1939 declara serem necessrios cinco votos para se vencer que houve

    violao da lei substantiva, mas o Supremo sempre interpretou esta regra como noexigindo a conformidade dos cinco votos. O vencimento, mesmo para a concesso darevista, tem-se feito por simples maioria, ou seja, apenas por trs votos conformes.

    E a verdade que, sem prejuzo de no corresponder ao melhor entendimento dalei, a prtica seguida no se revelou inconveniente nem provocou reaces.

    Opta-se, por isso, pela clara consagrao legislativa da orientao perfilhada. E vai-se mesmo, logicamente, um pouco mais longe.

    Com efeito, uma vez assente que trs votos bastam, na prpria revista, para fazervencimento, pode perfeitamente dispensar-se, num grande nmero de casos, a intervenode cinco juzes, possivelmente determinada pela pressuposio da necessidade doscinco votos conformes.

    A revista comear, assim, por ter apenas trs vistos, tal como a apelao e o agravo;mas, enquanto nestes o vencimento continua a depender do mnimo de dois votosconformes, na revista a deciso depender da conformidade de trs votos, quer seja paraa conceder, quer seja para a negar.

    Se esta conformidade no for obtida na primeira sesso de julgamento, o processoir ento a mais dois vistos, o que no ser, decerto, muito frequente, a avaliar pelonmero relativamente escasso de acrdos de trs juzes com voto de vencido.

    O julgamento da grande maioria das revistas fica por esta forma consideravelmenteabreviado, como convm a um recurso que at aqui to arrastado se torna, em geral,e os juzes, intervindo em menor nmero de recursos dessa espcie, mais tempo teropara dedicar queles em que intervm.

    No regime vigente, cada juiz tem de estudar todas as revistas da sua seco e algumasda outra, para, afinal, em cerca de metade das que no relata, vir a exprimir um votopraticamente intil, pelo facto de ser dado depois de a deciso estar j vencida pormaioria.

    Dir-se- que esta razo no colhe, por provar demasiado, na medida em que, porigual caminho, se no tornaria difcil justificar a interveno de dois juzes apenas nojulgamento do agravo e da apelao.

    Simplesmente, se a experincia tem mostrado a convenincia de assegurar nostribunais colegiais a interveno dum mnimo de trs juzes (sem contar, entre ns, porbvias razes, com o presidente do tribunal) como forma de garantir, alm do mais, umadiscusso suficientemente ampla dos temas a decidir, j com igual fora se no podersustentar, com base no prprio interesse da discusso entre os juzes, a necessidade de,em certos julgamentos, intervirem sistematicamente cinco, e no trs magistradosapenas.

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    H ainda uma outra inovao neste captulo, que tambm merece ser referida, pelobenfico efeito que pode vir a ter na prtica.

    a que manda facultar aos adjuntos, no incio da sesso de julgamento, uma foto-cpia ou a cpia manuscrita ou dactilografada do projecto do acrdo.

    evidente que, tendo sua frente o prprio projecto do acrdo durante a discusso,os adjuntos esto em condies de ter uma participao bastante mais activa em certosaspectos da elaborao definitiva da deciso do que com o sistema de trabalho atagora seguido.

    A fim de evitar que a medida decretada no passe de simples letra morta, est oMinistrio da Justia na disposio de facultar aos tribunais superiores a aparelhagemdestinada a garantir a sua execuo prtica.

    25 O processo de execuo profundamente remodelado.O sistema vigente assenta, como todos sabem, sobre uma ampla concursualidade

    da aco executiva que, sob esse aspecto, em pouco se distingue, afinal, tanto dafalncia como da insolvncia.

    O concurso de credores deixou de ser um mero concurso de preferncias sobre oproduto dos bens excutidos e passou a ser uma coligao universal de exequentes euma ampla cumulao de execues.

    No obstante, a lei continuava a condicionar cuidadosamente, em preceitosespeciais, o direito atribudo ao exequente de, inicial ou subsequentemente, cumularexecues e a faculdade, conferida aos vrios credores de se coligarem contra o mesmoexecutado. E assim que, para exemplificar, a cumulao e a coligao s sopermitidas quando o exequente ou os credores estejam munidos de ttulo executivo.Mas, se uma ou outra tomarem o nome e a forma de simples reclamao de crditos,j o ttulo executivo dispensvel, contanto que o crdito esteja vencido; o ttulo obtido ento no prprio concurso, que deste modo se converte numa espcie decumulao ou coligao declarativa.

