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claro enigma Carlos Drummond de Andrade Sequência didática

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claro enigmaCarlos Drummond de Andrade

Sequência didática

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Aula 1 - introdução à obraLeitura dramática de:

“a um varão, que acaba de nascer”

- Drummond: de Itabira para o mundo.

- “Poesia da pedra” e “poesia social”.

- https://www.youtube.com/watch?v=O04QSmoo0hw

“Testemunho da Experiência Humana”

(3min59s; 12min01)

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Aula 2 - contexto da obra claro enigma (1951)“(...)

Macia flor de olvido, sem aroma governas o tempo ingovernável. Muros pranteiam. Só.

Toda história é remorso.”

(trecho do poema “Museu da Inconfidência”,

do livro Claro Enigma de Carlos Drummond de Andrade)

● Retomar a aula passada.

● Conversa sobre o contexto histórico: compartilhamento de conhecimentos prévios e correspondências com as aulas de história sobre os anos 1940 e 1950;

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arte visual na metade do século XXSurrealismo (formal)

La course des

taureaux (1945)

Joan Miró

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arte literária na metade do século xx“O que o caracterizou o movimento modernista essencialmente, a meu ver, foi a fusão de três princípios fundamentais:

1.º - o direito à pesquisa estética;

2.º - a atualização da inteligência artística brasileira;

3.º - a estabilização de uma consciência criadora nacional”.

(O movimento modernista, de Mário de Andrade, 1942)

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filosofia na metade do século xx“O existencialismo é um humanismo” (Jean-Paul Sartre, 1946)

“Não se nasce mulher, torna-se” (Simone de Beauvoir, 1949)

“Precisamos ter a coragem de dizer: é o racista que cria o inferiorizado” (Frantz Fanon, 1952)

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história na metade do século xxA voz dos vencidos

“A tradição dos oprimidos nos ensina que o ‘estado de exceção’ em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é originar um verdadeiro estado de exceção; com isso, nossa posição ficará mais forte na luta contra o fascismo.”

(Benjamin, 1940)

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Aula 3 - Análise de poema Perguntas em forma de cavalo-marinho

Que metro servepara medir-nos? Que forma é nossae que conteúdo?

Contemos algo?Somos contidos?Dão-nos um nome?Estamos vivos?

A que aspiramos?Que possuímos?Que relumbramos?Onde jazemos

(Nunca se findanem se criara.Mistério é o tempoinigualável.)

● Fazer um breve resumo relembrando pontos importantes da aula passada.

● Análise do poema ○ questionamento da

vida de uma forma melancólica

○ ligação de mistério com enigma

○ ponto de interrogação como o desenho do cavalo*

● Conversas das impressões do poema

*Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=LCsE--2KE3s - acesso em 25/11/2019

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Aula 4 - Análise de poema Tão delicados (mais que um arbusto)e correm e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros. Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno,como também parecem não enxergar o que é visívele comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade.Toda a expressão deles mora nos olhos - e perde-se a um simples baixar de cílios, a uma sombra.Nada nos pêlos, nos extremos de inconcebível fragilidade, e como neles há pouca montanha,e que secura e que reentrâncias e que impossibilidade de se organizarem em formas calmas, permanentes e necessárias.Têm, talvez, certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazemperdoar a agitação incômoda e o translúcido vazio interior que os torna tão pobres e carecidos de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme(que sabemos nós), sons que se despedaçam e tombam no campocomo pedras aflitas e queimam a erva e a água,e difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.

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● Fazer a revisão (rápida);

● Colocar o poema recitado;

● Iniciar a análise do poema;

○ visão do animal (“boi”);

○ observação pessimista do boi;

○ poema de verso livre;

○ cotidiano vazio e estressante;

○ consequência desse vazio é a crueldade, falta de humanidade;

○ feno: é uma mistura de plantas ceifadas e secas (usada como forragem para gado);

○ analogia com o conto “conversa de boi” - Sagarana - Guimarães Rosa

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Atividade segunda fase fuvest Leia o trecho:

– Eu acho que nós, bois, – Dançador diz, com baba – assim como os cachorros, as pedras, as árvores, somos

pessoas soltas, com beiradas, começo e fim. O homem, não: o homem pode se ajuntar com as coisas, se encostar

nelas, crescer, mudar de forma e de jeito… O homem tem partes mágicas… São as mãos… Eu sei…

(João Guimarães Rosa, “Conversa de bois”. Sagarana.)

