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"No 'CSI' é tudo falso", diz um verdadeiro investigador forense Zoom // Ciência Raymond Murray, autor da bíblia da geologia forense, veio a Portugal conhecer a investigadora Ana Guedes. Hoje uma conferência no Porto PEDRO AZEVEDO Raymond Murray apresenta casos e técnicas hoje às 14h30 na FCUP

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Page 1: Ciência 'CSI' é tudo falso, verdadeiro investigador forense MARTA F. REIS mana. reis@ionline.pt Qual foi o caso mais complicado que já resolveu? Raymond Murray endireita-se na cadeira

"No 'CSI' é tudo falso", diz umverdadeiro investigador forense

Zoom // Ciência

Raymond Murray, autor da bíblia da geologia forense, veio a Portugalconhecer a investigadora Ana Guedes. Hoje dá uma conferência no Porto

PEDRO AZEVEDORaymond Murray apresenta casos e técnicas hoje às 14h30 na FCUP

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MARTA F. REISmana. [email protected]

Qual foi o caso mais complicado que járesolveu? Raymond Murray endireita-se

na cadeira do hotel em Lisboa e começa a

contar. "Um homem entra na cave e des-

liga a luz. Sobe as escadas, viola e agride a

vítima Na luta, três vasos caem ao chão.

O suspeito tinha terra dos vasos nos sapa-

tos, mas havia outro pormenor interessan-

te: três pedaços de linha azul (talvez ela

estivesse a costurar e tivesse deixado res-

tos de linha no vaso)" Apesar de tudo bater

certo, o caso não terminou bem. Houve

um pedido do tribunal para reexaminar

provas, e não chegou para fazer a diferen-

ça. "Às vezes estas coisas acontecem: os

advogados de defesa argumentaram quea vítima tinha encorajado a agressão e o

suspeito foi ilibado." O pioneiro da geolo-

gia forense nos EUA, hoje com 81 anos,

arrepende-se de repente de ter escolhido

um caso em que a ciência não foi útil. "Já

vi isto acontecer muitas vezes, mas é o nos-

so sistema de justiça e funciona bem."

Murray está em Portugal para uma con-

ferência na Faculdade de Ciências da Uni-

versidade do Porto. Gosta sobretudo de

contar as histórias do crime, desabafa, umtalento que lhe valeu uma colaboração

televisiva na série "Forensic Files". "Eram

casos reais, enquanto no 'CSI' é tudo fal-

so", resume. Mas a principal crítica à série

que deu fama às ciências forenses nem é

essa: "O 'CSI' incomoda-me. Vemo-los a

trabalhar no laboratório, e depois a pegarnuma arma e a ir à procura do crimino-so. Os investigadores têm de ser indepen-dentes, trata-se de garantir a integridadedas provas com a ajuda da ciência."

A Portugal vem sobretudo para conhe-

cer a professora Ana Guedes. "Lá fora é

muito conhecida pelo trabalho que temfeito sobre a análise da cor do solo." Com-

parar a cor dos minerais é o primeiropasso na análise de provas. "Quando acor é diferente, a probabilidade de as

amostras virem do mesmo sítio é mui-to reduzida."

Reformado da Universidade de Monta-

na, Murray passou 35 anos a aprofundar

a geologia forense, que fundamenta teo-rias de crime apenas com a análise deminerais. "Na verdade o pioneiro foi o

Sherlock Holmes. Conseguia dizer se

alguém tinha estado em Londres pela suji-dade nas calças e sapatos", brinca o geó-

logo. Depois da muito avançada ficção de

Arthur Conan Doyle, o primeiro caso de

polícia foi assinado pelo químico alemão

Georg Popp, em 1904. Mais uma vez Mur-

ray arregala os olhos para contar a histó-

ria O suspeito tinha terra nos sapatos, três

camadas. A camada superior tinha gotasde cola e minerais, que coincidiam com o

passeio perto da casa do suspeito. A segun-da camada tinha minerais que coincidam

com a cena onde o corpo foi encontrado.A terceira camada tinha tijolo e pó de car-vão de um castelo onde foi encontrada a

arma do crime, o cachecol da vítima. "O

suspeito dizia que só tinha andado no cam-

po nesse dia, mas não tinha nenhuns mine-

rais compatíveis com o álibi. Foi preso."

Depois do primeiro caso em 1973, a pedi-do de um agente federal que lhe entrou

pelo gabinete com dois sacos de terra paraanálise, Murray tem-se dedicado a pales-tras e a casos especiais do ponto de vista

científico. Em 2004 publicou a bíblia da

geologia forense, "Evidence From TheEarth", e está a ultimar a segunda edição.

Geólogo norte--americano lembra que

o primeiro CSI foiSherlock Holmes, na

ficção de Conan Doyle

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Os mineraisnão enganamUm dos trabalhos comuns na

geologia forense é compararamostras de minerais do local

do crime com vestígios no

suspeito. A cor deve coincidir.

