cinesioterapia como tratamento complementar na epm 1 doutoranda em ciência animal – escola de...

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CINESIOTERAPIA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR NA EPM 1 Doutoranda em Ciência Animal – Escola de Veterinária/UFG *[email protected]; Doutoranda em Ciência Animal – Escola de Veterinária/UFG *[email protected]; 2 Aluna de Medicina Aluna de Medicina Veterinária da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAV/UnB; Veterinária da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAV/UnB; 3 Residente do Hospital Escola de Residente do Hospital Escola de Grandes Animais da Granja do Torto – FAV/UnB; Grandes Animais da Granja do Torto – FAV/UnB; 4 4 Professor Adjunto de Saúde e Clínica de Equinos – Professor Adjunto de Saúde e Clínica de Equinos – FAV/UnB. FAV/UnB. A mieloencefalite protozoária equina (EPM) é uma doença neurológica progressiva, tendo como agente etiológico o protozoário Sarcocystis neurona. O principal hospedeiro é o gambá (Didelphis sp.) sendo o equino um hospedeiro errático da doença. Os equinos adquirem a doença acidentalmente ao ingerirem alimentos contaminados com fezes de gambás, que possuem esporocistos infectantes. Depois de ingeridos, os esporocistos migram do trato intestinal, via corrente sanguínea, para o sistema nervoso central (SNC). Os sinais clínicos mais comuns são ataxia, alteração no andar, fraqueza e atrofia muscular, disfagia, depressão e balançar compulsivo de cabeça. O diagnóstico presuntivo pode ser baseado na presença de sinais clínicos e na resposta ao tratamento específico. Os exames histopatológico, imunohistoquimico do líquido cefalorraquidiano e PCR, podem confirmar o diagnóstico. O tratamento consiste na utilização de sulfadiazina e pirimetamina ou diclazuril, o qual tem sido preferido pelo menor número de recidivas nos animais. A cinesioterapia é uma forma de tratamento pelo movimento, podendo ser ativo, (realizado pelo paciente), passivo (realizado pelo terapeuta) e ativo assistido (executado pelo paciente com auxílio do terapeuta). Pode ser complementado com alongamentos e fortalecimentos com ou sem sobrecarga. Trabalha a parte motora e sensorial, utilizando estímulos propriocepivos, cutâneos e auditivos para produzir melhora funcional no trabalho motor, sendo recomendada para melhorar a força, a flexibilidade e amplitude de movimento (ADM). Objetiva-se com esse trabalho relatar a eficácia da cinesioterapia no tratamento complementar de EPM. Introdução Introdução Relato de Caso Relato de Caso Conclusão Conclusão A cinesioterapia se mostrou extremamente eficaz na melhora do quadro clínico podendo ser indicada de forma complementar ao tratamento medicamentoso de EPM. Brasília/2010 Brasília/2010 Júlia de M. Moraes 1 ; Juliana V. F. Sales 2 ; Fernanda A. Fonseca 3 ; Lúcio N. Huaixan 3 ; Paulo César Villa Filho 3 ; João Gabriel C. Palermo 3 ; Antônio Raphael T. Neto 4 Um equino macho, 10 anos, Brasileiro de Hipismo foi encaminhado ao Hospital Veterinário de Grandes Animais da UnB (HVET/UnB) com histórico de ataxia, lateralização esquerda da região cervical, ptose labial e apetite caprichoso. Observou-se também secreção nasal bilateral mucopurulenta provavelmente relacionada a pneumonia por falsa via (disfagia). Como terapia instituiu-se diclazuril (30g/VO/SID, por 30 dias), suplemento vitamínico mineral aminoácido e vitamina E e Selênio. Observou-se melhora no quadro em duas semanas. Após quinze dias foi instituído tratamento fisioterápico de cinesioterapia diariamente, para melhora da ataxia, propriocepção e força muscular. O lado esquerdo de animal, principalmente membros anteriores, apresentava menor ADM, maior incoordenação e menor força muscular. O animal adotava base de suporte ampla, principalmente dos membros torácicos (MT). Foram realizadas séries gradativas de exercícios terapêuticos com o animal ao passo, como zigue-zague em cones (Fig. 1), transposição de obstáculos no chão (Fig. 2), caminhada em diferentes tipos de pisos com aclives e declives (concreto, terra, gramado, pedregulhos), subida e descida de rampa de aproximadamente 40º de angulação (Fig. 3) e escovação com movimentos de baixo para cima na região labial. No segundo dia, foram inseridas, nos exercícios de caminhada e rampa, faixas elásticas de diferentes intensidades de tensão, sendo amarradas na região da quartela dos membros e tracionadas para trás (por uma pessoa) ao caminhar (Fig. 4). Inicialmente, foram utilizadas as faixas com maiores cargas nos membros pélvicos (MP), invertendo-as para os MT após quatro sessões, pois estes estavam mais debilitados quanto à força muscular e propriocepção. Foram realizados alongamentos ativos e passivos na região cervical (Fig. 5), lombar e nos membros (Fig. 6), sendo aplicada tensão moderada com uma faixa elástica nos alongamentos de cervical. Os exercícios de cones, obstáculos e subida e descida de rampa foram iniciados com três séries de ida e volta, aumentando para cinco séries ao final de uma semana, diminuindo gradativamente os espaçamentos entre os cones e os obstáculos, aumentando assim, o grau de dificuldade para o animal. Foram realizadas dez sessões. Com a progressão do tratamento, o animal diminuiu consideravelmente a sua base de suporte, obtendo mais equilíbrio e coordenação em estação e ao caminhar. Houve melhora na ADM, principalmente dos MT, diminuição da ptose labial e ganho gradativo de força muscular. Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3 Fig. 4 Fig. 5 Fig. 6

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CINESIOTERAPIA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR NA EPM

11Doutoranda em Ciência Animal – Escola de Veterinária/UFG *[email protected]; Doutoranda em Ciência Animal – Escola de Veterinária/UFG *[email protected]; 22Aluna de Medicina Aluna de Medicina Veterinária da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAV/UnB; Veterinária da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária – FAV/UnB; 33Residente do Hospital Escola de Residente do Hospital Escola de Grandes Animais da Granja do Torto – FAV/UnB; Grandes Animais da Granja do Torto – FAV/UnB; 44Professor Adjunto de Saúde e Clínica de Equinos – FAV/UnB.Professor Adjunto de Saúde e Clínica de Equinos – FAV/UnB.