Tão delicados (mais que um arbusto)e correm e correm de um para o outro lado, sempre esquecidos de alguma coisa. Certamente falta-lhes não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves, até sinistros.Coitados, dir-se-ia que não escutam nem o canto do ar nem os segredos do feno,como também parecem não enxergar o que é visívele comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes e no rasto da tristeza chegam à crueldade.(...) (Carlos Drummond de Andrade, “Um boi vê os homens”. Claro enigma)

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Atividade segunda fase fuvesta) Em ambos os textos, o assombro de quem vê decorre das avaliações contrastantes sobre quem é visto. Justifique essa afirmação com base em cada um dos textos.

b) O conto de Rosa e o poema de Drummond valem-se de uma mesma figura de linguagem. Explicite essa figura e justifique sua resposta.

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aula 5 - o chamado Na rua escura o velho poeta

(lume de minha mocidade)

já não criava, simples criatura

exposta aos ventos da cidade.

Ao vê-lo curvo e desgarrado

na caótica noite urbana,

o que senti, não alegria,

era, talvez, carência humana.

E pergunto ao poeta, pergunto-lhe

(numa esperança que não digo)

para onde vai - a que angra serena,

a que Pasárgada, a que abrigo?

A palavra oscila no espaço

um momento, Eis que, sibilino,

entre as aparências sem rumo,

responde o poeta: Ao meu destino.

E foi-se para onde a intuição,

o amor, o risco desejado

o chamavam, sem que ninguém

pressentisse, em torno, o chamado

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aula 5 - - Dividir em grupos.

- Pedir para os alunos procurarem em qual parte está o poema.

- Parte III - O menino e os homens - Relembrar a ideia desta seção do livro

(menino = Drummond, homens = Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Mário

Quintana).

- Deixar o grupo discutir entre eles a interpretação do poema (procurar

palavras, a quem se refere este poema, qual é a ideia do autor).

- Um representante de cada grupo, resume a interpretação do grupo.

- Explicação do professor.

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Aula 6 - Evocação Mariana A igreja era grande e pobre. Os altares humildes.

Havia poucas flores. Eram flores de horta.

Sob a luz fraca, na sombra esculpida

(quais as imagens e quais os fiéis?)

ficávamos.

Do padre cansado o murmúrio de reza

subia às tábuas do forro,

batia no púlpito seco,

entranhava-se na onda, minúscula e forte, de incenso,

perdia-se.

Não, não se perdia...

Desatava-se do coro a música deliciosa

(que esperas ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas campinas do ar)

e dessa música surgiam meninas - a alvura mesma -

cantando.

De seu peso terrestre a nave libertada,

como do tempo atroz imunes nossas almas,

flutuávamos

no canto matinal, sobre a treva do vale.

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Aula 6 - Evocação Mariana- Ler com os alunos.

- Escutar a leitura de Drummond

https://www.youtube.com/watch?v=aWCynuoAbhQ

- Conversar com os alunos sobre o texto, qual a

interpretação deles.

- Analisar desconstruindo o texto.

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Aula 6 - Evocação Mariana- Lembrar que o texto está na IV parte: Selo de Minas,

onde Drummond fala sobre Minas Gerais.

- Local: Igreja- Descrição dos objetos- Características metonímicas. - incenso e a música = Sinestesia- Metáforas. - Mas porque “Mariana”?

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aula 7 - Evocação Mariana- Relembrar assuntos

discutidos na aula passada.

- Mariana - Cidade Mineira, primeira vila, cidade e capital do estado de Minas Gerais.

- Cidade mais rica do ciclo do ouro.

- No entanto, no texto Drummond a descreve muito pobre.

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Aulas 8, 9 e 10

A MÁQUINA DO MUNDO

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A Máquina do Mundo

E como eu palmilhasse vagamenteuma estrada de Minas, pedregosa,e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatosque era pausado e seco; e aves pairassemno céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindona escuridão maior, vinda dos montese de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriupara quem de a romper já se esquivavae só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,sem emitir um som que fosse impuronem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeçãocontínua e dolorosa do deserto,e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcendea própria imagem sua debuxadano rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidandoquantos sentidos e intuições restavama quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,se em vão e para sempre repetimosos mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,a se aplicarem sobre o pasto inéditoda natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz algumaou sopro ou eco ou simples percussãoatestasse que alguém, sobre a montanha,

a outro alguém, noturno e miserável,em colóquio se estava dirigindo:“O que procuraste em ti ou fora de

teu ser restrito e nunca se mostrou,mesmo afetando dar-se ou se rendendo,e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riquezasobrante a toda pérola, essa ciênciasublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida,esse nexo primeiro e singular,que nem concebes mais, pois tão esquivo

(...)

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Aula 8- Apresentar o nome do poema que será trabalhado e

questioná-los: sobre o que imaginam que se trata esse

poema?

- Leitura do poema em sala de aula, cada aluno lendo um

terceto. Dessa forma, incentivar os alunos a realizarem

leitura em voz alta, especialmente de poema.

- Qual parte do que imaginaram estava certa?

