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2020 Cristiano Chaves de Farias Luciano Figueiredo Wagner Inácio Dias Doutrina Jurisprudência Questões de concurso Código Civil PARA CONCURSOS 9 ª edição revista atualizada ampliada CC

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2020

Cristiano Chaves de FariasLuciano FigueiredoWagner Inácio Dias

Doutrina Jurisprudência

Questões de concurso

Código CivilP A R A C O N C U R S O S

9ª edição

revista atualizada ampliada

CC

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Art. 189 .TÍTULO IV – Da PrescrIçãO e Da DecaDêncIa.

`TÍTULO IV – Da PrescrIçãO e Da DecaDêncIa

`caPÍTULO I – Da PrescrIçãO

`seçãO I – DIsPOsIçÕes GeraIs

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

À Referências: ` Súmula 150 do STF.

1. BREVES COMENTÁRIOS

Direito e Tempo.

O agir do tempo é implacável, passa, segue e leva tudo consigo; é um louco maquinista que não tem estação para parar. Não apenas as vidas se desmancham nas suas areias, mas também as relações jurídicas. Não se pode deixar que as relações dele escapem sob pena de deixar ao relento a estabilidade e a segurança jurídica. Em busca desta segurança aplica-se sobre as relação, sobre quase todas, a noção de caducidade, que nesta obra é tratada como um grande gênero, que abrange a preclusão, a prescrição e a decadência (tratada aqui como caducidade em sentido estrito).

A preclusão tem natureza estritamente processual, englobando a perda do direito de realizar determinado ato processual em razão de:

a) Ele já ter sido praticado, a preclusão consumativa, quando se pretende complementar um ato ou substituí-lo por um novo. Processualmente o espaço já foi ocupado e não mais o pode ser.

b) A parte deixou esvair em branco o prazo que lhe foi, judicial ou legalmente, assinado – ocorrendo a preclusão temporal.

c) Ou porque a parte realizou ato que é incompatível que sua nova manifestação, como aquele que cumpre determinada decisão que se encontra suspensa por livre vontade e deseja recorrer contra tal decisão, dando-se a preclusão lógica.

(...) São três as espécies de preclusão: temporal, consumativa e lógica. A preclusão temporal é aquela que decorre do simples descumprimento do prazo para a prática de determinado ato processual; a preclusão consumativa ocorre quando o ato que se deveria praticar o é, no prazo legal, não podendo ser, portanto, repetido; a pre-clusão lógica não depende diretamente do fator tempo no processo, mas é resultado da prática de outro ato, incompatível com aquele que se deveria realizar no prazo processual respectivo. Essas três espécies de preclusão referem-se preferentemente aos ônus processuais das partes. Quando ocorre a preclusão para o juiz, que pode assumir a feição de preclusão consumativa e, eventualmente, lógica, a doutrina costuma a ela se referir como preclusão pro judicato. Não há para o juiz preclusão temporal, já que ele não sofre nenhuma consequência processual pelo descumprimento dos prazos que lhe são impostos. Há, todavia, preclusão consumativa e, em casos excepcionais, lógica, pois o juiz, a não ser diante de novas alegações ou de fatos novos, não pode, em princípio, decidir contraditoriamente, cabendo à parte, se isso ocorrer, o controle desses atos pela via recursal. 3. Não há preclusão para o juiz: a) em matéria probatória; b) em questões de ordem pública ou apreciáveis de ofício; e c) no que diz respeito a erros de fato e de direito. (...) (TRF-4 – AC: 53683 SC 2003.04.01.053683-9, Relator: CELSO KIPPER, Data de Julgamento: 14/10/2009, SEXTA TURMA, Data de Publicação: D.E. 21/10/2009)

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.LIVrO III –DOs FaTOs JUrÍDIcOs Art. 189

Prescrição. Na visão do Código Reale, com base na redação adotada pelo art. 189, resta claro que foi adotada a teoria da actio nata, para a qual ocorrida a lesão ao direito, nasce a pretensão que será obstada (em sua eficácia) pela prescrição, conforme os prazos assinalados pela lei. Desta forma, o direito permanece íntegro, mas a parte não mais conseguirá um provimento positivo do judiciário caso seja necessário bater às portas dele para requerer o cumprimento forçado da obrigação não satisfeita, vez que a parte contrária terá meio impugnativo impeditivo da produção de efeitos. Não importa se a obrigação nasceu no momento da lesão, como nos atos ilícitos ou se se tratava de uma obrigação preexistente que não foi satisfeita, em qualquer caso, inicia-se o prazo, e como afeta a pretensão (obstando-a), trata-se de prescrição.

Como a defesa e a ação estão intimamente conectadas, juntamente com pretensão prescreve também a exceção, não havendo sentido em se vedar a via direta mas se restringir a via indireta, como matéria de defesa. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição e mesmo o magistrado pode dela conhecer, de ofício (CPC, art. 487, II e p.u.), devendo, antes, consultar as partes acerca de sua ocorrência.

Agiu bem o legislador, respeitando a livre determinação das partes em relação à prescrição, podendo aquele que dela se beneficiaria renunciar à objeção nascida, satisfazendo voluntariamente, mesmo que incidenter tantum face à lide, o crédito de quem lhe aciona e se lhe apresenta como justo credor. Quitar um débito prescrito, a par de não estar proibido em lei, pertence, também, ao mundo da moral, sendo necessário que se avalie a situação não apenas sobre bases legais. No dia-a-dia, não é raro ver pessoas que buscam saldar dívidas prescritas como meio de não acabar por receber a peia de maus pagadores. A sociedade cobra além da lei, o trânsito econômico e comercial não se contenta com regras burocráticas e, acima de tudo, a consciência tem seu preço e cobra daquele que inadimple.

