clique aqui para abrir o livro ufsc 50 anos em pdf

483

Click here to load reader

Upload: haquynh

Post on 30-Dec-2016

266 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • UFSC 50 anosTrajetrias e Desafi os

  • Universidade Federal de santa CatarinaReitor: Alvaro Toubes Prata

    Vice-Reitor: Carlos Alberto Justo da SilvaChefe de Gabinete: Jos Carlos Cunha Petrus

    Diretor da Agncia de Comunicao: Moacir LothPr-Reitor de Assuntos Estudantis: Cludio Jos Amante

    Pr-Reitor de Desenvolvimento Humano e Social: Luiz Henrique Vieira SilvaPr-Reitora de Ensino de Graduao: Yara Maria Rauh Mller

    Pr-Reitor de Infraestrutura: Joo Batista FurtuosoPr-Reitora de Pesquisa e Extenso: Dbora Peres Menezes

    Pr-Reitora de Ps-Graduao: Maria Lcia de Barros CamargoSecretria de Cultura e Arte: Maria de Lourdes Alves Borges

    Secretrio de Planejamento e Finanas: Luiz AlbertonSecretrio de Relaes Institucionais e Internacionais: Enio Luiz Pedrotti

    Diretor do Centro de Cincias Agrrias: Edemar Roberto AndreattaDiretora do Centro de Cincias Biolgicas: Snia Gonalves Carobrez

    Diretor do Centro de Cincias da Educao: Wilson SchmidtDiretora do Centro de Cincias da Sade: Kenya Schmidt Reibnitz

    Diretor do Centro de Cincias Fsicas e Matemticas: Tarciso Antnio GrandiDiretora do Centro de Cincias Jurdicas: Olga Maria Boschi Aguiar de Oliveira

    Diretor do Centro de Comunicao e Expresso: Felcio Wessling MargottiDiretor do Centro de Desportos: Juarez Vieira do Nascimento

    Diretora do Centro de Filosofia e Cincias Humanas: Roselane NeckelDiretor do Centro Scio-Econmico: Ricardo Jos Arajo de Oliveira

    Diretor do Centro Tecnolgico: Edison da RosaDiretor Geral do Campus Ararangu: Sergio Peters

    Diretor Geral do Campus Curitibanos: Cesar DamianDiretor Geral do Campus Joinville: Acires Dias

  • UFSC 50 anosTrajetrias e Desafi os

    Roselane NeckelAlita Diana C. Kchler

    (Organizadoras)

    Universidade Federal de Santa CatarinaFlorianpolis

    2010

  • Coordenao Geral do Projeto de Elaborao do Livro 50 anos da UFSC: Roselane Neckel e Alita Diana Corra Kchler Coordenao, Superviso e Orientao Trajetrias: Roselane NeckelCatalogao das Fontes e Referncias Bibliogrficas: Cezar KarpinskiCoordenao e Superviso Desafios: Alita Diana C. Kchler Superviso e Edio do Centro de Cincias Agrrias: Alita DianaSuperviso e Edio do Centro de Cincias Biolgicas: Arley ReisSuperviso e Edio do Centro de Cincias da Educao: Cludia Schaun ReisSuperviso e Edio do Centro de Cincias da Sade: Alita Diana, Artemio Reinaldo de Souza e Moacir LothSuperviso e Edio do Hospital Universitrio: Alita Diana e Paulo Clvis SchmitzSuperviso e Edio do Centro de Cincias Fsicas e Matemticas: Arley ReisSuperviso e Edio do Centro de Cincias Jurdicas: Mauro Csar SilveiraSuperviso e Edio do Centro de Comunicao e Expresso: Mauro Csar SilveiraSuperviso e Edio do Centro de Desportos: Margareth Vianna Rossi ClaussenSuperviso e Edio do Centro de Filosofia e Cincias Humanas: Alita DianaSuperviso e Edio do Centro Scio-Econmico: Mauro Csar SilveiraSuperviso e Edio do Centro Tecnolgico: Alita Diana

    Ficha catalogrficaCatalogao na fonte pela Biblioteca Universitria da

    Universidade Federal de Santa Catarina

    U25 UFSC 50 anos : trajetrias e desafios / Roselane Neckel e Alita Diana Corra Kchler, organizadoras. Florianpolis : UFSC, 2010.

    480 p. : il.

    Inclui bibliografia

    1. Universidade 2. Histria 3. Memria 4. Projetos. I. Neckel, Roselane. II. Kchler, Alita Diana Corra.

    CDU: 378(816.4)

    Comisso Executiva das Comemoraes dos 50 anos da UFSC:

    Clia Silveira Ramos (Presidente)Vernica Martins Malta (Secretria)

    Claudete Regina Ferreira Fernando Crocomo

    Jos Carlos Cunha PetrusLuiz Roberto Barbosa

    Moacir LothSoni SilvaDiagramao:

    Daniella ZatarianProjeto Grfico e Campanha UFSC 50 Anos:

    Vicenzo BertiCapa (sobre o excerto do mosaico que reveste o prdio da Reitoria da

    UFSC e selo da campanha dos 50 anos da UFSC):Vicenzo Berti

    Fotos: Antiga Fazenda Assis Brasil, atual campus da

    UFSC em Florianpolis Dcada de 1950 (Acervo Agecom e Campus Reitor Joo David Ferreira Lima,

    Florianpolis/2007) Foto:

    Vicenzo BertiTratamento de fotografias

    Mariana Dria Raisa Harumi

    Rodolfo Conceio Thaine Machado

    Impresso: Grfica Coan

    Universidade Federal de Santa CatarinaCampus Universitrio Reitor Joo David Ferreira Lima

    Trindade CEP 88040-970Florianpolis Santa Catarina Brasil

    Tel: +55 (48) [email protected]

    www.ufsc.br

  • Sumrio

    Apresentao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    TrajetriasApresentao UFSC 50 anos: Trajetrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17A UFSC sob o regime militar: do Centro de Estudos Bsicos aos Movimentos Estudantis . 36Quem sabe faz a hora no espera acontecer: a UFSC e a redemocratizao . . . . . . . . . . . 61De centro agropecurio a Centro de Cincias Agrrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85O Centro de Cincias Biolgicas e a construo de uma histria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101Centro de Comunicao e Expresso: histrias e memrias do cotidiano . . . . . . . . . . . . . . 125O Curso de Direito e o Centro de Cincias Jurdicas: histrias e percepes . . . . . . . . . . . 143O Centro de Cincias da Sade e suas histrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .171As ps-graduaes no Centro de Cincias da Sade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190Da obrigatoriedade surge a oportunidade: o Centro de Desportos e a Prtica Desportiva . 204Centro de Cincias da Educao: desafios e conquistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226Centro de Filosofia e Cincias Humanas: narrativas de histrias e memrias . . . . . . . . . . 250Centro de Cincias Fsicas e Matemticas: tempos e percepes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 279O Centro Scio-Econmico e suas Trajetrias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296Disputas e tentativas: a gnese da engenharia catarinense . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309

    DesafiosDesafios A UFSC do sculo XXI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335Centro de Cincias Agrrias (CCA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 337Centro de Cincias Biolgicas (CCB) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353Centro de Comunicao e Expresso (CCE) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 365Centro de Cincias Jurdicas (CCJ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 372Centro de Cincias da Sade (CCS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 378Hospital Universitrio (HU) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 391Centro de Desportos (CDS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 396Centro de Cincias da Educao (CED) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 410

  • Centro de Filosofia e Cincias Humanas (CFH) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 425Centro de Cincias Fsicas e Matemticas (CFM) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 437Centro Scio-Econmico (CSE) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 449Centro Tecnolgico (CTC) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 452Universidade Federal de Santa Catarina referncia no ensino, pesquisa e extenso . . . . 471

  • Apresentao

    Na celebrao do jubileu de ouro da Universidade Federal de Santa Catarina, saudamos a publicao deste livro. Esta obra, escrita por diversas mos, ilustra com propriedade a instituio ecltica, plural e diversificada que a UFSC. As trajetrias que percorremos ao construir esta importante instituio brasileira so diversas, e refletir sobre nosso passado nos encoraja e motiva a perseguir os novos desafios que se apresentam. O texto rico em detalhes e mostra a Universidade atravs de distintos ngulos, bem prprio de uma instituio que se manifesta de diferentes maneiras. Cumprimentamos a todos que se envolveram com esta obra e agradecemos a cada um pela contribuio dada. A comunidade universitria est de parabns. Pelos cinquenta anos de existncia, pela instituio, pelo livro, e sobretudo pelo seu honroso passado e pelo futuro que se descortina, que certamente seguir sendo glorioso. Que tenham todos uma boa leitura!

    Professor Alvaro Toubes PrataReitor da UFSC

    Professor Carlos Alberto Justo da SilvaVice-Reitor da UFSC

  • TrajetriasTrajetriasUFSC 50 Anos: Trajetrias e Desafi os

  • 11

    ApresentaoUFSC 50 anos: Trajetrias

    Roselane Neckel 1

    Creio que escrevemos para fazer conquistas, para seduzir leitores, para fazer amigos, porque no dizer amantes no pensamento e do pensamento. Espero que cada texto seja tomado com um gesto de carinho, mesmo na crtica mais dura, pois a crtica sincera a base de qualquer amizade. O que torna o amigo indispensvel no so os elogios que nos faz, mas as crticas, os reparos, as broncas amorosas que nos pode fazer, a fala carinhosa que retifica e corrige, que nos faz pensar, que nos faz rever nossas certezas e relativizar nossas verdades. Que este livro seja um amigo, a lhe propor questes, a lhe colocar dvidas, a lhe obrigar a pensar o que tinha como certeza e verdade.2

    A elaborao desta obra, que rene uma srie de captulos dedicados s trajetrias da Universidade Federal de Santa Catarina, comeou a ser pensada a partir de uma reunio com o reitor no Frum de Diretores da UFSC, em maio de 2009, no Centro de Filosofia e Cincias Humanas, em que um dos pontos de pauta tratava da comemorao dos cinquenta anos da Instituio. Nesse momento o Reitor Alvaro Toubes Prata apresenta a ideia de registrar em um livro a histria institucional da Universidade desde sua criao em 1960. A partir dessa proposta, argumentamos que o maior desafio ao escrever essa histria seria, especialmente, a definio dos rumos tericos e metodolgicos que orientariam o trabalho dos/as pesquisadores/as responsveis pela elaborao do livro. Considerando que escrever um livro apenas narrando fatos e acontecimentos j muito difcil, faz-lo em to pouco tempo, buscando fontes documentais e ao mesmo tempo problematizando-as com qualidade no era igualmente uma tarefa de execuo fcil. No entanto, aps algumas reunies, diante da grande possibilidade de abrir caminhos para que outros/as pesquisadores/as escrevessem as histrias da UFSC e contando com apoio institucional, aceitamos o desafio.

