ciência em pauta - 4ª edição

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Carro eficiente percorre 412km com um litro de gasolina Revista Ciência em Pauta, ano 3, n. 04, abril de 2013 Arte e ciência Entrevista com Biólogo vencedor do prêmio SIC/UFRGS Ilustrações científicas ajudam a traçar taxonomia de seres vivos

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Ciência em Pauta - 4ª Edição

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Page 1: Ciência em Pauta - 4ª Edição

Carro eficientepercorre 412km com um litro de gasolina

Revista Ciência em Pauta, ano 3, n. 04, abril de 2013

Arte e

ciência

Entrevista com Biólogo vencedor do

prêmio SIC/UFRGS

Ilustrações científicas ajudam a traçar

taxonomia de seres vivos

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2 CiênciaemPauta

Carta

Caro leitor, esta é a quarta edi-ção da revista Ciência em Pauta e mais uma vez prestamos o com-

promisso de informá-lo sobre as pesquisas científicas que são desenvolvidas na Univer-sidade Federal de Santa Catarina.

Nesta edição, você vai conhecer o carro eficiente desenvolvido pela Equipe de Efi-ciência Energética e3. O protótipo movido à gasolina tem motor de quatro tempos e é fabricado com fibras de vidro, garantindo menor consumo de combustível.

Será que a leitura obrigatória de livros é favorável aos candidatos do vestibular? O projeto Literatura com(o) Disciplina busca analisar o avanço das questões literárias do Enem e os hábitos de leituras entre os estu-dantes brasileiros.

Que tal aliar a ciência com pinturas artísti-cas? Embora ainda pouco conhecidas, essas técnicas existem. As ilustrações científicas são obras hiperrealistas capazes de sintetiza-rem informações complicadas da ciência.

Se você quiser ver muitas ilustrações cien-tíficas, visite o site http://scientificillustra-tion.tumblr.com/ ou visite o blog de Lean-dro Lopes http://leandrolopesilustracoes.

wordpress.com (veja mais na reportagem, p.8).

E veja também uma entrevista com o Bió-logo Fernando Mafalda Freire, ganhador do Prêmio Jovem Pesquisador, na categoria de Ciências Biológicas durante o Salão de Ini-ciação Científica (SIC) da UFRGS.

Desejamos uma boa leitura e que esta re-vista estimule sua curiosidade e vontade de conhecer os projetos inovadores desenvolvi-dos na UFSC, e que por muitas vezes passam despercebidos em nosso cotidiano. A equipe da Agência Ciência em Pauta se esforça para produzir uma revista com uma melhor qua-lidade a cada edição e esperamos que você aproveite o fruto do nosso trabalho.

Se você tem alguma sugestão de pauta ou conhece alguma pesquisa que vem sendo desenvolvida na UFSC e que ainda não foi tema na revista, envie sua ideia para a redação do Ciência em Pauta pelo e-mail: [email protected]

Acompanhe também os nossos especiais, podcasts e vídeos no site:

www.cienciaempauta.com.br

Expediente

Coordenação: Profª Tattiana Teixeira - DRT-BA 1766 Redação: Cauê Azevedo, Luan Martendal, Rosângela Menezes;Fotografia: John James, Luan Martendal, Maria Luiza Buriham;Ilustraçoes: Leonardo Gulg, Leandro Lopes;Diagramação: Luan Martendal; éAgência Ciência em Pauta | UFSC - Centro de Comunicação e Expressão - Departa-mento de Jornalismo - Sala 143 | Campus Universitário Trindade Florianópolis - Santa Catarina | [email protected] | +55 48 3721 48 38

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3CiênciaemPauta

4Literatura com(o) disciplina

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Equipe e3 desenvolve carro inovador

Entrevista: vencedores do Prêmio SIC/UFRGS

As ilustrações que englobam a arte e a ciência 8

ÍNDICE

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4 CiênciaemPauta

O projeto Literatura com(o) disci-plina, orientado pela professora Tânia Regina Oliveira Ramos, busca analisar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e avaliar uma possível evolução das questões referentes à lite-ratura no vestibular. A pesquisa foi ela-borada para dar continuidade à tese ‘Dez livros e uma vaga: a literatura no vesti-bular’ (2001), da professora Claudete Amália Segalin de Andrade do Colégio Aplicação da UFSC. Criado em 2005, o projeto já contou com a participação de mais de mil pessoas entre professores e alunos de vários estados do país.

O estudo é desenvolvido de acordo com as mudanças do vestibular e as cri-ses enfrentadas pelo ensino médio, ten-

do como um de seus principais focos a opinião dos estudantes em relação às mudanças constantes no cenário escolar brasileiro. Os dados da pesquisa come-çaram a ser coletados a partir de 2005 através de entrevistas com professores e aplicação de questionários com alunos das instituições que apresentam maior demanda de candidatos para o vestibular da UFSC.