Contudo, reconhecendo que apenas a via coercitiva está vedada ao titular da pretensão objetada, mister se faz ter certo que havendo pagamento voluntário, não se pode requerer repe-tição sob alegação de que se pagou indevidamente (art. 882, CC). Fica claro que na prescrição o direito está íntegro, ocorrendo, contudo, o nascimento de uma “contra-direito” para a outra parte, que pode obstar a satisfação do interesse do credor, em razão da inação deste para além do tempo fixado em lei. Desta forma, há causa para o pagamento feito, impossível a devolução do valor pela via coercitiva. A repetição somente tem vez quando vinculada a um pagamento sem causa, sem razão jurídica para sua existência, como no caso do que paga a quem não é credor ou do que paga a maior.

Prescrição aquisitiva. Em paralelo à prescrição extintiva, o tempo também pode atuar como meio de criação de direitos, como sucede na usucapião. A ratio essendi do instituto vin-cula também direito e tempo, mas viabiliza que, somado a outros fatores como a posse, surja a propriedade em favor do postulante. Muitos dos conceitos discutidos nos próximos artigos serão aplicados à prescrição aquisitiva, tendo-se como exemplo a restrição estabelecida no art. 198, I, não correndo, portanto, o prazo da usucapião em desfavor de absolutamente incapaz.

Como exemplo da aplicação prática dos conceitos aqui apresentados, tenha-se a seguinte questão discursiva, cobrada pelo TJRS:

À Q U E S T Ã O D I S C U R S I V A

(TJ/RS – Juiz de Direito – RS/2012) Conceitue decadência e prescrição e estabeleça as distinções.

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Art. 189 .TÍTULO IV – Da PrescrIçãO e Da DecaDêncIa.

2. ENUNCIADOS DE SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIA

` STF 150 – Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

` STJ 106 – Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da arguição de prescrição ou decadência.

` STJ 412. A ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabe-lecido no Código Civil.

3. ENUNCIADOS DAS JORNADAS

` Enunciado 14 – Art. 189: 1) o início do prazo prescricional ocorre com o surgimento da pretensão, que decorre da exigibilidade do direito subjetivo; 2) o art. 189 diz respeito a casos em que a pretensão nasce imediatamente após a violação do direito absoluto ou da obrigação de não fazer.

` Prescrição. Seguro habitacional. Danos contínuos e permanentes. 3. Sendo os danos ao imóvel de nature-za sucessiva e gradual, sua progressão dá azo a inúmeros sinistros sujeitos à cobertura securitária, renovando seguidamente a pretensão do beneficiário do seguro e, por conseguinte, o marco inicial do prazo prescricional. Em situações como esta, considera-se irrompida a pretensão do beneficiário do seguro no momento em que, comunicado o fato à seguradora, esta se recusa a indenizar. 4. Reconhecendo o acórdão recorrido que o dano foi contínuo, sem possibilidade de definir data para a sua ocorrência e possível conhecimento de sua extensão pelo segurado, não há como revisar o julgado na via especial, para escolher o dia inicial do prazo prescricional. REsp 1.143.962, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20.3.12. 3ª T. (Info 493, 2012)

` Direito civil. “Dies a quo” do prazo prescricional. Reparação de danos decorrentes de falecimento. O termo inicial da contagem do prazo prescricional na hipótese em que se pleiteia indenização por danos morais e/ou materiais decorrentes do falecimento de ente querido é a data do óbito, independentemente da data da ação ou omissão. Não é possível considerar que a pretensão à indenização em decorrência da morte nasça antes do evento que lhe deu causa. Diferentemente do que ocorre em direito penal, que considera o momento do crime a data em que é praticada a ação ou omissão que lhe deu causa, no direito civil a prescrição é contada da data da “violação do direito”. REsp 1.318.825-SE, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 13.11.12. 3ª T. (Info 509, 2012)

` Cheque pós-datado. Prescrição. Ação executiva. Data consignada na cártula. A emissão de cheques pós-da-tados, ainda que seja prática costumeira, não encontra previsão legal, pois admitir que do acordo extracartular decorra a dilação do prazo prescricional importaria na alteração da natureza do cheque como ordem de paga-mento à vista e na infringência do art. 192 do CC, além de violação dos princípios da literalidade e abstração. Assim, para a contagem do prazo prescricional de cheque pós-datado, prevalece a data nele regularmente consignada, ou seja, aquela oposta no espaço reservado para a data de emissão. REsp 1.068.513, rel. Min. Nancy Andrighi, 14.9.11. 2ª S. (Info 483, 2011)

4. QUESTÕES DE CONCURSOS01. (Objetiva – Procurador Jurídico – Pref. Mun. de São José do Ouro-RS/2019) Conforme a Lei nº 10.406/2002, em

relação à prescrição e à decadência, analisar os itens abaixo:

I. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.II. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita e só valerá sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois

que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado incompatíveis com a prescrição.

III. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor. Está(ão) CORRETO(S):a) Somente o item I.b) Somente o item II.c) Somente os itens I e III.d) Todos os itens.

02. (UFPR – Defensor Público – PR/2014) Considere as seguintes afirmativas acerca da Prescrição e da Decadência no Código Civil de 2002:

1) Todos os prazos de prescrição extintiva estão taxativamente previstos na Parte Geral do Código Civil em vigor, ao passo que os prazos de decadência encontram-se previstos de forma complementar nos artigos de cada matéria respectiva, tanto na Parte Geral como na Parte Especial do Código.

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.LIVrO III –DOs FaTOs JUrÍDIcOs Art. 190

2) Os direitos potestativos dão origem a ações de natureza constitutiva ou desconstitutiva que não estão sujeitas a prazos prescricionais, podendo tais ações, no entanto, sujeitarem-se a prazos decadenciais.