    Para realizar este trabalho, em outubro de 2009 foram selecionados 11 estagirios do Curso de Graduao em Histria para a realizao da pesquisa de fontes em cada Centro de Ensino da Universidade e trs bolsistas do Programa de Bolsa Permanncia da UFSC, que j atuavam no projeto sobre a histria do CFH. Inicia-se ento um rigoroso trabalho de coleta de fontes na Biblioteca Central, nas setoriais e no Arquivo Central da UFSC. O grupo da histria geral e dos centros trabalha inicialmente com os peridicos Boletim do Pessoal, que so publicaes institucionais encontradas na Biblioteca Central. Os/as estagirios/as buscavam nos documentos escritos, alm das informaes, nomes de pessoas que poderiam ser entrevistadas. O primeiro boletim de 1962, e era denominado Boletim Informativo, que desaparece em 1967, dando lugar ao Boletim do Pessoal, cujo ltimo nmero pesquisado, de acordo com o recorte temporal desta pesquisa, data de 1998. Em 1995, temos tambm o Boletim Oficial, um compndio de portarias e ofcios administrativos. Todos os boletins foram localizados, lidos e fichados pelos pesquisadores/as. Por meio dessas publicaes foi possvel acompanhar atos administrativos da Instituio, como portarias, atas, resolues e outros documentos afins. Os boletins encontrados nas estantes da Biblioteca Universitria sero disponibilizados tambm aos/s pesquisadores/as de outras instituies por meio da indexao digitalizada, no site da UFSC. Acreditamos que a divulgao no site abrir a possibilidade de que outras histrias da UFSC possam ser elaboradas, destacando outros aspectos, outras facetas e anlises.

    Alm dos boletins, os/as pesquisadores/as tambm procuraram fontes no Arquivo Central da UFSC e nos prprios departamentos de cada Centro. Nesses locais, encontraram uma rica documentao que muito contribuiu para as discusses sobre os projetos de implantao de cursos e das polticas internas que desencadearam a histria de muitos dos centros de ensino da UFSC. So ofcios, cartas, projetos, imagens, fax, folders, enfim, uma grande quantidade de fontes que acabaram por trazer informaes

    1 Professora do Departamento de Histria da UFSC. Coordenadora do Projeto de Elaborao do Livro UFSC 50 anos: trajetrias e desafios. Orientadora dos/as estagirios/as de pesquisa sobre a Histria da UFSC e de seus centros de ensino.2 ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Histria: a arte de inventar o passado. Ensaios de teoria da histria. Bauru, SP: EDUSC, 2007, p. 14. Fragmento extrado da obra em que o autor expressa o que o motiva a oferecer um conjunto de textos para o debate com seus colegas.

  • 12 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    sobre vrias relaes, situaes e acontecimentos no interior da Instituio. A pesquisa nesses arquivos, alm de contribuir com a escrita dos textos, possibilitou um levantamento de fontes que facilitar o registro histrico e, consequentemente, novas pesquisas, olhares e perspectivas.

    Outra fonte documental utilizada foi construda no decorrer da prpria pesquisa, sob a perspectiva metodolgica da histria oral. A escolha dessa metodologia foi muito tranquila, pois sendo a UFSC uma universidade nova, com apenas cinquenta anos de existncia, muitas das pessoas que vivenciaram seu cotidiano e que tomaram parte nas suas aes administrativas e polticas, algumas inclusive ainda interagindo conosco nos dias atuais, puderam narrar suas memrias. por meio desses vrios relatos e vises registrados nas gravaes sob a forma de entrevista que oferecemos aos/s leitores/as as interpretaes do que so, de como foram, de como deveriam ter sido os fatos ocorridos na Instituio.

    Na verdade falamos histria oral, mas poderamos dizer simplesmente histria, por ser construda com fontes orais, como aponta Vilanova.3 Em tal procedimento as pessoas por meio de palavras gravadas possibilitaram-nos interpretar os fatos e nos inspiraram na construo do texto. A primazia do contedo, contido na fonte, saiu do papel impresso ou do manuscrito, e ganhou interao entre os pesquisadores e as pessoas que aceitaram prestar seus relatos para ns. a histria escrita considerando a subjetividade, por depender das pessoas que expressaram suas impresses, interpretaes a respeito do vivido. Na escrita da histria, as fontes escritas e orais devem ter a mesma importncia.4

    As gravaes com as pessoas que aceitaram integrar o projeto UFSC 50 anos foram acompanhadas e executadas pela coordenao do projeto e pelos 14 pesquisadores/as. Antes de efetuar cada entrevista, a equipe se preparava realizando leituras (acesso ao currculo lattes, publicaes na imprensa ou em boletins) a respeito do/a entrevistado/a. Esse procedimento colaborou na preparao de um roteiro de perguntas, de modo que as informaes fossem teis no momento da entrevista, para evitar questionamentos desnecessrios ou constrangedores, por abordar contedos descontextualizados ou que explorassem temticas pouco aconselhveis para tratar naquela oportunidade. A equipe foi preparada para ter a conscincia de que no ato da entrevista quem realiza as perguntas tambm observado/a pela pessoa com quem interage. Da a importncia em adotar postura sempre respeitosa, para que o trabalho seja tomado sob a mais elevada credibilidade e confiana. Nessa oportunidade ocorre uma relao de igualdade entre sujeitos. Por isso a pessoa que manipula o gravador tem uma responsabilidade muito grande, obriga-se a ser respeitosa; ainda que discorde de determinados pontos de vista, deve faz-lo com cordialidade; deve olhar5 direto no rosto do entrevistado/a, sem demonstrar falta de interesse pelo contedo que est em discusso, pois, ainda que o assunto no seja objeto da pauta, deve ser ouvido com ateno, uma vez que por algum motivo, no perceptvel no momento, o/a entrevistado/a resolveu falar daqueles temas.

    importante ressaltar que tivemos o cuidado de no tratar as questes de determinado momento com olhares do nosso tempo, compreendendo os relatos como interpretaes, procurando no confundir as memrias com as histrias. Cuidados, como alerta Durval Muniz de Albuquerque,

    que devem ir desde uma clara conceituao de memria e de Histria, que evite considerar as memrias um discurso mais verdadeiro, mais prximo do que teria sido a verdadeira histria em contraponto histria oficial, at uma mais clara definio de mtodos, tanto no que diz respeito coleta destas memrias como no seu emprego posterior no interior de um discurso historiogrfico.6

    Cabe chamar a ateno dos/as leitores/as para o fato de que no tivemos a inteno de utilizar os registros de memria que aparecem no texto como prova ou como simples reforo do que pretendamos dizer, tomando-os como verdade em si, e de que as entrevistas no podem ser consideradas como um ponto de vista sobre o real, mas sim como uma realidade individual, emitida a partir de pontos de interseco de vrias sries ou correntes mentais aproximadas pelas relaes sociais e por um emaranhado de experincias coletivas e individuais.7

    3 VILANOVA, Mercedes. La Historia sin adjetivos com fuentes orales. Revista Histria Oral. So Paulo, n.1, jun. 1998, p.31-42.4 MONTYSUMA, Marcos Fbio Freire; KARPINSKI, Cezar. Memria e Histria Oral. Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010.5 MONTYSUMA, Marcos Fbio Freire. Um encontro com as fontes em Histria Oral. Revista Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 32, n.1, jun. 2006, p.117-125.6 ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Histria: a arte de inventar o passado... op.cit., p.200. 7 Idem.

  • Trajetrias | Apresentao 13

    As narrativas gravadas ainda no foram transcritas integralmente, o que aconteceu em partes, medida que a escrita do texto requeria determinado contedo do discurso. As gravaes originais ficaro disposio para consulta no site da UFSC, aps a transcrio de todas as 113 entrevistas.

    Portanto, o livro que ora apresentamos resultado de um intenso trabalho de pesquisa de 14 jovens pesquisadores/as, sob nossa orientao, que, fundamentados em documentos oficiais dos acervos da Biblioteca Central, do Arquivo Central da UFSC e de alguns Centros e Departamentos, e das memrias dos/as entrevistados/as, escreveram sobre as trajetrias da UFSC, permeadas pelo contexto cultural, poltico, social e econmico.

    Cabe uma explicao tambm, nesse momento, sobre a escolha do nome trajetrias para a parte histrica deste livro.8 Essa foi uma maneira que encontramos para que o ttulo possibilitasse aos/s leitores/as o entendimento, desde o incio, de que esta obra no trata de uma histria da UFSC, com comeo, meio e fim, que o/a leitor/a perceba que no possvel contar toda a histria, mas algumas de suas faces, pois a escrita da histria depende das fontes disponveis e das compreenses sobre a escrita da histria dos/as historiadores/as responsveis pelo fazer historiogrfico no presente. Ao contrrio do que costumeiramente se espera, no caso da escrita da histria, as fontes disponveis convivem com o cotidiano do historiador, com suas concepes tericas e metodolgicas e com seus olhares. Nessa perspectiva a histria no aquilo que passou, mas um emaranhado de experincias e registros do passado que foram entrelaadas no presente, por isso no cabe confundir a histria com suas fontes. No lugar das imagens que relacionam o passado com coisas velhas, lembramos que o passado tambm construdo pelo contexto e pelas perguntas do tempo em que vive o/a historiador/a.

    Assim, esperamos que este livro no seja visto como a histria dos cinquenta anos da UFSC, mas como uma coletnea de textos que trazem algumas das trajetrias que foram possveis, incompletas, pois outros/as historiadores/as podero no futuro construir, a partir de nossa pesquisa, outros caminhos dessa histria. Portanto, enfatizamos que a histria da UFSC ser sempre um territrio a ser explorado em sua cartografia histrica.

    Mergulhar na imensido desse territrio foi nosso maior desafio, ao mesmo tempo estimulados/as pela curiosidade e por nosso maior desejo que era escrever histrias da UFSC que nos fizessem pensar, rever nossas certezas e relativizar nossas verdades, propondo questes, expondo dvidas. Nosso objetivo central era no escrever uma histria laudatria, buscando evitar que a criao e consolidao da Universidade fossem reduzidas ao pioneira de indivduos, o que, infelizmente, insiste em figurar em obras desse tipo. Nesse sentido, informamos aos nossos/as leitores/as que no esperem deste livro uma histria construda de cima para baixo, bem arrumada, dando nfase a autoridades, polticos, personalidades, apresentando-os como sujeitos nicos da histria, transformando-os em heris. Buscamos, em todos os momentos, no escrever a histria dessa maneira, concentrando-se nos grandes feitos dos grandes homens, destinando s demais pessoas o papel de figurantes. Porque nesse tipo de histria privilegiam-se como fonte os registros oficiais produzidos pela Instituio e guardados em seus arquivos. Nega-se a utilizao de fontes histricas, como a histria oral, as fotografias e outras que possibilitem ao historiador uma viso menos centrada nas aes da Administrao Central da Instituio, e que na maioria das vezes acaba restringindo a histria da Instituio quelas pessoas que aparecem nessa documentao.

    Em nossa histria, procuramos dar destaque a outros sujeitos como capazes de faz-la. Entendemos que dessa maneira atuamos no sentido de tornar a histria mais prxima das pessoas, considerando a existncia daquelas ditas comuns e sua importncia para a construo da Instituio. Nosso maior desafio foi trazer cena os mais variados personagens, contextos sociais, polticos, econmicos e culturais. Dessa forma, o passado da UFSC deixa de ser marcado por imagens petrificadas, dando lugar a uma histria pulsante, vibrante, assinalada por tenses, contradies, conflitos, alianas, esperanas, utopias, opinies diversas, diferentes projetos polticos, interesses individuais e coletivos, de grupos organizados, de lutas, de atos de represso e de liberdade, apresentando vrios olhares sobre sua organizao, desenvolvimento e consolidao, evidenciando que a UFSC no foi resultado apenas da ao de seus lderes, mas o desdobramento do trabalho, do entusiasmo e do compromisso de mulheres e homens, dia a dia, em vrias geraes.

