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Claudia Regina Castellano Losso Grupo de pesquisa Educação e Cibercultura

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Claudia Regina Castellano LossoGrupo de pesquisa

Educação e Cibercultura

Bruno

Latour

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

(Beaune, 22 de junho de 1947) é

um antropólogo, sociólogo e filósofo da

ciência e francês.

Um dos fundadores dos chamados Estudos

Sociais da Ciência e Tecnologia (ESCT),

sua principal contribuição teórica - ao lado

de outros autores como Michel

Callon e John Law - é o desenvolvimento

da ANT - Actor Network Theory (Teoria

ator-rede) que, ao analisar a atividade

científica, considera tanto os atores

humanos como os não humanos, estes

últimos devido à sua vinculação

ao princípio de simetria generalizada.

Conhecido pelos seus livros que

descrevem o processo de pesquisa

científica, dentro da perspectiva

construtivista que privilegia a interação

entre o discurso científico e a sociedade, os

de maior destaque são: Jamais Fomos

Modernos e Ciência em Ação.

Latour é doutor em filosofia e é professor

do Institut d'Etudes Politiques de

Paris (Sciences Po). Em setembro de 2007,

Bruno Latour tornou-se diretor científico e

vice-diretor da Sciences Po.

Jamais fomos modernos

Poluição de rios, embriões congelados, buraco de ozônio, robôs munidos de sensores. O que explica o sentimento de pavor que eles nos causam? Os modernos não pararam de criar objetos híbridos sobre os

quais se recusam a pensar. O antropólogo e filósofo Bruno Latour estuda a construção ideológica da modernidade e defende a tese de que o

homem, até mesmo aquele que se autodenomina pós-moderno, mal chegou a ser moderno.

[CRISE]

Alexandre corta o nó górdio em pintura do século XIX

[CRISE]O nó górdio dos analistas:“O navio está sem rumo: à esquerda o conhecimento das coisas, à direita o interesse, o poder e a política dos homens” (p. 8)

... Este fio frágil será cortado em tantos segmentos quantas forem as disciplinas puras: não misturemos o conhecimento, o interesse, a justiça e o poder. Não misturemos o céu e a terra, o global e o local, o humano e o inumano. (p.8)“ precisa-se reatar o nó górdio que separa os conhecimentos extaros e o exercício do poder, digamos a natureza e a cultura” (p.9)O mundo contemporâneo não mais pode ser apropriado de maneira fragmentária, pois os problemas do cotidiano são apresentados de maneira “híbrida”. Torna-se assim necessário estabelecer uma síntese teórica que nos possibilite analisar a realidade de maneira simultaneamente científica, sociológica e por meio da teoria da linguagem. http://metamorficus.blogspot.com.br/2007/12/bruno-latour-uma-leitura-crtica-de.html

[CRISE]

Os “analistas”...“Ciências, técnicas, sociedades”A questão é sempre a de reatar o nó górdio atravessando, tantas vezes quanto forem necessárias, o corte que separa os conhecimentos exatos e o exercício de poder, digamos a natureza e a cultura.

Nosso meio de transporte é a noção de tradução ou de rede. (que seja mais flexível – sistemas, mais histórica –estrutura, mais empírica – complexidade)

[CRISE]

Mal-entendidosCategorias de análise dizem respeito à natureza, ou à política, ou ao discurso.

Natureza –redução às técnicas e às ciências (fatos)Política – redução da verdade científica a interesses e a eficácia técnica como manobras políticas. (poder)Discurso – Representação, linguagem, textos (em evidência a natureza das coisas e o contexto pragmático ou social)

As pesquisas devem dizer a respeito do com [...] o envolvimento dos nossos coletivos e com os sujeitos. [...] com a própria matéria das nossas sociedades.