3) Considerada a disposição legal que prevê o prazo geral de prescrição de dez anos, é correto dizer que não existem pretensões imprescritíveis.

4) A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, mas só pode ser conhecida pelo juiz, de ofício, se favorecer a absolutamente incapaz.

5) A prescrição não corre contra os incapazes, absoluta ou relativamente. Da mesma forma, não corre a favor dos absolutamente incapazes, isto é, quando poderiam ser acionados.

Assinale a alternativa correta.a) Somente as afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.b) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.c) Somente as afirmativas 2, 4 e 5 são verdadeiras.d) Somente as afirmativas 3 e 5 são verdadeiras.e) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.

03. (Cespe – Técnico Judiciário – Área Administrativa – TJ – SE/2014) Julgue os seguintes itens, relativos à prescrição e à decadência.

– A prescrição e a decadência são necessariamente fatos jurídicos extintivos e estabelecidos por lei.

04. (Cespe – Procurador do Estado – PGE-BA/2014) Acerca da responsabilidade civil, julgue os itens subsequentes, à luz da jurisprudência dominante do STJ.

– Na hipótese de indenização por danos morais ou materiais decorrentes do falecimento de ente querido, o termo inicial da contagem do prazo prescricional é a data do óbito, independentemente da data da ação ou da omissão.

05. (AGU/Procurador/2007 – adaptada) Julgue os itens seguintes, acerca de prescrição e decadência.– Na prescrição, o direito antecede o início da contagem do prazo, enquanto na decadência, o direito coincide

com o início da contagem do prazo.

06. (Juiz/TJ/SP/2009/VUNESP) Prescrição e decadênciaa) extinguem o direito de ação.b) extinguem, respectivamente, o direito potestativo e a pretensão.c) extinguem, respectivamente, a pretensão e o direito potestativo.d) extinguem a pretensão.

GAB 1 D 2 E 3 E 4 C 5 C 6 C

5. ENUNCIADOS DE JURISPRUDÊNCIA ` REsp 1.724.544-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, por unanimidade, julgado em 02/10/2018, DJe 08/10/2018. O

termo inicial da prescrição da pretensão de restituição dos valores pagos parceladamente a título de comissão de corretagem é a data do efetivo pagamento (desembolso total).

Art. 190. A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão.

1. BREVES COMENTÁRIOS

O prazo prescricional da exceção. De há muito já se conhecia que a possibilidade de se defender mediante alegação de um direito somente poderia perdurar se ainda fosse possível promover ação com base em tal direito em busca de uma sentença de mérito procedente. Tendo por base isso, o STF, desde 1963, estabeleceu no Enunciado 150 de sua Súmula que “Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação”. Desta forma, tanto o ataque (ação) quan-to a defesa (exceção) encontram seu fim no mesmo momento. Houvesse outro entendimento ter-se-ia uma situação inusitada, curiosa e profundamente injusta. Não poderia o credor (com

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Art. 191 .TÍTULO IV – Da PrescrIçãO e Da DecaDêncIa.

crédito prescrito) demandar execução de seu direito, mas poderia, em sede de resposta, arguir compensação com débito constituído após a prescrição, ou seja, o direito seria inservível para uma proposição direta, mas poderia indiretamente beneficiar seu titular.

2. ENUNCIADOS DE SÚMULA DE JURISPRUDÊNCIA

` STF 150 – Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

3. QUESTÃO DE CONCURSO

01. (PROC/TCE/AL/2008/FCC – adaptada) Sobre a prescrição, considere:

I. as exceções são imprescritíveis;

GAB 1 E

Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do inte-ressado, incompatíveis com a prescrição.

1. BREVES COMENTÁRIOSRenúncia da prescrição. O Enunciado nº 295 do CJF prescreve que “a revogação do art. 194 do

Código Civil pela Lei nº 11.280/2006, que determina ao juiz o reconhecimento de ofício da prescrição, não retira do devedor a possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto codificado”. O Código, assim, reconhece a possibilidade de renúncia à prescrição. Frise-se que esta somente pode ocorrer após a concretização do prazo, pois antes deste estar completo não há nada em relação a que renunciar. Somente após a consumação do prazo é que se poderá falar em renúncia, podendo esta tanto ser tácita quanto expressa. A expressa pode se consubstanciar em documento particular ou público. Já a tácita se estrutura com base em ato praticado pela parte que é com a prescrição incompatível, como o devedor que faz pagamento parcial do devido. Mesmo reconhecendo a possibilidade de renúncia à prescrição, não é dado às partes modificar o prazo legal. Desta forma, a renúncia não gera um prazo complementar, mas sim a abertura de novo prazo a se iniciar do ato abdicativo. Por isso é fundamental perceber que uma vez renunciada a prescrição ainda sem pagamento, novo prazo será criado, não uma complementação do anterior. Imagine que o devedor reconheça a dívida (já prescrita) em novo instrumento, como um título de crédito. Deste, contar-se-á prazo próprio de prescrição (a depender da espécie de título).

2. ENUNCIADOS DAS JORNADAS

` Enunciado 581 – Em complemento ao Enunciado 295, a decretação ex officio da prescrição ou da decadência deve ser precedida de oitiva das partes.

` Enunciado 295 – Art. 191. A revogação do art. 194 do Código Civil pela Lei nº 11.280/2006, que determina ao juiz o reconhecimento de ofício da prescrição, não retira do devedor a possibilidade de renúncia admitida no art. 191 do texto codificado.

3. QUESTÕES DE CONCURSOS01. (FEPESE – Procurador – Pref. de Bombinhas-SC/2019) Assinale a alternativa correta sobre a prescrição no

Código Civil Brasileiro.

a) Não corre prescrição entre ascendentes e descendentes.

b) A prática de atos incompatíveis com a prescrição presume a sua renúncia.