Os questionários tinham como ob-jetivo identificar como a literatura era abordada em sala de aula, mostrando a preferência dos alunos pela leitura de te-

mas contemporâneos e uma rejeição às leituras canônicas [regradas]. Também foi identificado que os alunos de escolas particulares possuem maior demanda li-terária em relação aos alunos de escolas públicas, que afirmaram não ter tempo para a leitura ou então responderam que não gostavam de ler.Luan Martendal

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O vestibular 2013 da UFSC teve mais de 36 mil inscritos em 83 cursos de graduação. A universidade é uma das únicas a manter leituras obrigatórias na prova

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Tânia Regina Oliveira Ramos é coordenadora do projeto Literatura com(o) Disciplina, desde 2005

Projeto busca avaliar evolução de questões literárias do Enem

Como a literatura está sendo abordada nos vestibulares?

Escolas pesquisadas:

EEB. Daysi Werner Salles;Colégio Catarinense;

Sistema de Ensino Energia;EEB. Getúlio Vargas;

Instituto Estadual de Educação;Colégio de Aplicação da UFSC;

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5CiênciaemPauta

Suspensão do projeto

O estudo que já foi considerado por duas vezes como a melhor pesquisa do Centro de Comunicação e Expressão corre o risco de ser suspenso em 2013.

O projeto é um dos únicos com esse perfil em universi-dades federais e é mantido apenas por uma bolsa Pibic. A professora Tânia Ramos pretende continuar com o projeto, mas diz que “para continu-ar, serão necessárias duas bolsas, por que estou ocupada com

outras atividades de dedicação exclusiva e o projeto seria prejudicado por falta de tempo, já que os alunos são o princípio, o meio e o fim da pesquisa”.

obrigatórias para o vestibular

Em 2012, o portal Brasil Escola prepa-rou uma lista mostrando como o Enem é utilizado em universidades federais e estaduais brasileiras. Das 86 institui-ções pesquisadas, 38 utilizam a prova do Enem como o único meio de ingresso à universidade e todas as outras reservam parte de suas vagas para o exame. Para a professora Tânia Ramos, “a substitui-ção dos vestibulares tradicionais dessas

universidades pode descomprometer os estudantes na hora de estudarem para o vestibular, já que o Enem não exige leitu-ras obrigatórias”.

A UFSC é uma das universidades que mantém as listas de livros obrigatórios para o vestibular. De acordo com a pro-fessora, as leituras obrigatórias direcio-nam os alunos para lerem apenas o que for necessário, algo que não acontece nas aplicações do Enem. Ela também destaca que “a forma como essas listas são abor-dadas em sala de aula é muito importante para que o aluno se sinta envolvido com a literatura e não encare a proposta como uma obrigação, mas como um estímulo para tornar a leitura um hábito quando adulto”.

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arte

ndalSegundo Tânia Regina Oliveira Ra-

mos, “no início das pesquisas uma pro-fessora da rede pública de ensino afir-mou que a leitura não era incentivada na escola por que os alunos não teriam chances de passar no vestibular”. Atual-mente com os investimentos do governo e a criação dos Programas de Ações Afir-mativas esses argumentos não são mais utilizados.

Presença nas redes sociais

A estudante de Letras da UFSC Ana Luiza Bazzo da Rosa é bolsista Pibic do projeto desde maio de 2011 e mantém contato com vestibulandos de diversas regiões do país através das redes sociais, como Twitter e Facebook. Ela distribui questionários entre os estudantes para saber se eles mantêm hábitos de leitura, como se preparam para o vestibular e se são a favor ou contra as listas de livros obrigatórios para o vestibular. As pesqui-sas também são realizadas com aqueles que já prestaram o concurso para ana-lisar o nível de dificuldade literário das provas.

A bolsista também analisou as três últi-mas edições do Enem e voltou a fazer o exame depois de cinco anos [prestou vestibular em 2008] para verificar se houveram progressos na elaboração das questões da prova. Ela observa que “houve um avanço na abordagem literária das perguntas do vestibular”, mas consi-dera que “são muitas questões para pou-co tempo de prova, podendo tornar o tempo insuficiente para a elaboração de uma boa redação e aumentar o grau de dificuldade para alunos com pouca baga-gem literária”.

Apresentação de resultados

A partir do resultado das analises e a coleta de materiais específicos [em arti-gos, jornais e revistas], são criados rela-tórios para o amadurecimento dos estu-dos. O projeto também é divulgado nos Salões de Iniciação Cientifica (SIC), em escolas de Santa Catarina e instituições de ensino de outros estados.

A Biblioteca Central da UFSC conta com um acervo de mais de 290 mil exemplares em obras literárias

Os alunos sãoo princípio, omeio e o fim da pesquisa

“Instituições de Ensino

Federais queaderem ao Enem

REGIÃO SUL

IFSC – 50% das vagas;UFPR – 10% da pontuação final; UFRGS – Representa uma nota;

UFSM – 20% da pontuação final; UFSC – 30% da pontuação final;

Unipampa – todas as vagas;

Lista completa: http://vestibular.brasilescola.com/enem/lista-adesao-enem.htm

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6 CiênciaemPauta

Imagine gastar apenas um litro de gasolina para fazer uma viagem de ida e volta de Florianópolis para Criciúma? A Equipe de Eficiência Energética (e3) conseguiu a proeza de per-correr 412 km com 1 litro de combustível durante a 6ª edição do Shell Eco--marathon Americas, em Houston, no Texas. A e3 é formada por estudantes dos cursos de Engenharia da Automação, Eletrônica, Elétrica e Mecânica além de alunos do curso de Física, Design e Jornalismo, sob a orientação do professor Henrique Simas, do Departamento de Engenharia Mecânica, e desenvolve pro-tótipos de carros capazes de percorrer longas distâncias com o mínimo de combustível.