    Para justificar o regime estabelecido, invocou-se a necessidade de evitar a excussodo patrimnio do executado em benefcio exclusivo do exequente e, por conseguinte,em prejuzo da massa geral dos credores e, por outro lado, a convenincia de aproveitaro processado na execuo pendente para cobrana de novos crditos.

    A primeira razo , todavia, bastante frouxa, pois logo que na execuo se verificaa insuficincia do activo para satisfazer o passivo do executado a lei manda seguir, emprincpio, os termos do processo de falncia ou de insolvncia, consoante os casos.

    Quer dizer: a aco executiva colectiva j antes e independentemente do perigoreal de o exequente ser pago em detrimento dos credores; finda e substituda por outroprocesso quando esse perigo declarado.

    E mais convincente no a segunda razo. No regime anterior ao Cdigo de 39, oconcurso de credores era aberto aps a alienao dos bens penhorados e limitava-segeralmente deduo de artigos de preferncia sobre o produto apurado. O preceitoque permitia reclamar crditos comuns, alis sob condio de se provar o estado deinsolvncia do executado, era praticamente quase letra morta.

    Decreto-Lei n 44.129/1961, de 28 de Dezembro

  • 30

    Cdigo de Processo Civil

    Institudo o sistema da precedncia do concurso e da sua ampla generalizao atodos os crditos vencidos, passaram estes a ser reclamados em grande nmero, vistopoucos serem os credores que se arriscavam a uma inaco que passou a ser perigosa.

    Assim, no diminuiu, antes aumentou o nmero de execues, embora cumuladase sob o nome genrico de reclamaes.

    Maior nmero de reclamaes passou a exigir a penhora de mais bens e umaverificao de crditos muito mais lenta, complicada e extensa. Ao fim e ao cabo, poucomais se poupava no novo sistema do que as citaes iniciais para execues que, namaior parte, no chegariam no regime antigo a ser instauradas.

    26 A aco executiva passa agora a correr, em princpio, apenas entre o exequentee o executado.

    A coligao de exequentes e a cumulao de execues continuam dependentesdas regras que lhes so prprias e que nada tm a ver com o concurso de credores.

    O concurso fase processual inerente venda ou adjudicao de bens e destina-se,fundamentalmente, a expurg-los dos direitos que os onerem. Tem lugar no processode execuo, como em todos os processos em que h alienao judicial. Nele soadmitidos apenas os credores, com garantia real sobre os bens penhorados, que tenhamttulo executivo ou proponham, para o obter, aco que segue em separado.

    Nestes termos, torna-se desnecessrio que a execuo seja suspensa at verificaodos crditos reclamados. O concurso segue paralelamente s diligncias para a vendaou adjudicao.

    Estas diligncias so, entretanto, reguladas de forma a permitir a interveno doscredores, cuja legitimidade fica estabelecida pela simples admisso ao concurso.

    27 A execuo tem por fim obter a satisfao da obrigao exequenda, sendo aesse limitado objectivo que todo o processo executivo se acha adstrito.

    Preenchida essa finalidade, a execuo extingue-se, ainda que se no tenha chegado excusso total dos bens apreendidos.

    Permite-se, no entanto, quando no sejam excutidos todos os bens penhorados, queo credor j graduado para ser pago pelos bens que no chegaram a ser vendidos nemadjudicados, assuma a posio de exequente e renove a execuo, embora sobre essesbens somente, para obter pagamento do seu crdito.

    Esta soluo traduz-se realmente numa economia processual justificada, pois noexige mais diligncias do que as prprias da venda ou adjudicao, ao mesmo tempoque aproveita todo o processado anterior, evitando as despesas, diligncias e demorasde novo concurso e nova graduao de crditos.

    28 Ficam desta forma nitidamente estremados os domnios da aco executiva,de um lado, e do processo de falncia ou insolvncia, do outro.

    A aco executiva destina-se a obter a satisfao de obrigao declarada em ttulobastante e essencialmente singular; os processos de falncia e de insolvnciadestinam-se a liquidar o patrimnio do devedor em benefcio comum dos credores econtinuam a ser verdadeiras execues colectivas.

