cinco estudos em história e historiografia da educação

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cinCO estUdOs em hIsTÓria e hisTORiogRAfia dA edUcação Marcus Aurélio Taborda de Oliveira [Org.] coleção História da Educação

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Page 1: Cinco estudos em história e historiografia da educação

Ao explorar a literatura como fonte

para a história da infância e o jornal diário

como fonte e tema para a pesquisa em

História da Educação os autores deste livro

pretendem lançar novos olhares à tra-

jetória da Educação no Brasil. Além de

apresentarem um estudo sobre a relação

entre Literatura e Educação e sobre o diá-

logo entre imprensa, intelectuais e moder-

nidade nos anos 1920, os autores reúnem

neste livro estudos sobre a arquitetura

escolar e sobre os relatórios de profes-

sores escolares. Estes contemplados em

um capítulo que trata das tensões entre o

prescrito e o realizado na escolarização

paranaense na década inicial do século XX.

De acordo com o organizador, Marcus

Aurélio Taborda de Oliveira, "os capítulos

aqui reunidos foram organizados pensan-

do em algumas possibilidades de tipos

específicos de fontes para o labor do his-

toriador da educação, no mesmo movi-

mento que cada um explora a sua base

documental a partir de bases historiográfi-

cas distintas".

Dessa forma, os autores pretendem

agregar informação e possibilitar novas

perspectivas aos historiadores da Educa-

ção, compreendidos aqui como intelec-

tuais que devem desenvolver sua capaci-

dade de contemplar também a dimensão

política da sociedade e da cultura em que

vivem. Trata-se, pois, de uma ferramenta

de reflexão e estudo sobre a História e a

Historiografia da Educação no Brasil, fun-

damental para quem atua nesse campo e

demais interessados em compreender o

rumo da Educação no País e a relação

estabelecida com a sociedade e a cultura,

em diferentes épocas, contextos e com-

preendidas em distintas fontes.9 7 8 8 5 7 5 2 6 2 9 0 0

ISBN 978-85-7526-290-0

O ORGANIZADOR

Marcus Aurélio Taborda de Oli-veira é doutor em História e Filosofiada Educação pela Pontifícia Univer-sidade Católica de São Paulo (2001).Professor da Universidade Federal doParaná, onde atua no Departamento deTeoria e Prática de Ensino e noPrograma de Pós-Graduação em Edu-cação, linha de pesquisa História eHistoriografia da Educação. Tem inves-tigado a história do currículo e das dis-ciplinas escolares. Entre outros traba-lhos publicou os seguintes livros:Educação Física e ditadura militar noBrasil (1968-1984): entre a adesão e aresistência (EDUSF, 2003); Históriadas disciplinas escolares no Brasil:contribuições para o debate (EDUSF,2003) e Educação do corpo na escolabrasileira (Autores Associados, 2006).É bolsista em produtividade de pes-quisa do CNPq.

cinCO estUdOs em

hIsTÓria e hisTORiogRAfia

dA edUcação

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ão

Marcus Aurélio Tabordade Oliveira [Org.]

coleção História da Educação

artindo do entendimento de que o incremento dos estudos emHistória da Educação no Brasil nos coloca frente ao desafio derefletir de forma constante e consciente sobre o estatuto desse

campo de conhecimento, o organizador Marcus Aurélio Taborda deOliveira lança este livro com a proposta de qualificar o historiador daEducação como um intelectual capaz de interpretar a sociedade e a cul-tura também em sua dimensão política.

Neste livro são apresentados pesquisadores e projetos de diferentesperspectivas, mas que têm como denominador comum a crítica per-manente dos modos de se construir a História da Educação no Brasile, conseqüentemente, suas formas de organização cultural. Os autoresse debruçam sobre fontes distintas, como Literatura, Jornalismo,relatórios de professores escolares e a arquitetura escolar, de modo aapresentarem elementos históricos e sinalizar como os contextos dediferentes épocas vêm marcando nossa trajetória na Educação.