- Citar que há uma referência a Luís de Camões, nos

Lusíadas (Canto X, estrofe 80) - deusa Tétis.

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A Máquina do Mundo de Camões“Vês aqui a grande máquina do mundo,

Etérea e elemental, que fabricada

Assim foi do Saber, alto e profundo,

Que é sem princípio e meta limitada.

Quem cerca em derredor este rotundo

Globo e sua superfície tão limada,

É Deus: mas o que é Deus, ninguém o entende,

Que a tanto o engenho humano não se estende.

[…]”

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_de_Cam%C3%B5es

http://literaturaearteonline.blogspot.com/2012/06/episodio-maquina-do-mundo.html

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Aula 9- Forma do poema, com foco no ritmo. (15 minutos)

- Ritmo: lento, pausado. Sugestiona certa melancolia,

relacionada à sua desilusão quanto ao engajamento

político; além disso, ao contexto histórico.

Para evidenciar isso, repetir a leitura de alguns versos,

pedindo maior atenção ao ritmo e à “dificuldade” de

leitura.

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Aula 9- Atividade: formarem grupos (até 4 alunos) e pedir que

entreguem uma paráfrase do poema.

- Retomando o final da aula anterior, traçar uma definição

do que seria a “máquina do mundo” - conhecimento,

respostas.

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Aula 10- Retomando o que a máquina do mundo representa, levantar

um debate mediado pela(o) professora sobre por que o eu-lírico rejeitou a máquina, o conhecimento. Guiar o diálogo à conclusão sobre que tipo de conhecimento se trata: utilitarista (Guerra Fria), usado para “dominar” o outro, por exemplo.

- Após o debate, encerrar a aula situando esse poema no livro como um todo - fechamento que condiz com a ideia principal, de desilusão e apartamento (para com a sociedade).

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Aula 11 (QUESTÕES DE VESTIBULAR)1. (Fuvest 2020) Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.

Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer.

Helena Morley, Minha Vida de Menina.

Perguntas

Numa incerta hora fria perguntei ao fantasma que força nos prendia, ele a mim, que presumo estar livre de tudo eu a ele, gasoso, (...) No voo que desferesilente e melancólico, rumo da eternidade,ele apenas responde (se acaso é responder a mistérios, somar‐lhes um mistério mais alto): Amar, depois de perder.

Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

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Aula 11 (QUESTÕES DE VESTIBULAR)As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que

(A) ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira.

(B) ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais.

(C) a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido filosófico da morte.

(D) a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo.

(E) as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares.

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Aula 11 (QUESTÕES DE VESTIBULAR)2. (FUVEST 2018) Leia o texto e atenda ao que se pede.

A MÁQUINA DO MUNDO

E como eu palmilhasse vagamente

uma estrada de Minas, pedregosa,

e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos

que era pausado e seco; e aves pairassem

no céu de chumbo, e suas formas pretas

(lentamente se fossem diluindo

na escuridão maior, vinda dos montes

e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu

para quem de a romper já se esquivava

e só de o ter pensado se carpia.* (...)

Carlos Drummond de Andrade, Claro enigma.

*carpirse: lamentarse.

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Aula 11 (QUESTÕES DE VESTIBULAR)a) O ponto de vista do eu lírico em relação à “máquina do mundo” ilustra as principais características de Claro enigma? Justifique.

b) Transcreva o verso que sintetiza o evento sublime de que trata o texto.

a) Sim. O ponto de vista do eu lírico em relação à “máquina do mundo” está expresso nos dois últimos versos do fragmento, uma vez que o enunciador assume já ter se esquivado de rompê-la e lamenta-se apenas por pensar em fazê-lo. Entende-se, portanto, a postura de desinteresse do eu lírico “incurioso” em relação à tentativa de compreensão e interpretação do mundo que o cerca oferecida pela máquina. Essa postura está relacionada com o momento de maturidade do autor, sugerido por imagens do fragmento como “fecho da tarde” e acompanhado de certo pessimismo, também presente no trecho por meio de “céu de chumbo” e “próprio ser desenganado”.

A postura de desinteresse com relação à “máquina do mundo” ilustra as principais características de Claro Enigma de muitas maneiras diferentes e complementares. No livro, tal postura é recorrente. A primeira palavra do poema “Dissolução”, que abre o livro, por exemplo, é “Escurece”. A última estrofe do mesmo poema afirma: “Imaginação, falsa demente, já te desprezo. E tu, palavra.” Em “Legado”, o eu lírico se mostra desacreditado da força da poesia como veículo de transformação, quando assinala: “Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu”. Por fim, em “Oficina Irritada”, da mesma forma, ele se refere ao próprio trabalho como “um tiro no muro”, portanto sem função ou efeito.