  • 31

    Permitir a aco executiva singular contra um devedor solvente no infringenenhum princpio de direito substantivo, como o no ofende o pagamento feito a umcredor pelo devedor nas mesmas condies.

    certo que a aco executiva pode vir a ser instaurada contra executado insolvente,mas nesse caso qualquer credor poder evitar, requerendo oportunamente a falnciaou insolvncia do devedor, que a aco prossiga como execuo singular. E logo quea falncia ou insolvncia seja requerida se suspende a execuo, para ser avocada aoprocesso de liquidao geral do patrimnio do executado.

    29 Alm da modificao de carcter estrutural que fica descrita, outras se consagramno sentido de facilitar, simplificar e acelerar o processo de execuo.

    Assim, desaparece o preliminar de habilitao criado pelo artigo 56 do Cdigovigente. A habilitao inicial pura questo de legitimidade, que passa a resolver-secomo todos os problemas relativos a esse pressuposto processual.

    Completa-se a regulamentao concernente fase introdutria da liquidao.Suprime-se a oposio por simples requerimento, que se mostrou intil e no isenta

    de riscos.Corrigem-se os defeitos do regime da execuo sobre bens do cnjuge para pagamento

    de dvidas comerciais ou fundadas na responsabilidade especial por acidente de viao.Atribui-se ao exequente a faculdade de convolar na execuo para outros bens

    quando a penhora dos primeiros for embargada ou quando sobre eles incida penhoraanterior.

    Completa-se tambm a disciplina da execuo sumarssima e, atendendo possi-bilidade de ela ser instaurada no tribunal municipal cuja competncia limitada aoprocesso sumarssimo, determina-se que os respectivos embargos de executado sigamessa forma de processo.

    30 A lista dos processos especiais continua bastante extensa e muito casustica.Poucos foram, de facto, os processos especiais que o Cdigo de 1939 pde eliminar

    ou reduzir com outros aos mesmos cnones especializados, depois de ter alargadoconsideravelmente o seu nmero atravs da incluso dos estabelecidos nas leiscomerciais. Para os limitar a um nmero menor de tipos e dar uma feio diferente sua regulamentao, seria necessria uma reforma profunda de todo o sistema, queneste momento teria provavelmente mais inconvenientes do que vantagens.

    As alteraes introduzidas neste sector so, assim, mais de forma do que de fundo.Procurou-se tornar os preceitos mais claros e acessveis, dar-lhes um encadeamento

    mais lgico, preencher lacunas existentes e evitar repeties inteis.Mas num ou noutro ponto no deixou de haver inovaes substanciais: na

    impossibilidade de as referir a todas, vamos destacar somente as mais importantes.

    31 Deixam de figurar no Cdigo as matrias que so tratadas perante os tribunaisde menores e que se destinam a ser includas no diploma especial onde em breve seconcentrar, devidamente actualizada, toda a legislao concernente protecoinstitucional da infncia.

    Decreto-Lei n 44.129/1961, de 28 de Dezembro

  • 32

    Cdigo de Processo Civil

    No captulo relativo cessao do arrendamento inserem-se as disposies que,posteriormente a 1939, criaram novos fundamentos de despejo ou modificaram oregime da respectiva aco.

    Desaparece tambm do Cdigo o captulo respeitante aos recursos de conservadorese notrios, porque o respectivo processo est hoje regulado em legislao prpria.

    32 A nova regulamentao do processo de falncia d primazia aos meiospreventivos.

    No se limita a trat-los em primeiro lugar, como de boa ordem; d-lhes prioridadereal. que a concordata ou o acordo de credores sempre prefervel, em regra, ruinosaliquidao judicial.

    A falncia propriamente dita no pode deixar de ser, pelos termos em que se desen-volve, um processo necessariamente caro, demorado e de rendimento relativamentereduzido. As vendas fazem-se quase sempre ao desbarato. As cobranas prolongam-see exigem a cada passo complicados litgios. As custas e despesas de administraoabsorvem grande parte do produto obtido; etc., etc..

    Por isso se determina agora que a apresentao espontnea do comerciante impedidode solver os seus compromissos d lugar ao que poderemos chamar uma tentativa deconciliao com os credores.

    Estes so convocados para, antes de mais, decidirem sobre a concesso de concordataou, quando o devedor lhes no inspire a necessria confiana, para deliberarem sobrea constituio de uma sociedade que assuma a gerncia dos negcios dele e pague asdvidas com a reduo exigida pela insuficincia do seu activo.

    S depois de gorada esta tentativa se vai, em princpio, para a declarao de falncia.