    8 Na definio do ttulo da obra foi importante o dilogo que realizamos, no incio do projeto de pesquisa, com o professor Slvio Marcus de Souza Correa, do Departamento de Histria da UFSC.

  • 14 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    Nessa perspectiva, a publicao comemorativa da passagem dos cinquenta anos da UFSC exerce a primazia de interpretar e apontar o foco para o processo de transformao das utopias coletivas e individuais, que a partir de faculdades isoladas redundaram na construo da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianpolis, em 1960. Nos 14 captulos da primeira parte do livro UFSC 50 anos: trajetrias e desafios, muitos aspectos mereceram destaque, como: as formas de ingresso na Instituio nas diferentes dcadas; a implantao da UFSC no campus da Trindade, um longo debate; o golpe e a Ditadura militar e as comisses de inqurito na UFSC; as diretrizes pedaggicas e as reformas universitrias; a criao do Centro de Estudos Bsicos (CEB) e o vestibular unificado; as contrataes de professores e tcnico-administrativos; as vivncias dos estudantes no cotidiano na UFSC; os movimentos reivindicatrios de professores, tcnico-administrativos e estudantes; a criao dos cursos de graduao e ps-graduao; a redemocratizao; as eleies; e vrios outros temas do cotidiano dessa Instituio.

    Esses captulos foram escritos pelos estagirios e pelas estagirias selecionados/as, com o objetivo inicialmente de realizar a pesquisa e organizar as fontes sobre a histria da UFSC. Porm, o rduo trabalho de pesquisa realizado, a iniciativa na superao das dificuldades encontradas, a responsabilidade e o entusiasmo demonstrado com a pesquisa em cada etapa de trabalho acabou por definir que estes/as seriam os/as autores/as dos captulos do livro a ser publicado em 2010. A oportunidade dada a esses jovens pesquisadores do Curso de Graduao em Histria , sem dvida, por si s, inovadora na produo de um livro comemorativo. A partir dessa deciso, iniciamos o trabalho de orientao para escrita dos textos. A luta contra o tempo, o inimigo durante todo o trabalho, impossibilitou o envio dos captulos, referentes aos centros de ensino, s equipes de apoio, ou a suas direes para uma leitura prvia. Por isso, assumimos toda a responsabilidade pelos textos produzidos.

    Assim, nos textos gerais, Icles Rodrigues escreve sobre a UFSC na dcada de 1960; Kennya Souza Santos, sobre a UFSC e o regime militar, o Centro de Estudos Bsicos e os movimentos estudantis; e Lara de Oliveira Beck, sobre a redemocratizao e a UFSC nos anos de 1980 e 1990. Os demais captulos so dedicados s trajetrias de cada Centro de Ensino da UFSC: Mayara Cristina Capistrano escreve sobre o Centro de Cincias Agrrias; Dayanne Schetz, sobre o Centro de Cincias Biolgicas; Renato Affonso SantAnna de S, sobre histrias e memrias do Centro de Comunicao e Expresso; Glauco de Sousa Backes, em torno de suas percepes acerca da histria do Centro de Cincias Jurdicas; Lidia Schneider Bristot narra histrias do Centro de Cincias da Sade; Ingrid Lima Kuerten entra no mundo dos esportes por meio das memrias e histria do Centro de Desportos; Rosangela da Silva Vasconcelos enfrenta os desafios e as conquistas cotidianas do Centro de Cincias da Educao; Douglas Felipe Abelino apresenta o lugar do Centro de Filosofia e Cincias Humanas na UFSC; Jlia Pedrollo Albertoni conta sua histria do Centro de Cincias Fsicas e Matemticas; Juan Filipi Garces e Rodrigo Prates de Andrade, as trajetrias do Centro Scio-Econmico; e Marcos Dalcastagne em sua escrita destaca a gnese da Engenharia em Santa Catarina.

    Cabe destacar, ainda, que, alm dos captulos elaborados pelos autores e autoras citados/as acima, recebemos um texto elaborado pela comisso de apoio produo deste livro, do Centro de Cincias da Sade, sobre suas ps- graduaes. Esse texto elaborado pelos professores Maria Itayra Padilha, Clo Nunes de Souza e Jos Tadeu Pinheiro foi includo no captulo referente a esse Centro de Ensino.

    Por fim, queremos registrar nossos agradecimentos ao doutorando do Programa de Ps-Graduao em Histria Cezar Karpinski, cuja parceria foi indispensvel na etapa final da elaborao dos textos. Suas sugestes e intervenes foram importantssimas para a organizao das referncias de acordo com as normas da ABNT, especialmente das fontes pouco utilizadas, como foi o caso dos boletins.

    Agradecemos tambm especialmente a Alita Diana Corra Kchler, pelo apoio e parceria no processo de elaborao deste livro; a Vicenzo Berti pelo projeto grfico; a Daniella Zatarian, pela editorao; e a Ana Lcia Pereira Amaral, por sua contribuio e disponibilidade na reviso ortogrfica deste livro, sob a presso do tempo. Comisso Executiva das Comemoraes dos 50 Anos da UFSC, especialmente a Clia Silveira Ramos

  • Trajetrias | Apresentao 15

    e Claudete Regina Ferreira; Reitoria, aos/s Diretores/as e aos membros das equipes de apoio pesquisa nos centros de ensino, um agradecimento especial pela confiana e pelo apoio dado ao longo do processo de pesquisa e redao da obra.

    Agradecemos diretora da Biblioteca Central da UFSC, Narcisa de Ftima Amboni, pelo espao cedido ao Projeto, carinhosamente apelidado pelos estudantes de quartel general (QG do Projeto do Livro UFSC 50 Anos), e a Joo Oscar do Esprito Santo, por todo o apoio na consulta ao acervo. equipe do Arquivo Central da UFSC e equipe da AGECOM que colaboraram na busca, na recuperao e digitalizao das fotografias utilizadas neste livro, tambm nosso muito obrigado!

    Finalmente os/as autores/as dirigem seus agradecimentos com especial admirao a todos/as aqueles/as que colaboraram com nosso trabalho, aos que se interessaram e especialmente aos que nos ajudaram com seus relatos. No decorrer dos captulos aparecem os nomes de todos/as os/as entrevistados/as que, com suas memrias, deram uma contribuio vital para nossa pesquisa. Vocs esto presentes neste livro e na nossa memria.

  • 17

    A UFSC na dcada de 1960: outras histrias...Icles Rodrigues1

    No dia 12 de maro de 1962, reuniram-se no Teatro lvaro de Carvalho o governador do estado de Santa Catarina, o arcebispo metropolitano, o presidente do Tribunal de Justia, entre outras ilustres personalidades, para a solenidade de instalao da Universidade de Santa Catarina (USC).2 Nesse ato solene, Joo David Ferreira Lima, ento reitor da Instituio, discursou sobre a desvanecedora e difcil incumbncia de coordenar a criao da Universidade Federal 3 no estado de Santa Catarina, destacando, principalmente, o papel social das universidades. Nas entrelinhas de tal discurso, pode-se coletar as nuances de uma poca com falta de mo de obra especializada nas reas tcnicas discusso que at nossos dias mantm-se em pauta dentro e fora do meio acadmico e a consequente imposio de maior objetivismo didtico na universidade moderna.4 Em trechos de seu discurso, Ferreira Lima exalta o papel de prestgio que merece o professor. E nesse ponto, o pensamento como produto de uma poca aparece de forma evidente, quando o reitor afirma:

    Se na rea do Ocidente, os Estados Unidos e a Europa cercam os mestres universitrios de prestgio, de amplos instrumentos de trabalho, de indagao e de pesquisas; de compensadora assistncia material, no fortalecimento do conceito das prerrogativas democrticas pela aptido profissional; pela gradual elevao das massas obreiras conscincia integral na participao direta dos sagrados bens da vida; pelo desdobramento da socializao autntica, sob a gide da Democracia, longe da qual jamais haver salvao, a Unio Sovitica, a seu turno, mesmo sob a humilhante, arrazadora5 e total interveno do Estado no processo da Cultura, situa sses mestres em atmosfera de prestgio, deferindo-lhes as maiores honrarias, no quadro de um regime odioso e brutal, para que atenuem, mais eficientemente, fras econmicas e poderio blico subterrneo, na conquista, pelas armas e pela ameaa, de novas dimenses sociais.6

    Entendemos que a Universidade um agente direto da sociedade e, como no podia deixar de ser, a reflete. No discurso supracitado de Ferreira Lima, fica claro o posicionamento ocidental no contexto da Guerra Fria, onde a democracia era vista como princpio fundamental e indispensvel para o bem-estar e o sucesso de uma sociedade, enquanto o comunismo sovitico era tido como caminho sem volta perdio.

    Figura 1. Solenidade de criao da UFSC. Fonte: Agecom (1960)

    1 Estagirio do Projeto do Livro UFSC 50 Anos. Acadmico do Curso de Graduao em Histria da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a orientao Prof Roselane Neckel do Departamento de Histria da UFSC.2 Os nomes da maioria das autoridades no constam na fonte.3 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.1, n.1, 1962, p.7.4 Boletim Informativo. Florianpolis, v.1, n.1, 1962, p.15.5 Neste artigo, optamos por manter a ortografia original dos documentos impressos.6 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.1, n.1, 1962, p.15.

  • 18 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    Para que a Universidade se tornasse uma realidade, no entanto, muitos tiveram que trabalhar ferrenhamente. Em diversos depoimentos colhidos durante as pesquisas para esta obra, ficou ntido o orgulho daqueles que, nos primrdios da USC nascida como universidade federal, mas chamada de UFSC oficialmente apenas aps a Lei n 4.759, de 20 de agosto de 19657 , trabalharam nas madrugadas e nos finais de semana em busca de um ideal comum. No podia ser outra coisa seno a busca de um ideal que fazia com que funcionrios e professores com exceo da Faculdade de Direito, possuidora de uma maior autonomia trabalhassem durante todo o ano de 1961 sem receber seus salrios, o que aconteceu apenas no fim do ano, aps liberao de verba pelo Governo Federal; um compromisso idealista que foi reforado nos depoimentos de diversos entrevistados. Desde nomes que ajudaram a iniciar a Universidade, como Teodoro Rogrio Vahl e Aluizio Blasi, at funcionrios, ex-alunos e professores, que passaram pela Instituio no decorrer de sua existncia muitos at hoje atuando , o orgulho por fazer parte desta histria transpareceu em diversas entrevistas realizadas. Desde os mais altos cargos de chefia at os funcionrios tcnico-administrativos, desde os alunos at os funcionrios mais annimos, a UFSC uma obra do trabalho de muitas pessoas. Destacando esse carter de agente ativo e, ao mesmo tempo, reflexo da sociedade, remetemo-nos ao incio da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Uma cidade universitriaSancionada pelo ento presidente da Repblica Juscelino Kubitschek de Oliveira, em