O carro é movido à gasolina, fabricado com fibras de vidro e motor de quatro tempos - o mesmo utilizado em máquinas de cortar grama. Para garantir a eficiência na utilização do com-bustível, os estudantes exploram a melhor forma de distribui-ção de massa no carro (massa do motorista e dos componentes do veículo), injeção eletrônica, regulagem dos pneus, aerodi-nâmica, rigidez estrutural e plano de direção. Rodrigo Magri, capitão da equipe e estudante da sexta fase do curso de Enge-nharia Mecânica, explica que, ao contrário do que as pessoas pensam, o principal desafio não está na aerodinâmica do ve-

ículo ou na distribuição de massa, mas em bicos injetores menores para diminuir o consumo da gasolina e pneus com me-nor coeficiente de atrito. “Nós poderíamos melho-rar o rendimento em 200 km\l trocando o pneu”, esclarece.

A aerodinâmica es-tuda as forças exercidas pelo ar atmosférico sobre os objetos sólidos. Um carro ao se mover num ambiente que tenha ar gera uma força contrá-

ria ao seu movimento, conhecida como força de arrasto. Em baixas velocidades e em dias de pouco vento, o arrasto quase não influencia no movimento do veículo. Mas, em altas velo-cidades, a força de arrasto interfere na aceleração, velocidade, estabilidade da direção e no consumo de combustível. Quanto maior a velocidade do carro, maior será o arrasto aerodinâmico sofrido por ele: um carro a 120 km\h, por exemplo, tem quatro vezes mais força de arrasto que um a 60 km\h. Dessa forma, as indústrias têm investido em modelos mais arredondados, que possuem mais facilidade para acelerar e consomem menos combustível, pois o motor não precisa fazer muito esforço para atingir velocidades mais altas. No caso do protótipo da equipe e3, o veículo trafega com a velocidade média de 25 km\h e o arrasto aerodinâmico não é o fator principal no limite da velo-cidade do carro.

Foto: Divulgação

Estudantes da e3 participam de competições internacionais

ENERGIA

Equipe de Eficiência Energética da UFSC desenvolve carro inovadorEquipe e3 da UFSC participa de competição internacional em Houston

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Membros da Equipe de Eficiência Energética fazem ajustes no carro em competicão

Rosângela Menezes

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A Equipe de Eficiência Energética existe desde 2009 e foi criada com objeti-vo de concorrer em competições de efici-ência energética. Nos últimos três anos, disputou provas nacionais e, em abril de 2011, ficou em sétimo lugar na 6ª edição do Shell Eco-marathon Americas. A e3 não possui patrocinadores permanentes e cerca de cinco mil reais são gastos para construir cada carro - entre os membros da equipe há dois bolsistas de Iniciação Científica, PIBIC/CNPq. Para realizar a viagem até a competição, no Texas, a equipe contou com o apoio da UFSC, FEESC, CREA-SC, FAPESC e de várias empresas na área de tecnologia. Os estu-dantes têm trabalhado em outro protóti-po para disputar a competição no próxi-mo ano. A meta da e3 é atingir a média de 1.000 km\l.

Além da Equipe da UFSC, estudan-tes de mais três universidades brasileiras participaram da 6ª edição da Shell Eco--Marathon Americas concorrendo na categoria de protótipos: equipe Sparta da Universidade Federal do Rio de Ja-neiro (UFRJ), equipe ECO-Veículo, da Universidade Federal de Itajubá/MG (Unifei) e Grupo Cataratas de Eficiência Energética da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). A Eco-Veí-culo e a Equipe Sparta concorreram com carros movidos a bateria elétrica e fica-ram em 6º e 9º lugar e o Grupo Catara-tas da Unioste competiu com protótipo alimentado com etanol e ficou em último lugar na categoria.

A Shell Eco-Marathon existe desde 1939 e começou de uma disputa entre cientista para ver qual possuía o carro que fazia o maior percurso com menos combustível. O vencedor fez apenas 23 km por litro de gasolina e a partir desta aposta a competição foi criada e hoje existe em três continen-tes: Europa (1985), Américas (2007) e Ásia (2010).

Saiba mais

Fotos: Divulgação

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8 CiênciaemPauta

CAPA

Ciência, papel, grafite... E cores

Um trabalho tão importante na pesquisa científica e que não é reconhecido de forma imediata. A ilustração científica ganha sta-

tus de arte quando transportada para fora dos trabalhos, mas mui-tas apenas são esquecidas nas páginas de livros e revistas. As gra-

vuras hiperrealistas explicam temas muito complicados em traços que sintetizam informações importantes contribuindo na

divulgação da ciência.