    33 Quanto ao inventrio, so tambm muitas as modificaes de forma e poucasas alteraes de fundo.

    No era possvel, de resto, ir muito longe neste domnio sem correr o risco srio decriar dvidas e perturbaes indesejveis. No se pode esquecer que o inventrio umprocesso de aplicao muito intensa, mesmo nos tribunais confiados a magistradosmenos experientes, e at em tribunais municipais.

    Duas novidades merecem, no entanto, meno especial.A primeira consiste em atribuir conferncia de interessados a faculdade de, por

    acordo unnime, compor e, inclusivamente, distribuir os diferentes quinhes.Assim se consagra, com toda a regularidade, uma prtica corrente que se efectivava

    pelo meio indirecto e condenvel da simulao de licitaes.Rodeia-se, entretanto, o acordo exigido das necessrias garantias.Alm da unanimidade dos interessados, torna-se indispensvel, sempre que o

    inventrio seja obrigatrio, a concordncia do Ministrio Pblico e o voto conformedo conselho de famlia, quando intervier.

    A segunda novidade a de se facultarem licitaes, independentemente de requeri-mento, sempre que no exista o acordo dos interessados relativo composio edistribuio dos quinhes.

  • 33

    34 Os processos de jurisdio voluntria ficam sujeitos a um regime quantopossvel uniforme de prazos e de actividade instrutria. para melhor garantir esseprincpio de uniformidade que se substituem as regras particulares de cada processopor outras que se incluem logo nas disposies introdutrias do captulo.

    Como j foi dito, so banidas do Cdigo todas as disposies relativas a procedimentosda competncia dos tribunais de menores.

    Sob a epgrafe das providncias relativas aos filhos ficam, assim, dois artigos apenas.Um o que j estabelecia para o tribunal comum, quando decretasse o divrcio ou

    a separao de bens e houvesse filhos menores, a obrigao de remeter oficiosamenteao tribunal competente os elementos necessrios para a regulao do exerccio dopoder paternal, sempre que as partes a no tivessem fixado por acordo. Havendo acordodos pais, ao tribunal comum que continua a competir a respectiva homologao.

    Alarga-se agora esta disposio ao caso semelhante da anulao do casamento.Claro que a homologao do acordo no merece o nome de providncia: corresponde

    simples verificao da desnecessidade da regulao judicial e, consequentemente,da remessa dos elementos em que ela se haveria de fundar. E a competncia do tribunalcomum justifica-se por uma razo de ordem puramente pragmtica.

    Providncias propriamente ditas relativas aos filhos so as determinadas pelo outroartigo que se mantm: so as que o tribunal comum deve tomar quando autoriza odepsito de mulher casada.

    Neste caso, a urgncia torna indispensvel a interveno do tribunal comum, que,no entanto, s providencia a ttulo provisrio e na medida em que o depsito o exige.

    35 Ainda com o intuito de separar as funes do tribunal comum das atribuiesespecficas do tribunal de menores, decidiu-se alterar o regime dos recursos das deliberaesdo conselho de famlia que seja institudo nos tribunais comuns.

    O Cdigo Civil determinava que o recurso fosse interposto para o conselho de tutela,mas o Cdigo de Processo desviou-o para o tribunal de menores, mediante o artifciode atribuir a este tribunal e apenas para esse efeito o nome de conselho de tutela.

    Agora dispe-se no sentido de o recurso, quando o conselho de famlia funcioneem tribunal comum, ser interposto para o tribunal de comarca.

    Esta doutrina fica a constar tanto do captulo dos processos de jurisdio voluntria,como do processo de inventrio.

    E no to revolucionria como primeira vista se poderia ser tentado a crer.Do conselho de tutela j anteriormente se recorria para o tribunal da Relao, ou

    seja, para a jurisdio comum.Nestes termos:Usando da faculdade conferida pela 1 parte do n 2 do artigo 109 da Constituio,

    o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

    Artigo 1 aprovado o Cdigo de Processo Civil, que faz parte do presentedecreto-lei.

    Artigo 2 As novas disposies comeam a vigorar, em todo o continente e ilhasadjacentes, no dia 24 de Abril de 1962.

    Decreto-Lei n 44.129/1961, de 28 de Dezembro

  • 34

    Cdigo de Processo Civil

    Artigo 3 Todas as modificaes que de futuro se faam sobre matria contida noCdigo de Processo Civil sero inscritas no lugar prprio deste diploma, mediante asubstituio dos artigos alterados, a supresso das disposies que devam ser eliminadasou o adicionamento dos preceitos que se mostrem necessrios.