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.LIVrO III –DOs FaTOs JUrÍDIcOs Art. 192

c) O juiz não poderá suprir, de ofício, a alegação de prescrição.

d) A suspensão da prescrição em favor de um dos credores solidários, a todos aproveita.

e) A qualquer tempo poderá a parte renunciar à prescrição.

02. (FCC – Procurador do Estado – MT/2016) Francisco tomou R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) emprestados de Eduardo e não pagou no prazo avençado. Eduardo, por sua vez, deixou de ajuizar ação no prazo legal, dando azo à prescrição. Não obstante, Francisco pagou Eduardo depois de escoado o prazo prescricional. Depois de realizado o pagamento, Francisco ajuizou ação contra Eduardo para reaver a quantia paga. A alegação

a) procede, porque a prescrição atinge o próprio direito de crédito e sua renúncia somente é admitida, se realizada de maneira expressa, depois que se consumar, desde que sem prejuízo de terceiro.

b) procede, porque, embora a prescrição atinja não o direito, mas a pretensão, sua renúncia somente é admitida quando realizada de maneira expressa, antes de se consumar, desde que feita sem prejuízo de terceiro.

c) improcede, porque a prescrição atinge não o direito, mas a pretensão, além de admitir renúncia, de maneira expressa ou tácita, depois que se consumar, desde que feita sem prejuízo de terceiro.

d) improcede, porque, embora apenas a decadência admita renúncia, a prescrição atinge não o direito, mas a pretensão.

e) procede, porque a prescrição atinge o próprio direito de crédito e não admite renúncia.

03. (ADV/REFAP/ S/A / 2007/CESGRANRIO – adaptada) Sobre as regras da prescrição, é correto afirmar que:– O beneficiário não pode renunciar à prescrição, principalmente após a sua consumação.

04. (Juiz/TRF/5R/2007/CESPE) Julgue os itens a seguir, relativos aos negócios jurídicos e à prescrição.– Se, no curso de um processo, o juiz verificar a ocorrência de prescrição, este deverá proferir sentença reconhe-

cendo o fato e extinguindo o processo sem resolução de mérito, ainda que se trate de direitos patrimoniais e o réu, em contraditório, no prazo assinalado para a resposta, tenha renunciado à prescrição já consumada ou tenha-se mantido inerte ante o ônus de se defender.

05. (ANAC/2009/CESPE) Não se admite renúncia prévia da prescrição nem de prescrição em curso, somente sendo admitida renúncia da prescrição consumada.

06. (TRF/5ª Região/Juiz Federal/2009/CESPE – adaptada) No que tange à disciplina da prescrição e da decadência no Código Civil de 2002, assinale:

– Não é possível que haja renúncia prévia de prazo prescricional legal, mas pode haver renúncia de prazo de-cadencial fixado em lei, desde que seja feita de forma expressa, já que a sua aplicação é adstrita aos direitos potestativos.

07. (TRF/5ª Região/Juiz Federal/2009/CESPE – adaptada) No que tange à disciplina da prescrição e da decadência no Código Civil de 2002, assinale:

– Se, após prescrita a dívida, o devedor ajuizar ação de consignação em pagamento, não deve o juiz decretar de ofício a prescrição, uma vez que o Código Civil não extinguiu a renúncia à prescrição.

GAB 1 B 2 C 3 E 4 E 5 C 6 E 7 C

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.

1. BREVES COMENTÁRIOS

Os prazos prescricionais decorrem da lei. Atente-se, a decadência pode ser alterada pelas partes, desde que não tenha sido fixada em lei. Contudo, a prescrição, por sua natureza específica e vinculada à estabilidade das relações, além de sempre ser definida pela lei, não pode, em ne-nhuma circunstância ser alterada, podendo, apenas, haver renúncia posterior ao seu implemento.

2. INFORMATIVOS DE JURISPRUDÊNCIA

` Cheque pós-datado. Prescrição. Ação executiva. Data consignada na cártula. A emissão de cheques pós--datados, ainda que seja prática costumeira, não encontra previsão legal, pois admitir que do acordo extracar-tular decorra a dilação do prazo prescricional importaria na alteração da natureza do cheque como ordem de

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Art. 193 .TÍTULO IV – Da PrescrIçãO e Da DecaDêncIa.

pagamento à vista e na infringência do art. 192 do CC, além de violação dos princípios da literalidade e abstração. Assim, para a contagem do prazo prescricional de cheque pós-datado, prevalece a data nele regularmente consignada, ou seja, aquela oposta no espaço reservado para a data de emissão. REsp 1.068.513, rel. Min. Nancy Andrighi, 14.9.11. 2ª S. (Info 483, 2011)

3. QUESTÃO DE CONCURSO01. (TJMS – Analista Judiciário/2017/PUC-PR) Sobre os institutos da prescrição e da decadência previstos no

Código Civil, assinale a alternativa CORRETA.

a) Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição e o juiz pode reconhecê-la de ofício.

b) É juridicamente possível renunciar à decadência fixada em lei.

c) A interrupção da prescrição produzida contra o principal devedor não gera efeitos sobre o fiador.

d) Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.

e) A suspensão da prescrição em favor de um dos credores solidários só beneficia os outros se a obrigação for divisível.

02. (ADV/REFAP/ S/A / 2007/CESGRANRIO – adaptada) Sobre as regras da prescrição, é correto afirmar que:

– Os prazos de prescrição podem ser alterados por acordo das partes.

03. (ANALISTA/TRT/17ª Região/2009/CESPE) A alteração dos prazos por acordo entre as partes é admissível na decadência, porém não o é na prescrição.