[CRISE]

Ofereça às disciplinas estabelecidas uma bela rede sociotécnica, algumas belas traduções, e as primeiras (política) extrairão os conceitos, arrancando deles todas as raízes que poderiam ligá-los ao social ou à retórica, as segundas (natureza) irão amputar a dimensão social e política, purificando-a de qualquer objeto; as terceiras (discurso), conservarão o discurso, mas irão purgá-lo de qualquer aderência à realidade – horresco referens – e aos jogos de poder. (p.17)

O buraco de ozônio sobre nossas cabeças, a lei moral em nosso coração e o texto autônomo podem, em separado, interessar a nossos críticos. Mas se uma naveta fina houver interligado o céu, a indústria, os textos, as almas e a lei moral, isto permanecerá inaudito, indevido, inusitado. (p.11)

Para Latour, o mundo deve ser tratado como um conjunto de “redes” que atravessam esses três paradigmas - “objetivista”, “sociologizante” e “semiótico” - pois, não sendo apenas de natureza objetiva, social ou discursiva, são ao mesmo tempo reais, coletivas e discursivas. (p. 12)

[A CRISE DA CRÍTICA]

Tripartição crítica

Naturalização (Changeux – fatos naturalizados)Socialização (Bordieu – poder sociologizado) Desconstrução (Derrida – efeitos da verdade)repertórios distintos para falarem de nosso mundocada uma dessas modalidades de crítica é potente em si mesma, não podem ser combinadas com as outras.

“Os fatos científicos são construídos, mas não podem ser reduzidos ao social porque ele está povoado por objetos mobilizados para construí-lo. O agente desta construção provém de um conjunto de práticas que a noção de desconstrução capta da pior maneira possível.” (p.12)

Para Latour, a modernidade se caracteriza por essa postura crítica e, ao mesmo tempo, limitada e incapaz de oferecer uma síntese teórica que abra horizontes para o nascimento de uma nova utopia.

[A CRISE DA CRÍTICA]

A modernidade ocidental, qual o seu traço singularizante e cujo desenvolvimento culmina com o fim das utopias e com uma crise ambiental que puseram em questão, simultaneamente, a técnica e ciências naturais e a filosofia.*

É impossível, fazer em nossas natureza-culturas aquilo que é possível fazer em outros lugares, em outras culturas....Porque somos modernos. Nosso tecido não é mais inteiriço. A continuidade das análises tornou-se impossível. Para os antropólogos tradicionais, não há, não pode haver, não deve haver uma antropologia do mundo moderno (latour, 1988b) (p.13)

Pela tripartição crítica foi possível a etnografia

“crise da crítica” contemporânea - acabou por produzir uma crise de propostas e o fim das utopias: nenhuma teoria é hoje capaz de restabelecer a unidade do pensamento que dê conta dos problemas cotidianos e que possa apontar para o futuro.** http://metamorficus.blogspot.com.br/2007/12/bruno-latour-uma-leitura-crtica-de.html

[O MIRACULOSO ANO DE 1989]

...considerado um divisor de águas, pois, ao mesmo tempo em que o mundo via submergir a utopia socialista, dava-se nascimento às preocupações globais com a ecologia, pondo-se um limite claro à ciência e à técnica.*

Queda do muro de Berlim – fim do socialismo

*http://metamorficus.blogspot.com.br/2007/12/bruno-latour-uma-leitura-crtica-de.html

[O MIRACULOSO ANO DE 1989]

Exploração do homem pelo homem pela Exploração da natureza pelo homem.O capitalismo multiplicou indefinidamente as duas (p. 14)

“Após essa dupla digressão cheia de boas intenções, nós, os modernos, aparentemente perdemos a confiança em nós mesmos.” (p.14)

A modernidade ocidental, qual o seu traço singularizante e cujo desenvolvimento culmina com o fim das utopias e com uma crise ambiental que puseram em questão, simultaneamente, a técnica e ciências naturais e a filosofia. *http://metamorficus.blogspot.com.br/2007/12/bruno-latour-uma-leitura-crtica-de.html

[O QUE É UM MODERNO?]

Para Latour, o cerne da “modernidade” diz respeito a dois conjuntos de práticas que, para permanecerem eficazes, devem permanecer distintas, mas que recentemente deixaram de sê-lo:

a) um conjunto de práticas que cria (por tradução) “híbridos”, ou seja, misturas de natureza e cultura. São aquilo que o autor denomina de “redes”, conectando, por exemplo, técnica e estratégia científica e industrial e suscitando preocupações interdisciplinares;

b) outro conjunto, de natureza crítica ou analítica - “purificação”, na linguagem do autor - que cria duas zonas ontológicas distintas: a dos humanos e a dos não-humanos. Esse conjunto seria o responsável por estabelecer uma partição entre o mundo natural, uma sociedade com interesses e questões previsíveis e estáveis e um discurso independente de ambos.