    Artigo 4 Compete Procuradoria-Geral da Repblica, bem como Direco--Geral da Justia, receber as exposies tendentes ao aperfeioamento do Cdigo epropor ao Governo as providncias que para esse fim entendam convenientes.

    Publique-se e cumpra-se como nele se contm.Paos do Governo da Repblica, 28 de Dezembro de 1961. Amrico Deus

    Rodrigues Thomaz Antnio de Oliveira Salazar Jos Gonalo da Cunha SottomayorCorreia de Oliveira Alfredo Rodrigues dos Santos Jnior Joo de Matos AntunesVarela Antnio Manuel Pinto Barbosa Mrio Jos Pereira da Silva FernandoQuintanilha Mendona Dias Alberto Marciano Gorjo Franco Nogueira Eduardode Arantes e Oliveira Adriano Jos Alves Moreira Manuel Lopes de Almeida Josdo Nascimento Ferreira Dias Jnior Carlos Gomes da Silva Ribeiro Jos JooGonalves de Proena Henrique de Miranda Vasconcelos Martins de Carvalho.

    Para ser presente Assembleia Nacional.

  • 35

    Decreto-Lei n 47.690/1967, de 11 de Maio

    As modificaes introduzidas pelo presente diploma nos textos do Cdigo deProcesso Civil tm como fim quase exclusivo consagrar as inovaes e as alteraesexigidas pela entrada em vigor da nova lei civil, por no se julgar necessrio nemoportuno levar mais longe, neste momento, a reviso do direito adjectivo.

    Quanto forma de articular as alteraes, adoptou-se a que pareceu mais simples.Quando num artigo do Cdigo de Processo Civil vigente, que tenha vrios nmeros,

    no haja necessidade de corrigir todos estes, apenas se insere o texto completo donmero emendado, at para no forar escusadamente o intrprete a procurar nosnmeros restantes modificaes que l no se encontram. Critrio anlogo foi usado,como lgico, nos casos em que, tendo um nmero vrias alneas, s uma ou algumasdestas so retocadas por este decreto-lei.

    Quando a alterao envolva a eliminao de um nmero entre vrios do mesmoartigo, duas hipteses importa distinguir: se o nmero eliminado no o ltimodaqueles que o artigo continha, haver convenincia em repetir todos os preceitossubsequentes da disposio, visto que eles passam a ter uma numerao diferente; se,pelo contrrio, como sucede, por exemplo, com o n 3 dos artigos 27, 263 e 267, on 2 do artigo 330, o n 4 dos artigos 332 e 843, o n 2 do artigo 991 e o n 4 do artigo1451, a supresso atinge o ltimo nmero do texto legal vigente, haver apenas queomitir no esquema do artigo a existncia desse nmero.

    Processo semelhante se utiliza quando, em lugar de um nmero, a eliminao atingesomente uma das vrias alneas do mesmo nmero.

    Nestes termos:Usando da faculdade conferida pela 1 parte do n 2 do artigo 109 da Constituio,

    o Governo decreta e eu promulgo, para valer como lei, o seguinte:

    Artigo 1 Os artigos do Cdigo de Processo Civil adiante referidos passam a tera seguinte redaco:

    (As novas redaces foram respectivamente intercaladas)

    Artigo 2 1. As alteraes introduzidas pelo presente diploma entram em vigorno dia 1 de Junho de 1967, mas s so aplicveis s aces que no sejam julgadas deharmonia com a legislao civil anterior ao Cdigo Civil de 1966.

    2. Exceptua-se da restrio fixada no nmero anterior o disposto no n 4 do artigo707, no n 3 do artigo 728 e no n 3 do artigo 762.

    Publique-se e cumpra-se como nele se contm.

    Paos do Governo da Repblica, 11 de Maio de 1967. Amrico Deus RodriguesThomaz Antnio de Oliveira Salazar Antnio Jorge Martins da Mota Veiga

    Decreto-Lei n 47.690/1967, de 11 de Maio

  • 36

    Cdigo de Processo Civil

    Manuel Gomes de Arajo Alfredo Rodrigues dos Santos Jnior Joo de MatosAntunes Varela Ulisses Cruz de Aguiar Corts Joaquim da Luz Cunha FernandoQuintanilha Mendona Dias Alberto Marciano Gorjo Franco Nogueira JosAlbino Machado Vaz Joaquim Moreira da Silva Cunha Inocncio Galvo Teles Jos Gonalo da Cunha Sottomayor Correia de Oliveira Carlos Gomes da SilvaRibeiro Jos Joo Gonalves de Proena Francisco Pereira Neto de Carvalho.