Depois parte-se para a análisemais refinada: minerais

pesados menos comuns.

Já vi istoem algum lado

O 'CSI' olha para umas pedras ediz que as viu há 1 5 anos numsítio esquisito, de que se lembra

perfeitamente. Murray explica

que é mesmo assim: encontrar

vestígios minerais num corpo

que não coincidem com o local

do crime, e saber localizá-los no

mapa, pode resolver um caso.

Um Van Goghpintado ontem

Os geólogos forenses podemajudar em casos de fraude deminerais ou de arte -identificam o mineral ao

microscópio ou raio-X, oudescobrem pigmentos numatela que não existiam na altura

em que o autor viveu.

Mas eu nuncaestive 1á...

A técnica é o geosourcing e

exige um conhecimento

profundo da geologia mundial.

Costuma destruir os álibis dos

mais incautos. 'Têm pedrasúnicas do Afeganistão, de

Portugal, mas nunca foram lá."

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A possibilidade de Atenas

PRIMEIRO PLANO

Um verso de o'Neill resume o actual Portugal: "Prontifica-se a fazer,mas fica-se no dizer. Pronto, fica-se, que se lhe há-de fazer?"

Os meus últimos telefonemas paraa Chrys, em Atenas, têm-se caracte-rizado por um romantismo invul-

gar. Falamos do FMI, da dívida so-

berana, de impostos, de cortessalariais. Comparamos dados, faze-mos estimativas, discutimos ten-dências, analisamos o carácter das

nossas respectivas nações. Nuncanos demos tão bem. Embora, é cla-

ro, tenhamos os nossos pequenosproblemas. Nos últimos tempos, esem dúvida como resultado de umaaturada observação da minha pes-soa por um período de exactamen-te 20 anos, deu-lhe para desenvol-ver a teoria (um pouco ligeira, parauma historiadora) segundo a qualos portugueses são os últimos bár-baros, escorraçados de toda a Euro-

pa e finalmente estabelecidos aquià beira-mar, por não haver lugarpara irem mais além. Tenho-lherespondido patrioticamente, suge-rindo-lhe que contemple os seus

compatriotas - um argumento que

sempre me pareceu demolidor.A minha lusitana fé começou, no

entanto, a vacilar. Foi quando medei conta, de há um ano para cá,

que uma espécie de miasma pesti-lento invadiu tudo na sociedade

portuguesa, tofnando-a uma coisainforme e vaga, feita de indiferençae impunidade garantida. Já era emparte assim? Certamente, mas nãocom a dimensão que o fenómenoentretanto adquiriu, e que se tra-duz numa perda generalizada de

confiança dos portugueses não só

nos políticos mas também uns nosoutros. E que nos põe de pé atrás

quando alguém se compromete afazer o que quer que seja, porque omais certo é não o fazer. Como noverso de o'Neill: "Prontifica-se a fa-

zer, mas fica-se no dizer. Pronto,fica-se, que se lhe há-de fazer?" Por-

tugal entrou em regime de prontofi-quismo quotidiano.

Como pano de fundo de tudo istoestá, é claro, a poluente atmosfera

que a governação de Sócrates criouentre nós. Uma atmosfera de des-

respeito pela verdade e pela verosi-

milhança e de crença patológica naomnipotência do pensamento (vul-go "optimismo").

Esta atmosfera contaminou, natu-ralmente, a actual liderança do

PSD, que se prepara (a não ser quealguma subtileza me escape por in-

teiro) para arcar com culpas quenão tem de ter. Muitos dos que ro-deiam Passos Coelho, dos petizesaos graúdos, têm o cérebro disponí-vel para a irrealidade. Só isso expli-ca que não consigam perceber oinacreditável seguro de vida que, se

se decidirem a chumbar o Orça-mento, garantem a Sócrates. Alémde, é claro, mergulharem aindamais o país no caos do que um Só-

crates internacionalmente vigiadopoderia aspirar a fazer, apesar dos

seus consabidos talentos na maté-ria.

Este Natal, em Atenas, receio bemolhar para Portugal e ser forçado a

concordar com a Chrys. Daqui acinco anos, prevê o FMI, a Grécia jáestará melhor que Portugal. Aindame apanho tentado a ficar por lá.Seria um investimento no futuro.Professor do Departamentode Filosofia da Universidade do PortoEscreve à quarta-feira

Paulo Tunhas

ODespeço-me dos leitores. Cumpre-me agradecer ao primeiro e segun-do directores deste jornal, que nun-ca interferiram em nada do que escre-vi, bem como aos jornalistas queaqui trabalham ou trabalharam e comquem contactei, nomeadamente aomeu amigo Paulo Pinto Mascare-nhas. Boa sorte!