P

LEIA TAMBÉM DA COLEÇÃO:

Cultura escolar Práticas e produção dos grupos escolares em Minas Gerais (1891-1918)

Irlen Antônio Gonçalves

História da Educação Ensino e pesquisa

Christianni Cardoso MoraisÉcio Antônio PortesMaria Aparecida Arruda[Orgs.]

www.autenticaeditora.com.br

0800 2831322

capa_cinco_estudos_historia.qxp 3/10/2007 10:42 Page 1

Page 2: Cinco estudos em história e historiografia da educação

Cinco estudos em História eHistoriografia da Educação

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Marcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de OliveiraOrganizador

COLEÇÃO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Carlos Eduardo Vieira

Luciano Mendes de Faria Filho

Marcus Aurélio Taborda de Oliveira

Marcus Levy Albino Bencostta

Maria Cristina Soares de Gouvêa,

Maria Rita de Almeida Toledo

Marta Maria Chagas de Carvalho

Matheus da Cruz e Zica

Sidmar dos Santos Meurer

Cinco estudos em História eHistoriografia da Educação

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Page 5: Cinco estudos em história e historiografia da educação

COPYRIGHT © 2007 BY OS AUTORES

COORDENADOR DA COLEÇÃO HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Luciano Mendes de Faria Filho – [email protected]

CONSELHO EDITORIAL DA COLEÇÃO

Ana Maria de Oliveira Galvão (UFMG);Carlos Eduardo Vieira (UFPR);José Gonçalves Gondra (UERJ);Jorge Carvalho do Nascimento (UFSE);Luciano Mendes de Faria Filho – Editor (UFMG);Rosa Fátima de Sousa (UNESP-Araraquara)

CAPA

Sobre montagem fotográfica realizada a partir doacervo do projeto de pesquisa A imagem fotográfica no estudodas instituições educacionais: os grupos escolares de Curitiba (1903-1971).Pesquisador responsável: Dr. Marcus Levy Albino Bencostta (UFPR/CNPq)

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Eduardo Costa de Queiroz

REVISÃO

Tucha

C574 Cinco estudos em História e Historiografia da Educação/organizado por Marcus Aurélio Taborda de Oliveira . —Belo Horizonte : Autêntica , 2007.

128 p. — (História da Educação)

ISBN 978-85-7526-290-0

1.Educação-história. I.Oliveira, Marcus Aurélio Taborda de. II.Título. III.Série.

CDU 37(091)

B E L O H O R I Z O N T ERua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários30140-071 . Belo Horizonte . MGTel: (55 31) 3222 68 19TELEVENDAS: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.bre-mail: [email protected]

S Ã O P A U L OTel.: 55 (11) 6784 5710e-mail: [email protected]

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Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora.Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida,seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópiaxerográfica sem a autorização prévia da editora.

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SumárioSumárioSumárioSumárioSumário

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Apresentação – Apresentação – Apresentação – Apresentação – Apresentação – Mirando fontes, inquirindo a HistoriografiaMarcus Aurélio Taborda de Oliveira....................................................................

Estudo 1Estudo 1Estudo 1Estudo 1Estudo 1Jornal diário como fonte e como tema para a pesquisa emJornal diário como fonte e como tema para a pesquisa emJornal diário como fonte e como tema para a pesquisa emJornal diário como fonte e como tema para a pesquisa emJornal diário como fonte e como tema para a pesquisa emHistória da Educação: um estudo da relação entre imprensa,História da Educação: um estudo da relação entre imprensa,História da Educação: um estudo da relação entre imprensa,História da Educação: um estudo da relação entre imprensa,História da Educação: um estudo da relação entre imprensa,intelectuais e modernidade nos anos de 1920intelectuais e modernidade nos anos de 1920intelectuais e modernidade nos anos de 1920intelectuais e modernidade nos anos de 1920intelectuais e modernidade nos anos de 1920Carlos Eduardo Vieira...............................................................................................

Estudo 2Estudo 2Estudo 2Estudo 2Estudo 2A literatura como fonte para a História da Infância:A literatura como fonte para a História da Infância:A literatura como fonte para a História da Infância:A literatura como fonte para a História da Infância:A literatura como fonte para a História da Infância:possibilidades, limites e algumas exploraçõespossibilidades, limites e algumas exploraçõespossibilidades, limites e algumas exploraçõespossibilidades, limites e algumas exploraçõespossibilidades, limites e algumas exploraçõesMaria Cristina Soares de Gouvêa, Luciano Mendes de Faria Filho eMatheus da Cruz e Zica..............................................................................................