  • 37

    Livro I Da Aco

    CDIGO DE PROCESSO CIVIL

    LIVRO IDa aco

    TTULO IDa aco em geral

    CAPTULO IDas disposies fundamentais

    Artigo 1(Proibio da autodefesa)

    A ningum lcito o recurso fora com o fim de realizar ou assegurar o prpriodireito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei.

    Artigo 2(Correspondncia entre o direito e a aco)

    A todo o direito, excepto quando a lei determine o contrrio, corresponde uma aco,destinada a faz-lo reconhecer em juzo ou a realiz-lo coercivamente, bem como asprovidncias necessrias para acautelar o efeito til da aco.

    Artigo 3(Necessidade do pedido e da contradio)

    1. O tribunal no pode resolver o conflito de interesses que a aco pressupe semque a resoluo lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamadapara deduzir oposio.

    2. S nos casos excepcionais previstos na lei se podem tomar providncias contradeterminada pessoa sem que esta seja previamente ouvida.

    Artigo 4(Espcies de aces, consoante o seu fim)

    1. As aces so declarativas ou executivas.2. As aces declarativas podem ser de simples apreciao, de condenao ou

    constitutivas. Tm por fim:a) As de simples apreciao, obter unicamente a declarao da existncia ou

    inexistncia de um direito ou de um facto;b) As de condenao, exigir a prestao de uma coisa ou de um facto, pressupondo

    ou prevendo a violao de um direito;c) As constitutivas, autorizar uma mudana na ordem jurdica existente.3. Dizem-se aces executivas aquelas em que o autor requer as providncias

    adequadas reparao efectiva do direito violado.

  • 38

    Cdigo de Processo Civil

    CAPTULO IIDas partes

    SECO IPersonalidade e capacidade judiciria

    Artigo 5(Conceito e medida da personalidade judiciria)

    1. A personalidade judiciria consiste na susceptibilidade de ser parte.2. Quem tiver personalidade jurdica tem igualmente personalidade judiciria.

    Artigo 6(Extenso da personalidade judiciria)

    A herana cujo titular ainda no esteja determinado e os patrimnios autnomossemelhantes, mesmo que destitudos de personalidade jurdica, tm personalidadejudiciria.

    Artigo 7(Personalidade judiciria das sucursais)

    1. As sucursais, agncias, filiais ou delegaes podem demandar ou ser demandadasquando a aco proceda de facto por elas praticado.

    2. Se a administrao principal tiver a sede ou o domiclio em pas estrangeiro, assucursais, agncias, filiais ou delegaes estabelecidas em Portugal podem demandare ser demandadas, ainda que a aco derive de facto praticado por aquela, quando aobrigao tenha sido contrada com um portugus ou com um estrangeiro domiciliadoem Portugal.

    Artigo 8(Personalidade judiciria das pessoas colectivas e sociedades irregulares)

    1. A pessoa colectiva ou sociedade que no se ache legalmente constituda, mas queproceda de facto como se o estivesse, no pode opor, quando demandada, a irregularidadeda sua constituio; mas a aco pode ser proposta s contra ela, ou s contra as pessoasque, segundo a lei, tenham responsabilidade pelo facto que serve de fundamento demanda, ou simultaneamente contra a pessoa colectiva ou sociedade e as pessoasresponsveis.

    2. Sendo demandada a pessoa colectiva ou sociedade, -lhe lcito deduzir reconveno.

    Artigo 9(Conceito e medida da capacidade judiciria)

    1. A capacidade judiciria consiste na susceptibilidade de estar, por si, em juzo.2. A capacidade judiciria tem por base e por medida a capacidade do exerccio de

    direitos.

  • 39

    Artigo 10(Incapazes)

    1. Os incapazes s podem estar em juzo por intermdio dos seus representantes, ouautorizados pelo seu curador, excepto quanto aos actos que possam exercer pessoale livremente.

    2. Havendo necessidade de curador especial, a nomeao dele compete ao juiz dacausa.

    3. A nomeao do curador especial deve ser promovida pelo Ministrio Pblico epode ser requerida por qualquer parente at ao sexto grau, quando o incapaz tenha deser autor; quando haja de figurar como ru, ser requerida pelo autor.