    18 de dezembro de 1960, a Lei n 3.849 federalizava a Universidade do Rio Grande do Norte e criava a Universidade Federal de Santa Catarina.8 Entre os artigos desta lei, constava o Art. 3, que afirmava que as duas universidades teriam personalidade jurdica e gozariam de autonomia didtica, financeira, administrativa e disciplinar, na forma de lei.9 Contudo, antes de vigorar a referida lei, existiam na Ilha algumas instituies de Ensino Superior, tais como: a Faculdade de Direito (1932, localizada na Rua Esteves Jnior, 11); Faculdade de Cincias Econmicas (1943, localizada na Avenida Herclio Luz, 47); Odontologia (1946, localizada na Rua Esteves Jnior, 93); Farmcia e Bioqumica (1946, localizada na Rua Esteves Jnior, 1); Filosofia (1952, localizada na Trindade); Medicina (1957, localizada na Rua Ferreira Lima); e Servio Social (1958, localizada na Rua Victor Konder, 53).10

    No entanto, ao ser constituda como Universidade Federal de Santa Catarina, a UFSC contou com as seguintes faculdades: Direito, Farmcia e Odontologia (posteriormente separadas), Filosofia, Medicina, Engenharia e Servio Social na qualidade de agregada.11 Segundo Ferreira Lima em seu livro UFSC: sonho e realidade,12 a Faculdade de Engenharia sequer existia, mas fora escrita na mensagem determinada pelo despacho presidencial visando criao da Universidade. O pedido pela Faculdade de Engenharia foi inserido nessa mensagem de ltima hora, por insistncia do primeiro reitor. Em entrevistas, levantamos a informao de que, para a criao de uma universidade, era obrigatria a presena das faculdades de Direito, Filosofia e Engenharia,13 o que explica a insero de uma faculdade at ento inexistente. A Faculdade de Agricultura foi solicitada, mas o pedido fora negado.14

    Antes disso, porm, houve intensos debates sobre a localizao da futura Universidade. Os professores Joo David Ferreira Lima e Henrique da Silva Fontes apresentaram no decorrer das discusses sobre o assunto diferentes propostas. Fontes idealizava uma cidade universitria no ento subdistrito da Trindade mais precisamente na Fazenda Assis Brasil , enquanto Ferreira Lima mostrou-se contrrio, sendo, porm, derrotado no Conselho Universitrio.15

    A suposta inviabilidade da instalao da futura Universidade na Trindade foi corroborada pelo parecer de uma equipe de arquitetos e urbanistas, oriundos de Porto Alegre, que se posicionaram a favor da Instituio prxima ao centro de Florianpolis, quando elaboraram o Plano Diretor de Florianpolis de 1952, com a finalidade de manter sua conexo ntima com a paisagem martima.16 Segundo eles, a realidade brasileira inviabilizava uma cidade universitria nos moldes das europeias, pois estas trabalhavam com o pressuposto de que seus estudantes teriam recursos para se sustentarem sem a

    7 CUNHA, Luiz Antnio. A universidade reformanda. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1988, p.85-86.8 O projeto da referida Lei foi aprovado no dia 10 de dezembro do mesmo ano.9 BRASIL. Lei n 3.849, de 18 de dezembro de 1960. Federaliza a Universidade do Rio Grande do Norte, cria a Universidade de Santa Catarina e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio. Braslia-DF, 21 Dez. 1960, p.16.173. Disponvel em: . Acesso em: 23 ago. 2010. Esta lei tambm pode ser encontrada nos Boletins de 1962 e 1976, neste ltimo como anexo.10 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.1, n.1, 1962, p.104.11 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia de uma Uni-versidade: a Universidade Federal de Santa Catarina (1962-1980). 269 f. Tese (Doutorado em Educao) Universidade de So Paulo, So Paulo, 2000, p.52.12 LIMA, Joo David Ferreira. UFSC: sonho e realidade. 2. ed. Florianpolis: UFSC, 2000.13 BRASIL. Decreto-lei n 19.851, de 11 de abril de 1931: Dispe que, o ensino superior no Brasil obedecer, de preferncia, ao sistema universitrio, podendo ainda ser ministrado em institutos isolados, e que a organizao tcnica e administrativa das universidades instituda no presente decreto, regendo-se os institutos isolados pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos do seguinte Estatuto das Universidades Brasileiras. Dirio Oficial da Unio, Braslia-DF, 11 Abr de 1931. Disponvel em: . Acesso em: 29 ago. 2010.14 LIMA, Joo David Ferreira. UFSC: sonho e realidade... op.cit., p.74.15 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia de uma Uni-versidade... op.cit., p.51.16 Idem, p.56.

  • Trajetrias | A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... 19

    necessidade de um trabalho. Defendiam a ideia de que era invivel o uso do subdistrito da Trindade para a implantao da Universidade, pois havia uma significativa distncia entre o local e o centro da cidade; mais ainda, afirmavam que Florianpolis crescia em direo ao continente, e que a construo do porto (prevista no plano) aceleraria esse processo, pois entre o centro e a Trindade havia um macio montanhoso separador, que era o Morro da Cruz. Os arquitetos afirmavam que o crescimento em direo Trindade no tinha nenhuma base real, nenhuma possibilidade histrica de efetivao.17 As terras, na poca, eram terras de uso comunal pelos poucos habitantes das cercanias. O professsor Nazareno Jos de Campos em sua entrevista lembrou que no incio da Universidade os moradores da regio cortavam as cercas colocadas para a demarcao da rea reservada Instituio para colocar seu gado para pastar. A situao permaneceu durante algum tempo, haja vista certa resistncia dos moradores em aceitar a nova realidade do local.18

    Apesar do parecer completamente desfavorvel por parte da equipe de arquitetos, o governo do estado era favorvel construo do campus na Trindade, tanto que cerca de dois anos depois desse mesmo parecer, em 26 de novembro de 1954, com a Lei n 1.170, o governador do estado reservava as terras solicitadas por Henrique Fontes para a instalao da Universidade, na Trindade. Essa insistncia de Fontes se apoiava no parecer de Ernesto de Souza Campos, ex-ministro da Educao, que, em 1953, visitou o local da futura Universidade, dando um parecer favorvel s terras do subdistrito.19 Segundo as lembranas de Nereu do Vale Pereira,20 um nmero considervel de pessoas cogitou a possibilidade de Henrique da Silva Fontes ser eleito o primeiro reitor da Universidade de Santa Catarina; no entanto, por conta de sua idade avanada, a ideia foi rediscutida. Em 16 de setembro de 1961, Joo David Ferreira Lima ento nomeado primeiro reitor da Universidade.21

    As discusses acerca da localizao do campus eram dificultadas por conta das construes j existentes. Uma tera parte dos blocos destinados para a Faculdade de Filosofia, construdos com recursos do estado, havia sido inaugurada no dia 30 de janeiro de 1961, sendo a Faculdade instalada no local em 16 de fevereiro. O prdio foi construdo com verbas oriundas do governo estadual, pois Henrique da Silva Fontes ligado a UDN, uma das duas agremiaes polticas de destaque em Santa Catarina idealizou, de incio, uma universidade estadual. Posteriormente, as discusses acerca da inviabilidade de o governo estadual suprir os gastos relativos construo da Universidade fizeram com que a escolha por uma instituio federal fosse a mais efetiva. Ferreira Lima ligado ao PSD lutou por essa federalizao, tendo como experincia bem-sucedida a Faculdade de Direito, j federalizada anteriormente.

    Figura 2. Fazenda Assis Brasil. Fonte: Agecom [s/ data]

    17 GRAEFF, Edgar; PAIVA, Edvaldo; RIBEIRO, Demtrio. Florianpolis: plano diretor. Porto Alegre: Imprensa Oficial do Rio Grande do Sul, 1952. In: SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia de uma Universidade... op.cit., p.57. FONTES, Henrique da Silva. Pensamentos, palavras e obras. Florianpolis: Edio do Autor, 1962, p.59.18 Nazareno Jos de Campos. Entrevista concedida a Icles Rodrigues e Douglas Felipe Abelino. Florianpolis, 22 jul. 2010.19 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia de uma Universidade... op.cit., p.61.20 Nereu do Vale Pereira. Entrevista concedida a Roselane Neckel, Icles Rodrigues e Douglas Felipe Abelino. Florianpolis, 05 ago. 2010. 21 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.1, n.1, 1962, p.32-33.

  • 20 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    Figura 3. Foto dos primeiros trabalhadores da UFSC. Fonte: Agecom (1962). Nota: Na foto esto presentes, da esquerda para direita: Hermes Jos Greipel (motorista), Adair Scharf (chefe de compras), Joso Fortkamp (diretor de material), Ari Ramos Castro (tesoureiro), Antnio Nicol Grillo (diretor de pessoal), Antonio Miroski (diretor de finanas). Zolio Hugo Valente (escriturio), Joo Jos Caldeira Bastos (chefe de legislao de pessoal), Emanoel Campos (chefe de gabinete do Reitor), Luiz Osvaldo dAcmpora (vice-Reitor), Joo David Ferreira Lima (Reitor), Aluizio Blasi (secretrio geral), Hely Porto (escrituria), Teodoro Rogrio Vahl (diretor da Imprensa Universitria), Jos Fernandes Neves Jnior (diretor de servios gerais), Aldo Nascimento (motorista do Reitor), Aldo Arnoldo Meira (auxiliar da secretaria geral), Manoel Roldo da Rosa (almoxarife) e Vivaldi Garofallis (diretor de contabilidade). Identificao efetuada por Aluizio Blasi em 11 maio 2010, Teodoro Rogrio Vahl, em 17 jun 2010 e Alcmelia Maria Cardoso, em jul de 2010, a pedido de Claudete Regina Ferreira.

    No ano seguinte, as discusses relativas localizao da Universidade continuaram com fora total. Cerca de dois meses antes da sua instalao solene, em 26 de janeiro de 1962, Ferreira Lima colocou em discusso a compra de um prdio para a Reitoria. Inicialmente, o reitor solicitou ao diretor da Faculdade de Direito a cesso do Salo Nobre ou outra dependncia qualquer para instalar provisoriamente a Reitoria. Com a necessidade de um local permanente, aventou-se a hiptese de se alugar um andar do prdio Sul Amrica, que havia sido adquirido pelo estado. Novamente, um revs: o andar seria utilizado pelo Banco de Desenvolvimento do Estado e Secretaria de Estado.

    Foi ento que Ferreira Lima recebeu a informao de que a Famlia Molenda estava interessada em se desfazer da residncia que possua, localizada na Rua Bocaiva, 60, centro de Florianpolis. O valor inicial da casa e do terreno era de Cr$ 41.000,00, reduzindo posteriormente para Cr$ 31.000,00. Ao visitar o imvel, o reitor fez a proposta de Cr$ 25.000,00 por toda a propriedade, o que foi aprovado pelo Conselho Universitrio,22 tendo sido instalada no local, ento, a Reitoria.

    Em maio do mesmo ano, Ferreira Lima correspondeu-se com as faculdades componentes da Universidade, solicitando pronunciamento sobre a questo da localizao do campus. As discusses se arrastaram por meses, havendo pela primeira vez um grande movimento de estudantes universitrios em Santa Catarina, os liderados pela Federao dos Estudantes da Universidade de Santa Catarina FEUSC, que, em suas manifestaes, mostraram-se favorveis sua instalao na Trindade.