Estudo 3Estudo 3Estudo 3Estudo 3Estudo 3Tensões entre o prescrito e o realizado na escolarizaçãoTensões entre o prescrito e o realizado na escolarizaçãoTensões entre o prescrito e o realizado na escolarizaçãoTensões entre o prescrito e o realizado na escolarizaçãoTensões entre o prescrito e o realizado na escolarizaçãoparanaense na década inicial do século XX:paranaense na década inicial do século XX:paranaense na década inicial do século XX:paranaense na década inicial do século XX:paranaense na década inicial do século XX:experiências de professores primários a partir da análiseexperiências de professores primários a partir da análiseexperiências de professores primários a partir da análiseexperiências de professores primários a partir da análiseexperiências de professores primários a partir da análisedos relatórios da instrução públicados relatórios da instrução públicados relatórios da instrução públicados relatórios da instrução públicados relatórios da instrução públicaMarcus Aurélio Taborda de Oliveira e Sidmar dos Santos Meurer...........

Estudo 4Estudo 4Estudo 4Estudo 4Estudo 4Os sentidos da forma: análise material das coleções deOs sentidos da forma: análise material das coleções deOs sentidos da forma: análise material das coleções deOs sentidos da forma: análise material das coleções deOs sentidos da forma: análise material das coleções deLourenço Filho e Fernando de AzevedoLourenço Filho e Fernando de AzevedoLourenço Filho e Fernando de AzevedoLourenço Filho e Fernando de AzevedoLourenço Filho e Fernando de AzevedoMarta Maria Chagas de Carvalho e Maria Rita de Almeida Toledo.........

Estudo 5Estudo 5Estudo 5Estudo 5Estudo 5Desafios da Arquitetura Escolar: construção de uma temáticaDesafios da Arquitetura Escolar: construção de uma temáticaDesafios da Arquitetura Escolar: construção de uma temáticaDesafios da Arquitetura Escolar: construção de uma temáticaDesafios da Arquitetura Escolar: construção de uma temáticaem História da Educaçãoem História da Educaçãoem História da Educaçãoem História da Educaçãoem História da EducaçãoMarcus Levy Albino Bencostta...............................................................................

Os autoresOs autoresOs autoresOs autoresOs autores......................................................................................................................

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ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentação

O incremento dos estudos em História da Educação no Brasil – dado o alargamen-to que a renovação historiográfica experimentada nos últimos anos tem oferecido aospesquisadores – nos apresenta o desafio de refletir de forma permanente sobre o estatutodesse campo de conhecimento. Do entrecruzamento entre a dimensão empírica, demarcadapela visita a diferentes acervos e arquivos na busca da redefinição do suporte documental,ou das novas formas de tratar historiograficamente temas diversos, alguns novos, ou-tros revisitados, surge a necessidade de qualificar o historiador da educação como umintelectual que produz interpretações sobre a sociedade e a cultura que não são isentas deuma dimensão política. Nesse desiderato se inscreve, com base na pluralidade de suporteteóricos e bases documentais, a necessidade de unificar em alguma medida a narrativahistoriográfica como crítica da cultura.

Neste livro, pretendemos justamente contemplar esse duplo movimento de afirma-ção do campo da História da Educação. Em um plano, dar visibilidade a projetos distin-tos que se valem de teorias e fontes também distintas para pensar a História da Educação.Em outro, unificar essas diferentes iniciativas pela articulação entre a produção de fontese a produção historiográfica. No primeiro caso, pretende-se dar a ver as possibilidadeslatentes de fontes diversas, tais como a literatura, os jornais diários, os relatórios deprofessores escolares, as coleções e a arquitetura escolar, e sua potencialidade para aescrita da História da Educação. No segundo caso, procurando localizar onde diferentessuportes teóricos se aproximam, se afastam ou se excluem, de modo a captar, até mesmo,a contribuição de diferentes campos disciplinares para o fazer historiográfico.

Assim, do cruzamento das preocupações com as fontes e com a historiografianasceu essa iniciativa de articular diferentes pesquisadores e projetos, portadores de pers-pectivas distintas, mas que têm como horizonte comum a crítica permanente dos modosde fazer a história da educação no Brasil e, por corolário, as formas de organização da

cultura neste país.