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9CiênciaemPauta

Relaxar e concentrar-se em apenas um objeto é tarefa difícil. Tente. Olhe atentamente para a sua mão, por exem-plo. Deixe ela imóvel, apoiando-a sobre uma mesa. Preste muita atenção às pro-porções. Estime o comprimento de seus dedos. Polegar, indicador, médio, anu-lar e mindinho. Compare-os. Veja que eles distam certo espaço um dos outros. Grave bem a imagem da sua mão, nesta posição, sob esta iluminação. Sombras e áreas iluminadas dão noção de volume. Profundidade. Os ossos dão forma, per-ceba a sequência deles; articulações que os separam. Os músculos que dão movi-mento, ficam tensos. As veias dão outro relevo e fazem sombra. Tudo recoberto por pele. Mire, veja. A pele que recobre nossas mãos. Elas nos dão identidade. Algumas mais secas, outras mais hidra-tadas. Ora cheia de pelos, ora completa-mente lisas como seda.

Isso leva tempo. Aos poucos você des-cobrirá sua mão. Passe isso para o papel. Sim, desenhe! No começo é difícil. Pas-

samos para o papel uma “mão” idealiza-da. Uma imagem que temos guardada na memória. Nosso cérebro pode ser ótimo, mas nos engana em muitas situações. Só temos que ajudá-lo um pouco. Concen-tre-se em sua mão e tente reproduzi-la com exatidão e rigor. Dimensões, luz e sombra. O resultado surpreende.

Este é um exercício para calouros de um curso livre de ilustração naturalista. Desde 2004, Leandro Lopes ministra as aulas. Elas aconteciam no Centro Inte-grado de Cultura (CIC), apoiadas pela Fundação Catarinense de Cultura, mas com a reforma do prédio, em 2007, mu-daram-se, e agora são dadas em um atêlie coletivo, numa casa do bairro Trindade, em Florianópolis.

O primeiro exercício serve para mos-trar que para desenhar bem é preciso ter atenção e praticar bastante. A ilustração científica enfoca na precisão visual e na riqueza de detalhes de algum objeto. E para isso é preciso saber observar muito bem. O objetivo é sintetizar as informa-ções de um texto científico. Esta capaci-dade ampliada de percepção oferece um

resultado melhor que a fotografia.Apesar de há muito tempo o homem

registrar a natureza, somente no Re-nascentismo teremos uma explosão da arte naturalista e consequentemente o início da história da ilustração científi-ca. Segundo Plínio (23-79 dC), um dos primeiros naturalistas, era impossível as imagens terem fidelidade pois passavam por diversos copistas que não eram tão rigorosos. Por isso as figuras que acom-panhavam os primeiros textos naturalis-tas não guardavam a real representação dos objetos de observação. Com a inven-ção da imprensa e o desenvolvimento da técnica da perspectiva, os primeiros re-gistros pictóricos que acompanhavam os textos científicos ganharam muita quali-dade. Exemplo melhor não existe do que os estudos anatômicos de Leonardo Da Vinci nesta “pré-história” da ilustração científica.

Na passagem do século XV para o XVI, o grande período das navegações possibilitou o descobrimento de um mundo totalmente novo para os euro-peus. Expedições de naturalistas acom-

Cauê Azevedo

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-panhavam as frotas e conheceram, ob-servaram e registraram a fauna e flora exuberante destas novas terras. As técni-cas e o apuro na representação alcança-ram níveis extraordinários. É impossível não se impressionar com as imagens fei-tas pelo naturalista alemão Ernest Hae-ckel. As ilustrações científicas se popula-rizaram e viraram selos, cartões postais e ganharam status de arte.

Não dá para conceber uma divisão entre arte e ciência nestes trabalhos. Muitos ilustradores são artistas que gos-tam muito de ciência. Outros são cien-tistas que tem vocação para arte. Este é o caso do professor do curso livre de ilustração naturalista. Leandro é biólogo e ilustrador. Ele diz que na época do ves-tibular teve que escolher entre o curso de Artes Plásticas, na Udesc, e Biologia, na UFSC. Depois que começou o curso na UFSC começou a praticar o desenho de observação.

A casa onde acontecem as aulas fica no alto do morro do bairro, perto do ter-minal de ônibus, na rua José Francisco Dias Areias, 359. Quando se está lá no alto, se vê todo o manguezal do Itacorubi e também o quanto a cidade vai crescen-do sobre o verde. Nada faz lembrar uma escola. Apesar de concentrar quase uma dezena de artistas trabalhando, o clima é de um lar.

Quatro vezes na semana, interessados em praticar o desenho de observação se encontram para rabiscar nos papéis e pintar objetos. O curso é ininterrupto, ou seja, não tem início ou fim. As pessoas vão e começam a experimentar as téc-nicas de desenho e pintura aos poucos. Começando pelo grafite, aprendendo

em seguida o nanquim, aquarela, lápis de cor e guache. Nada forçado, os alunos aprendem de acordo com seu potencial e o professor os orienta para alcançarem a beleza estética necessária.

No dia em que tive minha aula de calouro e desenhei minha mão, eram seis alunos espalhados numa sala de es-tar transformada em ateliê. Sentados em duas mesas, um desenvolvia novas versões de uma ilustração de crânio de cachorro; outro coloria o desenho de um ramo de primavera, com as flores já murchas, que havia começado em aulas anteriores; mais um dava cores e treinava efeitos de movimento em tecidos; dois estavam debruçados sobre borboletas registrando-as; um deles, sentado no sofá, não queria desenhar naquela tar-de, era ele quem comandava a conversa durante as três horas de aula. Leandro observava o que cada um fazia e assistia àqueles com dificuldade. Todos estavam

concentrados. O clima caseiro, a tarde preguiçosa e a concentração de cada um eram quebrados quando alguém come-çava um assunto. Risadas. Voltam-se ao papel.