[O QUE É UM MODERNO?]

A modernidade se caracteriza por manter essas práticas separadamente, dedicando-se à crítica que, entretanto, se desenvolve por meio da proliferação dos “híbridos”. (p.16)

Mudança de paradigma: tratar-se-ia de superar a distinção ontológica entre humanos e não-humanos que é o que singulariza, em última instância, a modernidade.

Para Latour, a manutenção da referida distinção ontológica - que permite a separação das análises cientificistas, sociológicas e semióticas - produz uma indefinida “proliferação dos híbridos”. Portanto, enquanto não superarmos a distinção cultura/natureza, humano/não-humano, nossas atividades serão uma contínua construção de problemas e situações interpretados como possuindo natureza científica, política, social, econômica, ideológica etc.

Adesão ideológica a essa separação, tornando-se necessária sua superação: a partir do momento em que nos desviamos do trabalho de purificação e de hibridação, transformaremos a abordagem relativista e mudaremos nossa visão acerca da dominação, do imperialismo, do sincretismo etc.

[O QUE É UM MODERNO?]

Modernidade não é um tempo, é uma atitude de separar em categorias

Natureza __________ Sociedade

A operação de separação é correlata da Hibridificação

A Modernidade produz a todo o tempo: misturas e categorizações

Na atitude de misturar e separar há um equilíbrio: quanto mais separa em categorias, mais aparecem misturas;

quanto mais mistura, mais separa em novas categorias.

O que é objeto da Ciência?

Tudo o que está na Natureza e assim, produz-se uma outra categorização:

Humanos __________ Não-humanos

[O QUE É UM MODERNO?]

Para Latour, as sociedades “pré-modernas” não permitem a proliferação de “híbridos”, pois não concebem o mundo dentro dessa separação. É essa distinção entre culturas que realizam a referida separação ontológica e as que não realizam (“modernos” e “não-modernos”) que permitiria explicar e resolver a questão do relativismo.

Enfim, o projeto de Latour assemelha-se a uma tentativa de desmistificação -por meio da revelação ou “desfetichização” - acerca do processo de separação ontológica. Elucidando-se o processo, seríamos capazes de deter a “proliferação dos monstros”. (p. 17)

“Do momento em que traçamos este espaço simétrico, restabelecendo o entendimento comum que organiza a separação dos poderes naturais e políticos, deixamos de ser modernos.”

Caberia à antropologia restabelecer essa simetria, descrevendo como se organiza e se produz essa separação, como os ramos se separam, assim como os múltiplos arranjos que os reúnem.

[O QUE É UM MODERNO?]

Para Latour, as sociedades “pré-modernas” não permitem a proliferação de “híbridos”, pois não concebem o mundo dentro dessa separação. É essa distinção entre culturas que realizam a referida separação ontológica e as que não realizam (“modernos” e “não-modernos”) que permitiria explicar e resolver a questão do relativismo.

“A partir do momento que desviamos nossa atenção simultaneamente para o trabalho da purificação e o de hibridação, deixamos instantaneamente de ser modernos, nosso futuro começa a mudar.” (p.16)

Do momento em que traçamos este espaço simétrico, restabelecendo o entendimento comum que organiza a separação dos poderes naturais e políticos, deixamos de ser modernos.

Enfim, o projeto de Latour assemelha-se a uma tentativa de desmistificação - por meio da revelação ou “desfetichização” - acerca do processo de separação ontológica. Elucidando-se o processo, seríamos capazes de deter a “proliferação dos monstros”. (p. 17)

Caberia à antropologia restabelecer essa simetria, descrevendo como se organiza e se produz essa separação, como os ramos se separam, assim como os múltiplos arranjos que os reúnem.

[O QUE É UM MODERNO?]

Hipótese dos laços entre o trabalho de tradução (ou mediação) e purificação

1) A purificação permitiu a tradução ( paradoxo)2) As outras naturezas-culturas (pré-modernos)3) Enfraquecimento da modernidade em separar o trabalho de purificação e o de

proliferação

O que iremos nos tornar?

Será necessário uma outra democracia? Uma democracia das coisas?