Mirando fontes, inquirindo a Historiografia

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Trata-se de um conjunto atual e original de trabalhos ainda não publicados, mas

que já passaram pelo crivo da apresentação e discussão em congressos, seminários ou

simpósios que agregam os historiadores da educação. Entendemos que sua publicação

no formato de livro atenderá parte das necessidades do campo, qual seja, aquela que se

refere a qualificação permanente da pesquisa em História da Educação sem, contudo,

abrir mão de um olhar crítico para aquilo que se vem produzindo na historiografia

brasileira nos últimos anos e aquilo que se constitui como forma de produção da cultura

– não só acadêmica – no Brasil. Dessa maneira, os capítulos aqui reunidos foram orga-

nizados pensando em algumas possibilidades de tipos específicos de fontes para o labor

do historiador da educação, no mesmo movimento que cada um explora a sua base

documental fundamentada em fontes historiográficas distintas.

No primeiro capítulo, Carlos Eduardo Vieira mostra a possibilidade de compreen-

der as características e as potencialidades dos jornais diários para a História da Educação.

Para o autor,

o jornal impresso diário representou o principal ramo da chamada grande impren-

sa, em termos de impactos sociais, até a primeira metade do século vinte no Brasil.

Nesse sentido o jornal é enfocado como fonte e como tema de pesquisa, ao passo

que suas potencialidades são exploradas como documento (suporte de sentidos) e

como problema de pesquisa social (ator político). Essa forma de abordagem apóia-

se em uma premissa cara à pesquisa histórica, ou seja, a necessidade, no plano da

operação historiográfica, de situar as fontes como feixes de relações que trazem as

marcas de conflitos presentes em diferentes contextos sociais. O jornal, entendido

como potente mecanismo de intervenção política e de produção de memória

social, é, então, problematizado de tal forma que o texto jornalístico é interpretado

como um enunciado, isto é, como um ato de fala que visa fixar formas de pensar,

julgar e agir.

Já no segundo capítulo, Maria Cristina Soares de Gouvêa, Luciano Mendes de Faria

Filho e Matheus da Cruz e Zica exploram as possibilidades da literatura voltada para

crianças como fonte para o desenvolvimento de histórias da infância. Assim, situam as

discussões sobre a história da infância no contexto da nova história cultural, ao mesmo

tempo em que buscam na literatura infantil pistas que permitam entender os sentidos

dado a infância e à sua educação na sociedade brasileira. Para os autores

[...] ao trabalhar a literatura infantil como fonte, cabe considerar que as condutas,

ações e hábitos ali expressos constituem expressões de comportamentos, valores

ou hábitos socialmente legitimados. Deve-se ter em vista que tal produção não nos

fala da vivência concreta de crianças num determinado período histórico, mas da

expressão de padrões de comportamento e conduta referentes a tal período, o que

também constitui importante aspecto a ser analisado pelo historiador na constru-

ção de uma história à infância. Os textos indicam-nos expectativas sociais em

relação a infância (e também ao adulto) num determinado período histórico e em

certo grupo social, revelando as representações sociais que informam a produção

de tais textos.

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O terceiro estudo, de autoria de Marcus Aurélio Taborda de Oliveira e Sidmar dos

Santos Meurer, busca problematizar, com base em traços dos relatórios de professores

primários enviados às autoridades, a experiência daqueles professores nos anos iniciais

do século XX, de modo a entender a distância entre o que se exigia dos professores e o que

eles realmente faziam no seu cotidiano. Foge-se, assim, de um esquema simplista que vê

a escola e o professor como destituídos de quaisquer possibilidades de reação diante dos

constrangimentos normativos, sobretudo o aparato legal. Entendem os autores que

os registros dos professores que, sobretudo, faziam os seus relatórios em função docontrole governamental pela via das exigências legais, ainda assim, permitem quereconheçamos que nada é mais equivocado do que supor que aqueles homens emulheres simplesmente corroboravam o existente, fosse no plano das proclama-ções oficiais, fosse no plano das preocupações com os limites e as possibilidades dassuas ações cotidianas como professores. Assim, ao tentarmos percorrer parte dasua experiência, obviamente mediata pelos seus próprios relatos, procuramos tra-ços daquilo que poderia ser tomado como parte do cotidiano das escolas públicasnaqueles anos. Claro está que aquele cotidiano não coincidia com o que esperavamas autoridades do estado, por mais que estas pudessem pensar em um projeto de‘civilização’ pela via escolar. Antes, os professores, a maioria deles também con-vencida da necessidade de modernização da instrução pública, se debatiam entre aprescrição legal e os constrangimentos do dia-a-dia, fosse na inadequação dosespaços e na irregularidade dos tempos, na carência de materiais e equipamentos,fosse na superlotação das salas de aula, na impossibilidade de atendimento aos

preceitos da higiene e da renovação metodológica do ensino.