    O Jornal O Estado, em 26 de outubro de 1962, na pgina 2, publicou uma matria sobre o movimento dos estudantes no centro de Florianpolis, criticando seus supostos exageros. Segundo o Jornal que dois dias depois publicava outra matria, pontuando as reivindicaes destes , os estudantes atacavam rude e impiedosamente o reitor, responsabilizando-o pela paralisao das obras da Cidade Universitria.23 Como resposta, o estudante Rogrio Duarte de Queiroz, diretor geral do jornal da FEUSC, envia uma nota para o jornal O Estado, que fora publicada no dia 10 de novembro, afirmando que os ataques no eram dirigidos figura do reitor, mas sim aos seus atos administrativos.24 A luta dos estudantes ganhou ainda mais fora quando os acadmicos de Direito, contrariando a opinio do presidente do Centro Acadmico da Faculdade de Direito, lanaram manifesto favorvel construo da cidade universitria na Trindade, sendo publicado em 23 de novembro de 1962. No manifesto, eles pontuavam a urgncia da obra, sua viabilidade e o apoio irrestrito construo da cidade universitria no ento

    22 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia de uma Universidade... op.cit., p.82-83.23 Idem.24 Ibidem, p.84.

  • Trajetrias | A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... 21

    subdistrito da Trindade. No fim do manifesto, os estudantes colocam esta luta como passo decisivo para a efetivao da Reforma Universitria.25

    No dia 27 de novembro, em sesso do Conselho Universitrio, o reitor fez um longo discurso ao proferir seu voto, discorrendo sobre os motivos que, segundo sua opinio, impediam a construo de uma cidade universitria na Trindade medida que classificou como erro. Segundo seus argumentos, a realidade universitria brasileira no permitia a realizao de tal empreendimento, tanto que nem mesmo a Unio conseguira realizar, por questes financeiras. Ferreira Lima afirmou: Isso no tem sentido. E o dizemos com a sinceridade e boa f que caracterizam os nossos atos e aes.26 So pontuadas algumas questes, em defesa da instalao da Universidade no centro da capital: curtas distncias entre os prdios, que possibilitaria a ida a p de um ponto a outro; terreno alagadio da Trindade, que encareceria a construo dos prdios; falta de verba para a manuteno da cidade universitria que, segundo o projeto inicial, contaria com residncia para estudantes e professores, lavanderias, restaurante universitrio, etc. ; dificuldades de transporte dos alunos at o local, tendo em vista as condies de transporte da cidade, entre outros. Os prdios j existentes na Trindade, segundo a proposta, seriam utilizados para Institutos de Pesquisa. As faculdades j existentes permaneceriam nos mesmos prdios, enquanto as novas escolas seriam construdas no terreno da Reitoria, na Rua Bocaiva, formando assim um Centro Universitrio.27 Mais adiante, sugeriu:

    Ali estariam os prdios das Faculdades, a Biblioteca Central, laboratrios, restaurante, auditrio para festas e colaes de grau, servindo tambm para projees de carter cientfico e cultural, e ainda, noite, funcionaria como cinema do bairro, dando receita Universidade. Neste Centro, haveria, claro, uma casa dos estudantes, destinada apenas aos estudantes pobres e que no tem famlia residente em Florianpolis.28

    Para finalizar, o reitor apontou a possibilidade de veto do projeto, mas afirmou que no o faria, pois no daria margem para que se pensasse tratar-se de teimosia e imposio de opinio pessoal.29

    No dia 28 de novembro de 1962, o jornal O Estado publica a deciso do Conselho Universitrio de criar um Conjunto Universitrio na Trindade. A ideia de Cidade Universitria foi alterada, mas permaneceu o local. No entanto, as faculdades se mantiveram no centro da capital. No atual campus, existiam o prdio de Filosofia, Cincias e Letras (que abrigava a Biblioteca da universidade na poca), casas prximas usadas como primeiras salas de aula do Colgio de Aplicao e as obras iniciais do que viriam a ser a atual Reitoria e os prdios das Engenharias (que funcionavam em casas de madeira localizadas no terreno da Reitoria, na Rua Bocaiva apelidadas de Casa do Tarzan pelos estudantes, por serem de madeira e por se localizarem em rea vastamente arborizada). As demais faculdades mantiveram-se nos mesmos lugares. A mudana foi gradativa, tendo em vista que as obras na Trindade ocorriam lentamente, pois os alagamentos tambm dificultavam as suas realizaes.

    Figura 4. Placa fixada no busto de Henrique Fontes. Fonte: Cavalheiro (2010)

    25 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia de uma Universidade... op.cit., p.85.26 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.1, n.1, 1962, p.101.27 Ibidem, p.99-102.28 Ibidem, p.103.29 Ibidem, p.104.

  • 22 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    Sobre esse momento, Luiz Fernando Scheibe30 e Nereu do Vale Pereira31 lembram que em alguns casos, em dias de chuva, os alunos chegavam Faculdade com seus sapatos nas mos, fazendo uso de uma torneira para lavarem os ps, e s aps isso ento colocarem os calados para assistir s aulas. Apenas com a Reforma Universitria as faculdades passaram a, efetivamente, planejar a mudana para localizarem-se no atual campus, que s contou com a presena de todas as faculdades na dcada de 1970.

    Durante a pesquisa para a confeco deste livro, em entrevistas efetuadas com professores, tcnico-administrativos, entre outros, o que ficou claro a sustentao de um mito fundador. Alguns dos entrevistados deixaram claro em suas falas que a localizao atual da Universidade Federal de Santa Catarina fora uma brilhante ideia do homem que a idealizou, Joo David Ferreira Lima. Contudo, a anlise documental mostra que ele foi ferrenhamente contra a ideia, hoje vista como frente de seu tempo, sendo Henrique da Silva Fontes o idealizador do atual campus situado na Trindade. Mesmo no fim da dcada de 1960, quando novamente se discutiu a sua localizao, Ferreira Lima desempatou a votao do Conselho Universitrio em favor do campus na Trindade, mas por presso dos alunos. Segundo palavras de Nereu do Vale Pereira, o primeiro reitor viu-se impossibilitado de negar a mudana, por ter sido uma luta encampada ferrenhamente pelos estudantes.32

    Entretanto, o acordo MEC/USAID e a Reforma Universitria, no final da dcada de 1960, inspirada na estrutura utilizada nos Estados Unidos, impossibilitava que os alunos se deslocassem a grandes distncias no centro da cidade em busca de crditos em disciplinas distintas, oferecidas em prdios diferentes que se situavam distantes uns dos outros. Logo, a unio dessas Faculdades em centros localizados no campus permitia que esse sistema fosse levado a cabo.

    Apesar de tudo, no devemos nos prender a maniquesmos e efetuarmos julgamentos precipitados. Creditar Henrique da Silva Fontes como idealizador do campus na Trindade, tendo Ferreira Lima como opositor, de forma alguma anularia todos os esforos do primeiro reitor da Universidade em v-la tornar-se realidade. H, no entanto, a necessidade de se fazer um registro histrico dos esforos de Henrique da Silva Fontes, que iniciou com empenho o trabalho que futuramente traria frutos, gerando a Universidade, projeto do qual tantas pessoas se orgulham de ter trabalhado para realizar, idealizada por ele anos antes. Como atesta o discurso abaixo, proferido por Fontes em 8 de fevereiro de 1961, em sesso da Congregao da Faculdade de Filosofia:

    H trs anos, recordei conceitos que havia expressado dezesseis anos antes, ao ser empossado no cargo de diretor da Faculdade de Direito, quando, depois de apontar as excelncias da nossa Capital para centro universitrio, conclu: Sempre pensei, por isso, em termos aqui, junto Faculdade, a Casa do Estudante, e imagino tambm o nosso quarteiro universitrio e a Universidade de Santa Catarina, da qual esta Faculdade a primeira pedra.33

    E continua: E afirmei: No estou a devanear meus Senhores. Estou to somente a raciocinar ousadamente talvez, mas dentro das premissas que so os resultados at aqui conseguidos. Isto disse eu em 1942, no dia 11 de agosto.34

    Os motivos dos debates intensos sobre a localizao da Universidade so justificados por ambas as partes, geralmente dizem respeito aos alunos, professores e tcnico-administrativos. Como visto anteriormente, Ferreira Lima pontuava a facilidade de locomoo e os altos custos das obras na Trindade. J Henrique da Silva Fontes argumentava sobre a possibilidade de expanso futura, por conta do vasto terreno. No entanto, temos que colocar em pauta nessa discusso um fator importante, mais definitivo para a definio da localizao da Universidade, talvez, do que as posies dos dois professores: a especulao imobiliria no municpio de Florianpolis e os interesses econmicos das oligarquias polticas da cidade e do estado. Segundo Maria Ins Sugai:

    Estas disputas refletiam os embates polticos e as divergncias de interesses existentes entre as elites locais, representadas, depois de 1945, pelas duas maiores agremiaes partidrias: o PSD e a UDN. Nestes partidos aglutinavam-se os interesses das duas oligarquias regionais, que tiveram uma maior estruturao aps o movimento de 30 e eram constitudas por trs famlias: a famlia Ramos (PSD) e as famlias Konder e Bornhausen (UDN).35

    30 Luiz Fernando Scheibe. Entrevista concedida a Icles Rodrigues e Douglas Felipe Abelino. Florianpolis, 22 jul. 2010.31 Nereu do Vale Pereira. Entrevista citada.32 Idem.33 FONTES, Henrique da Silva. Pensamentos Palavras e Obras: segundo Caderno: Da Cidade Universitria. Florianpolis: [Edio do Autor], 1960, p.35.34 Idem.35 FONTES, Henrique da Silva. Pensamentos Palavras e Obras... op.cit., p.74.

  • Trajetrias | A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... 23

    Figura 5. Bustos de Joo David Ferreira Lima (esq.) e Henrique da Silva Fontes (dir.). Fonte: Brasil & Cavalheiro (2010)

    A parte norte do centro da capital era tomada por um grande nmero de chcaras que, desde o final do sculo XIX, configuravam-se em grandes lacunas nesse espao norte da pennsula. Essa regio era gradativamente ocupada por populaes de alta renda; algumas chcaras, no entanto, permaneciam intactas, esperando maior valorizao fundiria.36 O fato de a ponte Herclio Luz ser a nica ligao viria entre o continente e a Ilha fez com que as reas prximas a ela valorizassem e concentrassem as reas comerciais, incentivando que as camadas de mais alta renda continuassem a residir prximo ao centro, na rea norte da pennsula central.37 Essa dinmica de ocupao urbana de Florianpolis, segundo Maria Ins Sugai, obedeceu, principalmente, aos interesses dos setores sociais mais influentes, muitos vinculados ao capital imobilirio, que mantiveram a ocupao da pennsula pelas elites, apesar das dificuldades de acesso das reas norte ponte.38

    Nesse contexto que surge o plano diretor anteriormente citado, que pontua o projeto de criao do campus da Trindade como um erro. O plano absorveu muitas das aspiraes que surgiam, principalmente da classe dominante, ao mesmo tempo que direcionou os primeiros passos para a sua efetivao.39 A afirmao de inviabilidade do projeto atesta o bvio: a existncia do projeto. Segundo Sugai, havia o empenho de setores das elites locais na implantao do futuro campus universitrio na rea da Fazenda Estadual Assis Brasil, antigas terras comunais da Trindade, proposio que tinha total discordncia dos autores do Plano.40 No mesmo trecho Sugai afirma que o interesse na ocupao da regio a leste do Morro da Cruz vinha desde o incio da dcada de 1950. Eis que as duas principais propostas sobre a localizao da futura Universidade confluem com interesses imobilirios da poca.