04. (TRF/5ª Região/Juiz Federal/2009/CESPE – adaptada) No que tange à disciplina da prescrição e da decadência no Código Civil de 2002, assinale:

– Os contratantes podem, desde que mediante prévio acordo por escrito, diminuir os prazos prescricionais esta-belecidos no Código Civil, mas não é lícito que eles aumentem o referido prazo, pois isso configuraria violação de norma de ordem pública.

GAB 1 D 2 E 3 C 4 E

Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita.

À Referências: ` Arts. 59, 240, 310, CPC.

` Art. 96, II, da Lei 11.101/05.

` Súmula 150 do STF.

1. BREVES COMENTÁRIOS

Momento de alegação da prescrição. Requer-se especial atenção a este artigo. Apesar de ser direito de a parte alegar, em qualquer grau de jurisdição a prescrição, deve-se observar que os Tribunais Superiores, pela lógica recursal própria, seguem a necessidade de prequestionamento em grau inferior da prescrição, como bem se nota no Enunciado 153 do TST, vez que “não se conhece de prescrição não arguida na instância ordinária”. Sintetizando este ponto, denotam FARIAS & ROSENVALD (Curso de Direito Civil, v.I, 2012. p.734): “a prescrição pode ser alegada a qualquer tempo e nos dois graus ordinários de jurisdição, perante o órgão monocráti-co de justiça ou no tribunal respectivo, somente sendo discutível em sede excepcional (recurso extraordinário, especial ou de revista) quando houve o necessário pré-questionamento, exigido constitucionalmente para a admissibilidade de tais recursos de fundamentação vinculada.”

2. QUESTÃO DE CONCURSO

01. (IBC – PGM – Carapicuíba – Procurador/2015) Analise as assertivas abaixo e assinale a alternativa correta, sobre prescrição no direito civil:

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1. BREVES COMENTÁRIOS

Em, porém, acontecendo tal lesão – descumprindo-se a obrigação primária de não lesar ao próximo – há de se falar na cogente e sucessiva incidência da obrigação secundária e cogente de indenizar, sendo esse o mecanismo da responsabilidade civil (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 7 Ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 02). Logo, responsabilizar é imputar ao lesante às consequências legais do seu comportamento danoso, com a obrigação de indenizar (STOLZE GAGLIANO, Pablo. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Responsabilidade Civil. Vol. III. 7 Ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 01).

PrejuízoAto jurídico

DEVER OBJETIVO

DE REPARARContrariedade

ao direito+ +=

Ato jurídico

ATO ILÍCITO

Contrariedade ao direito+=

AT E N Ç Ã O !

Fonte: Figueiredo, Luciano Lima & Figueiredo, Roberto Lima. Direito Civil – Obrigações e Responsabilidade Civil (Coleção Sinopses para Concursos). 3. ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2014.

É comum a ligação dos conceitos de responsabilidade civil e ato ilícito como se fossem in-dissociáveis. Todavia, não o são. Com efeito, malgrado o caput do artigo em análise abordar o dever de indenizar como decorrente do ato ilícito, há hipóteses legislativas nas quais fala-se em indenização mesmo diante de uma conduta lícita. Exemplifica-se como a desapropriação esta-tal, indenização por passagem forçada (art. 1285 do CC) e as obrigações de indenizar quando terceiros inocentes são atingidos no exercício da legítima defesa e do estado de necessidade (CC, arts. 929 e 930).

Assim, em uma análise mais ampla da responsabilidade civil, pode-se dizer que ela é a ciência de reparação e/ou prevenção dos danos. Isso, porém, não afasta a noção segundo a qual a principal função da responsabilidade civil é a compensatória. Leia-se: principal, porém não exclusiva.

Demais disto, nem sempre a consequência de uma responsabilização civil é a indeniza-ção. Há condutas vedadas na norma codificada cuja incidência gera sanção diversa. A título ilustrativo, o abuso no exercício do Poder Familiar, com castigos imoderados, tem como con-sequência a suspensão ou destituição do Poder Familiar, na esteira dos artigos 1.637 e 1.638 do Código Civil.

O campo de atuação da Responsabilidade Civil é cada vez mais amplo e diversificado, abrangendo o público e o privado, dividindo-se em várias searas, como aéreo, terrestre, indi-vidual, coletivo, ambiental... Por conta disso, muitas vezes a normatização relativa ao assunto ainda é incipiente, havendo o operador do direito de lançar mão da intitulada lógica do razoável.

Hodiernamente, para que haja responsabilidade civil demanda-se a presença de elementos gerais: conduta humana, dano ou prejuízo e nexo de causalidade. Ademais, a par desses elemen-tos, na regra geral a responsabilização civil exige, ainda, a presença da culpa (responsabilidade 900

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civil subjetiva). Tal culpa é lato sensu, sendo possível verificar-se no dolo ou na nominada culpa stricto sensu (imprudência, negligência e imperícia).

Fato, porém, que ao lado da regra geral, o legislador civilista disciplina casuísticas de respon-sabilidade civil objetiva, nas quais não se exige a culpa, mas persiste a necessidade da conduta humana, do dano ou prejuízo e do nexo de causalidade.

O parágrafo único do artigo em comento enuncia algumas hipóteses de responsabilidade civil objetiva. Registra-se que não são casuísticas exclusivas de objetivação, pois há outras pre-vistas no Código Civil, como objetivação por abuso de direito (art. 187 do CC), na circulação de produtos pelos empresários individuais e empresas (art. 931 do CC) e na responsabilidade civil indireta (art. 932 e ss.).