Para o quarto estudo, Marta Maria Chagas de Carvalho e Maria Rita de Almeida

Toledo exploram as condições de produção – além das demais manifestações da dimen-

são material – das coleções de Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, dois dos mais

destacados expoentes do assim chamado movimento da Escola Nova no Brasil. Recupe-

rando perspectivas já abordadas em outros trabalhos, procuram entender a dinâmica de

constituição das coleções situando o movimento de ampliação das práticas de leitura e da

produção de livros. Segundo elas,

no Brasil a situação que caracteriza o boom das coleções, é o florescimento domercado editorial nas décadas de 1920 e 1930, tanto em termos do crescimentodo número de títulos, autores e das tiragens, quanto pelo número de editoras quenascem no período. E com a descoberta de que o livro é um bom negócio, que ascoleções se multiplicam, tendo em vista chegar àqueles que não liam os livrosbrasileiros e que agora podem passar a lê-los. Se a prática de trabalhar com novasestratégias editorias – entre elas, com coleções – na década de 1920, ainda é tímida,na década de 1930 vai se intensificar e se difundir. Ordenando leitores e leituras pormeio da montagem das coleções, das mudanças dos formatos ou da própria espe-cialização da editora, a expansão da indústria inventa o público e enquadra textose leitores às suas prescrições. As editoras, nesse movimento, tomam para si odireito de saber, ou de entender melhor o gosto do público e de suas necessidades,encomendando aos autores produtos definidos ou enquadrando-os em coleções

definidoras do perfil do leitor.

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Para finalizar, o trabalho de Marcus Levy Albino Bencostta apresenta um balanço

das possibilidades da arquitetura escolar como objeto de pesquisa para os historiadores

da educação. Para o autor

o princípio deste ensaio é uma tentativa de fomentar o interesse de pesquisadores

brasileiros para uma história da arquitetura escolar mediante o uso de questões e

exemplos de como este tema pode ser traduzido como uma contribuição pertinen-

te à nossa historiografia. E, nesse sentido, retomo aqui algumas notas de leitura de

como ele tem enriquecido e potencializado a pesquisa em história da educação

[...]. A arquitetura escolar e o espaço por ela determinado foram aqui propostos

como portadores e transmissores de mensagens de sentidos múltiplos, não deixan-

do de lado, evidentemente, os sujeitos a quem se destinam, quais sejam, alunos e

professores, os primeiros receptores de seus significados e que fazem uso do espaço

como indivíduo-destinatário. Contudo, ao experienciarem o espaço escolar – estar

no local onde convergem todas as mensagens e significados espaciais –, eles tam-

bém reagem a estas mensagens, segundo as características próprias do universo

escolar e suas intercessões com as realidades socioculturais do espaço-tempo dado.

Logo, para se entender a escola e suas transfigurações, é significativo também

compreender como as linguagens arquiteturais penetram nesse espaço permeado

pelos discursos ramificados na sociedade e na história. E, desse modo, temos na

importância dos estudos sobre a arquitetura e o espaço escolar elementos analíti-

cos que demonstram que a gramática espacial insere-se no tempo e o edifício

escolar, em um espaço que dialoga com as transformações do tecido urbano, e

mais proximamente com as políticas educacionais que determinavam a constru-

ção desse tipo de prédio. Assim, é preciso considerar como os debates arquiteturais

repercutiam diante das concepções de escola, pensada pelas autoridades de ensino

e arquitetos, procurando, na medida do possível, verificar tipologias adotadas por

certas correntes artísticas e culturais, com o objetivo de identificar os modos

construtivos, elementos decorativos e programas iconográficos, e sua relação com

os modos pedagógicos sobre o espaço escolar.

Com esses cinco estudos pretendemos dar a nossa contribuição para o incremento

dos debates sobre alargamentos documentais e potencialidades historiográficas para os

historiadores da educação no Brasil. Esperamos que sua leitura instigue miradas e ajude

a formular problemas, a renovar inquietações para todos aqueles preocupados com a

escrita da história da educação brasileira.

Marcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de OliveiraMarcus Aurélio Taborda de Oliveira

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