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Governoantecipa bolsasmas paga apenasuma parte

Samuel Silva

• As bolsas de estudo dos estudantesdo ensino superior vão começar a ser

pagas hoje. Depois de anunciar que os

apoios começavam a ser liquidadosno final da semana, o Ministério doEnsino Superior (MCTES) antecipounovamente a data. Mas os estudantesvão receber apenas o equivalente àbolsa mínima enquanto não são publi-cadas as normas técnicas que regulamo acesso à Acção Social. As associaçõesacadémicas acusam o Governo de es-

tar a tentar ganhar tempo.O Governo reiterou ontem que as

normas técnicas se encontram "emfase de conclusão, dentro dos prazosprevistos", e anunciou que as bolsasvão começar a ser pagas hoje a cercade 58 mil alunos. As regras do novoRegulamento de Atribuição de Bolsas,

publicado em Agosto, levaram a que9500 alunos tenham perdido direitoao apoio do Estado.

Os estudantes acusam o Governode estar a fazer uma "manobra dediversão" para "ganhar tempo". "OMCTES tem que ser honesto. O quevai ser pago não são as bolsas, masapenas 98,60 euros, que equivalem àbolsa mínima", alerta o presidente da

Associação Académica da Universida-de do Minho (AAUM), Luís Rodrigues.Em média, um estudante portuguêsrecebe cerca de 200 euros de bolsa de

estudo, pelo que a maioria dos alunos

vai ter que enfrentar os primeiros me-ses de aulas com apenas metade dovalor a que têm direito.

"É inadmissível que em pleno anolectivo ainda não tenhamos conheci-mento das normas técnicas", consi-dera Luís Rodrigues, recordando que,após a publicação desse documento,os serviços de Acção Social das univer-sidades têm ainda mais 90 dias paraanalisar as candidaturas. "Os estudan-tes podem estar à espera das bolsasaté Janeiro", alerta.

As direcções das associações aca-démicas estiveram reunidas anteon-tem no Porto, para analisar a situa-ção. "Houve uma clara inoperânciae incapacidade da Direcção-Geral doEnsino Superior em cumprir prazosque mexem com as vidas dos alunose das famílias", criticam os dirigentesassociativos.

Durante a reunião, os estudanteselaboraram a sua proposta de normastécnicas, que vai hoje ser entregue aoMCTES. Os estudantes pedem também

que sejam congelados os aumentosdas senhas de refeição e do alojamen-to nas residências universitárias.

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Bolsas de acçãosocial começama ser pagas apartir de hoje

Ensino Superior

As bolsas de Acção Social noEnsino Superior vão começar aser pagas hoje e não seja sexta-fei-

ra, conforme estava previsto,anunciou ontem o Ministério daCiência, Tecnologia e Ensino Su-

perior (MCTES).Os 58.766 alunos dos sistemas

público e privado, que concluíramo respectivo processo de candida-tura e cujas instituições tenhamcompletado o processo de trans-missão de dados à Direcção Geraldo Ensino Superior (DGES), co-

meçam a receber aprimeira pres-tação da bolsa a partir de hoje, re-fere o MCTES. O ministério es-clarece que "o universo abrangi-do correspondente à totalidadedos alunos que demonstrarammanter as condições de elegibili-dade, correspondendo a 86,2%dos 68 181 estudantes do EnsinoSuperior público e privado que secandidataram até Agosto".

Recorde-se que estão por defi-nir as normas técnicas que fixamo limiar de elegibilidade. Numatentativa de acelerar o processo,as federações académicas vãoapresentar uma proposta ao se-cretário de Estado do Ensino Su-

perior. Os estudantes vão também

pedir reuniões aos governos civise ao primeiro-ministro. ¦

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¦ Estudantes entregamproposta de alteraçãodas regras para evitaratrasos no pagamento

• ANDRÉ PEREIRA

OMinistério do Ensino Su-

perior antecipou para hojeo início do pagamento das

bolsas de acção social aos 58 766estudantes dos siste-

mas público e priva-do. A informação foi

avançada ontem, umdia após o Governoter anunciado o pa-gamento para sex-ta-feira.

O Ministério es-clarece que o universo

"abrangido corres-ponde à totalidade dos alunos quedemonstraram manter as condi-

ções de elegibilidade", ou seja, 86,2por cento dos 68 181 estudantes

que se candidataram até Agosto.