    4. O Ministrio Pblico ouvido, sempre que no seja o requerente da nomeao.

    Artigo 11(Nomeao de representante)

    1. Quando o incapaz no tenha representante, deve requerer-se a nomeao dele aotribunal competente ou a nomeao de um curador provisrio, ao tribunal da causa,se houver urgncia na propositura da aco; neste ltimo caso, logo que a aco sejaproposta, provocar-se- no tribunal competente a nomeao de representante geral aoincapaz.

    2. Tanto no decurso do processo, como para execuo ou cumprimento da sentena,pode o curador provisrio praticar os mesmos actos que competiriam ao representantegeral; e as suas funes cessam logo que este venha ocupar a posio dele no processo.

    3. nomeao dos representantes gerais e dos curadores provisrios aplicvel odisposto nos ns 3 e 4 do artigo anterior.

    Artigo 12(Nomeao do curador especial para funes extrajudiciais)

    A nomeao de curador especial que no se destine simples representao doincapaz em juzo feita pelo tribunal que for competente nos termos gerais, observadoo disposto nos ns 3 e 4 do artigo 10.

    Artigo 13(Capacidade judiciria dos menores com mais de dezoito anos

    e dos inabilitados)1. Os menores no emancipados, mas com mais de dezoito anos, bem como os

    inabilitados, podem intervir em todas as aces em que sejam partes, e devem ser citadosquando tiverem a posio de rus, sob pena de se verificar a nulidade correspondente falta de citao, ainda que tenha sido citado o representante legal ou o curador.

    2. Se o menor perfizer os dezoito anos na pendncia da causa, no tem de ser citado,mas pode intervir por sua iniciativa.

    3. A interveno do menor ou do inabilitado fica subordinada orientao dorepresentante, que prevalece no caso de divergncia.

    Livro I Da Aco

  • 40

    Cdigo de Processo Civil

    Artigo 14(Representao das pessoas impossibilitadas de receber a citao)

    1. As pessoas que, por anomalia psquica ou outro motivo grave, estejam impossi-bilitadas de receber a citao para a causa so representadas nela por um curadorespecial.

    2. A representao do curador cessa, quando for julgada desnecessria, ou quandose juntar documento que mostre ter sido declarada a interdio ou a inabilitao enomeado representante ao incapaz.

    3. A desnecessidade da curadoria, quer seja originria, quer superveniente, apreciadasumariamente, a requerimento do curatelado, que pode produzir quaisquer provas.

    4. O representante nomeado na aco de interdio ou de inabilitao ser citadopara ocupar no processo o lugar do curador.

    Artigo 15(Defesa do ausente e do incapaz pelo Ministrio Pblico)

    1. Se o ausente ou o incapaz, ou os seus representantes, no deduzirem oposio,ou se o ausente no comparecer a tempo de a deduzir, incumbe ao Ministrio Pblicoa defesa deles, para o que ser citado, correndo novamente o prazo para a contestao.

    2. Quando o Ministrio Pblico represente o autor, ser nomeado um defensoroficioso.

    3. Cessa a representao do Ministrio Pblico ou do defensor oficioso, logo queo ausente ou o seu procurador comparea, ou logo que seja constitudo mandatriojudicial do ausente ou do incapaz.

    Artigo 16(Representao dos incertos)

    1. Quando a aco seja proposta contra incertos, so estes representados peloMinistrio Pblico; se o Ministrio Pblico representar o autor, nomeado defensoroficioso para servir como agente especial do Ministrio Pblico na representao dosincertos.

    2. A representao do Ministrio Pblico s cessa quando os citados como incertosse apresentem para intervir como rus e a sua legitimidade se encontre devidamentereconhecida.

    Artigo 17(Aces que um s dos cnjuges pode intentar)

    1. O marido pode propor, sem consentimento da mulher, todas as aces emergentesdo exerccio da sua administrao.

    2. O marido pode ainda propor, por si s, as aces relativas aos bens que tenha afaculdade de alienar livremente.

    3. aplicvel mulher, com as necessrias adaptaes, o disposto nos nmerosanteriores.

  • 41

    Artigo 18(Aces que tm de ser propostas por ambos os cnjuges)

    Tm de ser propostas por marido e mulher, ou por um dos cnjuges com o con-sentimento do outro, as aces de que possa resultar a perda ou a onerao de bens ques por ambos possam ser alienados, ou a perda de direitos que s por ambos possamser exercidos, sem prejuzo, em qualquer dos casos, do disposto no artigo anterior.