A decoração é óbvia. Nas paredes, muitos desenhos de animais e plantas. Alguns do próprio Leandro, outros são encartes e desenhos de outros artistas. Espalhadas pela mesa: papéis, lápis e pincéis. Alguns brinquedos relembram o clima convidativo da casa. Uma coisa me chamou a atenção. Um livro de grandes dimensões. Na capa, uma ilustração de flamingos sobre pedras, a beira d’água. O flamingo do primeiro plano parecia um pouco estranho. Sua posição, com o pes-coço para baixo, a cabeça se opondo, em direção da canto esquerdo da paisagem. Parecia que aquela ave estava querendo se encaixar naquele enquadramento.

‘Birds of America’ é um dos livros mais caros do mundo. Segundo a revista

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Ilustrações científicas chamam a atenção pelo realismo, como a imagem Audubons The Birds of America

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Haeckel Discomedusae Haeckel Melethallia Corpo Humano

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The Economist, da Inglaterra, cin-co das sete publicações mais caras vendidas em leilões eram originais completos ou não da obra pri-ma de John James Audubon. Em 2010, uma obra completa foi arre-matada por 11,5 milhões de dóla-res em Londres. Apenas 200 livros foram completados com 435 telas pintadas a mão. Ele tem quase um metro de comprimento e 60 centí-metros de largura e todas as espé-cies foram representadas em escala real (1:1). Alguns pássaros maio-res tiveram a posição torcida para caberem nas páginas da série, por exemplo, o flamingo que chamou a atenção. O livro sobre a mesa não era original, obviamente. Apenas a imagem era uma reprodução das pranchas feitas por Audubon.

Apesar do aspecto luxuoso que ‘Birds of America’ nos indica, a vida de ilustrador não é nada gla-mourosa. É preciso praticar muito e saber vender e valorizar muito o seu trabalho. Por causa da pequena quantidade de ilustradores (principalmente!) científi-cos no Brasil a dificuldade é multiplicada. Cientistas não acham pessoas capacitadas para ilustrar seus trabalhos e ilustradores acabam não tendo o reconhecimento necessário. A relação entre pesquisador e ilustrador é essencial. Somente a sintonia entre os dois darão resultados satisfatórios. Leandro afirma que esta relação às vezes não é entendida pelos cientistas, da mes-ma forma, alguns artistas também não entendem a rotina dos laboratórios. Como a formação dele é dupla, Leandro sente-se satisfeito e por isso sempre está disposto a conhecer diferentes áreas do campo científico.

Este problema do desenvolvimento profissional de ilustra-dores para Ciência foi tema de uma conferência no 63º Encon-tro Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ano passado, em Goiânia. Proferida pela bióloga e ilustradora Diana Carneiro, ela abordou os problemas sob a perspectiva da falta de apoio a carreira, principalmente nas es-colas. Diana abordou os exemplos de grandes ilustradores que fazem parte da história da pesquisa científica no Brasil, sejam estrangeiros ou não, e que ficaram esquecidos nos bancos esco-lares. Apenas o curso de graduação em Ciências Biológicas da UFMG oferece uma disciplina de ilustração, porém ela elogiou os movimentos tímidos que começam a se espalhar pelo país. Diana é associada ao Centro de Ilustração Botânica do Paraná, estado que é um dos expoentes no ensino e prática do desenho de observação.

Quando pensamos em ilustração, nos vem a mente as ima-gens de animais e plantas. É certo. A maior quantidade de tra-balhos estão relacionadas a taxonomia, campo que estuda a classificação e identificação das espécies de seres vivos. Mas não se limita apenas a isto. Leandro, por exemplo, já fez traba-lhos em paleontologia. Para disputar um concurso em Portu-gal, ele ilustrou o dinossauro brasileiro, Sacissauro agudoensis,

cujos registros fósseis foram encontrados na cidade de Agudos no Rio Grande do Sul. De posse de fotografias dos ossos do animal, Lean-dro pesquisou sobre a flora nos longínquos anos do Tri-ássico (há 220 milhões de anos) para produzir esta ilus-tração do passado. Apesar de não ter ganhado, ele julga ter sido uma ótima experiência.

Ele também já ilustrou para trabalhos fora das Ciên-cias Biológicas. Leandro fez os desenhos esquemáticos para uma tese de mestrado em Engenharia. Ele repre-sentou um experimento de remediação de águas sub-terrâneas feitas por Suhita Monteiro Ramos na pós-gra-duação de Engnharia Sani-tária e Ambiental da UFSC. Esta diversidade de temas

empolga o ilustrador que aprende com os pesquisadores sobre cada um dos trabalhos na relação direta com eles.