A mieloencefalite protozoária equina (EPM) é uma doença neurológica progressiva, tendo como agente etiológico o protozoário Sarcocystis neurona. O principal hospedeiro é o gambá (Didelphis sp.) sendo o equino um hospedeiro errático da doença. Os equinos adquirem a doença acidentalmente ao ingerirem alimentos contaminados com fezes de gambás, que possuem esporocistos infectantes. Depois de ingeridos, os esporocistos migram do trato intestinal, via corrente sanguínea, para o sistema nervoso central (SNC). Os sinais clínicos mais comuns são ataxia, alteração no andar, fraqueza e atrofia muscular, disfagia, depressão e balançar compulsivo de cabeça. O diagnóstico presuntivo pode ser baseado na presença de sinais clínicos e na resposta ao tratamento específico. Os exames histopatológico, imunohistoquimico do líquido cefalorraquidiano e PCR, podem confirmar o diagnóstico. O tratamento consiste na utilização de sulfadiazina e pirimetamina ou diclazuril, o qual tem sido preferido pelo menor número de recidivas nos animais. A cinesioterapia é uma forma de tratamento pelo movimento, podendo ser ativo, (realizado pelo paciente), passivo (realizado pelo terapeuta) e ativo assistido (executado pelo paciente com auxílio do terapeuta). Pode ser complementado com alongamentos e fortalecimentos com ou sem sobrecarga. Trabalha a parte motora e sensorial, utilizando estímulos propriocepivos, cutâneos e auditivos para produzir melhora funcional no trabalho motor, sendo recomendada para melhorar a força, a flexibilidade e amplitude de movimento (ADM). Objetiva-se com esse trabalho relatar a eficácia da cinesioterapia no tratamento complementar de EPM.

IntroduçãoIntrodução

Relato de CasoRelato de Caso

Conclusão Conclusão A cinesioterapia se mostrou extremamente eficaz na melhora do quadro clínico podendo ser indicada de forma complementar ao

tratamento medicamentoso de EPM.Brasília/2010Brasília/2010

Júlia de M. Moraes1; Juliana V. F. Sales2; Fernanda A. Fonseca3; Lúcio N. Huaixan3; Paulo César Villa Filho3; João Gabriel C. Palermo3; Antônio Raphael T. Neto4

Um equino macho, 10 anos, Brasileiro de Hipismo foi encaminhado ao Hospital Veterinário de Grandes Animais da UnB (HVET/UnB) com histórico de ataxia, lateralização esquerda da região cervical, ptose labial e apetite caprichoso. Observou-se também secreção nasal bilateral mucopurulenta provavelmente relacionada a pneumonia por falsa via (disfagia). Como terapia instituiu-se diclazuril (30g/VO/SID, por 30 dias), suplemento vitamínico mineral aminoácido e vitamina E e Selênio. Observou-se melhora no quadro em duas semanas. Após quinze dias foi instituído tratamento fisioterápico de cinesioterapia diariamente, para melhora da ataxia, propriocepção e força muscular. O lado esquerdo de animal, principalmente membros anteriores, apresentava menor ADM, maior incoordenação e menor força muscular. O animal adotava base de suporte ampla, principalmente dos membros torácicos (MT). Foram realizadas séries gradativas de exercícios terapêuticos com o animal ao passo, como zigue-zague em cones (Fig. 1), transposição de obstáculos no chão (Fig. 2), caminhada em diferentes tipos de pisos com aclives e declives (concreto, terra, gramado, pedregulhos), subida e descida de rampa de aproximadamente 40º de angulação (Fig. 3) e escovação com movimentos de baixo para cima na região labial. No segundo dia, foram inseridas, nos exercícios de caminhada e rampa, faixas elásticas de diferentes intensidades de tensão, sendo amarradas na região da quartela dos membros e tracionadas para trás (por uma pessoa) ao caminhar (Fig. 4). Inicialmente, foram utilizadas as faixas com maiores cargas nos membros pélvicos (MP), invertendo-as para os MT após quatro sessões, pois estes estavam mais debilitados quanto à força muscular e propriocepção. Foram realizados alongamentos ativos e passivos na região cervical (Fig. 5), lombar e nos membros (Fig. 6), sendo aplicada tensão moderada com uma faixa elástica nos alongamentos de cervical. Os exercícios de cones, obstáculos e subida e descida de rampa foram iniciados com três séries de ida e volta, aumentando para cinco séries ao final de uma semana, diminuindo gradativamente os espaçamentos entre os cones e os obstáculos, aumentando assim, o grau de dificuldade para o animal. Foram realizadas dez sessões. Com a progressão do tratamento, o animal diminuiu consideravelmente a sua base de suporte, obtendo mais equilíbrio e coordenação em estação e ao caminhar. Houve melhora na ADM, principalmente dos MT, diminuição da ptose labial e ganho gradativo de força muscular.

Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3

Fig. 4 Fig. 5 Fig. 6