    Caso a Universidade se localizasse no centro da cidade, nos arredores da Reitoria, na Rua Bocaiva, constituir-se-ia um centro universitrio rodeado de terrenos e imveis como, por exemplo, as penses para estudantes, j existentes por conta das faculdades instaladas no centro e valorizar-se-iam as residncias e terrenos de um grupo de pessoas que certamente lucrariam consideravelmente com as mudanas no panorama imobilirio do local. Essa regio norte da pennsula central possua, como vimos, um grande nmero de chcaras e terrenos oriundos do desmembramento de chcaras mais antigas. Alm das residncias de pessoas mais abastadas, essa regio possua uma concentrao de hospitais, entre eles o Hospital Nereu Ramos (1943), Maternidade Carmela Dutra (1955) e Casa de Sade So Sebastio (1941). Apenas o Hospital de Caridade (sc. XVIII) e o Hospital Militar (sc. XIX) se situavam mais afastados dessa rea, estando localizados prximo baa sul, alm da Maternidade Dr. Joo Carlos Correa, que estava em uma rea intermediria.41

    36 SUGAI, Maria Ins. As intervenes virias e as transformaes do espao urbano. A via de contorno norte-ilha. 232 f. Dissertao (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Universidade de So Paulo, So Paulo, 1994, p.55.37 Ibidem, p.56-57.38 Ibid., p.58.39 Ibidem, p.61.40 Ibidem, p.67.41 SUGAI, Maria Ins. As intervenes virias e as transformaes do espao urbano... op.cit., p.69.

  • 24 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    J a Universidade instalada na Trindade valorizaria os loteamentos aprovados j na dcada de 1940 (incluindo os loteamentos clandestinos).42A instalao da Universidade no local representava a possibilidade de mudanas na economia e na dinmica imobiliria da capital.43 Era esperado que fossem escoados para Florianpolis e, em especial, para a rea da cidade universitria, macios investimentos federais, j que estava acordado que ela seria federal, e no estadual.44

    Maria Ins Sugai afirma ainda:

    Toda polmica envolveu os setores mais influentes da cidade, muitos dos quais enviaram ao Conselho Universitrio telegramas de congratulaes e cumprimentos to logo souberam da deliberao, entre eles, o ento Presidente da Cmara Municipal de Florianpolis. Sabia-se que a implantao do campus universitrio na Trindade iria interferir, a mdio prazo, e dependendo dos investimentos urbanos efetuados pelo Estado, na expanso e na estruturao urbana de Florianpolis. Representava, sem dvida nenhuma, uma imensa frente de expanso e investimentos para o capital imobilirio.45

    Interessados em novas frentes para o capital imobilirio, alguns membros das elites queriam, com essa ocupao imobiliria iminente, evitar intervenes que viessem a desvalorizar a regio, como aquelas efetuadas ali em dcadas anteriores (cemitrio, penitenciria, aterro sanitrio, etc.).46

    Portanto, os debates acalorados no meio universitrio, mesmo que porventura involuntariamente por parte de alguns, representavam a defesa de diferentes interesses econmicos em relao aos projetos de especulao imobiliria na capital e de aplicao dos investimentos urbanos de Florianpolis, influenciando diretamente na produo do espao urbano de Florianpolis.47 Esses interesses aparecem tambm nos embates polticos em torno dos planos diretores da cidade de Florianpolis na dcada de 1950 e nos anos de 1970.

    Apresentamos, ento, trs perspectivas: l) a das memrias de Joo David Ferreira Lima, que afirma em seu livro UFSC: sonho e realidade que seu prprio contedo serviria para que futuros historiadores tivessem um relato do incio da Universidade vivido por algum que participou do processo e, assim, no fossem cometidos equvocos ao se deparar com inverdades;48 2) a perspectiva da luta de Henrique da Silva Fontes, que participou ativamente da criao da Universidade e conseguiu que seus anseios de lev-la para o ento subdistrito da Trindade se tornassem realidade, demonstrando uma sensibilidade notvel, ao pensar na questo territorial visando a um futuro ainda distante, onde a expanso seria inevitvel; 3) a perspectiva da especulao imobiliria em Florianpolis, do ponto de vista da urbanizao da capital e dos interesses de fraes de grupos abastados proprietrios de terras e imveis. No temos por inteno apresentar uma verdade: nosso objetivo mostrar as mais diversas perspectivas e com as quais nos deparamos na construo dessa obra, deixando para o leitor a tarefa de escolher qual a verdadeira histria. Mais do que uma narrativa, esta obra a tentativa de trazer cena as relaes de poder, os conflitos polticos, o idealismo e outros aspectos que constituram a Universidade Federal de Santa Catarina, deixando de lado os adjetivos como visionrios, idealistas, heris ou viles e dando lugar a sujeitos sociais e ao contexto poltico, econmico, social em que constituram suas experincias de vida.

    Os estudantes errneo pensar que em seus anos iniciais, a Universidade Federal de Santa Catarina

    foi construda apenas pelo esforo de nomes ilustres. Os estudantes foram agentes determinantes em diversas ocasies, no apenas nas manifestaes citadas anteriormente pela instalao da Universidade na Trindade, mas em outras ocasies, algumas de vital im-portncia. Os movimentos estudantis tm sua parte nessa histria desde os primrdios.

    Desde a dcada de 1940, os estudantes florianopolitanos mostraram-se ativos, quando, por exemplo, em 1948, apoiados pelos professores, iniciaram uma organizao em prol da Casa do Estudante. Uma iniciativa ainda com pouca densidade, mas que ecoaria futuramente.49 Em 1949, foi criada a Unio Catarinense de Estudantes (UCE), que pontuaria a presena deles em diversos movimentos. Poucos anos depois, fariam do extinto Clube Germnia localizado na Rua lvaro de Carvalho, n 88-A sua sede.50

    42 Ibidem, p.88.43 Ibidem, p.76.44 Idem.45 Ibidem, p.79.46 Ibidem, p.90.47 Ibidem, p.88.48 LIMA, Joo David Ferreira. UFSC: sonho e realidade. 2.ed. Florianpolis: UFSC, 2000, p.27.49 MORETTI, Serenito A. Movimento estudantil em Santa Catarina. Florianpolis: [s/e], 1984, p.47-48.50 Ibidem, p.95.

  • Trajetrias | A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... 25

    Figura 6. Manifestao dos estudantes sobre a moradia estudantil. Fonte: Agecom (c.a. 1960)

    Em 1953, a Assembleia Legislativa do Estado declara a UCE como uma entidade de utilidade pblica. Posteriormente, a Cmara Municipal forneceu aos estudantes o Bar Miramar, localizado no ento denominado Trapiche Miramar, para a instalao do Restaurante Universitrio, e doou um terreno com a finalidade de se construir a Casa do Estudante. Aps uma campanha, os estudantes conseguiram inaugurar a Casa Provisria do Estudante Catarinense em 1956, contando com 15 vagas e administrada pelos prprios estudantes.51

    Em 1960, a gesto da UCE foi liderada por Domingos Augusto Gaio. Nesse perodo, iniciou-se a construo do Restaurante Universitrio, concludo em 1961, e tambm administrado pelos estudantes. Vemos em deliberaes do Conselho Universitrio do ano de 1963, por exemplo, questes acerca de adiantamentos provenientes do fundo patrimonial para a obteno de alimentos para o restaurante, solicitados pela UCE. No obstante, a UCE trabalhou atrelada com demandas populares, entre elas a instalao de um curso noturno de alfabetizao e a campanha contra o aumento de 30% das tarifas dos transportes coletivos urbanos.52 Neste ponto, fica claro que a luta dos estudantes em questes sociais se mostra muito mais antiga do que as lutas que presenciamos em nosso cotidiano, muitas vezes pelos mesmos motivos de outrora.

    Outra questo estudantil que desde o incio foi intensamente debatida foi a da Casa do Estudante. Em 1964, pelo insistente apelo dos estudantes, a Reitoria firmou um contrato provisrio com Mario Hotel, firmando ali a Casa do Estudante Universitrio, que contava inicialmente com alojamento para quarenta estudantes. L seriam servidos cafs da manh, conforme contrato firmado entre a Reitoria e a firma A. Rosa & Cia. Ltda, proprietria do estabelecimento em questo.53

    Futuramente estas questes implicariam protestos e intensas discusses. Na Ata da 106 Sesso Extraordinria do Conselho Universitrio, em 24 de maio de 1968, Ferreira Lima traou um histrico sobre a questo da moradia estudantil.54 Nesse documento, o reitor afirma que posteriormente locao dos estudantes no Mario Hotel, contratou-se uma residncia localizada na Rua Bocaiva para 24 moas, por elas nomeada Paraso. Mais adiante, sem saber precisar o ano exato se 1965 ou 1966, o reitor afirmou que foi procurado por um grupo de moas que fez o vestibular, mas, por serem de outras localidades do estado, no poderiam ingressar na Universidade se no encontrassem moradia. Ficou acordado, posteriormente, que as moas seriam instaladas em alas construdas nos terrenos adjacentes ao Paraso. O contrato fora firmado, mas era necessrio se precaver para uma prxima demanda estudantil por moradias.

    51 Idem.52 MORETTI, Serenito A. Movimento estudantil em Santa Catarina... op.cit., p.96.53 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.3, n.4, 1964, p.31.54 Para o trecho da ata na ntegra, cf. SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia De Uma Universidade... op.cit., p.124-126.

  • 26 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    Figura 7. Acadmicas na manifestao sobre a moradia estudantil. Fonte: Agecom (ca. 1960)

    Novas residncias foram adquiridas para moas e rapazes (LUSC, residncia na Rua Alan Kardec, onde estudantes haviam sido alojadas quando o contrato com Jos Carlos Daux foi assinado, e Planalto, localizada na Rua Almirante Lamego, com o mesmo fim), sendo a despesa por estudante de NCr$ 30,00 mensais. Problemas relativos falta de vagas motivaram os estudantes a fazer reivindicaes ao Conselho Universitrio. As duas proposies foram a diminuio da taxa mensal de NCr$ 30,00 e a resciso do contrato. Posteriormente, houve a proposta de reduo desse valor para NCr$ 20,00, mas o presidente do DCE no aceitou, tendo sido reivindicado ento NCr$ 10,00. O reitor respondeu afirmando que o valor era baixo demais, e que a questo da resciso deveria ser debatida no Conselho Universitrio, no s pelas implicaes jurdicas envolvidas, mas tambm pelo fato de que, ao pedir uma reduo de mensalidade e uma resciso do contrato, os estudantes caiam em contradio; era necessrio que a proposta fosse equacionada e que os 260 alunos hospedados at ento no ficassem desabrigados.