    Artigo 19(Aces que devem ser propostas contra ambos os cnjuges)

    Devem ser propostas contra o marido e a mulher as aces emergentes de factopraticado por ambos os cnjuges, as aces emergentes de facto praticado por um deles,mas em que pretenda obter-se deciso susceptvel de ser executada sobre bens comunsou sobre bens prprios do outro, e ainda as aces compreendidas no artigo antecedente.

    Artigo 20(Representao do Estado)

    1. O Estado representado pelo Ministrio Pblico.2. Se a causa tiver por objecto bens ou direitos do Estado, mas que estejam na

    administrao ou fruio de entidades autnomas, podem estas constituir advogadoque intervenha no processo juntamente com o Ministrio Pblico, para o que serocitadas quando o Estado seja ru; havendo divergncia entre o Ministrio Pblico eo advogado, prevalece a orientao daquele.

    Artigo 21(Representao das outras pessoas colectivas e das sociedades)

    1. As demais pessoas colectivas e as sociedades so representadas por quem a leidesignar.

    2. Havendo conflito de interesses entre a pessoa colectiva ou a sociedade e o seurepresentante, ou no havendo representante, quem substituir este nas suas faltas poderdemandar ou ser demandado em nome da pessoa colectiva ou da sociedade; nohavendo substituto, o juiz da causa nomear, de entre os membros da pessoa colectivaou sociedade que seja r, um representante especial cujas funes cessam logo que arepresentao seja assumida por quem a pessoa colectiva ou a sociedade designar.

    3. Dar-se- logo publicidade nomeao pela afixao de um aviso na porta dotribunal e na porta da sede da administrao da pessoa colectiva ou da sociedade,quando seja conhecida, e pela insero de anncio em dois nmeros de um dos jornaismais lidos na localidade a que a sede pertencer.

    Artigo 22(Representao das entidades que caream de personalidade jurdica)

    Salvo disposio especial em contrrio, os patrimnios autnomos so representadospelos seus administradores e as sociedades e associaes que caream de personalidadejurdica, bem como as sucursais, agncias, filiais ou delegaes, so representadaspelas pessoas que ajam como directores, gerentes ou administradores.

    Livro I Da Aco

  • 42

    Cdigo de Processo Civil

    Artigo 23(Suprimento da incapacidade judiciria e da representao irregular)

    1. A incapacidade judiciria, a irregularidade da representao e a falta de con-sentimento de um dos cnjuges podem ser sanadas mediante a interveno ou a citaodo representante legtimo ou do cnjuge.

    2. Se estes ratificarem os actos anteriormente praticados, o processo segue como seo vcio no existisse; no caso contrrio, fica sem efeito todo o processado posterior aomomento em que a falta se deu ou a irregularidade foi cometida.

    Artigo 24(Prazo para o suprimento ou regularizao)

    O juiz deve, oficiosamente ou a requerimento da parte, fixar o prazo dentro do qualho-de ser sanados os vcios de que trata o artigo anterior; no o fazendo, o suprimentoou a correco pode ter lugar a todo o tempo.

    Artigo 25(Falta de autorizao, de deliberao ou de consentimento)

    1. Se a parte estiver devidamente representada, mas faltar alguma autorizao oudeliberao exigida por lei, designar-se- o prazo dentro do qual o representante deveobter a respectiva autorizao ou deliberao, suspendendo-se entretanto os termosda causa.

    2. No sendo a falta sanada dentro do prazo, o ru absolvido da instncia, quandoa autorizao ou deliberao devesse ser obtida pelo representante do autor; se era aorepresentante do ru que incumbia prover, o processo segue como se o ru no deduzisseoposio.

    3. O disposto nos nmeros anteriores aplicvel ao caso de um dos cnjugesnecessitar do consentimento do outro, ou do respectivo suprimento judicial, para estarem juzo como autor.

    SECO IILegitimidade das partes

    Artigo 26(Conceito de legitimidade)

    1. O autor parte legtima quando tem interesse directo em demandar; o ru partelegtima quando tem interesse directo em contradizer.

    2. O interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da procedncia daaco; o interesse em contradizer, pelo prejuzo que dessa procedncia advenha.

    3. Na falta de indicao da lei em contrrio, so considerados titulares do interesserelevante para o efeito da legitimidade os sujeito