A ilustração é componente essencial na divulgação cientí-fica. Não estão apenas presentes em trabalhos acadêmicos e formais. As ilustrações contribuem muito para explicações em livros didáticos, filipetas e livretos. A capacidade de síntese é uma força motora que engrandece o entendimento de temas por vezes muito complicados. E mais, na hora em que o pes-quisador precisa direcionar o ilustrador para os serviços, ele já pratica a divulgação, pois é preciso que as informações para a produção do desenho sejam precisas e que envolvam o artista no interior da pesquisa. O ilustrador passa de contratado para colaborador do trabalho científico.

Escolher a técnica conveniente para cada tipo de trabalho é essencial. Basicamente, os desenhos começam com o esboço em grafite. O preenchimento pode ser feito com o próprio gra-fite, usando diferentes tipos de lápis no sombreado. Mas tam-bém podemos usar nanquim e bico de pena preenchendo com pontos o desenho. Para colorir, aquarela, guache e lápis de cor. Tudo depende daquilo que é o objeto de observação. Muitos trabalhos passam por uma arte final em programas de edição de imagem no computador. Outro trabalho que um artista visual faz é a colorir as fotografias de microscopia de varredura, que trabalham num aumento de até 30 mil vezes, mas produzem imagens sem cor.

Neste ano, nos Estados Unidos, a associação que reúne os ilustradores científicos de todo o mundo, Guild of Natural Science Illustrators, promoverá uma série de apresentações. Uma delas é da bióloga Jodie Holt, consultora de botânica para o filme Avatar. Ela falará sobre a experiência do trabalho com a equipe cinematográfica. Jodie foi chamada por causa do seu co-nhecimento sobre plantas invasoras e ao trabalhar no filme ela viu a perspectiva de discutir temas sobre a conservação da flora na concepção de cenários a partir de ecossistemas imaginários.

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Livro: The Birds of America foi vendido em Londres por U$11,5 milhões

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O Ciência em Pauta conversou com Fernando Mafalda Freire, 24 anos, vencedor do Prêmio

Jovem Pesquisador do Salão de Inicia-ção Cientifica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 2012 (SIC 2012/UFRGS) na área de Ciências Biológicas. Natural de São Leopoldo – RS, ele se formou no primeiro semestre de 2012 como Bacharel e Licenciado em Ciên-cias Biológicas, pela Universidade Fede-ral de Santa Catarina (UFSC).

Mesmo depois de formado, Fernando continua trabalhando no Laboratório de Micologia da UFSC (Centro de Ciências Biológicas) no projeto que lhe rendeu a primeira colocação no SIC 2012/UFR-GS: “Diversidade de Cordyceps s.l. em Santa Catarina – CordycepsSC”, com os orientadores Elisandro Ricardo Drechs-ler dos Santos e Maria Alice Neves.

Nesta entrevista, o biólogo nos conta sobre o projeto de Cordyceps (fungos parasitas e artrópodes), a participação no Salão UFRGS 2012 e os projetos para o futuro. A entrevista também tem a par-ticipação do professor Elisandro Ricardo Dreschler dos Santos.

CeP- O Laboratório de Micologia da UFSC é responsável por estudar a relação evolutiva entre grupos de fungos e está diretamente ligado ao projeto. Como os estudos do trabalho começaram?Fernando Freire- O Micolab tem hoje dois especialistas em micologia, o pro-fessor Ricardo e a professora Maria Alice e dois alunos estudando especificamente Cordyceps s.l.. O laboratório trabalha com sistemática, filogenia e ecologia de macrofungos, mas quando comecei a trabalhar aqui acabei me interessando por fungos que parasitavam insetos, pois estes me chamaram bastante atenção. Resolvi estudar um pouco da literatura sobre esses fungos entomopatógenos e, aparentemente, a riqueza era muito baixa aqui no estado, pois quase não havia pes-quisas sobre o grupo, tanto em Santa Catarina quanto no Brasil. Aos poucos

fomos buscando literatura para determi-nar o que se sabia sobre este grupo.Out-ro fator interessante foi encontrarmos uma riqueza muito grande de espécies no estado. Esses novos registros nos abriram portas para que começássemos a conversar com os principais especialis-tas do Brasil e do mundo abrindo outros caminhos para o estudo.CeP- O que te levou a estudar as taxo-nomias ? FF- Eu fiz uma matéria optativa do meu curso (Micologia de Campo), que é uma matéria intensiva, que acontece nas fé-rias de verão. É feita toda em campo, começa com um fundamento teórico e depois parte para a prática. Quando eu tive este contato de sair a campo estu-dando materiais, escrevendo e fazendo apresentações, acabou sendo o meu primeiro contato com o laboratório e os orientadores.

Pesquisadores da UFSC recebemprêmio SIC no Rio Grande do Sul

ENTREVISTA

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Fernando Mafalda Freire, vencedor do Prêmio Jovem Pesquisador/SIC na área de Ciências Biológicas

Pesquisador conta detalhes do estudo vencedor do SIC Luan Martendal

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Elisandro Ricardo Drechsler dos SantosCoordenador dos estudos, é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Regio-nal Integrada do Alto Uruguai e das Missões (2002) e representante da Asociación Lati-noamericana de Micologia no Brasil desde 2007. Sócio fundador do Grupo Ecológico Verderrantes Vertebrados (ONG Ecofutura). Mestre em Biologia Vegetal pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005) e Doutor em Biologia de Fungos Pela Universidade Federal de Pernambuco (2010), e SWE na University of Oslo (Noruega - 2009). Tem Pós-Doutorado pela Universidad Nacional de Córdoba (Argentina - CAPES-MINCyT - 2010) e pela Universidade Federal de Santa Catarina (REUNI - 2010-2011).