Com excepção da exclusão de

candidatos com património el eva-do (acima de cem mil euros), 'não

se espera uma redução do nú] nerode estudantes apoiados, ant:s se

prevendo um reforço das bolsas

dos mais carenciados" acresc enta

o gabinete de Mariano Gago.O pagamento das bolsas moti-

vou uma reunião de urgência i das

federações e associações de estu-dantes. No final do encontro an-

teontem, no Port 3, foidecidido entregí r aoministro da ti telauma proposta "p :on-ta a ser aprovada " de

regras técnicas, ale-

gando-se queoai raso

na publicação está a

impedir o pagamentodebolsas. |

"Os estudantes fi-zeram num dia o que as entidades

competentes demoraram um r lês e

meio a fazer" condenou Ricardo

Morgado, presidente daFederiçãoAcadémica do Porto. ¦

j

58 766 alunosdo Superiorrecebembolsa deacção social

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SOCIOLOGIA DO DESPORTO

O treino físico no ensino superior militar

Sempre

tivemos pela ins-tituição militar grandeapreço, e até orgulhoem a ter servido, comlealdade, com dedica-

ção e com esforço, quatro déca-das, mas também sempre apren-demos a destrinçar a instituiçãoe alguns dos seus servidores que,comprovadamente, não tinhamperfil adequado à instituição, jáque não eram leais, não eramcompetentes e não cumpriam as

"regras" minimamente, e algunsaté chegaram a ter processos ju-diciais, que acabaram por ser ar-quivados não por se comprovar asua inocência mas porque pres-creveram.

Mas a instituição não tem na-da que ver com esses casos, poisacontecem em todas as profis-sões. O problema é que a carreiradas armas não é só uma profis-são, é muito mais que isso, ela é

também um sacerdócio e de talforma, e com tanta frontalidade,que, ainda jovens, juram defen-

der a Pátria, com o sacrifício daprópria vida se tal for necessário.

Ora servir uma instituição co-mo esta é não só um privilégiocomo uma honra que, inclusive,alguns não merecem.

Numa instituição deste teor,temos para nós que o ensino temde ser de excelência e, sobretudo,o mais actualizado possível, ten-do por objectivo dotar os futurosoficiais com uma preparação su-perior, em todos os campos, in-cluindo o treino físico.

A "tragédia", no campo do en-sino militar, é que sob o ponto devista científico (?) e pedagógico a"academia" não tem autonomia,isto é, o comandante não estáequiparado a "reitor" e há sem-

pre a sobreposição de pessoas,no "E.M.E" que pretendem exer-cer a tutela, em certas áreas, semconhecimento científico e peda-gógico e que comprovadamenteadmitem que se debruçaram seis

meses sobre as ditas matériasquando eram j ovens tenentes . . .

A estruturação do treino físicomilitar, aonde se inclui aquiloque por lá ainda se denomina de

"Educação Física", tem obrigato-riamente que obedecer a três pa-râmetros da aprendizagem: ateoria, o treino (a prática) e a prá-tica pedagógica (o ensinar a en-sinar).

Só assim será possível, e já ofoi durante alguns anos, formar,neste campo, pessoas responsá-

veis e que saibam o que estão afazer. Caso contrário, os alunos,primeiro, e os instruendos, de-pois, correm riscos que os po-dem levar à morte e se dúvidashouvesse lembramos aqui os 17mortos em "acidentes" nos co-mandos especiais, que para"apaziguar" a opinião pública"fecharam" durante alguns anos,

possivelmente para "reflexão" . . .

Pensamos que é oportuno le-vantar a questão, neste momen-to, já que temos hoje como chefedo Estado-Maior do Exército umgeneral que é dos mais esclareci-dos e mais bem preparados quetivemos até hoje, fazendo ques-tão de acrescentar, ainda, e tam-bém dos mais sérios.

Daqui apelamos a que o

"E.M.E" se lembre de Piaget e

que compreenda que "a lógica é

a moral do pensamento", assimcomo "a moral é a lógica da ac-ção".

E se há instituição que estápreparada para perceber, aceitare acolher, no seu seio, estes con-ceitos ela é seguramente a insti-tuição militar.

Então criem um grupo de tra-balho multidisciplinar sob o

"apadrinhamento" da "Faculda-de de Cinesiologia" da "U.T.L."(ainda na Cruz Quebrada) , e de-pois poderão avaliar como valeua pena salvar algumas geraçõesde viverem, ainda "no obscuran-tismo", nesta área do saber.

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Estudantesacampamà porta doMinistério

Alunos vão protestar paraacelerar atribuição de bolsas.

Ana [email protected]

Vão ser cerca de 20 os dirigentesassociativos e os representantesde estudantes da Universidadede Coimbra que vão acampar à

porta do Ministério da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior(MCTES), já a partir de amanhã.

Esta é uma das várias medidasde protesto dos alunos do EnsinoSuperior de Coimbra, aprovadaem reunião magna. Os estudan-tes prometem "só desmobilizardepois da publicação das normastécnicas" do novo regulamentode atribuição de bolsas, adiantaao Diário Económico o presiden-te da Associação Académica deCoimbra, Miguel Portugal.

Apesar do MCTES planear o

lançamento destas novas re-gras para o início da próximasemana, as 61 associações e fe-derações estudantis aprova-ram, ontem, durante o Encon-tro Nacional de Dirigentes As-sociativas (ENDA), que decor-reu no Porto, várias acções nosentido de pressionar a publi-cação das novas normas quevão ditar quem entra ou saideste tipo de apoio social.