No parágrafo do artigo em análise, porém, há notícia sobre a responsabilização sem culpa (objetiva) quando houver previsão em leis especiais e quando verificada a atividade de risco. Sobre isto que se passará a aprofundar.

a) Previsão em Leis Especiais (“casos especificados em lei”):

Enumeram-se como principais hipóteses que aparecem em provas concursais sobre respon-sabilidade civil objetiva por previsão em leis especiais:

• Responsabilidade civil nas Relações de Consumo (art. 12 e ss. do CDC);

• Responsabilidade civil do transportador (art. 734, CC);

• Responsabilidade civil do estado (art. 37, § 6º, CF);

• Responsabilidade Ambiental (Lei 6938/81, art. 14);

• Responsabilidade por Dano Nuclear (art. 21, XXIII, CF);

Interessante observar que tais responsabilizações objetivas por previsão em leis específicas possuem como motivo justificador a nominada teoria do risco. Deve-se entender pela teoria do risco, oriunda da doutrina francesa, que aquele que pratica atos perigosos, com probabilidade de dano, deve assumir o risco e reparar o dano decorrente (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 7 Ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 128).

O risco admite várias modalidades, podendo ser proveito, profissional, excepcional, cria-do... Indica-se a obra de Sérgio Cavalieri Filho (Programa de Responsabilidade Civil. 7 Ed. São Paulo: Atlas, 2007. p. 128 e ss.) para seu aprofundamento, haja vista a natureza dos presentes comentários.

Todavia, importante para a hora da prova recordar-se que há alguns riscos denominados de integrais e outros não integrais. Quando se fala na teoria do risco integral, o caso fortuito e a força maior não excluem o dever de indenizar. São exemplos de responsabilidade civil com risco integral a ambiental e por dano nuclear. Já o risco não integral traduz naquele que possibilita a arguição das excludentes do caso fortuito e da força maior, como ocorre no CDC, contrato de transporte, responsabilidade civil do estado...

Sistematizando o dito, vale-se da lição de Cristiano Chaves, destacando o seguinte esquema para que se diferenciem situações de adoção da teoria do risco integral:

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Adoção da teoria do risco integral (em que o caso fortuito e a força maior não

eliminam a responsabilidade)

Sem adoção do risco integral (caso fortuito e força maior servem de

excludentes de responsabilidade)

Dano ambiental (art. 14, da Lei 6.938/81) Dano ao consumidor (arts. 12 e 18 do CDC)

Dano nuclear (art. 21, XXIII, d, da CF/88) Dano causado pela Administração Pública (art. 37, § 6º da CF/88)

Perda ou deterioração da coisa pelo possuidor de má-fé (arts. 1.216 e 1.217 do CC/02)

Responsabilidade do transportador (arts. 732 a 734 do CC/02)

Responsabilidade do comodatário em mora (art. 582, CC/02)

Risco do desenvolvimento (art. 931, CC/02)

Todavia, mesmo no risco não integral, a doutrina e a jurisprudência vêm trazendo mitiga-ções, como a distinção, em contrato de transporte, do fortuito interno e do externo – distinção brilhantemente feita pelo Professor Agostinho Alvim, em sua obra Da Inexecução das Obrigações. 4 Ed. São Paulo: Saraiva. P. 314-315).

Fortuito interno trata-se de acontecimento imprevisível e extraordinário, causador de dano e que incide no processo de fabricação do produto ou no momento da realização do serviço. Relaciona-se à própria atividade desenvolvida. Ex. em contrato de transporte: quebra da barra de direção, mal súbito do motorista, pneu furado. Esse fortuito não exclui a responsabilidade civil da transportadora (Enunciado 443 do CJF).

Já o fortuito externo consiste no acontecimento imprevisível e extraordinário, causador de um dano, porém exterior à elaboração do produto ou realização do serviço. Ex. em contrato de transporte: queda de barreira em estrada. Esse exclui a responsabilidade civil da transportadora.

b) Por Atividade de Risco (“quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para o direito de outrem”).

Infere-se uma responsabilidade civil ope iudices, ao passo que o magistrado, no momento da valoração do fato, haverá de verificar se a atividade desenvolvida pelo autor do dano implica, ou não, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Em sendo positiva a resposta, impõe-se objetivação da responsabilidade por decisão judicial.

Por atividade de risco não se pode entender a prática de um ato isolado, mas sim de uma série contínua e coordenada de atos que impliquem em um risco para o lesado maior do que o usual (Enunciado 38 do CJF). Para que se configure a atividade de risco não se exige, afirma a doutrina, defeito ou risco essencial da atividade, mas apenas que no exercício da dita atividade haja risco especial e diferenciado aos direitos de outrem. O risco será avaliado segundo estatísticas, prova técnica e máximas de experiência (Enunciado 448 do CJF).

Infere-se mais um conceito vago ou indeterminado codificado, cabendo ao operador do direito, no caso concreto, determiná-lo (sobre o tema consultar MARTINS-COSTA. Judith. O Direito Privado como um “sistema em constrição”: as cláusulas gerais no Projeto do Código Civil brasileiro. In: Jus Navigandi, ano 4, nº 41, maio de 2000. Disponível em: <www.jus2.uol.com.br>. Acesso em: 26/09/2006).

E como ficaria a questão do acidente de trabalho?902

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Para aqueles que estão buscando a carreira trabalhista, na hipótese de acidente de trabalho a responsabilidade civil, em regra, será subjetiva, com presunção de culpa e inversão do ônus da prova, na forma do art. 7º, XXVIII da CF/88. Todavia, se o aludido acidente ocorrer na prática de uma atividade de risco, a responsabilidade civil poderá ser objetivada pelo magistrado, em nítido avanço garantista na pauta mínima constitucional dos direitos dos trabalhadores (Enun-ciado 377 do CJF).

