cje0497 - a argumentação na comunicação, philippe breton - completo

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A ARGUMENTAÇÃO NA COMUNICAÇÃO Philippe Breton O homem pratica a argumentação desde o momento em que se comunica. Nesse sentido, tem um saber empírico sobre ela. A Retórica, em sua concepção inicial: Argumentação, raciocínio, busca de uma ordem do discurso, manipulação das opiniões e das consciências, afirmação de que tudo é argumentável; o orador é mais homem de poder que homem de ética. O que é Argumentar: Primeiramente, comunicar. Não é convencer a qualquer preço (ruptura com a retórica). A argumentação se restringe em nome de uma ética. Raciocinar (convencer pela razão). Uma argumentação nunca será universal (ao contrário da demonstração). Esquema de Shannon: emissor >> mensagem >> receptor. Esse esquema serve para explicar a propagação da informação, mas é insuficiente no caso da argumentação. O Triângulo Argumentativo Opinião ORADOR ARGUMENTO AUDITPORIO Contexto de recepção Opinião: deve ser verossímil Orador: aquele que argumenta, para si mesmo ou para os outros Argumento: a opinião apresentada de forma a convencer Auditório: aquele(s) a quem se dirige o orador na tentativa de convencer Contexto de recepção: conjunto das opinões, valores e julgamentos que são partilhados por um auditório previamente ao ato da argumentação, desempenhando papel importante na aceitação ou recusa do argumento apresentado. Distinção entre opinião e argumento O argumento é a forma como a opinião é apresentada, e isso varia de acordo com o auditório a que se destina. “Argumentar é também escolher em uma opinião s aspectos que a tornarão aceitável para um dado público”. A recepção do argumento Nenhuma opinião proposta intervém num terreno virgem. A argumentação não apenas “soma” uma nova idéia; ela implica uma mudança, uma vez que cada indivíduo deverá assumir um novo ponto de vista.

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Page 1: CJE0497 - A argumentação na comunicação, Philippe Breton - completo

A ARGUMENTAÇÃO NA COMUNICAÇÃO Philippe Breton

O homem pratica a argumentação desde o momento em que se comunica. Nesse sentido, tem um saber empírico sobre ela. A Retórica, em sua concepção inicial: Argumentação, raciocínio, busca de uma ordem do discurso, manipulação das opiniões e das consciências, afirmação de que tudo é argumentável; o orador é mais homem de poder que homem de ética. O que é Argumentar: Primeiramente, comunicar. Não é convencer a qualquer preço (ruptura com a retórica). A argumentação se

restringe em nome de uma ética. Raciocinar (convencer pela razão). Uma argumentação nunca será universal (ao contrário da demonstração). Esquema de Shannon: emissor >> mensagem >> receptor. Esse esquema serve para explicar a propagação da informação, mas é insuficiente no caso da argumentação. O Triângulo Argumentativo Opinião ORADOR ARGUMENTO AUDITPORIO Contexto de recepção Opinião: deve ser verossímil Orador: aquele que argumenta, para si mesmo ou para os outros Argumento: a opinião apresentada de forma a convencer Auditório: aquele(s) a quem se dirige o orador na tentativa de convencer Contexto de recepção: conjunto das opinões, valores e julgamentos que são partilhados

por um auditório previamente ao ato da argumentação, desempenhando papel importante na aceitação ou recusa do argumento apresentado.

Distinção entre opinião e argumento O argumento é a forma como a opinião é apresentada, e isso varia de acordo com o auditório a que se destina. “Argumentar é também escolher em uma opinião s aspectos que a tornarão aceitável para um dado público”. A recepção do argumento Nenhuma opinião proposta intervém num terreno virgem. A argumentação não apenas “soma” uma nova idéia; ela implica uma mudança, uma vez que cada indivíduo deverá assumir um novo ponto de vista.

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Limites éticos A dimensão ética da argumentação é delimitada por três questões: 1) Tudo é argumentável? 2) Todos os argumentos são válidos para defender uma opinião? 3) Há limites para a ação que se pode exercer sobre um auditório? 1) O campo da verosimilhança A ciência, a fé religiosa e os sentimentos não podem ser incluídos no campo da opinião. Conhecimento científico – A opinião não pode produzir conhecimentos novos. Fé religiosa – A fé é partilhada e comunicada, mas não pode ser explicada ou argumentada. A consciência do sagrado é um componente atemporal da humanidade. Sentimentos – A metacomunicação: racionalização dos sentimentos Opinião e informação – A informação é um olhar sobre o real que tende a ser único, a síntese de testemunhos concordantes; a opinião é um posto de vista que sepre supões um outro ponto de vista possível. 2) A coerência entre a opinião e o argumento Usar um argumento muito distante da opinião que se defente é um recurso da demagogia. 3) O público livre para aderir à opinião Estratégia para convencer a qualquer preço: levar o auditório a acreditar que possui total liberdade de escolha. No dia-a-dia, o uso da retórica é mais freqüente do que o uso da argumentação. Mecanismos de intervenção na liberdade de escolha A intervenção sobre o vínculo orador/auditório Apelo aos sentimentos Uso da sedução (amálgama: relação de contiguidade entre o orador e suas opiniões) A interenção sobre o vínculo argumento/auditório Uso freqüente de figuras de estilo (tradição retórica) “Clareza” da opinião: a opinião seria automaticamente convincente, por ser clara. A argumentação: um raciocínio de comunicação A argumentação existe? Ou vivemos uma ilusão de argumentação? E tudo seria, na verdade, estratégia, sedução ou poder? Na argumentação, a transferência de opiniões por meio do raciocínio deve ser a linha dominante. Isso não significa que o apelo aos sentimentos, ao poder e à demonstração estejam totalmente ausentes. A razão argumentativa se distingue da razão científica e da retórica das paixões; também se distingue da manipulação e da violência.