    As discusses se estenderam. Na 107 Sesso do Conselho Universitrio, a discusso da moradia entrou novamente em pauta.55 O professor Osvaldo Rodrigues Cabral, que anos antes havia se posicionado contra a compra da casa da famlia Molenda para ser usada como reitoria, argumentava que, mesmo que a obteno de imveis fora da Trindade trouxesse resultados positivos, mantinha-se contra; preferia que os estudantes recebessem bolsas e, com esta ajuda, habitassem aonde quisessem. J os estudantes Heitor Bittencourt Filho e Clio Herclio Maos da Silva se posicionaram contrrios compra do LUSC, porque o prdio no teria condies para a habitao e, por isso, haveria gastos posteriores. No fim, a resoluo n 031/68 deliberou: a compra dos imveis Planalto e LUSC; a resciso de contrato com Jos Carlos Daux, referente ao edifcio da Rua Bocaiva; a concesso de bolsas de NCr$ 60,00 aos alunos que, em virtude da resciso, tivessem que arcar com o nus de habitao; e, por fim, que os imveis adquiridos pela Universidade e ocupados pelos estudantes fossem administrados por eles, por meio de diretoria eleita e sem nus para a UFSC.56 Vale lembrar que as discusses a respeito da moradia estudantil permanecem at hoje. Apenas durante a gesto do reitor Antnio Diomrio de Queiroz (1992-1996) foi instalado um pequeno prdio para moradia dos estudantes, perto do campus universitrio.57

    Outra discusso que ressurgiu diz respeito s taxas cobradas pela UFSC. Durante a confeco deste livro, no ano de 2010, ocorreram diversas amostras de insatisfao por parte dos estudantes, contestando a legitimidade da cobrana de taxas por parte da Reitoria. Vemos, pelos documentos, que no incio da Universidade, os estudantes e at mesmo os professores j se viam obrigados a arcar com taxas e emolumentos. Abaixo constam os valores retirados do Boletim Informativo, do primeiro semestre de 1963:

    55 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia De Uma Universidade... op.cit., p.129-131.56 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim do pessoal. Florianpolis: v. 2, n. 13, 1968, p.1.57 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia De Uma Universidade... op.cit., p.132.

  • Trajetrias | A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... 271. Inscrio e Exame Vestibular ..................................................................200,002. Matrcula em cada ano e cadeira ............................................................. 100,003. Guia de transferncia ............................................................................1.000,004. Inscrio em defesa de tese ...................................................................2.000,005. Certido de aprovao em defesa de tese .................................................50,006. Certido de freqncia ...............................................................................20,007. Certido no especificada a) verbum ad verbum rasa ......................................................................... 1,00 b) em relatrio .............................................................................................20,008. Diploma de concluso de curso ............................................................2.000,009. Certificado de curso de especializao ...................................................500,0010. Diploma de doutor .................................................................................1.000,0011. Certificado de curso de Aperfeioamento ................................................50,0012. Certido de revalidao de diploma ....................................................5.000,0013. Certido de habilitao profissional estrangeira .................................2.000,0014. Inscrio em exame para revalidao de diploma .................................500,0015. Ttulo de docente livre ..........................................................................1.500,0016. Inscrio em concurso de Professor Catedrtico ................................2.000,0017. Idem, Idem, de docente livre ............................................................. 1.000,0058

    Em entrevista, o funcionrio tcnico-administrativo Arnaldo Podest Jr. afirma: Os alunos fizeram uma proposta para a Reitoria para no pagar nada: Ns no vamos pagar nada era o lema., fazendo ento com que o ento reitor Rodolfo Pinto da Luz convocasse o Conselho Universitrio.59 Curiosamente, este mesmo lema foi utilizado pelos estudantes no ano de 2010 em cartazes e alguns outros materiais de divulgao da frente de luta mobilizada pelos estudantes.

    Muito mais conturbada, contudo, foi a relao dos estudantes com o Golpe Militar de 1964.

    Golpe ou revoluo?Os motivos dados para a Revoluo do dia 1 de abril de 1964 (sendo sua

    data convenientemente alterada para 31 de maro pelo fato de o dia 1 de abril ser considerado o dia da mentira) foram repetidos exausto pelos meios de comunicao. As manifestaes favorveis ao golpe por parte das autoridades florianopolitanas transparecem no discurso de defesa da democracia e luta contra a infiltrao vermelha, fazendo referncia ao comunismo. Havia, na poca, a crena de que o golpe seria temporrio, que, afastados seus motivos, os polticos civis voltariam ao controle da administrao do estado e que os militares tomavam o poder para a manuteno da democracia. As autoridades usaram, na realidade, o discurso democrtico para a implantao do regime ditatorial. Houve declaraes de apoio ao novo governo militar, sempre chamado de democrtico, por parte do governador Celso Ramos, do Comando do 5 Distrito Naval, da Cria Metropolitana, de Ivo Silveira, representando a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, da Federao das Indstrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) e do Partido Democrtico Cristo (PDC).60

    Assim que o golpe foi deflagrado, houve uma declarao por parte dos acadmicos de Direito no jornal O Estado, mostrando descontentamento com o movimento estudantil anterior ao golpe.61 Na declarao, os estudantes afirmam que, naquele momento, acabava de ser extinta no Brasil a mola propulsora do comunismo internacional.62 Mais do que isso, afirmavam que deviam ter a convico inabalvel do direito e da justia. Como aponta Elizabeth Farias da Silva em sua tese Ontologia de uma universidade: A Universidade Federal de Santa Catarina, torna-se difcil comentar tal emaranhado de equvocos por parte de estudantes de Direito. No mnimo a constitucionalidade deveria ter sido respeitada.63 Na mesma declarao, vemos no s o discurso de cunho poltico, mas tambm um discurso religioso que o legitima, e fica claro em diversas documentaes a respeito do perodo. Em um trecho da declarao, h a seguinte passagem: Os Gregos e os Romanos nos momentos culminantes de sua histria, foram povos cultos, mas nem sempre civilizados. Porque s o cristianismo civiliza os povos. E somente luz de seus princpios, nas tradies de cada povo, se conceitua a verdadeira democracia.64

    A nova conjuntura poltica do Brasil trouxe episdios pouco comentados, salvo vozes isoladas. O novo governo trouxe com ele a instalao de comisses de inqurito, a insero

    58 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.2, n.2, 1963, p.43. Os valores esto informados em Cruzeiros, moeda vigente entre 1 de Nov. de 1942 a 12 de Fev. de 1967 cf. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Cdulas e moedas brasileiras. Braslia: BC/Museu de Valores, s/data. Disponvel em: Acesso em: 1o set 2010.59 Arnaldo Podest Jr. Entrevista concedida a Icles Rodrigues e Lara Beck. Florianpolis, 22 de julho de 2010. O entrevistado falava apenas sobre a taxa paga no ato da matrcula, e no especificou a poca. Tendo ocorrido em um dos mandatos de Rodolfo Pinto da Luz, o perodo possvel compreende 1984 a 1988 e 1996 a 2004. Fonte: site da UFSC.60 Para os trechos das declaraes, cf. SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia De Uma Universidade... op.cit., p.99-104.61 O Estado do dia 10 de abril de 1964, p.8.62 Idem.63 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia De Uma Universidade... op.cit., p.105.64 O Estado, op.cit., 08.

  • 28 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    de espies em sala de aula conhecidos na poca como ratos, segundo palavras do professor Nazareno Jos de Campos e incidentes oriundos da intolerncia presente no discurso militar.

    Um desses incidentes ocorreu no dia 6 de abril de 1964, no centro de Florianpolis. No local havia uma livraria chamada Anita Garibaldi, que pertencera ao escritor e jornalista Salim Miguel, mas naquele momento estava nas mos de outro proprietrio. Ela fora a primeira de Santa Catarina a vender livros importados, de todas as tendncias, entre eles livros marxistas. Na data em questo, poucos dias aps o golpe, um grupo invadiu a livraria, levando grande parte de seus exemplares e queimando-os na rua, diante de transeuntes atnitos. Salim Miguel afirmou, em entrevista ao jornal Dirio Catarinense, em 6 de junho de 2009:

    Queimaram um livro sobre o cubismo, achando que se tratava de Cuba. Eu costumo dizer que quem queima livro no deve ter seu nome nem citado. Todos que viveram aquela poca sabem quem encabeou a queima dos livros. Era um chefe e dois subchefes, eu sei o nome dos trs, mas me recuso a dizer o nome deles.65

    Joo Carlos Mosimann, escritor e pesquisador, escreveu em 2004 um artigo, tambm para o Dirio Catarinense, que falava sobre o incidente da queima de livros, no qual afirma de forma contundente:

    O fato ocorreu quando transcorria abril de 1964 e no se tratava de militares numa eventual ao ttica do prprio golpe militar em andamento, mas um odioso ato liderado por um professor de mente medieval, deformada por uma ideologia de direita, mais odiosa ainda. Investiam de maneira oportunista, aproveitando-se do golpe militar, naquele momento j vitorioso.66

    Outro problema citado anteriormente era a presena dos ditos ratos nas salas de aula. Rato era o apelido que se dava para espies que, infiltrados na Universidade, passavam informaes a respeito de atividades subversivas para rgos de segurana. Esses nomes, segundo o que se acreditava na poca, iam para um suposto Livro Negro. Em entrevista concedida ao projeto, o professor Nazareno Jos de Campos afirma que:

    Alguns que eram considerados lderes, que seriam na poca o prprio diretor do DCE e essa turma, ficavam por l no Livro Negro. Todos sabiam da existncia desse tal livro negro no sei se foi provado ou no , que seria um livro onde estariam os nomes de todos que eles consideravam problemticos, perigosos.67

    Como problemticos e perigosos? Por qu? Havia um clima de tenso entre alguns estudantes e professores. Tanto que at mesmo na diretoria do DCE houve um membro que, na realidade, era um rato infiltrado. Ainda segundo Nazareno:

    Ele estava sempre no movimento, no DCE, mas ningum nunca desconfiava. Ento o Adolfo Dias j falecido, que na poca era o presidente do DCE, um dos que foram presos na Novembrada durante a Novembrada viu ele num canto apontando para as pessoas e o reconheceu. A que eles perceberam que ele era um grande rato, para estar infiltrado at no DCE.68

    Ainda no incio do governo militar, foram instaladas comisses de inqurito na Universidade. Embora cursos como Sociologia, Histria e Filosofia fossem os mais visados, a comisso abrangia toda a Instituio. Podemos citar, a exemplo, um inqurito contra um professor voluntrio da Faculdade de Odontologia, Osni Lisboa e contra os alunos Jos Leite Sobrinho e Milton Valentin Goellner. Nele, investigava-se o fato de Osni Lisboa acusado pelo ento diretor da Faculdade de Odontologia, Pedro Mendes de Sousa ter assinado uma espcie de abaixo-assinado, solicitando a legalizao do Partido Comunista do Brasil. J a acusao contra Jos Leite Sobrinho seria o fato de este ter feito a assinatura de um jornal chamado Panfleto. Por fim, a acusao contra Milton Valentin Goellner era a de ter escrito uma carta ao embaixador de Cuba no Brasil, falando sobre a possibilidade de cursar medicina naquele pas. Osni Lisboa, ao tomar conhecimento do processo, afastou-se da Universidade; no entanto, os inquiridos foram considerados inocentes.69 importante citar que o relator do inqurito em questo era o futuro reitor da Universidade, Roberto Mndell de Lacerda.