Já para os dedicados a provas que envolvam, fortemente, o tema responsabilidade civil do Estado, cuidado! O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça divergem sobre a possibilidade de acionar, separadamente, o agente que casou o resultado danoso e o Estado.

Primeiramente, percebe-se que a responsabilidade do ente estatal é objetiva, enquanto a responsabilidade do agente é subjetiva. Uma vez demonstrada a culpa deste (agente), responsável será o Estado, objetivamente. Acionando-se diretamente o Estado, contudo, torna-se necessário demonstrar apenas o nexo causal, como bem se vê no STJ – AgRg no AREsp 403236. Esta situação, porém, desencadeia uma dúvida: seria possível ingressar diretamente contra o agente ou apenas contra o Estado?

O STF se posiciona pela impossibilidade de ação em apartado em face do funcionário, deven-do a vítima acionar o Estado e este, regressivamente, agir em face do funcionário. Reconhece o Supremo, assim, a existência de um sistema de dupla garantia em tema de responsabilidade civil estatal. No RE 327904/SP, de relatoria do Min. Carlos Britto e publicado em 15.8.2006, afirmou-se: “concluiu-se que o mencionado art. 37, § 6º, da CF, consagra dupla garantia: uma em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público ou de direito privado que preste serviço público; outra, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional pertencer.” Nega, assim, o STF a possibilidade de reconhecimento de responsabilidade per saltum da pessoa do agente público.

O STJ posicionava-se no mesmo sentido, como bem ilustra o REsp 976730, de 2008, da primeira Turma, de relatoria do Min. Luiz Fux, que reconheceu a dupla garantia. Contudo, em recente decisão da Quarta Turma, o STJ reconheceu, seguindo posicionamento dou-trinário majoritário, que “há de se franquear ao particular a possibilidade de ajuizar a ação diretamente contra o servidor, suposto causador do dano, contra o Estado ou contra ambos, se assim desejar. A avaliação quanto ao ajuizamento da ação contra o servidor público ou contra o Estado deve ser decisão do suposto lesado. Se, por um lado, o particular abre mão do sistema de responsabilidade objetiva do Estado, por outro também não se sujeita ao regime de precatórios.” (STJ, REsp 1325862 / PR). Dada a importância do julgado, transcreve-se o mesmo na íntegra.

RESPONSABILIDADE CIVIL. SENTENÇA PUBLICADA ERRONEA-MENTE. CONDENAÇÃO DO ESTADO A MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. INFORMAÇÃO EQUIVOCADA. AÇÃO INDENIZATÓRIA AJUIZADA EM FACE DA SERVENTUÁRIA. LEGITIMIDADE PASSIVA. DANO MORAL. PROCURADOR DO ESTADO. INEXISTÊNCIA. MERO DISSABOR. APLICAÇÃO, ADEMAIS, DO PRINCÍPIO DO DUTY TO MITI-GATE THE LOSS. BOA-FÉ OBJETIVA. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO DANO. 1. O art. 37, § 6º, da CF/1988 prevê uma garantia para o administrado de buscar a recomposição dos danos sofridos diretamente da pessoa jurídica que, em princípio, é mais solvente que o servidor, independentemente de demonstração de culpa do agente público. Vale dizer, a Constituição, nesse particular, sim-plesmente impõe ônus maior ao Estado decorrente do risco administrativo; não

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prevê, porém, uma demanda de curso forçado em face da Administração Pública quando o particular livremente dispõe do bônus contraposto. Tampouco confere ao agente público imunidade de não ser demandado diretamente por seus atos, o qual, aliás, se ficar comprovado dolo ou culpa, responderá de outra forma, em regresso, perante a Administração. 2. Assim, há de se franquear ao particular a possibilidade de ajuizar a ação diretamente contra o servidor, suposto causador do dano, contra o Estado ou contra ambos, se assim desejar. A avaliação quanto ao ajuizamento da ação contra o servidor público ou contra o Estado deve ser decisão do suposto lesado. Se, por um lado, o particular abre mão do sistema de responsabilidade objetiva do Estado, por outro também não se sujeita ao regime de precatórios. Doutrina e precedentes do STF e do STJ. 3. A publicação de certidão equivocada de ter sido o Estado condenado a multa por litigância de má-fé gera, quando muito, mero aborrecimento ao Procurador que atuou no feito, mesmo porque é situação absolutamente corriqueira no âmbito forense incorreções na comunicação de atos processuais, notadamente em razão do volume de processos que tramitam no Judiciário. Ademais, não é exatamente um fato excepcional que, verdadeiramente, o Estado tem sido amiúde condenado por demandas temerárias ou por recalcitrância injustificada, circunstância que, na consciência coletiva dos partícipes do cenário forense, torna desconexa a causa de aplicação da multa a uma concreta conduta maliciosa do Procurador. 4. Não fosse por isso, é incontroverso nos autos que o recorrente, depois da publicação equivocada, manejou embargos contra a sentença sem nada mencionar quanto ao erro, não fez também nenhuma menção na apelação que se seguiu e não requereu administrativamente a correção da publicação. Assim, aplica-se magistério de doutrina de vanguarda e a juris-prudência que têm reconhecido como decorrência da boa-fé objetiva o princípio do Duty to mitigate the loss, um dever de mitigar o próprio dano, segundo o qual a parte que invoca violações a um dever legal ou contratual deve proceder a medidas possíveis e razoáveis para limitar seu prejuízo. É consectário direto dos deveres conexos à boa-fé o encargo de que a parte a quem a perda aproveita não se mantenha inerte diante da possibilidade de agravamento desnecessário do próprio dano, na esperança de se ressarcir posteriormente com uma ação indenizatória, comportamento esse que afronta, a toda evidência, os deveres de cooperação e de eticidade. 5. Recurso especial não provido. REsp 1325862 / PR, relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, j. 05/09/2013. p.10/12/2013.