Os dirigentes estudantisconsideram "inaceitável"que, após um mês do início doano lectivo, ainda vivam

numa situação de indefini-ção quanto à sua frequênciano ensino superior". Assim,hoje o MCTES deverá recebervia correio uma proposta denormas técnicas elaboradaspelos próprios estudantes.Documento que também vaiser entregue nos Governos Ci-vis de todas as capitais de dis-trito, acompanhado por umcheque com o valor de 98, 60euros, o mesmo valor atribuí-do à bolsa mínima, "com o in-tuito de suportar as horas ex-tra de trabalho" do ministroMariano Gago e do director -geral do Ensino Superior,"para que possam finalizar o

regulamento de atribuição debolsas pelo qual os estudantesdesesperam desde há váriosmeses", explica o presidenteda Federação Académica doPorto, Ricardo Morgado.

Os dirigentes associativostambém já avançaram com umpedido de reunião com carác-ter de urgência a José Sócratese exigem o congelamento do

preço da refeição social e doalojamento em residência uni-versitária para este ano lectivo,que subiu desde o passado dia 1

deste mês para os valores de2,4 euros e 71,25 euros, respec-tivamente. ¦

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COMPORTAMENTO

A IMPORTÂNCIAde bem dormirSabe-se que é fundamental, mas até há pouco tempo não se sabia o quão

importante é dormir um sono reparador e em número de horas necessário.

As crianças e jovens dormem pouco e o futuro pode estar hipotecado

Quemtem filhos pequenos ou em

idade escolar apresenta queixascomuns no que respeita aos hábitosde sono dos petizes. Fazer com quese deitem é difícil. As solicitações são

muitas: televisão, computador, jogosou até as brincadeiras servem de pre-texto para adiar a ida para a cama.Os actuais ritmos de vida familiar,com a chegada mais tardia dos pais acasa, também não ajudam a comporo cenário. E no entanto, eles e elasprecisam mais do que nunca de dor-mir um número de horas considerá-vel, que varia de acordo com a idade(ver quadro). Só assim se repõem osníveis de energia e se promove um

crescimento saudável e a qualidadede vida. Todos os estudos demons-tram isso mesmo: a falta de sono po-de ter consequências muito negati-vas no desempenho escolar, nosníveis de concentração, no equilí-brio emocional e mesmo na propen-são para a obesidade.

Nos Estados Unidos, o panoramageral espelha a tendência existentenas sociedades desenvolvidas actu-ais. Metade dos adolescentes dor-me em média menos de sete horasnos dias úteis e quando estãoa chegar ao final do ensinosecundário esse númeroreduz-se para pouco

COMEÇAR 0 DIA

Uma noite de sono reparador é fundamental para ir

para a escola com energia e boa disposição

A perda de tempo de sono afecta o cérebro das crianças de várias formas:

• Os neurónios perdem elasticidade e

não conseguem fazer novas ligaçõessinápticas necessárias para gravaruma memória, daí que as criançascansadas nâo consigam lembrar-sedo que acabaram de aprender.

> As crianças com sono ficam mais dis-

traídas na sala de aula. As pessoascansadas têm maior dificuldade emcontrolar os seus impulsos e objec-tivos abstractos, como estudar, sãosubstituídos por diversões.

• Uma noite de sono reparador é funda-

mental para consolidar e"arrumar" as memórias da-

quilo que o cérebro apren-deu durante o dia e cadafase do sono tem uma fun-

ção especifica na gravaçãode memórias. Quanto mais se

aprende durante o dia, maior anecessidade de dormir.

* As pessoas com falta de sonotêm maior facilidade em lembrar-sedas memórias más do que das boas,o que favorece estados depressivos.

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mais de seis horas e meia, sendoque apenas cinco por cento dos alu-nos dos últimos anos do ensino se-cundário dormem oito horas.

O enunciado surge num dos capí-tulos do livro Choque na Educação(editado pela Lua de Papel), onde adupla de autores Po Bronson e Ash-ley Merryman analisa o factor sonono contexto global da educação dosmais novos. Trata-se de um elementofulcral no desenvolvimento e os auto-res constatam que "as crianças - daescola primária até à escola secun-dária - dormem menos uma hora do

que dormiam há 30 anos".O cenário norte-americano não

difere do português. Teresa Paiva,neurologista, que durante 10 anosdirigiu e impulsionou o Laborató-rio do Sono, no Hospital de SantaMaria, sendo considerada uma dasmaiores autoridades internacionaisna matéria, traça um retrato dramá-tico da situação portuguesa. "Em2006 foi feita uma estatística mun-dial relativamente aos hábitos desono e concluiu-se que no Mundoéramos os que nos deitávamos maistarde. Setenta por cento das pesso-as vão para a cama depois da meia--noite. Se começássemos tarde es-tava muito bem, mas a vida começamuito cedo em Portugal", afirma aneurologista. O problema afectamais o sexo feminino, como indicano prefácio do livro Como Dormirpara Ser Sexy, Inteligente e Elegan-te (Selecções do Reader's Digest)

"Uma hora é menos um ciclo in-teiro de sono", diz Teresa Paiva. E

prossegue: "Em relação a Portugal,não temos aquela estatística queeles têm nos EUA, mas da análiseque fiz em escolas muito dife- ?