b) O verso que sintetiza o evento sublime de que trata o texto é “a máquina do mundo se entreabriu”. O poema propõe a discussão acerca da possibilidade dessa “total explicação da vida” por meio de um dispositivo externo ao eu lírico, o que, no momento de maturidade vivido pelo sujeito, não lhe interessa. (ANGLO RESOLVE)

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Aula 11 (QUESTÕES DE VESTIBULAR)3. Cantiga de enganar(...)O mundo não tem sentido.O mundo e suas cançõesde timbre mais comovidoestão calados, e a falaque de uma para outra salaouvimos em certo instanteé silêncio que faz ecoe que volta a ser silênciono negrume circundante.Silêncio: que quer dizer?Que diz a boca do mundo?Meu bem, o mundo é fechado,se não for antes vazio.O mundo é talvez: e é só.Talvez nem seja talvez.O mundo não vale a pena,mas a pena não existe.

Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva

do sujeito maduro, já afastado das ilusões, como se lê no

verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a

ti.” (“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta

a relação do eu com o mundo mediada

(A) pela música, que ressoa em canções líricas.

(B) pela cor, brilhante na claridade solar.

(C) pela afirmação de valores sólidos.

(D) pela memória, que corre fluida no tempo.

(E) pelo despropósito de um faz‐de‐conta.

Meu bem, façamos de conta.De sofrer e de olvidar,de lembrar e de fruir,de escolher nossas lembrançase revertê‐las, acaso se lembrem demais em nós.Façamos, meu bem, de conta– mas a conta não existe – que é tudo como se fosse,ou que, se fora, não era.(...)

Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

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Aula 11 (QUESTÕES DE VESTIBULAR)4. Sonetilho do falso Fernando Pessoa

Onde nasci, morri.Onde morri, existo.E das peles que vistomuitas há que não vi.

Sem mim como sem tiposso durar. Desistode tudo quanto é mistoe que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,à deusa que se rideste nosso oaristo*,

eis‐me a dizer: assistoalém, nenhum, aqui,mas não sou eu, nem isto.

Carlos Drummond de Andrade.Claro Enigma.*conversa íntima entre casais.

Considerando os poemas, assinale a alternativa correta.(A) As noções de que a identidade do poeta independe de sua existência biográfica, no “Sonetilho”, e de que o mito se perpetua para além da vida, em “Ulisses”, produzem uma analogia entre os poemas.(B) As referências a Mefisto (“diabo”, na lenda alemã de Fausto) e a Deus no “Sonetilho” e em “Ulisses”,respectivamente, associadas ao polo de opostos “morte” e “vida”, revelam uma perspectiva cristã comum aos poemas.(C) O resgate da forma clássica, no “Sonetilho”, e a referência à primeira pessoa do plural, em “Ulisses”, denotam um mesmo espírito agregador e comunitário.(D) O eu lírico de cada poema se identifica, respectivamente, com seus títulos. No poema de Drummond, trata‐se de alguém referido como “falso Fernando Pessoa”, já no poema de Pessoa, o eu lírico é “Ulisses”.(E) Os versos “As coisas tangíveis / tornam‐se insensíveis / à palma da mão. // Mas as coisas findas, / muito mais que lindas, / essas ficarão”, de outro poema de Claro Enigma, sugerem uma relação de contraste com os poemas citados.

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.O mesmo sol que abre os céusÉ um mito brilhante e mudo ‐ O corpo morto de Deus,Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,Foi por não ser existindo.Sem existir nos bastou.Por não ter vindo foi vindoE nos criou.

Assim a lenda se escorreA entrar na realidade,E a fecundá‐la decorre.Em baixo, a vida, metadeDe nada, morre.

Fernando Pessoa. Mensagem.

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Aula 11 (QUESTÕES DE VESTIBULAR)5. LegadoQue lembrança darei ao país que me deutudo que lembro e sei, tudo quanto senti?Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceuminha incerta medalha, e a meu nome se ri.

E mereço esperar mais do que os outros, eu?Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.

Não deixarei de mim nenhum canto radioso,uma voz matinal palpitando na brumae que arranque de alguém seu mais secreto espinho.

De tudo quanto foi meu passo caprichosona vida, restará, pois o resto se esfuma,uma pedra que havia em meio do caminho.

Nas palavras sublinhadas no trecho “entre o talvez e o se” (verso 8), o poeta obtém efeito expressivo por meio da derivação imprópria (quando há mudança da categoria gramatical de uma palavra sem modificação de sua forma). Esse processo de formação de palavras só NÃO ocorre no seguinte provérbio:

a) O mentir vem do pouco ver e do muito ouvir.b) Mais vale um não a tempo que um sim retardado.c) Mais se arrepende quem fala do que quem cala.d) Onde entra o beber, sai o saber.e) O fácil de se dizer é difícil de se fazer.