Seguindo nas dúvidas concursais, pergunta-se: O que seria a culpa contra legalidade?

Esta expressão, cunhada por Sérgio Cavalieri Filho em sua obra Programa de Responsabili-dade Civil, estabelece que aquele que infringir norma expressa, procedendo contrariamente ao que ela determina, deverá ser responsabilizado pelo resultado adverso de sua conduta. Trata-se de aplicação de presunção de culpa, reconhecida pela jurisprudência:

DANO MORAL. CULPA CONTRA A LEGALIDADE. A Constituição Fede-ral estabeleceu como direito fundamental dos trabalhadores a redução dos riscos inerentes ao trabalho (inciso XXII do art. 7º), devendo o empregador atentar-se, constantemente, para a redução dos riscos à saúde e vida do trabalhador. É inad-missível aceitar os riscos sabidamente presentes no ambiente de trabalho, sem qualquer providência. Configura-se negligência, passível de indenização, a inob-servância de normas que dizem respeito à segurança e saúde no trabalho. (TRT-3 – RO: 00949201306603008 0000949-60.2013.5.03.0066, Relator: Convocada Erica Aparecida Pires Bessa, Primeira Turma, Data de Publicação: 24/09/2014 23/09/2014. DEJT/TRT3/Cad.Jud. Página 44. Boletim: Não.)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂN-SITO. COLISÃO. DESOBEDIÊNCIA AO DIREITO DE PREFERÊNCIA.

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OFENSA ÀS REGRAS DE TRÂNSITO. CULPA CONTRA A LEGALIDADE. DANO E NEXO CAUSAL. COMPROVAÇÃO. PRESSUPOSTOS DA RES-PONSABILIDADE CIVIL. PRESENÇA. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR EXISTENTE. DANOS MATERIAIS. COMPROVAÇÃO. I – A violação às normas de trânsito é fator determinante da responsabilidade civil e cria em des-favor do agente uma presunção de ter agido com culpa. II – Havendo prova da conduta culposa, que resultou no acidente de trânsito, faz-se imperioso reconhecer a presença dos pressupostos da responsabilidade civil e do consequente dever de indenizar. III – Os danos materiais devem ser efetivamente comprovados pelo pleiteante. (TJ-MG – AC: 10027081675152001 MG, Relator: Leite Praça, Data de Julgamento: 29/08/2013, Câmaras Cíveis / 17ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 10/09/2013)

Relações trabalhistas, danos morais e limitação ao quantum indenizatório. A reforma trabalhista inseriu na CLT todo um Título na CLT, com os novos arts. 223-A e seguintes, tratan-do não apenas do conceito de danos morais, como também determinando limites ao quantum indenizatório. É fundamental que teçamos algumas linhas sobre o tema. Primeiramente, a lista apresentada no art. 223-C da CLT, do que se entenderia por dano extrapatrimonial, não pode ser tida como fechada (numerus clausus) mas sim como de natureza exemplificativa. Corrobora esta visão a MPV-808, que ampliou os direitos ali elencados, sem, contudo, esgotar as possi-bilidades de proteção. De outro tanto, a ponderação da situação social e econômica das partes envolvidas (art. 223-G, CLT) e os limites de indenização baseados no valor do benefício pago pelo Regimento Geral da Previdência Social (art. 223-G, §1º, CLT), devem ser vistos cum grano salis, haja vista que o atual cenário civil-constitucional não pode se dobrar à repatrimonialização de sua estrutura, muito menos colocar em ponto de destaque, sob um véu de segurança jurídica, um sistema que retire de seu centro de gravitação a pessoa e coloca que patrimônio em seu lugar. Os limites devem, sempre, ser entendidos como parâmetros e, assim, servirem ao magistrado para o sopesar do alcance da resposta indenizatória. Não um fim, mas um começo de análise. Tanto assim, que o art. 223-G, §5º (com redação dada pela MPV 808/17), denota que os limites estabelecidos no parágrafo primeiro do referido artigo não se aplicam em caso de morte. Como mesmo fundamento, pode-se estender tal situação aos danos agudos à pessoa, que levem a uma condição extrema de fragilidade e limitação. Por fim, mas não de forma exauriente, observe-se que a aplicação de punição em valor dobrado em caso de reincidência pouco ou nada contribui para um sistema de efetiva proteção da pessoa. De um lado, por estar limitada temporalmente (2 anos) para poder ser reconhecida; de outro, em razão de haver o legislador apontado que para se caracterizar a reincidência faz-se necessária a ocorrência de ofensa “idêntica”, expressão que poderia ter sido substituída por “similar” para que se evite o afastamento simples de tal regra (art. 223-G, §§3º e 4º).

Responsabilidade por roubo em estacionamento externo gratuito. A Súmula 130 do STJ estabeleceu responsabilidade objetiva para furtos e danos ocorridos em seus estacionamentos (A empresa responde, perante o cliente, pela reparação de dano ou furto de veículo ocorridos em seu estacionamento). Contudo o REsp 1.431.606/SP trouxe importante debate acerca dos limites desta responsabilidade. Observou-se que a Súmula não tem aplicabilidade para casos de roubo, que caracterizariam fortuito externo, excluindo a responsabilidade. “Ocorre, porém, que o caso em apreço não se amolda à orientação expressada no aludido enunciado sumular, porquanto não se trata aqui de simples subtração (furto) ou avaria (dano) da motocicleta pertencente ao autor, mas da subtração desta mediante grave ameaça dirigida por terceiros contra sua pessoa, ou seja, verificou-se a ocorrência do crime de roubo, que foi praticado, inclusive, com emprego

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