PARCIMÓNIA E DISCIPLINAVer televisão? Sim, mas com regras.A hora de deitar deve ser respeitada,mas as brincadeiras não estão proibidas

íf&

1

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? rentes no País verifica-se que osmiúdos estão sonolentos e dormempouco. Desde muito pequeninos."No caso das crianças e jovens, a es-pecialista afirma que "está a acon-tecer um fenómeno de privação desono nas crianças, nos adolescentese nos adultos jovens", o que resultanuma hipoteca do futuro, ao afec-tar os cérebros das novas gerações."Há taxas de sonolência elevadíssi-mas e nos estudos que se faz, porexemplo, se for a uma escola ou auma universidade, as taxas chegamaos 50 por cento. Cinquenta porcento das crianças, dos adolescen-tes ou dos adultos jovens estaremsonolentos é assustador. É impos-sível e incompatível com um bomrendimento escolar e desenvolvi-mento. É necessário olhar para esteassunto com muita atenção!", frisa.

A HORA PERDIDA

Em Choque na Educação a "horaperdida", como lhe chamam os au-tores, tem um "impacto exponencialnas crianças que simplesmente nãotem nos adultos". O que se descobriunão foi que o sono é importante, es-sa é uma questão do senso comum,mas "o quão importante é".

O impacto do sono vai para alémdo desempenho académico e daestabilidade emocional, podendointerferir com a propensão para aobesidade e o aumento do Transtor-no do Défice de Atenção com Hipe-ractividade. Teresa Paiva confirma:"Nas crianças mais pequenas, asonolência dá muitas vezes hipe-ractividade. As crianças com pri-vação de sono fazem birras e estãoinquietas. Não estou a dizer que a

hiperactividade decorre apenas daprivação de sono, existe o problemada hiperactividade como doença,mas neste caso é uma manifestaçãosintomática de que as crianças nãoestão a dormir bem." Alguns es-pecialistas vão mais longe ao rela-cionarem certas características dapré-adolescéncia e da adolescên-cia, como a depressão ou o mau hu-mor, com uma crónica falta de sono.

E se é um facto que os pais têmuma preocupação acrescida com osono dos bebés, quando as criançaschegam à idade escolar esse factordesaparece da lista de prioridades.Mas a fragilidade das crianças per-manece e tem sido comprovada emdiversos estudos científicos nacio-nais e internacionais. Alguns delespermitiram estabelecer uma corre-lação clara entre o sono e os resul-tados escolares, com o fenómeno aacentuar-se no ensino secundário,pois é nesta fase que os jovens co-meçam a dormir menos horas.

Teresa Paiva explica; "O sono dáàs crianças as ferramentas neces-sárias para pensarem bem, paracrescerem. É a dormir que crescem,aprendem e consolidam a memória,aumentam o pensamento criativo,encontram soluções para os proble-mas e, portanto, melhoram a apren-dizagem e facilitam o conhecimen-to dos pensamentos abstractos."

Posto isto, a especialista forneceum olhar original para uma ques-tão premente no País: "Um dosgrandes problemas em Portugal éa Matemática e não é só devido aoensino, é um problema generali-zado o facto de que os miúdos per-dem essas capacidades de abstrac-

ção por dormirem pouco. E muitascrianças pequenas estão a dormiroito horas, o que é erradíssimo, sãomenos duas do que precisam. Porisso têm um risco aumentado de terdiabetes, depressão, obesidade einsónia", conclui.

0 AGRAVAR DO PROBLEMA

Apesar de todos os dados, estatís-ticas, estudos e evidências, a actualconjuntura não parece suficientepara convencer os pais no sentido deprivilegiarem o sono e o descanso,aliviando a pressão de uma agendacarregada na vida dos filhos. Os jo-vens de hoje desdobram-se em ac-tividades extra-curriculares, paraalém do tempo que passam na es-cola, ficando sem tempo para o purolazer, para a brincadeira e em últi-ma análise para dormir.

"Estamos num paradigma decomportamentos sociais complica-dos", afirma Teresa Paiva. "Existe,do ponto de vista das crianças, umagrande exigência a nível escolare de horários. Têm de se levantarmuito cedo, têm de trabalhar muito,têm muitas actividades extra-esco-lares. E depois têm imensas activi-dades dispersivas: computadores,televisão, telenovelas, jogos, etc,e os telemóveis e as mensagens",prossegue a especialista.