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CeP- O seu estudo sobre os fungos pa-rasitas está diretamente ligado ao Mi-colab da UFSC e mesmo depois de for-mado você continua trabalhando no laboratório. Por que ainda não houve esse desligamento?FF- Quando você termina o curso, ain-da deixa algumas coisas a serem feitas. O trabalho obteve muitos resultados e que ainda preciso concluir alguns; eu quero publicar esses resultados e apresentar o maior número de trabalhos possível. E também neste final de ano, estão acon-tecendo vários congressos, encontros, simpósios e o próprio salão de iniciação cientifica. Então eu preservei o contato com o laboratório.CeP- O que são os Cordyceps (fungos bacterianos e os artrópodes)?FF- Eles são Fungos do filo Ascomyco-ta, altamente especializados em parasitar artrópodes, em alguns casos essa associa-ção é em espécie específica. Ou seja, de alguma forma ao longo da evolução, eles se especializaram em contaminar ou em usar como substrato de crescimento in-setos e aracnídeos. Assim como tem pa-rasitas dos seres humanos, por exemplo, as micoses, existem os parasitas dos inse-tos, que são esse, em sua grande maioria, de Cordyceps s.l.. A distribuição desses fungos é global, menos nos trópicos (Antártida). Os Cordyceps fazem uma espécie de controle populacional destes artrópodes, podendo mudar o compor-tamento de alguns insetos, como o das formigas, para benefício próprio.CeP- Como o trabalho é desenvolvi-do?FF- Basicamente o que a gente fez foi ir a campo para coletar esses materiais e de-sidratá-los em secadoras [de alimentos simples] para preservar o material que não sofrerá contaminação por bactérias e outros fungos. Nós fazemos cortes e de-screvemos macroscopicamente e micro-scopicamente o material coletado. Ten-tamos isolar esse organismo em Placas de Petri contendo Agar Batata [meio utilizado para isolamento, cultivo de fun-gos] e através deste conjunto de caracte-rísticas, tentamos determinar as espécies.CeP- Quais foram as maiores dificul-dades encontradas durante a pesqui-sa?FF- A maior dificuldade foi a bibliogra-fia escassa sobre o grupo que estudamos. Também tivemos algumas dificuldades em conseguir apoio financeiro na facul-

dade, principalmente para transporte, que gastávamos bastante.

Elisandro Ricardo Drechsler dos San-tos- Uma das principais dificuldades é começar o trabalho do zero por ser um projeto piloto e a literatura ser escassa. Mas acredito que a maior dificuldade seja o fato dos especialistas estarem longe e haver necessidade de conseguir contatá-los. E como é um grupo que apresenta estruturas reprodutivas muito pequenas das quais a gente utiliza para identificar os fungos, a gente acaba não tendo mui-to material para fazer a molecular que é o que pode nos ajudar de forma mais significativa. A ideia não é só seguir um conceito de espécie e sim tentar utilizar várias ferramentas como morfologia, biologia, molecular e ecologia que são fa-tores importantes para a identificação do material. A gente depende também de especialistas de outros grupos pra auxil-iar na descoberta das espécies em que os fungos estão parasitando.CeP- Quanto tempo demorou pra vocês fazerem os estudos iniciais e co-letar as amostras até conseguirem re-sultados satisfatórios?FF- Não há um tempo estabelecido, a

gente busca definir objetivos e metas no qual o nosso limitante não será o resulta-do final, mas o tempo utilizado para cada etapa de pesquisa. Utilizamos em torno de três meses para coletar a bibliografia e entre seis meses a um ano para colher os materiais e descrevê-los.CeP- Quanto tempo levou para a pes-quisa ser feita?FF- Um ano e meio. Este é um projeto piloto no Brasil, onde atualmente existe somente um ou outro grupo de pesqui-sas na área.CeP- De acordo com os resultados obtidos até agora, qual a importância desta pesquisa para a ciência?FF- Os resultados são de uma riqueza quase desconhecida para o estado. A gente encontrou 54 morfoespécies (não temos certeza se todas são espécies no-vas), mas a gente acredita que são 54 espécies diferentes de fungos que parasi-tam insetos.

ED- Há vários conceitos de espécies: biológico, morfológico, filogenético, fi-siológico, ecológico, entre outros. Então, pra cada um desses conceitos operacio-nais, nós utilizamos uma metodologia mais específica. Por exemplo, para o bi-ológico fazemos testes de cruzamento, se gerar descendência, quer dizer que pert-encem à mesma espécie de indivíduos. O conceito morfológico é o mais utilizado e sabemos que embora coisas se pareçam, podem ser bastante distintas. Então, às vezes a morfologia por si só é limitante pra definir espécies e isso gera um prob-lema que são os complexos taxonômicos, nos quais você acaba denominando pra um táxon várias espécies que estão no mesmo táxon.CeP- Você pretende continuar com as pesquisas nessa área?FF- Sim, no meu mestrado eu já tenho uma noção do que eu vou trabalhar e vou seguir uma linha um pouco mais aprofundada do grupo. Eu comecei só com a descrição taxonômica (descrição macro e microscópica dos organismos) e riqueza das espécies de Santa Catarina pra saber quantas espécies eram e onde estavam localizadas. Agora eu quero fazer uma descrição mais aprofundada e comparar as espécies do estado com es-pécies de outros lugares do mundo, tra-balhar com molecular e ecologia destes grupos e tentar descobrir qual é o poten-cial deles na natureza.