    65 REZENDE, Dorva. Autor premiado: quarto entrevistado da srie dos escritores catarinenses, Salim Miguel receber, em julho, a maior distino da Academia Brasileira de Letras. Dirio Catarinense. Florianpolis, n.8.458, 06 de jun. 2009. Disponvel em: . Acesso em: 1o set. 2010.66 MOSIMANN, Joo Carlos. Literatura De fogueiras e livros. Dirio Catarinense. Florianpolis, 27 de mar. 2004. Disponvel em: . Acesso em: 1o set. 2010.67 Nazareno Jos de Campos. Entrevista citada.68 Idem.69 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Comisso de inqurito n 10/64. Florianpolis, 23 de maio de 1964. Arquivo Central UFSC. Caixa 04.

  • Trajetrias | A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... 29

    No dia 15 de abril de 1964, o general Humberto Castelo Branco assumiu o cargo de presidente do Brasil. Durante as comemoraes da Semana da Ptria, alguns meses depois, o reitor professou um discurso onde brada diversas vezes A ptria precisa de ns. Em sua fala, Ferreira Lima incita os ouvintes a pertinaz defesa do regime democrtico livre, contra os extremismos, sejam quais forem, e continua solicitando aos presentes que mantivessem a ordem, respeitassem a hierarquia e a disciplina e as autoridades constitudas. Sejamos escravos da lei, clama o reitor da Universidade.70

    Alguns dias antes da posse de Castelo Branco, mais precisamente no dia 31 de maro de 1964, o Conselho Universitrio reuniu-se em sesso extraordinria (39 Sesso) para discutir os acontecimentos ocorridos em Florianpolis nas noites de 24 e 25 daquele ms, principalmente no que se referia s atividades policiais. O acadmico Francisco Mastella, presidente da FEUSC, relatou o ocorrido naquelas ocasies. Segundo ele, os estudantes se solidarizaram com o povo na luta contra o aumento das passagens de nibus urbanos que servem s linhas da Capital. Como o prefeito no quis dialogar com o povo, os manifestantes se dirigiram sua residncia. J de noite, a polcia reprimiu a manifestao com violncia, tendo em vista as atitudes de alguns manifestantes mais exaltados. No dia seguinte, eles fizeram um enterro simblico do prefeito municipal, sendo novamente atacados pela polcia, que agrediu populares e estudantes, sem distino.

    Em proposta apresentada pelo reitor e aceita por unanimidade, o Conselho Universitrio decidiu, segundo a ata da sesso:

    1. que seja aplaudido o gesto do Governo do Estado, pela abertura de Inqurito a fim de apurar responsabilidades sobre as lamentveis ocorrncias verificadas nesta Capital, nas noites de 24 e 25 do corrente ms;2. A par do aplauso, que perante S. Exa. Protesta o Conselho Universitrio pelas violncias ocorridas aps manifestao dos estudantes;3. Que seja admitido no inqurito, como observador, de representante do Conselho Universitrio, a fim de que pudesse ser o Conselho informado sobre o andamento dos trabalhos e apurao dos fatos.71

    J segundo a ata da 40 Sesso do Conselho Universitrio, do dia 23 de abril de 1964, no dia seguinte, 1 de abril, quando o golpe fora deflagrado, os estudantes estavam distribuindo, em uma Kombi, folhetos solicitando a presena do povo para uma assembleia na UCE, e acabaram presos. O reitor, aps interceder pelos estudantes, conseguiu a libertao de todos.

    Na mesma sesso do Conselho Universitrio de 23 de abril, o reitor Ferreira Lima pediu a palavra. Segundo ele, havia um rgo na Universidade que estava incompatibilizado com a situao atual, a FEUSC. Para evitar que o rgo sofresse maiores vexames em recorrncia da priso do seu presidente, Francisco Mastella , o reitor afirmou que o Conselho Universitrio deveria providenciar a cassao dos mandatos da diretoria. Em seguida, deveria ser nomeado um estudante que, dentro de uma semana, convocasse uma Assembleia Geral dos estudantes para a eleio de uma nova diretoria para a FEUSC, desde que esta estivesse desvinculada da situao anterior.72

    O presidente em exerccio da FEUSC, Walmir Antnio da Silva, defendeu o rgo afirmando que este no participara de movimentos subversivos, e que Francisco Mastella, quando atuara em movimentos, agira em seu nome, nunca em nome da FEUSC.

    A proposta de cassao de toda a diretoria da FEUSC colocada por Ferreira Lima foi rejeitada pela maioria, ficando acordado que apenas o mandato do presidente seria cassado, enquanto os demais membros da diretoria da FEUSC responderiam a inqurito. A dissoluo da FEUSC se tornou inevitvel, acompanhada do adjetivo subversivo, que comea a se fazer presente nas atas. Mas no seria o nico rgo estudantil a perecer.

    Ainda em 1964, iniciou-se um projeto que extinguia a Unio Nacional dos Estudantes. Em 23 de agosto, publicada uma nota pela FEUSC ressaltando a necessidade de no se extinguir os rgos de representao estudantil, assinada pela prpria FEUSC, pelos Centros Acadmicos: VIII de Setembro, da Faculdade de Filosofia; Pio XII, da Faculdade de Servio Social; Jos Batista Rosa, da Faculdade de Odontologia; XI de Fevereiro, da Faculdade de Direito; Jos Boiteux, da Faculdade de Cincias Econmicas; e Henrique Brgmann, da Faculdade de Farmcia.73 No entanto, Castelo Branco assinou a Lei n 4.464, no dia 9 de novembro de 1964, extinguindo o rgo. O Centro Acadmico XI de Fevereiro,

    70 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Boletim Informativo. Florianpolis, v.3, n.6, 1964, p.3-4.71 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Conselho Universitrio. Florianpolis, Ata da sesso realizada em 31 de maro 1964. Livro 2, p.117-118.72 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Conselho Universitrio. Florianpolis, Ata da sesso realizada em 23 de abril 1964. Livro 2, p.121.73 Para maiores detalhes sobre essa nota cf. SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia De Uma Universidade... op.cit., p.136-137.

  • 30 UFSC 50 Anos: trajetrias e desafi os

    do Direito, publicou ento uma nota na Imprensa, dessa vez muito mais contundente, onde afirmava que o governo pretendia marginalizar o universitrio brasileiro.74

    No seria a primeira, nem a ltima vez que os estudantes se veriam diante de confrontos relativos incompatibilidade com o regime militar, sob o discurso de manuteno da democracia.

    Outro ponto interessante perceber que, gradativamente, a censura comea a se mostrar presente na Universidade. Em ata da 66 Sesso do Conselho Universitrio, em 26 de maio de 1965, discutido o trote dos calouros. Segundo o reitor Joo David Ferreira Lima, o trote havia excedido suas funes tradicionais, desrespeitando as autoridades constitudas. Com o objetivo de regulamentar esta atividade, o reitor props uma resoluo cujos itens responsabilizavam os diretrios acadmicos pelos trotes pontuando as possveis punies e, principalmente, cartazes, quadros, dsticos, faixas e tudo o que mais contenha, seriam submetidos censura prvia da Direo de cada Unidade.75

    Ainda em 1965 ocorre uma discusso no Conselho Universitrio sobre a gesto do Res-taurante da Universidade, ento deficitrio. O fato gerou uma manifestao do movimento estudantil, e foi levado discusso no Conselho Universitrio, em sesso extraordinria realizada no dia 15 de setembro de 1965. Naquele momento, o restaurante era administrado pelo Diretrio Estadual dos Estudantes de Santa Catarina (DEESC), e os estudantes declararam greve objetivando a resoluo do problema, tendo como resposta a ameaa da Reitoria de que a Lei 4.464./64 fosse aplicada. Por fim, o CUn decidiu pela reabertura do Restaurante na Escola Industrial com a participao de funcionrios da USC. A medida desagradou aos estudantes, mas estes recuaram mediante o Ofcio n 41/65 do Diretrio Central dos Estudantes (73 e 74 Sesses, de 17 e 18 de setembro de 1965).76

    Figura 8. Construo da Reitoria. Fonte: Agecom [196-?]

    Assim, no dia 20 de setembro (75 Sesso do Conselho Universitrio), a gesto do Restaurante Universitrio deixou, em mdio prazo, as mos do movimento estudantil. O encerramento dessa questo foi aceito por unanimidade pelo Conselho Universitrio. O Restaurante Universitrio passava para a Escola Industrial de Florianpolis (atualmente, Instituto Federal de Santa Catarina), localizado na Rua Mauro Ramos, sendo administrado pela Universidade, mediante convnio.77

    O crescimento durante os anos de chumboApesar das previses negativas de Joo David Ferreira Lima sobre a criao de

    uma Universidade na Trindade e das dificuldades relativas s verbas e construes, mediante duro trabalho, o crescimento da Universidade Federal de Santa Catarina no parou. No incio de 1966, estavam em construo um pavilho de Mecnica e um prdio para a administrao da Escola de Engenharia Industrial e um novo bloco para a Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, alm de reformas e projetos de construo, entre eles o do futuro Centro de Desportos. Alm disso, foi constitudo um grupo de

    74 Ibidem, p.137-138.75 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Conselho Universitrio. Florianpolis, Ata da sesso realizada em 26 de maio 1964. Livro 2, p.301-302.76 SILVA, Elizabeth Farias da. Ontogenia De Uma Universidade... op.cit., p.120-121.77 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Conselho Universitrio. Florianpolis, Ata da sesso realizada em 26 de maio 1964. Livro 2, p.301-302.

  • Trajetrias | A UFSC na dcada de 1960: outras histrias... 31

    trabalho para cuidar de questes como saneamento e pavimentao do campus,78 e foi apresentado o projeto arquitetnico do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina.79 J a administrao era considerada um modelo para as outras universidades brasileiras. Aluizio Blasi, um dos primeiros funcionrios da Universidade, brao direito do primeiro reitor, afirmou em entrevista concedida ao projeto que a UFSC forneceu um curso para as demais universidades do pas, dando detalhes sobre sua administrao, vista como altamente eficiente.80 A Instituio encarava, contudo, problemas relativos contratao de funcionrios. Esta sofria os mais contundentes efeitos das decises administrativas emanadas de setores dirigentes da Unio, que se consubstanciam na proibio, sob qualquer pretexto, da admisso de novos servidores.81 Essa estagnao no acompanhava o crescimento do nmero de alunos. Segundo dados levantados, em 1962, estavam matriculados cerca de setecentos alunos. Em 1963, o nmero aumentou para 1.017 alunos, sendo que, no ano seguinte, registraram-se 1.491 matrculas nos diferentes cursos universitrios. Em 1965, a Universidade matriculava 1.827 estudantes, e esse nmero aumentou em 1966 para mais de 2.200 alunos.82

    Naquele ano, os discursos acerca da legitimidade do regime vigente no cessaram. O ento diretor do Ensino Superior do Ministrio da Educao e Cultura, professor Raymundo Augusto Moniz de Arago, em uma aula magna, afirma que as universidades so somente compatveis nas democracias, pois geram o direito de pensar, a liberdade de agir. Afirma ainda que as ditaduras constituram-se em experincias amargas para o ensino brasileiro, estagnando o Ensino Superior.83

    Em palestra comemorativa