No seu consultório a neurologis-ta atende muitas vezes adultos comdistúrbios de sono e conta que aofazer a retrospectiva verifica quedecorrem de maus hábitos adquiri-dos desde tenra idade. Para TeresaPaiva, os portugueses andam todoscom défice de sono. "A irritabili-dade, a tristeza que se vê. Vamos

Formas lúdicas para motivar os mais novos para a importância de dormir

A neurologista e investigadora Te-

resa Paiva em conjunto com a psi-cóloga e professora Helena RebeloPinto estão a dinamizar um projectoque visa motivar as crianças e ado-lescentes para a necessidade de dor-mir. A data prevista de arranque é o

ano lectivo de 2011/2012 e estarácentrado na Faculdade de Medicinade Lisboa. As duas coordenadoraspretendem dirigir "acções para cada

grupo etário", no âmbito das escolas

e jardins de infância. Serão lançadostrês concursos subordinados ao te-ma do sono, acções formativas parapais e crianças, para além da "activi-dade epidemiológica que vai ser ob-servada antes e depois", para avaliaro impacto das acções nos hábitos de

sono.Paralelamente, a dupla escreveu

três livros, para diferentes idades, e

para o Natal vai ser lançado um discomusicado por Manuel Rebelo.

"Há um fenómeno de privação de

sono nas crianças, nos adolescentes

e nos adultos jovens. As taxas

de sonolência chegam aos 50% "

Teresa Paiva • Neurologista

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na rua e com muita facilidade aspessoas apitam quando conduzem,irritam-se. Há uma série de com-portamentos que não são habituais.De facto, os indicadores objectivossão todos maus. Esta não é uma boaforma de continuar. Há uma carac-terística portuguesa que não está afavorecer-nos", avisa.

E que característica é essa? Se-gundo a especialista é o facto deos portugueses se deitarem tarde

e acordarem cedo, algo que nãoacontece na maioria dos paíseseuropeus.O facto é que nas acele-radas sociedades pós-modernas,o sono é um imperativo biológicoamplamente contrariado em nomede outras formas de passar o tempo.Porém, ignorar as necessidades debem dormir e em número de horasapropriado pode custar caro. ¦

Paula Macedo

CANSAÇO0 problema

agrava-se naadolescência

Há uma

diminuiçãode uma a

duas horasde sono

por noiterelativamente

à idadeadulta. É

importanteque um

adulto durmacerca de 8h

por noite

para não seressentir

mais tarde

A neurologista Teresa Paiva dá alguns conselhos úteis

<• "As crianças devem dormir as horas de que precisam. Devem fazer-se as contas em função da idade e das horas a

que têm de se levantar."

* "Deve diminuir-se toda a complexidade do que se passapela manhã para as crianças poderem dormir até maistarde possível."

"Depois das 22h já é tarde para uma criança pequena ir

para a cama, até aos cinco seis anos deve estar na camaàs 21h."

• "Têm de ter uma vida relativamente organizada e ordena-da, a única coisa que não devem tirar às crianças é o so-no. As crianças não devem ir para os centros comerciais,cinemas ou restaurantes à noite."

• A hora de deitar pode ser estimulada de maneira lúdica,mas deve ser imposta pelos pais e não deixada ao critériodos mais novos.

• "Os pais também têm de dar o exemplo, até para funcio-narem bem. Quando uma famflia dorme mal fica desorga-nizada, todos ficam mais cansados e irritáveis e cria-seum círculo vicioso de irritabilidade."

• As horas de sono devem coincidir com os momentosmais apropriados do dia. "As pessoas têm de pensarque não é bom acordar cedo demais, antes das seisda manhã é mau. O deitar tarde demais também nãoé bom, a não ser que queriam fazer só exclusivamentevida nocturna."

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Antes da estafada crise global já o Governo tinha aumentado a despesa corrente do Estado em mais de 12 mil milhões

Iludir o óbvio não nos salva

A tendência para iludir o óbvio foi classificada

por Freud como a primeira paixão da huma-nidade. Não me recordo se o ilustre "psi"clarificou que é sempre a fuga à violênciade uma realidade que explica o mecanismo

dessa estranha paixão. Mas posso garantir-vos, com aexperiência dos desaires que sofri, que iludir o óbvionunca nos salva.

É óbvio que agarrar nos mais de dois mil milhões deeuros do Fundo de Pensões da PT e com eles reduzirartificialmente o défice público é uma intrusão inqualifi-cável na gestão de uma empresa privada e uma trapaçapolítica que catapulta um enorme risco futuro para oEstado, leia-se contribuintes.