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Fernando pretende aprofundar os estudos na área

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CeP- O que te motivou a concorrer ao prêmio?FF- Os meus orientadores gostaram do trabalho que eu estava desenvolvendo no laboratório porque apesar de ser um estudo que de certa forma não dominá-vamos, obtivemos êxito. Por se tratar de uma pesquisa piloto onde não há muitos trabalhos no Brasil, o ideal seria divulgar pro máximo de lugares possíveis e foi o que nós fizemos quando surgiu a oportu-nidade de concorrer no Salão de Inicia-ção Cientifica da UFRGS.CeP- Qual a sensação de receber um prêmio como esse?FF- Não era algo muito esperado por que fomos sem muita pretensão, a gente queria divulgar o trabalho. É claro que eu me dediquei ao máximo, trato sempre o meu trabalho com muita seriedade e esse reconhecimento é muito legal. Eu acho que às vezes exageram um pouco, mas eu abri caminho para que outras pessoas do nosso laboratório também se espelhem, assim como eu também me espelho no trabalho deles. Quase tudo o que eu fiz ao apresentar e montar o projeto foram espelhados no trabalho do meu orienta-dor e nos colegas de laboratório e isso foi um facilitador, estou trabalhando com pessoas muito legais e esse é um reco-nhecimento para todos. É muito legal receber um prêmio, mas não era esse o objetivo.CeP- Você está desenvolvendo algum outro projeto além desse?FF- Nós estamos focando bastante nos resultados desta pesquisa e na parte de filogenia e taxonomia do grupo.

ED- O Fernando fez uma coisa que é muito importante que foi buscar essas informações que agora precisam ser tra-tadas para conseguirmos a melhor forma de divulgar essas novidades cientificas. Então, nesse primeiro momento deve-se buscar as espécies e fazer uma primeira discussão, tentar identificar com base na morfologia principalmente, já foi um grande trabalho e que era necessário como embasamento para o que ele pre-tende fazer agora no mestrado. Tendo pela frente um grande desafio que é con-seguir os cultivos para poder ter material biológico suficiente para fazer as extra-ções e a molecular, e é essa molecular que vai confirmar se essas espécies são novas e distintas.

FF- Eu acho que esse foi um dos fatores delimitantes do trabalho porque como o material é muito pequeno e é difícil encontrar duas, três réplicas do mesmo material, a gente acaba se limitando. Nós não temos muito material pra trabalhar, principalmente com a molecular que é hoje uma ferramenta que tem um con-ceito muito importante no meio cienti-fico.

[O orientador do trabalho, professor Elisandro Ricardo Drechsler dos San-tos, interrompe a fala para ressaltar a importância do reconhecimento do tra-balho e a premiação do projeto] ED- É muito importante trabalhar sem ter a expectativa de um prêmio e esse prê-mio vir por conseqüência deste trabalho.

O desafio para mim, a professora Maria Alice e o Fernando foi muito grande e a participação de especialistas coreanos nos ajudou de forma significativa. O Fer-nando teve uma dedicação extrema ao trabalho e na verdade, quando eu man-dei esse projeto para avaliação, o fato de termos conseguido uma bolsa PIBIC do CNPq pela Universidade, já foi um reconhecimento da tentativa de se fazer um trabalho pioneiro. Então, depois de um ano de trabalho do Fernando e da nossa orientação, ser premiado em um SIC em uma universidade muito con-ceituada do nosso pais como a UFRGS, é extremamente gratificante. Hoje a gente vê que fez a coisa certa, demos a oportunidade para um aluno de estar no laboratório, descrevemos um projeto e conseguimos uma nova bolsa para a en-trada de uma aluna. A ideia é essa, formar recursos humanos especializados nesse trabalho e também pela necessidade de especialistas nessa área no Brasil. Bus-car a diversidade de um grupo de fungos tão pouco conhecidos e que tem uma história ecológica tão interessante, por si só já é muito gratificante. A gente trabal-ha por amor à camisa e o prêmio é mais uma consequência deste trabalho forte e objetivo.Ciência- O prêmio do SIC foi de um Ipad para o aluno e de uma bolsa de iniciação cientifica para o orientador...ED- Como já temos bolsa PIBIC, ainda não decidi qual será a finalidade dessa nova bolsa que deve estar vinculada a algum projeto do grupo de fungos, mas acredito que será utilizada nesse trabalho dos cordyceps por gerar uma maior de-manda.

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Pesquisa vencedora do Prêmio SIC foi desenvolvida através de diversas expedições em áreas ecológicas

Para conhecer outros projetos do Labora-tório de Micologia da UFSC, acesse:

http://micolab.pagi-nas.ufsc.br/

Saiba mais

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