CULT – Um de seus trabalhos mais conhecidos no Brasil é o livro Jamais fomos modernos. Qual é a relação desse livro com a antropologia ?

Bruno Latour - Em primeiro lugar, a tese desse livro não faz muito sentido ao se falar no Brasil, porque os brasileiros nunca foram modernos. Foram sempre, de uma certa forma, pós-modernos. Este livro foi traduzido em 25 línguas e teve um impacto bastante diverso nos países em que foi publicado. Na França, por exemplo, seu impacto não foi muito grande. O que quis fazer foi uma antropologia daqueles que são chamados “modernos”. A distância que tomamos normalmente na antropologia quando nós nos afastamos de nossa cultura para estudar uma outra, por exemplo, para conviver com pessoas com quem não convivemos geralmente, é equivalente neste livro a uma tomada de distância interior, um distanciamento diante da história do chamado “mundo ocidental” nos últimos 300 anos, para mostrar como algo se passou durante este período, algo ligado à atividade científica e técnica, mas que não tem nada a ver com o que se diz ter acontecido.

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevista-bruno-latour/

CULT – O modernismo seria então uma invenção exótica?

BL - Eu diria que esse livro procurou lutar contra o equivalente do exotismo nas sociedades que se denominam modernas, o que se pode chamar de “ocidentalismo”. Assim como há um orientalismo para o Oriente, como definiu-o Edward Said, há um exotismo de nós mesmos, quero dizer, da Europa ou da Euro-América. É isso que está ligado à ideia de uma antropologia. Fazíamos a antropologia dos outros, mas não a antropologia de nós mesmos, com exceção das margens, dos aspectos marginais de nossa sociedade, do que sobreviveu: da magia, das festas, da sociabilidade. Mas jamais fazíamos a antropologia do centro que constitui nossas atividades. Eu mesmo aprendi antropologia com excelentes antropólogos na África negra, e quando retornei à Europa, fiquei surpreso com essa assimetria. Quando nós fazemos antropologia (no exterior de nossa cultura), estudamos coisas que nos parecem realmente centrais para as comunidades nas quais passamos a viver. Mas, quando retornamos aos europeus ou aos euro-americanos, pensamos que a antropologia se refere somente à parte marginal. Tudo isso mudou muito. Esse livro foi escrito há 20 anos. Hoje em dia, muitas vezes os antropólogos não mais podem fazer uma pesquisa de campo em outra sociedade, em outros países, pois o acesso a essas áreas tem sido progressivamente restrito ou fechado (é o caso praticamente de toda a África e do Meio Oriente; o que nos resta de fato é apenas a América Latina e talvez uma parte da Ásia). Isso tem redefinido a antropologia como uma reflexão também sobre o centro da sociedade dita moderna, de forma que hoje em dia, essa ideia já se tornou banal, ao passo que na época que escrevi meu livro não era bem assim.

CULT - Qual é a tese desse livro e por que que ele é sub-intitulado como “ensaio de antropologia simétrica”? Isso foi uma ideia original, ou algo desenvolvido a partir do trabalho de outros autores?

BL - Há a controvérsia entre a tese que considera que nós fomos modernos e a tese que não, e tudo repousa sobre uma teoria da ciência. Esse era o problema da área de estudo na qual eu continuo a trabalhar: a science studies, que faz uma antropologia das ciências. É a ideia também do meu livro. Jamais fomos modernos fez talvez, e estranhamente, muito sucesso mesmo se sua tese não foi ainda muito testada empiricamente. Quanto ao termo “simétrico” provavelmente já existia. De toda forma, ele é bastante comum, poderia se dizer também, no lugar de “antropologia simétrica”, antropologia “equilibrada” ou mesmo “equitável”. Eu escolhi “simétrica” por causa da conotação desse termo na área de estudos das ciências (science studies). Ele implica também uma simetria entre a ciência e a não ciência, ou a ciência ligada ao problema da história das ciências. Mas abandonei o termo “simétrica”, pois ele tem o inconveniente de supor que, quando fazemos essa simetria, guardamos os dois elementos que opomos, por exemplo, a natureza e a cultura

Claudia Regina Castellano Losso

Doutoranda em educação

PPGE – UDESC

[email protected]