É óbvio que transformar quatro mil milhões de dívidaprivada do BPN em dívida pública, a pagar agora pelosfuncionários públicos, pelos reformados e pe-los desempregados, foi mais fácil que meterna prisão os responsáveis.

É óbvio que só um desmesurado despudorpermite ao Governo dizer que não sabia quetinha um submarino para pagar.

É óbvio que antes da estafada crise globaljá o Governo tinha aumentado a despesa cor-rente do Estado em mais de 12 mil milhões deeuros e arrecadado, de aumento de impostose contribuições para a Segurança Social, maisnove mil milhões.

É óbvio que a descida do IVA e o aumentode 2,9 por cento da função pública foram vismanobras eleitorais, que o orçamento de 2010foi um orçamento de mentira, que os PEC são

expedientes mistificadores incapazes de al-terar a trajectória suicida do Estado e que oGoverno sonegou, sistematicamente, a deplo-rável situação das contas públicas

Sócrates e Teixeira

dos Santos desceram

a longa ladeira

da credibilidade,

condenados por si

próprios ao suplício

de Sísifo. Se o fizeram

por incompetência ou

por dolo é coisa que se

apuraria na Islândia.

Mas acabaram. Com

ou sem orçamentoÉ óbvio que o problema de Portugal, sendo a dívida

grande, não é a dívida. É a ameaça de não a poder pa-gar com uma economia que não cresce, uma produçãoque se apouca ante um consumo que se agiganta, umdesemprego imparável, uma taxa de investimento emderrapagem e um constante aumento dos custos deprodução: capital, energia e transportes.

É óbvio que chegámos aqui empurrados por gentetrapaceira, por um Governo e um homem que se permi-tiram, a golpes de decretos-leis iníquos, impor políticasfinanceiras, económicas, educativas e de saúde erradas,protegidos por uma justiça injusta.

É óbvio que só a promoção do investimento produti-vo, o aumento do que vendemos lá fora, a diminuiçãodo que compramos cá para dentro e a recondução doEstado ao seu papel de árbitro justo de interesses opos-tos nos poderá arrancar às garras de uma máfia de espe-culadores e agiotas, a que alguns chamam mercado.

É óbvio que a anunciada "corajosa austeridade" nãomuda o futuro. Safa efemeramente, se safar, o passadorecente, extorquindo uma vez mais os cidadãos, esma-gando os que não tiveram culpa, sem sequer apontaros que engordaram, enterrando o país. É óbvio queo tempo político deste Estado relapso, que permitiuque gente sem vergonha arrastasse na lama a ética davida pública, se extinguiu. É óbvio que carrascos nãoviram salvadores. É óbvio que coveiros não salvam mo-ribundos.

Parailudir o óbvio, bem mais extenso que a

síntese supra, uma elite pensante, que reúnenotáveis do PSD, economistas de renome (quepassaram pelo governo sem fazerem o queagora recomendam) e até o pai do "monstro",

que é, nada mais, nada menos, como bem recordouMiguel Cadilhe, Aníbal Cavaco Silva, tem acenado, até à

exaustão, com uma realidade violenta: um desastre na-cional, se o Orçamento não for aprovado. Talvez tenhamrazão, ou talvez se imponha antes a lógica de Tiririca(nome artístico de um humorista brasileiro, analfabetoao que consta, eleito deputado federal por S. Paulo como segundo maior resultado de sempre, que promoveua candidatura com este slogan: "Pior do que está nãofica. Vote Tiririca!"). Mas entre estes especialistas do

pensamento inevitável e Tiririca há, pelo menos, umairracionalidade que espanta e nenhuma violência decenário ilude. Então não se sentem incomodados por ad-

vogarem a aprovação de um Orçamento do Estado queainda não foi sequer apresentado e ninguém conhece?

SantanaCastilho

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Acham que os mercados financeiros ficarão serenos se o

Orçamento do Estado estrangular a mais remota hipó-tese de crescimento económico? Que ficam contentesqualquer que seja o cenário macroeconómico em queo Orçamento assente? Que não se incomodarão coma hipotética persistência em adiar o saneamento dasestruturas inúteis do Estado? Economistas e políticosque são, aceitam a continuada recusa do Governo emabrir ao escrutínio da oposição, com verdade e transpa-rência, as contas da execução de 2010, indispensáveispara avaliar a seriedade de 2011?

Sócrates e Teixeira dos Santos desceram a longa la-deira da credibilidade, condenados por si própriosao suplício de Sísifo. Se o fizeram por incompetênciaou por dolo é coisa que se apuraria na Islândia. Masacabaram. Com ou sem orçamento. Advogar que lhe

passemos um cheque em branco, mais um, ignorandoo óbvio por receio da realidade violenta é, mais queconfirmar a curiosa tese de Freud, impor aos que ain-da não ensandeceram o grotesco de Tiririca. Nem ointeresse dum futuro candidato à presidência da po-bre República o justifica. Professor do ensino [email protected]